Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os Lusíadas
Os Lusíadas é uma obra escrita por Luís Vaz de Camões, que está dividida em
dez Cantos, cada estrofe tem oito versos e cada verso tem dez sílabas
métricas, tendo, assim, versos decassílabos. Esta grande epopeia,
internamente está dividida em cinco partes: Proposição (I, 1-3), Invocação (I,
4-5), Dedicatória (I, 6-18), Narração (I, 19; X, 144) e Epílogo (X, 145-156).
A Mensagem
A Mensagem é uma obra composta por três partes, Brasão, Mar Português e
Encoberto, cada uma destas partes subdivididas em noutras: Brasão – 5
partes; Mar Português – 1 parte com 12 poemas e o Encoberto – 3 partes.
Esta divisão tem um simbolismo e tem como base o facto das profecias se
realizarem três vezes, ainda que de modo diferente e em tempos distintos.
Corresponde à evolução do império português que tal como o ciclo da vida,
passa por três fases: Brasão – nascimento/fundadores; Mar Português –
vida/realização e O Encoberto – morte/ressurreição.
Os Lusíadas
No Primeiro Canto, no Concílio dos Deuses (I, 19 a 46), Júpiter afirma, acerca
dos Lusos, que eles são antecedentes aos próprios deuses e melhores que os
grandes heróis do passado histórico conhecido, porque filhos do Fado e do
Destino, a que a mitologia está submetida, “Eternos moradores do
luzente,/Estelífero pólo e claro assento,/Se do grande valor da forte gente/De
Luso não perdeis o pensamento/Deveis de ter sabido claramente/Como é dos
Fados grandes certos intento/Que por ela se esqueçam os humanos/De
Assírios, Persas, Gregos e Romanos.” (I, 24).
A Mensagem
Ao terminar a Parte I, Pessoa mostra que Portugal tinha uma marca nobre,
um Brasão, uma História, um mito, uma cultura e um sonho, logo, estavam
prontos para ir para o “Mar Português”.
Nesta segunda parte, o poema mais célebre, o que condensa a (futura) glória
dos Lusitanos que marcará para sempre a História dos portugueses: ao
sangue, as lágrimas das mães e mulheres, o medo, a esperança, o mar
salgado e a coragem, aqui não há glória nem derrota, apenas o inicio do
caminho doloroso, “Ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de
Portugal!/Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/Quantos filhos em vão
rezaram!/Quantas noivas ficaram por casar/Para que fosses nosso, ó
mar!/Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena./Quem quer
passar além do Bojador/Tem que passar além da dor./Deus ao mar o perigo e
o abismo deu,/Mas nele é que espelhou o céu.” (Mar Português).
Descobrimentos
Os Lusíadas
Ainda no canto III e IV, Gama narra episódios dos nossos Reis da 1ª Dinastia,
nomeadamente, a conquista de Ceuta, considerada como o início da
expansão portuguesa, início de Os Descobrimentos, (conquista relativamente
fácil, organizada por D. João I, em 1415) a aventura ultramarina ganharia
grande impulso através da acção do Infante D. Henrique, o seu grande
impulsionador, "Este, depois que contra os descendentes/Da escrava Agar
vitórias grandes teve,/Ganhando muitas terras adjacentes”(III,26), “Não sofre
o peito forte, usado à guerra,/Não ter amigo já a quem faça dano;/E assim
não tendo a quem vencer na terra,/Vai cometer as ondas do Oceano./Este é o
primeiro Rei que se desterra/Da Pátria, por fazer que o Africano/Conheça,
