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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - DCH I


CURSO DE DIREITO

RAIANE LAI GARCIA SILVA


JUCIMÁRIO RIBEIRO
JONAS DA HORA
CHARLES QUINTO DOS SANTOS

A EFETIVIDADE DA RONDA MARIA DA PENHA NO COMBATE A VIOLÊNCIA


CONTRA MULHER.
Como a interseccionalidade de classe e raça influi na efetividade da Ronda Maria da Penha
em Salvador?

SALVADOR –BA
2019
A EFETIVIDADE DA RONDA MARIA DA PENHA NO COMBATE A VIOLÊNCIA
CONTRA MULHER.
Como a interseccionalidade de classe e raça influi na efetividade da Ronda Maria da Penha
em Salvador?

RAIANE LAI GARCIA SILVA


JUCIMÁRIO RIBEIRO
JONAS DA HORA
CHARLES QUINTO DOS SANTOS

Artigo científico apresentado como requisito para


avaliação parcial do 4º semestre na disciplina Seminário
interdisciplinar IV em pesquisa no curso de Direito, da
Universidade do Estado da Bahia.
Prof.: Mariana Veras

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SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................................04

1.INTRODUÇÃO....................................................................................................................05

2.REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................06

3.METODOLOGIA................................................................................................................11

4.RESULTADO.......................................................................................................................04

6.CONCLUSÃO......................................................................................................................16

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................17

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Resumo
O presente trabalho objetiva analisar a efetividade da Ronda Maria da Penha no
Município de Salvador, no combate a violência contra a mulher. A relevância da
abordagem se mostra de suma importância em razão da reiteração dos casos de
violência doméstica e familiares perpetrados face à mulher em todo o país, em suas
mais variadas formas e níveis, que tem persistido mesmo com políticas publicas e
legislativas que visam a sua erradicação, sendo necessário, portanto, um estudo dessa
natureza como forma de repensar soluções ao referido problema. Para tanto, adota o
método dedutivo como método de abordagem, o histórico evolutivo enquanto método
de procedimento, e a pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista como técnicas
de pesquisa. A problemática aqui avaliada é a seguinte: Como a interseccional idade de
classe e raça influi na efetividade da Ronda Maria da Penha na Grande Salvador?
Assim, refletindo em como a efetividade da Ronda, uma politica de segurança pública,
se relaciona com a interseccional idade de classe e raça, visto que esse tipo de politica
geralmente perpetua uma criminalização de negros e pobres.

Palavras-chaves: Efetividade; Combate; Violência de Gênero; Interseccionalidade.

Abstract

The present objective paper analyzes the effectiveness of the Maria da Penha Round in
the city of Salvador, without combating violence against a woman. The relevance of the
approach shows the importance of the reason for the reiteration of cases of domestic and
family violence perpetrated by women across the country, in their most varied forms
and levels, which persist even with public and legislative policies aimed at its
eradication, being necessary. Therefore, a study of this nature as a way to compensate
for solutions to this problem. To do so, adopt the deductive method as a method of
approach, or the evolutionary history as a method of procedure, and a bibliographic,
documentary and interview research as research techniques. Here is the following
problem: How does class age and intersectional race influence the effectiveness of
Ronda Maria da Penha in Greater Salvador? Thus, reflected in how the effectiveness of
Ronda, a public security policy, relates to the intersectional age and class of class and
race, it is seen how this kind of policy usually perpetuates a criminalization of blacks
and the poor.

Keywords: Effectiveness; Combat; Gender violence; Intersectionality

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INTRODUÇÃO

Criada em março de 2015 no Dia Internacional da Mulher, no Subúrbio Ferroviário de


