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FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO

ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA


CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física – Profª. Ms. Aline Sommerhalder, Prof.
Dr. Fernando Donizete Alves e Prof. Ms. Edson Renato Nardi

Meu nome é Aline Sommerhalder. Sou pedagoga pela UNESP, campus de


Rio Claro/SP, mestre em Pedagogia da Motricidade Humana também por
essa universidade e, atualmente, doutoranda em Educação Escolar pela FCL
– UNESP, campus de Araraquara/SP. Atuo como docente no Centro Univer-
sitário Clare ano de Batatais, nos cursos de Graduação em Pedagogia (pre-
sencial) e Filosofia (presencial) e nas disciplinas de Didá ca e Fundamentos
da Educação Infan l. Já lecionei, também, as disciplinas Fundamentos e
Métodos do Ensino da Educação Física, Prá ca de Ensino, Metodologia do
Ensino Fundamental e Médio e Didá ca do Ensino Superior, essa úl ma
nos cursos de Pós-graduação (Especialização) em Educação. Coordeno, ainda, o Laboratório de
Estudos Lúdicos – Brinquedoteca Clare ana.
e-mail: sommeraline@hotmail.com

Meu nome é Fernando Donizete Alves. Sou formado em Licenciatura em


Educação Física pela UNESP, campus de Rio Claro/SP, mestre em Pedagogia
da Motricidade Humana também por essa universidade e doutor em Educa-
ção Escolar pela FCL – UNESP, campus de Araraquara/SP. Atuo como docente
no Centro Universitário Clare ano de Batatais, nos cursos de Graduação em
Pedagogia (presencial) e Educação Física e nas disciplinas de Fundamentos
e Métodos do Ensino da Educação Física, Crescimento e Desenvolvimento e
Introdução à Teoria da Educação Física. Nesta Ins tuição, coordeno o curso
de Pós-graduação (Especialização) em Recreação e Lazer e também sou co-
ordenador geral da Coordenadoria Geral de Pesquisa e Iniciação Cien fica.
e-mail: alvesfd@hotmail.com

Meu nome é Edson Renato Nardi, Filósofo e Educador Físico, Mestre (2010)
em Educação pela Universidade do Estado de São Paulo - Araraquara. Especia-
lista em Violência Domés ca contra Crianças e Adolescentes pela Universidade
de São Paulo – São Paulo. Atualmente é professor do Centro Universitário Cla-
re ano onde atua como docente (regime CLT), no curso de Licenciatura em Fi-
losofia, Pedagogia e Educação Física. Atua também como professor efe vo na
rede pública de ensino do estado de São Paulo nas disciplinas de Educação Físi-
ca e Filosofia. Tem experiência na área de Ensino Fundamental e Médio. Exerci
durante 8 anos a função de Professor Coordenador das Oficinas Pedagógicas
(PCOP) na disciplina de Educação Física e atuou também em grupos de estudo organizados pela Co-
ordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) voltados para a implementação da proposta
curricular de Educação Física Escolar na rede pública do estado de São Paulo.
e-mail: vitabreve@hotmail.com
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
Aline Sommerhalder
Fernando Donizete Alves
Edson Renato Nardi

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO
ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Clare ana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

372.86 S679f

Sommerhalder, Aline
Fundamentos e métodos do ensino da educação física / Aline Sommerhalder,
Edson Renato Nardi, Fernando Donizete Alves – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
112 p.

ISBN: 978-85-67425-99-3

1. Educação Física no contexto escolar: dimensão histórica, papel na atualidade


e objetivos de formação. 2. Conteúdos de ensino para a Educação Física na escola
de Ensino Fundamental: dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais.
3. Abordagens de ensino da Educação Física. 4. Avaliação da aprendizagem em
Educação Física. I. Nardi, Edson Renato. II. Alves, Fernando Donizete. III.
Fundamentos e métodos do ensino da educação física.

CDD 372.86

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material DidáƟco Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cá a Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rafael Antonio Morotti
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rodrigo Ferreira Daverni
Josiane Marchiori Mar ns Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Raquel Baptista Meneses Frata Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 8

UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CENÁRIO ESCOLAR BRASILEIRO


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 27
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 27
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 28
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 29
5 EDUCAÇÃO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS ........................................................ 29
6 EDUCAÇÃO FÍSICA: HISTÓRIA, PAPEL SOCIAL E FUNÇÃO NA ESCOLA ......... 36
7 EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: INTEGRAÇÃO À PROPOSTA PEDAGÓGICA
DA UNIDADE ESCOLAR E OBJETIVOS DE FORMAÇÃO ................................... 40
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 48
9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 49
10 E REFERÊNCIA ................................................................................................. 49
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 50

UNIDADE 2 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 51
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 51
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 52
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 53
5 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO....53
6 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA EM SUAS TRÊS DIMENSÕES:
CONCEITUAIS, PROCEDIMENTAIS E ATITUDINAIS ......................................... 71
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 73
8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 74

UNIDADE 3 EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS ABORDAGENS DE ENSINO


APRENDIZAGEM
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 77
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 77
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 78
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 79
5 PSICOMOTRICIDADE ........................................................................................ 80
6 DESENVOLVIMENTISTA .................................................................................... 83
7 CONSTRUTIVISMO ........................................................................................... 86
8 CRÍTICO SUPERADORA .................................................................................... 89
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 91
10 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................ 92
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 92

UNIDADE 4 AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 93
2 CONTEÚDO ....................................................................................................... 93
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 94
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 95
5 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ......... 96
6 PRÁTICA DA AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA .......................................... 103
7 CRITÉRIOS AVALIATIVOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO DOS
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ... 108
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 109
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 110
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 111
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Educação Física no contexto escolar: dimensão histórica, papel na atualidade e
objetivos de formação. Conteúdos de ensino para a Educação Física na escola
de Ensino Fundamental: dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais.
Abordagens de ensino da Educação Física. Avaliação da aprendizagem em Edu-
cação Física.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
O estudo de Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação
Física proporcionará a você contato com as principais ideias teóri-
cas e práticas ligadas à atividade do orientador educacional.
Para tanto, faremos um breve passeio pela história da Edu-
cação Física na escola para que você conheça os fundamentos que
orientaram a prática de ensino dessa área de conhecimento.
Além disso, analisaremos os objetivos e as várias abordagens
do ensino da Educação Física, bem como os conteúdos de ensino,
8 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

considerando a Cultura Corporal de Movimento e as três dimen-


sões de conteúdo: conceituais, procedimentais e atitudinais.
No decorrer deste estudo, você conhecerá a prática da ava-
liação da aprendizagem em Educação Física no contexto da Escola
Básica, especialmente no Ensino Fundamental, e, também, algumas
propostas de atividades relacionadas aos conteúdos de ensino que
podem ser desenvolvidas na Educação Infantil e no Ensino Funda-
mental, além de discutir o papel dessa disciplina como colaboradora
de uma formação para a cidadania e para a inclusão social.
Esperamos que este Caderno de Referência de Conteúdo
possa colaborar com sua formação como professor da Educação
Básica e promover subsídios para as ações docentes em relação à
área da Educação Física.
Mas, para que isso efetivamente aconteça, você deve parti-
cipar, ativamente, deste estudo, colaborando com os debates das
questões propostas nos Fóruns e realizando as atividades previstas
para a ferramenta Portfólio.
Desejamos um ótimo estudo a você e esperamos que este
Caderno de Referência de Conteúdo possa enriquecer sua forma-
ção como educador.
Após essa introdução aos conceitos principais deste estudo
apresentaremos, a seguir, no Tópico Orientações para estudo, al-
gumas orientações de caráter motivacional, dicas e estratégias de
aprendizagem que poderão facilitar o seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Prof. Ms. Engels Câmara
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-
dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará
em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões


no estudo de cada unidade.
Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhe-
cimento básico necessário a partir do qual você possa construir um
referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que,
no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social. Iniciaremos nossa aventu-
ra pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que funda-
mentam este Caderno de Referência de Conteúdo.
Primeiras reflexões
Neste nosso primeiro contato, é importante levantar algu-
mas questões que possam auxiliá-lo (a) na reflexão sobre suas fu-
turas práticas profissionais.
É importante que você não entenda essas colocações como
verdades, mas apenas como pensamentos que podem servir de
referência para a construção dos seus próprios conhecimentos.
Inicialmente, gostaríamos de levantar alguns questionamen-
tos: Em seu entendimento, para que serve a Educação Física na es-
cola? Quais são seus objetivos? Na condição de professores, pais e
alunos, quando a observamos, que pensamentos nos vêm à cabeça?
Pois bem. É comum considerarmos a Educação Física como
uma disciplina importante. Nas falas de alguns professores, essa
importância também é explicitada e, por vezes, supervalorizada.
São poucos aqueles que afirmam ser desnecessário aos alunos
terem Educação Física na escola, e, quando questionados sobre
o real motivo dessa importância, alguns desses professores asso-
ciam as aulas dessa disciplina ao aprendizado de alguma prática
esportiva ou atividade recreativa; outros atribuem a ela a tarefa de
possibilitar às crianças o desenvolvimento de competências mo-
toras, afetivas, sociais e cognitivas próprias do desenvolvimento
infantil, mas de maneira desvinculada das demais áreas.
Agora façamos uma provocação. Supondo que você tivesse
de escolher entre a disciplina de Educação Física e a de Biologia ou