pelas armas, quanto excede/A lei de Cristo à lei de Mafamede.”, “Eis mil
nadantes aves pelo argento/Da furiosa Tethys inquieta/Abrindo as pandas
asas vão ao vento,/Para onde Alcides pôs a extrema meta./O monte Abila e o
nobre fundamento/De Ceita toma, e o torpe Mahometa/Deita fora, e segura
toda Espanha/Da Juliana, má, e desleal manha.”(IV, 48 e 49); as batalhas de
D. Afonso Henriques contra os Mouros na conquista do território Luso, “Mas já
o Príncipe Afonso aparelhava/O Lusitano exército ditoso,/Contra o Mouro que
as terras habitava/D’além do claro Tejo deleitoso;/Já no campo de Ourique se
assentava/O arraial soberbo e belicoso,/Defronte do inimigo Sarraceno,/Posto
que em força e gente tão pequeno.”(III,42); a tomada de Lisboa, "E tu, nobre
Lisboa, que no Mundo/Facilmente das outras és princesa,/Que edificada foste
do facundo,/Por cujo engano foi Dardânia acesa;/Tu, a quem obedece o mar
profundo,/Obedeceste à força Portuguesa,/Ajudada também da forte
armada,/Que das Boreais partes foi mandada”,"Cinco vezes a Lua se
escondera,/E outras tantas mostrara cheio o rosto,/Quando a cidade entrada
se rendera/Ao duro cerco, que lhe estava posto./Foi a batalha tão sanguina e
fera,/Quanto obrigava o firme pressuposto/De vencedores ásperos e
ousados,/E de vencidos já desesperados.” (III, 57 e 59), "Ulisses é o que faz a
santa casa/A Deusa, que lhe dá língua facunda;/Que, se lá na Ásia Tróia
insigne abrasa,/Cá na Europa Lisboa ingente funda."/— "Quem será estoutro
cá, que o campo arrasa/De mortos, com presença furibunda?/Grandes
batalhas tem desbaratadas,/Que as águias nas bandeiras tem
pintadas."(VIII,5 – narração de Paulo Gama Catual); a exploração de África
(Alcácer Ceguer, entre Tânger e Ceuta, foi ocupada em 1458; Tânger, cidade
no norte de África, pertencente a Marrocos, em 1471 com a tomada de Arzila,
os habitantes de Tânger compreendendo que o objectivo final dos lusos era a
tomada da sua cidade, abandonaram-na; Senegal e Cabo Verde, Serra Leoa.
Cabo das Palmas. Ilha de São Tomé; Congo, Rio Zaire, Equador) “Este pôde
colher as maçãs de ouro,/Que somente o Tiríntio colher pôde:/Do jugo que lhe
pôs, o bravo Mouro/A cerviz inda agora não sacode./Na fronte a palma leva e
o verde louro/Das vitórias do Bárbaro, que acode/A defender Alcácer, forte
vila,/Tângere populoso e a dura Arzila.”(IV, 55), "Passamos o limite aonde
chega/O Sol, que para o Norte os carros guia,/Onde jazem os povos a quem
nega/O filho de Climene a cor do dia./Aqui gentes estranhas lava e rega/Do
negro Sanagá a corrente fria,/Onde o Cabo Arsinário o nome
perde,/Chamando-se dos nossos Cabo Verde.”(V,7), “Sempre enfim para o
Austro a aguda proa/No grandíssimo gólfão nos metemos,/Deixando a serra
aspérrima Leoa,/Co'o cabo a quem das Palmas nome demos./O grande rio,
onde batendo soa/O mar nas praias notas que ali temos,/Ficou, com a Ilha
ilustre que tomou/O nome dum que o lado a Deus tocou.”(V,12), "Ali o mui
grande reino está de Congo,/Por nós já convertido à fé de Cristo,/Por onde o
Zaire passa, claro e longo,/Rio pelos antigos nunca visto./Por este largo mar
enfim me alongo/Do conhecido pólo de Calisto,/Tendo o término ardente já
passado,/Onde o meio do mundo é limitado.” (V,13).