Salvador ,local com o maior número de vítimas de violência doméstica da cidade, a
Ronda Maria da Penha (RPM) atua em cooperação mútua entre as secretarias estaduais
de Políticas para as Mulheres (SPM-BA) e de Segurança Pública (SSP), Defensoria
Pública, Ministério Público e Tribunal de Justiça da Bahia, para promover a capacitação
de policiais militares que executarão a ronda, além da qualificação dos serviços de
atendimento com apoio e orientação nas ocorrências policiais envolvendo mulheres
vítimas de violência doméstica.
Tendo como característica inovadora uma equipe multidisciplinar, já que a Ronda além
de buscar o enfrentamento à violência doméstica e familiar, a garantia do cumprimento
das Medidas Protetivas de Urgência, a dissuasão e repressão ao descumprimento de
ordem judicial, essa trabalha na prevenção e repressão de atos de violações de dignidade
das mulheres e no encaminhamento das mulheres à Rede de Atendimento à Mulher
Vítima de Violência Doméstica no âmbito municipal ou estadual. Atualmente, a RMP
conta com sua própria sede no Distrito Integrado de Segurança Pública (DISEP), no
bairro de Periperi, em Salvador.

Após quatro anos de criação assim como mais de 12 anos da sanção da Lei Maria
Penha, esta que fundou as bases para essa política pública, a violência contra mulher
continua com números alarmantes, em que a cada 9 minutos uma mulher é vítima de
estupro, a cada um dia, três mulheres são vítimas de feminicídio e uma mulher registra
agressão sob a Lei Maria da Penha a cada 2 minutos, segundo dados do 12º Anuário
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2018), sendo que há uns poucos materiais
acerca de estudos empíricos que procurassem avaliar o seu efeito dessa política, a
pesquisa objetivou avaliar o resultado dessas políticas.

O presente artigo vem observar como a efetividade dessas politica pública está
relacionada aos âmbitos de classe e raça. O Mapa da Violência 2015 mostra que o
número de homicídios de mulheres brancas caiu já o assassinato de negras aumentou:

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em 2003, morreram assassinadas 23% mais negras do que brancas e o índice foi
crescendo lentamente ao longo dos anos, para, em 2013, chegar a 67%. Por isso a
necessidade dessa visão interseccional justamente para que tenhamos uma visão de por
que há uma diferença na eficácia dessa política pública na proteção mulheres por conta
da diferença de raça e classes.

REFERENCIAL TEÓRICO

É necessário para um estudo profundo sobre a efetividade da Ronda e considerar o


contexto histórico do país, de que mesmo com a previsão formal de cidadania e combate
a desigualdade social e racial presente na Constituição de 1988, as estruturas políticas
mesmo ao tentar plasmar essas garantias, muitas vezes conservam estruturas que têm
logicas excludentes e violentas.

Consoante a coordenadora auxiliar do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos das


Mulheres da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Paula Sant'Anna Machado de
Souza duas dimensões demonstrariam essas estruturas excludentes. A primeira
dimensão, o acesso à justiça que tanto por conta de instrução educacional quanto pela
insuficiência financeira é diferenciado por raça e classe. Já a segunda dimensão, o
contexto de violência policial, que muitas vezes criminaliza o negro pobre, matando até
mesmo inocentes, diminui a confiabilidade da mulher preta e pobre na policia como
meio de defesa e intermediação de conflitos internos. Consonante também com a
pesquisa do IPEA, de 2015 de autoria de Cintia Engel:

É  fundamental,  como  explicitado  pelos  dados,  ter  a  categoria  raça/cor  na  produção  de 
análises  sobre  violências  contra  mulheres. 
Uma determinada forma de misoginia articulada com o racismo faz com que mulheres negras sej
am mais vulneráveis a todos os tipos de violência. Além da raça/cor, outros fatores parecem vuln
erabilizar as  mulheres  brasileiras,  sendo  a  faixa  etária  um  deles. 
As mulheres jovens são mais vulneráveis a todos os tipos de violência, perpetradas por conhecid
os ou desconhecidos. 

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Desse modo, fica claro a importância da adoção de crivo Interseccionalidade na


efetividade da ronda. Sendo a conceituação Kimberle Creenshaw de interseccionalidade
a que adotamos esta que se estrutura no sentido de que as opressões vivenciadas pelas
mulheres negras pobres não se somam, mas se entrecruzam e na “forma como ações e
políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos”.
(CREENSHAW, 2002, p. 177).

