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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PSICOMETRIA
Ribeirão Preto
2021
Sumário
Introdução 3
Método 4
Procedimento 4
Resultados 6
Discussão 12
Considerações Finais 16
Referências 18
Apêndices 20
Apêndice A - Escala 20
Introdução
Introdução
pessoa que mora só em uma unidade domiciliar”. Nesse sentido, dada a variabilidade de
constituições familiares, nota-se que a dinâmica dessas relações pode ser pacífica e amorosa,
como também conflituosa. Além disso, como qualquer outro tipo de relação, as relações
familiares podem ser influenciadas por fatores externos à família, tais quais status social,
economia, saúde, como também fatores emocionais dos próprios membros da família
Coronavirus Disease 2019 (covid-19), representa, também, um novo estressor externo que
pode influenciar nessas relações. Isso devido às medidas sanitárias impostas pelas instituições
governamentais de saúde, com foco no isolamento social. De acordo com esta medida, a
população deveria se manter em quarentena, ou seja, sem deixar suas casas por determinado
período de tempo, saindo apenas em casos essenciais. Diante disso, de acordo com dados
pandemia fez com que os indivíduos começassem a passar mais tempo junto aos membros de
suas famílias.
Assim, nota-se que desde a eclosão do novo coronavírus, a população mundial tem
lidado diariamente com novas notícias sobre o agente, bem como novas informações sobre
sintomas, meios de contato, números de casos e mortes, entre outras diversos outros
1
Link:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/conceitos.shtm
materiais, que apresentaram relação direta com o aumento de episódios estressantes e
influenciador de mudanças nas relações intrafamiliares, por ser um contexto que causa, como
influência do momento atual no meio familiar. A partir do que foi elucidado, o exercício
realizado neste trabalho objetivou levantar informações que permitissem avaliar o impacto da
Método
Procedimento
uma escala psicométrica para pesquisá-la na prática. Após a escolha das relações familiares
na pandemia como temática relevante, realizou-se uma revisão bibliográfica do tema a fim de
pandemia nas relações familiares elaborando-se uma escala psicométrica que mensurasse a
A partir disso, optou-se pelo desenvolvimento de uma escala Likert que, por sua vez,
concordam ou não por meio de parâmetros distribuídos de 1 a 5. Desse modo, a partir desse
mensurassem tanto as crenças como as atitudes dos envolvidos, de modo a constituir uma
investigação mais completa da questão (Oliveira, 2001). Assim, ora as afirmações a serem
avaliadas remetem ao que o participante acha e sente, como por exemplo “Me sinto mais
segura(o) com meus familiares”, ora ao que o participante e sua família fazem, como por
exemplo, “Os membros da família consultam-se mais frequentemente para tomar decisões”.
Desse modo, as assertivas foram construídas visando investigar cada um desses aspectos,
utilizando como base os conceitos avaliados em outras escalas da literatura (Baptista, 2007;
Tendo em vista tudo isso, a escala construída foi denominada “Impacto da Pandemia
da COVID-19 nas Relações Familiares” contendo 18 itens que fazem referência ao período
período anterior. Em cada uma das afirmações, o participante deveria responder se concorda
período atual em comparação com o período pré-pandemia. A escala, tal como aplicada,
encontra-se no Apêndice A.
Com isso, após a construção da escala, ela foi adaptada a um formulário da plataforma
grupos de pessoas. Desse modo, a amostra utilizada no procedimento foi uma amostra de
Análise de Dados
por meio da ferramenta de gráficos do Google Forms. Além disso, com auxílio do Google
exercício.