A Mensagem
Fernando Pessoa abre a segunda parte da obra com uma viagem iniciática
que permite a realização do sonho (espiritual, cultural e físico), com uma
perspectiva de algo desconhecido, longe, nublado, fantasmagórico
(Nevoeiro), mas que o sonho, o desejo, a esperança, a vontade faz com que
lutemos contra a neblina e sigamos em frente, com fé, alma e sonho de
realização, como Diogo Cão fez (Padrão). Este é lembrado por ter dado o
primeiro passo para abrir o horizonte do sul e, assim, dobrar o Cabo Bojador,
tornando-se um momento de descoberta de um caminho marítimo, de júbilo,
de conhecimento do diferente, desconhecido, “Ó mar anterior a nós, teus
medos/Tinham coral e praias e arvoredos./Desvendadas a noite e a
cerração,/As tormentas passadas e o mistério,/Abria em flor o Longe, e o Sul
sidério/‘Splendia sobre as naus da iniciação./Linha severa da longínqua costa
–/Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta/Em árvores onde o Longe
nada tinha;/Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:/E, no desembarcar,
há aves, flores,/Onde era só, de longe a abstracta linha. /O sonho é ver as
formas invisíveis/Da distância imprecisa, e, com sensíveis/Movimentos da
esp’rança e da vontade,/Buscar na linha fria do horizonte/A árvore, a praia, a
flor, a ave, a fonte/Os beijos merecidos da Verdade.” (Horizonte); “O esforço
é grande e o homem é pequeno./Eu, Diogo Cão, navegador, deixei/Este
padrão ao pé do areal moreno/E para diante naveguei./A alma é divina e a
obra é imperfeita./Este padrão sinala ao vento e aos céus/Que, da obra
ousada, é minha a parte feita:/O por-fazer é só com Deus./E ao imenso e
possível oceano/Ensinam estas Quinas, que aqui vês,/Que o mar com fim será
grego ou romano:/O mar sem fim é português./E a Cruz ao alto diz que o que
me há na alma/E faz a febre em mim de navegar/Só encontrará de Deus na
eterna calma/O porto sempre por achar.” (Padrão).
Pensamentos do poeta
Os Lusíadas
No Canto I “Quem lá vem traz escuridão/Ventre de nuvem de chuva;/Monstro
morto, podridão,/O mistério em cada curva.” Quem navega assim, à mercê
dos caprichos da Natureza, descobre que o homem, por mais que se queira
fazer gigante, não passa de um pequeno grão de pó na imensidão deste
planeta: ora o vento abrandava e as naus paravam; ora o vento enfurecia e
as naus rangiam de dor quase a partirem-se; e vinham tempestades e
doenças e todos os perigos que seguem como sombras quase sempre as
aventuras. Pior do que tudo era não se saber ao certo para onde se ia.
A partir da estrofe quarta, o poeta dirige-se às ninfas que habitam o rio Tejo.
A fim de lhes pedir inspiração; necessita do seu auxílio para fazer poesia
épica, já que até aqui usou apenas a doçura e a sensibilidade para a poesia
lírica.
Este primeiro canto acaba com uma belíssima estrofe em que o poeta dá
largas aos seus sentimentos acerca das falsidades da vida; tanta desgraça
nos temporais terríveis do mar, tanta luta em terra, tanto engano e tanta
mentira! Onde haverá segurança para o homem, pobre ser desamparado e
fraco perante os perigos imensos que o cercam? “Queimou o sagrado templo
de Diana, /Do sutil Tesifónio fabricado, /Heróstrato, por ser da gente humana/
Conhecido no mundo e nomeado. /Se também com tais obras nos engana/O
desejo de um nome aventajado, /Mais razão há que queira eterna
glória/Quem faz obras tão dinas de memória.”.
No Canto III, a narrativa leva-nos pelo conhecimento do povo que somos, das
glórias que fomos, dos sonhos que nos levaram a partir para o Mundo.
No Canto IV, Nuno Álvares Pereira diz ao povo e aos soldados que descendem
de grandes homens e que terão de ser grandes como os seus antecessores.