Devido ao racismo estrutural enraizado na política a juventude negra é exposta as


experiências violentas, econômica e institucionalmente na sociedade, que se acentuam
devido ao processo de retirada de direitos e abandono total do Estado, que ignora as
condições precárias da educação pública, do sistema de saúde público e os índices de
encarceramento e extermínio das juventudes nas periferias. Nesse cenário, são as
mulheres negras que de forma acentuada sentem o impacto dessas políticas,
interseccionando em si as estruturas racistas, patriarcais, sexistas e heteronormativas,
pois há uma questão de gênero fundamental nessa equação – a qual coloca as mulheres
numa condição subalterna e passível de objetificação.

Essa desigualdade de dados de violência contra a mulher negra e branca vista no gráfico
acima acompanha um contexto histórico de violência ainda mais pesado. Uma vez que a

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mulher branca, não era sexualizada e vista como impura ou objetificada da mesma
maneira.

Desde o período escravocrata o corpo da Mulher Negra é exotificado, tanto na Europa quanto no
Brasil, rótulo atribuído por conta de seu padrão corpóreo muito diferente das mulheres brancas
europeias – possuidoras dos padrões de beleza da época. [...]Após a adentrada no território
nacional, vemos a legitimação desse estereótipo ideológico, a exemplo foram os casos das
mulheres que foram tomadas por força por seus senhores, pois quando se recusavam a ter
relações sexuais com os mesmo muitas (se não todas) eram punidas severamente[...].
(BARROS,BRITO,SEABRA, p. 2 e 3)

Outra interseção, também já um pouco discorrida, que influi na efetividade da Ronda


seria a classe social, esta que permeia questões financeiras como demonstrado no
gráfico a seguir e nível de instrução, que pode estar ou não vinculada à raça. Quanto a
questões financeiras que atrapalham a efetividade, são estas a maior dificuldade de
denúncia e a burocracia após o processo judicial instalado que é muito oneroso e
moroso, além da dependência financeira do marido, que adviria do trabalho da mulher
por vezes ser tarefas domesticas que sempre tiveram menor prestigio social e não ter um
contraprestação direta.

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Essa dependência financeira era mais verificada em classes sociais intermediárias ou


mais abastardas, já que nas classes mais pobres, homem e mulher trabalham fora de
casa, entretanto isso não quer dizer que o acesso à justiça que pode ter custos
inacessíveis para a trabalhadora, mesmo a mulher trabalhando fora, onde há a
possibilidade de o homem ainda instituir maior poder sobre o dinheiro por ganhar mais,
por exemplo.

Sendo o nível de instrução determinado pelo nível de senso crítico, que claro não
advém somente da escola, é um dos fatores de dificuldade de libertação e consequente
denuncia ou até prosseguimento dos processos. Até mesmo porque a socialização e
produção cultural que ainda recebemos são arraigadas de culpabilização da mulher pela
violência do homem e da mulher como objeto e inferior ao homem, o que por vezes se
arraiga na mentalidade da própria mulher e esta facilmente fica escrava. Confirmada
pela pesquisa do IPEA, já citada:
A  faixa  de  rendimento  domiciliar  per  capita  é  um  dos  fatores  que  mais 
influenciam na vulnerabilidade de mulheres à violência. As mulheres que estão na faixa salarial 
de até 1 salário mínimo (SM) são as que possuem as maiores incidências de agressões físicas,
especialmente as mulheres negras. (p.12)

Muitas vezes a mulher não se percebe recebendo a violência, por estar tão entranhado
culturalmente e o próprio acesso a essa libertação mental ser limitado por conta de
fatores externos sociais, a exemplo de locais muito isolados, zonas rurais, ou mesmo por
culturalmente esse comportamento de violência do homem para com a mulher ser
normalizado na família, na igreja ou mesmo entre vizinhos e amigos.