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10 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

entre ensinar Educação Física ou Ciências, quais seriam suas esco-


lhas? E por quais motivos?
Vamos piorar a situação. Se você tivesse de escolher entre
alfabetizar um aluno ou deixá-lo frequentar as aulas de Educação
Física, qual escolha faria?
A resposta, é claro, parte da valorização dada às respectivas
áreas, e essa resposta não é, necessariamente, importante nesse
momento, mas, sim, esse processo de reflexão que nos possibilita
pensar qual a função da Educação Física na escola. Será que ela é
uma disciplina ou área como todas as outras? E, caso seja, como
ela pode auxiliar na formação do aluno?
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/1996, a Educação Física passa a ser compreendida, pelo me-
nos na letra da lei, como uma disciplina tão importante quanto as
outras. Assim, devemos ressaltar uma parte desse artigo para que
possamos seguir com nossa reflexão.
A lei diz que a Educação Física, integrada à proposta peda-
gógica da escola, é componente curricular da Educação Básica
(BRASIL, 1996). A Educação Física deve, portanto, estar integrada
ao Projeto Político-Pedagógico da escola e trabalhar no sentido de
formar o aluno no perfil descrito nesse projeto.
Como foi dito, nossa intenção não é discutir se a Educação
Física é ou não mais importante que as outras disciplinas. Nosso
interesse está em pensar como ela pode auxiliar a instituição esco-
lar a cumprir o que determina o Projeto Político-Pedagógico.
Em nosso entendimento, esta é a função de todas as discipli-
nas: cada qual deve utilizar um conhecimento específico para for-
mar o indivíduo. A Educação Física tem, pois, de se responsabilizar
por parte desse processo.
De acordo com Bernstein (apud GÓMES, 2000, p. 47):
A escola deve transformar-se numa comunidade de vida e, a edu-
cação deve ser concebida como uma contínua reconstrução da
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

experiência. Comunidade de vida democrática e reconstrução da


experiência baseadas no diálogo, na comparação e no respeito real
pelas diferenças individuais, sobre cuja aceitação pode se assentar
um entendimento mútuo, o acordo e os projetos solidários.

Sacristán e Gómez (1998, p. 22) descrevem como função


educativa da escola, entre outras coisas, a preparação dos alunos
“[...] para pensar criticamente e agir democraticamente numa so-
ciedade não democrática”.
Podemos compreender que, de acordo com essa função, a
formação do aluno deve ocorrer em uma perspectiva de cidadania
crítica. Nesse sentido, a metodologia do professor deve ser elabo-
rada de maneira que dê conta dessa formação no Ensino Básico,
cada qual com suas especificidades e respeitando as possibilida-
des dos alunos.
Desse modo, como trabalhar com a Educação Física de ma-
neira que esta, em conjunto com os demais membros da comuni-
dade escolar, consiga cumprir o que é proposto no Projeto Político-
-Pedagógico?
Em primeiro lugar, é preciso pensar que tal área possui con-
teúdos específicos a serem desenvolvidos. Não cabe a ela ensinar
os conteúdos de outras disciplinas, como, por exemplo, Matemá-
tica ou História.
Que conteúdos são esses então? Quais atividades a Educa-
ção Física deve realizar?
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física,
encontramos o conceito de cultura corporal, que pode ser enten-
dido como:
inúmeros conhecimentos e representações que se transformaram
ao longo do tempo, tendo ressignificadas as suas intencionalidades
e formas de expressão. Dentre as produções dessa cultura corporal,
algumas foram incorporadas pela Educação Física em seus conteú-
dos, são elas o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta (BRASIL,
2000).

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12 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Tais atividades compreendem uma gama de conteúdos que


podem e devem ser trabalhados nas aulas de Educação Física. Po-
demos priorizar algumas em detrimento de outras, mesmo porque
teremos de escolher entre tantas existentes. Essa escolha pode
ocorrer por inúmeros motivos, a saber: por afinidade pessoal,
pelo desejo dos alunos, pela facilidade em atingir os objetivos com
determinadas atividades ou pela combinação desse último e de
outros motivos.
Podemos utilizar, por exemplo, o futebol como conteúdo
para atingir vários objetivos. Isso não significa que devemos pe-
gar várias bolas e ir para uma quadra solicitando aos alunos que
realizem alguma atividade com bola. Na condição de professor,
você pode e deve utilizar o futebol com várias metodologias para
atingir seus objetivos. Além disso, um texto sobre o assunto pode
auxiliar o aluno a interpretar e a criticar; um filme pode possibili-
tar reflexões sobre o esporte; um desenho sobre o tema auxiliaria
uma criança a expressar-se. E, por que não, um jogo de futebol
na quadra? Este ajudaria no desenvolvimento dessas e de outras
competências.
Trabalhar o conteúdo específico da Educação Física não sig-
nifica apenas formar ou treinar futuros atletas, pois é preciso mui-
to mais que preparar as crianças para uma vida saudável e ativa;
significa apresentar um conhecimento constituído historicamente
e que merece ser tratado em sua plenitude no cotidiano da vida
escolar.
Agora surge um problema. Os exemplos que descrevemos
ficam fáceis com o futebol; afinal todos o conhecem e alguns até
já o praticaram. Mas como fazer com um elemento da cultura cor-
poral que não se tem ideia do que seja ou de como ensinar? Como
você faria, por exemplo, para ensinar dança de rua? Vamos no-
vamente piorar um pouquinho a situação. Como você faria para
trabalhar com polo aquático? Parece loucura, não é mesmo? Mas
será que conseguiria?
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

A questão não é se você conseguiria que seus alunos se tor-


nassem jogadores de polo aquático, já que, possivelmente, não
será esse o objetivo, mas se você conseguiria discutir, minimamen-
te, esse conteúdo.
Vejamos um exemplo.
Há alguns dias, em uma revista do segmento educacional,
uma reportagem descrevia uma aula de esgrima elaborada por um
professor de Educação Física do 9º ano do Ensino Fundamental.
Ele utilizou espadas de papel, protetores de caixa de pizza e tinta
para marcar os acertos. A questão é que, provavelmente, esse pro-
fessor não aprendeu, em sua graduação, como ensinar esgrima.
Então, quais estratégias ele deve ter utilizado para montar essa
aula? Pesquisou? Conversou com outras pessoas? Matriculou-se
em aulas de esgrima? Arriscou? Errou bastante? Não há como sa-
ber quais dessas estratégias foram utilizadas; o importante é que
ele conseguiu, e, se ele conseguiu, você também será capaz de
realizar esse tipo de atividade com seus alunos..
É claro que não bastará simplesmente desenvolver determi-
nado conteúdo. É preciso que este seja tratado como instrumento
de trabalho para atingir as finalidades propostas; uma delas é a
própria vivência desse conteúdo, mas não é a única. Para isso, você
estudará as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais,
que devem ser trabalhadas com os conteúdos e que estão dire-
tamente relacionadas aos objetivos. O que são exatamente essas
dimensões? No material, elas são resumidas da seguinte maneira:
• a dimensão conceitual é o que se deve saber;
• a dimensão procedimental é o que se deve saber fazer;
• a dimensão atitudinal diz respeito a como se deve ser.
Na Educação Física, tem-se supervalorizado a dimensão pro-
cedimental, ou seja, o como fazer. Isso se deve ao caráter prático
dado historicamente a essa área, o qual sempre a remeteu a um
segundo plano de importância, já que o pensar sempre foi mais va-

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14 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

lorizado que o fazer (como se fosse possível essa desvinculação!).


No entanto, é possível e necessário abordar os conteúdos a partir
das três dimensões apresentadas; caso contrário, recairemos em
um equívoco que ainda encontramos na Educação Física: o ensino
da atividade tendo como fim a própria atividade. Muitas vezes, os
professores planejam suas aulas tendo como objetivo o aprendiza-
do das diversas modalidades esportivas.
Nesse sentido, levantamos outra questão: O professor deve
ensinar o conteúdo ou utilizá-lo como instrumento de trabalho ou
as duas coisas?
Como já foi dito, existe um conhecimento constituído histo-
ricamente que deve ser desenvolvido nas aulas de Educação Física
e que deve ser trabalhado em suas três dimensões para que pos-
samos atingir os objetivos necessários. Ao fazer isso, caminhamos
no sentido de superar essa visão procedimental do ensino dessa
disciplina.
Essa superação, no entanto, nos leva a outra questão: a da
avaliação em Educação Física. Quando avaliamos na dimensão
procedimental, ou seja, o saber fazer, podemos, de certa maneira,
mensurar o quanto o aluno sabe realizar determinada atividade;
além disso, verificamos sua performance, quantificamo-la e atri-
buímos uma nota.
Mas pensar a avaliação não significa necessariamente pen-
sar em quantificação. Veremos isso a seguir.
Avaliação em Educação Física
Pensar a avaliação não necessariamente significa pensar em
quantificação, e isso deve ser considerado nas aulas de Educação
Física. Mas vejamos: Como podemos pensar a avaliação em Educa-
ção Física? Qual sua função na proposta de ensino dessa disciplina?
Avaliar pode ser considerado um processo contínuo de diag-
nóstico da situação, contando com a participação coletiva de pro-
fessores, alunos e equipe pedagógica. Isso significa que a avaliação
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

