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Teoria do Conhecimento

A Teoria do Conhecimento é uma área que investiga os problemas decorrentes da


relação entre sujeito e objeto do conhecimento, bem como as condições primordiais do
saber verdadeiro. Estas questões, inicialmente tratadas junto aos textos de metafísica,
tornam-se independentes apenas na Idade Moderna, maior ênfase de nosso estudo,
moldada de forma sistemática a partir de Descartes, Locke, Hume e, chegando a seu
apogeu com a teoria crítica de Kant. Foram diversas as correntes filosóficas
questionando a validade do conhecimento - limitamo-nos aqui a citar aspectos gerais
das mais difundidas.

Os principais problemas enumerados pela Teoria do Conhecimento se referem à sua


veracidade, formas de apreensão do objeto, totalidade do conhecimento e fontes. A
verdade depende apenas do sujeito, no juízo, como aparece para este.

Principais Correntes
Antigüidade: Dentre as diversas corrente de pensamento do período, destaque a:

Pré-socráticos: desligamento da filosofia e mitologia. Os sofistas foram os primeiros a


tentar aperfeiçoar a razão, o raciocínio e argumentação - o que irá, mais tarde,
influenciar na lógica de Aristóteles.

Pirronismo: Gorgias , em uma espécie de Ceticismo - doutrina que reconhece na


dúvida a condição do sábio e proclama a renúncia a qualquer certeza como condição
de faculdade - radical, nega o conhecimento e estabelece uma indiferença absoluta em
relação à tudo. Isso não deixa de ser uma certeza, e tem valor de verdade.

Pós-socráticos: Estoicismo - rigidez formal e elogio às virtudes.

Idade Média:

Patrística: Séc. II - Filosofia dos padres durante a decadência do Império Romano,


unindo a fé e a razão, o que vai se estender por toda Idade Média. Santo Agostinho -
"Deus ilumina a razão".

Escolástica: Séc. XIII - Retomada de Aristóteles por São Tomás de Aquino, dizendo

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que as idéias só existem formalmente no espírito, porém tem fundamento nas coisas
reais. Estabelece o fim da concepção mística do mundo medieval.

Ceticismo: Contrapõe -se às certezas da escolástica decadente e à intolerância de um


período cheio de guerras religiosas. Montaigne analisa em seus Ensaios a influência de
fatores pessoais, sociais e culturais na formação de opiniões. Os cépticos moderados -
relativismo - reconhece limites para a apreensão da verdade. Mesmo que seja
impossível a certeza, deve-se continuar a busca.

Idade Moderna e Contemporânea: Na Idade Moderna, a atenção se volta ao sujeito do


conhecimento, delineando-se com clareza o problema da Teoria do Conhecimento e a
questão do Método.

Racionalismo: Séc. XVII - Descartes - Busca da razão para a recuperação da certeza


científica, a exemplo da matemática. Caracterizada pela necessidade de construir uma
cadeira de razões que conduza ao desconhecido, em que apenas o evidente seja
verdadeiro - com uso de preceitos metodológicos para a determinação deste.

Empirismo: Séc. XVI-XVII - Francis Bacon - Ao contrário do Racionalismo, enfatiza


o papel da experiência para o desenvolvimento do conhecimento - o saber serve como
instrumento de dominação da natureza. Destaque à sua concepção de "ídolos", noções
falsas da realidade.

Reforça a idéia de Descartes sobre a importância da metodologia para o


desenvolvimento do conhecimento.

Criticismo Kantiano: Séc. XVIII - XIX - Mostra o conhecimento como síntese da


união entre racionalismo e empirismo, ou seja, de juízos universais e experiência
sensível. Matéria, objetos, e forma, sujeito do conhecimento. São as formas que o
sujeito possue de assimilar a realidade que vão organizar a experiência. " O
conhecimento não é reflexo do objeto exterior: é o próprio espírito que constrói o
objeto de seu saber" . Não é possível conhecer o real em verdade, apenas sua
aparência, os ditos "fenômenos" - algo que aparece para a consciência.

Positivismo: Comte - Em sua exaltação do saber científico torna este fonte única de
conhecimento válido obtido por métodos das ciências da natureza.

Idealismo Hegeliano: Já para Hegel, o conhecimento só se torna concreto ao analisar o


modo como a realidade foi produzida, sendo criada e recriada pelo processo dialético.
Caracteriza-se pelo idealismo: o mundo é derivado do pensamento humano, ou seja, o
espírito é responsável pelas mudanças do real. O conhecimento não atinge a matéria
"per si".

Materialismo Marxista: A teoria marxista é caracterizada pelo materialismo, ou seja, é


o espírito que deriva do mundo material. A consciência é reflexo da matéria, em
constante movimento e processo de criação. O mundo é cognoscível. A teoria
materialista se divide em mecanicista - determinismo, reduzindo o homem à animal - e
dialético - a consciência determina e é determinada pelo real; a ação do homem sobre

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o mundo o liberta.

No século XX, a razão entra em crise com obras como as de Nietzsche e Kierkegaard,
além do advento da psicanálise freudiana.

Escola de Frankfurt: 1923 - Uso da razão instrumental - para dominar a natureza -


repetindo Descartes e Marx, desta vez criticando a sociedade. Os frankfurtianos sabem
que a ciência e a técnica eliminam a autonomia do sujeito, ao sufocar suas emoções
pela dominação e imposição do coletivo.