Nesse sentido, cabe salientar que a Lei Maria da Penha prevê como formas de violência
doméstica e familiar contra a mulher, segundo a Lei Maria da Penha, a violência física,
entendida como qualquer atitude que agrida sua integridade física; a violência
psicológica, conduta que causa danos emocionais e diminuição de autoestima; a
violência sexual, compreendida em obrigar a mulher a presenciar ou participar de atos
sexuais não desejados; a violência patrimonial, consistida na retenção, subtração,
destruição dos objetos e bens particulares da mulher; por fim, a violência moral, aquela
que configure calúnia, difamação ou injúria.

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Muitas dessas violências não são facilmente reconhecidas pela mulher, até pela
naturalização já anteriormente discorrida em que certas violências são consideradas
normais de um relacionamento pela sociedade. Quando não naturalizadas praticamente
descriminadas socialmente, como no ditado popular “ em briga de marido e mulher não
se mete a colher”, como se em caso de violência doméstica não pudesse haver nenhum
tipo de intervenção e como fala Hannah Arendt em 1997, houvesse uma separação do
público e do privado, sendo familiar/doméstico o privado e o instituído por lei, da esfera
pública, não passiveis de intervenção um do outro.

Não obstante, há um desconhecimento geral de que são condutas criminosas com


exceção das violências físicas e sexuais, mesmo após muitos anos de sanção da lei. A
exemplo da violência psicológica por ser sutil em si mesma, já que afeta a autoestima,
ou seja, algo não facilmente visível, por conta da sutileza é muito normalizada. Já a
violência moral, tais quais injúria, difamação e calúnia, as vezes por serem difíceis de
comprovar e dizerem respeito a um homem, com fala mais legitimada, trazendo falsas
afirmações ou ofensas contra uma mulher, fala usualmente deslegitimada pela tensão
pré-menstrual ou por ser de emoções, o pressuposto é sempre de que a mulher é que
comete algum desses crimes, o homem dificilmente é relacionado a alegações falsas, até
a própria expressão, “seja Homem” ou “sou Macho” muitas vezes é relacionado a ter
palavra legitima.

Por último a violência patrimonial que advém principalmente da desvalorização do


trabalho doméstico ou da deslegitimação social de mulheres para cargos de liderança e
cargos intelectualizados, até pela atribuição a mulher de questões mais emocionais. Há
claramente uma, divisão sexual do trabalho, mesmo quando a mulher não trabalha no
âmbito doméstico, mas principalmente nesse âmbito já que a não remuneração desse
trabalho por vezes trás dependência financeira do agressor, ou nos casos de trabalho
externo quando o assediador ameaça restringir seu patrimônio.

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações
sociais de sexo, essa forma [...]. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à

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esfera reprodutiva e das mulheres a esfera reprodutiva [...]. Esta forma de divisão social do
trabalho tem dois princípios organizadores: o princípio de separação (existem trabalhos de
homens e trabalhos de mulheres) e o princípio da hierarquização) um trabalho de homem vale
mais que um trabalho de mulher). (KERGOAT,2003, p. 55-6)

Questão domestica esta que até hoje no Brasil sofre influência da escravidão, já que até
2013 não existia regulação para o trabalho doméstico e era permitido a perpetuação de
vários abusos herdados do tempo de escravidão, inclusive com remuneração abaixo do
salário mínimo, mesmo trabalhando pelo mesmo tempo. Esse trabalho era desregrado
mesmo após a CLT, como se o mesmo não fosse considerado trabalho, o que nos faz
voltar para a separação do público e do privado de Arendt, escrito em 1997, em que o
público não pode regular o privado (doméstico).

METODOLOGIA

A metodologia utilizada na pesquisa tem origem em variados tipos de fontes. Buscamos


tanto fontes documentais como é o caso dos artigos e livros quanto fontes de pesquisas
já existentes como as do IPEA e Mapa da Violência quantitativas e qualitativas.
Pesquisas essas que forneceram base conceitual e base critica com as temáticas como a
interseccionalidade, violência contra mulher, eficácia e efetividade.

A interseccionalidade é a nossa estrutura de analise epistemológica, ou seja, de


produção do nosso conhecimento acerca da como e quando há efetividade da politica
publica da Ronda Maria da Penha. Por meio dela é que mediremos os êxitos e fracassos
que a Ronda Maria da Penha produziu através de análises de pesquisas recentes
coletadas pelos órgãos de pesquisa Mapa da violência, pelas secretárias de Segurança
Pública e pelo IPEA.

