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MODELOS DE

PLANTAÇÃO DE
IGREJAS

Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
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James Prestes
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Diretoria de Graduação
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Diretoria de Pós-graduação
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Diretoria de Design Educacional
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Head de Curadoria e Inovação
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Gerência de Processos Acadêmicos
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Gerência de Curadoria
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Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Roney de Carvalho Luiz
Distância; JÚNIOR, Galaor Linhares Tupan.
Designer Educacional
Modelos de Plantação de Igrejas. Galaor Linhares Tupan Junior. Isabela Agulhon Ventura, Agnaldo Lorca Ventura
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso 2020.
214 p. Iconografia
“Graduação - EaD”. Isabela Soares Silva
Projeto Gráfico
1. Modelos 2. Plantação . 3. Igrejas 4. EaD. I. Título.
Jaime de Marchi Junior
ISBN 978-85-459-0434-2 José Jhonny Coelho
Arte Capa
CDD - 22 ed. 254.1
Arthur Cantareli Silva
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Editoração
Fernando Henrique Mendes
Qualidade Textual
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Hellyery Agda, Danielle Loddi, Helen Braga do Prado
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Ilustração
Impresso por: Bruno Cesar Pardinho
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 500 polos
de educação a distância espalhados por todos os
estados do Brasil e, também, no exterior, com de-
zenas de cursos de graduação e pós-graduação.
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos
mais de 500 mil exemplares por ano. Somos re-
conhecidos pelo MEC como uma instituição de
excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos.
Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais
do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferen-
tes áreas do conhecimento, formando profissio-
nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-
mento de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Diretoria de
transformamos também a sociedade na qual estamos
Planejamento de Ensino
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria Operacional
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
de Ensino
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores
e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR

Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior


Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper e Reformed Theological Seminary (2017). Especialista em
Coordenação de Dinâmica de Grupo pela Sociedade Brasileira de Dinâmica
de Grupo (2000). Bacharel em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de
Maringá (2015). Graduado em Teologia pelo Seminário de Educação Teológica
Elim (2013). Pastor na Missão Cristã Elim, desde 1998.

Conferir mais detalhes em: <http://lattes.cnpq.br/2039697727145495>.


APRESENTAÇÃO

MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), é com grande satisfação que apresento a você as boas-vindas à disci-
plina Modelos de Plantação de Igrejas. Sou o professor Galaor Linhares Tupan Júnior,
pastor evangélico, e tenho trabalhado pela Igreja do Senhor há mais de 25 anos, junto
à Missão Cristã Elim. Nesse tempo, plantamos igrejas em várias cidades do território na-
cional, incluindo o interior do Amazonas. Agora, estamos também na Colômbia. Nosso
desejo é obedecer ao mandamento final de Jesus Cristo, avançando para a África, Ásia
e até os confins da terra. Cristo amou sua Igreja e deu sua vida por ela. Que seja assim a
vida daqueles que desejam segui-Lo.
Meu objetivo, ao escrever este livro, é despertá-lo(a) para a vocação missionária da Igre-
ja no mundo e instrumentalizá-lo(a) para a plantação de igrejas. No decorrer de seus
estudos, procure interagir com os textos, fazer anotações, realizar as atividades de es-
tudo e, acima de tudo, compreender como o conteúdo do livro pode se tornar realida-
de em suas ações. De muitas maneiras, você vai observar que seus estudos podem ter
aplicação prática em sua vida cristã, quer como um plantador de igrejas, quer como um
teólogo, ou, simplesmente, como um discípulo do Senhor Jesus Cristo.
Estaremos juntos para abordar os princípios básicos de plantação de igrejas, compre-
endendo biblicamente esse termo e verificando sua importância para a evangelização.
Nossos estudos consideram a teologia bíblica do plantio de igrejas. Vamos realizar uma
reflexão crítica sobre Missio Dei e o reinado de Deus, reconhecendo sua soberania frente
à plantação de igrejas. As citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Revista e
Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil.
Cremos que as promessas que Deus concedeu a Abraão são para todas as famílias da
terra. Reconhecemos que a Igreja do Senhor é uma só e desejamos que o evangelho
cumpra com seu propósito em diferentes línguas, tribos, povos e nações. Para isso, uma
compreensão adequada do significado de cultura é um pré-requisito para uma comu-
nicação eficaz das boas novas do evangelho. Vamos considerar a necessidade de utili-
zação de modelos adequados de plantação de igrejas, respeitando as diferenças trans-
culturais.
Teremos um momento para identificar qual é o perfil do plantador de igrejas e como
esse pode ser lapidado. Vemos, no chamado de Cristo, o desafio de depender daquele
que chama, e não de quem somos. Nossas fraquezas podem tornar-se uma oportunida-
de para a manifestação do poder e da graça de Deus.
Finalizando, vamos vivenciar o desafio da plantação de uma nova igreja, considerando
o exímio modelo do apóstolo Paulo, e estratégias essenciais para essa missão. Veremos
que o Espírito Santo é a pessoa central para o nascimento de uma igreja, o que pode ser
observado em Sua atuação poderosa em todo o livro de Atos dos Apóstolos. Como dis-
se o Senhor Jesus na Grande Comissão, em Mateus 28, 20: “[...] ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século”.
APRESENTAÇÃO

Espero que, ao término desta disciplina, os conceitos aqui ensinados sejam trans-
formados em novas congregações em áreas do mundo ainda não alcançadas, ou
sejam traduzidos no fortalecimento das congregações já existentes. “Até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (BÍBLIA, Efésios 4,13).
Um grande abraço, bons estudos e que Deus os abençoe.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

15 Introdução

16 Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos

20 O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico

24 Elementos Presentes na Plantação de Igrejas

28 Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas

33 Considerações Finais

37 Referências

38 Gabarito

UNIDADE II

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS

43 Introdução

44 Acordo Entre Teologia e Missiologia

50 Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus

55 Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas

62 Cosmovisão e Contextualização

68 Considerações Finais

72 Referências

73 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

77 Introdução

78 O Chamado de Deus é Para Todos

82 A Cultura e as Diferenças Transculturais

87 Diferenças Transculturais

95 Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos

106 Modelos de Plantação de Igrejas

117 Considerações Finais

122 Referências

123 Gabarito

UNIDADE IV

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS

127 Introdução

128 Quem Foi Chamado Para Essa Missão?

144 O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas

157 Plantadores Bivocacionais

161 A Igreja e o Plantio de Igrejas

164 Considerações Finais

169 Referências

170 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA

173 Introdução

174 O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas

182 Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas

199 O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas

203 Considerações Finais

208 Referências

209 Gabarito

213 Conclusão
Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE

I
UNIDADE
PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■ Identificar biblicamente os termos relacionados ao plantio de igrejas.
■ Descrever as fases do processo de plantio de igrejas.
■ Conhecer os elementos presentes na plantação de igrejas.
■ Considerar as abordagens históricas mais comuns nos últimos
séculos sobre plantio de igrejas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos
■ O Plantio de Igrejas como Processo Orgânico
■ Elementos Presentes na Plantação de Igrejas
■ Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas
15

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Muita literatura tem sido escrita a respeito da Igreja e sua
missão. Desde as primeiras páginas do Antigo Testamento, observamos que o
pecado de Adão não abortou o plano original de Deus. Havia um caminho para
a reconciliação; mediante o qual o homem poderia ter sua comunhão com Deus
restaurada e reconstruída. Deus escolheu Abraão e seus descendentes para aben-
çoar o mundo. O aparente fracasso dos judeus, com a final rejeição do Messias
também não puderam invalidar o propósito divino.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Na cruz, Jesus conciliou judeus e gentios, fazendo destes um só povo liberto


do domínio do pecado e congregado na Sua Igreja, “a saber, que os gentios são
coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo
Jesus por meio do evangelho” (BÍBLIA, Efésios 3,6).
Nesta unidade, estudaremos os princípios básicos de plantio de igrejas. Já
de antemão definimos que, ao utilizarmos o termo Igreja (com maiúscula), nos
referimos ao corpo místico que é edificado sobre o fundamento dos apóstolos e
dos profetas, o qual é composto por todos os cristãos verdadeiros, do qual Cristo
é a cabeça. Quando usamos o termo igreja (com minúscula), estamos falando
das igrejas em suas localidades, constituídas de cristãos que buscam adorar, ser-
vir e pautar suas vidas nos princípios da Palavra de Deus. Biblicamente, o termo
não pode fugir a essas duas finalidades.
Você pode se perguntar: como podemos plantar uma igreja nos dias de hoje?
Os custos são altos e os corações estão endurecidos. Temos dificuldade de pro-
mover evangelização num mundo secularizado e religioso, em que a prioridade
das pessoas está centralizada no prazer como bem supremo.
Deus, no entanto, tem um caminho sobrenatural, no qual os impossíveis
podem ser superados pelo Seu poder. Ele é poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quanto pedimentos ou pensamos, conforme Sua palavra. “A
Ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém” (BÍBLIA, Efésios 3,21).

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PLANTIO DE IGREJAS - CONCEITOS E TERMOS

Caro(a) aluno(a), vamos, agora, entender e estudar juntos o processo bíblico


e prático de evangelizar e plantar novas igrejas. A primeira diferenciação que
temos a fazer é entre evangelização e plantio de igrejas. Isso é fundamental para
o entendimento de nosso tema em estudo. Grande parte das definições apresen-
tadas são contempladas por Ronaldo Lidório em um Treinamento Missionário
Intensivo chamado “Capacitar”, o qual ocorre uma vez a cada ano em diferentes
cidades do país e, também, podem ser observadas em Lidório (2011), Teologia
Bíblica do Plantio de Igrejas.
A evangelização é a proclamação do evangelho. Esse evangelho pode ser
proclamado verbalmente, ou seja, você fala do Senhor Jesus e aquele que ouve
compreende, em sua língua e ambiente cultural. Entretanto, a evangelização não
é apenas falar, mas também viver; ou seja, não evangelizamos apenas com nossas
palavras, mas também com nossa vida, que é o nosso testemunho. O Senhor Jesus
chamou Sua Igreja para falar e viver; para pregar verbalmente o evangelho, por
meio de palavras e, também, para, silenciosamente, demonstrar o amor de Deus.
Assim, concluímos que existem dois fundamentos muito relevantes na evange-
lização. São traduzidos por duas palavras de origem grega: kerygma e martyrium.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


17

• Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o signi-


ficado de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja: comuni-
cação verbal que pode ser compreendida.
• Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o
significado de testemunho. Ou seja: comunicar com nossas ações.

Esses dois termos caminham juntos no Novo Testamento, no qual lemos que foi
proclamado o evangelho, sempre verificamos que este foi depois demonstrado,
evidenciado, manifestado por meio do testemunho de vida.
Jesus chamou sua Igreja para pregar e viver. Lidório (2011) apresenta o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

conceito de que evangelização é o ato de comunicar - seja verbalmente ou pelo


testemunho de vida - quem é Jesus e o que Ele fez por nós. Evangelização não é
plantio de igrejas. Plantio de igrejas é um processo.
A evangelização pode ser um ato estático ou um processo, porém o plan-
tio de igrejas é sempre um processo. Você pode comunicar, em cinco minutos,
quem é Jesus e o que Ele fez por nós ou levar um ano para evangelizar uma pes-
soa, uma família, uma cidade ou uma nação. A evangelização é a primeira etapa
do processo de plantio de igrejas.

“Processo é uma palavra com origem no latim procedere, que significa mé-
todo, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atin-
gir algum objetivo. Relativamente à sua etimologia, processo é uma palavra
relacionada com percurso, e significa ‘avançar’ ou ‘caminhar para a frente’”.
Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos


18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Outra diferenciação abordada por Lidório (2011), Bastos (2010) e diversos auto-
res é entre igreja e templo. Para você, qual é a diferença?
Principalmente no Brasil, nosso conceito de igreja está atrelado a templo.
Quando falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes, pensamos no aspecto
do edifício e não em pessoas. Igreja não é estrutura, não é templo, não é insti-
tuição, mas são pessoas convertidas ao Senhor Jesus. Na África, por exemplo,
muitas igrejas se reúnem embaixo de árvores. Quem vai plantar uma igreja não
construirá, necessariamente, um templo, mas vai evangelizar, discipular, ajun-
tar convertidos, treinar líderes e acompanhar a igreja formada.
Jesus, que inaugurou a plantação da Sua Igreja na Terra, não construiu
nenhum templo. Em Atos, capítulo 2, há o relato de que a igreja louvava a Deus
no templo e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, demons-
trando suas raízes no judaísmo, e gentios que preferiam as casas. Embora houvesse
a preferência por lugares distintos para louvar a Deus, eles eram unânimes: os gen-
tios também iam ao templo e judeus também reuniam-se nas casas. Esse conceito
de união como marca da Igreja primitiva também é abordado nos comentários
de Atos, capítulo 2, da Bíblia Missionária de Estudos (2014).
Encontramos no texto de Alexandre Bastos, em Metodologia de Plantação
de Igrejas, o mesmo princípio apresentado:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


19

[...] é fundamental dizer que a palavra igreja registrada no Novo Testa-


mento e que norteia nossos princípios, nada tem a ver com os paradig-
mas que ao longo dos séculos foram sendo adquiridos. Como equivo-
cadamente sendo a expressão da instituição, denominação, estilo e até
mesmo do prédio. Por força destes paradigmas ou até mesmo pelo ví-
cio de linguagem, as pessoas sistematicamente tem associado a palavra
-igreja- simplesmente com o local onde os cristãos se reúnem. Outro
fator equivocado é determinarem se um grupo de cristãos é igreja ba-
seado na existência de um prédio ou não. É muito importante lembrar
que nos primeiros trezentos anos da história da igreja de Jesus não ha-
via “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam de ser igreja.
Até mesmo nos dias de hoje, lugares onde ter um prédio para a reunião
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem


sem prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus (BASTOS, 2010, p. 8).

Bastos (2010) corrobora o entendimento de que igreja não é templo, não é o


prédio onde os cristãos se reúnem. Ao plantarmos igrejas, não dependemos de
instalações físicas, mas sim de que os crentes sejam congregados como pedras
vivas, ou lavoura de Deus para que juntos possam formar um organismo vivo
que dá glória a Deus.

Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos


20 UNIDADE I

O PLANTIO DE IGREJAS COMO PROCESSO


ORGÂNICO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O conceito de plantio de igrejas como processo orgânico é apresentado pelo
apóstolo Paulo em I Coríntios 3, 6, que diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o
crescimento veio de Deus”.
Paulo e Apolo desempenharam diferentes serviços, Paulo plantou,
Apolo regou. A metáfora de semear e de cuidar da plantação é bem sig-
nificativa no que se refere às fases de implantação de uma igreja local.
Os trabalhadores nada seriam sem a intervenção divina no crescimen-
to da igreja plantada. O trabalho missionário é árduo, como o é o de
plantar e regar. A dependência de Deus é a chave para um crescimento
constante e duradouro (BÍBLIA, 2014, p. 1172).

Plantar, regar e fazer crescer estão relacionados com aspectos vitais de cresci-
mento, de realização contínua e prolongada. A plantação de igrejas permanentes
e verdadeiras depende, em primeira instância, do próprio Deus. Os cristãos são
a lavoura em que o Pai é o agricultor e cultiva a Cristo. Os ministros de Cristo
podem plantar e regar, mas somente Deus pode dar o crescimento.
Embora, biblicamente, uma igreja plantada seja considerada “lavoura de
Deus”, onde há o plantio, rega e o crescimento, ela também é considerada “edifí-
cio de Deus”, cujo único fundamento é Cristo Jesus. Quem O definiu como base
para o edifício foi Deus, em Seu supremo propósito. Programas e métodos de
crescimento não podem ser eficazes sem Cristo, que é a vida da igreja.
Conforme I Coríntios 3,12, simbolicamente, os materiais adequados para a
edificação de igrejas são ouro, prata e pedras preciosas, os quais são minerais. O
ouro pode representar a natureza divina do Pai, com todos os seus atributos; a
prata pode representar o Cristo Redentor, Sua morte na cruz, todas as virtudes

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


21

e atributos de Sua pessoa e obra. As pedras preciosas, por sua vez, representam
a obra transformadora do Espírito Santo com todos os atributos de Sua pessoa.
A ideia de transformação de “lavoura de Deus” em “edifício de Deus” mani-
festa o caráter de modificação que a experiência cristã produz em nós. Portanto,
plantação de igrejas constitui-se integralmente num processo espiritual.
Hesselgrave (1995), apresenta, em seu livro Plantar Igrejas, um estudo
detalhado e criterioso das etapas que envolvem o processo de plantar igrejas,
considerando que:
[...] a missão primária da Igreja e, portanto, das igrejas, é proclamar o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

evangelho de Cristo e reunir os crentes em igrejas locais onde podem


ser edificados na fé e tornados eficazes no serviço, e assim plantar novas
congregações no mundo inteiro (HESSELGRAVE, 1995, p. 15).

Observamos nas palavras do Senhor Jesus, descritas na Grande Comissão, a


essência do processo de plantação de igrejas:
[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até a consumação do século (BÍBLIA,
Mateus 28, 18-20).

Esta é a tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo. Nela encontramos a essên-
cia e o método da missão. Quem ordena a tarefa é Aquele que tem autoridade
para fazê-la. Após Sua obediência até a morte, morte de cruz, Deus, o Pai, con-
cede ao Filho toda autoridade nos céus e na terra. Como já foi testado por seus
discípulos, o Espírito Santo nos concede poder e força enquanto cumprimos o
mandamento.
As instruções para o plantio de igrejas ficam claras nas ordens de Jesus e
são tomadas como base para o trabalho da igreja primitiva. Indicamos a seguir
essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a plantação de uma igreja:
1. Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles
que são comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos.
Foram salvos pela fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando
arrependimento e foram transformados pela obediência aos ensinamen-
tos do Senhor.

O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico


22 UNIDADE I

2. Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida,


quem é Jesus e o que Ele fez por nós.
3. Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele
que leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende.
Essa etapa envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.
4. Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações,
devem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.
5. Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o cha-
mado do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais próxima e pessoal, com o propósito de que a nova congregação
tenha um governo local, ou para que esses sejam enviados a novos cam-
pos ainda não alcançados.
6. Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, con-
tinuamente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e
fortalecimento da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo
Paulo.

Certamente o apóstolo Paulo foi um homem especialmente comprometido com


a Grande Comissão. Por onde passava, Paulo pregava a palavra, os homens eram
convertidos e as igrejas eram estabelecidas.
O processo de plantação de igrejas está retratado, de forma muito prática e
impressionante, pelo apóstolo Paulo em I Tessalonicenses 1,5, que diz:
[...] porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em pala-
vra, mas sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção,
assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor
de vós (BÍBLIA, I Tessalonicenses, 1,5).

Nesse versículo Paulo resume, dentre todas as suas cartas, o processo de plan-
tio de uma igreja local e explica aos tessalonicenses os elementos essenciais que
fizeram a igreja em Tessalônica nascer tão rapidamente. A Bíblia Missionária
de Estudos (2014), apresenta comentários de Lidório, o qual considera o nasci-
mento da igreja um fruto da chegada do evangelho que:
1) Chega em palavra, do grego logos, ou seja, habilidade comunicacional,
sermão comunicado de forma inteligível na língua e cultura daquele que
está ouvindo.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


23

2) Chega com poder, dynamis (palavra de origem grega cujo significado é


poder, força). Por isso, o que traz a salvação e a plantação de uma igreja
é o poder de Deus e não a capacidade humana. O poder é a manifesta-
ção sobrenatural de Deus que cativa os perdidos e os traz à luz de Cristo.
3) É acompanhado pela ação do Espírito Santo, que tem como função con-
vencer e converter os corações e edificá-los para que sejam transformados
à imagem de Cristo.
4) É motivado pela plena convicção (do grego pleroforia), que se refere à
certeza que Paulo e os seus companheiros possuíam de estar fazendo a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vontade do Pai.

Em Atos, capítulo 17, Paulo e seus companheiros estavam em uma pequena cidade
chamada Tessalônica, na qual ele pregou o evangelho apenas por três semanas.
Aos sábados, ele evangelizava os judeus na sinagoga e, durante a semana, evange-
lizava gentios e judeus no mercado que ficava na praça central da cidade. Depois
de três a cinco semanas, nasceu uma igreja em Tessalônica, o que, mesmo para
Paulo, foi algo sobrenatural, uma vez que a plantação da igreja de Éfeso, por
exemplo, ocorreu em três anos.
Sobre o processo de plantação de igrejas entre os irmãos tessalonicenses,
Lidório (2011), faz uma paráfrase das palavras de Paulo:
[...] meus irmãos em Tessalônica, vocês ficaram impressionados com o
meu ministério? Não foi por isso que vocês se converteram. Vocês se
converteram porque o evangelho, que é o Senhor Jesus Cristo, chegou
até vocês. Chegou também em palavra humana, mas não foi isso que
transformou os seus corações, mas foi o poder de Deus e o Espírito
Santo que operou em vocês. E quanto a mim, Paulo, e meus compa-
nheiros, nós tínhamos certeza, plena convicção, de que nós estávamos
fazendo a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Compreendemos que a plantação de igrejas somente pode ser realizada pelo


poder e autoridade do próprio Deus. O autor ainda considera que:
[...] se o evangelho é Jesus, que é Deus. Se o poder que leva as pessoas
a conversão, não é o poder da igreja, mas o poder de Deus. Se a ação
não é do homem, mas é do Espírito Santo, que é Deus. Então, quem faz
uma igreja nascer é o próprio Deus. O que nós fazemos? Paulo nos res-
ponde. Devemos estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a vontade
de Deus. Nós não podemos chegar ao final do dia, da semana, do ano,

O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico


24 UNIDADE I

ou da nossa vida sem a convicção, “pleroforia”, de que estamos fazendo


a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Segundo Lidório, sem tais elementos, a igreja em Tessalônica não nasceria, pois,
dentro do processo de espalhar o evangelho e plantar igrejas, nada acontecerá
sem o poder de Deus e a ação do Espírito Santo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
E você? Tem procurado ter a plena certeza (pleroforia) de que está no centro
da perfeita vontade de Deus? Se você não tem esta certeza, busque-a do
Senhor e não defina os próximos passos da sua vida por qualquer critério
que não seja a vontade dEle.
(Ronaldo Lidório)

ELEMENTOS PRESENTES NA PLANTAÇÃO DE


IGREJAS

Agora, vamos considerar oito ele-


mentos essenciais para a plantação de
igrejas indicados por Lidório (2011),
quais sejam: intencionalidade, opor-
tunidade, teologia, continuidade,
prática, oração, planejamento e lide-
rança local. Esses elementos podem
ser evidenciados no ministério do
apóstolo Paulo e também nos minis-
térios de plantadores de igrejas ao
redor do mundo. Vários desses
elementos são corroborados pela
metodologia de Hesselgrave (1995)
para plantação de igrejas. Vamos nos deter um pouco em cada um deles:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


25

■ Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave


(1995), diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas
intencionalmente. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou
e planejou seu nascimento. Alguém orou, enviou missionários, traba-
lhou, se esforçou por entrar em uma sociedade e se manteve perseverante.
Intencionalidade diz respeito a olharmos para uma cidade carente do
evangelho, orar por essa cidade, despertar outros para oração e desper-
tar parceiros para o projeto, enviar um plantador de igrejas para o local,
apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se convertam ao evangelho
de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe em um negócio
indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se envolvem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.


■ Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para
pregar o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são
fechados, com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportu-
nidades nós temos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que
pedir a Deus que os nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.
■ Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de cres-
cimento e plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos
teológicos. Segundo Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é
Bíblico”. Existem métodos que são humanos, carnais e até mesmo malignos.
Nós seremos cobrados por Deus se formos infiéis aos Seus ensinamentos.
■ Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e perma-
nência no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de
plantio de igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos
convertidos o plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajun-
tar é essencial para a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja
plantada é necessário manter a continuidade. Isso é nitidamente obser-
vado no ministério do apóstolo Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava
para ajustar, mandava alguém para visitar, escrevia e enviava cartas, arti-
culava o estabelecimento de lideranças. Orava pelas igrejas plantadas e as
acompanhava permanentemente, visando seu fortalecimento.
■ Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plan-
tio de igrejas é a pouca evangelização. Apesar de haver muita expectativa
de que as pessoas se convertam, há pouca evangelização. Lidório (2011)

Elementos Presentes na Plantação de Igrejas


26 UNIDADE I

nos alerta que Igrejas são plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros,
nas casas, nas matas, nas aldeias, nos condomínios. Igrejas são plantadas
nos lugares onde estão aqueles que ainda não conhecem pessoalmente a
Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas precisa ter é a de ir aos luga-
res onde as pessoas estão.
■ Oração: todos os lugares e épocas em que houve grande avanço mis-
sionário foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é
repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é
transmissão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para
uma convivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em Mateus 18, 18 a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado
nos céus, e tudo o que desligarmos na terra terá sido desligado nos céus”
e que, “se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qual-
quer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhe-á concedida por meu Pai,
que está nos céus”. Isso, obviamente, não significa, de modo algum, que
podemos forçar Deus a fazer o que Ele não quer, mas sim que podemos
reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu perfeito conhecimento
e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos nossas baterias”,
pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata que Jesus,
intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava demô-
nios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia
com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão
e relacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava
refrigério para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm
tempo para orar, para refletir, não têm tempo para ter amizades, para
abrir o coração, não têm tempo para serem pastoreados. Caem em cila-
das malignas porque, no meio do cansaço, não percebem que “baixam a
sua guarda”. Então, tudo que é carnal ganha mais força, aquilo que é do
Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais vulneráveis e rendem-se
a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve ter uma forte vida
de oração e vigilância em Deus.
■ Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira
bem clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um
período de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as ativida-
des que serão desenvolvidas para se alcançar esses alvos. Na Unidade V
trataremos esse assunto de forma específica.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


27

■ Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir


embora no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para
adentrar em novos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos con-
vertidos, pessoas que possam ser treinadas para a futura liderança local
daquela igreja.

Desde já, podemos perceber a grande importância que a pessoa do plantador de


igrejas possui. Suas convicções em Deus, a clareza de um chamado ministerial,
a confiança naquilo que Deus pode fazer, dentre outras, são características fun-
damentais para o desenvolvimento desse ministério. Suas atitudes e disposição
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

farão mais diferença no processo de plantar igrejas do que suas áreas de facili-
dade e habilidade. Na Unidade IV estudaremos aspectos específicos do perfil e
caráter desejados para o plantador de igrejas.

“Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de


orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito” (BÍBLIA, I Samuel
12, 23).
A oração persistente move o coração de Deus e nos concede a chave para
adentrarmos em novos campos missionários.

Elementos Presentes na Plantação de Igrejas


28 UNIDADE I

PERSPECTIVA HISTÓRICA DO PLANTIO DE IGREJAS

A perspectiva histórica do
plantio de igrejas, certamente,
encontra-se entrelaçada com
a história da missão cristã.
Páginas incontáveis têm sido
escritas a esse respeito. Nossa
narrativa histórica detém-se

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ao processo seletivo de esco-
lha dos conteúdos a serem
abordados, considerando-se
que o volume dos aconteci-
mentos é muito vasto, em
diferentes locais geográfi-
cos. Levaremos em conta
aqui apenas alguns pontos
importantes. Hesselgrave,
analisando as abordagens
mais comuns nos últimos
séculos, diz que:
[...] os Reformadores dos séculos XVI e XVII recuperaram a mensagem
da Igreja, mas (na maior parte) estavam demasiadamente preocupa-
dos com os problemas da Europa para darem muito ímpeto às missões
noutras partes do mundo (HESSELGRAVE, 1995, p. 20).

Foram os pietistas, os morávios e um batista com o nome de William Carey que


recuperaram a necessidade urgente de levar o evangelho até aos confins da terra.
No final do século XVII surgiu o pietismo, um movimento de renovação
da fé cristã na Igreja Luterana Alemã, defendendo a importância do sentimento
e da expressão espiritual na experiência religiosa, em detrimento do raciona-
lismo religioso corrente.
Juntamente aos pietistas, os irmãos morávios tiveram grande influência no
avivamento e expansão mundial do evangelho. Os morávios eram eslavos que

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


29

estavam escapando de sua terra natal, a região central e oriental da Europa: em


consequência da guerra dos trinta anos, foram morar nas terras de um conde
muito rico, chamado Zinzendorf, na parte mais oriental da República Tcheca.
Nestas terras, eles estabeleceram a comunidade de Herrnhut, que significa “Redil
do Senhor”.
Eles eram cristãos de diferentes origens denominacionais. Entretanto, no
princípio, estes refugiados de guerra tinham muitas rivalidades entre si. No dia
5 de agosto de 1727, depois de um período prolongado de oração, eles resolve-
ram não mais criar debates e confusões. Praticamente uma semana depois desta
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aliança, no domingo de 13 de agosto, próximo ao meio-dia, numa reunião na


qual se celebrava a Ceia do Senhor, mudanças começaram a acontecer.
Nessa reunião, a presença e a bênção de Deus vieram de forma poderosa.
Tanto o grupo presente quanto o pastor caíram diante de Deus. Todos permane-
ceram prostrados até a meia noite, tomados em oração, cânticos, choro e súplicas.
Eles se sentiram muito pecadores e também muito felizes por causa da graça de
Deus, que os trouxe à salvação. Seus desentendimentos e conflitos foram emu-
decidos; suas paixões e orgulho foram crucificados.
Eles entenderam que, da mesma maneira como nunca se havia permitido
que o fogo sagrado se apagasse no altar, eles, que eram o templo do Deus vivo,
jamais deveriam deixar que o fogo da oração deixasse de subir a Deus, como um
incenso santo. Com esse objetivo, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram reuniões de
oração diárias que duravam 24 horas. Essas reuniões de oração começaram no
dia 26 de agosto de 1727 e terminaram somente depois de 26 de agosto de 1827.
Foram mais de 100 anos de oração ininterrupta. Durante esse tempo, o amor
pelos perdidos cresceu de tal maneira que em vinte cinco anos eles enviaram mais
missionários que todas as igrejas protestantes da época em conjunto. A vida que
eles desenvolveram em Deus mudou o curso de toda a história.
Durante esse período nasce William Carey - cuja biografia foi escrita por
George Smith (1885) - que foi o pai das missões modernas, trazendo grande
contribuição e transformação no movimento de plantio de igrejas. Era inglês e
viveu entre 1761 e 1834. Aos 18 anos de idade, Carey recebeu a Cristo como seu
salvador pessoal, passando a frequentar uma pequena Igreja Batista.
Desde então, Carey começou a estudar as escrituras, idiomas e ciências,

Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas


30 UNIDADE I

embora tenha tido, na infância, uma formação modesta. Com sua dedicação
ao Senhor e estudos da Bíblia, Carey concluiu que a evangelização mundial era
a principal responsabilidade da Igreja de Cristo. Sua denominação não aceitou
suas declarações, dizendo que se Deus resolvesse converter os gentios o faria
sem a ajuda de Carey.
Em 1792 Carey publicou um livro de 87 páginas intitulado “Uma investi-
gação sobre o dever dos cristãos de empregarem meios para a conversão dos
pagãos”. Este se tratava de uma avaliação do mundo de seus dias, que refletia a
necessidade urgente da proclamação do evangelho a todas as nações da terra.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No mesmo ano ocorreu a organização da Sociedade Missionária Batista, e Carey
se ofereceu para ser o primeiro missionário enviado.
Menos de um ano depois, em junho de 1793, ele e sua família partiram para
a Índia como membros da mesma sociedade. Carey chegou em Hooghly no dia
11 de novembro de 1793, marcando o início da grande era das missões além mar,
promovidas pela Inglaterra e Estados Unidos.
O trabalho de Carey na Índia foi excepcional e inusitado: ele tinha uma visão
missionária muito à frente do seu tempo, dedicando-se à causa cristã sem afron-
tar os aspectos da cultura local que não feriam os valores revelados por Deus
nas páginas da Bíblia Sagrada. Sua importância para o cristianismo na Índia
foi extraordinária. Junto com William Ward e Joshua Marshman, missionários
que se juntaram a ele em 1799, fundaram 26 igrejas, 126 escolas e traduziram
a Bíblia para 44 idiomas, além da vasta contribuição social que exerceu grande
impacto na Índia.
Lidório comenta que William Ward, companheiro e contemporâneo de
Carey, escreveu, em 1805, em um jornal criado pela equipe:
[...] ao plantarmos igrejas distintas, pastores nativos devem ser escolhi-
dos […] e missionários devem preservar suas características originais,
dedicando-se ao plantio de novas igrejas e supervisionando aquelas já
plantadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Lidório também cita Henry Venn e Rufus Anderson que começam a delinear a
necessidade de que as igrejas plantadas guardem autonomia e suficiência como
um organismo vivo:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


31

[...] em meados do século 19, Henry Venn e Rufus Anderson direcio-


naram a Igreja através de sua intencionalidade no plantio de igrejas,
justificando que as mesmas deveriam, ao serem plantadas, ter três ca-
racterísticas básicas: serem autopropagáveis, autogovernáveis e autos-
sustentadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Criava-se o conceito de Igrejas Autóctones, ou seja, igrejas locais com formação e


liderança nativa, as quais possuem autonomia de sustento, liderança e propagação.
Hesselgrave (1995), considera por demais estreita a visão de evangelização
sem o ajuntamento dos convertidos em uma igreja local:
[...] nas últimas décadas do século XIX e no presente século, a evangeli-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zação tem sido quase totalmente identificada com grandes campanhas


ou cruzadas que visam ganhar os indivíduos para uma decisão por
Jesus Cristo. De um lado, há esse fato. E do outro lado, certo núme-
ro de métodos cuidadosamente elaborados de evangelização pessoal
(individual) foram desenvolvidos com o mesmo fim em mira. Tanto a
evangelização das campanhas, quanto a evangelização pessoal devem
ser encorajadas. Mas, conforme são frequentemente praticadas, não
colocam novos crentes em contato vital com as igrejas locais. Propor-
cionalmente, uma ênfase grande demais tem sido dada à multiplicação
dos convertidos- e uma ênfase totalmente insuficiente à multiplicação
das congregações (HESSELGRAVE, 1995, p. 21).

Não podemos deixar de considerar que muitos dos movimentos missionários


no decorrer dos séculos nem sempre tinham clareza de seus propósitos. Muitas
atividades sociais consistentes foram desenvolvidas, como criação de escolas, hos-
pitais, orfanatos, campanhas humanitárias em todo o mundo, a favor da saúde,
do saneamento, até mesmo da agricultura. Ações dignas de reconhecimento e
elogios. Entretanto, estas atividades por si só não faziam discípulos, nem esta-
beleciam igrejas.

Observaremos que o plantio de uma nova igreja não está pautado naquilo
que a força humana pode fazer, mas que igreja é obra de Deus e manifesta-
ção poderosa do Espírito Santo. Nada pode deter vidas que encontram em
Deus sua suficiência.

Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas


32 UNIDADE I

Lidório (2011) denomina alguns movimentos missionários na história da expansão


da Igreja como “esquisitices metodológicas”. Esses devaneios não foram ocasio-
nados por infidelidade a Deus ou desejo intencional de liberar-se dos princípios
da fé cristã verdadeira, mas decorreram da ausência de amparo bíblico e teoló-
gico para algumas metodologias adotadas ao longo do processo de proclamação.
Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mun-
do atual, podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais
comuns em tais processos está ligado a alguns fatores, sobre os quais
escrevo a seguir:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do dis-
cipulado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.

A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluin-


do o valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos,
sem funções, desafios ou envolvimento.

A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos me-


canismos puramente pragmáticos.

A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho


sem sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da re-
alidade da vida.

A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades super-


ficiais na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou
nominalismo.

O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, des-


gastando pessoas, recursos, tempo e minimizando o que deveria ser o
maior e mais amplo investimento: a proclamação do evangelho (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 16-17).