Comentários críticos
A Teoria do Conhecimento separa as teorizações sobre a assimilação da ciência em
correntes que privilegiam as condições transcendentais ou condições positivas, objeto
ou sujeito, aparenta desprezar uma observação.Por mais que a mensagem, ou a
ciência, seja "objetiva", não devemos esquecer que, no momento exato em que a
pessoa - o sujeito - toma consciência de sua existência, esta torna-se "subjetiva". Cada
ser possue sua própria visão de realidade, seu modo de guardar informações, baseado
em sua experiência de vida. Ou seja, todos os esforços buscando a objetividade e
caráter universal do conhecimento tornam-se nulos no momento que atinge seu
objetivo, a divulgação; milhares de pessoas com milhares de experiências de vida
diferentes irão criar interpretações pessoais das mais variadas categorias. Exemplo:
Imaginemos a seguinte situação:

Sujeito A - pensa na palavra CÉU e deseja transmitir ao Sujeito B


Sujeito A - fala a palavra AZUL, sua interpretação para CÉU
Sujeito B - escuta a palavra AZUL e logo pensa em MAR.
CÉU ------------------------------ AZUL -----------------------------MAR

Problemas como estes são abordados não somente nos ramos do conhecimento e sua
transmissão, mas também em Programação neurolingüística, por exemplo. Buscando
aprimorar a parte mais desprezada e, ao mesmo tempo, de tão grande força que é o uso
das palavras e sua assimilação, a interdisciplinariedade se faz presente até mesmo ao
contestar a própria validade da ciência. Um dos acessórios para tornar o conhecimento
em si em uma forma de manipulação, segundo Catherine Cucidio, é o jogo de palavras
feito pelo emissor para provocar reações desejadas, de acordo com as características
do ouvinte - meio social, idade, função social, etc. Retomando o conceito de tipo ideal,
de Max Weber, a realidade é assimilada apenas em parte, somente em suas
características principais, como em uma caricatura. A idéia de subjetividade fica
reforçada - depende do sujeito quais características tem mais destaque.

Exemplo disto, é quando um mesmo texto é dado para um estudante de Direito e um


de História; o que um pode dar destaque, devido à suas preferências pessoais ou
condicionamento, pode ser totalmente desprezado por outro. Até mesmo a tendência
de Descartes por desprezar todo e qualquer conhecimento que não atenda a seus
padrões de pressupostos foi seu meio de aceitar a realidade parcialmente. A verdade

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então é apenas o que cada um acredita? Basicamente sim, porém com um ressalte
interessante - a verdade é tudo o que acreditamos, desde que se adapte aos padrões
desejados pela sociedade, condicionados pela história, que não condenem o sujeito à
exclusão social. Esse condicionamento pela história significa a ideologia dominante
em cada época.

Em épocas medievais, era certo acreditar na peste negra como praga divina;
atualmente, tal "verdade" é descartada por não possuir embasamento científico, padrão
ideológico de nossa época. Comportamentos alternativos são eliminados por meios de
repressão institucionalizados ou não. Ou seja, a verdade é o que convém ser, o que
querem que seja. Esta divagação filosófica tem por objetivo lembrar que, por maiores
que sejam os esforços em tornar objetivo o conhecimento, este sempre será deturpado
pela visão subjetiva - seja em sua construção, transmissão ou assimilação - e pelos
interesses dominantes da sociedade. O conhecimento, mesmo que fosse definido,
estará sempre a serviço de grupos dominantes que conduzem a linha do
desenvolvimento cientifico para melhor atender a suas metas.

Argumentando-se com seqüência, buscando-se exemplos, chegou-se a conclusão


quase pirronista que não existiria conhecimento, pois todas as verdades se tornariam
distintas ao serem assimiladas. É um resultado desconcertante, que uma alma mais
caridosa poderia considerar dialético, entretanto, basta apontar suas falhas para
considerá-lo absurdo. Assim ocorre com a lógica ao ser aplicada sem cuidados -
desenvolvimento de um raciocínio, desprezando elementos aparentemente fúteis que
alteram os resultados finais. É exemplo disto a teoria de Malthus sobre o crescimento
populacional, que não considerou a possibilidade de controle parcial da população ao
identificar seu controle como geométrico. A própria teoria do Caos, tão divulgada pela
mídia, aponta para estas variantes desconhecidas que apontam para um colapso de
toda e qualquer previsão.

Ambas críticas, sobre conhecimento e sobre lógica, cumprem seu objetivo caso o
leitor se sinta enganado em qualquer um destes aspectos. Seja pelos perigos da
argumentação, comunicação ou da lógica, tais instrumentos podem ter efeitos
benéficos ou desastrosos - dependendo apenas da real intenção do autor.

Referências Bibliográficas

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à
Filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993.
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico, 2.ed. São Paulo, Martins Fontes, 1987.
CUDICIO, Catherine. Programação Neurolinguística e Comunicação - A Dimensão da Criatividade,
1. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996
GUIRADO, Marlene. Psicanálise e Análise do Discurso. São Paulo: Summus, 1995.
HUBERMAN, Leo. A História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: LTC, 1986.
MACEDO, Sílvio de. História do Pensamento Jurídico. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1982.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 17.ed. São Paulo; Saraiva, 1996.
SANTOS, Theobaldo Miranda. Manual de Filosofia. 13.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1964.

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TORRES FILHO, Rubens Rodrigues. Os Pensadores: Nietzsche. 5.ed. São Paulo: Nova Cultural,
1991

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