Além de através da imersão no relato do policial militar Sargento Djair Moura, criador
do projeto finalista do Eles por Elas, o Ronda para homens, ao qual fizemos o
questionário, tendo esse como base, sempre adaptado à situação, analisando os mínimos
detalhes de expressões, fugas em falas, já que mesmo tendo solicitado que a pesquisa
fosse realizada com dez policiais da Ronda e dez mulheres atendidas pela Ronda com

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antecedência de dois meses, por falta de agenda dos policiais e pela dificuldade de
trazer atendidas a sede para a pesquisa foi designado somente um policial para
responder o questionário, este que é usualmente quem representa os outros policiais nas
falas.
Na entrevista confrontamos, após as análises feitas, estudamos e comparamos as
respostas do policial e das pesquisas de documentais, quantitativas e qualitativas,
sempre levando em conta os fatores de raça, classe social e seu entorno social e outros
fatores para analisar os seus impactos sobre a efetividade da Ronda Maria da Penha.
Entre as questões feitas ao policial estão:

1. Em relação aos outros policiais comuns existe alguma diferença no


treinamento dos senhores?

2. Há algum desafio relacionado a identidade de raça, gênero e da classe


social dos policiais da Ronda ou das pessoas atendidas pela Ronda que difere a
forma de lhe dar com os atendimentos?

3. As mulheres policiais da Ronda são subestimadas por serem mulheres no


momento do enquadro dos agressores?

4. Há alguma dificuldade de locomoção de policiais nas zonas periféricas


onde domina o tráfico de drogas?

5. É possível perceber desafios diferentes entre os atendimentos de


mulheres negras e brancas?

6. No que concerne a classe social há desafios diferentes entre os


atendimentos de mulheres pobres e de mulheres ricas?

7. Qual seria o motivo na opinião dos senhores policiais do recorte de


violência doméstica de maior dimensão ser nas zonas periféricas?

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8. Como os senhores lidam com mulheres envoltas em um machismo


estrutural, quanto a possíveis omissões nas denúncias de violência doméstica?

9. Como as forças de segurança estão sendo orientadas para trabalhar com


as questões complexas que envolvem violência doméstica?

10. Diante das possíveis demandas, considerando a geografia da cidade e


suas diferentes classes sociais, como são redistribuídas essas forças de segurança
na prevenção a violência doméstica?

11. Diante das constatações de violência doméstica contra a mulher, existem


projetos ligados a Ronda Maria da Penha que visam contribuir para o
acolhimento das mulheres vítimas de violência?

12. Existem medidas socioeducativas propostas aos homens agressores?

13. O que os senhores policiais veem como o maior desafio e como superá-
los?

Entre as questões que seriam feitas as mulheres atendidas pela Ronda estão as:

1. Quais medos e desafios as senhoras enfrentaram ao denunciar os


agressores?

2. Entre a denúncia e saída da medida protetiva quanto tempo se passou?


Houve algum temor? O que fortaleceu as senhoras?

3. Qual a diferença para as senhoras dos atendimentos feitos pela polícia


comum e pela polícia da Ronda?

4. Como se fortaleceram durante o processo?

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5. A classe social das senhoras trouxe algum desafio nos atendimentos nas
delegacias, no judiciário ou na Ronda?

6. A raça das senhoras trouxe algum desafio nos atendimentos nas


delegacias, no judiciário ou na Ronda?

7. Quais mudanças vocês trariam a Ronda e a outras políticas públicas de


combate a violência contra a mulher para darem melhores resultados?