é uma atividade que tem como função a reestruturação do pro-


cesso ensino-aprendizagem pensando nas ações futuras que serão
mantidas ou modificadas de acordo com os resultados. Portanto,
avaliamos para avançar nesse processo.
Não podemos mais conceber a avaliação como maneira de
classificar os alunos em uma escala de notas. Para muitos professo-
res, parece impossível realizar uma avaliação sem a atribuição de
notas para a produção do aluno; em muitos casos, elas se tornam
o único objetivo a ser alcançado. Se você quiser ver um pai ou uma
mãe feliz, é só lhes dizer que o filho tirou uma nota 10; entende-se
que ela representa quem é o aluno. Lembra da expressão “aluno
nota 10”? Pois é. Mas o pior disso tudo é o outro lado da moeda. O
aluno que não tira notas boas é rotulado um aluno ruim.
O que fazer, então, com a nota e, principalmente, com a ava-
liação?
É importante perceber que nossas aulas têm como objetivo
a formação do aluno no perfil descrito no Projeto Político- Pedagó-
gico. Lembra do início desta apresentação?
Nesse sentido, a avaliação deve buscar auxiliar nessa forma-
ção. Ao realizar esse diagnóstico, podemos perceber até que ponto
estamos atingindo o objetivo de nossas aulas e propor mudanças
na metodologia destas, a tempo de corrigir possíveis equívocos.
Agora que instrumento de avaliação devemos utilizar? Como
exemplo, gostaríamos de lembrar de algumas aulas apresentadas
por alunos de um curso de Educação Física nas quais eles deveriam
avaliar se os objetivos propostos foram atingidos. O único instru-
mento utilizado por todos os grupos foi a observação. Não que
esse instrumento não deva ser utilizado, mas será que ele, sozi-
nho, dá conta de verificar o que se pretende?
Que outros instrumentos podemos utilizar? Textos? Discus-
sões? Portfólios? Você terá liberdade para construir vários instru-
mentos que melhor atendam às necessidades dos alunos, mas

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16 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

devemos lembrar que esse momento do processo ensino-apren-


dizagem é importantíssimo, podendo auxiliar, diretamente, na
aprendizagem deles.
Pensemos agora em aulas de Educação Física que tenham
como base a formação da criança na perspectiva da cidadania críti-
ca. Quais competências e habilidades ela precisa desenvolver para
ter esse perfil?
As crianças devem conseguir compreender, entre outras coi-
sas, a importância de seus direitos e deveres; como educadores,
devemos pensar em aulas que auxiliem nessa compreensão. Cien-
tes disso, tentaremos esboçar uma aula com essa proposta.
Sabemos que a Educação Física possui um conhecimento
próprio da área, ou seja, a cultura corporal; com isso, escolhere-
mos algum conteúdo para relacioná-lo com a fase de desenvol-
vimento das crianças para as quais queremos planejar essa aula.
Como sugestão, que tal uma aula para crianças de 6 anos, que es-
tão no 1º ano do Ensino Fundamental?
Como foi dito, nosso objetivo é que os alunos consigam com-
preender a importância de seus direitos e deveres. Nesse sentido,
é preciso possibilitar a eles vivências e reflexões que os auxiliem
nessa compreensão. Que conteúdo ou atividade podemos esco-
lher para alcançar tal objetivo?
Essa escolha, como já comentamos, pode se dar por inúme-
ros motivos. Utilizaremos para esse exemplo uma sugestão dada
por alunos: um jogo chamado pega-pega na linha. A descrição exa-
ta deste pode ser encontrada na internet ou em livros sobre o as-
sunto. Vamos à aula?
Inicialmente, é feita a exposição para as crianças de como o
jogo deve acontecer, partindo da explicação das regras. Na quadra,
existem inúmeras linhas pintadas que serão utilizadas para o jogo
(caso não tenhamos uma quadra, podemos adaptar alguns espa-
ços nos quais encontramos linhas no chão, como as divisões no
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

concreto do pátio da escola). As crianças deverão caminhar pelas


linhas sem correr, e haverá um pegador que também deverá se-
guir essa orientação. Quem for pego deverá se sentar na linha blo-
queando a passagem das demais crianças, que deverão caminhar
por outras linhas. A vantagem do pegador é que ele será o único
que poderá pular as crianças sentadas. O jogo termina quando to-
dos forem pegos.
Inúmeras intervenções podem ser feitas pelo professor du-
rante essa aula; uma delas é desenvolver uma discussão sobre o
que são regras e a importância de existirem no jogo e em nosso co-
tidiano. Caso algum aluno descumpra alguma regra, teremos um
momento oportuno para essa discussão. Outra temática relacio-
nada é discutir como elas são elaboradas. Quem é o responsável
por essa elaboração? O grupo poderia apresentar novas regras ou
alterações nas existentes?
Nessa aula, conseguimos trabalhar o conteúdo, no caso, um
jogo, nas três dimensões propostas pelos PCNs. Ao ensinar como
realizar o jogo, utilizamos a dimensão procedimental; quando dis-
cutimos sobre o conceito de regra ou de jogo, abordamos o con-
teúdo na sua dimensão conceitual; e, ao auxiliarmos os alunos a
refletirem sobre a importância das regras no jogo ou no cotidiano,
remetemos à dimensão atitudinal.
A avaliação, nessa aula, deve ir além da verificação do apren-
dizado do jogo, e o diagnóstico deve ser no sentido de perceber
até que ponto os objetivos iniciais foram alcançados, ou seja, a
compreensão, por parte dos alunos, sobre a importância dos direi-
tos e deveres de uma pessoa, seja no jogo ou no dia a dia.
Como poderíamos realizar esse diagnóstico? Que instru-
mentos poderíamos utilizar para isso?
Talvez, uma discussão durante ou no final da aula que possi-
bilite aos alunos expressarem seus pensamentos sobre o assunto
ajude a elucidar como foi ou está sendo o processo; um debate
seguido da elaboração de uma história ou desenho consiga dar

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18 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

conta de como as crianças estão lidando com tais questões; ade-


mais, questionamentos por parte do professor também auxiliam
nessa análise.
É importante que o exemplo apresentado seja utilizado como
referência não para reproduzi-lo, mas para pensar em novas aulas
de Educação Física. Não cremos que seja importante apresentar
uma dúzia de planos de aula prontos para serem apenas aplicados,
pois o ideal é possibilitar reflexões, a fim de você construa suas
próprias aulas. Com certeza, muitos equívocos acontecerão, mas
estes fazem parte do nosso aprendizado, que não termina quando
pegamos o diploma. Portanto, não tenha receio de errar na cons-
trução de suas aulas.
Deixamos essas reflexões para que você possa iniciar os estu-
dos deste Caderno de Referência de Conteúdo, porém, reiteramos
que são somente proposições iniciais e que precisam ser aprofun-
dadas por você, na busca de uma melhor elucidação.
Este CRC deve auxiliá-lo nesse sentido. Lembre-se de que
este material é apenas um referencial para seus estudos; portanto,
é interessante que você busque outras fontes e consulte as refe-
rências que constam na bibliografia de cada unidade.
Sabemos que se trata de uma empreitada grande, mas te-
mos certeza absoluta de que você conseguirá pensar a Educação
Física em suas aulas de maneira que ela possa contribuir na forma-
ção do cidadão.
Bons estudos!

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados em Fundamentos e Métodos do
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Ensino da Educação Física. Veja, a seguir, a definição dos principais


conceitos:
1) Capitalismo: é um sistema econômico no qual os meios
de produção e a indústria são privativamente administra-
dos e operados para um benefício privado. As decisões
sobre demanda, preço, distribuição e investimentos são
feitas por “atores” privados, que estão no mercado em
detrimento de um planejamento central realizado pelo
governo, e os benefícios são distribuídos aos proprietá-
rios que pagam salários aos trabalhadores empregados
no processo de produção.
2) Cidadania: nome dado à condição em que o indivíduo é
cidadão de uma comunidade nacional, política ou parti-
cular. O status de cidadania realiza-se por intermédio de
uma teoria de contrato social, e nessa teoria está pre-
sente uma série de direitos e responsabilidades aplica-
das ao indivíduo. Atualmente o exercício da cidadania se
realiza por meio do acesso a vários direitos; dentre eles,
destacamos os direitos civis, políticos e sociais.
3) Competência: o termo “competência” tem sido usado
com vários significados e de diferentes formas. Hoje em
dia esse termo é utilizado por Perrenaud (2000) para se
referir às capacidades que temos para ativar os recursos
necessários e dar uma resposta eficiente a uma situa-
ção complexa em um contexto particular. A competên-
cia envolve o processo mais apropriado de seleção de
conhecimentos, habilidades e atitudes para a resolução
de problemas complexos, fazendo uso da sabedoria e da
capacidade de julgamento.
4) Cultura Corporal de Movimento: entende-se por cultura
corporal do movimento todos os conhecimentos mate-
riais e não materiais que foram produzidos a partir dos
fenômenos culturais do jogo, do esporte, da dança, da
ginástica e da luta.
5) Esportivização: é um termo utilizado para identificar a
ênfase no esporte, nas aulas de Educação Física. Para Jú-
nior (2008, p. 218) “a esportivização caracteriza-se por
ser um neologismo que busca retratar o processo em
cujos passatempos, divertimentos e jogos vão se con-
vertendo em práticas institucionalizadas, denominadas