Neste ponto de nossa disciplina, já se torna claro o íntimo relacionamento entre


proclamação do evangelho e a plantação de igrejas, que não podem ser disso-
ciadas sem prejuízo à missão da Igreja. Outro aspecto de suprema relevância diz
respeito à necessidade de considerarmos que também não é possível realizar o
divórcio entre a missão da igreja e teologia da missão. Vamos continuar cami-
nhando na Unidade II, de forma a buscar uma base teológica sólida e coerente
para a plantação de igrejas, ou seja, a glória de Deus.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


33

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da Unidade I. Começamos falando sobre a evangelização e


plantio de igrejas, que são ações diferentes, podendo a evangelização tratar-se
ou não de um processo. Já o plantio de igrejas sempre será um processo. Você
também deve ter compreendido que templo não é igreja.
Suponha agora que você decidiu iniciar o plantio de uma igreja. Quais serão
as etapas desenvolvidas neste processo? Você se lembra? Ir, evangelizar, fazer dis-
cípulos, congregar os convertidos, formar líderes e acompanhar. Cada uma dessas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

etapas, é de fundamental importância para o plantio de igrejas. Talvez, durante


as primeiras etapas você possa se ausentar por algum tempo.
Entretanto, a partir do momento em que os convertidos são congregados,
sua presença será imprescindível, até o momento em que a nova igreja tenha sua
liderança local treinada e estabelecida. Isso ocorre em pelo menos três anos. A
partir daí você pode orar pelo desafio de um novo campo, sempre considerando
a importância de manter o acompanhamento, assim como fazia o apóstolo Paulo.
Pois bem, e os elementos presentes na plantação de igrejas indicados por
Lidório? Você pode enumerá-los comigo? Intencionalidade, Oportunidade,
Teologia, Continuidade, Prática, Oração, Planejamento e Liderança Local. Cada
um deles deve estar presente para que a nova igreja seja plantada em um fun-
damento sólido.
Por fim, você deve considerar a perspectiva histórica que observamos nos
últimos séculos, recebendo a inspiração de homens e mulheres comuns, mas
que aprenderam a depender da suficiência e do poder de Deus e foram encon-
trados em pleroforia, a plena convicção de que estavam no lugar certo, na hora
certa, realizando a vontade de Deus.
Tenho certeza de que, no decorrer de nossos estudos, você poderá entender
melhor seu papel como colaborador(a) da lavoura de Deus. É Ele que nos atrai
com seu amor e nos enche de paixão pelas almas.

Considerações Finais
34

1. Observamos a existência de dois fundamentos muito relevantes na evangeliza-


ção, traduzidos por duas palavras de origem grega: kerigma e martyrium. Qual o
significado desses termos?
2. Nosso conceito de igreja, principalmente no Brasil, está atrelado a templo. Quan-
do falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes pensamos no aspecto do edi-
fício e não em pessoas. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade,
qual a diferença entre igreja e templo?
3. Considerando a plantação de igrejas um processo, descreva resumidamente
duas fases ou etapas envolvidas nesse processo.
4.  Descreva e comente dois dos oito elementos essenciais em plantação de
igrejas, quais sejam: intencionalidade, oportunidade, teologia, continuidade,
prática, oração, planejamento e liderança local. Esses elementos podem ser evi-
denciados no ministério do apóstolo Paulo e também nos ministérios de planta-
dores de igrejas ao redor do mundo.
5. Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mundo atual,
podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais comuns em tais
processos, indicados por Lidório estão ligado a fatores estruturais e teológicos
da missão. Cite e explique dois desses fatores.
35

Quando olhamos para o início da igreja vemos o quanto os irmãos viviam em oração.
Basta lermos os capítulos iniciais do livro de Atos e saberemos o porquê de tanto poder
em manifestação naqueles dias. Não era porque eles eram mais especiais do que nós,
nem pelo fato da igreja estar em seu início. A causa do poder estava na vida de comu-
nhão, de uma vida de oração.
O missionário e missiólogo Patrick Johnstone, em seu livro Intercessão Mundial, diz que:
“Quando o homem trabalha, o homem trabalha; quando o homem ora, Deus trabalha”.
Jorge Müller costumava dizer que “Um crente pode fazer mais em quatro horas, depois
de empregar uma em orar, que cinco sem orar”.
Precisamos entender que, para realizarmos a obra que o Senhor nos tem chamados, a
fazer, não seremos bem sucedidos se não orarmos. O poder ou a manifestação do poder
está numa vida de oração individual e congregacional.
No que tange à obra missionária – evangelismo de escopo mundial - temos aprendido
que podemos fazer a diferença no curso da vida de muitas pessoas por causa da nossa
vida de oração.
Em I Timóteo 2:4, a Bíblia nos diz que é a vontade de Deus que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Mas isto irá acontecer só porque
é vontade de Deus? Não!
Como já disse John Wesley: “Nos parece que Deus é limitado pela nossa vida de oração.
Ele nada faz pela humanidade a menos que alguém o peça para fazê-lo”.
Para que a vontade de Deus, expressa em I Timóteo 2:4 se cumpra, se faz necessário duas
ações do homem: orar e evangelizar.
Reinhard Bonnke diz em seu livro, Evangelismo por Fogo que “Evangelismo sem inter-
cessão é um explosivo sem um detonador. Intercessão sem evangelismo é um detona-
dor sem um explosivo”. Se juntarmos esses dois indispensáveis ingredientes, no entanto,
poderemos transformar o mundo, como foi dito com respeito a Paulo e Silas em Atos 17.
Precisamos ir, precisamos evangelizar e será a nossa oração que preparará o caminho
para nós passarmos. A nossa missão depende da nossa vida de oração!
Fonte: Verbo vida (2015, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e


transculturais
David Hesselgrave
Editora: Vida Nova
Sinopse: o livro de Hesselgrave é um guia passo a passo para a
plantação de igrejas numa cultura diferente da cultura do plantador.
Embora sistemático, evita o simplismo. Pelo contrário, cada passo é explicado na prática e na teoria.
COMENTÁRIO: considero esse um dos livros mais importante sobre plantação transcultural de igrejas
já publicado até o momento.

Uma chama na escuridão


“Uma chama na escuridão” é daqueles filmes que não são para
serem esquecidos. A produção de Mike Pritchard conta a história
de William Carey, “O pai das Missões Modernas”. É possível tomar
conhecimento do que é a certeza de ser chamado por Deus. Mesmo
contra a opinião daqueles à sua volta, Carey partiu para a Índia, em
1793, para pregar a Palavra de Deus. Muitas são as dificuldades, mas
nada o impede de perseverar. Ficou conhecido como “O amigo da
Índia” e “ficou encarregado de traduzir mais versões da Bíblia do que
haviam sido feitas durante a história do cristianismo até aquela época”.

APRESENTAÇÃO: o Instituto Antropos atua nas áreas de antropologia, pesquisa sociocultural e


missiologia aplicada sob coordenação de Ronaldo e Rossana Lidório e com a colaboração de
diversos consultores técnicos. Encontramos disponível nesse ambiente um material consistente,
prático e aplicável. O Instituto se compromete a prestar um serviço gratuito e acessível nas
áreas propostas (antropologia, missiologia, linguística e cuidado missionário), fornecendo
metodologias para a pesquisa sociocultural (étnica ou urbanizada), aquisição de língua e plantio
de igrejas.
O Instituto Antropos é também um portal que abriga outros três sites: a “Antropos - Revista de
Antropologia” <www.revista.antropos.com.br>, “Missionews - Revista de Missiologia” <www.
missionews.com.br> e “Plantando Igrejas” <www.plantandoigrejas.org.br>, com sua versão em
Inglês “Church Planting” <www.churchplanting.com.br>.
Para saber mais acesse: <http://instituto.antropos.com.br/v3/>.
37
REFERÊNCIAS

BASTOS, A. C. Metodologia de Plantação de Igrejas. Uberlândia: Escola de Planta-


dores de Igrejas, 2010.
BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-
alizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais.
São Paulo: Vida Nova, 1995.
LIDÓRIO, R. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos,
2011.
SMITH, G. The life of Willian Carey, Shoemaker & Missionary. London: Paperback,
1885.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.significados.com.br/processo/>. Acesso em: 19 maio. 2017.
2
Em: <http://verbodavida.org.br/lista-blogs/direto-da-agencia/vida-de-oracao-2>.
Acesso em: 19 maio. 2017.
GABARITO

1.  Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o significa-


do de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja, comunicação
verbal inteligível. Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testa-
mento com o significado de testemunho. Ou seja, comunicar com nossas ações.
2. Igreja não é estrutura, não é templo, não é instituição, mas são pessoas conver-
tidas ao Senhor Jesus. Em Atos, capítulo 2, a igreja louvava a Deus no templo
e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, e gentios, que
preferiam as casas. Mas eles eram unânimes, gentios estavam no templo e ju-
deus estavam nas casas.
É muito importante lembrar que nos primeiros trezentos anos da história da
igreja de Jesus não havia “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam
de ser igreja. Até mesmo nos dias atuais, lugares onde ter um prédio para a reu-
nião da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem sem
prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus.
3. Indicamos a seguir essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a
plantação de uma igreja:
Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles que são
comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos. Foram salvos pela
fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando arrependimento e foram
transformados pela obediência aos ensinamentos do Senhor.
Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida, quem
é Jesus e o que Ele fez por nós.
Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele que
leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende. Essa etapa
envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.
Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações, de-
vem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.
Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o chamado
do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira mais próxima e
pessoal, com o propósito de que a nova congregação tenha um governo local,
ou para que esses sejam enviados a novos campos ainda não alcançados.
Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, continua-
mente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e fortalecimento
da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo Paulo.
4.  Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave (1995),
diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas intencionalmen-
te. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou e planejou seu nas-
cimento. Alguém orou, enviou missionários, trabalhou, se esforçou por entrar
em uma sociedade e se manteve perseverante. Intencionalidade diz respeito a
39
GABARITO

olharmos para uma cidade carente do evangelho, orar por essa cidade, desper-
tar outros para oração e despertar parceiros para o projeto, enviar um plantador
de igrejas para o local, apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se con-
vertam ao evangelho de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe
em um negócio indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se
envolvem com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.
Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para pregar
o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são fechados,
com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportunidades nós te-
mos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que pedir a Deus que os
nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.
Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de crescimento e
plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos teológicos. Segundo
Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é Bíblico”. Existem métodos que
são humanos, carnais e até mesmo malignos. Nós seremos cobrados por Deus
se formos infiéis aos Seus ensinamentos.
Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e permanência
no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de plantio de
igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos convertidos o
plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajuntar é essencial para
a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja plantada é necessário
manter a continuidade. Isso é nitidamente observado no ministério do apóstolo
Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava para ajustar, mandava alguém para visi-
tar, escrevia e enviava cartas, articulava o estabelecimento de lideranças. Orava
pelas igrejas plantadas e as acompanhava permanentemente, visando seu for-
talecimento.
Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plantio de
igrejas é a pouca evangelização. Há muita expectativa de que as pessoas se con-
vertam, mas, com pouca evangelização. Lidório (2011) nos alerta que Igrejas são
plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros, nas casas, nas matas, nas aldeias,
nos condomínios. Igrejas são plantadas nos lugares onde estão aqueles que ain-
da não conhecem pessoalmente a Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas
precisa ter é a de ir aos lugares onde as pessoas estão.
Oração: em todos os lugares e épocas, onde houve grande avanço missioná-
rio, esse avanço foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é
repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é trans-
missão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para uma con-
vivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina, em Mateus 18, 18
a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que
desligarmos na terra terá sido desligado nos céus” e que, “se dois dentre vós,
sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pe-
GABARITO

direm, ser-lhe-á concedida por meu Pai, que está nos céus”; isso, obviamente,
não significa, de modo algum, que podemos forçar Deus a fazer o que Ele não
quer, mas sim que podemos reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu
perfeito conhecimento e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos
nossas baterias”, pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata
que Jesus, intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava
demônios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia
com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão e re-
lacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava refrigério
para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm tempo para orar,
para refletir, não têm tempo para ter amizades, para abrir o coração, não têm
tempo para serem pastoreados. Caem em ciladas malignas porque, no meio do
cansaço, não percebem que “baixam a sua guarda”. Então, tudo que é carnal
ganha mais força, aquilo que é do Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais
vulneráveis e rendem-se a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve
ter uma forte vida de oração e vigilância em Deus.
Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira bem
clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um período
de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as atividades que serão
desenvolvidas para se alcançar esses alvos.
Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir embora
no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para adentrar em no-
vos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos convertidos, pessoas que
possam ser treinadas para a futura liderança local daquela igreja.
5.
• A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do discipu-
lado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.
• A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluindo o
valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos, sem fun-
ções, desafios ou envolvimento.
• A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos meca-
nismos puramente pragmáticos.
• A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho sem
sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da realidade
da vida.
• A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades superficiais
na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou nominalis-
mo.
• O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, desgas-
Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

TEOLOGIA BÍBLICA DO

II
UNIDADE
PLANTIO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■ Assinalar a interdisciplinaridade entre Teologia e Missiologia.
■ Compreender a soberania do reinado de Deus na plantação de
igrejas.
■ Compreender os critérios teológicos para o plantio de igrejas.
■ Refletir sobre cosmovisão e contextualização no processo bíblico de
proclamação da mensagem.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Acordo entre Teologia e Missiologia
■ Reflexão Crítica sobre Missio Dei e Reinado de Deus
■ Orientação Teológica para o Plantio de Igrejas
■ Cosmovisão e Contextualização
43

INTRODUÇÃO

Neste momento, vamos considerar um aspecto muito importante do plantio de


igrejas: a necessidade de pautar toda obra de concepção de igrejas sob a luz da
revelação de Deus. Toda igreja deve ter como objetivo de sua existência glorifi-
car a Deus e fazê-Lo conhecido na terra. Assim, a sabedoria, o poder e a graça
de Deus poderão ser testemunhados por todo o mundo. Nesse sentido, é preciso
conhecimento teológico adequado para que a mensagem comunicada reflita o
querer e a vontade divina.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para que todas as famílias da terra sejam alcançadas pelo evangelho, neces-
sitamos plantar igrejas nas cidades, nos povoados, em lugares longínquos e nas
tribos de diferentes etnias. Observaremos o modelo do apóstolo Paulo, que con-
siderou o desafio de evangelizar e plantar igrejas entre todos os povos, mas sem
separar a ação missionária da doutrina bíblica correta. Apresenta-se, para nós, a
necessária interdependência entre teologia e plantação de igrejas: uma não pode
sobreviver sem a outra.
Faremos uma reflexão crítica sobre a Missio Dei e o reinado de Deus, buscando
conciliar Missão e Evangelização. Atualmente, sabemos que o mundo organiza-
cional aborda enfaticamente missão como a razão de ser de uma organização.
Na missão, tem-se destacado o que a empresa produz, sua expectativa de êxito
futuro e como espera ser identificada pelos clientes e pelo mercado; entretanto,
quando abordamos a Missão de Deus, não estamos falando de nenhum empre-
endimento humano, mas do propósito supremo de Deus em redimir Sua criação.
Na finalização da unidade, trataremos a relevância de conhecermos os con-
textos culturais em que a evangelização ocorre, seus objetivos, limitações e a
necessidade de que o conteúdo teológico não se perca.
Bons estudos!

Introdução
44 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ACORDO ENTRE TEOLOGIA E MISSIOLOGIA

Caro(a) aluno(a), iniciamos nossa abordagem sobre a teologia bíblica do plan-


tio de igrejas. Embora esse assunto seja muito vasto, vamos nos deter a alguns
aspectos específicos. Primeiramente, compreendemos o plantio de igrejas como
um ato coordenado pela suprema vontade de Deus, por meio do qual igrejas são
estabelecidas para que homens e mulheres sejam introduzidos na vida eterna,
Deus seja adorado e o Reino Eterno estabelecido.
Para que você possa compreender melhor o contexto que encontramos em
muitos campos missionários, ou mesmo no imenso volume de denominações
existentes, considere o seguinte desafio apresentado por Wright (2012):
[...] pense numa doutrina - qualquer doutrina do período de 200 a 2000
d.C. Multiplique-a pelas confissões históricas. Divida pelas variações
denominacionais. Acrescente uma suspeita de heresia. Subtraia a dou-
trina em que pensou primeiramente. Que sobrou? Provavelmente, a
soma aproximada do que teologia e missões têm em comum na mente
do cristão mediano - não muito. Afinal, teologia está na cabeça - refle-
xões, argumentos, ensinos, credos e confissões de fé. Pensamos numa
biblioteca teológica onde as ideias são estocadas. Missão ou missões
é fazer - resultados práticos, dinâmicos e executáveis. Pensamos no
campo missionário como um lugar onde as pessoas vão e fazem coisas
emocionantes. Teologia e missões parecem não ter muita coisa em co-
mum; também é fácil termos a impressão de que aqueles que parecem
ser mais interessados numa coisa, têm menos interesse na outra (WRI-
GHT, 2012, p. 25).

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


45

No decorrer dos séculos, o trabalho de proclamação do evangelho tem sofrido


muita oposição. O entendimento da ordem divina, por muitas vezes, teve inter-
pretações estanques, à vista de uma visão antropológica, ou seja, centrada no
homem. O afastamento entre a ação missionária e uma correta teologia bíblica
tem trazido sérios problemas à Igreja do Senhor.
Michael Green (1989, p. 7) afirma que “a maior parte dos evangelistas não
se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa muito
por evangelização”. Quando a ação missionária não é pavimentada por um cor-
reto raciocínio teológico, corre-se o risco da ineficácia e da frustração.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ronaldo Lidório (2011) faz uma análise de aspectos que, historicamente, tra-
zem limitações ao processo de plantio de igrejas. Essas limitações esclarecem, de
certa forma, a tendência do afastamento entre teologia e missiologia ocorrido
em diversas partes do mundo. Nossa intenção é permitir a problemática, com
vistas à construção de um entendimento teológico apropriado. Consideremos
algumas das limitações indicadas por Lidório (2011):
a) Como o assunto de plantio de igrejas está ligado à metodologia e pro-
cesso de campo, a tendência é avaliá-lo mais pelos resultados que produz do
que por seus fundamentos teológicos. Lidório (2011, p. 5), classifica esse fato
como “abordagem pragmática”, o qual traz a possibilidade de se deixar de
lado “o que é bíblico e teologicamente evidente” por aquilo que é prático e traz
melhores resultados; contudo, o divórcio entre teologia e missiologia não acon-
tecerá sem graves consequências e prejuízos para o plantio de igrejas. Portanto,
teremos como premissa de nossa abordagem acadêmica as raízes teológicas do
trabalho realizado pelos apóstolos no estabelecimento da igreja primitiva. Sua
ação é descrita na Grande Comissão do Senhor Jesus Cristo e seu processo de
semeadura do evangelho deve ser observado. Não devemos nos fundamentar
por meio daquilo que funciona, mas pelo que é bíblico e teologicamente correto.

Acordo Entre Teologia e Missiologia


46 UNIDADE II

Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é que a


ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias
de todos os efeitos imaginários atribuídos por nós a esse objeto, que passou
a ter um efeito prático qualquer.
Ser partidário do pragmatismo é ser prático, ser pragmático, ser realista.
Aquele que não faz rodeio, que tem seus objetivos bem definidos, que con-
sidera o valor prático como critério da verdade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

b) Além da abordagem pragmática, Lidório (2011, p. 6) indica a “aborda-


gem sociológica” como uma limitação ligada ao conceito da missão e plantio de
igrejas. Isso ocorre quando tomamos decisões baseadas na avaliação e interpre-
tação sociológica das necessidades humanas e não nas instruções das Escrituras.
Nesse caso, ocorre uma flexibilização da teologia para atendimento de certos gru-
pos ou segmentos. A plantação de igrejas deve ter por base a Missão de Deus
em sua mais pura teologia bíblica. A chegada do evangelho sempre produzirá
avanço social, entretanto, a evangelização e o plantio de igrejas têm por objetivo
a reconciliação do homem com Deus, a obediência a Cristo e a entrada em Sua
Igreja em um serviço responsável no mundo, como prevê o Pacto de Lausanne.
O serviço social está presente, mas não pode ser estabelecido como fundamento
para realização da missão.
c) Uma terceira limitação no estudo de plantio de igrejas é a “abordagem
eclesiológica”, a qual está ligada à nossa compreensão da própria identidade da
Igreja. Sobre isso, consideramos as observações de Lidório:
[...] apesar da Igreja possuir um papel prioritário em termos de atua-
ção missionária, seu valor intrínseco, extramissão proclamadora, pre-
cisa ser reconhecido porque é o resultado do sacrifício de Jesus e Ele
e a Cruz são o centro do plano de Deus. Assim, apesar da Missão ser
uma constante prioridade bíblica na vida da Igreja, não devemos defi-
nir essa Igreja apenas a partir da proclamação do evangelho, sob pena
de nos tornarmos extremamente funcionalistas e utilitários. Adoração,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


47

doutrina, fidelidade, santidade, unidade e comunhão são, também, im-


portantes aspectos que compõem a identidade da Igreja. Assim sendo,
a Igreja não é um instrumento primariamente desenhado para evange-
lizar pessoas, mas um instrumento para glorificar a Deus (Ef 3:10) e a
proclamação - evangelização - é uma de suas funções e resultado de sua
existência (LIDÓRIO, 2011, p. 6).

Lidório (2011), apresenta o risco de termos igrejas evangelizadoras que não vivem
a palavra de Deus. Esse entendimento eclesiológico não dispensa a Igreja da
prioridade da proclamação do evangelho. Ainda que a evangelização não seja a
única característica procurada por Deus em Sua Igreja é uma prioridade urgente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para a salvação de um mundo perdido que necessita ser reconciliado com Deus.
Diante de toda problemática apresentada quanto às possíveis fragilidades na
definição de uma teologia correta para a prática missiológica, consideramos que
nenhuma ação missionária deve ser tratada de forma isolada, mas deve ter sua
prática consolidada em toda teologia bíblica. Temos como fonte e motivação o
próprio Deus. Nesse sentido Peters (2000, p. 32), cita Webster: “[...] nós come-
çamos, então, onde a missão começa, com Deus”.
Outro teólogo contemporâneo que nos
auxilia no entendimento da conciliação entre
Teologia e Missiologia é Charles Van Engen
(1996). Ele considera, em seus estudos, que as
igrejas locais têm uma razão de serem multifa-
cetadas no que diz respeito à sua participação no
mundo, por meio da comunhão, proclamação,
serviço e testemunho. Devido ao grande número
de agências missionárias sem qualquer vínculo
denominacional, as igrejas locais, como agen-
tes missionários, ficaram relegadas a celeiros de
candidatos e fontes de suporte financeiro. Muitas
agências, organizações e instituições missioná-
rias são os únicos agentes missionário de Deus.
Dessa forma, a Eclesiologia passou a não ser tratada como assunto sério na
discussão dessas instituições. Por outro lado, as igrejas locais se divorciaram, mui-
tas vezes, da própria natureza, propósito e papel como comunidade comprometida

Acordo Entre Teologia e Missiologia


48 UNIDADE II

com a missão de Deus neste mundo. Ambos os aspectos não podem ser teologi-
camente admissíveis, mas, muitas vezes, se consolidaram na prática. Assim, no
pensamento da grande maioria dos cristãos, as palavras “igreja” e “missão” pas-
saram a expressar dois tipos diferentes de sociedade.
Van Engen (1996), tem como tese principal que à medida em que as congre-
gações locais são estabelecidas, a fim de alcançar o mundo por meio da missão,
elas se tornam de fato o que elas já são pela fé: povo missionário de Deus. Quando
a palavra “missão” é usada no singular está se referindo a Missio Dei, e quando
a palavra é usada no plural (missões), refere-se aos diversos meios pelos quais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a Missio Dei é realizada.
Lidório aponta três perigos quando a Teologia e Missiologia não são perce-
bidas como parceiras:
1. Usar Deus como um instrumento para realizar nossos propósitos
no plantio e crescimento de igrejas em lugar de servi-lo no cumpri-
mento de Seus planos na Terra (I Coríntios, 3:11).

2. Oferecer soluções simplistas para problemas complexos em relação


à comunicação do evangelho, contextualização e plantio de igrejas.

3. Utilizar a Teologia com finalidade puramente acadêmica e não apli-


cável à Igreja, sua vida e dinâmica.

Quando analisamos os ensinos de Paulo, entendemos que seu minis-


tério estava fundamentado em suas convicções teológicas, inspirando-
-nos a refletir sobre Deus e Sua ação no mundo. Missiologia e Teologia,
indisputavelmente, devem caminhar de mãos dadas para a glória de
Deus, a fidelidade às Escrituras e a evangelização dos perdidos (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 10-11).

Não podemos trabalhar para Deus utilizando critérios humanos. Os obreiros


pertencem a Deus, os campos pertencem a Deus e um dia prestaremos contas de
tudo o que fizermos. Somente o que foi edificado em Cristo permanecerá para a
eternidade. Toda ação missionária e de tratamento da Igreja de Cristo deve ser
tomada com sólida base teológica. Lidório ainda nos auxilia a concluir com o
entendimento de que:
[...] missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separa-
das de estudo, mas como disciplinas complementares. A Teologia não
apenas coopera com a Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


49

e a base para o plantio de igrejas como também provê o entendimento


bíblico motivacional para o evangelismo. A Missiologia, por outro lado,
dirige teólogos para o plano redentivo de Deus e os ajuda a ler as Es-
crituras sob o pressuposto de que há um propósito para a existência da
Igreja (LIDÓRIO, 2011, p. 9).

Pacto de Lausanne - Item 4. A Natureza da Evangelização


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos
pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei,
Ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a
todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo
é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de di-
álogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. [...]
Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o
custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e
negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova
comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo,
o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.
Fonte: Lausanne (1974, on-line)2.

Acordo Entre Teologia e Missiologia


50 UNIDADE II

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE MISSIO DEI E REINADO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DE DEUS

No tempo presente, ouvimos dizer sobre a necessidade de uma visão holística


para entendimento da missão de Deus. Trata-se de uma percepção mais abran-
gente da revelação de Deus, na qual a construção conceitual busca considerar
o todo da nossa missão. Entretanto, ainda há o risco de que essa visão perma-
neça muito antropocêntrica ou eclesiocêntrica e o homem continue ocupando
um lugar deslocado, fazendo com que o objetivo do evangelismo e da ação social
seja preencher as necessidades humanas.
Alguns autores conceituam a igreja como missional. A ideia associada a essa
definição é que tudo o que a igreja faz deve ter o aspecto missional, ou seja: pôr
a missão em prática no local onde está a igreja. Ed Stetzer (2015, p. 37) diz que
“ser missional significa ser missionário sem mudar de CEP”. Novamente corre-
mos o risco de mantermos o foco em nós e, também, colocarmos a Igreja nessa
equação. Nessa versão da igreja missional, busca-se identificar quais aspectos
deveriam ser incluídos dentro da missão da Igreja.
Nos deparamos com a discussão e averiguação de argumentos válidos para
identificar qual é a missão legítima da Igreja. Se buscarmos uma definição de
missão a partir do ser humano, colocando-o como o objeto ou agente da mis-
são, nos encontraremos argumentando, e não chegando a uma resposta mais
conclusiva. Uma das maneiras de resolvermos essa argumentação é, ao invés
de começarmos tendo o homem como ponto de partida, reconhecermos que a
missão deve ser compreendida teocraticamente, tendo como sua origem a reve-
lação e o conhecimento do próprio Deus.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


51

A reflexão de Georg Vicedom (1965, p. 4) nos auxilia por aproximar-se muito


do pensamento bíblico quando diz que “a Bíblia em sua totalidade designa ape-
nas uma intenção de Deus: salvar a humanidade”.
Nesse ponto, percebemos a importância primordial da missão de Deus no
estabelecimento presente e futuro do reinado de Deus. A igreja, o pastor e o teó-
logo devem aproximar-se das questões da organização da missão e do plantio
de igrejas, pois estes não devem ser tratados como assuntos isolados e indepen-
dentes da vida da Igreja, nem mesmo como assuntos que acontecem fora das
suas fronteiras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo Bosch (2002), Karl Barth foi um dos primeiros teólogos a apresentar
a missão como atividade de Deus quando, em 11 de abril de 1932, expôs um tra-
balho na Conferência Missionária de Brandemburgo, em Berlim, na Alemanha. A
influência de Barth no pensamento missionário atingiria seu auge na Conferência
de Willingen, em 1952. Em Willingen, reapareceu um antigo termo: Missio Dei
(expressão derivada do latim, que significa missão de Deus). Foi lá que a ideia
da Missio Dei emergiu de maneira clara, com a compreensão de que a missão é
derivada da própria natureza de Deus, sendo colocada no contexto da doutrina
da Trindade, e não da Eclesiologia ou da Soteriologia. Outro nome que se desta-
cou na Conferência de Willingen foi o de George Vicedom, autor da famosa obra
“Missio Dei: An Introduction to the Science of Mission”. A ênfase de Vicedom foi
de que Deus é o sujeito ativo da missão. Por isso, Barth diz que a Teologia enga-
ja-se em fazer o papel do anjo que lutou com Jacó, formulando e colocando as
perguntas certas a cada momento da igreja e da sua missão.
[...] estabelecida a “diversidade”, grandeza, excelência e glória de Deus,
tornando todas as suas obras dependentes dEle. De uma maneira es-
tranha e silenciosa, essa Teologia deixou de lado o conceito bíblico do
Deus vivo, do propósito de Deus, do Deus da história, da ação e dos
relacionamentos existenciais, do Deus de aqui e agora, do Deus que
está atualmente executando seu plano e programa, do Deus que é um
Deus sociável, um Deus de missão. Dessa forma, a Teologia se ocupou
mais como Deus celestial do que com o Deus da criação, o Deus sem-
pre presente na salvação e em missões. Essa inadaptação naturalmente
conduz a um divórcio entre Teologia e missões (PETERS, 2000, p. 33).

Peters afirma que, apenas se a missão tiver sua fonte, sua natureza e autoridade
no Deus trino e uno, ela pode realmente gerar uma motivação duradoura e

Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus


52 UNIDADE II

tornar-se cristã e significativa. Em qualquer outro nível, ela permanecerá huma-


nizada, não importa o quão “religiosa” ou “cristã” essa classificação possa ser. O
fracasso do expansionismo de missões e da Igreja no mundo se deve, principal-
mente, a uma Teologia incompleta e desequilibrada.
Na Conferência de Willingen reconheceu-se que a igreja não poderia ser
nem o ponto de partida nem o alvo da missão. A obra salvífica de Deus
precede tanto a igreja quanto a missão. Não se deveria subordinar a mis-
são à igreja e, tampouco, a igreja à missão; pelo contrário, ambas deveriam
ser inseridas na missio Dei que se tornou então o conceito abrangente. A
missio Dei, missão de Deus, institui as missiones ecclesiae (missões da igre-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ja). A igreja deixa de ser a remetente para ser a remetida. A missão não é
primordialmente uma atividade da igreja, mas um atributo de Deus. Deus
é um Deus missionário. Compreende-se a missão, desse modo, como um
movimento de Deus em direção ao mundo; a igreja é vista como um ins-
trumento para essa missão (BARRACA, 2010, on-line)3.

Nessa ideia, compreendemos missão tendo início no próprio Deus. Como nos
edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão é uma
obra essencialmente de Deus.
Participar da missão é participar do movimento de amor de Deus para
com as pessoas, visto que Deus é uma fonte de amor que envia (BOS-
CH, 2002, p. 468).

O sentido ampliado da Missio Dei foi trazido por Bosch e nos detalha o caráter
missionário de Deus:
[...] a doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o
Filho, e Deus, o Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no
sentido de incluir ainda outro - movimento - Pai, Filho e Espírito Santo
enviando a Igreja para dentro do mundo (BOSCH, 2002, p. 467).

Podemos considerar as seguinte referências bíblicas, para maior compreensão


da manifestação de Deus ao mundo, dispensando a si mesmo como Pai, Filho
e Espírito Santo:
■ Deus o Pai enviou o Seu Filho:
[...] no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas
por intermédio dele, e , sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida esta-
va nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


53

trevas não prevaleceram contra ela. [...] e o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como
do unigênito do Pai (BÍBLIA, João 1,1-5 e 1,14).

■ Deus, o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e


ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco”
(BÍBLIA, João 14.16).
■ A Trindade envia a igreja e os crentes, em particular, para cumprir a tarefa
da Grande Comissão. Ou seja, Pai, Filho e o Espírito Santo enviando a igreja
para dentro do mundo: [...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
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toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (BÍBLIA, Atos 1,8). [...]
todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras lín-
guas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (BÍBLIA, Atos 2,4).
Vivemos no tempo em que a Igreja do Senhor, como corpo, do qual Cristo é o
Cabeça, se constitui na presente dispensação de Deus para o mundo. Estamos no
século XXI com o desafio de restabelecer paradigmas concretos para atendimento
da missão de Deus, conforme Bosch aponta em sua obra Missão Transformadora:
[...] desde os anos 1950 tem havido uma notável escalada no uso do
termo “missão” entre os cristãos [...] Ela designava: a) Envio de mis-
sionários a um território especificado; b) as atividades empreendidas
por tais missionários; c) a área geográfica em que os missionários atu-
avam; d) a agência que expedia os missionários; d) o mundo não cris-
tão ou “campo de missão”; e) o centro a partir do qual os missionários
operavam no “campo de missão”. Num contexto ligeiramente diferente
esse termo também podia designar: g) uma congregação local sem um
pastor residente e que ainda dependia do apoio de uma igreja mais an-
tiga, estabelecida; h) uma série de serviços especiais destinados a apro-
fundar ou difundir a fé cristã, em geral num ambiente nominalmente
cristão. Se estabelecermos uma sinopse mais especificamente teológica
de “missão”, assim como o termo tem sido usado tradicionalmente, ob-
servaremos que ela foi parafraseada como: a) a propagação da fé; b)
expansão do reinado de Deus; c) conversão dos pagãos; d) fundação de
novas igrejas (BOSCH, 2002, p. 17).

Nos encontramos, novamente, com Wright (2014) para o esclarecimento dos


elementos teológicos fundamentais da teologia bíblica. O autor enfatiza que a
missão de Deus, impreterivelmente, deve começar do ponto de vista de Deus,
como nos revela Sua palavra:

Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus


54 UNIDADE II

[...] desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu bene-


plácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensa-
ção da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as
da terra (BÍBLIA, Efésios 1, 9-10).

Aqui, Paulo está nos afirmando que Deus fez Sua vontade conhecida a nós. Paulo
está falando sobre o plano eterno de Deus para o universo, por meio das gera-
ções. Esse trecho das Escrituras engloba toda revelação de Deus, começando
desde o livro de Gênesis, passando por toda a escritura, até se completar no
livro de Apocalipse. Por meio de sua obra e obediência perfeita, Jesus alcançou
o centro de todas as coisas. Em última análise, toda criação será unida debaixo

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do senhorio de Cristo. Não somente na terra, mas também nos céus, Cristo está
estabelecendo ordem e perfeita sintonia por meio de Sua obra.
É muito importante atentar para a centralidade do Senhor Jesus Cristo apon-
tada pelas escrituras. Nossa missão surge a partir da missão de Deus, que está
contemplada em toda narrativa bíblica. Temos que entender que a Bíblia não é
um livro cheio de regras, doutrinas e promessas, embora esses pontos estejam
presentes. Fundamentalmente, a Bíblia é a história do universo desde a criação
até chegarmos na nova criação. Essa história a qual Paulo está se referindo é a
missão de Deus.