Resultados
diversos grupos e redes sociais, foram contabilizadas 165 respostas no total. Entre os
participantes respondentes, as idades variaram entre 12 e 60 anos, com média de 22,5 anos. A
distribuição etária pode ser visualizada na figura 1, que contém as idades e o número de
Figura 1. Distribuição etária dos participantes do exercício, com idades e frequências absolutas correspondentes
pertencentes ao gênero cis masculino, 98 (59,4%) ao gênero cis feminino, duas (1,2%) ao
35 (21,2%) como bissexuais, 16 (9,7%) como homossexuais, cinco (3,0%) como pansexuais
e três (1,8%) como assexuais. Um (0,6%) dos participantes preferiu não dizer e outro (0,6%)
Em relação ao estado civil dos participantes, 150 (90,9%) deles afirmaram estarem
solteiros, enquanto 12 (7,3%) participantes afirmaram estarem casados e três (1,8%) estavam
amostra deste exercício, temos que 87 (52,7%) pessoas afirmaram estar com o ensino
superior incompleto, 40 (24,2%) pessoas afirmaram estar com o ensino médio completo, 29
(17,6%) pessoas com ensino superior completo, seis (3,6%) pessoas com ensino médio
incompleto, duas (1,2%) pessoas com ensino fundamental II incompleto e uma (0,6%)
(59,4%) deles não trabalham, enquanto que 35 (21,2%) deles possuem um trabalho formal
com carteira assinada. 23 (13,9%) participantes possuem um trabalho informal sem carteira
possuem renda de 12 a 15 salários mínimos, sete (4,2%) participantes possuem renda de mais
15 salários mínimos e, por fim, cinco (3,0%) participantes possuem renda de até 1 salário
mínimo.
realizando isolamento parcial, isto é, saindo apenas para atividades essenciais. 23 (13,9%)
afirmaram que não estão realizando qualquer tipo de isolamento. Sobre o local no qual está
passando o período de quarentena e restrições da pandemia, 139 (84,2%) participantes
afirmaram estar passando tal período na sua residência, 14 (8,5%) participantes afirmaram
A amostra descrita acima também respondeu aos itens da escala Likert construída
neste trabalho, que buscava avaliar os impactos da pandemia nos relacionamentos familiares.
As respostas foram agrupadas em frequência absoluta e relativa, para cada item perguntado, e
foram calculadas as médias e o desvio padrão das respostas em cada item. Os resultados
Além disso, a fim de aprofundar a análise dos dados coletados, também foi realizada
Assim, a amostra total foi dividida em dois subgrupos: um grupo composto por 104
resultados das respostas para cada grupo estão apresentados nas tabelas 2 e 3,
separar os itens que a constituem em dois tipos: itens que avaliam as crenças dos
Borges-Andrade (2004), crenças podem ser definidas como estruturas cognitivas básicas a
informação que a pessoa tem sobre o objeto da atitude. A crença vincula um objeto a um
atributo. O objeto da crença pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição, um
comportamento, uma política ou um evento, por exemplo. Por sua vez, comportamento diz
Os itens que compõem a categoria crença são: “Eu sinto que minha família me
compreende mais”; “Há mais ódio em minha família”; “Viver com minha família tem sido
mais desagradável”; “Eu sinto mais raiva da minha família”; “Minha família entende melhor
quem eu quero ser”; “Os membros da nossa família sentem-se mais unidos”; “Me sinto mais
segura(o) com meus familiares”; “Sinto-me mais confortável para falar sobre assuntos
pessoais com membros da família”; “Tenho mais dificuldade em tomar decisões por medo de
família”.
Por sua vez, os itens que compõem a categoria comportamento são: “Os membros da
família pedem ajuda uns aos outros mais frequentemente”; “Os membros da família
repreendida(o) pela minha família ao tomar decisões”; “Na minha família nós nos
passar o tempo livre juntos”; “É mais comum que sejamos agressivos uns com os outros
durante as discussões”; “Nós demonstramos carinho mais constantemente”; “Minha família
gerais das respostas conferidas pelos participantes aos itens da escala. De maneira geral, ao se
observar as médias de cada item, pode-se interpretar que, em maioria, os participantes deste
período da pandemia comparado ao período anterior. Tal afirmação está baseada no fato de
neutros, no caso, 3. Ainda assim, é possível encontrar alguns itens que desvelam alterações
positivas nos relacionamentos familiares, como é o caso do item “Me sinto mais segura(o)
com meus familiares”, cuja média é de 3,5, e também o item “Os membros da família pedem
ajuda uns aos outros mais frequentemente”, cuja média é de 3,6. Tais valores sinalizam um
maior número de respostas que concordam, em algum nível, com as afirmações elencadas.
