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O artigo em estudo trata da teoria de Piaget, relacionada com o desenvolvimento da

criança nos seus primeiros anos de vida. Ao decorrer do texto é possível


compreender os estágios de desenvolvimento intelectual e a construção do
conhecimento considerando categorias como Objeto, Espaço, Causalidade e Tempo. Em
termos gerais, para introduzir o entendimento da resenha, para Piaget, o
conhecimento se produz a partir da ação do sujeito sobre o meio no qual ele vive,
ou seja, o conhecimento é fruto das trocas entre o organismo e o meio. Além disso,
esse processo está relacionado com a significação e a assimilação.
A pergunta fundamental que permeia o pensamento da teoria de Piaget é: “Como
o ser vivo consegue adaptar-se ao meio ambiente?”. A partir dela, partem duas
ideias centrais. A primeira é que a adaptação biológica se faz através da
assimilação de um dado exterior, no sentido de transformação. O conhecimento é uma
integração em uma estrutura mental pré-existente que vai ser modificado por essa
integração, ou seja, ele não é uma cópia. A segunda é que os fatores normativos do
pensamento correspondem às relações e às necessidades de equilíbrio que se observam
no plano biológico.
Para Piaget, essas trocas entre organismo-meio produzem estruturas mentais
que aparecem como resultado das solicitações do meio ao organismo. A alteração
organismo-meio ocorre através do processo de adaptação, com seus dois aspectos
complementares: a assimilação e a acomodação. A adaptação adquire um sentido de
processo dialético(contraposição e contradição de ideias) através do qual o
indivíduo desenvolve suas funções mentais, chamado “abstração reflexiva”. Isso se
realiza através da ação, indicando o centro do processo que transforma a relação
com o objeto em conhecimento. A assimilação e a acomodação estão em equilibrio no
sistema cognitivo e se relacionam, respectivamente, com a incorporação de um
elemento exterior e a necessidade em que a assimilação se encontra em considerar as
particularidades próprias dos elementos. Entretando, a perturbação desse equilíbrio
entre ambas gera um conflito diante do objeto ou evento, que dispara mecanismos de
equilibração.
Após isso, entrando no campo dos estágios (descritos como estádios), entende-
se que, para Piaget, a capacidade de organizar e estruturar a experiência vivida
vem da própria atividade das estruturas mentais que funcionam seriando, ordenando,
classificando e estabelecendo relações e os estádios expressam as etapas pelas
quais se dá a construção do mundo pela criança. Além disso, as aquisições devem ter
uma ordem constante e sucessiva, que depende da experiência do sujeito e não apenas
de sua maturação ou meio social.
Piaget ainda propõe algumas exigências básicas para caracterizar esses
estádios no desenvolvimento cognitivo. São quatro exigências: De que todo estádio
tem de ser integrador, ou seja, as estruturas de cada etapa devem tornar-se parte
integrante das estruturas das próximas etapas. Ainda assim, um estádio corresponde
a uma estrutura que se caracteriza por suas leis de totalidade e corresponde, ao
mesmo tempo, um nível de preparação e um nível de acabamento e , por fim, que é
preciso distinguir, em uma sequência de estádios, o processo de formação e as
formas de equilíbrio final.
Com relação aos estádios em si, Piaget descreve 4 e cada um deles resulta
necessariamente do anterior e prapara a integração para o seguinte. Além disso,
eles indicam as possibilidades do ser humano, não dizendo respeito aos indivíduos
em si mesmos e a concretização dessas possibilidades dependerá do meio no qual a
criança se desenvolve e que, além das trocas organismo-meio, depende também da
organização afetiva, visto que afetividade e adaptação estão sempre presentes na
adaptação humana.
O primeiro estádio é o da inteligência sensório motora, que vai de 0 a 2 anos
e é fundamental para o desenvolvimento cognitivo pois suas realizações formam a
base de todos os processos cognitivos do indivíduo. Dentro desse estádio, Piaget
descreve que a evolução cognitiva da criança pode ser descrita em 6 subestádios. O
subestádio I (até 1 mês) está relacionado com o exercício dos reflexos, pois as
primeiras ações espontâneas surgem na presença de certos estímulos, levando ao
reflexo. O subestádio II (1 mês a 4 meses e meio) diz respeito às primeiras
adaptações adquiridas e também sobre a reação circular primária. Nesse estágio, os
esquemas reflexos vão mostrar desajustes e transformações são exigidas. Esses
reajustes possibilitam consistem na obtenção momentânea de um novo equilíbrio e a
construção de novos esquemas adaptados a novas classes de situações e objetos. A
reação circular primária refere-se a procedimentos aplicados ao próprio corpo da
criança e nessa fase os espaços criados pela ação(oral, visual, tátil, postural,
auditivo etc.) ainda não são coordenados entre si. Ainda assim, nesse subestádio,
ocorre a preparação da inteligência, através da transição entre o orgânico e o
intelectual.
Ainda dentro do primeiro estádio, temos o subestádio III (4 meses e meio a 8-
