RESUMO
O grande desafio encontrado pelo sistema de geração de energia
elétrica no Brasil e em outros países, é a busca pela geração sustentável de
energia. Com base nisso, este trabalho aborda o tema Geração Distribuída,
que vem sendo difundida como um meio alternativo de obtenção de energia.
Será abordada a evolução das regulamentações referente à GD, bem como a
sua atual situação com relação às normas que regem esse tipo de geração no
Brasil. Além do âmbito nacional, são mostrados os aspectos regulatórios
definidos pela empresa distribuidora de energia elétrica do estado do Piauí.
Palavras-chave: Geração Distribuída, regulamentações.
ABSTRACT
The major challenge faced by the power generation system in Brazil
and other countries, is the search for sustainable energy generation. Based on
this, this paper addresses the topic Distributed Generation (DG), which has
been widespread as an alternative means of obtaining energy. It will look at the
evolution of regulations related to GD, and their current situation with regard to
the rules governing this type of generation in Brazil. In addition to the national
level, the regulatory aspects defined by the distributor of electricity in the state
of Piauí are shown.
Keywords: Distributed Generation, regulations.
1.INTRODUÇÃO
O homem tornou-se dependente das fontes de produção de energia,
fazendo parte de quase todas as atividades do nosso cotidiano. Diante da
enorme importância do setor energético, foram necessários avanços e
mudanças ao longo dos anos, que foram implementadas a fim de melhorar o
serviço oferecido à população. O sistema energético passou por vários
modelos de estruturação até chegar ao modelo atual. O histórico mundial é
constituído basicamente de três momentos que constituem o progresso desse
setor tendo em vista a crescente demanda por energia.
A primeira fase, teve início com a construção da indústria elétrica em
1879 até os anos 1930. Esse modelo era constituído por um monopólio
formado por empresas de geração local interconectada e de capital privado,
que contavam com um sistema de distribuição ineficiente por não haver
regulamentação, tornando assim o serviço de má qualidade. Todos os
processos de produção de energia, geração, transmissão, distribuição,
operação do sistema e comercialização, eram executados por uma mesma
empresa que caracterizava um sistema “verticalizado”, constituindo um
monopólio. O mundo passou por transformações políticas, econômicas e
sociais, e com o declínio do liberalismo, o estado se tornou o principal agente
no desenvolvimento econômico, inclusive no setor energético. Com isso, surge
por volta de 1930 um novo sistema estrutural energético, que dura até a
década de 90. Esse novo modelo era constituído de monopólios verticalizados
integralmente estatais e interconectados. O financiamento nos setores de
energia era feito com recursos públicos e, portanto, não havia competição e
nem incentivo para o melhoramento e inovação dos sistemas de geração
empregados. Frente a isso, o estado sentiu a necessidade de dinamizar a
situação do sistema elétrico do pais. Surge então a terceira fase, a partir de
1993, que houve uma transferência do setor energético brasileiro do estado,
para as mãos de empresas privadas. Esse processo de reestruturação tinha
como objetivo acabar com o sistema de verticalização estatal. Medidas como
comercialização de energia, financiamentos de origem pública e privada,
etapas de geração divididas entre as concessionárias, tiveram como objetivo
aumentar a eficiência do sistema energético através da competição, que
levaram a implantação de avanços no setor. (Malaguti, 2009)
2. MERCADO ENERGÉTICO BRASILEIRO
2.1 Órgãos regulamentadores
Implantada em 2004, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE) é responsável pela viabilização e gerenciamento da comercialização
da energia elétrica no Brasil. É uma entidade sem fins lucrativos, e financiada
por empresas que compram e vendem energia no país. Ela, junto com outras
instituições, atua em função do setor elétrico brasileiro. A estrutura desse setor
é formada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que é
responsável por regular e fiscalizar os processos de produção, transmissão,
distribuição e comercialização de energia elétrica; pelo Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que tem como função garantir a
continuidade e segurança de energia elétrica em todo território nacional; pelo
Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que é um órgão responsável
por formular medidas que garantam o suprimento de insumos energéticos a
todas as regiões do país, incluindo as mais distantes; pela Empresa de
pesquisa Energética (EPE) responsável pelo estudo e pesquisa com finalidade
de melhorar o setor energético; pelo Ministério de Minas e Energia (MME)
responsável pela condução das políticas energéticas do país e pelo Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS) que tem a finalidade de administrar a rede
básica de transmissão de energia elétrica no Brasil.
2.2 Histórico das regulamentações em Geração Distribuída no Brasil
Analisando o histórico brasileiro no contexto da Geração Distribuída, foi
observado que entre os anos de 1970 a 1990 já se falava acerca do tema, no
entanto, havia a necessidade de aperfeiçoamento da legislação. Com isso, ao
longo do tempo ocorreu uma evolução nas leis, decretos e resoluções que
afetaram o desenvolvimento de geração distribuída no país.
A primeira lei a tratar do tema foi a n° 9.074, de 7 de julho de 1995, que
foi responsável por regulamentar a produção de energia do produtor
independente e do autoprodutor. Foi determinado no artigo 13 do Decreto nº
2.003, de 10 de setembro de 1996, que esses produtores teriam assegurados o
livre acesso aos sistemas de transmissão e distribuição, mediante o
ressarcimento de custos de transporte envolvido. Em 1999, a ANEEL publicou
a Resolução nº112, que definiu os requisitos para a obtenção do registro e
autorização para a implantação, ampliação ou repotenciação das fontes
alternativas de energia. A Lei nº 10.848, de 2004 surgiu para dispor sobre a
comercialização de energia elétrica, e logo após, o decreto nº 5.163 do mesmo
ano regulamentou essa medida. Foi através deste documento que foi definido
pela primeira vez o conceito de Geração Distribuída, mas somente para
geração por meio de hidrelétricas e termelétricas descentralizadas, sendo
considerada GD quando a potência fosse igual ou inferior a 30 MW no caso de
Pequenas Centrais Hidrelétricas e para geração térmica, o que inclui a
cogeração qualificada com eficiência energética igual ou superior a 75%.