Que lutem por aquilo em que acreditam.
No Canto V, o rei diz a Vasco da Gama que saudade é a melhor palavra para
descrever o que sentiram quando saíram de Lisboa. Ficou para trás aquele
Portugal que amam ainda mais quando se distanciam.
No Canto VI, é neste canto que Camões aplica os seus melhores dotes de
oratória. Defende um ataque em forma aos portugueses: a manifestação da
evidência do perigo, a perda das honras, dos títulos, o desespero das
lágrimas, para convencer os deuses dos seus intentos.
No Canto VII, longa viagem, viagem longa. O que é, afinal, uma viagem? Um
ir sem saber se o que imaginámos existe? Um ficar em quem nos ama e no
que amamos?
A Índia estava próxima. Miragem? Não percas o ânimo. Vai. Segue o teu
sonho. Acredita em ti e acredita depois no que poderás colher se fores tu a
tua meta. Avança contigo, dentro de ti, a riqueza que te espera pode ser,
será talvez, a imagem nova que de ti recolheres ao ser…, “Ora sus, gente
forte, que na garra/Quereis levar a palma vencedora:/Já sois chegados, já
tendes diante/A terra de riqueza abundante!”.
Se Deus existe não será um deus de mortos, um deus qualquer, mas aquele
que descobre entre os vivos os que mais merecem a sua distinção. Os
Portugueses não serão a prova de que Deus existe?
Por último, no Canto X, uma folia. Alias, deve ser sempre assim o amor: coisa
de confiar, de brincar, de prazer dado e recebido, de sonhos, de fantasias, de
jogos e danças, musicas, partilhas.
A Mensagem
É irrelevante, parece dizer Pessoa desde este poema, que as figuras de que
vai ocupar-se, os heróis fundadores, tenham tido ou não existência histórica –
o que importa é que todos eles tenham funcionado com a força do mito, que,
não existindo, é tudo.
Em “D. Dinis”, Pessoa vai ver D. Dinis como o rei capaz de antever futuros,
justamente porque poeta visionário, em cujo cantar de amigo se fundem um
rumor – a “fala dos pinhais” – e o mar futuro. Por isso ele é visto como
“plantador de naus a haver”, as naus/cantar de amigo, que desvendarão, no
futuro que ele sonha, “o oceano por achar” (que a Europa e Portugal fitam,
“com olhar esfíngico e fatal”, como sabíamos já). No poema, os pinhais
plantados pelo rei – poeta – visionário são “um trigo de império” e “ondulam
sem se poder ver” (porque futuros – só acessíveis aos sonhadores); a “fala
dos pinhais” é, assim, “o som presente desse mar futuro/é a voz da terra
ansiando pelo mar”.
O poeta, capaz ainda de sonhar futuros, consegue ver, diz, entre a serração,
o vulto baço do Rei que torna. Ele, poeta do presente, do séc. XX, sabe que
há a hora (ainda que não saiba quando, exactamente) do regresso de D.
Sebastião/ sonho por cumprir. Assim se repita o ciclo: Deus volte a querer e o
homem volte a sonhar. É para aí que aponta o último poema de “Mar
Português”.
“É a Hora!”, mas de quê? Pessoa não o diz, mas todo o livro o significa: a
Hora de partir, de novamente conquistarmos a “Distância/Do mar ou outra,
mas que seja nossa!” (poema “Prece”), de assumirmos o sonho, cumprindo o
nosso destino – assim a Obra nascerá de novo, como em “Mar Português” – e
poderemos “viver a verdade/que morreu D. Sebastião”.
Conclusão
Como Prado Coelho afirmou, “Em contraste com o realismo d’Os Lusíadas (…)
a Mensagem reage pela altiva rejeição a um «Real» oco, absurdo, intolerável,
propondo-nos em seu lugar a única coisa que vale a pena: o imaginário”.