Nesse sentido, é possível deduzir uma maior aproximação dos membros das famílias
dos participantes, em acordo com o que pode ser encontrado na literatura a respeito de
comportamentos e crenças familiares em situações de crise (Henry et al., 2015; Walsh, 2005).
De maneira análoga ao explicitado acima, ao se analisar os itens “Eu sinto mais raiva da
minha família”, com média de resposta de 2,1; “Viver com minha família tem sido mais
desagradável”, com média 2,3; e “Há mais ódio em minha família”, com média 1,8, pode-se
notar que os participantes tenderam a discordar das afirmações, revelando que não
interessante notar que as respostas tendem a uma discordância grande, o que possibilita
induzir que há uma aversão ao pensamento de se sentir com mais ódio ou raiva da família,
particularidades que podem ser encontradas nas análises relativas de cada item. Dessa forma,
ainda que, em média, não se possa assumir que houveram mudanças nos relacionamentos
familiares durante a pandemia, é possível perceber que alguns itens apresentam respostas de
uma grande fatia dos participantes relatando ter experienciado mudanças. Como por exemplo,
que a frequência relativa de respostas que discordam dos itens “Minha família entende
melhor quem eu quero ser” (37,6%), “Sinto-me mais confortável para falar sobre assuntos
pessoais com membros da família” (51,5%) e “Eu sinto que minha família me compreende
mais” (37,6%) revelam, possivelmente, alterações negativas nas percepções dos participantes
análise de itens que acarretam crenças e comportamentos negativos em relação à família, tais
quais “Na minha família nós nos desentendemos/zangamos com mais frequência” (33,4%);
“É mais comum que sejamos agressivos uns com os outros durante as discussões” (27,8%),
“Sou mais constantemente repreendida(o) pela minha família ao tomar decisões” (29,7%),
família” (46,7%) e “Viver com minha família tem sido mais desagradável” (26,7%). Tal
análise permite identificar uma parcela considerável de participantes, isto é, cerca de 30% ou
mais em cada item, que relataram terem percebido mudanças negativas nestes itens ao longo
da pandemia.
período em questão seria o fato de que os conflitos, muitas vezes já existentes antes da
pandemia, atenuaram-se devido ao isolamento social (Nahas & Antunes, 2020). Isso porque,
Além disso, existem outros fatores agravantes das relações pandêmicas, como exemplo o
exaustão mental dos indivíduos, causada pela carga excessiva de trabalho de forma remota.
com a orientação sexual dos participantes e revelam que esses grupos relatam de forma
Assim, ao se analisar as médias apresentadas nas tabelas 2 e 3, é possível notar que, de forma
Tal diferença pode ser analisada mais diretamente com o auxílio da tabela 4,
apresentada abaixo, a qual traz itens nos quais as médias entre a amostra composta por
Média Média
Pergunta
Héteros LGBTQIA+
Na minha família nós nos desentendemos/zangamos com mais frequência 2,3 3,7
É mais comum que sejamos agressivos uns com os outros durante as
2,1 3,3
discussões
Sou mais constantemente repreendida(o) pela minha família ao tomar
2,2 3,2
decisões
Me sinto mais segura(o) com meus familiares 3,8 3,0
Minha família respeita mais minhas vontades 3,4 2,8
Média Média
Pergunta
Héteros LGBTQIA+
Minha família entende melhor quem eu quero ser 3,3 2,5
Eu sinto mais raiva da minha família 1,8 2,6
Viver com minha família tem sido mais desagradável 2,0 3,0
Há mais ódio em minha família 1,5 2,2
Eu sinto que minha família me compreende mais 3,2 2,5
Tabela 4. Comparação entre médias de resposta a itens da escala de relacionamentos familiares obtidas na
análise de grupos diferenciais em relação à sexualidade informada.