9 meses). Esse subestádio diz respeito às adaptações sensório motoras intencionais
e às reações circulares secundárias. É aqui que ocorre as primeiras previsões de
acontecimentos. A reação circular só começa quando um efeito casual, provocado pela
ação da criança, é percebido como resultado dessa ação. Por isso, tudo que era
visto, escutado e tateado agora é sacudido, balançado e esfregado. É também nesse
subestádio que a visão e a preensão já estão ordenadas e a criança começa a formar
a noção de sucessão (consciência de “antes” e “depois”). Já o subestádio IV (8-9
meses a 11-12 meses) está relacionado com a coordenação dos esquemas secundários e
sua aplicação às situações novas. Há uma dissociação entre os meios e os fins e uma
coordenação intencional dos esquemas e também já é possível a imitação de respostas
que a criança não vê em si mesma. Essse é um subestádio de transição, no qual a
eficiência da ação da criança ainda está marcada pelas características da ação
própria.
O subestádio V (11-12 meses a 18 meses) diz respeito à reação circular
terciária e à descoberta dos meios novos por experimentação ativa. É o subestádio
da elaboração do objeto e secaracteriza pela experimentação e pela busca da
novidade. Ao descobrir novos meios por experimentação ativa, a criança “demonstra”
condutas que indicam as formas mais elevadas de atividade intelectual, antes do
aparecimento da inteligência sistemática. A criança passa a estar interessada não
só na ação mas também no objeto. Por isso, o tempo, para a criança, engloba sujeito
e objeto e a causalidade é objetiva sobre os objetos e as pessoas e situada no
quadro espaço-temporal. Por fim, o subestádio VI (1 ano e meio a 2 anos) relaciona-
se com a invenção dos meios novos por combinação mental e a representação. É no
subestádio VI que ocorre a transição entre a inteligência sensório motora e a
inteligência representativa, com o aparecimento da função simbólica. Além disso, as
invenções passam ao nível mental e deixam de se efetuar somente em modo prático (a
criança consegue “fazer de conta”).
Após compreender como Piaget estrutura o primeiro estádio, é possível
entender que a criança, até os 2 anos, já construiu um universo estável onde os
movimentos do próprio corpo e dos objetos exteriores estão organizados em um todo e
que esquemas de ação são possibilitados pelo aparecimento da função simbólica e
transformam-se em esquemas de ação interiorizados (dão significação à realidade).
O segundo estádio, pré operatório ou simbólico, acontece dos 2 anos até 6-7
anos. Nessa fase ocorre a transição entre a inteligência sensório-motora e a
inteligência representativa, que se realiza pela imitação. O mundo, para a criança,
distribui-se em elementos particulares, individuais, em relação com sua experiência
pessoal. Aqui se fala em egocentrismo intelectual. O raciocínio da criança procede
por analogias pois lhe falta a generalidade de um verdadeiro raciocínio lógico.
Além disso, como a criança passa a “imitar”, ela, dessa forma, passa a ter acesso à
linguagem e ao pensamento. Ela pode elaborar imagens que lhe permitem transportar o
mundo para a sua cabeça. Entre 5 e 7 anos, período chamado de intuitivo, ocorre uma
evolução que leva a criança à maior generalidade, onde seu pensamento repousa sobre
uma representação de conjunto mais ampla.
O estádio operatório concreto, de 7 a 11-12 anos, marca a aquisição da
reversibilidade lógica (capacidade de se representar uma ação e a ação inversa ou
recíproca que a anula) e isso ajuda na construção de novos invariantes cognitivos,
de natureza representativa (conservação de quantidades físicas como peso, volume
etc., por exemplo). Assim, o equilíbrio das trocas cognitivas entra a criança e a
realidade é muito mais rico e variado.
No último estádio, das operações formais, que abrange dos 11 a 15-16 anos, a
criança poderá chegar a conclusões a partir de hipóteses, sem ter necessidade de
observação e manipulação reais, baseando-se em sua experiência lógico-matemática.
Piaget ainda descreve fatores do desenvolvimento e o processo de
equilibração, onde o primeiro fator considera a maturação nervosa, que é necessária
para o desenvolvimento de certas condutas, mas não é condição suficiente. Já o
segundo fator, é o do exercício e da experiência adquirida na ação sobre os objetos
e acontecimentos. O terceiro fator é o das interações e das transformações sociais,
onde são compreendidos os campos da linguagem, socialização e educação. A partir
disso, para Piaget, se a inteligência é pensada em termos de equilíbrio entre
assimilação e acomodação, o resultado disso é o conhecimento. Ainda assim, para
Piaget, a interação seria o principal elemento estimulador do desenvolvimento
intelectual além de possibilitar o desenvolvimento afetivo e social.
Por fim, fica clara a importância da teoria de Piaget, principalmente no
campo pedagógico, relacionada à evolução do conhecimento do indivíduo. Conhecer de
uma forma clara sua teoria ajuda em uma boa prática de ensino visando a
desenvolvimento intelectual da criança.

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