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20 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

desportos, no âmbito da sociedade inglesa do século 19,


e, daí, exportadas em escala global, como avanço civi-
lizatório. Utilizamos o termo “esportivização” para de-
signar a substancial passagem do esporte, nas aulas de
Educação Física, de conteúdo escolarizado a conteúdo
exclusivo, sendo gerador de uma nova forma de organi-
zar o conhecimento, os espaços, os tempos e as relações
sociais dentro e fora da escola.”
6) Etnia: conceito utilizado para se referir a determinado
agrupamento ou comunidade humana que esteja vincu-
lado por laços linguísticos, culturais, dentre outros. Há
de se destacar que etnia é diferente de raça, porque,
enquanto o conceito de etnia se refere, sobretudo, a
elementos culturais, o conceito de raça refere-se a de-
terminadas características morfológicas do indivíduo
(constituição física, cor da pele etc.).
7) Eugenia: “é uma ação que visa ao melhoramento genéti-
co da raça humana, utilizando-se, para tanto, de esterili-
zação de deficientes, exames pré-nupciais e proibição de
casamentos consangüíneos” (BRASIL, 2000, p. 19).
8) Folclore: termo utilizado para se referir às crenças tra-
dicionais, práticas, costumes, histórias, brincadeiras,
músicas, e outras manifestações de um povo. Esses ele-
mentos pertencentes ao folclore são passados adiante,
geração após geração, por intermédio de manifestações
orais ou, ainda, por determinados comportamentos.
9) Higienismo: movimento médico europeu que influen-
ciou a Educação Física e se caracterizou pela prevenção
de doenças e moléstias por meio da introdução de hábi-
tos de higiene na população. Esse modelo se amparava
na Ciência e tinha no médico o seu maior referencial.
Especificamente na Educação Física, esse movimento se
caracterizou pela determinação da melhor forma que
o indivíduo deveria utilizar para cuidar do seu corpo, a
qual se manifestava nas mudanças de hábitos em rela-
ção a este (RABINBACH, 1992).
10) Jogos pré-desportivos: caracterizam-se por exercitar
movimentos que compõem a base motora de deter-
minada modalidade esportiva. Por meio desse tipo de
jogo, é possível proporcionar ao educando alguns dos
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

objetivos essenciais do esporte a ser desenvolvido ou,


ainda, aspectos técnico-táticos presentes nesse mesmo
esporte.
11) LDB: abreviatura da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
ção. A LDB refere-se às leis que buscam definir ou re-
gularizar a forma como se realiza o sistema educativo
de nosso país, as quais estão previamente presentes em
nossa Constituição. A mais recente Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação promulgada em nosso país ocorreu em
1996.
12) Marxismo: é o nome que se dá às teorias econômicas
e políticas criadas por Karl Marx, com a colaboração de
Friedrich Engels. A teoria marxista advoga que as ações
humanas e as instituições são economicamente determi-
nadas, e que o conflito de classes é necessário para gerar
uma mudança histórica que propicie o fim da opressão
realizada pela burguesia existente no capitalismo e a
consequente mudança para uma sociedade socialista.
13) PCN: os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são
um conjunto de documentos elaborados pelo MEC e por
uma equipe de especialistas recrutados por essa institui-
ção, com o intuito de fornecer uma referência curricular
para o ensino no Brasil, visando, em síntese, a concreti-
zação de uma Educação Básica de qualidade.
14) Projeto Político-Pedagógico: são muitas as definições
a respeito do que vem a ser um Projeto Político-Peda-
gógico; com isso, elas sofrem influências das correntes
políticas e filosóficas e de quem realiza essa definição.
De forma sintética, encontramos em Veiga (2004, p. 25)
uma definição abrangente e que pode vir a traçar os ele-
mentos centrais desse conceito. Para a autora, o Projeto
Político-Pedagógico “[...] mais do que uma formalidade
instituída: é uma reflexão sobre a Educação Superior (e
em todos os níveis) sobre o ensino, a pesquisa e a ex-
tensão, a produção e a socialização dos conhecimentos,
sobre o aluno e o professor e a prática pedagógica”. Dito
de outro modo, o Projeto Político-Pedagógico é político,
pois define qual cidadão queremos formar em determi-
nado tipo de sociedade, e é pedagógico em razão de que
realiza essa intencionalidade dentro do espaço escolar.

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22 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou, até mesmo, o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito deste Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre
os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-
plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-
denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.
Com base na teoria da aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino-aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

que, ao fixar esses conceitos em suas já existentes estruturas cog-


nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e
externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar
significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhecimen-
to sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo
uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que
já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site dis-
ponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapasconceituais/
utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2011).

EDUCAÇÃO INFORMAL

FORMAL

LDBͲ PCNs

DIRETRIZES
CURRICULARES
MATEMÁTICA
PORTUGUÊS
DISCIPLINAS GEOGRAFIA
ARTES
HISTÓRIA
EDUCAÇÃOFÍSICA ETC.

CULTURACORPORALDO
MOVIMENTO

DANÇAS JOGOS GINÁSTICAS ESPORTES LUTAS

DIMENSÕESATITUDINAIS,
PROCEDIMENTAISECONCEITUAIS

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Fundamentos


e Métodos do Ensino da Educação Física.

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24 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre
um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu
processo de ensino-aprendizagem.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino da Educação Física pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, median-
te a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você
estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa.
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática
profissional.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no Tópico Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos deste Caderno de Referência de Conteúdo, pois relacionar
aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma
boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de
emancipação do ser humano. É importante que você se atente às
explicações teóricas, prá cas e cien ficas que estão presentes nos
meios de comunicação, bem como par lhe suas descobertas com
seus colegas, pois, ao compar lhar com outras pessoas aquilo que
você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece,
aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes.
Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.

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26 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie


seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.
EAD
A Educação Física no
Cenário Escolar
Brasileiro
1
1. OBJETIVOS
• Demonstrar o papel da Educação Física na escola como
componente curricular obrigatório no Ensino Básico.
• Compreender e identificar a área da Educação Física Es-
colar como Cultura Corporal de Movimento e os objetivos
dessa disciplina na escola.

2. CONTEÚDOS
• Educação Física na Educação Básica atual:
- História da Educação Física na escola.
- Papel e objetivos.
28 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo
Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as
unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendiza-
gem e seu desempenho.
2) Perceba que, embora usemos o conceito de educação
em nosso cotidiano, ele carrega uma série de peculia-
ridades e concepções que, muitas vezes, não nos aten-
tamos. É possível perceber esse fato verificando, nesta
unidade, como esse conceito pode trazer uma série de
interpretações, algumas delas, inclusive, antagônicas.
3) Ao ler alguns dos aspectos históricos que originaram
a Educação Física Escolar, você perceberá que, em seu
surgimento, ela atendeu a vários objetivos, que contem-
poraneamente seriam extremamente questionáveis;
dentre eles, podemos citar as finalidades eugênicas
(melhoria da raça) e o adestramento de corpos para a
melhoria do desempenho físico no trabalho (finalidade
capitalista).
4) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material
didático e discuta a unidade com seus colegas e com o
tutor. Dentre os documentos apresentados nesta uni-
dade, consideramos importante que você se aprofunde
nas informações apresentadas nos Parâmetros Curricu-
lares de Educação Física, pois esse documento traz uma
série de inovações na proposta e nos objetivos do ensino
da Educação Física Escolar.
5) Analise com atenção as nuances e a variedade de objeti-
vos apresentados pelos PCNs para o ensino da Educação
Física no primeiro e segundo ciclos. Por meio dessa aná-
lise, você perceberá que esses objetivos vão muito além
da estrita prática de atividades físicas.
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 29

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo desta unidade, apresentaremos a você a história
da Educação Física na escola, seu papel atual no cenário escolar
brasileiro, suas especificidades como campo de conhecimento
que trata da Cultura Corporal de Movimento e os objetivos para
o trabalho com esse componente curricular na escola. Para tanto,
é importante inicialmente compreender o conceito de educação
que embasa nossos estudos em torno da área da Educação Física
Escolar. É sobre isso que conversaremos no tópico a seguir.