E você, como tem se sentido diante do desafio de participar da missão de


Deus? Como Igreja fomos remetidos ao mundo perdido como a última res-
posta de Deus à humanidade. Como Corpo de Cristo cada um de nós possui
sua função com vistas a sermos edificados em amor e, assim, haja cresci-
mento segundo a justa cooperação de cada parte.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


55

ORIENTAÇÃO TEOLÓGICA PARA O PLANTIO DE


IGREJAS

Até aqui, todo nosso estudo tem sido


fundamentado por uma teologia
bíblica que nos aponte para a missão
de Deus. Percebemos, na teologia, que
tudo fala de Deus. Buscamos informa-
ções detalhadas sobre o que as pessoas
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entenderam e escreveram sobre Seu


caráter, Suas ações, Seu relacionamento
com o mundo e a sociedade humana,
sobre o envolvimento de Deus com a
história, o presente e o futuro.
Plantar igrejas é ter uma participação naquilo que Deus está fazendo no
mundo. Se a visão de Deus é ampla em seu alcance, também a nossa deve ser
baseada numa compreensão correta da visão de Deus, porque a nossa missão é
a missão de Deus.
Diante de nosso desafio de sermos participantes da missão de Deus, voltamos
à Grande Comissão que nos envia ao mundo para levarmos o evangelho, fazendo
discípulos de todas as nações e ensinando-os a guardar todas as coisas. Nesse
sentido, Lidório (2011) nos auxilia a discernir nosso papel, quando afirma que a
principal diferença entre a evangelização e o plantio de igrejas é o propósito. No
primeiro, apresentamos Cristo a uma pessoa que poderá guardar a experiência
da salvação para si ou anunciá-la a outros. No segundo, apresentamos Cristo a
uma pessoa, em uma dada cultura, região, cidade, tribo ou povoado, com ênfase
no discipulado e nas Escrituras Sagradas, para que os alcançados pelo evangelho
sejam fortalecidos em uma comunidade local. Desta forma podem participar de
oração, comunhão e pastoreamento. Tudo isso, alinhado a uma visão de futuro
e nova multiplicação, ou seja, as igrejas constituídas devem nascer compreen-
dendo que seu futuro será plantar novas igrejas.
Lidório (2011) nos aponta três critérios bíblicos muito relevantes para o
plantio de igrejas:

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


56 UNIDADE II

1. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de treinamento


e habilidade, mas pelo poder e desejo de Deus de salvar vidas” (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 11). Embora o treinamento seja fundamental, não podemos
esperar que sejam os recursos disponíveis e o planejamento realizado os
responsáveis pelo cumprimento da missão. Homens comuns como um
sapateiro chamado William Carey, podem se tornar servos muito usados
pelo Senhor, assim como humildes pescadores foram responsáveis por
transformar o mundo na igreja primitiva. É o poder de Deus sendo depo-
sitados em vasos de barro que nos capacita a cumprir Seus planos na terra.
2. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de resultados huma-

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nos, mas pela fidelidade às Sagradas Escrituras” (LIDÓRIO, 2011, p. 12). Já
abordamos os riscos de se plantar igrejas sem o padrão bíblico das Escri-
turas. Nem sempre o que é bíblico traz grandes resultados. Nem sempre
o que traz grandes resultados é bíblico. A falta de fidelidade às Escritu-
ras é a grande responsável pelo nominalismo e sincretismo religioso.
3. “O plantio de igrejas não deve ser uma ação definida pelo conhecimento
do evangelho, mas por sua proclamação” (LIDÓRIO, 2011, p. 13). A
maior tarefa de um plantador de igrejas é a proclamação do evangelho,
conforme afirma Lidório:
[...] trabalho social, ministério holístico e compreensão cultural jamais
irão substituir a clara comunicação do evangelho, nem justificar a pre-
sença da igreja. O conteúdo do evangelho exposto em todo e qualquer
ministério de plantio de igrejas deve incluir: a)Deus como Ser Criador
e Soberano (Efésios 1:3-6); b) O pecado como fonte de separação entre
o homem e Deus (Efésios 2:5); c) Jesus, Sua cruz e ressurreição como o
plano histórico e central de Deus para redenção do homem (Hebreus
1:1-4); d) O Espírito Santo, como o cumprimento da Promessa e en-
carregado de conduzir a Igreja até o dia final (LIDÓRIO, 2011, p. 34).

O entendimento do propósito e a finalidade da Igreja podem ser ampliados e


melhor compreendidos quando nos deparamos com o livro de Efésios, na Bíblia
Sagrada, em que o apóstolo Paulo busca levar-nos à maior revelação e conhe-
cimento de quem é Deus e qual é a vocação e o chamado para a Igreja. Já no
capítulo primeiro Paulo deixa evidente que a suprema grandeza do poder de
Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, também opera em nós, os que
cremos, consolidando a Igreja, que é o Seu corpo. A seguir, falaremos mais sobre
esse assunto.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


57

O QUE É UMA IGREJA?

Para chegarmos a uma conclusão


apropriada a essa pergunta temos
que considerar, primeiramente,
qual é o perfil desejado para uma
igreja. Muitos consideram a sua
própria igreja como o modelo teo-
lógico ideal.
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Quando olhamos cuidado-


samente para a igreja primitiva,
observamos diversas formas, com
diferentes ênfases e estruturas. Ott
e Wilson relatam que “a igreja em
Jerusalém, por exemplo, incluía membros que eram zelosos da lei e continua-
vam a observar muitas das práticas judaicas, como a participação em certos ritos”
(OTT; WILSON, 2013, p. 19-20).
As igrejas de origem gentílica, que foram, na sua maioria, plantadas pelo
apóstolo Paulo, se reuniam, predominantemente, nos lares e não tinham práti-
cas judaicas. Mesmo assim, “todas elas eram legítimas igrejas neotestamentárias
inseridas em seu contexto” (OTT; WILSON, 2013, p. 20). Até mesmo igrejas mais
problemáticas, como a igreja em Corinto, eram consideradas igrejas de Deus. O
apóstolo Paulo escreve “a igreja de Deus que está em Corinto” (BÍBLIA, I Coríntios
1, 2). “Muitos elementos da vida da igreja com os quais estamos familiarizados
em nossa igreja local podem não ser biblicamente necessários, nem culturalmente
adequados em um contexto diferente” (OTT; WILSON, 2013, p. 20).
As escrituras concedem grande liberdade nos detalhes da vida da igre-
ja e seu governo. Os plantadores de igrejas transculturais precisam ter
um cuidado extra para não impor expressões estrangeiras na vida da
igreja, mas desenvolver criativamente a nova igreja de forma que ela
cumpra os propósitos bíblicos de maneira culturalmente apropriada.
Ao mesmo tempo, a igreja deve demonstrar os valores contraculturais
do Reino de Deus (OTT; WILSON, 2013, p. 20).

O plantador de igrejas deve entender o que é biblicamente obrigatório e essencial

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


58 UNIDADE II

à vida da igreja e o que não é, qual a natureza da igreja e os fundamentos que


a norteiam. Deve ser capaz de identificar modelos bíblicos de contextualização
da mensagem.
Nesse momento, já podemos afirmar, segundo a Bíblia Sagrada, que igreja
é uma entidade espiritual, concebida e abençoada pelo Pai para congregar um
povo santo e irrepreensível, habitado pelo Espírito Santo, que vive para o louvor
da glória de sua graça, edificada por Cristo, sob o fundamentos dos apóstolos e
profetas, sendo o próprio Cristo Jesus, a pedra angular.
Nesse tempo, a igreja é o principal canal de Deus para manifestar a natureza

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do Reino e cumprir a missão de Deus. Por isso, deve multiplicar-se pelo mundo.
A seguir, apresentaremos uma quadro elaborada por Ott e Wilson (2013),
que mostra aspectos essenciais da igreja e nos auxilia a reconhecer os elemen-
tos que devem estar presentes em uma igreja verdadeira, a qual corresponde aos
parâmetros bíblicos.
Quadro 1 - A Essência da Igreja

Natureza Marcas
Uma Doutrina correta
Santa Ministração fiel dos sacramentos
Universal Disciplina da igreja
Apostólica Fé pessoal
Propósito Metáforas
Testemunho, “martyria” Povo de Deus
Comunhão, “koinonia” Corpo de Cristo
Serviço, “diakonia” Rebanho de Deus
Proclamação, “kerygma” Noiva de Cristo
Adoração, “leiturgia” Templo de Deus
Sacerdócio Real
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 21).

Ott e Wilson (2013), comentam que os pais da igreja primitiva referiram-se à


igreja como a comunhão dos santos. O destaque era colocado sobre a igreja como
um povo, em vez de uma instituição. As características essenciais da igreja foram
resumidas no Credo de Niceia (381 d.C.) como uma (unidade), santa (vida san-
tificada), universal (para todas as pessoas) e apostólica (baseada na doutrina dos

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


59

apóstolos). O entendimento dessas características ocorrem de diferentes formas


durante a história da igreja, mas são confessados por quase todos os cristãos.
Ott e Wilson (2013), apontam que os reformadores se concentraram mais
nas marcas essenciais da igreja, em uma tentativa de discernir o que constitui a
verdadeira e a falsa igreja.
Lutero falou da correta pregação da Palavra (doutrina) e da fiel minis-
tração dos sacramentos (batismo e Ceia) como as duas marcas essen-
ciais. As igrejas reformadas acrescentaram o exercício da disciplina da
igreja. As igrejas livres enfatizaram a regeneração pessoal e piedade de
seus membros (OTT; WILSON, 2013, p. 21).
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No que diz respeito aos propósitos, vemos uma abordagem mais prática contem-
plada em Atos 2, 42, que descreve as atividades básicas da igreja. As metáforas
apresentadas apontam o relacionamento de Cristo com a sua Igreja e são observa-
das nas páginas do Novo Testamento, principalmente no livro de Efésios. Baseado
nessa discussão, apresentamos a definição de Ott e Wilson de uma igreja local:
[...] uma igreja local é uma comunhão de crentes em Jesus Cristo
comprometidos a reunir-se regularmente para propósitos bíblicos
sob uma liderança espiritual reconhecida (OTT; WILSON, 2013,
p. 22).

Essa definição básica inclui vários elementos-chave apontados por Ott e Wilson,
quais sejam:
1. Crentes: a igreja é composta de pessoas que têm experimentado
a salvação através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo de
acordo com o Evangelho, tendo confessado por meio do batismo.
Eles desejam ser discípulos fiéis de Jesus Cristo, regenerados e ca-
pacitados pelo Espírito Santo. São o povo de Deus.

2. Reunião: esses crentes estão comprometidos a reunirem-se re-


gularmente para servir a Deus e uns aos outros. São a família de
Deus. Como povo missionário, eles se reúnem em preparação para
serem enviados como agentes da missão de Deus no mundo.

3. Propósito: sua comunidade reúne-se para cumprir propósitos bí-


blicos que incluem oração, louvor, evangelismo, instrução, edifi-
cação, serviço, celebração das ordenanças do batismo e da Ceia,
exercício da disciplina da igreja e envio de missionários. Eles in-
corporam os valores do Reino de Deus.

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


60 UNIDADE II

4. Liderança: eles se submetem a líderes espirituais reconhecidos. Os


líderes oferecem uma forma mínima de estrutura sob o governo
de Cristo. Em espírito de serviço, oferecem orientação, supervisão
espiritual e cuidado, ensinando e capacitando o corpo de crentes
(OTT; WILSON, 2013, p. 22 e 23).

Essas características mínimas podem ser consideradas um parâmetro teológico


para os plantadores de igrejas, apresentando flexibilidade ao mesmo tempo em
que qualifica uma igreja local. Crentes isolados, reuniões de interesses especiais
ou reuniões não estruturadas não constituem igreja.
Ott e Wilson (2013), afirmam que um edifício para a igreja não é necessário,

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mas reuniões regulares são. Um pastor remunerado não é indispensável, mas líderes
reconhecidos são. “Adesão a um credo em particular ou distintivo denominacio-
nal não é obrigatório, mas a fidelidade à verdade bíblica e seus propósitos é. (OTT;
WILSON, 2013, p. 23)”. O profundo conhecimento espiritual é um alvo, mas a
obediência no seguir a Cristo é o compromisso mais essencial que se deve buscar.

COMO PODEMOS DEFINIR PLANTIO DE IGREJAS?

Como abordamos na unidade anterior, plantar é um termo usado pelo apóstolo


Paulo em I Coríntios 3, 6: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de
Deus”. Nesse texto “plantar” se refere ao ministério apostólico de Paulo, pioneiro
em estabelecer novas igrejas em lugares onde não havia uma igreja presente. Ele
deixa isso visível em Romanos: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evan-
gelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento
alheio” (BÍBLIA, Romanos 15, 20).
[...] plantação de igrejas é o ministério que, através do evangelismo e
discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino de crentes
em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos
bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais (OTT; WILSON,
2013, p. 23).

Acompanhando essa definição de igreja, os seguintes alvos de curto prazo são


estabelecidos como medida de reconhecimento de que a igreja está plantada:
■ Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


61

discipuladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente


comprometidos que se reúnem regularmente.
■ Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que
pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação.
Eles orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas
vidas e na sociedade.
■ As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evan-
gelismo, serviço e governo estão funcionando.
■ Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósi-
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tos do Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos (OTT;


WILSON, 2013, p. 27).
Em todo momento que observa-se a plantação de igrejas e as estratégias que envol-
vem esse desafio, encontramos as diferentes fases que envolvem esse processo
cíclico. Mesmo depois de sua partida, os plantadores de igrejas devem manter
o acompanhamento com alvos de longo prazo. Esses alvos, dentre outros, são
indicados por Ott e Wilson:
■ Multiplicação pela plantação de igrejas filhas, envio de plantadores de
igrejas e envio ou apoio de missionários.
■ O estabelecimento de ministérios locais que demonstram os valores do
Reino de compaixão e justiça.
■ Início de ministérios especializados voltados a grupos étnicos, subcultu-
ras ou pessoas com necessidades especiais.
■ Criação de práticas contextualizadas relacionadas a costumes locais, tra-
dições e cerimônias.
■ Estar ligado a uma comunidade nacional ou regional de igrejas ou aju-
dar a formá-la.
■ Participação em iniciativas locais ou regionais com outras igrejas (OTT;
WILSON, 2013, p. 28).

Esses objetivos devem ser acompanhados até que sejam alcançados, pois, ainda
que demore algum tempo, os valores e a visão desses alvos devem estar presen-
tes desde do início da plantação da igreja.

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


62 UNIDADE II

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COSMOVISÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Estamos diante do desafio de cumprirmos nossa tarefa orientados pela missão


de Deus, fundamentados numa teologia bíblica e relevante, considerando os
princípios bíblicos corretos do que é igreja e de plantio de igrejas. Nada disso
poderá alcançar êxito caso não contemplemos os contextos culturais existentes.
Lesslie Newbigin influenciou tremendamente a missiologia mundial ao
ensinar que a Igreja apenas encontraria genuíno renovo em sua vida e
testemunho mediante um novo encontro do evangelho com a cultura.
Assim, para prover respostas para as perguntas missiológicas de hoje,
precisamos desenvolver: a) uma análise sócio-cultural; b) uma reflexão
teológica; c) uma visão para a Igreja e sua missão. É o levantar da ban-
deira que conclama a Igreja a apresentar um evangelho relevante, na
língua do povo, que responda às perguntas mais inquietantes da socie-
dade de hoje (LIDÓRIO, 2011, p. 11).

Quando um(a) missionário(a) ou um(a) plantador(a) de igreja vai a outra cultura,


ele(a) leva o seu modelo de igreja, uma linguagem específica e um paradigma já
estabelecido. A tendência é implantar o modelo já experimentado no contexto
anterior. Entretanto, cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente
do mundo, isso diz respeito à sua cosmovisão. As pessoas não veem as coisas
como são, mas como elas parecem ser, por meio de suas “lentes” de observação.
O materialista ou o naturalista, por exemplo, não vê evidência alguma do
poder ou da presença de Deus no mundo. Sempre procurará explicações psico-
lógicas ou científicas para os fenômenos observados. O animista, do outro lado,
vê deuses e espíritos em todos os lugares. Segundo o conceito dele, até mesmo

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


63

os fenômenos naturais devem ter explicações espirituais. Em determinados gru-


pos culturais, os homens e mulheres tendem a ter em comum certas crenças
fundamentais ao definirem a realidade que os cerca. Isso nos leva a entender
que, mesmo na comunicação do evangelho em nosso bairro ou cidade, temos
que considerar a cosmovisão e necessidade de contextualização da mensagem.
Necessitamos compreender que quando o evangelho é comunicado, aqueles
que o ouvem vão decodificá-lo dentro do contexto de uma realidade apresentada
por sua própria cultura; o missionário deve apresentar sua mensagem conside-
rando essa realidade.
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Cosmovisão: é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o


cerca. Geralmente grupos diferentes expressam diferentes cosmovisões
quanto ao tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores
da vida. Entender a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envol-
vimento missionário é um dos mais importantes pré-requisitos que antece-
dem a proclamação do evangelho.
Fonte: Lidório (1996, p. 123).

Encontramos abismos gigantescos que separam as pessoas das várias tradições


religiosas. No momento da comunicação da mensagem, a fonte missionária
deve ter clara percepção dos aspectos da cultura daquele local para poder defi-
nir o estilo de comunicação, sem perda do conteúdo teológico a ser comunicado.
Lidório (2011), considera necessário um trabalho de tradução na língua e
na cultura para que o evangelho seja pregado de uma forma inteligível e com-
preensível, conforme descrito abaixo:
[...] as línguas dispõem de códigos diferentes para viabilizar a comunica-
ção e o mesmo ocorre com a cultura. Quando se expõe a um esquimó que
o sangue de Jesus nos torna brancos como a neve, ele rapidamente nos
perguntará qual categoria de branco, já que, em sua visão culturalizada
de quem convive com a neve e o gelo por milênios, há 13 diferentes tipos
de “branco”. Ignorar tal extrato cultural culminará em uma pregação rasa,
confusa ou distorcida da Palavra de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 20).

Cosmovisão e Contextualização
64 UNIDADE II

Hesselgrave (1995), destaca que a mensagem cristã é ampla e universal, destinada


a todos os homens, independentemente de raça, língua, cultura ou circunstâncias.
Naturalmente, há um só Deus e Pai de todos, mas os escritores dos Evangelhos
e os pregadores do Novo Testamento demonstraram uma notável variedade nas
maneiras de comunicar a mensagem, não apenas quanto ao estilo, mas também
quanto ao conteúdo.
A base da comunicação do evangelho consiste na necessidade espiritual do
homem em seu estado natural de pecado e alienação de Deus. Contudo, em cada
caso, esta necessidade universal é apresentada de diferentes formas. Para que o

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sentido teológico não se perca e a comunicação seja eficaz, se faz necessário o
processo de contextualização.
Ainda, de acordo com Hesselgrave (1995), destaca algumas perguntas que
devem ser consideradas pelo comunicador do evangelho, as quais ajudaram na
contextualização da mensagem, de maneira que as doutrinas bíblicas sejam comu-
nicadas numa linguagem compreensível ao auditório, sem perder sua fidelidade
às Escrituras. Apresentamos essas perguntas de forma adaptada:
1. Em que aspectos os ouvintes terão maior probabilidade de compreender
erroneamente a mensagem?
2. Quais crenças religiosas dos ouvintes são semelhantes à doutrina cristã
e podem formar pontes conceituais para a comunicação da mensagem?
(Cuidado neste ponto. O que consideramos semelhanças podem ser ape-
nas aparentes semelhanças, ocasionando mal-entendidos significativos,
a não ser que sejam tratadas com cuidado).
3. Quais preocupações do auditório-alvo são atingidas pela autoridade e
clareza da mensagem de Cristo?
4. Quais adaptações da mensagem já foram realizadas com êxito para este
tipo de auditório ou auditórios semelhantes?

Uma vez que tenhamos identificado e caracterizado os ouvintes é natural per-


guntar como comunicaremos a eles a mensagem. Boa parte da comunicação
cristã é espontânea, porém existem muitos momentos que devem ser bem pla-
nejadas (HESSELGRAVE, 1995).
É preciso ter cautela quando tratamos o processo de contextualização, pois,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


65

para muitos, a contextualização está ligada à adaptação da mensagem para que


ocorra a assimilação da mesma. Nesse contexto, manifesta-se o risco da perda do
correto conteúdo teológico comunicado, em função da adaptação do conteúdo
da mensagem para maior entendimento, gerando comunidades fracas teologi-
camente e possuidoras de sincretismo religioso.
Nesse caso, o indígena que se converte ao evangelho pode frequentar reuni-
ões e compreender alguns princípios bíblicos, mas quando surge um problema
de saúde ele buscará a magia ou a pajelança como alternativa para solução do
problema. Ou seja, o indígena passa a viver uma mistura de religiões.
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Outra questão que se apresenta é o nominalismo evangélico, em que as


pessoas passam a confessar que são evangélicos, sem, entretanto, passar por
uma verdadeira conversão. Alguns nem frequentam uma igreja, ou praticam os
princípios propostos pelas Escrituras, apenas se simpatizam com o evangelho.
Lidório nos indica o perigo da má contextualização, reconhecendo que:
[...] o próprio termo “contextualização” foi utilizado no passado por
Kraft, a partir do relativismo de Kierkegaard, com fundamentação em
uma teologia liberal que não cria na Palavra de Deus de forma dogmá-
tica, mas adaptada. Esses creem que a Palavra de Deus se aplica apenas
a contextos similares de sua revelação, não sendo assim supracultural e
nem a-temporal (LIDÓRIO, 2011, p. 21).

Nesse sentido, a teologia liberal de Kierkegaard ameaça a fidelidade às Escrituras,


uma vez que considera que a cultura não deva ser alterada e que a adaptação deve
ocorrer na mensagem bíblica. Entretanto, consideramos que o evangelho sempre
trará uma mensagem confrontadora, que nos desafia à mudança e transformação.
Hesselgrave (1995), indica o exemplo de Jesus como modelo de contextu-
alização a ser seguido. Embora nosso Senhor ministrasse dentro dos limites da
cosmovisão do judaísmo, Ele, todavia, realizou abordagem em diversos contextos.
Lidório (2011), apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da
mensagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos
fariseus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. A multi-
dão narrava sobre plantações, pão e trigo.
Uma mensagem compreensível e relevante para o universo de quem a
ouve. Impactante em seu significado e que apela por transformação hu-
mana e social. Ao mesmo tempo, fiel às Escrituras - revelação de Deus
- e teologicamente fundamentada (LIDÓRIO, 2011, p. 19).

Cosmovisão e Contextualização
66 UNIDADE II

Lidório (2011), apresenta alguns pressupostos fundamentais para que a teolo-


gia da contextualização seja preservada:
• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comu-
nicável para todos os homens, em todas as culturas, em todas as
gerações. Cremos assim que a Palavra define o homem, e não o
contrário.

• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz


da Antropologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para
um cenário distinto do usual ao transmissor, a fim de que todo
homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igre-
ja deve evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma
resposta para as perguntas que os missionários fazem - uma solu-
ção apenas para um segmento, ou uma mensagem alienígena para
o povo alvo (LIDÓRIO, 2011, p. 20-21).

O autor evidencia que a comunicação da mensagem bíblica contextualizada


deve-se manter fiel às Escrituras Sagradas. Uma adaptação do conteúdo da men-
sagem à cultura pode tornar sem efeito o convite à salvação. O arrependimento
é produzido quando o homem é confrontado com sua condição de miséria e
pecado diante de Deus.
Lidório (2011) apresenta de forma prática o processo de contextualização
da mensagem ao pontuar momentos do ministério e da vida do apóstolo Paulo:
• A mensagem, em um processo de comunicação contextual, jamais
deve ser diluída em seu conteúdo. A fidelidade às Escrituras deve
ser nossa prioridade à semelhança de Paulo, que falou da ressur-
reição de Cristo no areópago mesmo sabendo que seria um tema
controverso para a crença filosófica presente.

• O público-alvo, seus pressupostos culturais, língua e entendimen-


to sobre Deus são fatores relevantes para a apresentação do evan-
gelho. Paulo pregou Cristo da mesma forma para seus ouvintes.
Sua sensibilidade ao contexto conduziu sua abordagem.

• O uso de simbologias culturais explicativas das verdades bíblicas


podem ser utilizadas, desde que apresentem claramente a relevân-
cia do evangelho. Paulo fez isso utilizando o “deus desconhecido”,
partindo de um elemento sócio-cultural para expor, com clareza, a
verdade do evangelho. Em outros momentos, ele o fez a partir da

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


67

criação, do contraste entre Deus e os deuses adorados e do próprio


sentimento humano de desencontro com a vida e perdição.

• O evangelho deve ser explicado a partir de si mesmo e não da cul-


tura. O conteúdo do evangelho não é negociável. Quando Paulo
fala aos judeus sobre o Messias e lhes apresenta Jesus, ele estava ali
em uma linha “segura” de comunicação contextualizada. Porém,
seu desejo por criar uma atmosfera propícia para a comunicação
não fez com que minimizasse as verdades mais confrontadoras,
que o levariam a ser expulso, ignorado e questionado.

• O alvo final da apresentação da mensagem é levar o homem ao


conhecimento de Cristo, e não simplesmente comunicá-la. A co-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

municação de Paulo pavimentava o auditório para a apresentação


da verdade, tanto para os filhos da promessa quanto para os filhos
da criação.

• A contextualização da mensagem, linguística e culturalmente, é


instrumento para uma boa comunicação, que transmita o evange-
lho de forma clara e compreensível. Paulo a utilizava abundante-
mente ao falar distintamente a judeus e gentios, escravos e livres,
senhores e servos. Também Jesus, ao propor transformar pesca-
dores em pescadores de homens, ao utilizar em seus sermões a
candeia que ilumina, a semente lançada em diferentes solos, o joio
e o trigo no mesmo campo, a dracma que se perdeu, as redes abar-
rotadas de peixes, o fez para que o essencial da Palavra chegasse de
maneira inteligível para a pessoa, sociedade e cultura que o ouvia.

• O resultado esperado da apresentação contextualizada do evange-


lho é o arrependimento dos pecados e sincera conversão. Qualquer
apresentação do evangelho que leve o homem a sertir-se confor-
tável em seu estado de pecado é certamente inconclusiva e parcial.
Paulo deixa isso bem claro quando lhes expõe um evangelho liber-
tador e transformador (LIDÓRIO, 2011 p. 31-32).

Quando uma pessoa ou um povo passa a ter uma experiência com Jesus e o
conhece como salvador pessoal, encontrará uma forma de expressá-lo e adorá-lo
em sua cultura e aplicará a palavra de Deus em sua cosmovisão. Assim nascem
as igrejas multiculturais. Por isso, o que mais importa na vida de um(a) plan-
tador(a) de igrejas é que ele(a) proclame a palavra de salvação, considerando a
teologia da contextualização.

Cosmovisão e Contextualização
68 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos encerrando esta unidade de estudo, considerando que muitas das infor-
mações aqui tratadas podem ser incorporadas à vida cristã diária, quer como
teólogo, ministro do evangelho, discípulo do Senhor Jesus, quer como missio-
nário ou plantador de uma nova igreja.
Você pode entender o quanto a base teológica correta é importante para a
plantação de igrejas. De que adianta levantarmos um grande edifício que possa
desabar, ou edificarmos em um fundamento não aprovado por Deus?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, todo nosso trabalho deve ser traçado pela missão de Deus. Um
Deus missionário nos concede todo recurso e direção teológica para estabelecer-
mos seu reino e para fazermos Sua vontade. As ações missionárias consistentes
não podem caminhar divorciadas da Teologia, bem como a Teologia Bíblica não
pode caminhar sem forte expressão missionária.
Cabe a nós entendermos que a mensagem cristã é abrangente e universal.
É destinada a todos os homens de todas as épocas e de todas as culturas sobre
a face da terra. Porém, os contextos culturais em que Deus a revelou e em que
a mensagem é levada são bem distintos. Para que o sentido da palavra não se
perca no processo de comunicação, a contextualização se faz primordial. Temos
que perceber e considerar as diferenças culturais e de cosmovisão para comuni-
car a mensagem do evangelho adequadamente.
Alguns aspectos da antropologia missionária foram abordados no decor-
rer dos nossos estudos. Sempre é fascinante considerarmos e aprendermos
mais sobre as diferentes culturas, o que nos faz refletir sobre paradigmas, nos-
sos modelos e definições.
Na próxima unidade avançaremos nesse desafio. Vamos considerar, tam-
bém, o tema Modelos de Plantação de Igrejas, que é o nome da nossa disciplina.
Como podemos usar modelos preestabelecidos diante de realidades culturais
tão diferentes? Juntos, vamos encontrar essas respostas.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


69

1. Missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separadas de estudo,
mas como disciplinas complementares. A Teologia não apenas coopera com a
Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão e a base para o plantio de igrejas,
como também provê o entendimento bíblico motivacional para o evangelismo.
Qual a importância da conciliação entre teologia e missiologia frente ao de-
safio de plantar igrejas?
2. Como nos edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão
é uma obra essencialmente de Deus. O sentido ampliado da Missio Dei foi tra-
zido por Bosch e nos detalha o caráter missionário de Deus. Explique qual é o
sentido ampliado da Missio Dei, o qual engloba também o papel da Igreja.
3. Ott e Wilson (2013), dizem que: “plantação de igrejas é o ministério que, através
do evangelismo e discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino
de crentes em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos
bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais”. Acompanhando essa de-
finição de igreja, cite dois alvos de curto prazo que sinalizam que a igreja
está plantada.
4. Cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente do mundo, isso diz
respeito à sua cosmovisão. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, o
que é cosmovisão e qual sua implicação no plantio de igrejas?
5. Lidório (2011) apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da men-
sagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos fari-
seus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. À multidão,
narrava sobre plantações, pão e trigo. Cite um dos pressupostos fundamen-
tais, apresentado por Lidório (2011) para que a teologia da contextualiza-
ção seja preservada.
70

O movimento de Lausanne III, que gerou o documento conhecido como “Compromisso


da Cidade do Cabo”, trouxe considerações relevantes para o correto posicionamento te-
ológico da missão de Deus, traduzidas nos parágrafos a seguir:
“Nós estamos comprometidos com a missão mundial, porque ela é central para nosso
entendimento de Deus, da Bíblia, da Igreja, da história humana e do futuro final. Toda
a Bíblia revela a missão de Deus de trazer unidas sob Cristo todas as coisas, no céu e na
terra, reconciliando-as através do sangue da sua cruz. No cumprimento da sua missão,
Deus transformará a criação ferida pelo pecado e pelo mal em uma nova criação na
qual não exista mais pecado nem maldição. Deus cumprirá sua promessa a Abraão de
abençoar todas as nações na terra, através do evangelho de Jesus, o Messias, a semente
de Abraão. Deus transformará o mundo partido formado pelas nações espalhadas sob o
juízo de Deus em uma nova humanidade, de toda tribo, nação, povo e língua, redimida
pelo sangue de Cristo, reunidos ali para adorar nosso Deus e Salvador. Deus destruirá
o reino de morte, corrupção e violência quando Cristo voltar para estabelecer seu rei-
no eterno de vida, justiça e paz. Então, Deus, Emanuel, habitará conosco, e o reino do
mundo se tornará o reino do nosso Senhor e do seu Cristo e ele reinará para sempre e
sempre.”
“Nós desejamos que todos os plantadores de igreja e educadores teológicos coloquem
a Bíblia no centro de suas parcerias, não apenas nas declarações doutrinárias, mas tam-
bém na prática. Os evangelistas devem usar a Bíblia como fonte suprema do conteúdo e
da autoridade de suas mensagens. Os educadores teológicos devem recentrar o estudo
da Bíblia como disciplina fundamental na teologia cristã, integrando e permeando to-
dos os outros campos de estudo e da aplicação. Acima de tudo, a educação teológica
deve servir para preparar professores pastores para sua principal responsabilidade de
pregar e ensinar a Bíblia.”
Para ler o texto na íntegra acesse o link:
<http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da-cidade-
-do-cabo-pt-br/compromisso>.
Fonte: adaptado de Movimento de Lausanne… (2010, on-line)4.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Teologia Bíblica de Missões


George W. Peters
Editora: CPAD
Sinopse: esta obra oferece ao leitor uma visão genuinamente bíblica
e de grande profundidade espiritual. O autor buscou oferecer uma
ferramenta focada em missões para seminaristas e vocacionados em missões, refutando algumas
alternativas liberais. Em uma ênfase teocêntrica, a obra ressalta a importância da proclamação do
evangelho, o papel da igreja local como responsável pelas missões e o senhorio de Cristo.

O Refúgio Secreto
durante a Segunda Guerra Mundial, famílias judias na Holanda
vivem dias de incerteza. Elas podem ser capturadas pelos nazistas
a qualquer momento, e uma mulher cristã encontra uma saída. Ela
passa a esconder os judeus na parte debaixo de sua casa. O filme nos
testemunha como é possível permanecer fiel ao Senhor, mesmo em
meio à depredação de uma cultura.

APRESENTAÇÃO: a EPI - Escola de Plantadores de Igrejas é uma escola de capacitação para


líderes, para plantação de novas igrejas, que propõe-se a ser um centro de reflexão e aprendizado
para uma nova geração de pensadores cristãos. Para saber mais acesse: <http://www.
plantadoresdeigrejas.org/home.php>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-


alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.
BOSCH, D. J. Missão Transformadora: mudança de paradigma na teologia da mis-
são. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2002.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais.
São Paulo: Vida Nova, 1995.
LIDÓRIO, R. Entre todos os povos. Vila Velha-ES: Fronteiras, 1996.
______. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.
OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores
estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.
PETERS, G. W. Teologia bíblica de missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
STETZER, Ed. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudá-
veis e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015.
VAN ENGEN, C. Povo Missionário, Povo de Deus: por uma redefinição do papel da
igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996.
VICEDOM, GEORG F. The Missionof God. ST. Louis: Concordia, 1965.
______. A Missão do Povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2012.
WRIGHT, C. J. H. A Missão de Deus: desvendando a grande narrativa da Bíblia. São
Paulo: Vida Nova, 2014.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <http://www.significados.com.br/pragmatismo/>. Acesso em: 22 mai. 2017.


1

2
Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausan-
ne-pt-br/pacto-de-lausanne>. Acesso em: 22 mai. 2017.
3
Em: <https://estudos.gospelmais.com.br/missio-dei.html>. Acesso em: 22 mai.
2017.
4
Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da-
-cidade-do-cabo-pt-br/compromisso>. Acesso em: 22 mai. 2017.
73
GABARITO

1. A compreensão entre teologia e missiologia pode gerar igrejas evangelizadoras


que vivem a palavra de Deus, anunciam o evangelho e comunicam o caráter de
Cristo em sua vida.
2. A doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o
Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no sentido de incluir ainda outro
movimento - Pai, Filho e Espírito Santo enviando a Igreja para dentro do mundo.
3.
• Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo, disci-
puladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente com-
prometidos que se reúnem regularmente.
• Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que
pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação. Eles
orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas vidas
e na sociedade.
• As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evangelis-
mo, serviço e governo estão funcionando.
• Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósitos do
Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos.
4. Cosmovisão é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o cerca.
Geralmente, grupos diferentes expressarão diferentes cosmovisões quanto ao
tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores da vida. Enten-
der a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envolvimento missio-
nário é um dos mais importantes pré-requisitos que antecedem a proclamação
do evangelho.
5.
• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comunicável para
todos os homens, em todas as culturas, em todas as gerações. Cremos assim
que a Palavra define o homem, e não o contrário.
• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antro-
pologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto
do usual ao transmissor, a fim de que todo homem compreenda o Cristo
histórico e bíblico.
• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igreja deve
evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma resposta para
as perguntas que os missionários fazem - uma solução apenas para um seg-
mento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo.
Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

CULTURAS E MODELOS DE

III
UNIDADE
PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender a importância do chamado de Deus.
■ Entender o que é cultura e os impactos das diferenças transculturais.
■ Conciliar cultura com formatos de igrejas e modelos de plantação.
■ Identificar alguns modelos de plantação de igreja.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O chamado de Deus é para todos
■ A cultura e as diferenças transculturais
■ Compreendendo culturas, formatos e modelos
■ Modelos de plantação de igrejas
77

INTRODUÇÃO

Seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da nossa disciplina. Como é fascinante


compreender a grandeza da missão de Deus e sermos colaboradores Dele!
Nesse momento, vamos estudar cultura e as diferenças transculturais. O cha-
mado de Deus é universal e, para cumpri-lo, necessitamos transpor limites de
hábitos e costumes que se interpõem aos povos. Sermos sensíveis às diferenças
interculturais não é tarefa fácil, pois nossa tendência é permanecer no limite da
nossa própria cultura.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No entanto, cremos que as bênçãos que Deus concedeu a Abraão, devido


à sua obediência pela fé, alcançarão todos os grupos de pessoas sobre a face da
terra. Abraão saiu de Ur dos Caldeus em direção à terra da promessa, Canaã.
Sua saída torna real a quebra de tradições e costumes necessária para a constru-
ção de um paradigma celestial.
O plantador de igrejas deve ter seu coração cheio do amor de Deus pelas
almas e povos espalhados pela terra, para que possa superar as diferenças cultu-
rais. Enfatizamos que a proposta do evangelho não é agredir uma cultura, mas
entendê-la de forma a encontrar a porta para a entrada das boas-novas.
Vamos considerar formatos de igrejas e modelos de plantação de igrejas.
Com essa abordagem, não podemos e nem queremos apresentar um molde, ao
qual as diferentes culturas terão que se adaptar. Não trataremos a arquitetura
final que cada igreja terá, pois isso é obra do Espírito Santo. Buscaremos encon-
trar caminhos bíblicos e históricos pelos quais as igrejas foram estabelecidas no
decorrer dos séculos.
Quando o reino de Deus chega a uma localidade produz uma modificação
em muitos aspectos, entretanto, o processo de plantar uma igreja não constitui
produção em série de um produto pré-definido. Desde que sejam estabelecidos
os parâmetros teológicos corretos, a riqueza e a beleza de Deus manifesta uni-
dade na diversidade da Igreja. Temos muito trabalho pela frente.