percebida e as mudanças às quais a população desse subgrupo parecem estar mais sujeitas, de
Porto, cujo objetivo foi o de avaliar a saúde psicológica de jovens LGBT+ que viviam com os
pais durante a pandemia COVID-19. Tal estudo revelou que 59% dos jovens sentem-se
desconfortáveis em isolamento social com as suas famílias, e 30% dos indivíduos sentem-se
extremamente desconfortáveis. Ademais, notou-se que 35% dos jovens afirmaram sentir-se
muito sufocados por não poderem expressar a sua identidade LGBT+ com a sua família e
consideraram que esta lida mal ou muito mal com o conhecimento da verdadeira identidade,
Considerações Finais
Em suma, ainda que este exercício tenha apenas caráter didático, temos que os
afirmar que os dados obtidos através da escala construída foram fundamentais para a análise
das mudanças ocorridas nas relações familiares sob impacto do período de pandemia e
Ainda que os resultados obtidos foram satisfatórios para os objetivos propostos deste
uma maior divulgação e aplicação da escala, possibilitando uma maior coleta de dados que
conformidade com padrões científicos. Somente assim os dados obtidos passariam a ser úteis
Além disso, a construção da escala poderia ser alterada de forma a contemplar uma
melhor visualização das possibilidades de mudanças durante a pandemia. Da forma como foi
mudança nas relações familiares na comparação entre os períodos pré e durante a pandemia.
Porém, não traz base sólida para verificar se houveram mudanças para melhor ou para pior, o
que indica a possibilidade de se formular uma sessão que focalizasse os comportamentos das
pessoas nos períodos anteriores à quarentena para uma melhor comparação. Estudos futuros
podem se basear nessas limitações a fim de apresentarem maior fidelidade em sua elaboração.
Referências
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932007000300
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jul. 2021.
Gato, J., Leal, D., & Seabra, D. (2020). Redes de apoio social e saúde psicológica em jovens
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Henry, C. S., Morris, A. S., & Harrist, A. W. (2015). Family resilience: Moving into the third
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X202000010
Torales, J., O’Higgins, M., Castaldelli-Maia, J. M., & Ventriglio, A. (2020). The outbreak of
https://doi.org/10.1177/0020764020915212.
Walsh, F. (2005). Resiliencia familiar: Un marco de trabajo para la práctica clínica. Sistemas
Apêndice A - Escala
Informamos que sua privacidade será respeitada, ou seja, seu nome ou qualquer outro
dado ou elemento que possa, de qualquer forma, lhe identificar, será mantido em sigilo.
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar. Caso deseje sair da pesquisa, não
assistência durante toda pesquisa, bem como é garantido o livre acesso a todas as
*Obrigatório
1. Tendo sido orientado(a) quanto ao teor de tudo o que foi aqui mencionado e
2. Idade: *
3. Gênero
● Cis Feminino
● Cis Masculino
● Trans Feminino
● Trans Masculino
● Agênero
● Gênero fluído
● Não-binário
● Outro:
4. Sexualidade *
● Heterossexual
● Bissexual
● Homossexual
● Pansexual
● Assexual
● Demissexual
● Outro:
5. Estado Civil *
● Solteira(o)
● Casada(o)
● Divorciada(o)
● Viúva(o)
6. Escolaridade *
7. Situação de trabalho *
● Não trabalho
● Autônoma(o)
8. Somando a sua renda com a renda das pessoas que moram com você, quanto é,
● Completo
● Na minha residência
● Outro:
● Quatro ou mais
1 2 3 4 5
13. É mais comum que sejamos agressivos uns com os outros durante as discussões *
1 2 3 4 5
14. Sou mais constantemente repreendida(o) pela minha família ao tomar decisões*
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
16. Tenho mais dificuldade em tomar decisões por medo de desagradar/desapontar minha
família *
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
19. Sinto-me mais confortável para falar sobre assuntos pessoais com membros da
família*
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
24. Os membros da família pedem ajuda uns aos outros mais frequentemente *
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
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