5. EDUCAÇÃO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS


Você saberia dizer o que é educação? Qual é o papel da es-
cola? Essas perguntas se mostram fundamentais na formação de
professores, especialmente na formação dos pedagogos.
Entre os profissionais que atuam no campo educacional,
têm havido entendimentos bastante diversos em relação ao termo
“educação” e ao papel da escola na sociedade atual, os quais são,
muitas vezes, parcializados. Essa parcialização na compreensão do
significado da educação e da função da escola decorre da própria
complexidade do fenômeno educativo, ou seja, de sua natureza,
especificidades e funções, que podem ser estudadas e compreen-
didas sob vários ângulos, como o psicológico, o pedagógico, o so-
ciológico e o histórico.
O profissional da educação, seja ele professor, gestor esco-
lar ou coordenador pedagógico, considera-se educador, porém, os
sentidos que esse profissional dá ao termo “educação” se diferem
de acordo com sua realidade de atuação.
Vejamos o exemplo:
Um professor tende a aprofundar-se nos estudos da educa-
ção como processo de escolarização, permeando suas indagações,
o processo de ensinar e aprender, o planejamento do ensino, a

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30 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

aquisição de conhecimentos, o processo avaliativo da aprendiza-


gem, dentre outros aspectos. Um gestor escolar, em contrapar-
tida, tende a preocupar-se muito mais com a escola como insti-
tuição social, aprofundando-se nas políticas educacionais e na
organização e gestão do sistema de ensino.
Portanto, as próprias áreas de conhecimento, assim como as
representações, ideias e significados, além das práticas do senso
comum, levam à ocorrência de compreensões parcializadas dos
conceitos advindos das primeiras, das vivências da prática educati-
va e das instituições formadoras. É preciso lembrar que os proces-
sos educativos são complexos e multifacetados, o que nos impede
de entendê-los sob um único ângulo ou reduzi-los apenas ao cam-
po escolar.
Segundo Libâneo (2005), quando falamos em educação,
lembramos de processo educativo, prática educativa, atividade
educacional, além de pensarmos em educação escolar, educação
rural, educação ambiental etc. Entretanto, será possível chegar a
um conceito que defina características básicas em relação ao fe-
nômeno educativo? Esse mesmo autor nos apontará que é inte-
ressante partir do sentimento etimológico para a compreensão do
conceito “educação”.
Educare é a origem latina do termo “educação”, que significa
alimentar, cuidar e criar. Encontramos, também, educere, que sig-
nifica tirar para fora, conduzir para, modificar um estado, desen-
volver e extrair. Nesse sentido, educere é uma atividade criadora
que visa levar o ser humano a realizar as suas potencialidades físi-
cas, morais, espirituais e intelectuais (BRANDÃO, 2005).
Para Libâneo (2005), o termo educatio (educação) parece
sintetizar os dois termos apresentados, ou seja, educare e educe-
re. Isso porque educatio representa criação, tratamento e cuida-
dos que se dirigem aos educandos com a intenção de adaptar seus
comportamentos às expectativas e exigências de um determinado
meio social.
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 31

Seguindo essa linha de pensamento, encontramos, no co-


tidiano, falas que nos remetem ao entendimento desse sentido
mais corrente para educação, dentre as quais, podemos destacar:
“fulano não tem educação” ou “a educação é a ‘mola’ para o pro-
gresso”.
Note que essas falas, conforme já mencionamos, nos reme-
tem a uma visão de educação como adaptação do indivíduo e dos
grupos a determinadas exigências do contexto social. Assim, edu-
car significa: fazer que as pessoas repitam –manutenção de um
comportamento aceito socialmente – ações sociais valorizadas pe-
los adultos, de tal forma que se constituam como imagem e seme-
lhança da sociedade em que vivem.
Reconhecendo a educação com esse significado, assumi-
mos um posicionamento bastante conservador, no qual ela é vista
como adaptação, como algo que se repete e reproduz, sendo sem-
pre idêntica e estática.
Sua concepção de educação assemelha-se a esse significa-
do? Pense sobre isso e compare suas ideias com as informações
que apresentaremos a seguir. Talvez, algo poderá mudar.
Para avançarmos na amplitude do significado do termo
“educação”, não devemos excluir, na totalidade, esse sentido de
adaptação, mas pensar além dele. Veja:
A educação corresponde à ação e ao resultado de um pro-
cesso de formação dos sujeitos ao longo da vida para adquirirem
capacidades e qualidades humanas, a fim de lidar com as exigên-
cias colocadas por determinado contexto social (LIBÂNEO, 2005).
É em torno dessa ideia que se constituem as várias teorias educa-
cionais, com suas explicações sobre a natureza da educação, seus
fins, modalidades e métodos.
Dentre as definições de educação que encontramos – de
acordo com suas correntes teóricas e autores –, consideramos
oportuno expor as concepções apresentadas por Libâneo (2005):

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32 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

a) Naturalista.
b) Pragmática.
c) Culturalista.
d) Ambientalista.
e) Interacionista.
Essas definições se diferenciam, basicamente, em dois as-
pectos: se o processo educativo depende de disposições internas
ou do ambiente ou, até, da ação de ambos e qual é a intenção ou
finalidade que se busca.
Vamos agora entender o significado de educação para cada
uma dessas concepções, e, para isso, iremos nos basear nos estu-
dos de Libâneo (2005).

Concepção naturalista
Na concepção naturalista, conhecida, também, como ina-
tista, há grande valorização dos fatores biológicos do desenvol-
vimento, e a influência externa (fatores sociais e culturais) seria
reguladora do ritmo e da manifestação dos processos inatos.
Mas qual a ligação dessa concepção com a educação?
A educação, nesse caminho, teria como finalidade se adap-
tar à natureza biológica e psicológica da criança e às tendências de
seu desenvolvimento, vistas como prontas desde o seu nascimen-
to. Assim, o objetivo da educação seria “tirar para fora” o que já
existe dentro do sujeito.

Concepção pragmática
Já a concepção pragmática entende que a educação deve
possibilitar a adaptação do sujeito ao meio social, e, por isso, edu-
car é desenvolver-se, é autoatividade provocada pelos interes-
ses do organismo, suscitados pelo ambiente físico e social. Des-
sa forma, pela experiência (interação entre organismo e meio),
o indivíduo desenvolve suas funções cognitivas, e a finalidade da
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 33

educação seria então confundida com o próprio processo de de-


senvolvimento do sujeito.

Concepção culturalista
Na concepção culturalista, a educação é uma atividade cul-
tural dirigida à formação dos sujeitos por meio da transmissão de
bens culturais. Desse modo, apropriando-se dos valores culturais,
o sujeito forma sua vida interior e sua personalidade, podendo
criar mais cultura.

Concepção ambientalista
O ambiente externo é o ponto de referência da concepção
ambientalista. Esta aponta que ele é o responsável pela configu-
ração da conduta do sujeito às exigências sociais. Nesse caminho,
temos autores como Durkheim e influências de behavioristas, os
quais acreditam que o homem é um ser totalmente moldável e
que suas características se desenvolvem por meio da ação do meio
externo. Portanto, educar seria preparar ações estimuladoras para
o controle do comportamento dos sujeitos, sem considerar seus
desejos, fantasias, raciocínio e sentimentos.

Concepção interacionista
Essa concepção evita a divisão entre ação educativa externa
e atividade interna dos sujeitos. Para os interacionistas, o proces-
so educativo desenvolve-se tanto biológica quanto psiquicamen-
te, pela interação do sujeito com o ambiente. Dentre os intera-
cionistas, podemos destacar Piaget, Vygotski e Wallon, os quais
apontam que a aprendizagem é um processo interativo em que os
sujeitos constroem os conhecimentos por meio da interação com
o ambiente e com outras pessoas, numa inter-relação constante,
envolvendo fatores internos e externos.

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34 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Concepção histórico-social
Há, ainda, uma outra concepção que nos parece muito in-
teressante a respeito de educação: a concepção histórico-social.
Nesta, compreende-se que o processo educativo é um fenômeno
social que tem raízes nas lutas sociais, e isso é o que configura o
ideal de formação humana.
Para essa concepção, a educação é um produto do desen-
volvimento social, sendo determinada pelas relações sociais de
uma sociedade. Assim, o vínculo entre educação e relações sociais
permite que a primeira se encontre subordinada aos interesses de
relações de grupos e classes sociais.
Para Libâneo (2005), a educação torna-se, com isso, repre-
sentativa dos interesses dominantes e transmissora dos ideais que
respondem a esses interesses. Logo, a prática educativa é sempre
a expressão de uma determinada forma de organização das rela-
ções sociais na sociedade, lembrando que elas são constituídas
por ações humanas que podem ser transformadas.
Numa tentativa de síntese, podemos dizer que a educação,
nessa concepção, abrange um sentido amplo, compreendendo o
conjunto dos processos formativos que ocorrem no meio social
(tanto intencionais quanto não intencionais, sistematizados ou
não, institucionalizados ou não). Em um sentido estrito, ela trata
das formas intencionais de desenvolvimento individual e da inser-
ção social dos indivíduos.
A educação, enquanto a vidade intencionalizada, é uma prá ca
social cunhada como influência do meio social sobre o desenvol-
vimento dos indivíduos na sua relação a va com o meio natural e
social, tendo em vista, precisamente, potencializar essa a vidade
humana para torná-la mais rica, mais produ va, mais eficaz diante
das tarefas da práxis social postas num dado sistema de relações
sociais (LIBÂNEO, 2005, p. 82).