Introdução
78 UNIDADE III

O CHAMADO DE DEUS É PARA TODOS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de
teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e
te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão
benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:1-3)

“Para que a benção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim
de que recebêssemos, pela fé o Espírito prometido. Ora, as promessas foram
feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como
se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é
Cristo.” (Gálatas 3:14, 16)

“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mateus 1:1)

“Na sua descendência serão benditas todas as nações da terra, porquanto


obedeceste à minha voz.” (Gênesis 22:18)

“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que
devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.” (Hebreus 11:8)

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


79

Vemos, no chamado de Deus a Abraão, uma promessa ampliada a toda raça adâ-
mica por meio de Cristo, o descendente de Abraão. A bênção de Abraão é o meio
para que todas as famílias da terra sejam alcançadas. Dois povos estão incluídos
nessa promessa, os filhos espirituais - que pela fé nasceram de novo em Cristo e
tornaram-se descendentes de Abraão pela fé - e o próprio povo judeu - a des-
cendência terrena de Abraão.
Lidório (1996), faz uma pergunta primordial para entendermos o chamado
de Deus no Antigo Testamento: A quem Deus se revelou? Se a resposta for: ape-
nas a Israel, estaremos perante um Deus nacional. Se cremos que Deus intentou
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

alcançar todas as famílias da terra, então estaremos perante um Deus que pre-
tende ser conhecido e adorado por todas as nações.
De acordo com Gálatas 3,14, a bênção prometida consiste na dispensação
do próprio Deus concedido ao homem, por meio do Seu Espírito, nesse tempo
e por toda a eternidade. Deus prometeu dar a Si mesmo aos descendentes de
Abraão como uma bênção. De acordo com Gênesis, essa bênção viria a todas as
nações por meio do descendente de Abraão, que é Cristo.
Em Hebreus 11,8 vemos que Abraão saiu pela fé, não sabendo para onde
estava indo, por isso tornou-se o pai de todos os que creem. Lidório (1996) relata
uma pequena parte da grande visão transcultural de Deus descrita nas páginas
do Antigo Testamento, na qual Abraão e seus filhos espirituais levaram o evan-
gelho da salvação a todos os povos espalhados pela terra:
■ Abraão deu testemunho do Senhor aos Cananeus, Filisteus e Heteus
(Gênesis 21:22-34; 23:1-12; 13:14-18);
■ José foi testemunha do Senhor entre os Egípcios (Gênesis 41:1-16);
■ Moisés testemunhou do Senhor aos Egípcios além de trazer consigo Jetro,
seu sogro Midianita (Êxodo 5:1-3; 18:1-12);
■ Noemi testemunhou do Senhor a Rute e Orfa, que eram Moabitas (Rute
1:3-9, 16 e 17);
■ Elias foi usado por Deus para ser bênção a uma viúva em Sidom (I Reis
17:8-16);
■ Eliseu testemunhou a Naamã que era Sírio (I Reis 5:1-15);

O Chamado de Deus é Para Todos


80 UNIDADE III

■ Jonas testemunhou do Senhor a Nínive (Jonas 3:1-10);


■ Daniel foi testemunha na Babilônia (Daniel 2:26,27);
■ Ester testemunhou sua fé e dependência do Senhor ao povo Persa (Ester
10:1-3);
■ Os profetas profetizaram em nome do Senhor a muitas outras nações
(LIDÓRIO, 1996, p. 15).

O livro de Salmos também nos demonstra que o povo de Israel era consciente
da visão transcultural do seu Deus:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todas as terras.
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas
maravilhas (BÍBLIA, Salmos, 96,1.3).

O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os


olhos das nações (BÍBLIA, Salmos, 98,2).

Reina o Senhor, tremam os povos. Ele está entronizado acima dos que-
rubins; abale-se a terra. Celebrem eles o teu nome grande e tremendo,
porque é santo (BÍBLIA, Salmos, 99,1.3).

Render-te-ei graças entre os povos, ó Senhor! Cantar-te-ei louvores en-


tre as nações (BÍBLIA, Salmos, 108,3).

Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos (BÍ-


BLIA, Salmos, 117,1).

Lidório (1996) cita a oração missionária de Salomão na inauguração do templo,


pedindo que todos os povos da terra conheçam o nome do Senhor:
[...] também ao estrangeiro, que não for do teu povo Israel, porém vier
de terras remotas, por amor do teu nome. [...] ouve tu nos céus, lugar
da tua habitação […] a fim de que todos os povos da terra conheçam o
teu nome (BÍBLIA, I Reis, 8,41.43).

Com os profetas do Velho Testamento essa condição não foi diferente. Eles pro-
fetizaram às terras do mar e aos povos de longe, como Isaías:
[...] ouvi-me, terra do mar, e vós povos de longe. Mas agora diz o Senhor,
que me formou desde o ventre […] sim diz ele: pouco é o seres meu ser-
vo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os remanescen-
tes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha
salvação até à extremidade da terra (BÍBLIA, Isaías, 49,1-6).

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


81

No evangelho de Mateus vemos a narração do sermão profético de Cristo aos


discípulos, quando estes lhe perguntaram que sinal haveria antes da vinda do
Senhor: “e será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para teste-
munho a todas as nações. Então, virá o fim” (BÍBLIA, Mateus, 24,14).
Hesselgrave (1995) aponta que durante o período que compreende o livro
de Atos, o Espírito Santo tinha um plano para cumprir a “Grande Comissão”,
mesmo quando os apóstolos não tinham nenhum plano e, cada vez mais, aquele
plano veio a ser uma questão de discussão e deliberação por parte do Seu povo.
O livro de Atos apresenta uma Igreja, na qual os judeus e os gentios comparti-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

lham em base igual o plano eterno de Deus.


Da mesma forma, o livro de Mateus também narra como a Igreja partilha
os ideais eternos sob a autoridade de Jesus. Vejamos:
[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até à consumação do século (BÍBLIA,
Mateus, 28,18-20).

Observamos, nas palavras de Jesus, o desejo do coração de Deus, revelando-se


como um Deus universal a todos os povos, cumprindo a promessa de redenção de
toda raça humana em Jesus Cristo, o qual formou a Igreja para que todos os povos
da terra fossem alcançados. Assim se cumprirá a visão de João na ilha de Patmos:
[...] depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas
nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: ao nosso Deus, que
se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação (BÍBLIA, Ap
7,9.10).

A tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo é a proclamação do evangelho


de Deus a todo o mundo, fazendo discípulos e ensinando-os a guardar todas as
coisas que foram por Ele ensinadas. Para isso é preciso planejar a tarefa e verificar
os desafios que ela estabelece. É preciso ter um plano abrangente e dimensionar
os recursos necessários para sua execução. Dentre tantos desafios que se colo-
cam diante de nós, torna-se primordial um profundo conhecimento da cultura
no momento da plantação de uma igreja.

O Chamado de Deus é Para Todos


82 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CULTURA E AS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Entendendo o que é cultura


A palavra cultura possui um sentido muito amplo na língua portuguesa. Porém,
é preciso uma compreensão adequada de seu significado para que possamos
comunicar efetivamente o evangelho a um mundo heterogêneo.
Neste momento, consideramos o estudo da cultura em seu aspecto antropo-
lógico, ou seja, observando o ser humano na totalidade de suas manifestações
e dimensões.
Laraia (2001), refere-se ao conceito de cultura, considerando o dilema entre
a identidade biológica e a diversidade humana. Essa preocupação existe desde há
quatro séculos antes de Cristo, quando Confúcio dizia que a diferença entre os
homens não é a questão biológica, mas a diferença de costumes. Por isso, base-
ado em Laraia (2001), apresentamos um provável conceito de cultura.
Cultura: conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos que as pessoas
aprendem e que não é um elemento natural (LARAIA, 2001).

Uma das teorias importantes no processo de formulação do conceito de cultura


apresentado por Laraia (2001), é o determinismo biológico, que preconiza que
as pessoas nascem com características que são congênitas. Surgem as ideias de
que os nórdicos são mais inteligentes que os negros, de que os judeus são bons

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


83

comerciantes e são avarentos, de que os portugueses são muito trabalhadores mas


são pouco inteligentes e de que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, o
desleixo dos índios e a luxúria dos portugueses, embora seja um povo criativo.
Esses pensamentos ainda são muito comuns em nossa sociedade.
Além desses elementos que o determinismo biológico traz, as relações de
gênero também foram bastante influenciadas por essa teoria, porque consoli-
daram papéis sociais masculinos e femininos, o que determina uma hostilidade
contra o grupo biologicamente mais fraco em termos de força física, as mulhe-
res, o que fez com que, durante um grande período histórico, as mulheres fossem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vistas como inferiores dentro da ótica de raciocínio do determinismo biológico.


Determinismo biológico: preconiza que as pessoas nascem com características
que são congênitas (LARAIA, 2001).

Outra importante abordagem histórica que Laraia (2001) ocupa-se é o deter-


minismo geográfico. Essas teorias foram pesquisadas por geógrafos no final do
século XIX e início do século XX e falam que o meio determina os comporta-
mentos dos seres humanos.
O determinismo geográfico também causa uma série de processos precon-
ceituosos, no qual pessoas que vivem nos trópicos são tidas como preguiçosas
e pouco produtivas. Pessoas que vivem em países de clima frio são tidas como
inteligentes, civilizadas e eficientes. Essa perspectiva gera servidão e uma série
de conflitos e foi utilizada durante um tempo histórico muito longo.
Ainda existem pessoas que usam essa ideia, de que o meio determina o ser
humano, para justificar as discriminações. Os antropólogos contestam essa teo-
ria dizendo que em regiões de climas e meio ambiente parecidos as pessoas têm
culturas e comportamentos diferentes.
Determinismo geográfico: prega que o meio determina os comportamentos
dos seres humanos (LARAIA, 2001).

Dentre as teorias modernas de cultura, Laraia destaca a de Ruth Benedict, que


diz: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA,
2001, p. 67). Se olharmos o mundo através dessa lente, partimos dos pressupos-
tos da cultura que possuímos, que aprendemos socialmente.

A Cultura e as Diferenças Transculturais


84 UNIDADE III

Ao olharmos o mundo por nossa própria lente e considerarmos que a cul-


tura em que vivemos traz o padrão correto, surge uma dificuldade nas pessoas
de aceitar o diferente, o outro. Esses processos geram um componente definido
como etnocentrismo, que é a dificuldade de aceitar a diferença, e pode causar
muita hostilidade entre os povos, levando-os à guerra, rejeição, disputa pelo
poder e até tentativa de escravizar o mais fraco.
Percebemos que a cultura não é uma simples reunião de fundamentos, pois
cada um de nós observa o mundo e as expressões humanas de acordo com seus
paradigmas. Laraia (2001, p. 67) aponta que “a cultura condiciona a visão do

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mundo, interfere na existência física do ser humano, opera com uma lógica pró-
pria e se mantém dinâmica”. A cultura envolve tudo que se faz numa sociedade e
tem influência direta nas relações sociais, políticas e de poder. De uma maneira
simples, é todo e qualquer tipo de manifestação do ser humano. De época em
época a cultura sofre mudanças, que determinam novos hábitos e costumes.
Cada sociedade apresenta uma cultura específica com características pró-
prias que sofrem influência do ambiente no qual esta cultura se encontra inserida.
Roupas, comidas e até a forma de falar e se comunicar variam de cultura para
cultura, dependendo do ambiente. Percebe-se o grande desafio estabelecido para
plantação de igrejas.
Lloyd Kwast apresenta um modelo útil para compreensão da cultura como um
sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o com-
portamento e o habitus, que é acrescentado por Pierre Bourdieu. Kwast adverte:
[...] este modelo de cultura é muito simplista para poder explicar a
variedade de componentes e relações complexas existentes em cada
cultura, todavia, é a própria simplicidade do modelo que o recomen-
da como esboço básico para qualquer um que vá estudar a cultura
(KWAST, 1987, p. 441).

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


85
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Figura 1 - O que é cultura?


Fonte: Kwast (1987, p. 440).

A análise do modelo inicia-se visualizando os sucessivos níveis de entendi-


mento, à medida que se aproxima da verdadeira essência da cultura. O primeiro
elemento que se percebe no sistema é o habitus, definido por Bourdieu como:
[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando
todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma
matriz de percepções, de apreciações e de ações - e torna possível a re-
alização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências
analógicas de esquemas (BOURDIEU, 1983, p. 65).

Kwast (1987) apresenta, em seguida, na construção de seu modelo, o “comporta-


mento”. Trata-se da forma como as coisas são realizadas. Isso fornece um elemento
importante na cultura, a padronização do que se faz, o que traz entre os parti-
cipantes de determinada cultura um sentimento de identidade e continuidade
quase impenetrável. Por isso, à medida que as sociedades se estabelecem, as pes-
soas passam a fazer escolhas comportamentais semelhantes.
Essas escolhas são refletidas na criação de valores culturais, que se trata do
próximo nível do modelo de Kwast. Os valores sempre dizem respeito ao que é
bom, benéfico ou o que é o melhor a ser aceito.

A Cultura e as Diferenças Transculturais


86 UNIDADE III

Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma cultura toma dian-


te de escolhas que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam
aqueles que vivem dentro da cultura a saber o que deveria ser feito a
fim de se adequarem ou se conformarem ao padrão de vida (KWAST,
1987, p. 439).

No próximo nível do modelo nos deparamos com um momento de maior com-


preensão do que é verdadeiro para uma específica cultura, trata-se das crenças
culturais. Kwast (1987, p. 439) diz que “numa cultura os valores não são esco-
lhidos arbitrariamente, mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de
crenças”.

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Na questão educacional, por exemplo, existe um critério do que é verdadeiro
acerca do homem, sua inteligência, sua capacidade de resolver problemas. Nessa
questão, a cultura é definida pela maneira como as coisas são percebidas, apren-
didas e compartilhadas.
Não descartamos a hipótese de que numa mesma sociedade pessoas dife-
rentes, embora possam possuir comportamentos e valores semelhantes, podem
professar crenças diferentes. Nesse aspecto Kwast explica:
[...] este problema é resultante da confusão dentro da cultura entre
crenças operacionais (crenças que afetam valores e comportamen-
to) e crenças teóricas (convicções expressas em palavras e que têm
um impacto praticamente nulo sobre os valores e o comportamento)
(KWAST, 1987, p. 440).

Finalmente, no âmago de qualquer cultura está a sua visão do mundo ou cosmo-


visão, a qual busca identificar o que é real. Neste nível da cultura estão as grandes
questões que raramente são apontadas, mas para as quais a cultura concede as
mais relevantes respostas. Kwast (1987), conclui que quase ninguém pensa seria-
mente a respeito das pressuposições mais profundas da vida:
[...] quem são? De onde vieram? Existe alguma outra coisa ou alguém
mais a ocupar a realidade de modo que devesse ser levado em conta?
Aquilo que eles vêem é realmente tudo o que existe, ou existe alguém
mais ou alguma outra coisa? O momento de agora é o único tempo que
é importante? Ou os acontecimentos no passado e no futuro têm algum
impacto significativo em sua experiência atual? Cada cultura presume
respostas específicas a estas indagações e as respostas controlam e in-
tegram cada função, cada aspecto e cada componente da cultura. Esta
compreensão da cosmovisão como sendo o cerne de cada cultura ex-

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


87

plica a confusão que muitos experimentam em nível de suas crenças. A


cosmovisão de uma pessoa oferece um sistema de crenças que se reflete
em seus reais valores e comportamento (KWAST, 1987, p. 440-441).

Em uma cultura, às vezes, um modelo novo ou rival de crenças é introduzido


por meio da evangelização, mas se a cosmovisão não for confrontada a cultura
permanecerá sem mudanças significativas, de modo que os valores e o com-
portamento podem permanecer no antigo sistema de crenças. Em contextos
transculturais, essa questão não pode deixar de ser levada em conta para que
mudanças genuínas sejam produzidas.
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DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Não há como desconsiderar a estranheza que um missionário ou um plantador


de igrejas suporta quando deixa sua terra natal e encontra-se numa diferente
cultura. A começar pela possibilidade de um idioma misterioso, bem como dife-
rença de vestuários, alimentos, crenças e valores enigmáticos.
Hiebert (1987) apresenta o exemplo quanto ao entendimento cultural dife-
rente sobre tempo:

Diferenças Transculturais
88 UNIDADE III

[...] quando, por exemplo, dois americanos concordam em se encontrar


às dez horas, eles estão “na hora” se aparecerem de cinco minutos an-
tes a cinco minutos depois das dez. Se alguém aparece quinze minutos
depois, está “atrasado” e gagueja uma desculpa esfarrapada. Ele deve
simplesmente reconhecer que está “atrasado”. Se ele chegar com meia
hora de atraso deve ter uma boa desculpa, e lá pelas onze nem precisa
mais aparecer. Sua ofensa é imperdoável. Em algumas partes da Arábia,
o povo tem um conceito ou mapa diferente do tempo. Se a hora da reu-
nião for às dez horas, só um servo aparece às dez – em obediência ao
seu senhor. A hora apropriada para os outros é de dez e quarenta e cin-
co até onze e quinze, tempo suficiente depois da hora marcada para que
ambos demonstrar a independência um do outro e a igualdade. Este

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arranjo funciona bem, pois quando duas pessoas iguais concordam em
se encontrar às dez, cada uma aparece por volta das dez e quarenta e
cinco, esperando que a outra faça o mesmo. O problema surge quando
um americano se encontra com um árabe e marca reunião para às dez
horas. O americano aparece às dez, a “hora certa” segundo ele. O árabe
aparece às dez e quarenta e cinco, a “hora certa” segundo ele. O ameri-
cano acha que o árabe não tem nenhum senso de tempo (o que não é
verdade), e o árabe é tentado a pensar que os americanos agem como
servos (o que também é falso) (HIEBERT, 1987, p. 449).

Diante de todas as adaptações que são requeridas quando nos inserimos em um


novo contexto cultural, Hiebert (1987) considera que uma viagem para o exte-
rior traz, no primeiro momento, vibração e euforia. Quando surgem, porém,
os imprevistos e os conflitos com as diferenças culturais, ocorre um verdadeiro
choque, um sentimento de confusão e desorientação.
Esta não é uma reação contra a pobreza ou contra a falta de higiene,
pois os estrangeiros que chegam aos Estados Unidos experimentam o
mesmo choque. É o fato de que todos os padrões culturais que adqui-
rimos se tornam sem sentido. Sabemos menos que as crianças sobre
a vida aqui e temos que começar novamente a aprender as coisas ele-
mentares – como falar, cumprimentar os outros, comer, fazer compras,
viajar e milhares de outras coisas (HIEBERT, 1987, p. 450)

Como turistas, é mais fácil enfrentar as diferenças culturais, pois sabemos que,
a qualquer momento, estaremos de volta à nossa realidade. O choque cultural
ocorre quando percebemos que aquela será a nossa vida por um longo período,
principalmente quando se trata de uma mudança em função de um chamado
missionário. E, nesse caso, somente o chamado pode ser um contra-ponto para
enfrentar o sentimento de desorientação numa cultura diferente.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


89

Com o passar dos dias, a adequação começa a acontecer. Podemos contar


moedas, fazer novos amigos, utilizar o transporte local e, assim, começamos a
nos encaixar no novo contexto cultural. Isso, se fugirmos da tentação de criar
nosso ambiente cultural no novo país. Vencidas essas barreiras iniciais, quando
nos moldamos à nova cultura, nos tornamos pessoas biculturalmente adaptadas.
Observaremos em seguida como Hiebert (1987) considerou o impacto das
diferenças culturais na transmissão do evangelho e na implantação de novas
igrejas em outras sociedades:
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a) Mal-entendidos transculturais - No Zaire, alguns missionários encontra-


ram problemas de relacionamento pessoal que foi interpretado por um habitante
idoso do país:
[...] quando vocês chegaram, vocês trouxeram costumes estranhos - ele
disse - vocês trouxeram latas com alimentos. Do lado de fora havia a
figura de espigas de milho. Quando vocês abriram, havia muito milho
lá dentro e vocês o comeram. Do lado de fora de outra havia a figura
de carne e dentro dela havia carne e vocês comeram. E quando vocês
tiveram o nenê, trouxeram também latinhas. Do lado de fora dela havia
figuras de nenéns, e vocês abriram as latinhas e alimentaram o nenê
com o que havia dentro delas” (HIEBERT, 1987, p. 452).

Diferenças Transculturais
90 UNIDADE III

O mal-entendido estabelecido parece sem sentido, mas possui uma razão. Na


falta de elementos suficientes para interpretação de uma determinada cultura
fazemos nossa própria interpretação, chegando a conclusões, muitas vezes, equi-
vocadas. Podemos pensar que o atraso do árabe traduz falta de consideração ou
compromisso e interpretamos como mentiras a tentativa de justificar o ocorrido.
Entretanto, não consideramos mentira quando alguém nos pergunta como esta-
mos e respondemos que está tudo bem, mesmo quando não está.
Os mal-entendidos culturais se baseiam na ignorância sobre uma outra
cultura. Este é um problema de conhecimento. A solução é aprender a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
conhecer como funciona a outra cultura. Nossa primeira tarefa ao en-
trarmos em uma nova cultura é estudar os seus costumes. Mesmo mais
tarde, sempre que parecer que alguma coisa está errada, devemos pre-
sumir que o comportamento das pessoas faz sentido por elas, e reanali-
sar nossa própria compreensão de sua cultura (HIEBERT, 1987, p. 453).

b) Etnocentrismo - “A maioria das nacionalidades se arrepia quando entra


num restaurante indiano e vê as pessoas comendo arroz e caril com as mãos.
Imaginem participar de uma ceia de Natal e se servir com as próprias mãos”
(HIEBERT, 1987, p. 453). A questão, aqui presente, é que sempre estamos cen-
trados no nosso próprio mundo. E não consideramos os diferentes pontos de

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


91

vista. “Crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos são os modos
certos de fazer as coisas. Qualquer pessoa que faça de maneira diferente não é
muito civilizada” (HIEBERT, 1987, p. 453).
O etnocentrismo se constitui em nossa predisposição em avaliar os com-
portamentos das pessoas de outras culturas pelos padrões e valores de nossas
próprias culturas. Mas, da mesma forma somos avaliados. O indiano também
se choca ao perceber que usamos talheres que estiveram inúmeras vezes na boca
de outras pessoas. Hiebert (1987) aponta que quando nos relacionamos, além de
entender as pessoas, precisamos derrubar as barreiras que separam as pessoas
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da nossa cultura das pessoas de outra cultura. “A identificação somente acon-


tece quando - eles - se tornam parte do círculo de pessoas que nós consideramos
como - nosso tipo de gente” (HIEBERT, 1987, p. 453).

c) Tradução - Para o estabelecimento de uma igreja, torna-se necessário que


a cosmovisão bíblica seja compartilhada; entretanto, muitas passagens podem se
tornar sem sentido, caso seja mantido seu significado original. Por isso, o grande
desafio que temos é levar as boas novas do evangelho às nações. Hiebert trata e
nos apresenta esse tema.

Diferenças Transculturais
92 UNIDADE III

Como você traduziria ... cordeiro de Deus... (João 1:29) para o esquimó,
língua na qual não existe qualquer palavra ou qualquer experiência com
animais que nós chamamos de ovelhas? Você criaria uma nova palavra e
acrescentaria uma nota no rodapé para descrever a criatura que não tem
significado no seu pensamento? Ou será que você usaria uma palavra
como ...foca..., que tem mais ou menos o mesmo significado na cultura
deles que ...cordeiro... tem na Palestina? [...] Em outras palavras, se numa
língua encontramos a palavra cordeiro, só precisamos encontrar a palavra
na outra língua para um mesmo tipo de animal e as pessoas entenderão o
que estamos querendo dizer. Mas não é isto necessariamente que aconte-
ce. Na verdade, geralmente acontece o contrário. As mesmas formas não
carregam os mesmos significados nas diferentes línguas. Quanto mais li-

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teralmente traduzirmos a forma, maior o perigo de perdermos o signi-
ficado. Um exemplo desta variação e significados dados à mesma forma
encontra-se na história do Natal. Na Palestina os pastores eram homens
devotos e respeitados. Na Índia os pastores são os beberrões das vilas, e nas
representações teatrais sobre o Natal mais do que uma vez eles subiram ao
palco completamente bêbados. Neste caso a forma foi mantida, mas per-
deu-se algo do significado. A mesma perda pode ocorrer sempre quando
traduzimos formas culturais tais como cultos ao redor da fogueira, árvores
de Natal e cruzadas evangelísticas (HIEBERT, 1987, p. 453-454).

Entendemos que a salvação não está limitada a um profundo conhecimento da cosmo-


visão cristã, mas se faz quando o homem reconhece sua condição de pecado e aceita
a Cristo como seu salvador e busca seguir seus ensinamentos. Entretanto, para que o
futuro dessas igrejas esteja assegurado, é necessário que haja uma construção de uma
cosmovisão bíblica eliminando possíveis desencontros ocorridos por erros de tradução.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


93

d) O evangelho e a cultura - Nesse sentido, Hiebert (1987) nos alerta sobre


o cuidado que temos que ter para não vincular o evangelho ao contexto cultu-
ral do pregador. Alguém já disse, tragam as sementes do evangelho a nós e não
o evangelho como uma planta crescida em vaso.
A mensagem do evangelho não pode ser traduzida em bancos de igrejas,
paredes brancas ou em terno e gravata. Muito menos em sistemas de governo ou
usos e costumes. Em certo aspecto, a cultura deve ser respeitada. Em algumas
culturas templos de tijolos não terão espaço e o culto só fará sentido se realizado
debaixo de árvores ou ao ar livre. Embora encontramos na palavra de Deus abso-
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lutos morais que não podem ser esquecidos. Então, em uma sociedade que aceita
a idolatria, a poligamia ou o adultério, a Palavra de Deus deve ser ensinada até
que condições de práticas pecaminosas sejam transformadas.

e) Sincretismo versus autoctonia - No que diz respeito a autoctonia das


igrejas, temos que ter um profundo investimento em plantar igrejas com uma
base teológica correta e abrangente, de forma que se estabeleça um evangelho
com o poder de transformação. Caso contrário, as igrejas serão comunidades
sincréticas que possuem sua interpretação particular e distorcida das Escrituras.
Hilbert caracteriza o cuidado que devemos ter ao interpretar diferentes culturas.

Diferenças Transculturais
94 UNIDADE III

Não só devemos separar o evangelho de nossa própria cultura, mas de-


vemos procurar expressá-lo em termos da cultura na qual entramos.
As pessoas podem sentar no chão, cantar hinos em ritmos e melodias
nativas. [...] Mas, como já vimos, a tradução envolve mais do que colo-
car ideias em formas nativas, pois essas formas talvez não tragam signi-
ficados adequados para a expressão da mensagem cristã. Se nós, então,
a traduzirmos em formas nativas sem nos preocuparmos em preservar
o significado, acabaremos no sincretismo – a mistura de significados
antigos e novos de modo que a natureza essencial de cada um se perde.
Se nós formos cuidadosos em preservar o significado do evangelho,
mesmo quando o expressamos em formas nativas, teremos a autoc-
tonia. Isto pode envolver a introdução de nova forma simbólica, ou

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pode envolver a reinterpretação de um símbolo nativo. Por exemplo,
as damas-de-honra, hoje associadas aos casamentos cristãos, foram
originalmente usadas por antigos povos europeus não-cristãos para
confundir os demônios que eles pensavam que viria para levar a noiva
(HIEBERT, 1987, p. 458).

Nesse sentido deve sempre haver um grande cuidado na introdução da cul-


tura do evangelho, por exemplo, em comunidades onde antes a poligamia era
comum, as mulheres devem ser orientadas para que não venham envolver-se na
prostituição ao serem deixadas por seus antigos “maridos”. Em cada igreja plan-
tada temos que crer pela poderosa operação do Espírito Santo, conduzindo os
homens a toda a verdade do evangelho do Reino Eterno.

Igreja Autóctone - uma igreja é autóctone quando, a mesma, não depende


de recursos externos para sua existência, possui uma liderança local respon-
sável por seu governo e tem a capacidade de reproduzir-se em novas igrejas.
Fonte: o autor.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


95
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COMPREENDENDO CULTURAS, FORMATOS E


MODELOS

Caro(a) aluno(a), a plantação de igrejas eficazes, seja em seu próprio país ou em


uma outra nacionalidade, é uma obra missionária. Por isso, abordamos no item
anterior aspectos culturais e os impactos das diferenças transculturais dentro de
uma visão de antropologia missionária.
Iniciamos, neste momento, uma reflexão sobre a relação da cultura com o
formato da igreja e modelo de plantação de igreja, que são dois elementos dife-
rentes. O primeiro diz respeito à forma final que se espera para a igreja plantada,
e o segundo diz respeito ao processo de plantação da igreja. Stetzer (2015) diz
que o plantador perspicaz precisa começar por determinar sua missão - o que
inclui o entendimento de seu chamado e convicção pessoal. Obviamente sua
missão deve estar alinhada e submetida à missão de Deus.
Em seguida, deve buscar compreender a cultura à qual foi chamado. Como
pensam as pessoas que vivem naquele lugar? Quais são seus valores? Que acon-
tecimentos moldaram sua história coletiva e como afetaram seu entendimento
grupal? Qual a sua visão de mundo e o que constitui verdade para eles?
A resposta a essas perguntas começam a delinear o formato que se vislum-
bra para a igreja e o modelo que poderá ser utilizado para sua plantação. Pode
parecer conflitante falarmos de formatos e modelos diante de tanta diversi-
dade cultural existente, entretanto, quando abordamos esse tema, estamos nos
referindo ao padrão basilar que será utilizado para a plantação de uma igreja,

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


96 UNIDADE III

considerando suas realidades culturais e necessidades de contextualização. Jamais


poderíamos pensar em reprodução em série no que diz respeito à plantação de
igrejas, pois cada cultura, povo e congregação terá suas características próprias
de funcionamento.
O aspecto de avaliação cultural é apresentado por Stetzer (2015) para servir
a vários propósitos em nossa compreensão da plantação de igreja, como cita-
dos a seguir:
■ Identificar os componentes de um determinado público-alvo e pesquisar
sua cultura, com o objetivo de levá-los a Cristo. Para que se possa obter

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bons resultados no trabalho desenvolvido, é preciso saber quem são as
pessoas, bem como saber interpretá-las.
■ É importante conhecer as informações de segmentação demográfica para
tomada de decisões sobre evangelização.
■ Embora as culturas e as pessoas sejam diferentes, o evangelho sempre
será o mesmo para todas elas.

Dulles (1978) considera a Igreja, à semelhança de outras realidades teológicas,


um mistério de Deus. Mistérios são realidades de que não podemos falar dire-
tamente. Se quisermos discorrer sobre eles, por pouco que seja, devemos lançar
mão de analogias facultadas pela nossa experiência do mundo. Essas analo-
gias fornecem formatos e modelos. Com a atenção voltada para tais analogias
e utilizando-as como “parâmetros” podemos crescer em direção a uma maior
compreensão da Igreja.
Não estamos utilizando formatos ou modelos, como ocorre na arquite-
tura, os quais são simples réplicas ou miniaturas da realidade em consideração.
Estamos indicando pontos de referência e correspondências funcionais, como
ocorre nas ciências físicas ou biológicas, com o objetivo de tomada de decisão
quanto ao modelo para a plantação e o formato final que se deseja para a nova
igreja se reunir e trabalhar em conjunto, embora esse modelo possa sofrer trans-
formações até se consolidar.
Não podemos apresentar um molde, ao qual diferentes culturas terão que se
adaptar. Na Unidade II definimos a essência da Igreja e identificamos seus pro-
pósitos principais, os quais desejamos que sejam percebidos em qualquer igreja

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


97

estabelecida. Como já observamos, quem dá o crescimento para uma igreja local


é o próprio Deus, o criador da Igreja. Ele transforma as pessoas, as acrescenta às
comunidades, concede dons e chama novos líderes.
Quanto ao formato da igreja, genericamente Ott e Wilson (2013), indicam
que ele pode ser público ou privado, em pequenos grupos ou em um grupo
maior, em um tipo repetido de reunião (como o culto dominical) ou de acordo
com um ritmo próprio, combinando vários tipos de reuniões. Entretanto, aque-
les que já visitaram comunidades cristãs em terras diferentes podem atestar a
grande variedade de maneiras com que as igrejas se reúnem para adoração, edi-
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ficação e serviço.
Hoje as celebrações maiores florescem em algumas sociedades, en-
quanto em outras, como em regiões tribais escassamente habitadas ou
povoadas por grupos nômades, os pequenos grupos familiares são a
norma. E cidades com alta densidade demográfica você pode encontrar
igrejas nas prisões, igrejas de rua, nas escolas, em empresas, em bares
e outros reunidos por afinidade. Perseguição ou liberdade, pobreza ou
riqueza, sociedades tradicionais ou progressistas - esses fatores eram
e permanecem importantes na formação de igrejas (OTT; WILSON,
2013, p. 115-116).

Embora as diretrizes das escrituras sejam amplas quanto aos aspectos de forma-
ção de igrejas, as negligências em observar padrões teológicos corretos podem
acarretar várias consequências negativas. Ott e Wilson (2013) afirmam que as
escolhas feitas pelos plantadores terão um impacto importante no estabeleci-
mento, crescimento, saúde e reprodução da igreja.
Indicamos a seguir alguns princípios relevantes, indicados por Ott e Wilson
(2013), que norteiam a plantação de igrejas teologicamente saudáveis e que sejam
culturalmente apropriadas, revelando a diversidade criativa de Deus:
1. Liberdade orientada pelo Espírito Santo: biblicamente, percebemos que
as congregações possuem bastante liberdade nos parâmetros para estru-
turação das novas igrejas, conforme retratado em Atos, capítulo 15. A
essência refere-se a princípios e valores, não recai sobre a tradição. “As
igrejas do Novo Testamento tinham que ser flexíveis e resistentes às adver-
sidades porque, na maioria dos casos, emergiram em território hostil e
tiveram que se adaptar às circunstâncias” (OTT; WILSON, 2013, p. 118).