4. RESULTADOS

Entre os resultados da pesquisa, temos que os policiais da Ronda a pesar de receberem


treinamentos diferentes para incrementar o acolhimento e um entendimento do ciclo da
violência, além de uma visão ampla sobre a violência contra a mulher, não conseguem
tirar de imediato a repulsão que a imagem repressora da policia trás. Sendo que essa
imagem repressora é negativa no que concerne ao acolhimento as mulheres, entretanto
positiva para os agressores que por vezes inibiria o agressor somente por estar presente
na região, mesmo sem ser a mulher uma das atendidas segundo o sargento diz. Motivo
pelo qual a sede da Ronda Maria da Penha se encontra no subúrbio ferroviário, trazendo
inibição da violência com a simples estruturação daquele órgão ali. Remontando a obra
de clássica de Foucault, Vigiar e punir, em que a simples vigia é uma violência por tanto
uma punição. Quanto a policiais mulheres da Ronda ter suas forças e sua imagem
repressora subestimadas o policial militar deu um exemplo de uma situação de violência
acontecida com uma das mulheres policiais, que foi agredida na viatura tendo o mesmo
só tentado resistir contra a mesma, mesmo tendo outros policiais do sexo masculino.

Em relação a como o atendimento é realizado em regiões dominadas pelo tráfico, Djair


novamente exemplificou uma situação, em que os atendimentos já eram designados
pelas mulheres fora do local de onde moravam, por ser dominado pelo tráfico de drogas.
E uma situação em que os traficantes determinaram alteração do local de atendimento e
buscaram resolver a questão da mulher entre os próprios. Sendo que segundo o sargento
a reação dos traficantes só não foi mais adversa em decorrência da cor e do nome da
viatura da Ronda, o que não traria perigo aos traficantes. Entretanto mesmo
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pressupondo que essa aparência diferenciada seria de certo modo uma forma de que não
fosse uma forma de desrespeito dos regramentos da comunidade onde a mulher vive, o
primeiro atendimento antes de conseguir a medida e a consequente Ronda, seria de
policiais comuns o que pode ser uma das causas de nem sequer a Ronda conseguir
combater a violência. Assim como a visão anterior de polícia como órgão repressor e
nada acolhedor trás resultados como a não denúncia.
Sendo assim, a conversa com o sargento chegou a interseccionalidade de raça e classe e
chegamos juntos a conclusão que tanto os fatores da não denúncia por conta de falta de
instrução, quanto por medo de repressão faziam partes dos maiores números de
violência contra mulheres negras e pobres. Sendo que o próprio policial militar
reconheceu como insuficiente a politica publica da Ronda para o combate a violência,
consoante o mesmo a Ronda não impede feminicídio nem violência, ela não pode estar
24 horas ao lado da mulher para protege-la.

Contudo a educação de homens e mulheres, os primeiros para não se tornarem


agressores e as segundas para se impor diante da agressão e quebrar o ciclo da violência,
são únicos capazes de impedir a violência e os feminicídios de acontecerem. Mesmo
que a Ronda traga uma equipe multidisciplinar, que participa de pesquisas como essas,
dá palestra e cria projetos como o Ronda para homens e o Salvando Marias, palestras
essas educativas e preventivas. Sendo o Ronda para homens tratamento hoje obrigatório
a homens que cometeram violência contra a mulher. E o projeto Salvando Marias uma
maneira de trazer a capacitação especial da Ronda a outros policiais uma forma de que
tratamentos como a deslegitimação da mulher não seja perpetuada nas denúncias. Esse
projeto Salvando Marias também é uma forma de suprir o desafio hoje enfrentado pela
Ronda de falta de efetivo, ou seja, falta policiais, são muitas atendidas para poucos
policiais.

Em entrevista ao Jornal Acorda Cidade, a comandante da Ronda Maria da Penha,


Denise Santiago informou que:

A Ronda Maria da Penha foi criada pelo Governo do Estado, em oito de março de 2015. A partir
daí começamos a interiorização dessa política, que visa proteger as mulheres vítimas de
violência doméstica e possui medidas protetivas de urgência deferidas. Mas é importante que as
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mulheres entendam que elas precisam solicitar a medida protetiva junto à delegacia. (Jornal
Acorda Cidade, 06.03.2018).

Na citação acima fica explicito que um dos problemas enfrentados pela Ronda Maria da
Penha é a falta da solicitação da medida protetiva pelas mulheres que sofrem a violência
ou que até mesmo são ameaçadas.

