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Professor: Júlio Alves Caixêta Júnior


Curso: Disciplina:
DIREITO DIREITO CIVIL - DIREITO SUCESSÓRIO

ROTEIRO 01
Segundo Rafael de Menezes:

“Vocês conhecem o princípio jurídico “mors omnia solvit” (a morte acaba


com tudo)? Pois bem, esse princípio se aplica ao Direito Eleitoral, Penal e
de Família, de modo que os direitos políticos, a punibilidade, o casamento e
o poder familiar se extinguem com a morte. Já no Direito das Sucessões é
com a morte que tudo começa, pois a vida terminou, mas o patrimônio do
extinto subsiste e será transferido a seus herdeiros.”

CONCEITOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

I - REVOLUÇÃO FRANCESA E INDUSTRIAL

◈ O século XVIII foi intenso e marcou-se pelas transformações nos fenômenos


sociais havidos no Ocidente pela as Revoluções Francesa e Industrial.

Na França a revolução toma rumos mais violentos e culmina com a queda


da monarquia e da aristocracia estabelecidas e o início do império
napoleônico, além da forte participação da burguesia. Foi adotado, por
ela, o lema iluminista da liberdade, igualdade e fraternidade passou a
configurar um marco na formação do novo regime político que acabara de
nascer ao lado da Revolução.

No que tange especificamente ao direito das sucessões, essas novas


concepções sociais, políticas e econômicas em muito influenciaram, na
medida em que a sociedade buscou afastar as ingerências religiosas na
vida humana, além de começar a procurar a evitar diferenciações que
pudessem pôr a pique o postulado da igualdade. Tudo isso culmina com a
diminuição considerável dos privilégios advindos da primogenitura, além
da diferenciação entre filhos homens e filhas mulheres.
João Biazzo Filho - Histórico do Direito das Sucessões. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/24714/historico-do-direito-das-sucessoes

◈ Abolição dos direitos do primogênito.

II - CONCEITO DE DIREITO DAS SUCESSÕES


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◈ “o direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a


transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em
virtude de lei ou testamento” (Diniz).

◈ A sucessão implica a continuação de uma pessoa em relação jurídica que


cessou para o anterior sujeito e prossegue com outro.

◈ A herança é um somatório de bens e dividas, créditos e débitos, direitos e


obrigações, pretensões e ações de que era titular o falecido, e as contra ele
foram propostas, desde que transmissíveis. Enfim, compreende o passivo e o
ativo do de cujus.

 Espólio: trata-se do conjunto de direitos e deveres do falecido; o espólio


é uma massa patrimonial administrada pelo inventariante sob condomínio
dos herdeiros.

III - TIPOS DE SUCESSÃO

◈ LEGÍTIMA: prevalece a disposição da lei se alguém morre sem testamento, ou


se o testamento for invalidado (1.829). O legislador presume que o falecido
gostaria de proteger seu cônjuge e filhos, por isso eles são os primeiros da
lista. Na nossa sociedade a sucessão legítima prevalece sobre a testamentária
por três motivos: 1 ) a gente nunca acha que vai morrer; 2) fazer um
testamento pode ser caro, complicado e inconveniente, veremos isso em breve;
3) se a gente morre sem testamento, a lei já beneficia nossos filhos, que são
nossos entes mais queridos, então não há com o que se preocupar! A
sucessão pode ser das duas espécies se o testamento não abranger todos os
bens do hereditando (1.788). A sucessão legítima sempre é a título universal,
não havendo legado se não há testamento. Já a sucessão testamentária pode
ser a título universal ou a singular.

 Observação: como dito acima, nossa sociedade não tem o hábito de


testar, mas pelo novo CC de 2002 o cônjuge e os filhos estão em
igualdade (1.829 e 1.845), e isso pode aumentar o número de
testamentos. Uma coisa é você deixar seus bens para os seus filhos,
como na lei velha. Outra coisa é deixar para seu cônjuge em condições
de igualdade com os filhos, especialmente nos casamentos desgastados
pelos anos. Só o tempo irá dizer se agora as pessoas mal casadas vão
ter a preocupação de testar, não para excluir, mas para pelo menos
diminuir o quinhão do cônjuge em benefício dos filhos.

 Também chamada de testamento tácito ou presumido.


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 É possível a existência da sucessão legitima e da testamentária ao


mesmo tempo.

Art. 1.789 – CC - Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá


dispor da metade da herança.

 Proibição do pacta corvina: negócio jurídico sobre herança de pessoa


viva.

Art. 426 – CC - Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

◈ TESTAMENTÁRIA: Escrito particular/pessoal, declarações de última vontade


do vivo. Obs.: declaração de ultima vontade do morto é uma expressão muito
usada, no entanto morto não tem vontade.

Art. 1.786 – CC - A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última


vontade.

 Liberdade de testar condicionada: não é assim absoluta, pois metade é


dos descendentes, ascendentes e cônjuge, só a outra metade é que pode
ser deixada para quem o testador desejar. Quem não possui herdeiros
necessários pode testar em favor de qualquer pessoa.