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


98 UNIDADE III

A mesma flexibilidade é requerida em cenários multiculturais, desde os


grandes centros urbanos às comunidades mais primitivas.
2. Compreenda a cultura antes de determinar o formato da igreja: Van
Gelder nos alerta sobre a necessidade de considerarmos cada contexto
cultural antes de aplicarmos os princípios da eclesiologia:
[...] todas as eclesiologias devem ser vistas em funcionamento relativo
a seu contexto. Não há outra maneira de ser igreja exceto dentro de um
cenário concreto e histórico. [...] Novos contextos pedem novas expres-
sões para a compreensão da igreja (VAN GELDER, 2000, p. 40-41).
A preferência pessoal não deve nunca estar presente na definição do

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formato das igrejas plantadas. Desde que sejam teologicamente corre-
tas, as igrejas têm liberdade de serem adaptadas culturalmente. Líderes
locais convertidos à Palavra de Deus são muito importantes para tradu-
ção daquilo que é relevante para a cultura local.
3. Agentes do formato da igreja: cremos que as igrejas plantadas perten-
cem aos cristãos locais debaixo da autoridade do Cabeça da Igreja, Cristo
Jesus. Por isso a voz da comunidade deve ser ouvida e considerada, no
que diz respeito ao melhor formato de funcionamento da igreja para cada
cultura. Certamente, os fundamentos ensinados devem ser bíblicos para
que a igreja reflita uma comunidade do Reino de Deus e cumpra a Grande
Comissão. O processo de contextualização deve ser desenvolvido com
oração, reflexão e participação de informantes culturais que já são con-
vertidos e começam a desenvolver conhecimento bíblico. “O povo local,
livre do controle externo e de designs importados pode, sob a direção do
Espírito tornar-se a comunidade contextualizante natural” (OTT; WIL-
SON, 2013, p. 119).

Em seguida, descreveremos os formatos básicos nos quais as igrejas, em geral, se


configuram. Ao expor cada formato, será apresentada uma descrição, metáfora,
exemplos, pontos fortes, possíveis pontos fracos e o contexto indicado. Foram
selecionados os três principais formatos que dão origem a uma igreja dentro dos fun-
damentos teológicos desejáveis. Os padrões ou formatos mais comuns apresentados
neste tópico fundamentam-se nos estudos de Ott e Wilson (2013). Ocasionalmente,
um contexto pode exigir um ponto de partida diferente. Após esta abordagem, ini-
ciaremos o tratamento de modelos possíveis utilizados para a plantação de igrejas.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


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Quadro 1 - Formato 1- Igrejas nos lares

Descrição
Uma comunidade cristã básica.
Foco em relacionamento e missão cristã.
Reúnem-se em casas, ou locais de trabalho ou locais neutros.
Geralmente dirigida por um pastor leigo.
Geralmente pertence a uma denominação.
Metáfora
Igreja como família.
Exemplos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Igrejas nos lares na China.


Rede Repensando o Cristianismo Autêntico, Japão.
Grupo denominado Igreja Local, Brasil.
Pontos fortes
Alta prestação de contas.
Contexto de pequenos grupos para discipulado.
Capaz de sobreviver à perseguição.
Pode penetrar em contextos urbanos.
Não requer edifícios, nem obreiros profissionais.
Potencial para multiplicação rápida.
Possíveis pontos fracos
Espírito de independência.
Perigo de líderes controladores e falsas doutrinas.
Os relacionamentos tendem a se aprofundar somente para dentro do grupo.
Visto com desconfiança, falta de credibilidade.
Os grupos geralmente têm vida curta.
Contexto indicado
Zonas rurais e onde existe perseguição.
Onde a pobreza ou restrições de zoneamento tornam um edifício inacessível.
Raramente funciona em contextos ocidentais tradicionais.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121).

Ott e Wilson (2013) acrescentam que as igrejas nos lares trazem à lembrança
uma reunião familiar. Os relacionamentos são edificados usando dons espiritu-
ais, estudo bíblico e uma abordagem para o evangelismo. Os grupos formados,

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


100 UNIDADE III

geralmente, não ultrapassam a quantidade de 50 pessoas. Encontram-se regu-


larmente em uma casa particular ou outro local não religioso e são dirigidas
por uma equipe de pastores leigos, no entanto, a reunião é participativa e todos
os membros ministram. Algumas igrejas nos lares têm se mostrado efetivas no
evangelismo e na reprodução. Tim Chester, um líder britânico de igreja nos lares,
cita as seguintes vantagens das igrejas do tamanho de uma família:
a família determina um tamanho no qual o discipulado e o cuidado
mútuos podem realisticamente acontecer. Ela cria uma simplicidade
que combate a mentalidade de manutenção: não há edifícios caros para

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
manter ou programas complexos para operar. Ela determina um estilo
que é participativo e inclusivo, espelhando o modelo de discipulado e a
comunhão ao redor da mesa do próprio Jesus (CHESTER, 2000, p. 41).

As igrejas nos lares podem ter um rápido aumento de tamanho, sem, no entanto,
amadurecer quanto ao ensino e formação de lideranças. O que pode ocasionar
uma duração menor para sua existência, se comparada às congregações tradicio-
nais. Ott e Wilson (2013) sinalizam que este formato apresenta maior dificuldade
para desenvolvimento de ministérios com crianças, jovens ou grupos de recu-
peração. A necessidade de uma cobertura espiritual se mantém decisiva para o
futuro e saúde desse formato de igreja.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


101

Quadro 2 - Formato 2 - Congregação reunida voluntariamente

Descrição
Uma unidade congregacional com agrupamentos por afinidade.
Geralmente usa um modelo baseado em um programa.
Reúnem-se em edifícios públicos.
Sociedade voluntária, aparentemente sem fins lucrativos.
Dirigida por pastores ordenados remunerados.
Metáfora
Igreja como instituição.
Exemplos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A maioria das denominações brasileiras e americanas.


Pontos fortes
Visibilidade na comunidade.
Recursos e ministérios profissionais.
Ensino e cuidado pastoral consistente.
Testada pelo tempo, familiar, estável.
Ministérios especializados com crianças, jovens, aconselhamento etc.
Possíveis pontos fracos
Vulnerável sob a perseguição e mudanças demográficas.
Dispendiosa pela expectativa de ter um pastor profissional e um edifício.
Não é facilmente adaptável a vizinhanças que passam por mudanças.
Reprodução lenta.
Contexto indicado
Adequado para áreas tradicionalmente cristãs.
Zonas rurais e comunidades pequenas.
Onde os terrenos e os imóveis são acessíveis.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121)

No Brasil e nas Américas a maioria das igrejas protestantes fazem parte dessa
classificação. Ott e Wilson (2013) as identificam como congregações simples,
com menos de duzentas pessoas, em média. Essa estrutura tem sido formada
por uma assembleia voluntariamente reunida, segundo apontado por Dietterich.

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


102 UNIDADE III

As pesquisas indicam que esse formato de igreja tem sido determina-


do mais pelas particularidades do cenário religioso do que por algu-
ma posição teológica característica. A separação legal entre a igreja e o
Estado, o desenvolvimento de uma democracia participativa, a ênfase
sobre a liberdade religiosa do indivíduo, a proliferação de escolas de-
nominacionais, o anseio pela associação religiosa e pelo cuidado em
uma sociedade de imigrantes, assim como o formato de organização
burocrática moderna têm, conjuntamente, contribuído para o avan-
ço de um modelo particular de igreja (DIETTERICH, 2004, p. 2 apud
OTT; WILSON, 2013, p. 123).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Essas igrejas, geralmente, têm um pastor profissional, trabalhando em tempo
integral ou parcial e voluntários que fazem o trabalho de secretaria, manutenção,
administração, ensino bíblico e trabalhos ministeriais. A maioria gira em torno de
um programa central e tende a ser relativamente estável e altamente estruturada.
Essas igrejas tendem a produzir obreiros e facilitar a comunhão, mas podem,
também, alimentar o tradicionalismo e a tomada de decisões, pode tornar-se
burocrática e centralizada, retratando formações seculares empresariais.
Mesmo com as aparentes desvantagens, esse tipo de igreja tem funcionado
bem. Uma solução para combater as fraquezas desse modelo é a organização de
grupos caseiros e o treinamento de leigos para liderá-los, facilitando o ministé-
rio mútuo baseado nos dons espirituais.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


103

Quadro 3 - Formato 3 - Igreja de celebração em células

Descrição
Comunidades cristãs básicas em células.
Trabalham juntas para celebração e cumprimento da missão cristã.
Encontram-se nos lares e periodicamente em um local público.
Cresce treinando líderes e multiplicando células.
Metáfora
Igreja como rede.
Exemplos
Igreja Yohido Full Gospel, Seul, Coreia do Sul.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Mission Carismática Internacional, Bogotá, Colômbia.


Pontos fortes
Benefícios de igreja grande e de grupos pequenos.
A igreja pode crescer e permanecer familiar.
Descentralização de ministérios em células.
Concede autoridade ao ministério leigo.
Possíveis pontos fracos
Células problemáticas.
Mesmos perigos das igrejas nos lares.
A celebração pode ofuscar as células.
Exige enorme energia para fazer funcionar a célula e a celebração.
Contexto indicado
Adequada para contextos urbanos.
Sociedades nas quais as reuniões grandes e pequenas são valorizadas.
Onde associações voluntárias em pequenos grupos são comuns.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 120-121).

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


104 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ott e Wilson (2013) indicam que em alguns lugares essa igreja é também cha-
mada de “igreja de duas asas” porque mantém um equilíbrio entre a célula
(reunião pequena) e a celebração (reunião grande). O discipulado pessoal, o
cuidado espiritual, o estudo bíblico e o evangelismo são descentralizados nas
células - a igreja como família. A adoração, o ensino e os eventos atrativos ocor-
rem predominantemente na celebração ou na grande reunião - a igreja como
povo de Deus. Até o batismo, a ceia e a disciplina na igreja podem ser pratica-
das no âmbito das células.
O desafio, no entanto, é mobilizar a liderança, a energia e os recursos
para realizar ambas as asas de forma satisfatória. Em alguns movimen-
tos de igrejas em células os líderes e as células são reproduzidos por
meio de clonagem. Cada célula tem um aprendiz e quando o grupo
chega a certo número de pessoas, se multiplica, dividindo o grupo em
dois e comissionando o aprendiz para liderar um dos grupos. Em cul-
turas nas quais o individualismo não é um valor forte, uma abordagem
de clonagem e controle centralizado é mais aceitável. No entanto, em
muitos lugares hoje, forçar a multiplicação (como no G12) vai contra
a índole cultural e seria considerada uma atitude abusiva. Outra abor-
dagem é tornar tarefa principal do líder encontrar um aprendiz com a
mistura certa de dons e mentoreá-lo para que a reprodução aconteça,
seja na célula, seja na celebração. As células podem apresentar todos os
problemas das igrejas nos lares. O desenvolvimento contínuo de for-
tes líderes de células é a chave para igrejas em células saudáveis (OTT;
WILSON, 2013, p. 124).

Ott e Wilson (2013) consideram que o Senhor não prescreveu formatos de igre-
jas, mas permitiu que os apóstolos tivessem a orientação do Espírito Santo no
estabelecimento de igrejas autóctones, com formação de lideranças locais. Os

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


105

plantadores de igrejas não devem imaginar um formato preconcebido que viram


ou experimentaram, para que não venham a ser as únicas pessoas que se sentem
em casa na igreja estabelecida.
Quando as estruturas não são adequadas a um dado contexto, isso leva
a uma igreja estrangeira que nunca está à vontade na cultura, uma igre-
ja estéril que nunca se reproduz e uma igreja sincretista que espalha
falsas doutrinas ou práticas religiosas. Os plantadores de igrejas de-
vem estar abertos à mudança, desconsiderar seus formatos preferidos
e servir como conselheiros enquanto os cristãos locais, que pertencem
àquela cultura, dão forma à igreja. A igreja está sempre em formação,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

então, mesmo que o papel dos plantadores seja importante nos estágios
de concepção e implantação da igreja, continuam a exercer influência
por meio de seu exemplo, ensino e orientação espiritual (OTT; WIL-
SON, 2013, p. 133).

Usamos alguns exemplos para demonstrar como os mesmos valores e propósi-


tos bíblicos podem ser traduzidos por meio de diferentes formatos básicos de
igrejas, dependendo de padrões já existentes de reuniões sociais determinados
pela cultura local.
Em última análise, consideramos que a igreja plantada não pertence aos
líderes que a estabeleceram, nem mesmo ao povo da cultura local. A Igreja, em
última instância, pertence ao próprio Deus. A Igreja é o corpo do qual Cristo é
o cabeça. A noiva, que tem sido preparada para encontrar o Senhor e viver eter-
namente para Ele.

Igreja é, em primeira instância, resultado do poder de Deus, da ação do Es-


pírito Santo e da convicção de homens que sabem que estão fazendo a von-
tade de Deus.

Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos


106 UNIDADE III

MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Existem muitos princípios bíblicos eficazes para a plantação de igrejas, Deus não
abençoa um modelo mais do que outro. Estes modelos dizem respeito às ações
que serão desenvolvidas para que uma igreja seja plantada contextualmente
em uma determinada cultura. Bustle e Crocker (2010) afirmam que não há um
modelo único de plantação de igrejas que se aplica a todas as culturas, contex-
tos e realidades. Alguns são mais eficazes em áreas pioneiras, enquanto outros
são mais eficazes em áreas em que o cristianismo já existe há muito tempo, mas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a igreja está num estado de declínio.
A recomendação é que se use os modelos que melhor se adequem ao contexto
e realidades do ministério. Oração, reuniões e boa missiologia serão extrema-
mente úteis na determinação do melhor método a ser utilizado. Pode ser que em
alguns casos um método puro não seja possível, mas seja necessária uma com-
binação dos métodos apresentados.
Nesse assunto, tomou-se por base e modelo de referência os estudos, traba-
lhos de pesquisa e observações realizados por Ott e Wilson (2013), bem como
suas nomenclaturas e terminologias, as quais apresentaremos em três tipos de
abordagem com suas subdivisões.
1) Abordagens para a plantação pioneira de igrejas
Nesse caso, as igrejas são plantadas em lugares nos quais há poucos cris-
tãos. O trabalho será realizado, apenas, pelos plantadores e crescerá quase que
exclusivamente por meio do evangelismo. As abordagens possíveis estão resu-
midas no quadro a seguir.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


107

Quadro 4 - Plantação pioneira de igrejas

ABORDAGEM CARACTERÍSTICAS
Plantador de igrejas Um único plantador de igrejas se muda para a região-al-
pioneiro solo vo e começa um trabalho do zero.
Equipe de plantado- Uma equipe de plantação de igrejas é formada e prepa-
res de igrejas rada. Os membros da equipe possuem diversos dons,
porém a mesma visão e o mesmo chamado.
Colonização Um grande número de pessoas (geralmente da mesma
igreja) se muda para a região-alvo formando uma nova
igreja.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Plantação de igrejas Um plantador de igrejas ou uma equipe missionária pro-


não residentes cura plantar uma igreja ou igrejas por meio de visitas de
curta duração e projetos sem um plantador ou equipe
residente.
Plantação internacio- Quando uma igreja internacional é plantada, os nacio-
nal de igrejas nais também são alcançados, o que não seria possível
de outra maneira (geralmente em contexto de persegui-
ção).
Plantação indireta de Uma igreja é plantada como um sub-produto do traba-
igrejas lho de desenvolvimento, ministérios estudantis, tradu-
ção da Bíblia ou outros ministérios que não têm, geral-
mente, a intenção de plantar uma igreja.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 136).

a) O plantador solo
Segundo Ott e Wilson (2013), esse seja talvez o modelo mais comum de
plantação de igrejas e é a imagem típica que muitas pessoas têm do plantador
pioneiro. Esse é o responsável pelo evangelismo, discipulado e reunião dos novos
cristãos para formação da igreja. Pode funcionar quando o plantador está plan-
tando uma igreja na sua própria cultura e possui uma capacidade excepcional, ou
quando o povo é altamente receptivo, ou quando há um grupo de cristãos locais
que podem ser recrutados para ajudar. No entanto, raramente é eficaz transcul-
turalmente ou entre populações resistentes ao Evangelho.
b) A equipe de plantação de igrejas
Nesse caso uma equipe de obreiros, com uma visão comum e vários dons,
pode se unir no mesmo projeto. Atualmente, em missões transculturais, a abor-
dagem de equipe tem se tornado a norma para a plantação pioneira. Geralmente,

Modelos de Plantação de Igrejas


108 UNIDADE III

os membros da equipe são todos missionários vocacionados, ou alguns bivoca-


cionados. Essas equipes podem ser também multiétnicas.
A organização da equipe e sua preservação requer bastante esforço. Existe o
risco do estabelecimento de conflitos, especialmente em equipes internacionais,
nas quais conceitos culturais de liderança, tomada de decisões e valores podem
confrontar-se. “Deve-se tomar o cuidado para que um grupo bem preparado de
ministros vocacionados não tragam inibição para o trabalho voluntário de novos
líderes leigos” (OTT; WILSON, 2013, p. 137).
c) Plantação de igrejas por colonização

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse é um modelo dificilmente utilizado por causa do alto grau de envolvi-
mento que exige. Mesmo assim, pode ser um método de grandes resultados. Um
grupo de pessoas, geralmente composto por famílias inteiras, da mesma igreja
ou recrutados em várias igrejas, se muda para uma cidade ou região-alvo. Assim,
uma igreja é praticamente transplantada para o novo local. Existem os mesmos
riscos de conflitos encontrados na plantação em equipe e também a possibili-
dade de inibição para formação de novas lideranças locais, em função de muitos
dons já estarem presentes no grupo de plantadores. Caso esses problemas acon-
teçam, os mesmos devem ser discriminados e tratados.
d) Plantação não residente ou projeto de curto prazo
Caracteriza-se por visitas curtas de uma equipe de plantadores ou apenas um
líder que se dirige a um local para estabelecimento de uma igreja. Normalmente
há um ponto inicial de contato, uma família que já é cristã ou que traz abertura
à pregação da Palavra. Ocorrem reuniões para evangelização, ensino básico das
Escrituras e treinamento dos líderes locais. À medida que a igreja se estabelece,
as visitas são menos frequentes, mas devem continuar, ainda que ocasionalmente,
para fortalecimento e acompanhamento da nova congregação.
e) A plantação internacional de igrejas
Nesse caso, procura-se estabelecer uma nova igreja com a evangelização e
ajuntamento de estrangeiros que residem em outro país (estudantes, trabalhado-
res, refugiados etc.). Qualquer um dos métodos descritos anteriormente podem
ser utilizados, tendo o diferencial de que não se busca que a nova igreja plantada
seja autóctone, mas mantenha um caráter internacional, quanto ao idioma e a
liderança local. Algumas igrejas internacionais acabam por alcançar cidadãos

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


109

locais, sendo necessário a utilização do idioma local ou da plantação de uma


nova igreja que atenda a cultura do próprio país.
f) Plantação indireta de igrejas
As pessoas que plantam essas igrejas raramente foram treinadas como
plantadores e geralmente não possuem um plano de longo prazo para seu desen-
volvimento e multiplicação, mas foram ao local para trabalhos específicos como
tradução, organização de empresas e, hospitais e por meio de um bom testemu-
nho cristão, ocorre um interesse pela fé praticada e a plantação indireta de uma
nova igreja. Os leigos locais, normalmente, acabam sendo forçados a tomar uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

iniciativa maior de liderança, pois os cristãos que vieram de outra localidade estão
ocupados com outras responsabilidades e não podem se dedicar totalmente ao
pastorado da nova igreja.
Em países fechados para a atividade missionária tradicional, frequen-
temente é possível que a ajuda humanitária cristã, projetos de desen-
volvimento ou educadores entrem e se envolvam indiretamente na
plantação de igrejas. Os trabalhadores contribuem para o bem-estar do
povo local e não são vistos como uma ameaça às religiões estabelecidas
(OTT; WILSON, 2013, p. 141).

2) Abordagens para a reprodução de igreja


Verificaremos agora vários métodos apresentados por Ott e Wilson (2013),
por meio dos quais igrejas já existentes se reproduzem na mobilização de seus
membros para a plantação de uma nova igreja na mesma cidade ou em uma loca-
lidade próxima. Um resumo dessa abordagem está no quadro a seguir.

Modelos de Plantação de Igrejas


110 UNIDADE III

Quadro 5 - Reprodução de igrejas

ABORDAGENS CARACTERÍSITCAS
Plantação de igrejas Membros de uma igreja estabelecida (mãe) se separam
mãe-filha para formar o núcleo de uma nova igreja (filha).
Plantação de igrejas A igreja inicia um culto adicional ou ministério (geral-
multisite ou satélite mente com sermões por vídeo). Liderança permanece
centralizada.
Plantação de igre- Uma comunidade independente decide formar uma
jas filha adotiva ou igreja pedindo o auxílio de uma igreja estabelecida, ou
replantação uma pequena igreja com dificuldades é revitalizada.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Plantação de igrejas Várias igrejas estabelecidas cedem membros para
multimãe ou parceria iniciar uma igreja-filha comum.
Plantação de igrejas Uma igreja estabelece uma nova congregação entre
povo-foco ou multi- um grupo étnico ou social em particular, geralmente
congregação usando o mesmo edifício. As congregações são organi-
zacionalmente ligadas.
Rede de igrejas nos Igrejas caseiras multiplicam-se por divisão celular,
lares como estrutura mínima, e geralmente dirigidas por lei-
gos. O plantador não é um pastor, mas um orientador
que fornece treinamento aos líderes nos lares.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 142).

a) Plantação de igrejas mãe-filha


Plantar igrejas por esse método é comparável ao processo biológico de mul-
tiplicação por meio da divisão de células. A igreja-mãe gera uma igreja-filha,
destacando alguns membros para serem o alicerce da nova igreja. O número de
membros enviados depende do tamanho da igreja-mãe, a localização da nova
igreja e outros fatores. Os obreiros da igreja-mãe podem ser enviados para aju-
dar a começar a igreja.
Há muitas vantagens na abordagem de multiplicação de igrejas do tipo
mãe-filha. Os índices de sobrevivência e crescimento são mais altos do
que os da plantação pioneira porque os grupos de lançamento são ge-
ralmente maiores, há mais obreiros, o apoio e os recursos imediatos
estão disponíveis por meio da igreja-mãe e o projeto pode ser cuida-
dosamente preparado e planejado com tempo (OTT; WILSON, 2013,
p. 144).

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


111

O fator decisivo para a multiplicação é que o grupo inicial detenha boa experiên-
cia ministerial e sejam maduros na fé, o que proporciona liderança e estabilidade
para o trabalho realizado, o que, muitas vezes, falta em plantações pioneiras. O
impacto da ausência de membros na igreja-mãe deve ser superado por evan-
gelização, recrutamento e treinamento de novos obreiros. Esse método tem
trazido excelentes resultados para multiplicação em todo o mundo. A maior
parte dos outros métodos indicados para reprodução de igrejas são variações
dessa abordagem.
b) Plantação de igrejas multisite ou satélite
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Uma das tendências mais populares entre as grandes igrejas é o conceito


multisite ou satélite. Aqui, a igreja-filha permanece fortemente ligada à igreja-
-mãe, sem se tornar autônoma. Surratt, Ligon e Bird (2006) apresentam o slogan
comum desse perfil de igreja:
[...] uma igreja multisite é uma igreja se reunindo em várias localidades
- diferentes salas e um mesmo local, diferentes locais na mesma região
e em alguns casos em diferentes cidades, estados ou nações. Uma igreja
multisite compartilha de uma visão, um orçamento, uma liderança e
uma diretoria comum. (SURRATT; LIGON; BIRD, 2006, p. 18).

Ott e Wilson (2013) indicam que essa abordagem é comparável a um planeta


com satélites que orbitam e permanecem dentro de sua força gravitacional, com
a igreja central ou principal como o planeta e seus satélites como os vários locais
ou sedes menores. Esse modelo tem sido desenvolvido com muitas variações.
Algumas têm apenas cultos de adoração em várias localidade, outras oferecem
um extenso leque de ministérios em cada local.
É também comum que os participantes de vários locais assistam ao mesmo
sermão dominical pregado pelo pastor titular via gravação de vídeo ou trans-
missão online ao vivo. A pregação e a liderança forte do pastor sênior muitas
vezes servem como imã que mantém os satélites em órbita e leva à criação de
novas sedes.
“Compartilhando pessoal, recursos e conhecimento com a mãe, a igreja derivada
pode imediatamente oferecer uma grande gama de ministérios de alta qualidade,
o que não seria possível em uma igreja-filha mais típica” (OTT; WILSON, 2013, p.
146). Entretanto, o ministério altamente centralizado pode carecer de mobilidade

Modelos de Plantação de Igrejas


112 UNIDADE III

para se adaptar às necessidades das novas localidades. A tomada de decisão pode ser
trabalhosa, pode-se promover um conceito de ministério profissional, que depende
muito de pessoal remunerado e de tecnologia. Os custos iniciais podem ser altos.
A abordagem é eficaz para a adição de igrejas, mas raramente leva à multiplicação.
c) Plantação de igrejas por adoção
Grupos formados por uma iniciativa de estudos bíblicos, grupo caseiro ou
de discipulado podem decidir se tornar uma igreja mais formal e buscar a ajuda
de uma igreja estabelecida para fornecer orientação e, possivelmente, recursos
ou cuidado pastoral.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Uma alteração da abordagem da adoção pode ser vista quando uma igreja
que está passando por dificuldade, ou até morrendo, se aproxima de uma igreja
sadia e pede que ela seja “adotada” a fim de ser revitalizada. Algumas vezes a
igreja adotada torna-se uma sede adicional de uma igreja multisite.
A abordagem de adoção associa a maior parte dos benefícios da plantação
de igrejas mãe-filha.
No entanto, para que a adoção seja bem-sucedida, mãe e filha precisam
se conhecer bem antes que a parceria seja oficializada. Questões doutri-
nárias, filosóficas e financeiras devem ser francamente compartilhadas.
Acima de tudo, é preciso que se desenvolva a confiança entre os dois
grupos, e isso exige paciência e comunicação aberta (OTT; WILSON,
2013, p. 147-148).

d) Plantação de igrejas multimães ou em parceria


“Quase da mesma forma com que ocorre a plantação de igrejas mãe-filha -
a mãe cedendo membros - nessa abordagem, duas ou mais igrejas-mães cedem
membros para formar uma nova igreja” (OTT; WILSON, 2013, p. 148). Isso faz
que o núcleo da equipe da nova igreja seja maior e a responsabilidade permanece
compartilhada. Normalmente as igrejas-mães pertencem à mesma denomina-
ção, pois é necessário que haja uma visão comum.
e) Plantação de igreja povo-foco ou multicongregação
“Muitas igrejas alcançam um grupo étnico, linguístico ou social em sua
comunidade, dando início a uma congregação adicional que existe para aten-
der às necessidades particulares de um desses grupos” (OTT; WILSON, 2013,
p. 148-149). Essa nova congregação se reúne em salas da igreja-mãe, em horá-
rio em que o templo não é utilizado. A igreja hospedeira deve esperar custos

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


113

adicionais, incluindo o aumento das contas de água, gás, eletricidade e telefone,


bem como suprimentos e desgaste de equipamentos em geral.
O resultado dessa iniciativa são múltiplas congregações que se reúnem sob
o mesmo teto. Isso exige um compromisso considerável e flexibilidade por parte
da igreja-mãe. Os desafios não devem ser desconsiderados, pois pessoas de cul-
turas diferentes possuem opiniões distintas em relação a uma enorme variedade
de pontos potenciais de conflito.
f) Rede de igrejas nos lares
Muitas organizações missionárias estão promovendo essa abordagem pelo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rápido crescimento que esse modelo produz. A rede de igrejas nos lares se repro-
duz por meio de divisão celular de forma semelhante à da plantação mãe-filha.
Parte dos membros de uma congregação já existente são enviados para come-
çar uma reunião nos lares, tendo uma estrutura mínima e sendo dirigidas por
leigos. Possuem um grande potencial para a multiplicação rápida.
Por sua pequena visibilidade ela é mais resistente à perseguição do que as
igrejas tradicionalmente estruturadas. No entanto, pelo fato dos líderes recebe-
rem menos treinamento, podem ser suscetíveis a falsos ensinamentos e carecem
de ministérios especiais, o que pode levar à perda de membros para outras igre-
jas com maior estrutura ministerial.
g) Divisões de igrejas ou filhos não planejados
“Uma divisão de igreja é uma forma de reprodução que ninguém deseja ou
planeja, mas é a fonte de muitas novas congregações em todo o mundo” (OTT;
WILSON, 2013, p. 152). Não é necessário dizer que essa abordagem para a repro-
dução de igrejas não é aconselhada. Entretanto, da mesma forma como o conflito
entre Paulo e Barnabé resultou em duas equipes missionárias, Deus tem usado até
mesmo divisões de igrejas para expansão do Evangelho e alcance de mais pessoas.
3) Estratégias regionais para plantação de igrejas
Apresentamos, agora, os estudos de Ott e Wilson (2013) quanto a estraté-
gias de longo prazo para a plantação de várias igrejas em uma região geográfica,
uma área metropolitana, um bairro ou um Estado. Essas abordagens estão resu-
midas no quadro a seguir:

Modelos de Plantação de Igrejas


114 UNIDADE III

Quadro 6 - Estratégias regionais para plantação de igrejas

ABORDAGEM CARACTERÍSITCAS
Plantação de igrejas Iniciativas evangelísticas são empreendidas em várias
por prioridade de localidades e uma igreja é plantada no local de maior
colheita receptividade.
Plantação de igrejas Procura estabelecer pelo menos uma igreja em cada
por cabeça de ponte cidade ou vila não evangelizada, geralmente separadas
estratégica por distâncias geográficas.
Plantação de igrejas Procura estabelecer um agrupamento de igrejas relacio-
por agrupamento nadas em uma área geograficamente limitada.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Plantação de igrejas Igrejas são plantadas em cidades e vilas consecutivas,
por propagação da geralmente seguindo rotas de transporte importantes.
videira
Plantação de igrejas Igrejas (nos lares) são plantadas espontaneamente à
espontânea ou diás- medida que os cristãos locais (que podem ser cristãos
pora de diáspora) espalham naturalmente o Evangelho.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 153).

a) Plantação de igrejas por prioridade de colheita


Ott e Wilson (2013) indicam que nos primeiros anos de trabalho missionário
pioneiro, os missionários pregavam o Evangelho de vila em vila e então concen-
travam igrejas nos locais onde as pessoas tinham sido mais receptivas. As igrejas
plantadas nesses locais podem, mais tarde, evangelizar as áreas menos receptivas.
Essa parece ser a melhor forma de usar recursos e força de trabalho limitados.
b) Plantação de igrejas por cabeça de ponte estratégica
Ott e Wilson (2013) indicam que essa abordagem busca organizar a possibili-
dade de acesso espiritual em vários centros políticos, comerciais ou educacionais.
A partir dessas cidades estratégicas, as igrejas podem ser plantadas em subúr-
bios distantes, vilas ou aldeias.
Isso reflete a preferência de Paulo por plantar igrejas em centros como
Corinto e Éfeso, dos quais o Evangelho se espalharia para regiões ad-
jacentes. [...] A dificuldade dessa abordagem é que os recursos podem
ser excessivamente dispersos em uma grande área. As equipes de plan-
tação e as igrejas plantadas podem estar separadas por horas de viagem,
com pequena possibilidade de se encorajarem mutuamente, compar-

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


115

tilharem recursos ou desenvolverem sinergia a fim de imprimir um


impacto significativo em qualquer uma das regiões. Nessa abordagem,
corre-se o risco de plantar igrejas muito fracas e isoladas. Tanto as igre-
jas quanto a equipe podem facilmente desanimar caso o progresso seja
lento (OTT; WILSON, 2013, p. 154).

c) Plantação de igrejas por agrupamento


Esse modelo se constitui no oposto da abordagem por cabeça de ponte estra-
tégica, pois estabelece várias igrejas em uma área mais debilitada. Ott e Wilson
complementam:
[...] em vez de espalhar as equipes de plantação de igrejas em locais dis-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tantes uns dos outros, elas ficam concentradas em uma só área. O ponto
forte dessa estratégia é que os plantadores e as igrejas emergentes estão
razoavelmente próximos para se reunirem a fim de se encorajarem mutu-
amente, promoverem celebrações comuns periódicas, oferecerem treina-
mento conjunto de obreiros e auxiliarem-se uns aos outros em programas
evangelísticos e com outros objetivos (OTT; WILSON, 2013, p. 154).

d) Plantação de igrejas por videira


Ott e Wilson (2013) usam a metáfora de plantas trepadeiras que se espa-
lham estendendo seus ramos junto ao chão, brotando e formando novos ramos
frutíferos. Os movimentos de plantação de igrejas podem crescer também dessa
forma, plantando uma igreja após outra, de uma cidade para outra, seguindo
uma rota comercial importante ou uma estrada. Cada igreja plantada se torna
um ponto de lançamento para outra igreja-filha na próxima vila ou cidade ao
longo de um determinado percurso.
e) Plantação de igrejas dente de leão, espontânea ou diáspora
Essa foi a maneira com que o Evangelho se espalhou no primeiro século,
quando a perseguição surgiu em Jerusalém, lemos em Atos 8,4: “os que haviam
sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (BIBLÍA, 2014).
Lucas continua mais tarde, em Atos 11,19: “os que tinham sido dispersos por causa
da perseguição desencadeada com a morte de Estevão chegaram até a Fenícia,
Chipre e Antioquia, anunciando a mensagem apenas aos judeus” (BIBLÍA, 2014).
Isso resultou na plantação da primeira igreja predominantemente gentia em
Antioquia. “Desde então, Deus tem continuado a usar os meios mais improváveis
para movimentar seu povo, trazendo o Evangelho a novos lugares e plantando
novas igrejas” (OTT; WILSON, 2013, p. 158).

Modelos de Plantação de Igrejas


116 UNIDADE III

Essa distribuição do Evangelho é mais espontânea e menos planejada,


podendo ocorrer por razões profissionais, acesso à moradia, necessidades fami-
liares, guerra, fome, migração, estudo ou várias outras crises e oportunidades.
Os cristãos, que se encontram em diferentes lugares, compartilham sua fé e for-
mam novas comunidades, que crescem até formarem igrejas nessas localidades.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


117

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade passamos por uma longa viagem cultural, a começar por Abraão,
em quem Deus se propôs a abençoar e revelar-se a todas a famílias da terra espa-
lhadas por diferentes povos, tribos e nações, constituídas por diferentes etnias.
Deus chama Abraão, o abençoa e lhe dá uma instrução: ser uma bênção. A
salvação em Cristo é a bênção prometida a Abraão, a qual ele alcançou pela fé.
A missão de Abraão e sua descendência é levar esta bênção a todos os povos
ainda não alcançados da terra.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Assim como foi necessário a Abraão abrir mão do limite de sua própria cul-
tura, em Ur dos Caldeus, e aprender a caminhar por fé e dependência de Deus,
somos chamados a viver por um Reino Eterno. Entretanto, temos que discernir
que a cultura de cada povo deve ser considerada e respeitada quando o evan-
gelho é pregado.
As nuances históricas podem ser portas para levarmos o evangelho, assim
como Paulo, em Atenas, que fez referência ao deus desconhecido. Paulo per-
cebeu uma brecha na comunicação que, provavelmente, abriria as mentes e os
corações daqueles filósofos.
Dessa forma, o teólogo e o plantador de igrejas devem superar as barreiras
transculturais para levar os homens de volta a um relacionamento com Deus.
Quando Cristo entra em uma vida ou em uma cultura, Ele toma em suas mãos
aquilo que está distorcido ou sem significado e restaura, dá novo sentido às pala-
vras e à vida prática.
Embora o Evangelho esteja acima das culturas terrenas, para ter sentido para
um povo ele precisa ser incorporado de forma contextualizada, assim ele terá
poder para transformar as pessoas.
Quanto aos formatos de igrejas e os possíveis modelos para plantação de
igrejas, percebemos que Deus mantém Sua glória e riqueza na diversidade. Por
meio do Espírito Santo, da pesquisa, estudo e planejamento, Ele nos mostrará
os formatos e modelos mais adequados a serem aplicados.
Encerramos mais uma etapa de estudos, cumprindo com mais da metade do
nosso programa. Aproveite ao máximo o que ainda veremos a seguir.