Nesse contexto, a forma de propiciar esse desenvolvimento


se faz pelos processos de transmissão e apropriação ativa de co-
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 35

nhecimentos, valores, habilidades e técnicas nos ambientes orga-


nizados para esse fim, como a escola.
O que é possível apreendermos, após o estudo dessas con-
cepções, é que não há uma única definição de educação. Nesse
sentido, Brandão (2005) afirma que diariamente misturamos nos-
sa vida com as educações, já que não há um único modelo de edu-
cação, mas vários. Também devemos reconhecer que a escola não
é o único lugar onde ela acontece e se desenvolve, que o ensino
escolar não é a única prática educativa, e que o professor não é o
seu único praticante; isso porque a educação existe entre os gru-
pos sociais, em cada povo, em cada cultura. “A educação é, como
outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam
e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua
sociedade” (BRANDÃO, 2005, p. 10).
Podemos compreender que, para Brandão (2005), a educa-
ção participa do processo de produção de crenças e ideias de um
grupo social que envolve as trocas de símbolos, bens e poderes,
que, em conjunto, constroem os vários tipos de sociedade. Ela
existe no imaginário das pessoas e nos ideais dos grupos sociais, e
espera-se que, independentemente da forma como é desenvolvi-
da, tenha como missão a transformação dos sujeitos e do mundo
para melhor. É um processo contínuo, que se inicia nas origens
do ser humano e se estende até a morte, tendo como conteúdos
os conhecimentos, os valores, os procedimentos e as habilidades,
conforme contextos definidos de espaço, tempo, cultura e rela-
ções sociais.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº
9.394/96 afirma, em seu Artigo 1º, que:
A educação abrange os processos forma vos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas ins tui-
ções de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações
da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996).

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36 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Após a compreensão das diversas concepções de educa-


ção e do entendimento desta, de forma ampliada, como prática
contínua, que tem como missão a transformação dos sujeitos e
da sociedade para melhor, faz-se importante destacar a Educação
Física no contexto da educação escolar, sua história, fundamentos
e objetivos.

6. EDUCAÇÃO FÍSICA: HISTÓRIA, PAPEL SOCIAL E


FUNÇÃO NA ESCOLA
O movimento em torno da Educação Física Moderna teve
início na Europa do século 18 e no início do século 19 e foi as-
sociado a um contexto de mudanças de ordem socioeconômica e
política pelo qual passava o Velho Continente. Tratava-se dos re-
flexos da Revolução Industrial e do fortalecimento do capitalismo.
Assim, essa nova configuração colocou em cena a preocupação
com a saúde e, ao mesmo tempo, com o condicionamento físico
dos operários.
Segundo Soares (et al., 1992), na Europa do século 19 (anos
1800), o trabalho físico começou a despertar o interesse do Esta-
do, uma vez associado ao tema dos cuidados físicos com o corpo,
os quais incluíam a formação de hábitos como tomar banho, es-
covar os dentes, lavar as mãos e, também, os exercícios físicos,
vistos, exclusivamente, na ótica “higiênica”.
Nesse sentido, concluem:
Ora, cuidar do corpo significa também cuidar da nova sociedade
em construção, uma vez que, como já se afirmou, a força de tra-
balho produzida e posta em ação pelo corpo é fonte de lucro. Cui-
dar do corpo, portanto, passa a ser uma necessidade concreta que
devia ser respondida pela sociedade do século XIX (SOARES et al.,
1992, p. 51).

Desse modo, julgava-se que, por meio do exercício físico, seria


possível adquirir o corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela
nova sociedade capitalista. Em outras palavras, para essa nova so-
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 37

ciedade (capitalista), era fundamental construir um novo homem:


mais forte, mais ágil, mais empreendedor (SOARES et al., 1992).
Inicialmente, a relação da Educação Física com a escola
orienta-se por essas disposições socioeconômicas e políticas na
Europa, principalmente no século 19. Desenvolver e fortalecer fí-
sica e moralmente os indivíduos era uma das funções da Educação
Física no âmbito educacional nas escolas europeias.
A sistematização dos exercícios físicos dá forma à ginástica,
de modo que surgem, então, os chamados Métodos Ginásticos,
voltados ao desenvolvimento da aptidão física dos indivíduos
(crianças e adolescentes) na escola. As aulas de Educação Física
eram ministradas por instrutores físicos do exército e baseadas
nos rígidos métodos militares de disciplina e hierarquia, bem como
nos conhecimentos trazidos pelos médicos higienistas.
No Brasil, a Educação Física começa a se constituir baseada
nos preceitos teóricos e práticos vivenciados na Europa daquela
época. Isso significa que, inicialmente, a Educação Física brasileira
assume, do ponto de vista teórico, as características do modelo hi-
gienista, e do ponto de vista prático, os métodos ginásticos. Apoia-
das na ginástica, as aulas de Educação Física buscavam a educação
do corpo, tendo como meta a “[...] constituição de um físico sau-
dável e equilibrado organicamente, menos suscetível a doenças”
(BRASIL, 2000, p. 19). Cabe ressaltar que havia no pensamento po-
lítico e intelectual brasileiro da época uma forte preocupação com
a eugenia.
No Brasil, a Educação Física foi oficialmente introduzida na es-
cola em 1851, com a Reforma Couto Ferraz, que tornou obrigatória
a sua inclusão nas escolas do município da Corte. Além disso:
A Reforma Couto Ferraz [...] definia os requisitos necessários
ao exercício do magistério primário: ser brasileiro, maior, ter
moralidade e capacidade profissional. Com a finalidade de avaliar
este último requisito instituía o exame escrito e oral, criando para
tanto uma comissão de examinadores nomeados pelo Governo
(MATTOS, 2011).

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38 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

Anos mais tarde, em 1882, mais propriamente por ocasião


da Reforma Leôncio de Carvalho, Rui Barbosa defendeu a inclusão
da ginástica nas escolas em caráter de obrigatoriedade para am-
bos os sexos. No entanto, a implantação dessas leis ocorreu, de
fato, apenas em parte do Rio de Janeiro e nas escolas militares, de
modo que, somente a partir de 1920, os vários estados da federa-
ção começaram a realizar suas reformas educacionais, incluindo a
Educação Física como atividade obrigatória (DARIDO, 2003).
De acordo com Soares (et al. 1992), nas quatro primeiras dé-
cadas do século 20, foi marcante a influência dos Métodos Ginás-
ticos e da Instituição Militar na Educação Física Escolar. Segundo
Darido (2003, p. 1-2), “os métodos ginásticos procuravam capaci-
tar os indivíduos no sentido de contribuir com a indústria nascente
e com a prosperidade da nação”; já no modelo militarista, “[...] os
objetivos da Educação Física na escola eram vinculados à formação
de uma geração capaz de suportar o combate, a luta, para atuar
na guerra”.
A partir da década de 1960, podemos observar um movi-
mento de expansão da presença do esporte nas aulas de Educa-
ção Física. O processo de esportivização dessa disciplina teve início
com a introdução do Método Desportivo Generalizado, que signifi-
cou uma contraposição aos antigos métodos de ginástica (BRASIL,
2000).
Com a ascensão do Governo Militar, em 1964, o esporte ga-
nhou força e tornou-se o objetivo e o conteúdo da Educação Física
Escolar. Como aponta Brasil (2000), a iniciação esportiva se tornou
um dos eixos fundamentais do ensino, em que se buscava novos
talentos para o esporte brasileiro de alto nível. Na década de 1980,
esse modelo também foi seguido, mas, aos poucos, começou a so-
frer fortes críticas de profissionais da própria Educação Física.
Nessa perspectiva, a Educação Física, seja ela tomada como
disciplina ou como área de conhecimento, é alvo de intensas dis-
cussões e debates, com o intuito de ampliar e melhorar as con-
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 39

dições de vivência das práticas corporais no interior das escolas.


Como consequência, propõe-se que as aulas de Educação Física na
escola primem pelo princípio da inclusão e da diversidade; com
isso, vivenciar as atividades desenvolvidas nessas aulas passa a ser
um direito de todos os alunos, sem distinção de credo, cor, etnia,
habilidades, entre outros.
Desse modo, o esporte passa a ser um dos conteúdos da
Educação Física Escolar, e não o único, como até então se observa-
va. Além do esporte, os jogos e as brincadeiras, a dança, as lutas, a
ginástica e as atividades rítmicas e expressivas compõem o rol de
conteúdos dessa disciplina, ou seja, práticas corporais que caracte-
rizam a Cultura Corporal de Movimento; esta se trata, portanto, de
todas as manifestações corporais humanas geradas na dinâmica
cultural (GALVÃO et al. in DARIDO; RANGEL, 2005). Dessa manei-
ra, a intervenção pedagógica na área da Educação Física discorre
sobre o ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas
ao corpo e ao movimento.
Portanto, a função da Educação Física Escolar é:
[...] introduzir e integrar os alunos na cultura corporal de movimen-
to, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, formando os cida-
dãos que irão usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar
as manifestações que caracterizam essa área (GALVÃO et al. in DA-
RIDO; RANGEL, 2005, p. 34).

Segundo Galvão (et al. in DARIDO; RANGEL, 2005), ao ele-


ger a cidadania como eixo norteador da Educação Física Escolar,
pressupõe-se que ela seja responsável pela formação dos alunos,
de modo que sejam capazes de:
• participar de atividades corporais, adotando atitudes de
respeito mútuo, dignidade e solidariedade;
• adotar hábitos saudáveis e reconhecer o valor da ativida-
de física para a manutenção da saúde;
• analisar, criticamente, os padrões divulgados pela mídia,
entre tantas outras capacidades e competências.