Permitiu também, que as distribuidoras contratassem energia a partir da
geração distribuída, mas que não poderia exceder 10% da carga da
distribuidora de energia, o que acabava não incentivando a expansão desse
tipo de geração. As fontes solares e eólicas não foram previstas nessa lei.
Alguns anos depois, a lei n° 12.111 de 09 de dezembro de 2009, trata
dos sistemas isolados, custos de contratação de energia, encargos do setor
elétrico e impostos, investimentos realizados, dentre outros. Com a carência de
regulamentação para GD conectada à rede elétrica, foi criada a Resolução
Normativa da ANEEL N°482 de 17 de abril de 2012, que definiu regras para a
instalação de sistemas de geração de pequeno porte. Esta resolução
englobava consumidores que utilizassem geração com base em fontes
renováveis, além de permitir que o produtor fornecesse energia à rede da
distribuidora através do sistema de compensação. Resolução Normativa da
ANEEL N° 517 de 11 de dezembro de 2012, alterou a resolução n°482, que foi
definido o sistema de compensação.
4. RESULTADOS
Desde que entrou em vigor a resolução da ANEEL nº482/12, foram
observadas mudanças quantitativas com relação ao número de unidades
geradoras no Brasil. A realidade brasileira começou a ser alterada com os
resultados obtidos a partir do ano de 2013, que ouve um elevado número de
adesões ao sistema de GD. Já no ano seguinte, o crescimento continuou
acentuado, e no ano de 2015 houve um crescimento de 75% em relação ao
ano anterior. Essa crescente onda de implantação de centrais geradoras
ocorreu logo após a adoção do sistema de compensação. No gráfico abaixo,
está expresso o progresso brasileiro nesse setor.
Unidades Geradoras
Qtd. de Unidades Geradoras
2000 1731
1500
1000
424
500 75
3
0
2012 2013 2014 2015
Ano
Unidade Geradoras
25 22
Número de instalações
20
15
11
10
0
2015 2016
Ano
Outro ponto dado como negativo foi o tempo para a conclusão de todas
as etapas de instalação e conexão. Foi obtido como tempo médio no Brasil a
duração de seis meses e duas semanas, para a finalização de todas as etapas
de solicitações, inspeção e instalação. Quando comparado com outros países,
o Brasil se enquadra em nível intermediário com relação ao tempo de finalizar a
conexão. Na Alemanha e Holanda, a duração é em média de três a sete
semanas. Além da rapidez desses países, os sistemas implantados possuem
potência superior aos de países que levam mais tempo para o fim dos
processos.
5.PERSPECTIVA
O Brasil possui um longo caminho a percorrer e muitos desafios para
superar quando se trata de geração distribuída. Este é um país com enorme
potencial para a implantação de geração por fontes renováveis, principalmente
a solar fotovoltaica. Segundo dados do MME, espera-se que até 2024 seja
alcançada a marca de 1,23 milhões de unidades geradoras, tendo em vista os
reflexos das mudanças ocorridas nas regulamentações. Com o intuito de atrair
mais adeptos, o MME lançou o Programa de Desenvolvimento da Geração
Distribuída de Energia Elétrica (ProGD), que visa ampliar o interesse dos
consumidores em aderir a produção de energia por meio de fontes renováveis,
em especial a solar fotovoltaica. Será investido mais de R$100 bilhões até
2030 nesse setor de geração, e neste mesmo ano é esperado que se alcance o
número de 2,7 milhões de unidades consumidoras produzindo sua própria
energia elétrica. Investimentos como esse, aumentam a expectativas de que no
futuro a energia utilizada em residências, comércios e indústrias seja quase
que totalmente renovável.
6.CONCLUSÃO
Os dados expostos mostram que o mercado de Geração Distribuída no
Brasil se encontra atrasado em relação a outros países. Essa
tecnologia chegou há pouco tempo e o acesso aos brasileiros ainda foi pouco
disseminado, devido a dificuldades legislativas e escassez em investimentos.
Todavia, com a expansão dessa tecnologia junto à rede de distribuição, o país
impôs mudanças regulatórias que serviu de incentivo para a adoção desse
sistema. Esse tipo de geração veio como principal ferramenta para dinamizar o
sistema de energia elétrica, que procura deixar um pouco de lado a
dependência por fontes convencionais, dando lugar a fontes alternativas e
renováveis de geração.
Por ser um mercado novo, muito ainda tem que ser aperfeiçoado, tanto
nas regulamentações, quanto na geração de incentivo, de forma a tornar
maior o interesse da população em adotar esse tipo de sistema. Além de
melhorias já aplicadas através do sistema de compensação, isenção de
impostos na energia injetada pelo produtor, dentre outros, ainda se pode fazer
muito para melhorar adesão dos consumidores. É possível citar como
exemplos, incentivos fiscais sobre todos os equipamentos utilizados na
geração (principalmente nos de fonte solar que são os mais implantados
atualmente), a disponibilização de linhas de financiamento, diminuição do
tempo que leva para o cumprimento de todas as etapas de instalação do
projeto, e também a divulgação dos benefícios de se produzir a própria energia,
mostrando ao consumidor o quanto de energia que ele iria economizar em
longo prazo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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