Considerações Finais
118

1. Laraia (2001) refere-se ao conceito de cultura considerando o dilema entre a


identidade biológica e a diversidade humana. Essa preocupação existe desde
há quatro séculos antes de Cristo, quando Confúcio dizia que a diferença entre
os homens não é a questão biológica, mas a diferença de costumes. Segundo o
conceito abordado na unidade, defina o que é cultura.
2. Lloyd Kwast (1987) apresenta um modelo útil para compreensão da cultura
como um sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os
valores, o comportamento e o habitus, que é acrescentado por Pierre Bourdieu.
Explique um dos elementos desse modelo.
3. Vimos nesta unidade como Hiebert (1987) considerou o impacto das diferenças
culturais na transmissão do evangelho e na implantação de novas igrejas em
outras sociedades. “Crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos
são os modos certos de fazer as coisas. Qualquer pessoa que faça de maneira
diferente não é muito civilizada” (Hiebert, 1987, p. 453). A descrição de Hiebert
refere-se ao Etnocentrismo. Explique no que se baseia esse conceito.
4. As igrejas nos lares podem ter um rápido aumento de tamanho sem, no entanto,
amadurecer quanto ao ensino e formação de lideranças. O que pode ocasionar
uma duração menor para sua existência, se comparada às congregações tradi-
cionais. Conforme apresentado na unidade, descreva o formato de igrejas
nos lares.
5. Verificamos vários métodos apresentados por Ott e Wilson (2013), por meio dos
quais igrejas já existentes se reproduzem na mobilização de seus membros para
a plantação de uma nova igreja, na mesma cidade ou em uma localidade próxi-
ma. Explique o modelo de plantação de igreja mãe-filha, método que é com-
parado ao processo biológico de multiplicação por meio da divisão de células.
119

O CENÁRIO INDÍGENA BRASILEIRO E A ATUAÇÃO MISSIONÁRIA


EVANGÉLICA
Nos últimos 500 anos o pensamento coletivo brasileiro não mudou a ponto de gerar
uma diferença visível em termos de abordagem e interação com o indígena e sua socie-
dade. No cenário leigo o índio ainda é visto por alguns como selvagem, por vezes como
herói, ignorante ou, ainda, como representante de uma cultura superior e pura. Poucos
pararam para escutá-lo nos últimos cinco séculos, e havia muito a ser dito.
No meio acadêmico fala-se sobre a desmistificação da identidade indígena. Creio que
precisamos primeiramente desmistificar a nós mesmos, repensar nossas expectativas
em relação a essa sociedade com a qual convivemos por séculos sem compreendê-la,
e passar a interpretá-la de forma igualitária na dignidade e respeitosa nas diferenças.
Calcula-se que havia 1,5 milhão de indígenas no Brasil do século XVI, os quais, irrepara-
velmente, somam hoje não mais de 350 mil. Infelizmente essa realidade etnofágica vai
muito além das estatísticas e das palavras, pois é composta por faces, vidas, histórias e
culturas milenares, as quais têm sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquista-
dores, a forte imposição socioeconômica e perdas sociais tremendas. Permita-me rede-
finir os termos desta afirmação. Os conquistadores não são os outros. Somos nós.
A sociedade indígena ainda vive hoje sob o perigo de extinção. Não necessariamente
extinção populacional, mas igualmente severa, quando se perde língua, história, cultura
e direito de ser diferente e pensar diferente convivendo em um território igual.
Segundo Lévy-Strauss, a perda linguística é um dos sinais de declínio de identidade ét-
nica e decadência de uma nação. Ao observarmos tal sinal, percebemos quão desola-
dor é o cenário. Michael Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais
aprendidas pelas crianças. Isso significa que um número cada vez maior de crianças in-
dígenas perde seu poder de comunicação a cada dia.
Aryon Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 1.273 línguas, ou
seja, perdemos 85% de nossa diversidade linguística em 500 anos. Luciana Storto
chama a atenção para o Estado de Rondônia, onde 65% das línguas estão seriamen-
te em perigo por não serem mais aprendidas pelas crianças e por terem um ínfimo
número de falantes.
Precisamos perceber que a perda linguística está associada a perdas culturais comple-
xas, como a transmissão do conhecimento, formas artísticas, tradições orais, perspecti-
vas ontológicas e cosmológicas. No processo de transição, quando a língua materna cai
em desuso, normalmente há o que podemos chamar de “geração perdida”: um vácuo
cultural atinge uma geração inteira. Ou seja, no processo de perda linguística e migração
para o português, os grupos indígenas passam por um processo de adaptação quando
já não têm mais fluência na língua materna nem aprenderam o suficiente o português
para uma comunicação mais profunda. Tal processo em média não dura menos que três
120

décadas. Esse é um momento de perigo, em que a identidade indígena é questionada e


muitos valores e, sobretudo, seu poder de comunicação e transmissão de conhecimen-
to, são perdidos. Perdem-se também os sonhos.
Na tentativa de repensar a realidade de nossos irmãos indígenas é preciso filtrar a infor-
mação sobre a atuação missionária evangélica em relação a eles. A contribuição evan-
gélica, na tentativa de relacionamento com a sociedade indígena nacional, teve início
com a influência holandesa no século 16 e permanece hoje representada por um grande
número de organizações que tenta reduzir os prejuízos sofridos. Isso se traduz em um
sem-número de biografias daqueles que deram a vida, na impossibilidade de darem
mais, para minimizar alguns dos efeitos do extermínio social indígena de séculos.
Dentro de um vasto universo de ações sociopolíticas percebemos que a força evangéli-
ca missionária se destacou especialmente em três áreas: preservação linguística (com a
grafia e consequente preservação de diversas línguas — e muito ainda está sendo feito);
educação (tanto na língua materna, com forte destaque, quanto na educação formal em
programas governamentais); e saúde (tanto de base, nas comunidades, quanto também
organizacional, em clínicas e hospitais). Permita-me pontuar: o evangelho jamais será
motivo de alienação social ou imposição de credo. É, ao contrário, motivação para uma
contínua tentativa de se recuperar as perdas humanas nos segmentos mais sofridos.
Ainda há muito a ser feito. É necessário caminhar.
Fonte: Lidório (2009, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

O Fator Melquisedeque
Don Richardson
Editora: Vida Nova
Sinopse: neste livro, Richardson conta mais de 25 histórias fascinantes, que
mostram como Deus plantou a semente do evangelho em cada cultura do
mundo. Esta espécie de revelação geral de Deus é chamada pelo autor de
“O Fator Melquisedeque”, em uma alusão ao nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem
no livro de Gênesis. O Fator Melquisedeque é um livro culturalmente rico e profundamente sensível
que mudará a visão de muitos cristãos sobre os povos pagãos e a soberania de Deus.

O totem da paz
Entre os sawis, uma tribo de canibais caçadores de cabeças, a traição
era mais que uma filosofia de vida. Constituía-se num ideal concebido
e aprimorado pelas gerações passadas. Em 1962, Don Richardson e
sua esposa Carol foram à terra dos sawis levando a história de um
herói diferente, cuja mensagem era amor, e não traição; perdão, e não
vingança: a história do Filho da Paz, enviado por Deus.

CTPI - Centro de Treinamento de Plantadores de Igreja


Trata-se de uma rede de pastores e igrejas, comprometidos com uma teologia cristã reformada e
engajados no cumprimento da grande comissão de Cristo por meio da plantação de novas igrejas
em cidades brasileiras. Para saber mais acesse: <https://www.ctpi.org.br/>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-


alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.
BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
BUSTLE, L. E.; CROCKER, G. A. Princípios de plantação de igrejas. Brasília: Instituto
Antropos, 2010.
CHESTER, T. Church Planting: a theological perspective. Reino Unido: Christian Fo-
cus, 2000.
DULLES, A. A Igreja e seus Modelos. São Paulo: Paulinas, 1978.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais.
São Paulo: Vida Nova, 1995.
HIEBERT, P. G. A Cultura e as Diferenças Transculturais. In: WINTER, R. D.; HAWTHOR-
NE, S. C. Missões Transculturais: uma perspectiva cultural. São Paulo: Mundo Cris-
tão, 1987, p. 445-460.
KWAST, L. E. Entendendo o que é Cultura. In: WINTER, R. D.; HAWTHORNE, S. C. Mis-
sões Transculturais: uma perspectiva cultural. São Paulo: Mundo Cristão, 1987, p.
437-441.
LARAIA, R, de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
LIDÓRIO, R. Entre Todos os Povos. Vila Velha-ES: Fronteiras, 1996.
OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores
estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.
STETZER, E. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudáveis
e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015.
SURRATT, G.; LIGON, G., BIRD, W. The Multi-site Church Revolution. Grand Rapids:
Zondervan, 2006.
VAN GELDER, C. The Essence of the Church. Grand Rapids: Baker Books, 2000.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_content&-
view=article&id=501&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 24 mai. 2017.
123
GABARITO

1. Cultura é o conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos que as pessoas


aprendem e que não é um elemento natural.
2.  Habitus pode ser definido como um sistema de disposições duráveis e trans-
poníveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada mo-
mento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações - e torna
possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transfe-
rências analógicas de esquemas.
Comportamento: trata-se da forma como as coisas são realizadas. Isso fornece
um elemento importante na cultura, a padronização do que se faz, o que traz
entre os participantes de determinada cultura um sentimento de identidade e
continuidade quase impenetrável. Por isso, à medida que as sociedades se es-
tabelecem, as pessoas passam a fazer escolhas comportamentais semelhantes.
Valores culturais, dizem respeito ao que é bom, benéfico ou o que é o melhor a
ser aceito. Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma cultura toma dian-
te de escolhas que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam aqueles
que vivem dentro da cultura a saber o que deveria ser feito a fim de se adequa-
rem ou se conformarem ao padrão de vida.
Crenças culturais, numa cultura os valores não são escolhidos arbitrariamente,
mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de crenças. Na questão
educacional, por exemplo, existe um critério do que é verdadeiro acerca do ho-
mem, sua inteligência, sua capacidade de resolver problemas. Nessa questão,
a cultura é definida pela maneira como as coisas são percebidas, aprendidas e
compartilhadas.
Visão do mundo ou cosmovisão, a qual busca identificar o que é real. Neste
nível da cultura estão as grandes questões que raramente são apontadas, mas
para as quais a cultura concede as mais relevantes respostas.
3. Etnocentrismo - Essa reação se baseia em nossa tendência natural de julgar o
comportamento das pessoas de outras culturas pelos valores e pressuposições
de nossas próprias culturas, considerando-nos mais importantes.
4. Uma comunidade cristã básica. Foco em relacionamento e missão cristã. Reú-
nem-se em casas, ou locais de trabalho ou locais neutros. Geralmente dirigida
por um pastor leigo, pertencendo a uma denominação.
5. Plantação de igrejas mãe-filha - A igreja-mãe gera uma igreja-filha, enviando
alguns membros para formar a base da nova igreja. O número de membros
enviados pode variar de apenas alguns até centenas, dependendo do tamanho
da igreja-mãe, a localização da nova igreja e outros fatores. Os obreiros da igre-
ja-mãe podem ser enviados para ajudar a começar a igreja.
Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

O DESAFIO DE PLANTAR

IV
UNIDADE
IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■ Considerar quem foi chamado para realizar a tarefa de plantar igrejas.
■ Analisar o perfil de homens e mulheres que plantam igrejas.
■ Avaliar as condições de plantadores de igreja que desenvolvem duas
vocações.
■ Reconhecer a importância do papel da igreja no plantio de igrejas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Quem foi chamado para essa missão?
■ O perfil do(a) plantador(a) de igrejas
■ Plantadores bivocacionais
■ A igreja e o plantio de igrejas
127

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade conversaremos um pouco mais sobre a pessoa-


lidade do chamado de Deus, o qual ecoa desde a eternidade para que homens e
mulheres levem a mensagem da salvação e reconciliação com Deus. Como disse
o profeta em Isaías: “Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: a quem envia-
rei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (BÍBLIA,
Isaías 6,8).
O chamado de Deus tem como origem o próprio Deus e a motivação, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

finalidade do chamado também é Deus, pois somos chamados para glorificar e


exaltar o Seu nome, como representantes da Sua justiça.
Vamos analisar o perfil de homens e mulheres que plantam igrejas. É certo
que Deus tem nos chamado para estarmos envolvidos neste ministério de alguma
forma. Notadamente, para alguns, Ele capacita com dons de liderança ministe-
rial para o aperfeiçoamento dos santos.
Um plantador de igrejas em potencial deve evidenciar algumas faculdades
específicas, como evangelizar, capacidade de administrar e organizar, trabalhar
em grupo com destreza e harmonia, profundo conhecimento da teologia bíblica.
Entretanto, muitas dessas características podem ser desenvolvidas ou aprimo-
radas. Certamente o próprio Deus propôs um caminho para o aperfeiçoamento
ministerial.
Outra consideração que teremos nesta unidade é quanto ao importante papel
das igrejas na formação de líderes. Muitos obreiros atenderão ao chamado de
Deus para plantar igrejas, fazendo-as crescer desde o nascimento até a maturi-
dade. A Grande Comissão apresenta um desafio abrangente, por meio do qual o
Evangelho deve ser compartilhado, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia,
Samaria e até os confins da terra.
Para isso, torna-se necessário que líderes locais sejam preparados. Dessa
forma, eles serão enviados, ou assumirão a liderança da nova igreja para que seu
plantador prossiga para outra tarefa. Desfrute pessoalmente dos assuntos trata-
dos nesta unidade. Bons estudos!

Introdução
128 UNIDADE IV

QUEM FOI CHAMADO PARA ESSA MISSÃO?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O chamado de Deus é um tema sobrenatural e fascinante. Ninguém poderá
desejar o ministério sem que antes tenha compreendido o chamado de Deus.
Muitos fracassos ministeriais ocorrem pela falta de convicção do chamado, pois
é esse que capacita o obreiro a permanecer nos campos quando surgem as difi-
culdades. Vamos considerar alguns aspectos importantes nos próximos tópicos.
A) O conflito dos vocacionados ou a missão em crise?
Green (2005) nos aponta que dificilmente estaríamos exagerando ao falar-
mos das severas mudanças ocorridas no clima espiritual das últimas décadas.
Quando a revolução cultural dos anos 60 explodiu sobre nós, a aparência domi-
nante era a do modernismo, como ocorreu nos últimos dois séculos.
Nosso sistema educacional foi consolidado com forte influência do Iluminismo
do século XVIII, o qual rejeitou amplamente a noção de Deus e O substituiu pela
confiança na razão humana. A ciência, com toda a sua tecnologia, afirmava ser
a esperança para o futuro, pensava-se que o progresso seria inevitável. Com a
racionalização, somente o que era visível, medido ou verificado podia ser con-
siderado existente e verdadeiro.
Havia uma suposição não declarada sobre a natureza humana: ninguém
duvida que todos nós temos um coração de ouro; valores e relacionamento com
Deus foram considerados subjetivos, sendo colocados num segundo plano. Em
nossos dias, os pressupostos modernistas sobre a vida já perderam sua energia
e vigor. Green (2005) destaca que os pensadores do século XIX apresentaram a
ideia de que as pessoas não agem primeiramente com base na racionalidade. A
teoria de Darwin sobre o nosso passado, a de Marx sobre o futuro e as teorias de

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


129

Freud sobre a psiquê deixaram pouco espaço para a razão humana, como fator
determinante dos relacionamentos.
Vivemos nitidamente tempos de mudança cultural em massa, em que a visão
otimista do passado vai se dissipando. Estamos diante da progressiva destrui-
ção do meio ambiente - a camada de ozônio sendo afetada, as florestas tropicais
sendo dizimadas, o planeta Terra comprometido e mares envenenados, o acú-
mulo de armas nucleares com a capacidade de destruir o mundo inúmeras vezes,
espalhando medo e terror entre as nações. Cerca de quarenta milhões de pes-
soas por todo o mundo estão contaminadas pelo vírus da AIDS/HIV. Novas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

epidemias que se alastram. Estamos constatando o enfraquecimento da insti-


tuição do casamento e da família, testemunhando a criação de vários milhões
de refugiados sem lar.
Green (2005) ainda aponta a violência constantemente presente em nossas
ruas, indicando que a crença da bondade essencial da natureza humana e a ine-
vitabilidade do progresso não se consolidaram, principalmente à luz das terríveis
guerras mundiais, dos atentados terroristas, da perseguição e do extermínio.
A crise da visão de mundo moderno induziu uma reação bastante forte,
que chamamos de Pós-Modernismo (por falta de um nome melhor).
O que aconteceu com o Liberalismo e Colonialismo é o mesmo que
vale para Modernidade. Nós somos “pós” tudo isso. Venceu o prazo de
validade (GREEN, 2005, p. 22).

Vivemos dias marcados pela rejeição às verdades objetivas, normas de moral,


argumentos racionais, fé e revelação. Desenvolver um chamado ministerial sig-
nifica nadar contra a maré do prazer como bem supremo. Vivemos tempos em
que muçulmanos, hindus, budistas tratam os seus livros sagrados com mais reve-
rência e obediência do que boa parte dos que se professam cristãos.
As pessoas nos nossos dias não estão dispostas a viver debaixo de princípios
de autoridade espiritual que regem a ação e o governo de Deus. Antes, querem
descobrir as coisas por si mesmas, tentam descartar, amplamente, qualquer pen-
samento a respeito da morte e suas consequências e passaram a se concentrar
nessa vida e na felicidade. Como disse o apóstolo Paulo em sua segunda carta
a Timóteo:

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


130 UNIDADE IV

[...] sabe, porém isto: nos últimos dias, sobrevirão tempo difíceis, pois
os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfe-
madores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados,
implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos
de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder.
Foge também destes (BÍBLIA, II Timóteo 3,1-5).

Vivemos dias como foram os dias do povo de Israel liderado pelos Juízes: “Naqueles
dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (BÍBLIA, Juízes,
21,25). Surge, então, a gritante necessidade de líderes que possam trazer clareza quanto

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ao propósito eterno de Deus para um mundo em profunda crise espiritual. Homens
e mulheres que possam representar a Deus e ser a própria boca de Deus falando,
exortando, pregando a Palavra de Deus em dias de profunda decadência espiritual.
Entretanto, em todas as épocas da história da humanidade, Deus sempre
atraiu homens para si e comissionou vidas para o exercício do ministério. Nos
dias atuais, Deus tem levantado um grande número de homens e mulheres com
compreensão bíblica sobre a vocação ministerial e discernimento quanto ao cha-
mado de Deus. Esses necessitam dar passos para um maior envolvimento com
ministérios na Igreja do Senhor.
Outros, ao completarem seus estudos teológicos, deverão buscar aperfeiço-
amento para atuação num campo missionário, para pastoreamento de igrejas já
estabelecidos, ou para a plantação de novas igrejas.
Lidório (2014) nos assinala o privilégio e a responsabilidade que temos
diante do chamado de Deus:
[...] nossa vocação em Cristo é nosso maior privilégio e também nosso
maior desafio. Perante tal vocação, devemos louvar a Deus e lhe agrade-
cer pelo privilégio de servir a Cristo ao mesmo tempo em que devemos
nos fortalecer no Senhor para não cair nas ciladas do diabo, resistir no
dia mau e pregar o Evangelho de Deus (LIDÓRIO, 2014, p. 29-30).

Não deixamos de considerar que todos os que receberam a Jesus como Senhor e
Salvador pessoal devem estar envolvidos com a edificação do Reino Eterno. Seja
com a evangelização e edificação de vidas nas escolas, no trabalho, no desenvol-
vimento da carreira profissional, em ministérios de uma igreja local, enfim, em
todo e qualquer lugar que estivermos inseridos.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


131

Quanto à grande necessidade de darmos atenção ao chamado de Deus, obser-


vamos que o avivamento e transformação da nação de Israel, ocorrido após o
tempo dos Juízes, teve início quando uma mulher estéril, Ana, lançou seu cora-
ção diante da presença de Deus em constante oração (I Samuel, capítulo 1), até
que Deus ouviu seu clamor e concedeu a ela um filho que foi dedicado ao altar
de Deus por toda sua vida, Samuel. A nação vivia um momento de profunda
decadência moral e espiritual, entretanto, o ministério de Samuel foi um instru-
mento de concerto e bênção de Deus para toda a nação.
Assim como Ana, quando um homem ou uma mulher nega-se a si mesmo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ele(a) terá liberdade para mover-se em Deus, pois não será mais governado por
suas ambições naturais ou interesses pessoais, mas pelo querer e vontade de Deus.
Ana devolveu a Deus aquilo que dEle recebeu.
Necessitamos que se levantem, em nossos dias, homens e mulheres compro-
metidos com a vontade de Deus, que traduzam para o mundo o amor e o poder
transformador do evangelho. Homens e mulheres que comunicam vida a um
mundo perdido, que transformam os lugares por onde passam, que possuem
um testemunho de ações e não somente de palavras. As pessoas estão cansa-
das de muita fala e esperam ver a transformação que prometemos por meio do
evangelho. Para isso, precisamos de profundo compromisso com Aquele que
nos chama, precisamos negar-nos a nós mesmos e segui-lo. “Dizia a todos: Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-
-me” (BÍBLIA, Lucas 9,23).
Nesse momento, cabe a nós uma profunda reflexão pessoal sobre a impor-
tância do chamado de Deus para a vida ministerial. E o que faremos para seguir
a Cristo.

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


132 UNIDADE IV

B) O chamado ao ministério:
Em Marcos, a Bíblia Sagrada
relata: “Quando ia passando, viu
Levi, filho de Alfeu, sentado na
coletoria, e disse-lhe: Segue-me.
Ele se levantou e o seguiu”
(BÍBLIA, Marcos, 2,14). Jesus
havia há poucos instantes sido
questionado pelos fariseus em

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Marcos, capítulo 2, por ter dito
a um paralítico em Cafarnaum:
“Filho, os teus pecados estão per-
doados” Os fariseus arrazoavam que somente Deus podia perdoar pecados, então
Jesus questionou:
[...] qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus peca-
dos, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que saibais
que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pe-
cados - disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e
vai para tua casa. Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando
o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e da-
rem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim (BÍBLIA, Marcos
2,9-12).

Da mesma maneira que Jesus manifestou tamanha autoridade na terra para


perdoar pecados, curar enfermos, expulsar demônios e ressuscitar mortos, Ele
também teve autoridade para recrutar homens e mulheres para segui-Lo. Esse
foi seu primeiro ato ministerial: chamar discípulos. O chamado do céu, agora
ecoava na terra, esses se tornaram, ao lado de Jesus, os personagens principais
do Novo Testamento. Jesus os chama para segui-Lo e se juntarem à sua missão:
“Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (BÍBLIA, Marcos 1,17).
Percebe-se, nas páginas no Novo Testamento, o treinamento e o vagaroso
desenvolvimento desses discípulos. Como poderia ser diferente? Foram chamados
para representar o Rei do Universo. No livro de Atos, aqueles que foram chama-
dos a segui-Lo são revestidos e capacitados para a missão de Deus. Mas, antes
passaram pelo discipulado, pela prova, pelo teste de deixarem as coisas naturais

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


133

para adentrarem em um mundo novo e espiritual. Ministério sem chamado, sem


discipulado, sem cruz e dependência sobrenatural de Deus não poderá ter êxito
visível e se constituirá em pura presunção.
Porém, como é possível essa ação imediata de chamado e obediência? Levi,
ao ouvir o chamado, imediatamente o seguiu. O texto não relata se Levi já o
conhecia, se sabia que seria chamado, se havia razões históricas ou psicológicas
para explicar essa atitude. Bonhoeffer (2004), diz que:
[...] para esta sequência de chamado e ação só existe uma razão válida:
o próprio Jesus Cristo. Nesse encontro é testemunhada a autoridade de
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Jesus, que é incondicional, imediata e sem explicações. Nada o precede e


nada lhe segue senão a obediência da pessoa que foi chamada. O fato de
Jesus ser o Cristo dá-lhe todo o poder para chamar e exigir obediência
à sua palavra. Jesus chama ao discipulado não como ensinador e exem-
plo, mas em sua qualidade de Cristo, Filho de Deus. Assim, neste breve
trecho, anuncia-se Jesus Cristo e o que ele espera do ser humano, e nada
mais. Nenhum louvor cabe ao discípulo por seu cristianismo decidido.
O olhar não deve pousar sobre ele, mas somente sobre aquele que cha-
ma e sobre sua autoridade. Não se aponta tampouco um caminho para
a fé, para o discipulado; não há qualquer outro caminho para a fé senão
o da obediência ao chamado de Jesus (BONHOEFFER, 2004, p. 20).

Bonhoeffer (2004), em suas considerações, celebra o senhorio de Cristo. O cria-


dor tem prioridade à criatura e pode proferir palavras de ordem e autoridade. O
próprio Senhor Jesus desenvolve seu ministério debaixo do princípio de autori-
dade e absoluta obediência. Vemos que o discipulado de Cristo tem ordenanças
claras para todos aqueles que são redimidos. Na Grande Comissão, Jesus nos diz:
[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo,
Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até à consumação do século (BÍBLIA,
Mateus 28,18-20).

O texto nos ordena que façamos discípulos de todas as nações. Todos foram
chamados para serem discípulos de Jesus, ainda que em diferentes níveis de
funcionalidade no corpo de Cristo. Foram chamados a aprender e praticar
suas ordenanças. Foram chamados para a oração, para ser sal da terra e luz do
mundo, para comunhão, para obediência, para santidade, para testemunho e

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


134 UNIDADE IV

proclamação do Evangelho. Entretanto, na Bíblia Sagrada, observamos que há


diferentes modalidades em que o discipulado é desenvolvido.
Jesus ensinou e discipulou a multidão, como vemos em Lucas: “E, quando
se aproximava da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discí-
pulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que
tinham visto” (BÍBLIA, Lucas, 19,37). Depois, chamou setenta: “Então, regressa-
ram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se
nos submetem pelo teu nome!” (BÍBLIA, Lucas 10,17). Depois chamou os doze:
[...] tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade

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sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de do-
enças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: pri-
meiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho
de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o
publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Isca-
riotes, que foi quem o traiu (BÍBLIA, Mateus 10,1-4).

Dentre os doze, Jesus teve um relacionamento mais próximo com três discípu-
los, que foram líderes de grande expressão na igreja primitiva: “Contudo, não
permitiu que alguém o acompanhasse, senão Pedro e os irmãos Tiago e João”
(BÍBLIA, Marcos 5,37). Finalmente, um discípulo teve maior aproximação e
revelação de Jesus - João: “Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discí-
pulos, aquele a quem ele amava” (BÍBLIA, João 13,23).
O processo de discipulado foi realizado em diferentes graus, de acordo com
a atuação ministerial de cada grupamento. Para aqueles que teriam uma lide-
rança ministerial direta na administração da economia de Deus, Jesus chamou
para estarem com Ele, para que pudessem receber maior revelação. Esses seriam
trabalhados teologicamente, mas também na formação de um caráter para o
ministério, por meio do convívio com Jesus.
Lidório (2014) fala de sua experiência pessoal, na qual teve a oportunidade de
conviver ministerialmente com seu pai durante sua adolescência e, assim, entender

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


135

qual era a área vocacional à qual Deus o estava chamando, bem como vemos no
Velho Testamento, relacionamentos de serviço e discipulado, os quais foram esta-
belecidos para a formação de um caráter e ministério - Elias com Eliseu, Moisés
com Josué, Samuel com Davi, embora, na vida de Davi, os desertos, as aflições e
perseguições tenham sido também grandes aliados em seu processo de discipulado.
Ronaldo Lidório (2014) apresenta três característica particulares do cha-
mado de Deus para o ministério e discipulado com Cristo:
O chamado de Deus é pessoal - Deus não chama instituições e organizações,
Ele chama pessoas. Deus lança no coração de seus filhos uma intransferível e
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profunda convicção de chamado e propósito.


O chamado de Deus é incontestável - é uma convocação e Ele faz de forma
clara. Na Bíblia Sagrada a voz de Deus é comparada ao som de muitas águas e
ao trovão. Ele se faz ouvir.
O chamado de Deus é irresistível - quando Deus nos chama, somos atraídos
por esse chamado e não teremos paz enquanto não cumprirmos a vontade do Pai.
Embora o chamado de Deus tenha seu caráter pessoal, é muito importante
salientar que, quando Deus chama um homem ou uma mulher para o minis-
tério, esse chamado será reconhecido por sua congregação. O Espírito Santo
concede convicção tanto ao candidato como à sua igreja local sobre o chamado
de Deus. Certamente, o principal parâmetro que a igreja possui para discernir
o chamado na vida de um candidato são as qualificações ministeriais exigidas
pela Palavra de Deus para essa função (I Timóteo 3,1-13; Tito 1,5-9). Seu teste-
munho, sua fé, sua piedade, sua generosidade e capacidade para o ensino, sua
aptidão às disciplinas espirituais, dentre outras características, serão percebidas
pela igreja. Alguém que não tem a confirmação da igreja sobre seu chamado não
estará apto a desenvolver o ministério.

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


136 UNIDADE IV

Cristo exerce seu governo sobre a igreja mediante os dons, os quais, por
sua soberana graça, distribui aos membros do corpo conforme a medida do
dom que concede a cada um. A cada um nos foi dada graça conforme a me-
dida do dom de Cristo. Graça e dom são palavras muito relacionadas entre
si. Graça em grego é charis, e tem dois significados. O primeiro significado é
misericórdia, e o outro, capacidade ou habilidade recebida para desempe-
nhar um ministério ou serviço determinado. Este segundo significado, em
grego, pode ser expresso pela palavra charisma, que está ligada ao dom.

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Este dom ou carisma não é recebido por méritos ou por desejo próprio, mas
depende totalmente da graça e da vontade de Deus. A palavra dom é a tra-
dução de dorea, e significa presente. Nem todos recebem a mesma medida
de graça, mas todos recebem alguma medida de graça para fazer a obra de
Deus.
Fonte: Himitian (2010, p. 151).

C) O chamado é funcional e não geográfico


No meio dos salvos por Cristo, Efésios nos diz que o Senhor Jesus distri-
bui dons e chama alguns para que a igreja seja edificada e o Evangelho possa ser
espalhado por toda a terra: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (BÍBLIA,
Efésios, 4,11).
Lidório (2014) nos leva a considerar que a vocação diz respeito ao que fare-
mos e não para onde iremos. Especialmente, no contexto missionário, somos
levados a pensar em localidades e não na função ministerial. Se nossa função se
cumprirá em nosso país ou além do mar, entre tribos indígenas ou comunida-
des imigrantes, isso não é definido pela vocação, mas sim pelo direcionamento
de Deus.
Aqueles que são vocacionados para serem pastores o serão, seja no Bra-
sil ou na Índia. Os plantadores de igrejas, se colocados em São Paulo,
irão plantar igrejas; se enviados para a Amazônia, farão a mesma coi-
sa. Os mestres ensinarão a Palavra, seja na própria língua ou em outra
qualquer (LIDÓRIO, 2014, p. 16-17).

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


137

O chamado, portanto, é funcional e não geográfico. Jesus nos ensina um cami-


nho e um princípio para o reconhecimento de nosso ministério. Ele nos diz em
Mateus:
[...] assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má pro-
duz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem
a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom
fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os co-
nhecereis (BÍBLIA, Mateus 7,17-19).

O texto de Mateus nos mostra que, na natureza, podemos observar que cada
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árvore produz segundo a sua espécie, assim, o abacateiro produz abacates, o


limoeiro produz limões, a macieira produz maçãs. Da mesma forma pastores
cuidam de ovelhas; profetas indicam um caminho a seguir, pautado na Palavra
de Deus; evangelistas levam vidas a Cristo e as discipulam; mestres ensinam com
ciência, revelação e graça; e apóstolos estabelecem obras e são úteis ao governo
da Igreja de Deus.
A plantação e edificação da Igreja do Senhor necessita de todos esses minis-
térios operantes. Foi para isso que Deus concedeu a esses homens e mulheres
verdadeiros dons ministeriais para edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja.
Passaremos a considerar cada um deles individualmente, com contribuição de
Lidório (2014) e Himitian (2010).
Apóstolos
Essa é a categoria de dom ministerial mais abrangente quanto à necessidade
de capacitação e maior porção da graça de Deus; entretanto a palavra nos diz que
“a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo”
(BÍBLIA, Efésios 4,7). É escolha de Deus conceder dons ministeriais aos homens.
Em nossos dias, a função apostólica é compreendida incorretamente por
alguns, sendo interpretada como lugar de hierarquia eclesiástica. Entretanto, a
Palavra nos indica que apóstolos são enviados para iniciar novos trabalhos em
campos ainda não alcançados. Diante das palavras do Senhor Jesus, não poderia
ser mais equivocada a interpretação de que apostolado se constitui em ostenta-
ção de poder e prioridade nas relações de subordinação:
[...] suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia
ser o maior. Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


138 UNIDADE IV

eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós


não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e
aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está
à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no
meio de vós, eu sou como quem serve (BÍBLIA, Lucas 22,24-27).

As disputas por posição sempre trazem aflição e contendas no Reino de Deus.


Entretanto, Jesus aproveita o momento para mostrar o caráter dos servos do
Senhor, humildade e disposição ao serviço, o que está diametralmente oposto
a mente natural, centrada em seu egoísmo e busca dos próprios interesses. Os
ensinamentos de Jesus devem ser aplicados em todos os segmentos do minis-

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tério cristão.
Lidório nos auxilia na correta descrição e detalhamento do ministério de
apóstolos:
[...] se referem àqueles que foram convocados diretamente por Cris-
to. [...] Porém, no sentido do envio (apostelo - enviar), toda a Igreja é
apostólica, pois foi enviada por Cristo ao mundo. Para John Knox, os
apóstolos possuíam um perfil específico, pois eram as pedrinhas lança-
das bem longe, onde a Igreja e o Evangelho ainda não haviam chegado.
Eram os pioneiros de Cristo. É interessante perceber que os apóstolos
chamados por Cristo no primeiro século alcançaram alguns dos con-
fins da terra. Mateus foi para a Etiópia (África), André alcançou os citas
(na região da antiga URSS), Bartolomeu atingiu a Arábia e Tomé le-
vou o Evangelho à Índia. Paulo foi testemunha na Galácia, Macedônia,
Acaia e Ásia (LIDÓRIO, 2014, p. 21-23).

Himitian considera três categorias de apóstolos encontrados no Novo Testamento:


• Os doze: eles foram testemunhas da vida, obra, morte e ressurrei-
ção de Cristo. Receberam a doutrina dele, pessoalmente, e quando
Judas se suicidou, outro que reunia estas características ocupou o
seu lugar (Atos 1,15-16).

• Outros apóstolos do primeiro século: depois de pentecostes, Deus


levantou outros apóstolos, como Paulo e Barnabé. Eles, juntamen-
te com os onze, estabeleceram os fundamentos da igreja para todos
os séculos, de acordo com a revelação que receberam do Senhor.

• O ministério apostólico de caráter permanente: segundo Ef 4:11,


Cristo continua concedendo à sua igreja, apóstolos, profetas, evan-
gelistas pastores e mestres (HIMITIAN, 2010, p. 153-154).

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


139

Vemos, ainda hoje, a expressão ministerial de apóstolos que são enviados a cam-
pos ainda não alcançados para levarem a palavra de Deus. Entretanto, nem sempre
esses ministérios são classificados com essa designação, não invalidando, porém,
a expressão ministerial e a funcionalidade que esse dom concede.
Profetas
Esse dom ministerial também tem sido objeto de controvérsias. Para mui-
tos teólogos o dom ministerial de apóstolos e profetas expiraram no momento
da finalização do texto bíblico. E entretanto, funcionalmente, podemos consi-
derar o exercício desse dom. Vejamos o entendimento apresentado por Lidório:
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[...] indicam aqueles que falam da parte de Deus e comunicam a ver-


dade divina. Entendo que hoje consideraríamos profetas aqueles que
expõem a Palavra de Deus. A exposição bíblica feita no temor e auto-
ridade do Senhor tem o poder de confrontar e transformar vidas. Os
maiores avivamentos da história se originaram de exposições bíblicas
feitas por cristãos apaixonados por Jesus, desejosos de profunda trans-
formação e fiéis às Escrituras (LIDÓRIO, 2014, p. 22).

Himitian cita dois tipos de profetas observados no Novo Testamento:


• Um, ao estilo de Ágabo, que recebia do Espírito, revelação específi-
ca sobre pessoas, circunstâncias e ações (Atos 11:27-30, 21:10-11).

• Outro, ao estilo de Silas e Judas, que, inspirados pelo Espírito San-


to, ministravam palavras de consolação e edificação aos santos
(Atos 15:32, 11:23, 13:1) (HIMITIAN, 2010, p. 154).