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40 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

7. EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: INTEGRAÇÃO À


PROPOSTA PEDAGÓGICA DA UNIDADE ESCOLAR E
OBJETIVOS DE FORMAÇÃO
Para que possamos compreender a Educação Física na es-
cola, bem como seus papéis e objetivos, precisamos inicialmente
entender como ela se inseriu no sistema escolar brasileiro.
Na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), promulgada em dezembro de 1961, a Educação Física já
era obrigatória nos cursos de graus primário e médio, até 18 anos.
Nessa época, tal área de conhecimento tinha como objetivo a pre-
paração física dos jovens para favorecer o ingresso destes no mer-
cado de trabalho de forma produtiva (CASTELLANI FILHO, 1998).
Segundo Castellani Filho (1998), com a reforma educacional
que ocorreu em 1971 – LDBEN nº 5.692 –, tivemos a ampliação da
Educação Física para todos os níveis de ensino, sendo facultada a
participação dos alunos em condições de: incapacidade física, tra-
balho diário com mais de seis horas, estudo no período noturno e
pessoas com mais de 30 anos e que estivessem prestando serviço
militar.
Nessa época, essa disciplina tinha como objetivo maior cons-
tituir-se em um instrumento de preparação do trabalhador e, além
disso, era uma atividade extracurricular; por essa razão, foi vista,
durante muito tempo, sem nenhum comprometimento formativo
educacional.
Apenas a partir da promulgação da LDBEN nº 9.394/96, a
Educação Física tornou-se um componente curricular como qual-
quer outro. Essa legislação aponta, em seu Artigo 26, que a Edu-
cação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é compo-
nente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias
e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos
noturnos (BRASIL, 1996). Como você já sabe, a Educação Básica
compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 41

Médio, e a LDBEN nº 9.394/96 esclarece que o objetivo da primei-


ra é o desenvolvimento do aluno, sua preparação para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho (BRA-
SIL, 1996).
Contudo, essa legislação não garantiu a presença das aulas
de Educação Física em todas as etapas da Educação Básica; por
isso, em 2001, foi aprovada uma alteração em seu Artigo 26, in-
cluindo a palavra “obrigatório” após o termo “componente curri-
cular”, o que também não assegurou grandes mudanças na prática
(SILVA; VENÂNCIO in DARIDO; RANGEL, 2005). Entretanto, a LDBEN
nº. 9.394/96 trouxe grandes mudanças para a área da Educação
Física, uma vez que passou a ser considerada como componente
curricular articulado ao Projeto Político-Pedagógico da escola, in-
tegrando a área de conhecimento ao cotidiano escolar, com seu
próprio objetivo e importância.
O único ponto negativo da atual LDBEN (nº 9.394/96) para a
Educação Física é tê-la colocado como facultativa no período notur-
no, uma vez que as pessoas que menos têm acesso à Cultura Corpo-
ral de Movimento ficam ainda mais privadas desse conhecimento.
Com a intenção de modificar essa situação, a Lei nº 10.793,
de 1º de dezembro de 2003, apontou que as aulas de Educação Fí-
sica não seriam mais facultativas para todos os alunos do período
noturno, mas, sim, apenas para aqueles que, independentemente
do período de estudo, estivessem sob as seguintes condições: mu-
lheres com prole, trabalhadores, militares e pessoas com mais de
30 anos. Isso retomou, de certa forma, o que já havia sido conside-
rado pela LDBEN de 1971, abrindo possibilidades de exclusão das
aulas de Educação Física a um número considerável de pessoas,
que, certamente, se beneficiariam muito com a vivência delas (SIL-
VA; VENÂNCIO in DARIDO; RANGEL, 2005).
A LDBEN nº 9.394/96 trouxe um outro grande avanço para
as escolas, que foi a autonomia na construção do Projeto Político-
-Pedagógico. Vemos, também, a mudança na estrutura didática, a

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42 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

autonomia das escolas aos sistemas de ensino (federal, estadual,


municipal e privado) e a ênfase na formação do cidadão como avan-
ços da LDBEN atual (SILVA; VENÂNCIO in DARIDO; RANGEL, 2005).
Portanto, as escolas podem construir sua proposta pedagó-
gica de acordo com as várias realidades em que se encontrarem
inseridas. Em relação à Educação Física, a escola tem autonomia
para decidir, em seu Projeto Político-Pedagógico, se as aulas des-
se componente curricular serão oferecidas aos sábados, para os
alunos do período noturno, garantindo, assim, a participação de
todos, ou se os alunos do Ensino Fundamental terão essas aulas
em período diverso das aulas das demais disciplinas. De toda for-
ma, essa autonomia na construção do Projeto Político-Pedagógico
permite que as escolas se organizem pedagogicamente, de acordo
com suas necessidades e com a realidade de seu contexto social.
O reconhecimento da Educação Física como componente
curricular obrigatório na Educação Básica (LDBEN nº 9.394/96)
permite que as escolas a reconheçam como um campo próprio
de estudo e conhecimentos, estando articulada à proposta peda-
gógica da unidade escolar. Dessa forma, tanto a Educação Física
quanto os demais componentes curriculares devem ser discutidos
considerando o Projeto Político-Pedagógico da escola, por meio da
reflexão coletiva dos profissionais da educação, garantindo um tra-
balho integrado entre esses componentes.
Assim, para Silva e Venâncio (in DARIDO; RANGEL, 2005, p. 61):
A prática educativa da Educação Física deve ir ao encontro dos
objetivos definidos em cada proposta pedagógica; sem perder a
especificidade da área, os conteúdos e as estratégias de avaliação
que devem levar o aluno a refletir de maneira autônoma diante da
cultura corporal de movimento.

Essa especificidade da área, no caso da Educação Física,


pode ser garantida por meio de seus objetivos. Cabe dizer que es-
tes, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, são entendi-
dos como capacidades desenvolvidas nos alunos, não sendo estas
estritamente cognitivas.
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 43

Os objetivos da Educação Física na escola perpassam um


grande eixo norteador da educação escolar, que é a democratiza-
ção do acesso à Educação Básica, ou seja, a garantia de acesso e
permanência a uma escola com qualidade, e que tenha a cidada-
nia como norte para a formação do sujeito.
Nesse contexto, um dos objetivos da Educação Física na es-
cola é garantir o acesso às aulas para todos, como um direito do
cidadão, promovendo a igualdade de oportunidade de vivência
nessa disciplina . Logo, é responsabilidade do professor garantir
esse acesso aos alunos, independentemente de cor, etnia, religião,
gênero, idioma, idade etc.
O princípio da inclusão (ou não exclusão), segundo o qual
nenhum aluno pode ser excluído de qualquer aula, tem como fun-
damento garantir o acesso às atividades físicas a todos os alunos.
O princípio da diversidade, por sua vez, propõe aulas de Educa-
ção Física diversificadas, não privilegiando, por exemplo, apenas as
modalidades esportivas. No que se refere ao princípio da inclusão,
indicamos alguns filmes, como Meninos não choram (EUA, 1999),
Filhos do Paraíso (Irã, 1998), Nenhum a menos (China, 1998) e
também indicamos o livro Como usar o cinema na sala de aula, do
autor Marcos Napolitano.
De acordo com Rangel (et al. in DARIDO; RANGEL, 2005),
cabe ao professor atentar-se à garantia de práticas educativas que
assegurem a inclusão dos alunos, estendendo-as, também, àque-
les alunos portadores de necessidades educacionais especiais.
As vivências corporais nas aulas de Educação Física devem
considerar as diversidades cultural, étnica, física e de gênero como
elementos enriquecedores das relações escolares e da vida social.
Dessa forma, a Educação Física estará contribuindo para a supera-
ção do discurso e de práticas hegemônicas historicamente construí-
das e ainda presentes no ambiente escolar, que é reservado para
aqueles mais habilidosos e mais aptos (RANGEL et al. in DARIDO;
RANGEL, 2005, p. 39).

Outro objetivo da Educação Física na escola é a busca pela


autonomia, conforme mencionamos. Segundo Rangel (et al. in

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44 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

DARIDO; RANGEL, 2005), espera-se que o aluno seja autônomo


em relação à cultura corporal, pois, após o período das aulas, ele
deve ter condições de manter uma prática de atividade física regu-
lar, saber apreciar um jogo, posicionar-se criticamente em relação
a qualquer tipo de violência e uso de substâncias, sem a necessida-
de da presença de um professor de Educação Física.
Essa autonomia também pode ser encorajada quando o pro-
fessor estimula os alunos a escolherem seus times e grupos, quan-
do podem participar da modificação e construção das regras, da
adequação dos materiais, ou seja, quando é criado um espaço nas
aulas para que eles possam participar delas, tomando decisões
oriundas de discussões e reflexões.
O trabalho com a Educação Física na escola deve primar,
também, pela formação de um aluno crítico, e, de acordo com
Rangel (et al. in DARIDO; RANGEL, 2005), esse é mais um objetivo
da Educação Física na escola. É preciso possibilitar ao aluno, então,
uma postura crítica e reflexiva diante dos conhecimentos próprios
dessa área, mas, para tanto, deve-se considerar alguns elementos
importantes no processo ensino-aprendizagem, tais como:
a) a valorização da história de vida dos alunos e dos pro-
fessores;
b) o aproveitamento do conhecimento prático da história
de vida de cada pessoa;
c) o processo de reflexão que se inicia antes, durante e
após a ação e, também, após a reflexão sobre esta;
d) a consideração sobre a incerteza nas ações pedagógicas
e a flexibilidade nas ações docentes diante de situações
inesperadas;
e) a coerência e a articulação entre os momentos de práti-
ca e de teoria.
É fundamental ressaltarmos que, para desenvolver a refle-
xão dos alunos, os professores também devem ser reflexivos. Des-
se modo, o professor caracteriza-se como um investigador na aula,
utilizando-a para a reflexão de seus atos e para a melhoria de sua
ação pedagógica; além disso, como prático-reflexivo, ele deve va-
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 45