 Não importam quantos sejam os herdeiros necessários, um ou dez, a eles


cabe metade da herança. Lembro que se o testador for casado pelo
regime da comunhão universal de bens, metade de seus bens pertence
ao cônjuge, mas não por herança e sim por direito próprio de meação,
face ao condomínio entre marido e mulher. Ou seja, a metade dos bens
de alguém casado pelo regime da comunhão na verdade corresponde a
25% de seu patrimônio.

 Importante ainda atentarmos que, subsiste a sucessão legítima se o


testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.788 – CC - Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança


aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789 – CC - Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá


dispor da metade da herança.

Art. 1.845 – CC - São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.857 – CC - Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da


totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
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§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no


testamento.

 A sucessão testamentária pode ainda ser a título universal ou a título


singular; nesta teremos a figura do legatário que recebe legado e não
herança.

A herança é o total ou uma fração indeterminada do patrimônio do


falecido (ex.: 1/3, 20% da herança, etc.). Já o legado é de coisa certa (ex.:
a casa da praia, o anel de brilhantes, etc.).

Quem sucede a titulo universal é herdeiro e responde também por


eventuais dívidas do morto, dentro dos limites da herança. Quem sucede
a titulo singular é legatário e não responde por eventuais dívidas, porém
só recebe seu legado após verificada a solvência da herança.

Art. 1.897 – CC - A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura


e simplesmente, sob condição, para certo fim ou modo, ou por certo motivo.

IV - SUCESSÃO A TÍTULO SINGULAR

◈ Legatário: aquele que sucede determinada pessoa em coisa certa, existente


no acervo sucessório.

Art. 1.923 – CC - Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a


coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição
suspensiva.

§ 1o Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário


entrar por autoridade própria.

§ 2o O legado de coisa certa existente na herança transfere também ao


legatário os frutos que produzir, desde a morte do testador, exceto se
dependente de condição suspensiva, ou de termo inicial.

◈ Posse: situação de fato legalmente protegida pelo Ordenamento Jurídico


Brasileiro, estado de aparência juridicamente relevante, pelo exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
 Título Singular – pode unir ou não a posse anterior.
 É possível a propositura de ação possessória do espolio contra um dos
herdeiros, ou mesmo de um herdeiro contra o outro.

Art. 1.203 – CC - Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o


mesmo caráter com que foi adquirida.
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Art. 1.206 – CC - A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

Art. 1.207 – CC - O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais.

V - SUCESSÃO A TÍTULO UNIVERSAL

◈ Herdeiro: aquele que sucede na totalidade ou em parte da herança, seja por


força de lei, seja por disposição de testamento.

◈ Posse: situação de fato legalmente protegida pelo Ordenamento Jurídico


Brasileiro, estado de aparência juridicamente relevante, pelo exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
 Titulo Universal – mesma posse e mesmo caráter.
 É possível a propositura de ação possessória do espolio contra um dos
herdeiros, ou mesmo de um herdeiro contra o outro.

Art. 1.203 – CC - Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o


mesmo caráter com que foi adquirida.

Art. 1.206 – CC - A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

Art. 1.207 – CC - O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais.

VI - ABERTURA DA SUCESSÃO

◈ MORTE DO AUTOR DA HERANÇA: Abre-se a sucessão somente com o


óbito, real ou presumido. Com a morte, pois, transmite-se a herança aos
herdeiros, de acordo com a vocação hereditária estabelecida.

 A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança aos


herdeiros ocorrem num só momento. Os herdeiros, por essa previsão
legal, tornam-se donos da herança ainda que não saibam que o autor da
herança morreu, ou que a herança lhes foi transmitida. Mas precisam
aceitar a herança, bem como podem repudiá-la, ate porque ninguém é
herdeiro contra a sua vontade. Mas a aceitação tem o efeito de tornar
definitiva a transmissão que já havia ocorrido.

 MORTE REAL: quando se tem uma prova fiel de que a pessoa


morreu, se tem o corpo ou pedaço deste por exemplo.
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 MORTE PRESUMIDA: o instituto da morte presumida pode ser


analisado como sendo quando não se tem uma prova fiel de que a
pessoa morreu, não se tem o corpo ou pedaço deste por exemplo,
porém por presunção legal se declara a pessoa como morta.

Art. 6 – CC - A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-


se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.

Art. 7 – CC - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for


encontrado até dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos,


somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

 ≠ Abertura do inventario: Petição Inicial ou Lavratura da Escritura Pública

◈ A lei vigente ao tempo da abertura da sucessão regula a legitimidade para


suceder.

Art. 1.787 – CC - Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei


vigente ao tempo da abertura daquela.

◈ Abertura do inventário: Apresenta-se divergente a lei processual civil e a lei


civil quanto ao prazo de abertura do inventário:

Art. 1.796 – CC - No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão,


instaurar-se-á inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo
competente no lugar da sucessão, para fins de liquidação e, quando for o
caso, de partilha da herança.

Art. 611 – CPC/15 - O processo de inventário e de partilha deve ser


instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão,
ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar
esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte.