Os autores concordam com a definição do exercício do dom de profeta no que


se refere a homens que interpretam corretamente as Escrituras, são inspirados
por Deus e conduzem um povo no cumprimento de Sua vontade. Mais uma vez
se confirma que a função é mais importante que a designação.
Evangelistas
Esse dom é nitidamente reconhecido pela igreja do Senhor e bem caracteri-
zado quanto a sua função. Enquanto os discípulos e os crentes no Senhor Jesus
ganham, eventualmente, uma vida para Cristo, o evangelista tem um carisma
especial para atrair muitas pessoas ao Reino Eterno. Podemos usar a metáfora
do pescador que pesca com vara de pesca e o pescador que pesca com redes,
assim como Pedro e alguns discípulos que atraíram multidões ao Senhor Jesus.
Vejamos as observações de Lidório sobre o dom ministerial de evangelista:

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


140 UNIDADE IV

[...] referiam-se tanto aos que tinham grande facilidade para comunicar
o Evangelho de Cristo quanto aos que moldavam outros com a forma
do Evangelho, ou seja, os discipuladores. Apesar de todos os redimidos
em Cristo serem chamados por Deus para a evangelização, compreen-
de-se que há alguns que o fazem com maior desenvoltura ou facilidade,
comunicando de forma clara e acessível o Evangelho aos que ainda não
abraçaram o Cordeiro de Deus (LIDÓRIO, 2014, p. 22-23).

Felipe e Timóteo são citados como evangelistas no Novo Testamento (Atos 21,8;
II Timóteo 4,5). Himitian (2010) considera que:
[...] os evangelistas funcionavam debaixo do ministério apostólico.

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Felipe estava mais relacionado a Pedro e João, e Timóteo estava liga-
do a Paulo. Tinham autoridade delegada, formavam parte da equipe
apostólica e eram colaboradores destes. Eles evangelizavam, batizavam,
curavam, fundavam igrejas, estabeleciam lideranças, e transmitiam a
doutrina dos apóstolos. Notemos que o perfil deles não se limitava ao
que hoje se convencionou chamar evangelista no meio evangélico (HI-
MITIAN, 2010, p. 154-155).

Himitian amplia um pouco o campo de atuação ministerial do evangelista,


considerando ações abrangentes na igreja primitiva. Não poderia ser diferente,
tratando-se de discípulos que estiveram com Jesus e que tinham o entusiasmo e
energia concedidos pelo Espírito Santo nos primeiros anos da Igreja.
Pastores
Trata-se do dom ministerial mais difundido e que normalmente caracteriza
o ministério sacerdotal em nosso tempo. Quanto a sua funcionalidade obser-
vamos o caráter específico de cuidado das ovelhas do aprisco do Bom Pastor.
Lidório acrescenta:
[...] eram os que amavam e cuidavam do rebanho de Cristo. Trata-se
daqueles que são usados por Deus para juntar, alimentar e cuidar do
povo do Senhor - e se sentem realizados com isto. Diversos exegetas
enxergam na expressão “pastores e mestres” apenas uma função: pasto-
res-mestres (LIDÓRIO, 2014, p. 23).

Certamente, o pastor sempre estará envolvido com o ensino, até mesmo por sua
condição de proximidade às ovelhas do rebanho de Deus. Entretanto, a qualifica-
ção ministerial para “mestres” sempre poderá ser percebida por uma habilidade
específica concedida pelo Senhor a alguns de seus servos.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


141

Mestres
Os mestres, normalmente, possuem dons secundários como ciência e sabe-
doria na compreensão e conhecimento da Palavra de Deus. O mestre consegue
desvendar aquilo que parece estar nas entrelinhas das Escrituras, trazendo ali-
mento sólido para formação do caráter de Cristo nas ovelhas do Senhor. Lidório
nos auxilia:
[...] eram os que ensinavam a Palavra de forma clara e transformadora.
Seus ministérios não eram definidos pela quantidade de ouvintes ou
condições de trabalho, mas puramente pela rica experiência de abrir a
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Palavra e ensiná-la. O compromisso do mestre é a Palavra (LIDÓRIO,


2014, p. 23).

Conjuntamente, a classificação do ministério de pastores e mestres é tratada


por Himitian:
[...] as palavras pastor e mestre se referem ao mesmo ministério. O ver-
sículo 11 de Efésios capítulo 4 diz - a outros, pastores e mestres, - e não
- a outros pastores e a outros mestres - . Pastor é uma palavra alegórica,
e o seu complemento é formado pelo conjunto dos crentes, que são as
ovelhas dentro deste simbolismo. A palavra literal seria mestre, mas
atualmente, devido ao amplo uso do termo “pastor”, este deixou de ter
um significado simbólico e passou a designar quase literalmente este
ministério. Em I Timóteo 3:2 Paulo afirma que o dom necessário para
que alguém seja estabelecido como presbítero na igreja é ser apto para
ensinar (didactikos). Se compararmos Atos 20:17 e 32, podemos notar
que a função dos presbíteros era pastorear e ensinar o rebanho. Segun-
do o dom, eles são pastores-mestres, segundo o cargo, presbíteros (HI-
MITIAN, 2010, p. 155).

Mais uma vez, vemos, nas colocações de Himitian, a indicação do exercício con-
junto do ministério de pastor e mestre, bem como a tendência de se caracterizar
o ministério de liderança eclesiástica como “pastor”, embora seja encontrado nas
Escrituras a designação do cargo de presbíteros para aqueles que estão à frente
da igreja de Cristo.
Finalizando a descrição dos dons ministeriais, Lidório (2014) corrobora o
entendimento de que o exercício de dons e ministérios jamais devem ser relacio-
nados com posição de superioridade ou notoriedade. Quem, assim, se comporta
expressa completa falta de compreensão da vocação ministerial. Como disse

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


142 UNIDADE IV

o Senhor Jesus, o maior deve ser aquele que serve. Quando Paulo escreve aos
Romanos se apresenta como servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo;
ele reconhece que é um servo do Senhor Jesus, porém com um chamado espe-
cífico: ser apóstolo.
Apresentamos, a seguir, alguns princípios bíblicos relacionados com os
ministérios apontados por Himitian, que consolidam o entendimento da voca-
ção ministerial como serviço a Deus:
1) Princípio da soberania divina: Deus é quem escolhe, chama e dá
dons aos homens. Ele dá diferentes dons ministeriais, a quem Ele

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
quiser, e na medida que Ele próprio determina.

2) Princípio da pluralidade: o Senhor estabeleceu que os ministérios


funcionem de forma plural. Os apóstolos eram doze, os profetas e
mestres de Antioquia eram cinco. Os apóstolos sempre estabele-
ciam vários líderes em cada cidade (Atos 14:23). O número míni-
mo para que haja pluralidade é dois.

3) Princípio da unidade: todos os ministérios têm a única função de


trabalhar para a edificação do único corpo de Cristo, que é a Igreja.
Nenhum deles recebeu a faculdade de estabelecer uma Igreja pró-
pria. Em Jerusalém, os apóstolos eram doze, mas havia uma única
igreja, e assim também em cada cidade.

4) Princípio da autoridade: os apóstolos estavam sujeitos uns aos ou-


tros, e, naturalmente sujeitos a Cristo. Eles eram autoridade sobre
os evangelistas e pastores.

5) Princípio do desenvolvimento gradual: estes dons ministeriais po-


dem desenvolver-se ou expandir-se. Felipe era um dos diáconos
em Jerusalém (atos 6), mas logo depois é mencionado como evan-
gelista (Atos 21:8). Paulo e Barnabé eram profetas ou mestres em
Antioquia (Atos 13:1), mas depois são reconhecidos como apósto-
los (Atos 14:4) (HIMITIAN, 2010, p. 156-157).

Compartilho, com você, uma experiência muito marcante vivida por Ronaldo
Lidório em uma de suas viagens missionárias para o interior do Amazonas, que
caracteriza a necessidade de dependência de Deus acima de toda possibilidade
de qualificação que pode ser alcançada:

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


143

[...] estive visitando uma região próxima a Maraã no coração do Ama-


zonas, onde vivem os kambebas, kokamas e miranhas. Eram tidos, até
poucos anos atrás, como grupos indígenas ainda não alcançados pelo
Evangelho. Todavia, foi grande a minha surpresa ao chegar entre eles
e ver ali a presença de uma forte igreja evangélica, que louva a Deus
com fervor e amor. Procurando os autores daquele trabalho missio-
nário, apontaram-me alguns crentes ribeirinhos, especialmente o Sr.
João, como é conhecido. Fui entrevistá-lo. Pessoa simples, quase ile-
trado, mas com tremenda paixão pelo Senhor Jesus. Com a sua famí-
lia, ele vivia em um flutuante formado por um cômodo apenas e, além
das redes, possuíam somente uma cadeira e uma panela. Contaram-me
como se mantinham por meio da pesca e usavam toda a energia e tem-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

po para transmitir o Evangelho de Cristo aos indígenas da região. - Mas


como vieram para aqui, em região tão distante? - Viemos ganhar a vida,
respondeu. - E como está a vida?, indaguei. - Vai muito bem. Já planta-
mos seis igrejas. Aqueles eram missionários sem sustento, aplausos ou
reconhecimento. Eram servos de Jesus que confundiam o ganhar da
vida com o ganhar de almas. Pessoas que passavam privações profun-
das para que o Evangelho chegasse até o final do rio Maraã. O que se-
gura um missionário no campo não são projetos, sustento, equipes ou
igrejas enviadoras, mas sim a profunda, intransferível e inconfundível
convicção de que Deus o chamou. (LIDÓRIO, 2014, p. 30-31).

A expressão de amor e paixão pelas almas perdidas deve ser nossa motivação
para o serviço ao Senhor. A completa dependência de Deus e de Sua Palavra tor-
na-se nossa maior qualificação ministerial.

E você? Já refletiu sobre qual é o dom ministerial que mais se identifica ou


compreende que recebeu da parte de Deus? Certamente podemos desen-
volver e multiplicar o dom ministerial que Ele nos concedeu.

Quem Foi Chamado Para Essa Missão?


144 UNIDADE IV

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O PERFIL DO(A) PLANTADOR(A) DE IGREJAS

Você considera que o Sr. João, citado há pouco, tem um perfil adequado para
plantar igrejas?
Davi não foi considerado um candidato com perfil apropriado aos olhos dos
homens (BÍBLIA, I Samuel 16). Quando o profeta Samuel foi a Belém, enviado
por Deus para ungir o novo rei, Davi não foi convidado para estar entre os can-
didatos; antes, foi deixado no campo junto ao rebanho de seu pai, pois era o
mais jovem da família e considerado, ainda, inexperiente para aquela posição.
Contudo, foi exatamente ele o escolhido por Deus.
Moisés não se sentiu habilitado para o chamado de libertar o povo de Israel
do Egito. Também Jeremias, ele mesmo, narra como foi o seu chamado:
[...] a mim me veio, pois, a palavra do Senhor, dizendo: Antes que eu te
formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da ma-
dre, te consagrei, e te constituí profeta às nações. Então lhe disse eu: ah!
Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança.
Mas o Senhor me disse: Não digas: Não passo de uma criança; porque
a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás
(BÍBLIA, Jeremias 1,4-8).

Temos, nessa lista, tantos outros homens preciosos que foram grandemente usa-
dos por Deus, entretanto, quando foram chamados, não se sentiam aptos para
o cumprimento de suas tarefas.
Ao apresentarmos as competências desejadas para o plantador de igrejas,
não queremos desconsiderar que é Deus quem realiza em nós Sua obra e nos

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


145

habilita. Sua graça e Seu poder se aperfeiçoam em nossas fraquezas. Mas, visto
que nossa incumbência é a tarefa sagrada de cuidar de almas por quem Cristo
morreu e ensinar princípios do Reino Eterno, nos reportarmos ao próprio Deus
em tudo que fazemos, então, precisamos considerar atentamente o perfil reve-
lado pela Palavra de Deus para o exercício do ministério. Quando me refiro ao
plantador de igrejas, reflita sobre sua própria vida ministerial, seja qual for seu
envolvimento na edificação do Reino de Deus.
Ott e Wilson (2013) nos dão informações sobre um estudo com 528 agên-
cias missionárias, em que se concluiu que cerca de três quartos (¾) de todo o
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desgaste missionário acontecia em decorrência de causas previsíveis. Perto de


um quarto (¼) desse desgaste previsível tinha diversas causas pessoais: 13 por
cento (13%) relacionava-se a casamento e família e 6 a 9 por cento (6-9%) era
resultado de problemas com a equipe.
Concluímos que o trabalho ministerial, em geral, tem um forte impacto na
vida pessoal, conjugal e familiar. Muitas pessoas que têm um perfil altamente
orientado pela conclusão de tarefas tendem a ignorar os problemas pessoais e
negligenciar algumas dimensões de sua vida pessoal. Pinney (2006), coordena-
dor da Church Planting Canada, em Quebec, escreve:
[...] ao mesmo tempo em que há um crescente número de recursos di-
dáticos que enfocam a metodologia de plantação de igrejas, muito pou-
co se refere diretamente aos plantadores e às pressões pelas quais ele e
suas famílias passam na tentativa de plantar igrejas. Embora o próprio
plantador seja um componente essencial da plantação de igrejas, sua
vida pessoal e espiritual ainda não recebe a atenção adequada na litera-
tura e nos treinamentos existentes. Além disso, enquanto todo o con-
ceito de mentoreamento está agora sob os holofotes e recebendo uma
atenção considerável, tanto nos círculos cristãos quanto nos seculares,
surpreendentemente há poucos instrumento disponíveis para auxiliar
mentores a causarem uma mudança efetiva na vida pessoal e familiar
do plantador (PINNEY, 2006, p. 8, tradução nossa).

Para tratar esse assunto, consideramos os estudos e pesquisas de Ott e Wilson


(2013) na definição de características e competências desejadas para o plantador
de igrejas. Uma síntese de seus estudos e observações pessoais nos leva a con-
cluir que as qualidades mais importantes para a plantação eficiente de igrejas são:

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


146 UNIDADE IV

Chamado Inteligência
de Deus Disciplinas espirituais emocional e
fortes (oração, ouvir a adaptabilidade
voz de Deus, jejum,
contemplação, leitura
e estudo da Bíblia etc.)

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Caráter santo

Um conjunto
especial de Dons espirituais
habilidades adequados
Apoio do para a missão para a tarefa
cônjuge

Figura 1 - Qualidades para plantação


Fonte: adaptado de Ott e Wilson (2013).

Se forem colocados esses fundamentos, Deus irá, continuamente, moldar o


obreiro no serviço cristão. No caso de atuações ministeriais transcultural, a matu-
ridade pessoal e a adaptabilidade são fatores importantes na efetividade e na
longevidade do ministério. Habilidades evangelísticas, capacidade de adaptação
cultural e inclinações naturais como flexibilidade, improvisação e autodidatismo
são importantes na liderança transcultural eficaz. Torna-se necessário ajustar o
estilo de liderança à situação ou cultura em vez de uma personalidade definida
a um único padrão de comportamento. Os obreiros transculturais precisam ser
capazes de liderar não somente à frente, mas também ao lado dos aprendizes e
líderes locais por causa da fase de retirada e da exigência de mudanças de papéis.
Nunca se deve esquecer que nenhum plantador de igrejas reunirá todas as
habilidades. O conjunto de competências da equipe deve, também, ser consi-
derado. Trataremos, em seguida, alguns desses aspectos, considerando quatro

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


147

abordagens diferentes: fundamentos espirituais, fundamentos pessoais, vida


familiar, e plantadores bivocacionais.

A. FUNDAMENTOS ESPIRITUAIS

Existem alguns aspectos espirituais que devem ser encontrados na vida daque-
les que seguem a Cristo como seus discípulos, como o caráter de Cristo, a vida
de oração, a santificação, a maturidade espiritual. Entretanto, quando se trata de
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ministros do Senhor, esses aspectos devem estar presentes de forma potenciali-


zada. Vamos considerar o chamado e sua confirmação, a maturidade espiritual,
a oração e as disciplinas espirituais e, por último, os dons espirituais.

A.1. Chamado e confirmação

Como abordamos anteriormente, o chamado é o ponto de partida para o serviço


a Cristo. Deve-se buscar tanto o tempo de Deus quanto o chamado de Deus. A
segurança da convocação de Deus traz confiança e força para desenvolver a tarefa.
Essa convicção pode vir no início, de forma dramática, como Paulo no cami-
nho de Damasco, ou progressivamente, por meio de um processo de estudo da
Bíblia, de reflexão e conversas como outras pessoas Greer (EMQ, 2009, on-line)1
diz que há precedentes bíblicos para os dois: a “chamada óbvia” e a “chamada
sutil” refletida na frase de Tiago “pareceu-nos bem e ao Espírito Santo” depois
de muita deliberação (BÍBLIA, Atos 15,28). Os candidatos, porém, precisam ter
uma convicção legítima, estabelecida e duradoura (que deve ser compartilhada
pelo cônjuge, se for casado) da direção de Deus que é confirmada pelo corpo
local da igreja, como abordado anteriormente.

A.2. Maturidade espiritual

Ott e Wilson (2013) apontam que os plantadores de igrejas devem ser escolhidos
entre os que já têm demonstrado maturidade espiritual, compromisso com disci-
plinas espirituais e habilidades necessárias para o desempenho do ministério. O

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


148 UNIDADE IV

Senhor, soberanamente, prepara seus servos por meio de experiências formativas


que servem como base espiritual para suportar as pressões de situações aleatórias.
O isolamento é muitas vezes utilizado por Deus para ensinar importan-
tes lições de liderança que não podem ser aprendidas quando estamos
experimentando as pressões do contexto normal do ministério (CLIN-
TON, 2000, p. 161).

Diante das provações que passamos, muitas vezes, pode haver uma grande resis-
tência, assim como Jacó em Peniel. Entretanto, esse processo resulta em uma maior
intimidade com Deus, quando nos submetemos a Ele em temor e obediência.

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Novos padrões de submissão, maior humildade e paciência, e novas maneiras
de reagir diante das dificuldades podem ser aprendidas. Quando falta a maturi-
dade e sensibilidade espiritual necessária, o choque inicial com uma língua ou
cultura pode se tornar insuportável.

A.3. Oração e disciplinas espirituais

O número de tarefas relacionadas à agenda de um plantador de igrejas pode ser


preocupante, mas sua prioridade deve ser alimentar sua própria vida espiritual,

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


149

como disse Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua


nestes deveres; porque fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus
ouvintes” (BÍBLIA, I Timóteo 4,16).
Ott e Wilson (2013, p. 313) apontam que “muitos chegarão à conclusão de
que precisam desenvolver padrões diferentes ou mais profundos de disciplinas
espirituais: as praticadas em seu país de origem podem não ser adequadas para
a frente de batalha”. É nítida a influência que a vida de oração, jejum e estudo da
Bíblia trazem para a edificação da Igreja do Senhor.
Os plantadores também precisam estar alertas às necessidade, as fra-
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quezas de caráter e aberturas espirituais daqueles com quem estão tra-


balhando para interceder com foco e persistência. A oração também
está ligada ao evangelismo. A intercessão não é apenas o meio para o
serviço efetivo - é o coração e a alma de um ministério (OTT e WIL-
SON, 2013, p. 313).

A.4 Dons espirituais

A Palavra de Deus, em Efésios, nos diz que “Cristo levou cativo o cativeiro e con-
cedeu dons aos homens (BÍBLIA, Efésios 4,8). Plantar e edificar igrejas é fruto
do Espírito Santo de Deus em nós. Deus usa uma variedade de dons espiritu-
ais para esse serviço. Apresentaremos, a seguir, um quadro proposto por Ott e
Wilson (2013), que nos ajuda a compreender o papel dos dons espirituais.
Quadro 1 - Funções e dons espirituais em uma equipe de plantação de igrejas

FUNÇÃO DO EXEMPLOS BÍBLICOS DONS ESPIRITUAIS


PLANTADOR
Fundador Paulo, Pedro, Bar- Apóstolo, evangelismo, pregação, lide-
nabé e Epafras rança, fé encorajamento.

Desenvolvedor Apolo, Timóteo e Ensino, administração, encorajamento,


Tito aconselhamento.

Assistente Priscila e Áquila Evangelismo, ajuda, hospitalidade, ensi-


no, encorajamento.

Fonte: Ott e Wilson, (2013, p. 314).

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


150 UNIDADE IV

• Paulo e Pedro representam o tipo “fundador” e tinham o dom de


apóstolo. Ambos eram evangelistas que dominavam a pregação
persuasiva. Barnabé, que trabalhou como evangelista juntamente
com Paulo (Atos 13:2-14:28), era conhecido pelo dom de encorajar
as pessoas (Atos 4:36). Ele acompanhava os irmãos a fim de iniciá-
-los no ministério (Atos 11:25) e serviu como ponte entre pessoas
e grupos (Atos 15:1-4, 12, 22-35). Epafras começou o trabalho em
Colossos (Colossenses 1:7) e também é associado ao trabalho em
Hierápolis e Laodiceia (Colossenses 4:12). Ele demonstrou o dom
de fé através da oração intercessória (Colossenses 4:12).

• Apolo, um judeu de Alexandria foi descoberto pela equipe paulina


em Éfeso. Ele era um aplicado estudioso do Antigo Testamento

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e um pregador eloquente que tinha aceitado Jesus como Messias.
Com um pouco mais de instrução, ele foi preparado para usar suas
habilidades para persuadir e instruir as pessoas na fé. Ele desen-
volveu, ou “regou”, a igreja de Corinto (I Coríntios 3:6) e aparen-
temente, auxiliou Paulo em Éfeso (I Coríntios 16:12). Parece que
Apolo nunca se envolveu na plantação pioneira de uma igreja, mas
dedicou suas energias a fortalecer trabalhos já estabelecidos.

• A contribuição de assistentes ou membros da equipe, embora


pouco notada, nunca deve ser subestimada. Priscila e Áquila, pro-
vavelmente, possuíam o dom de socorro e hospitalidade, e certa-
mente de ensino e encorajamento (Atos 18:2,26; I Coríntios 16:19).
Eles faziam o trabalho de evangelismo, mas possuíam também a
habilidade de caminhar com as pessoas para contribuir com sua
formação (Atos 18:26). Paulo os chama de “meus colaboradores
em Cristo Jesus” (Romanos 16:3).

• Os dons de cada categoria devem estar presentes na equipe de


plantação de igrejas. Aqueles que possuem dons de evangelismo,
ensino ou pregação, liderança ou administração, apostolado de-
vem estar presentes para dar início a um projeto transcultural ou
urbano. Deus não será limitado por uma fórmula. Ele pode acres-
centar dons trazendo novos membros ou levantando líderes na-
cionais com o que for necessário. Deus usa muitos tipos de plan-
tadores de igrejas trabalhando sinergicamente através do Espírito
Santo (OTT; WILSON, 2013, p. 314-315).

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


151

B) Fundamentos pessoais

Passamos agora a considerar aspectos de caráter e personalidade que são dese-


jados na vida do plantador de igrejas. As questões pessoais são vitais para que
um obreiro possa ter um bom resultado no trabalho realizado.

B.1. Estabilidade

Lidório (2011, p. 12), enfatiza que “nada, a não ser Deus, Seu poder e ação,
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poderá habilitar espiritualmente a Igreja a fim de concluir os planos do Senhor


no mundo”. Entretanto, no processo de plantio de igrejas nos deparamos com
muitos obstáculos, temos recursos limitados, em circunstâncias que às vezes nos
parecem intransponíveis.
Principalmente para os obreiros transculturais, onde a comunicação se dá
em uma segunda língua, ocorre o isolamento social e geográfico, a instabili-
dade política, conflitos com colegas de trabalho, amigos e família. Esses fatores
contribuem para um estresse geral, em que a dependência de Deus para uma
estabilidade emocional se torna fator imprescindível.
Ott e Wilson (2013, p. 317) apontam o grande desafio encontrado em plan-
tação de igrejas: “plantar uma igreja é como iniciar um pequeno negócio com
voluntários quando a análise do mercado indica que a maioria das pessoas não
está interessada em seu produto”. Os plantadores, muitas vezes, se sentem inva-
sores e, frequentemente, são mal interpretados por aqueles que estão tentando
alcançar. Por todas essas razões, e muitas outras, a plantação de uma igreja traz
muitas incógnitas que, sendo solucionadas, nos leva a grandes recompensas,
porém exigem muito de nossa coragem, estabilidade e inteligência emocional.

B.2. Resistência

Ott e Wilson (2013, p. 317) pontuam que “quando os plantadores de igrejas se


mudam para um novo local de ministério, deixam muitas coisas para trás, incluindo
a igreja, os parentes e outros sistemas de apoio emocional”. Por isso, uma das qua-
lificações para a plantação de igrejas é a resistência - a habilidade de se sustentar

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


152 UNIDADE IV

emocional e fisicamente em meio a adversidades, perdas, desapontamentos e


fracassos. É preciso perseverança até que os objetivos traçados se estabeleçam.
As pessoas emocionalmente resistentes são adaptáveis e dispostas a
aceitar mudanças com pouco amparo. Elas se ajustam ao desafio e ao
ambiente de rápida mutação de um ministério em crescimento. Quan-
do a oposição e as dificuldades surgem, não ficam arrasadas, mas rea-
gem até nas mais difíceis circunstâncias a fim de continuar avançando
encontrando forças dentro de si mesmas. Têm seus momentos de desâ-
nimo, mas são obreiros perseverantes e resolutos servos da cruz (OTT;
WILSON, 2013, p. 317-318).

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A condição de resistência apontado por Ott e Wilson é muito bem traduzida
pelas palavras “resolutos servos da cruz”, uma vez que, a experiência substitutiva
de Cristo na cruz em nosso lugar nos concede a oportunidade de nos conside-
rarmos mortos para muitos aspectos da vida natural, sabedores que na morte
daquilo que é nosso, se manifesta a vida daquilo que é dEle.

B.3. Autogerência

Muitos plantadores de igrejas trabalham fora de casa sem horas regulares de tra-
balho ou responsabilidades bem definidas. Consequentemente, têm necessidade
de usar o seu tempo e recursos de maneira prudente e efetiva. Para que possam
sair do lugar, necessitam ser cheios de decisão e disposição para ir aos lugares
públicos, conhecendo pessoas e compartilhando de Cristo.
A plantação de igrejas envolve tanto o desenvolvimento pessoal quanto
o desenvolvimento de um projeto. É um trabalho difícil e complexo que
requer longas horas, concentração e a disciplina de permanecer na tarefa.
Os plantadores também precisam de alvos claros e autocontrole se dese-
jarem ver progresso real. Antes de começar sua primeira atribuição, já de-
vem ter mostrado a habilidade de gerenciar seu tempo, sua família e seus
recursos de forma eficiente. Jesus voltou sua face para Jerusalém e nunca
perdeu de vista a razão pela qual ele veio. Para alguns, seguir seu exemplo
nesse aspecto é quase instintivo, mas, para a maioria, é um comporta-
mento aprendido. A autogerência exige uma avaliação realista de nossos
pontos fortes e de nossas limitações, além do cultivo de hábitos sadios e
limites para manter-se em direção ao alvo (OTT; WILSON, 2013, p. 318).

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


153

O ponto de partida da autogerência deve ser a prática das disciplinas espiritu-


ais, pois, por exemplo, uma profunda vida de oração modifica muitos de nossos
hábitos, ao manifestar uma nova confiança naquilo que Deus pode fazer.

C. Vida familiar

Esse ponto é de fundamental importância, pois a plantação de uma igreja envolve


profundas mudanças no contexto de atividades de uma família, principalmente
quando se trata de plantação transcultural de igrejas. Portanto, as necessidades
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e condições psicológicas de cada membro da família devem ser consideradas.

C.1. Tolerância ao estresse causado por mudanças

A plantação de uma igreja, muitas vezes, exige mudança de casa e de cultura


para alcançar pessoas de diferentes contextos. Ott e Wilson citam que o choque
cultural é definido como:
[...] uma síndrome de reação ao ajuste causada por estresse múltiplo e
interativo nos níveis intelectual, comportamental, emocional e psicoló-
gico de uma pessoa recentemente realocada a uma cultura que não lhe
é familiar e é caracterizada por uma variedade de perturbações psicoló-
gicas. Essas mudanças, ocorrendo todas de uma vez, precipitam o pro-
cesso de adaptação, mas podem prejudicar o relacionamento conjugal.
Os maridos e as esposas experimentam a plantação de igreja de formas
diferentes. Geralmente, o papel do marido é bem definido, porque todo
o processo de seleção e preparação é concentrado nos dons e no treina-
mento dele. Se o papel da esposa não parece ser tão crítico ou claro, ela
enfrentará mais estresse relacionado ao seu papel. Quando os cônjuges
têm necessidades e percepções diferentes, pode ser difícil manter a har-
monia conjugal (OTT; WILSON, 2013, p. 318-319).

Frente a esses importantes aspectos, percebe-se o quanto existe uma necessidade


de convicção do chamado, do marido e da esposa, para a mesma tarefa. Caso a
esposa permaneça no cuidado da casa e dos filhos, ela terá maior dificuldade no
aprendizado da língua e da cultura em trabalhos transculturais. A esposa com
o perfil mais relacional terá um aprendizado mais rápido e poderá atuar mais
amplamente na plantação da igreja.

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


154 UNIDADE IV

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C.2. Necessidade de limites entre o lar e o ministério

Ott e Wilson (2013) apresentam outra dificuldade que é o “efeito vitrine”, quando
as atividades do dia a dia são observadas por muitas pessoas e perde-se o senso
de privacidade. Os ocidentais que trabalham em contextos tribais enfrentam difi-
culdade especial nesse aspecto, porque as pessoas que vivem coletivamente em
famílias estendidas não apreciam sua necessidade de privacidade.
Algumas vezes é muito difícil aceitar a superexposição dos filhos. A reação
natural seria recolher-se a um estilo de vida mais privado, mas os plantadores
reconhecem a importância do seu exemplo e testemunho como família e dese-
jam desenvolver novos relacionamentos. Eles sabem que a hospitalidade e o
ministério baseado no lar são essenciais para a plantação de uma igreja. A ten-
são não é de fácil solução.
A falta de limites se manifesta, também, de outras maneiras. Se não há um
escritório disponível, os plantadores precisam aprender a trabalhar em casa. As
crianças precisam aprender a compartilhar seus brinquedos e seu espaço todos
os dias de culto, caso a igreja se reúna na casa do obreiro. Problemas relacionados

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


155

a estabelecimento de limites parecem apenas aumentar à medida que o minis-


tério se expande.
O tempo com a família pode se tornar um bem raro à medida que o
trabalho com o acompanhamento de discípulos e líderes é acrescen-
tado ao evangelismo e à formação da comunidade. As famílias saudá-
veis aceitarão a necessidade de - dar um tempo - e estabelecer o hábito
de tirar um dia de folga em família. [...] Os indivíduos que atuam em
profissões que têm contato direto com pessoas (professores, médicos,
assistentes sociais e pastores) e que desempenham intervenção em mo-
mentos de crise, aconselhamento familiar e atendimento em pronto so-
corro, apresentam altos níveis de estresse e ansiedade. Os plantadores
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de igrejas que cuidam de pessoas em crise, pobres, famílias com proble-


mas conjugais, dentre outros, se encaixam na condição citada. Podem
ter que enfrentar essas emergências com pouco preparo ou treinamen-
to. Normalmente, eles veem a poderosa intervenção de Deus e conse-
guem ajudar, mas seu envolvimento pode, no entanto, cobrar um alto
preço em sua saúde pessoal e familiar (OTT; WILSON, 2013, p. 320).

É de extrema importância o cuidado com a saúde da família de plantadores de


igrejas, pois, dessa condição, dependerão os resultados do trabalho realizado.
Há necessidades também de estabelecer limites na área de finanças. Cria-se um
dilema quando existe uma desproporção econômica entre o estilo de vida do
missionário e o da população em geral. Há muitos pedidos de ajuda financeira,
tanto da parte dos cristãos quanto da comunidade.
O que um plantador de igrejas faz quando várias pessoas perdem seus empre-
gos ou quando um casal pede dinheiro emprestado para comprar remédio para
sua filha? Onde se traça uma linha demarcatória? Em resposta a essas pressões,
Ott e Wilson (2013) indicam quatro áreas que devem ser consideradas pela famí-
lia do plantador de igrejas:
1. Espaço - como a casa da família será usada para o ministério? Que
partes serão consideradas proibidas à entrada de estranhos?

2. Tempo - que noites serão dedicadas a reuniões e visitas e que noites


serão separadas para a família? Que dia será o “sábado” da família?

3. Relacionamentos - como o cônjuge que fica em casa desenvolverá


amizades? Os filhos adolescentes possuem amigos cristãos? Quem
será o confidente do casal no caso de problemas no ministério?
Como os filhos serão protegidos da “superexposição”?

O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas


156 UNIDADE IV

4. Recursos - os recursos financeiros da família serão usados para


auxiliar os necessitados na igreja, e se esse for o caso, sob que con-
dições? Até que ponto os membros da família estarão dispostos
a compartilhar seu carro e pertences pessoais? (OTT; WILSON,
2013, p. 321).

Essas respostas devem ser encontradas e acordadas em família. E, sempre que


os limites não estiverem sendo guardados, deve haver liberdade para uma nova
abordagem.

C.3. Mulheres na plantação de igrejas

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A mulher possui um papel relevante nas equipes de plantação de igrejas, seja ela
solteira ou trabalhando em companhia de seu marido. Entretanto, ela também
é desafiada por dificuldades singulares. Ott e Wilson (2013) apontam alguns
aspectos muito relevantes:
■ Alguns sistemas religiosos, especialmente em culturas islâmicas ou tri-
bais, têm padrões distintos de adoração e práticas para as mulheres que
reduzem severamente a comunicação entre os sexos.
■ Paulo trabalhou em parcerias significativas com assistência de mulheres
como Priscila (Atos 18-19), Evódia e Síntique (Filipenses 4) e obreiras locais
como Lídia (Atos 16), Ninfa (Colossenses 4,15), Febe e outras (Romanos
16), em um tempo em que as mulheres raramente eram encontradas em
posições de liderança. Atualmente, homens e mulheres podem trabalhar
juntos em parcerias criativas na plantação de igrejas, mas há obstáculos
a serem superados.
■ Algumas vezes espera-se que as mulheres colaborem sem que lhes seja
concedida uma voz real nas decisões da equipe. Ott e Wilson (2013, p.
322) relatam que “uma plantadora de igrejas trocou de organização mis-
sionária porque, sendo uma mulher solteira e médica, ela tinha carga
integral de ministério, mas não possuía voto nas reuniões da equipe”. As
frustrações a respeito das desigualdades são agravadas quando os papéis
públicos para mulheres são reprovados, ou em culturas patriarcais e
machistas em que a educação, a inteligência e a opinião de uma mulher
não são consideradas.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


157

Quando surgem problemas no contexto da plantação de igrejas, tensões ou peque-


nas irritações, é necessário que os fatores causadores sejam tratados abertamente
para que não tragam feridas dolorosas e frustrações quanto ao chamado em Deus.
Se as mulheres partilham integralmente de um ministério de plantação de
igrejas, devem receber apoio e o mesmo treinamento que os homens, partici-
par de decisões e ter auxílio para organização de suas agendas, no caso das que
possuem filhos.
Karol Downey (EMQ, 2005, on-line)2 sugere que tanto o homem quanto a
mulher se beneficiam quando compreendem o ministério amplamente como
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serviço a Deus em todas as esferas da vida: família, igreja e o mundo exterior.


As organizações missionárias podem contribuir também, esclarecendo suas
expectativas quanto ao papel das mulheres, oferecendo oportunidades amplas de
ministério de acordo com os dons individuais, confirmando a grande contribui-
ção das mulheres e mantendo, em seus quadros, mulheres experientes envolvidas
na preparação pré-campo e em visitas de acompanhamento aos campos.
Ott e Wilson (2013) concluem que, completamente aceitas como compa-
nheiras de ministério, o impacto no Reino é multiplicado pela presença das
mulheres, a força missionária é aumentada, mulheres em sociedades islâmicas
e budistas podem ser alcançadas, mulheres locais são discipuladas e treinadas,
a qualidade da tomada de decisão é ampliada pela singular percepção feminina
e as pessoas são atraídas ao ver como homens e mulheres podem ser moldados
à imagem de Cristo.