As mulheres vítimas de violência doméstica que chegam à Delegacia Especializada de


Atendimento à Mulher em Salvador, localizada no bairro do Engenho Velho de Brotas,
são atendidas quando do registro de ocorrência e logo são encaminhadas para prestar
declarações e neste momento é feito a solicitação de Medidas Protetivas de Urgência,
ou, quando é situação de flagrante delito o pedido de Medidas protetivas é feito dentro
do Auto de Prisão em Flagrante Delito, sendo encaminhadas nos dois casos no outro dia
à Vara de Proteção contra Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Entretanto
essas medidas demoram, e geralmente é a partir da intimação do agressor, que o mesmo
fica ainda mais violento, pois culpa a mulher por ter ferido sua honra ao denunciar e
muitas vezes por isso ocorrem feminicídios.

As mulheres e menores vítimas contam ainda com um atendimento psicológico, este


constitui um espaço receptivo, que tem por objetivo propiciar uma intervenção imediata
no momento que a usuária necessita de acolhimento. Com certeza um avanço, esse
acompanhamento, já que ajuda a acalmar a vitima.

5.CONCLUSÃO

Concluímos que a estrutura da Ronda Maria da Penha, permite efetividade, em casos em


que não haja urgência na violência e esta não seja praticada em mulheres negras ou
pobres desacreditadas na policia como meio de defesa, já que como dissemos a
morosidade atrapalha o processo e também a falta de confiança e identificação com as
instituições.

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É necessário como medida complementar a Ronda, que liberassem, divulgassem e


aumentassem a equipe multidisciplinar da Ronda, isto é, a equipe que palestra e traz
reflexões aos homens agressores e que fossem cada vez mais divulgados institutos para
acompanhamento e encorajamento da mulher a denúncia ou a afastamento do
relacionamento em que há violência. Sendo que medidas educativas e assistenciais
evitariam muito menos violência do que execuções penais, até porque estas têm
morosidades prejudiciais à proteção, além de resultados não muito agradáveis para
famílias. Além disso, seria importante que se criasse material nas escolas que ensinasse
desde o ensino básico o respeito à mulher, a necessidade de busca pela equidade e
quebra da cultura da inferiorizarão e objetificação.

REFERÊNCIAS

 BRASIL. Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a


violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o  do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o
Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília: Congresso
Nacional, 2006.

 CALAZANS, M.; CORTES, I. O processo de criação, aprovação e


implementação da Lei Maria da Penha. In: CAMPOS, C. H. (Org). Lei Maria da Penha
comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Editora Lumem
Juris, 2011.

 CERQUEIRA, D. R. C.; COELHO, D. S. C. Mapa das armas de fogo nas


microrregiões brasileiras. In: IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
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Brasília: Ipea, 2013. v. 3.

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 SILVA, Olívia Maria Pereira da Silva. Dez anos da Lei Maria da Penha: a
invisibilidade da violência contra a mulher. Publicado em 11.2016.

 BARROS, R. T. B.SEABRA.L. M, BRITO, G. L. Quebrando grilhões: Sou


Negra, Sou Mulher, NÃO sou objeto! João Pessoa. 2016. GT 033 – Etnografias das
Interseccionalidades: Raça e Gênero no contexto Latino-americano das Políticas
Públicas. Disponível em:
http://evento.abant.org.br/rba/30rba/files/1466461856_ARQUIVO_QuebrandoGrilhoes.
pdf. Acesso em: 19 nov. 2019.

 CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em


aspectos da discriminação racial relativos ao gênero, Estudos feministas 1, p.171-189,
2002.

ARENDT, Hanna (1997). A Condição Humana, Rio de Janeiro, Forense Universitária,


8ª edição revista.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Tradução de


Raquel Ramalhete. 41. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

PINHEIRO L. FONTOURA, N. PRATA, A, C. SOARES, V. Retrato das desigualdades


de gênero e raça. IPEA. 2 ed. Brasília:UNIFEM, 2010

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