lorizar a própria experiência, presente na prática diária de ensinar,


refletindo sobre seu dia a dia e reconhecendo que ensinar é uma
competência adquirida e aprimorada na prática docente, durante
toda a sua carreira (RANGEL et al. in DARIDO; RANGEL, 2005).
Temos mais outros dois objetivos da Educação Física na es-
cola: a saúde e o lazer, como possibilidades da Educação Física.
Assim, as aulas dessa disciplina devem se constituir em espaços
de discussão sobre a saúde, a partir da Cultura Corporal de Mo-
vimento, e essa discussão deve permitir a articulação entre saú-
de e condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente,
transporte, emprego, lazer, considerando a realidade dos alunos e
as possibilidades de intervenção nesta, e não apenas a saúde rela-
cionada à prática de atividade física.
Quanto ao lazer, é indispensável que este seja reconhecido
nas aulas de Educação Física como um importante componente de
nossas vidas. Portanto, cabe pensar em um espaço para discutir e
vivenciar o tema lazer no interior das aulas de Educação Física, na
perspectiva de se promover o que Rangel (et al. in DARIDO; RAN-
GEL, 2005) chama de “educação para o lazer”. Educar para o lazer
significa fornecer um repertório de atividades que possibilitem ao
aluno usufruir do lazer em seu cotidiano, dentro e fora da escola.
Ao apresentar os objetivos da Educação Física na escola, não
podemos deixar de valorizar aqueles expressos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física (BRASIL, 2000),
pois estes representam uma proposta curricular sem cunho obri-
gatório, uma vez que são parâmetros para o trabalho com esse
componente curricular. Portanto, os PCNs de Educação Física são
mais uma alternativa curricular na construção das propostas peda-
gógicas das escolas estaduais, municipais ou, até mesmo, privadas.
Os PCNs do Ensino Fundamental da disciplina de Educação
Física contribuem para as discussões em torno da democratização
do ensino como forma de garantia de direitos, defendendo o forta-
lecimento de uma Educação Básica que tenha como eixo principal o

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46 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

princípio da inclusão (BRASIL, 2000). Ademais, estabelecem como


objetivos gerais para essa disciplina que os alunos sejam capazes de:
a) Participar das atividades corporais, estabelecendo rela-
ções equilibradas e construtivas com os demais, reconhe-
cendo e respeitando características físicas e de desempe-
nho de si próprio e das pessoas, sem discriminá-las por
suas características físicas, pessoais, sexuais ou sociais.
b) Adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solida-
riedade, por meio de atividades lúdicas e esportivas,
sendo contrário a qualquer espécie de violência.
c) Conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralida-
de de manifestações da cultura corporal brasileira e do
mundo, percebendo-as como recurso importante para a
integração de indivíduos em diferentes grupos sociais.
d) Reconhecer-se como elemento integrante do ambiente,
adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e
atividades corporais, relacionando-os com os efeitos so-
bre a própria saúde e efeitos de recuperação, manuten-
ção e melhoria da saúde coletiva.
e) Solucionar problemas que envolvam a ordem corporal em
diferentes contextos, regulando o esforço de acordo com
as possibilidades, considerando que o aperfeiçoamento e
o desenvolvimento das competências corporais aconte-
cem por meio da perseverança e da regularidade da ati-
vidade, a qual ocorrerá de forma saudável e equilibrada.
f) Reconhecer as condições de trabalho que possam com-
prometer os processos de crescimento e desenvolvi-
mento, reivindicando, assim, condições mais dignas.
g) Conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e
estética corporal presente nos diferentes grupos sociais,
compreendendo sua inserção na cultura e analisando os
padrões construídos e difundidos pela mídia, evitando,
assim, o consumismo e o preconceito.
h) Conhecer, organizar e interferir no espaço de forma au-
tônoma, bem como reivindicar locais adequados para
promover atividades corporais de lazer, reconhecendo
este como necessidade básica do ser humano e como
direito do cidadão.
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 47

Esse mesmo documento do Governo Federal (PCN) divide


esses objetivos da Educação Física para os dois primeiros ciclos do
Ensino Fundamental (BRASIL, 2000). Dessa forma, espera-se que
ao final do primeiro ciclo os alunos:
a) participem de diferentes atividades corporais, adotan-
do uma atitude cooperativa e solidária, sem discrimi-
nações;
b) conheçam algumas de suas limitações e possibilidades
corporais, de forma a estabelecer metas pessoais;
c) conheçam, valorizem e apreciem algumas manifesta-
ções de cultura corporal presentes no cotidiano;
d) organizem, de forma autônoma, alguns jogos, brincadei-
ras e outras atividades corporais simples.
Já ao final do segundo ciclo, espera-se que os alunos consigam:
a) participar de atividades corporais, reconhecendo e res-
peitando algumas de suas características físicas e de de-
sempenho motor, bem como de seus colegas, sem dis-
criminação de qualquer tipo;
b) adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solida-
riedade em situações lúdicas e esportivas, solucionando
os conflitos de maneira não violenta;
c) conhecer os limites e possibilidades do próprio corpo
para controlar as atividades corporais com autonomia,
valorizando-as como recurso para manutenção da pró-
pria saúde;
d) conhecer, valorizar e apreciar as manifestações da cul-
tura corporal, adotando postura não preconceituosa ou
discriminatória;
e) saber organizar jogos, brincadeiras e outras atividades
corporais, valorizando-as;
f) analisar padrões de estética, beleza e saúde presentes
no cotidiano, compreendendo o contexto em que sur-
gem e criticando os padrões que incentivam o consu-
mismo.

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48 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nes-
ta unidade, ou seja, do papel e dos objetivos da Educação Física
como integrante do currículo do Ensino Básico.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Vimos, nesta unidade, que o conceito de educação possui várias aborda-
gens possíveis. Destas, poderíamos dizer que o conceito de educação mais
adequado é aquele que a considera como adaptação, algo que se repete e
reproduz, sendo sempre idêntico e estático? Justifique sua resposta e depois
compare suas ideias com o conteúdo do Tópico 5.

2) Vimos que existem várias concepções sobre o que é educação (culturalistas,


pragmáticas etc.). Selecione uma das concepções estudadas e defina quais
são suas características. Feitas as suas observações, verifique se elas estão
adequadas com o que foi afirmado durante a unidade.

3) A Educação Física Escolar tem tido uma história, papel social e função na
escola ao longo do tempo. Redija um breve texto, apresentando esses ele-
mentos, que foram estudados por você nesta unidade, e analise se seu texto
contempla todos eles.

4) Dentre os vários objetivos da Educação Física Escolar, consideramos impor-


tante ressaltar a formação do aluno crítico, a autonomia, o princípio da in-
clusão ou, ainda, a saúde e o lazer. A partir desses objetivos, você considera
que poderia redigir um breve texto apresentando e justificando a importân-
cia de um desses elementos? A prática da escrita reflexiva é importante para
© U1 - A Educação Física no Cenário Escolar Brasileiro 49

o seu amadurecimento profissional. Não deixe, pois, de fazer os exercícios


aqui propostos!

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos a Educação Física no cenário es-
colar brasileiro. Ressaltamos sua inserção na escola e seus atuais
objetivos de formação no Ensino Fundamental.
Dessa forma, pudemos compreender que atualmente a Edu-
cação Física como componente curricular obrigatório na escola
não está descolada das demais disciplinas e da própria proposta
pedagógica da unidade escolar (expressa no Projeto Político-Pe-
dagógico).
A proposta de trabalho dessa disciplina deve permitir às
crianças a vivência das práticas corporais, garantindo a inclusão,
a expressão da criatividade e criando condições para que o aluno
construa e compreenda o conhecimento.
É fundamental, também, que, nas aulas de Educação Física,
os alunos exerçam a autonomia num contexto de respeito e va-
lorização da diversidade, tanto cultural quanto étnica, física e de
gênero, entendendo-a como elemento enriquecedor das relações
escolares e da vida social da criança. Assim, as aulas de Educação
Física devem primar pela diversificação das atividades corporais,
promovendo a formação do cidadão.

10. EͳREFERÊNCIA
MATTOS, S. R.; MACEDO, J. M. O Brasil em lições: a história como disciplina escolar.
Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0007.html>.
Acesso em: 21 ago. 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em:
17 fev. 2011.

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50 © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC/SEED, 1996.
______. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino
fundamental – educação física. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
CASTELLANI FILHO, L. Política educacional e educação física: polêmicas de nosso tempo.
Campinas: Autores Associados, 1998.
DARIDO, S. C. Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara
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GALVÃO, Z. et al. Cultura corporal de movimento. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A.
Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2005.
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
RANGEL, I. C. A. et al. Os objetivos da educação física na escola. In: DARIDO, S. C.;
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SOARES, C. M. et al. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

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