Neste trabalho faço uma breve análise da empresa de Conservas Ramirez,1 recorrendo essencialmente
à informação disponibilizada pela empresa na sua página web e à entrevista dada por Manuel Guerreiro
Ramirez no livro Experiências de Internacionalização, A globalização das empresas portuguesas.
A Ramirez surgiu em 1853 e as primeiras fábricas localizaram-se em Vila Real de Santo António,
Olhão, Albufeira e Setúbal. Tornou-se na mais antiga produtora e exportadora de conservas em Portugal. A
sua internacionalização remonta aos finais do século XIX, tendo sido Itália o primeiro país a importar os seus
produtos, seguindo-se o Brasil. Nos 158 anos de experiência e história que a definem, a Ramirez foi capaz de
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Foi distinguida como empresa de sucesso pela Associação Industrial Portuguesa (AIP) sendo uma empresa de referência em processo de internacionalização. A
Ramirez foi classificada como um dos 30 casos de empresas portuguesas de sucesso na internacionalização.
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“revolucionar os conceitos de conservação” inicialmente com processo de salgação e actualmente com o
acesso às mais sofisticadas tecnologias. Caracteriza-se pelo compromisso, tradição, qualidade e inovação em
conservas, os quais permitiram que a empresa se sustentasse ao longo dos anos e fosse capaz de responder às
exigências do mercado. Conta com modernas fábricas em Matosinhos e Peniche, as quais produzem e
comercializam mais de 40 produtos, destacando-se as sardinhas, o atum, a cavala, o polvo, as lulas, têm
diferentes apresentações, especializadas e pratos pré-cozinhados, capazes de satisfazer os requisitos actuais
do mercado, e com laboratórios próprios de controlo de qualidade direccionados para a satisfação os mais
exigentes clientes. É reconhecida por várias entidades a nível mundial e por muitas e importantes cadeias de
distribuição mundial, mas, distingue-se, sobretudo pela alta qualidade dos seus produtos. É pioneira mundial
na introdução de novos métodos e materiais de embalagem e empacotamento (como a passagem da abertura
fácil em folha de alumínio para folha de Flandres).
Os produtos desta empresa encontram-se distribuídos pelos cinco continentes através das várias
marcas que a representam. A Ramirez que surgiu em 1865 em Portugal (latas de atum em conversa). A
Pescador presente nos países lusófonos (atum e sardinhas picantes). A Magalhães está nos mercados
americanos e das comunidades portuguesas no mundo. A Gabriel encontra-se nos EUA e África do Sul,
exporta-se desde 1890, e foi uma das primeiras marcas a internacionalizar-se no século XIX. A Mistral
exporta-se para os países Mediterrânicos e América do Sul. A KID distribui-se em vários países europeus e
está dirigida às camadas mais jovens. A Derthona encontra-se em França, Reino Unido, Canadá, EUA, entre
outros. A Tomé está no mercado Filipino desde 1925, tal como nos países com forte presença migratória
filipina. A Cocagne, introduzida em 1906, é líder em qualidade e imagem, na Bélgica, mas também, está
noutros países europeus, estas conservas foram distinguidas por cinco anos consecutivos pela “Monde
Selection” com medalha de ouro. A Teddy está comercializa-se na Rússia, Grécia e Alemanha (sardinha). Al
Fares apresenta-se no mundo árabe, especialmente no Líbano (produtos com azeite). A Renommée tem como
destino o mundo francófono e está fortemente fidelizada em França, Suíça e Canadá (sardinhas, cavalinhas e
atum). A Kulla encontra-se em África há várias décadas (sardinhas). The Queen Of The Coast exporta-se
para os EUA, Canadá, Reino Unido e França (sardinhas, atum, refeições prontas e latas de abertura fácil).
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dependente do cliente com marca própria” apesar das “mutações e dos ataques exteriores, por parte dos
países que fazem conservas pelo mundo fora5”.
A própria Ramirez caracteriza-se por ter um processo de internacionalização diferente daquele que
hoje em dia estudamos (“pré-fabricado”), isto devido à sua longa experiência no mercado. Definem a sua
aposta internacional como sendo “baseada na qualidade e sobretudo num controlo da qualidade
eficientíssimo”6.
Como forma de divulgar a sua marca e reduzir custos nas apresentações, a empresa participa em feiras
internacionais – as quais são actualmente um excelente meio de negócios, muitas vezes por iniciativa própria
(sem contar com a presença do AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal ).
Antes de 1989 era a empresa líder no mercado soviético, apesar de não contarem com nenhum tipo de
apoio e do díficil que era entrar nesse mercado, hoje em dia trata-se de um mercado com muito potencial. A
Ramirez conta também com algumas experiências menos positivas em pelo menos dois mercados em África
(Nigéria e Angola), devido a duas fraudes com empresas e bancos fictícios, estes são apenas alguns dos
problemas normalmente associados à internacionalização.
Mencionando a falta de apoio, esta empresa frisa “a falta de dinamismo, [...], sensibilidade, realismo
e empenhamento da administração portuguesa (diplomacia e do ICEP)7” e os entraves arancelários após a
entra na União Europeia8. E chega mesmo a fazer uma comparação com Espanha: “Eles estão respaldados
com a sua Administração, com Bruxelas, com os seus lobbies feitos, com os bancos, com o seu poder, com o
seu nacionalismo, muitas vezes exacerbado9”. Aliada a esta falta de apoio temos também a desvalorização do
produto nacional face ao importado.
Para a Ramirez a chave do sucesso é “fazer produtos com boa relação qualidade-preço, e que
tenham efectivamente diferenciação face aos estrangeiros, criatividade e melhor qualidade!”, mas também
contar com a“seriedade, confiança e a sorte de ter tido à frente várias gerações de gente preparada, muitas
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Idem
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“Portugal tinha acordos bilaterais com certos países, como os EUA, que nos permitiam ter taxas de direitos muito baixas. Essas taxas, aquando da nossa
entrada na União Europeia, subiram e nunca mais foram revistas”, Experiências de Internacionalização, A globalização das empresas portuguesas. Pág.97
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delas à frente do seu tempo. E é claro, colaboradores dedicados, que eficientemente envergaram a camisola
da empresa, que é a casa de trabalho de todos nós.10”
A Ramirez é e será sem lugar a dúvidas as “memórias de” mais do que “cinco gerações”.
Bibliografia
QUELHAS BRITO, Pedro; ALVES, José Augusto e SILVA, Libório Manuel (Coord.) - Experiências de
Internacionalização, A globalização das empresas portuguesas. 1ª ed. Vila Nova de Famalicão: Centro
Atlântico, Nov. 2002. ISBN: 972-8426-59-3
PORFÍRIO, José António Ferreira – Finanças Internacionais. 1ª ed. Lisboa: Universidade Aberta, Abril
2001. ISBN: 972-674-292-7
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Experiências de Internacionalização, A globalização das empresas portuguesas. Pág. 99