 Devemos aplicar aqui, para distinção entre os prazos regras de


hermenêutica, aplicando a interpretação sistêmica. Assim, o prazo para a
abertura do inventário, por se tratar de procedimento pertencente ao
campo processual é de 02 (dois) meses, contados a partir da abertura da
sucessão (morte), e não de 30 dias, como estabelece o Código Civil.
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 Descumprimento do prazo: o descumprimento do prazo não acarreta


sanções no campo jurídico, por se tratar de um prazo impróprio, tão
somente promovendo uma punição administrativa.

SÚMULA 542 – STF - Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-


membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do
inventário.

Decreto nº 43.981/2005 - Art. 23. Na transmissão causa mortis, observado


o disposto no § 1º deste artigo, para pagamento do imposto devido será
concedido desconto de 15% (quinze por cento), se recolhido no prazo de 90
(noventa) dias, contado da abertura da sucessão.

§ 1º A eficácia do desconto previsto neste artigo está condicionada à


entrega da Declaração de Bens e Direitos, a que se refere o art. 31, no
prazo de 90 (noventa) dias, contado da abertura da sucessão.

Decreto nº 43.981/2005 - Art. 26. O ITCD será pago:


I - na transmissão causa mortis, no prazo de 180 (cento e oitenta dias)
contados da data da abertura da sucessão;

Decreto nº 43.981/2005 - Art. 36. A falta de pagamento do ITCD ou seu


pagamento a menor ou intempestivo acarretará a aplicação de multa,
calculada sobre o valor do imposto devido, nos seguintes termos:

I - havendo espontaneidade no pagamento do principal e acessórios,


observado o disposto no § 1° deste artigo, será cobrada multa de mora no
valor de:

a) 0,15% (quinze centésimos por cento) do valor do imposto, por dia de


atraso, até o 30º (trigésimo) dia;

b) 9% (nove por cento) do valor do imposto, do 31º (trigésimo primeiro) ao


60º (sexagésimo) dia de atraso;

c) 12% (doze por cento) do valor do imposto, após o 60º (sexagésimo) dia
de atraso;

II - havendo ação fiscal, será cobrada multa de revalidação de 50%


(cinqüenta por cento) do valor do imposto, observadas as seguintes
reduções:

a) a 40% (quarenta por cento) do valor da multa, quando o pagamento


ocorrer no prazo de 10 (dez) dias contados do recebimento do auto de
infração;

b) a 50% (cinqüenta por cento) do valor da multa, quando o pagamento


ocorrer após o prazo previsto na alínea “a” deste inciso e até 30 (trinta) dias
contados do recebimento do auto de infração;
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c) 60% (sessenta por cento) do valor da multa, quando o pagamento ocorrer


após o prazo previsto na alínea “b” deste inciso e antes de sua inscrição em
dívida ativa.

§ 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, ocorrendo o


pagamento espontâneo somente do imposto, a multa será exigida em dobro
quando houver ação fiscal.

§ 2º Na hipótese de pagamento parcelado, a multa será:

I - de 18% (dezoito por cento) do valor do imposto, no caso de pagamento


espontâneo;

II - de 50% (cinqüenta por cento) do valor do imposto, no caso de ação


fiscal, reduzida aos percentuais previstos nas alíneas do inciso II do caput
deste artigo, de acordo com a data de pagamento da entrada prévia.

§ 3º Ocorrendo a perda do parcelamento, as multas terão os valores


restabelecidos aos seus percentuais máximos.

VII - HERDEIRO

◈ No Direito sucessório brasileiro são utilizadas diversas nomenclaturas para


aqueles que recebem a herança, sendo as principais: Herdeiros Legítimos,
Herdeiros Necessários, Herdeiros Testamentários e Legatários.

 HERDEIROS LEGÍTIMOS são aqueles definidos em lei, quando for


processada a Sucessão Legítima. Possuem uma ordem estabelecida no
art. 1.829 do Código Civil e obedecem determinadas regras. São assim
chamados por ter o deferimento do seu quinhão estabelecido em lei. O
tema da Sucessão Legítima será abordado com maior profundidade no
ponto 5 deste estudo.

Art. 1.829 – CC - A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo


se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.
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 HERDEIROS NECESSÁRIOS é todo parente em linha reta, ou cônjuge


sucessível. A lei confere a estes a legítima, que não pode ser subtraída
por vontade do de cujus.

Art. 1.845 – CC - São herdeiros necessários os descendentes, os


ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.789 – CC - Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá


dispor da metade da herança.

 HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS são aqueles que têm seu quinhão


definido e deferido através de testamento feito pelo testador.

 LEGATÁRIOS são aqueles que recebem um Legado, que consiste em


uma coisa certa, um corpus certo e determinado, deixado a alguém, ou
seja, uma transmissão Mortis Causa a título singular.

◈ Obs.: Uma mesma pessoa pode ser beneficiada das duas modalidades de
herança ao mesmo tempo, podendo ser, ao mesmo tempo, herdeiro necessário
e receber um legado do autor da herança.

VIII - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

◈ Legitimação para suceder é a do tempo da abertura da sucessão.


 Código de 1916 (colaterais de 6º grau) X Código de 2002 (colaterais de 4º
grau).

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