PLANTADORES BIVOCACIONAIS

Esse talvez seja um dos maiores empecilhos para a multiplicação de igrejas em


nosso tempo. Um movimento de expansão de igrejas depende do grau em que
os cristãos locais cheios do Espírito Santo têm liberdade de agir livres de estru-
turas e controles tradicionais. Como dissemos anteriormente, uma igreja em fase

Plantadores Bivocacionais
158 UNIDADE IV

adulta deve ter alcançado capacidade de autogoverno, autossustento e autopro-


pagação, o que classificamos como igrejas autóctones.
No decorrer dos tempos, nunca os recursos financeiros têm sido suficien-
tes para sustentar o número de obreiros necessários em campos missionários.
Depender de recursos externos, como ofertas, apoio financeiro de patrocina-
dores, doações de equipamentos ou subsídios para execução de projetos de
construção trazem lentidão e dificuldades para o avanço da igreja. Ott e Wilson
(2013, p. 96) citam que “o uso insensato de recursos pode inibir a multiplica-
ção da igreja de várias formas”. Os recursos externos são limitados e, mais cedo

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ou mais tarde, tendem a acabar, caso a plantação da igreja depende deles, ela
também acabará. Outro aspecto é que as pessoas passam a pensar que é impos-
sível plantar uma igreja sem patrocinadores e recursos externos. Em último
lugar, quando os recursos externos são usados para a plantação da igreja, pode-
-se plantar também a ideia de que se foi a missão que construiu a nova igreja, é
a missão que deve sustentá-la.
Os recursos externos podem ajudar a plantação de igrejas e não são antiéticos.
Afinal, no estágio pioneiro ainda não existe igreja e todos os recursos - humanos,
estratégicos, tecnológicos e financeiros - precisam vir de fora. No entanto, devem
ser usados com sabedoria para que esses recursos não se tornem obstáculos para
uma multiplicação de congregações sadias, autossustentáveis e que se reproduzem.
Ott e Wilson (2013) indicam que outro empecilho para a multiplicação diz
respeito à educação formal dos plantadores de igrejas, que levam, normalmente,
vários anos em uma Universidade, escola bíblica ou seminário. Isto em si não
é ruim, entretanto, levará muito tempo e nunca haverá obreiros diplomados
suficientes para se tornarem plantadores de igrejas em um movimento em cres-
cimento. Isso também pode criar a impressão de que os leigos sem treinamento
não podem ou não deveriam liderar a plantação de igrejas.
Na prática, os movimentos de plantação de igrejas contam com leigos bivoca-
cionais e com métodos de treinamento informais, como treinamentos organizados
por igrejas, seminários oferecidos por escolas bíblicas e por organizações mis-
sionárias. Eles enfatizam o entendimento bíblico, a formação de caráter e o
desenvolvimento de habilidades práticas de ministério em lugar do conheci-
mento teórico.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


159

Mesmo aqueles que se prepararam dentro de uma instituição formal, mui-


tas vezes, possuem dificuldades em encontrar o sustento financeiro na própria
igreja plantada, o que os leva a um ministério bivocacional.
A expressão “ministério bivocacional” se refere não a um método de plan-
tação de igrejas em si, mas à forma como alguns missionários e plantadores de
igrejas se sustentam financeiramente. Os obreiros bivocacionais, algumas vezes
chamados de fazedores de tendas, têm uma ocupação secular ou empresa para
complementar ou financiar integralmente seu empreendimento de plantação
de uma igreja.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Eles precisam ser competentes em ambas as funções, integrá-las e geren-


ciá-las juntamente com suas responsabilidades familiares. Consideraremos, a
seguir, alguns aspectos apontados por Ott e Wilson (2013), que nos levam a
refletir sobre o ministério bivocacional.
O apóstolo Paulo trabalhou literalmente como um fazedor de tendas. Os
missionários morávios - a maior força missionária de seu tempo - foram todos
bivocacionados. Hoje, fazer tendas tem se tornado um fator significativo em
missões, especialmente em locais de difícil acesso, nos quais os missionários
tradicionais não conseguem vistos de permanência. Essa modalidade tem sido
também adotada por várias associações como uma estratégia intencional para a
ocupação de novas cidades e zonas rurais.
As escolas bíblicas e seminários teológicos não produzirão obreiros suficien-
tes para cumprir a Grande Comissão ou sustentar os movimentos de plantação de
igrejas. Somente igrejas locais reprodutoras comprometidas com a seara podem
produzi-los. Para que a multiplicação aconteça, precisamos de novos modelos de
parcerias efetivas entre as equipes de obreiros leigos e, especialmente, de obrei-
ros de tempo integral com plena formação teológica, de forma que estes ocupem
posições de capacitadores.
Embora a bivocacionalidade seja uma realidade neotestamentária, deve-se
ter grande cuidado para se evitar problemas como:

Plantadores Bivocacionais
160 UNIDADE IV

■ Treinamento inadequado nas áreas bíblica, teológica e de evangelismo


transcultural, resultando em lacunas nas competências ministeriais;
■ Ambivalência de papéis e tensão entre as duas vocações, produzindo lutas
de identidade e integridade;
■ Fracasso na condução de um negócio rentável, o que pode prejudicar
tanto o negócio quanto o ministério.

A preocupação imediata dos ministérios bivocacionais é como administrar efeti-


vamente duas grandes vocações, mais o casamento e a família em muitos casos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A necessidade de um descanso semanal e de limites entre o trabalho e a famí-
lia, a obtenção de tempo para se desenvolver as disciplinas espirituais podem se
tornar pontos conflitantes. Esses aspectos devem ser continuamente avaliados.
Sempre que possível, o plantador bivocacional deve buscar oportunidades
de qualificação e treinamento. Ele deve estar debaixo de um contexto de super-
visão e acompanhamento para que áreas de limitação possam ser ajustadas e
potencializadas.
O plantador de igrejas em tempo integral ou bivocacional deve, em tudo,
encontrar-se em completa dependência de Deus, quer seja na vida financeira,
na vida familiar, na preparação teológica ou no planejamento ministerial. O
Deus que chama é o mesmo que sustenta e capacita para o ministério. Cada con-
texto precisa ser considerado individualmente à luz da Bíblia e da orientação do
Espírito Santo de Deus.
Normas culturais e uma variedade de outros fatores devem ser levados em
conta quando determinamos o uso sábio dos recursos humanos, estruturais e
financeiros disponíveis.

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


161

A IGREJA E O PLANTIO DE IGREJAS

Encontramos, neste tópico, uma perspectiva de suprema importância: a reali-


dade de que igrejas plantam igrejas. Para isso foram estabelecidas
as igrejas do Senhor na terra, para se multiplicarem em novas
igrejas. A grande comissão em primeira instância é dire-
cionada para a Igreja do Senhor. Muitas dificuldades são
encontradas quando a visão de multiplicação ocorre indi-
vidualmente e não no corpo de Cristo. Entretanto, é a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Igreja que é a remetida para o mundo, enviada até os


confins da terra para alcançar os perdidos e plantar
novas congregações.
Quanta perda a Igreja do Senhor tem sofrido em
função das barreiras e divergências denominacionais. Embora
a interpretação das Escrituras possam ser diferentes em alguns
pontos para as denominações, isso não deve ser empecilho
para realização de parcerias que tragam avanço à Igreja do
Senhor. Lidório nos encoraja sobre a grande responsabilidade das igrejas
em propagarem-se.
O assunto plantio de igrejas deve ser observado sob a perspectiva da
missão, ou seja, o resultado do desejo de Deus que envolve a ação da
Igreja. Um dos maiores perigos existentes no processo de plantar igre-
jas é defrontar-se com um cenário onde a missão da Igreja está sepa-
rada da missão de Deus, a Missio Dei. E isso ocorre quando a Igreja
segue sua própria agenda, de plantio ou crescimento, por motivações
próprias e antibíblicas. Não para a glória de Deus, mas para a glória da
igreja. Não para alcançar os perdidos, mas para fortalecer a denomina-
ção. Não para exaltar Jesus, mas para exaltar os seus líderes (LIDÓRIO,
2011, p. 37).

A responsabilidade e o desejo de plantar igrejas, de anunciar a Cristo para os


que ainda não foram alcançados, não podem ser vividos individualmente, mas
devem fazer parte da agenda e planejamento de cada igreja. Na igreja primitiva
quando alguém se convertia ao evangelho, prontamente Cristo era anunciado
por esses novos cristãos. E, nos locais onde as pessoas eram alcançadas, novas
igrejas eram estabelecidas.

A Igreja e o Plantio de Igrejas


162 UNIDADE IV

A igreja primitiva soube compreender as palavras de Jesus na grande comis-


são, considerando sua tarefa principal levar o evangelho a todas as nações.
Quando a igreja desassocia a evangelização do plantio de igrejas tende a estag-
nar-se na multiplicação e ter poucos frutos no trabalho de evangelismo. Não é
possível arar a terra sem pôr a mão no arado. Assim, a igreja não pode viver para
si mesma, tendo como sua razão de ser a própria existência e perder a seu pro-
pósito, expandir-se até os confins da terra.
Vemos no ministério do apóstolo Paulo a dinâmica não somente de sua pró-
pria ação para o plantio de novas igrejas. Mas seu intenso trabalho de preparação

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de líderes, delegação de autoridade, recrutação de membros para sua equipe mis-
sionária. Exemplos disso são os cooperadores, como Timóteo de Listra (Atos
16,1) e Apolo de Éfeso (Atos 18,24-26). O desenvolvimento, comissionamento
e delegação de obreiros possuem um papel fundamental no processo de cresci-
mento e multiplicação de igrejas.
O próprio Senhor Jesus denunciou a necessidade de formação de obreiros
para suprimento dos campos, em Mateus, conforme descrito a seguir:
[...] e percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sina-
gogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças
e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque
estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então,
se dirigiu a seus discípulos: a seara, na verdade, é grande, mas os traba-
lhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande traba-
lhadores para a sua seara (BÍBLIA, Mateus 9,35-38).

Jesus se compadecia das necessidades das pessoas e discernia que as mesmas


padeciam aflitas por não estarem sendo pastoreadas. A limitação de obreiros se
apresenta como uma complexa realidade a ser corrigida. A resposta começa pela
oração, para que o plano de Deus seja estabelecido, mas permanece a tarefa da
igreja em formar obreiros para atender a carência dos campos.
Ott e Wilson (2013) enfatizam que, conforme a igreja cresce e procura se
reproduzir, uma ênfase prioritária deve ser colocada na capacitação dos cristãos
locais para o ministério. Paulo deixa bem claro em Efésios que a chave para levar
a igreja à maturidade é que os líderes treinem os santos para que esses sejam
aperfeiçoados e desenvolvam seu serviço para edificação do corpo de Cristo,
“até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


163

de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”


(BÍBLIA, Efésios 4,11-13).
Os líderes cristãos não surgem da noite para o dia. Eles se parecem com
árvores frondosas que crescem em silêncio e paciência, enterrando suas raízes
profundamente e estendendo seus longos e fortes galhos que produzirão refrigé-
rio a muitos. Árvores que caem fazem mais barulho que uma floresta que cresce,
portanto, devemos estar bem arraigados e preparados para enfrentar os grandes
desafios do ministério cristão. Antes de tentar desenvolver líderes, precisamos
desenvolver discípulos fiéis que amadurecem no serviço e obediência, na pie-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade e no amor, na revelação de Deus e na manifestação do caráter de Cristo.


Assim, cumpriremos cabalmente nosso chamado e ministério.
Chegamos ao final da nossa Unidade IV. Que Deus nos ajude a sermos encon-
trados fiéis. Que sejamos supridos por Sua infinita graça, que produz em nós a
riqueza da vida ressurreta de Seu filho, o Senhor Jesus Cristo.








A Igreja e o Plantio de Igrejas


164 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), durante a Unidade IV abordamos aspectos pessoais que envol-


vem o homem e a mulher que foram atraídos por Deus ao ministério. Tudo começa
pelo chamado de Deus. Assim foi na vida de Abraão, Sara, Moisés, Ester, Ana,
Samuel, Davi e todos que foram comissionados no Novo Testamento, incluindo
mulheres preciosas que fizeram parte do ministério do Senhor Jesus e do incan-
sável trabalho do apóstolo Paulo em plantar igrejas neotestamentárias.
Se você chegou até aqui com convicção e desejo de servir a Deus, certa-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mente Ele conduzirá você às próximas etapas. A Bíblia está repleta de homens e
mulheres que encontraram no serviço a Deus sua motivação e razão de existir.
Deleite-se em sua leitura e Deus encherá seu coração de confiança, orientação
e firmeza. Sirva em sua igreja local até que chegue o tempo e esteja preparado
para assumir um novo desafio.
Se você já tem exercido uma função de liderança ministerial, invista na for-
mação de novos obreiros, entendendo que tudo começa pelo serviço, obediência
e disposição de realizar a vontade de Deus.
Diante de um mundo tão conturbado, entendemos o quanto é preciso con-
quistar estabilidade emocional e uma vida espiritual centrada na vontade de
Deus. Só assim poderemos cumprir nosso chamado e ministério. Depender
exclusivamente de Deus deve ser o segredo de nosso ministério. Ele nos habi-
lita, segundo Sua abundante graça.
A igreja tem um papel fundamental na plantação de igrejas. E deve dar prio-
ridade para a identificação de candidatos ao ministério, discipulá-los e enviá-los
para novos campos.
Na próxima unidade conheceremos um pouco mais o paradigma Paulino
para a plantação de igrejas. Que possamos nos desenvolver e amadurecer nessa
desafiadora tarefa!

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS


165

1. Green (2005) nos aponta que dificilmente estaríamos exagerando ao falarmos


das severas mudanças ocorridas no clima espiritual das últimas décadas. Nos-
so sistema educacional foi fortemente influenciado pelo Iluminismo do século
XVIII. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, como o Iluminismo
influenciou o trabalho missionário?
2. Em Marcos 2,14, a Bíblia Sagrada relata: “Quando ia passando, viu Levi, filho de
Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. Ele se levantou e o seguiu”.
Bonhoeffer (2004) diz que, para esta sequência de chamado e ação, só existe
uma razão válida: o próprio Jesus Cristo. Segundo nossos estudos, qual a ra-
zão de Bonhoeffer (2004) apresentar esse entendimento?
3. Ronaldo Lidório (2014) apresenta três característica particulares do chamado de
Deus para o ministério e discipulado com Cristo. O chamado de Deus é pessoal,
incontestável e irresistível. Explique cada uma dessas dimensões.
4. Ott e Wilson (2013) indicam as qualidades mais importantes para a plantação efi-
ciente de igrejas na definição de características e competências desejadas para
o plantador de igrejas, como inteligência emocional e adaptabilidade. Cite mais
três características ou competências que são desejadas para o plantador de
igrejas.
5. A grande comissão em primeira instância é direcionada para a Igreja do Senhor.
Muitas dificuldades são encontradas quando a visão de multiplicação ocorre in-
dividualmente e não no corpo de Cristo. Entretanto, é a Igreja que é a remetida
para o mundo, enviada até os confins da terra para alcançar os perdidos e plan-
tar novas congregações. Explique como a igreja pode atuar para cumprir sua
missão no plantio de igrejas.
166

COMO EU SEI QUE DEUS QUER QUE EU PLANTE UMA IGREJA?


“Como eu sei que o Senhor quer que eu vá lá?” é uma pergunta comum que eu recebo
de jovens plantadores tentando decidir sobre plantar uma igreja. A resposta a essa per-
gunta é de extrema importância.
Um plantador de Igrejas é um chamado para um povo e um local
As pessoas têm opiniões diferentes sobre isso, mas eu vou dar-lhes a minha. Eu não acho
que um plantador de igrejas deva ir plantar uma igreja até que ele seja chamado para
um local e um povo específicos. Isto é um pouco complicado, porque sinceramente eu
não acho que as pessoas sejam genericamente chamadas para a plantação de igrejas. Eu
acho que elas são chamadas para plantar uma igreja em um determinado povo ou um
lugar. Você não pode construir toda a sua visão a respeito de algo em sua experiência
pessoal, mas vou compartilhar o meu chamado como uma ilustração.
Minha Jornada
Mesmo tendo sido rejeitado pela minha agência de missões denominacionais para ser
um plantador de igreja (afinal eu tinha apenas 20 anos de idade e não tinha tido ne-
nhum treinamento), Deus ainda falou aos nossos corações. Eu estava em Buffalo, Nova
York, e Donna estava em casa. Voltei e disse a ela que quando eu estava na avenida
Prospect com a rua Seventh em Buffalo, eu compreendi que o Senhor queria que eu
plantasse uma igreja ali. Donna disse que ela estava orando e que Deus havia lhe dito a
mesma coisa. Nós sabíamos naquele momento que deveríamos ir. Foi significativo, mas
isso só aconteceu comigo uma vez. Eu plantei seis igrejas e o nível de clareza não era tão
evidente. Mas sempre houve um senso de chamado.
A Confirmação através da Compaixão
A confirmação vinha até mim em cada local quando eu sabia que eu não podia fazer
nada mais, exceto plantar a igreja entre as pessoas de um determinado lugar. Eu não
podia fazer outra coisa ou fazê-lo em qualquer outro lugar.
Eu vivi no meu bairro atual durante quatro anos, antes de sair para plantar uma igreja. Eu
estava alcançando alguns vizinhos e os convidava para irem à igreja, enquanto eu servia
como um pastor interino em várias igrejas. Mas então Deus colocou um fardo no meu
coração de que eu precisava plantar uma igreja para essas pessoas e para seus amigos.
Todos os lugares em que eu plantei tinham uma coisa em comum. Eu tinha um fardo
espiritual que envolveu um povo específico – dos pobres urbanos em Buffalo aos meus
vizinhos no condado de Sumner, no Tennessee, décadas mais tarde.
167

Apaixone-se por um grupo específico de pessoas


A plantação de igrejas e o trabalho missionário são papéis únicos que requerem um
chamado claramente discernido. O Apóstolo Paulo falou de forma consistente da res-
ponsabilidade que ele tinha por pessoas diferentes em locais diferentes.
Um plantador de igrejas deve se apaixonar pelo local e se apaixonar pelo povo. Quando
eu me apaixonei pela minha esposa, eu queria saber tudo sobre ela e passar o máximo
de tempo que eu pudesse com ela. Eu fazia coisas com ela que eu não faria normalmen-
te. Eu aprendi coisas novas sobre seus interesses. Eu fiz isso com fervor, porque eu estava
apaixonado por ela.
A mesma coisa é verdadeira sobre um povo e um local onde você está indo para plantar
uma igreja. Você deve se apaixonar por seus interesses. Você precisa aprender mais do
que qualquer outra pessoa sobre o local e o porquê de você estar se apaixonando pelo
local e pelo povo.
Ore e jejue por discernimento
Ore e jejue até que Deus deixe claro o seu chamado para você. Lute com o Senhor até
que seja irrefutável. Eu não quero um chamado geral para plantar uma igreja. Eu quero
um fardo claro para um povo específico. Eu não posso plantar uma igreja até que meu
coração se parta para o povo onde Deus tem me chamado para plantar uma igreja. Não
comece uma igreja sem este chamado.
No final do dia, eu quero um chamado do tipo Macedônico. Paulo teve uma visão, na
qual um homem da Macedônia chamava por ele: “Venha e nos ajude” (Atos 16:9). Não
estou dizendo que você precisa de uma visão em um sonho, e eu nunca tive um assim.
Entretanto, eu nunca plantei uma igreja e não plantaria uma a menos que eu tivesse
uma visão clara por um local e um povo e que eu soubesse no meu coração que Deus
estivesse me chamando para “ir e ajudar” um certo povo em um local específico.
Fonte: Stetzer (CTPI, 2015, on-line)3.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Vocacionados
Ronaldo Lidório
Editora: Betânia
Sinopse: se olharmos a Palavra de forma ampla, possivelmente as
convocações mais enfáticas sejam três: amar a Deus, amar ao próximo
e fazer discípulos. Esse é o nosso propósito e a nossa missão. Todos os
cristão foram chamados para fazer diferença neste mundo, portanto
se você ama e segue a Cristo você é chamado por Ele. Deus também convoca alguns para tarefas e
ministérios bem específicos, e é preciso compreensão bíblica e discernimento nesta caminhada.

Quarto de Guerra
o filme acerta em escolher o tema das relações conjugais para, a
partir daí, destrinchar sua relação direta com o amor próprio, perdão
e principalmente o amor como prova de fé ao nosso Deus. Os
personagens foram escritos de maneira a serem críveis e refletirem
os tipos encontrados em igrejas por todo o mundo. É impossível não
reconhecer a energia contagiante e a fé da senhora Clara em alguém
que fez parte de sua igreja ou história.

Paulo, Plantador de Igrejas: Repensando Fundamentos Bíblicos da Obra


Missionária
O que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando comunidades ao longo
da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições
que sofria? O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro,
popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as
angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava movido por suas convicções
teológicas.
Para saber mais acesse:
<http://www.monergismo.com/textos/missoes/missoes_augustus.htm>.
169
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-


alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.
BONHOEFFER, D. Discipulado. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2004.
CLINTON, R. J. Etapas na vida de um líder: os padrões que Deus usa para desenvol-
ver um líder. Londrina-PR: Descoberta, 2000.
GREEN, M. Evangelismo que Funciona: redescobrindo o poder da missão. Rio de
Janeiro: GW Editora, 2005.
HIMITIAN, J. Projeto do Eterno: um estudo de 12 semanas. São Paulo: Editora Vida,
2010.
LIDÓRIO, R. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos,
2011.
______. Vocacionados. Belo Horizonte: Betânia. 2014.
OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: princípios bíblicos e as melhores
estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.
PINNEY, J. Essential Tools for Strengthening the Life and Ministry of Church
Planters: A Training Manual. 2006. Tese (Mestrado) – Fuller Theological Seminary,
Pasadena-CA, 2006.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <https://www.emqonline.com/node/2316>. Acesso em: 26 mai. 2017.
2
Em: <https://www.emqonline.com/node/343>. Acesso em: 29 mai. 2017.
3
Em: <http://ctpi.org.br/artigo-como-eu-sei-que-deus-quer-que-eu-plante-uma-i-
greja/>. Acesso em: 01 jun. 2017.
GABARITO

1. Nosso sistema educacional foi fortemente influenciado pelo Iluminismo do


século XVIII, que dispensou amplamente a noção de Deus e substituiu-O pela
confiança na razão humana. A ciência, com toda a sua tecnologia, prometia ser
a chave para o futuro. A confiança no progresso tornou-se ampla e geral. Só o
visível, o medido ou verificado de alguma maneira empírica poderia ser consi-
derado real. Havia um pressuposto não declarado sobre a natureza humana:
ninguém duvida que todos nós temos um coração de ouro, valores e relaciona-
mento com Deus tornaram-se subjetivos.
2. O fato de Jesus ser o Cristo dá-lhe todo o poder para chamar e exigir obediência
à Sua palavra. Jesus chama ao discipulado não como ensinador e exemplo, mas
em Sua qualidade de Cristo, Filho de Deus. Assim, neste breve trecho, anuncia-
-se Jesus Cristo e o que Ele espera do ser humano, e nada mais. Nenhum louvor
cabe ao discípulo por seu cristianismo decidido. O olhar não deve pousar so-
bre ele, mas somente sobre aquele que chama e sobre Sua autoridade. Não se
aponta tampouco um caminho para a fé, para o discipulado; não há qualquer
outro caminho para a fé senão o da obediência ao chamado de Jesus.
3. O chamado de Deus é pessoal - Deus não chama instituições e organizações, Ele
chama pessoas como você e eu. Deus lança no coração de Seus filhos uma in-
transferível e profunda convicção de chamado e propósito. O chamado de Deus
é incontestável - é uma convocação e Ele faz de forma clara. Na Bíblia Sagrada a
voz de Deus é comparada “ao som de muitas águas” e ao trovão. Ele se faz ouvir.
O chamado de Deus é irresistível - quando Deus nos chama, somos atraídos por
esse chamado e não teremos paz enquanto não cumprirmos a vontade do Pai.
4. Chamado de Deus, caráter santo, disciplinas espirituais fortes (oração, ouvir a
voz de Deus, jejum, contemplação, leitura e estudo da Bíblia), apoio do cônjuge,
um conjunto especial de habilidades para a missão, inteligência emocional e
adaptabilidade, dons espirituais adequados para a tarefa.
5. Conforme a igreja cresce e procura se reproduzir, uma ênfase prioritária deve
ser colocada na capacitação dos cristãos locais para o ministério. Paulo deixa
bem claro em Efésios 4,11-13 que a chave para levar a igreja à maturidade é que
os líderes treinem os santos para que esses sejam aperfeiçoados e desenvolvam
seu serviço para edificação do corpo de Cristo, “até que todos cheguemos à uni-
dade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade,
à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
Professor Esp. Galaor Linhares Tupan Junior

V
PLANEJANDO A

UNIDADE
PLANTAÇÃO DE UMA NOVA
IGREJA

Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar o modelo Paulino no desenvolvimento de estratégias para o
plantio de igrejas.
■ Refletir sobre as estratégias mais relevantes para o plantio de igrejas.
■ Compreender a essência da pessoa do Espírito Santo e Sua função na
plantação de igrejas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O paradigma Paulino para plantação de igrejas
■ Estratégias essenciais para o plantio de igrejas
■ O papel do Espírito Santo na plantação de igrejas
173

INTRODUÇÃO

Nesta última unidade você obterá mais informações sobre o processo de plan-
tio de igrejas. Quais etapas devem ser seguidas para o estabelecimento de uma
sólida congregação? Quais as melhores estratégias que devem ser implementa-
das? Quais os passos iniciais que devem ser tomados?
A Igreja era um mistério, um segredo escondido por muito tempo em Deus,
impossível de ser conhecido por desígnios humanos. Mas o Senhor abriu com-
pletamente a cortina e, numa visão panorâmica, revelou ao apóstolo Paulo seu
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

projeto eterno, o que está descrito, principalmente, nas epístolas paulinas do


Novo Testamento. Ali encontramos as estratégias essenciais para a plantação de
igrejas, construídas de acordo com os fundamentos missiológicos, numa pers-
pectiva bíblica, contextualizada e aplicável.
Observamos que a grande estratégia utilizada na igreja primitiva era a pro-
clamação das boas novas puras e simples que haviam transformado suas vidas.
Envolvidas pelo testemunho de mudança de vida, comunidades inteiras eram
alcançadas pelo evangelho.
Nos dias de hoje, as estratégias devem ser traduzidas em formas práticas de
evangelização bíblica, no qual uma mensagem cristocêntrica e transformadora
seja aplicada em diferentes contextos culturais.
Veremos, ao final, o importante papel do Espírito Santo para a plantação e
desenvolvimento de igrejas. A compreensão teológica e os princípios e estratégias
bem aplicadas não farão nascer uma igreja. Dependemos do Espírito Santo para
converter os corações, congregar as pessoas no Corpo de Cristo e levar homens
e mulheres à adoração a Deus. E, por fim, inflamar e capacitar esses convertidos
a pregar o Evangelho de Cristo.
Vamos à nossa última unidade!

Introdução
174 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O PARADIGMA PAULINO PARA PLANTAÇÃO DE
IGREJAS

Nosso grande referencial prático e teórico para definirmos estratégias para o


plantio de igrejas está centrado no grande esforço missionário do apóstolo Paulo.
Lopes (1997) afirma que:
[...] para que tenhamos uma ideia do labor do apóstolo Paulo como
fundador de igrejas, em menos de dez anos, entre os anos de 47 e 57,
ele plantou igrejas em quatro províncias do Império Romano: Galácia,
Macedônia, Acaia e Ásia proconsular. Depois de dez anos plantando
igrejas, ele escreve aos romanos que já não tem campo de atividade
naquelas regiões (Romanos 15:23). Paulo passa para a história, então,
como uma combinação de teólogo profundo e missionário fervoroso
(LOPES, 1997, p. 139).

Observamos no exemplo do apóstolo Paulo uma capacidade ímpar de desenvol-


ver ações que consideram diferentes contextos culturais, sem prejuízo ao conteúdo
teológico da mensagem; por isso, a justa afirmação de Lopes, citada anteriormente,
sobre o apóstolo Paulo. Nem sempre temos a capacidade de discernir o contexto
cultural onde Cristo está sendo anunciado, o que pode gerar diversos conflitos na
plantação de igrejas. Vemos o incidente ocorrido na cidade de Antioquia, quando o
apóstolo Pedro e Barnabé se afastam dos cristãos gentios, influenciados por alguns
cristãos judeus. O apóstolo Paulo tem claramente estabelecido que a salvação vem
pela graça, mediante a fé e, segundo sua clareza teológica, não permite que o inci-
dente avance, o que poderia ter causado muitos transtornos.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


175

Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque


se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte
de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se
e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os
demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé
ter-se deixado levar pela dissimulação deles (BÍBLIA, Gálatas 2,11-13).

Pedro teria se esquecido da visão que teve em Jope e da conversão da casa de


Cornélio?
Certamente não. Em Gálatas 2 não há indicação de que Pedro tenha mudado
de opinião. O problema é que Pedro teve medo dos cristãos judeus. “[...] quando,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da cir-


cuncisão (BÍBLIA, Gálatas 2,12). Pedro continuava crendo no evangelho, mas
falhou na sua prática. Sua conduta não se ajustou com o evangelho, faltou cora-
gem para aplicar suas convicções.
A capacidade de um plantador de igrejas definir estratégias culturalmente
adequadas depende, basicamente, de três aspectos: conhecimento teológico, dis-
cernimento e intrepidez.
Lidório (2011), nos indica que a dificuldade em lidar com estratégias de
plantio de igrejas é que existe uma abordagem apropriada para cada diferente
contexto, sendo necessário que sejam aplicados os princípios de contextualiza-
ção. A simples reprodução de modelos de igrejas que conhecemos pode se tornar
num fracasso, pois promoverá apenas o modelo e a aparência externa, mas não
conterá o princípio de vida que faz nascer uma igreja.
No coração das secas savanas africanas do Norte de Gana, missionários
coreanos iniciaram um processo de plantio de igrejas a partir do levan-
tamento de uma grande estrutura física que possibilitasse o ajuntamen-
to. Assim o templo, bem construído, poderia abrigar um bom número
de pessoas da tribo Frafra. Suas salas de oração eram bem divididas e a
construção poderia ser vista de longe como um marco daquele traba-
lho. Porém este templo não foi utilizado como planejado por diversos
fatores. Primeiramente, o povo Frafra não possui o costume de ajun-
tar-se frequentemente, preferindo pequenas reuniões com poucas pes-
soas. Também jamais se reuniu em lugares fechados, o que lhes causou
pavor. O próprio piso do templo e lindas cores nas paredes também
refletiam o óbvio: era um lugar para os brancos. Esta experiência nos
mostra algo simples que precisamos compreender: a reprodução do
modelo da igreja-mãe, ou igreja enviadora, não irá, necessariamente,

O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas


176 UNIDADE V

colaborar para uma boa comunicação dos valores do evangelho. Preci-


samos distinguir o essencial do evangelho com sua roupagem cultural
cristã moderna ocidentalizada (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

O exemplo nos remete a uma profunda reflexão sobre as estratégias que devem
ser utilizadas para o plantio de igrejas quando um plantador é inserido numa
nova cultura. O Senhor Jesus nos ensinou que devemos ser “prudentes como as
serpentes e símplices como as pombas” (BÍBLIA, Mateus 10,16b). Temos que
ter a simplicidade das pombas para conviver com uma nova cultura de forma
objetiva e a prudência das serpentes para discernir o que é mais apropriado a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ser aplicado em cada localidade.
Existem alguns elementos que são fundamentais como tarefa missionária da
vida da igreja, atividades como evangelização, pregação, discipulado, batismo e
ensino não podem ser negligenciadas. Hesselgrave (1995) cita como o encaixe
desses elementos pode ser melhor observado no ministério do apóstolo Paulo
e seus colaboradores, à medida que estabelecem igrejas em todas as partes do
Império Romano.
Lidório (2011) descreve, com muita destreza, algumas ações estratégicas
do apóstolo Paulo que o consagram como exemplo de um plantador de igre-
jas por excelência:
[...] em Antioquia da Pisídia ele iniciou o evangelismo a partir da Si-
nagoga, pregando aos judeus. Esses ficaram tão impressionados que
convidaram os missionários a voltarem na outra semana (At. 13:13-
48). Em Icônio a mensagem comunicada na Sinagoga não convenceu a
maioria. Paulo e Barnabé foram então usados por Deus manifestando
Sua graça por meio de milagres e maravilhas (At. 14:1-4). Em Listra
não há referência de Paulo pregando na Sinagoga. Usado por Deus para
a cura de um homem, Paulo fez, deste momento, uma ponte para pre-
gar o evangelho a toda uma multidão (At. 14: 8-18). Em Tessalônica
Paulo pregava na Sinagoga durante os sábados e na praça durante a se-
mana. Historicamente, ele se postava na “petros”, um suporte de pedra
à saída do mercado, para ali anunciar diariamente a palavra do Senhor
pelos que por ali passavam (At. 17: 1-14). Portanto, encontramos no
ministério de um só homem, em uma mesma geração, diferentes abor-
dagens e estratégias. Paulo fala a multidões, mas também visita de casa
em casa. Ele prega aos judeus na sinagoga, mas também o faz fora da
sinagoga. Utiliza praças e mercados, jamais deixando de proclamar às
multidões, mas se devota a indivíduos para discipulá-los e treiná-los

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


177

para a liderança local. Devemos, portanto, primeiramente compreen-


der que não há estratégias fixas para a proclamação do evangelho. Há,
apenas, princípios fixos (LIDÓRIO, 2011, p. 7-8).

A ação missionária desenvolvida nas páginas do Novo Testamento pelo após-


tolo Paulo é vasta e abrangente, visitando casas, pregando para grupos grandes
e pequenos, nas praças, em mercados e na sinagoga, sendo, grandemente, usado
por Deus em sinais e prodígios que atraiam pessoas para ouvir a proclamação do
evangelho. Lidório (2011, p. 8) afirma que “não há estratégias fixas para a pro-
clamação do evangelho. Há, apenas, princípios fixos”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Paulo, em sua ação missionária, tinha facilidade para utilizar diferentes


estratégias em cada localidade. Entretanto, surge uma dúvida: teria Paulo uma
estratégia definida para cada lugar ou sua ação era unicamente dirigida pelo
Espírito Santo?
Na busca de uma resposta, vamos observar, por um instante, o quadro da
mulher samaritana, relatado no capítulo quatro do livro de João. Sabemos que
esse episódio envolve um momento de conflito cultural entre dois povos, os
judeus e os samaritanos, mas está presente o Senhor Jesus, aquele que derrubou
o muro da separação entre judeus e gentios, constituindo um só povo para si,
conforme Efésios 2,11-14. Sabemos que Jesus é o mestre absoluto do evangelho
contextualizado, suas palavras penetram o coração da mulher samaritana pro-
duzindo salvação e uma nova fonte de vida.
No mesmo momento, ela deixa seu cântaro e vai anunciar a toda a cidade que
encontrou um profeta, que talvez seja o Cristo. Não existem métodos pré-for-
matados de comunicação da mensagem, não existe ampla carga de treinamento
evangelístico, não existem estratégias alternativas de pregação. A samaritana tão
somente deixa seu cântaro, sua monotonia de vida, seu passado, suas dúvidas e
sai como testemunha de seu encontro com Cristo. E muitos samaritanos daquela
cidade creram em Jesus. Vemos na conversão da mulher samaritana a suprema
grandeza do poder de Deus, operando nova vida naquele que recebe a mensa-
gem e a aceita. Vemos a simplicidade do quadro e a manifestação do poder de
Deus sob a ação do Espírito Santo por meio dessa mulher.
Porém, não chegamos ainda a uma resposta conclusiva quanto às ações desen-
volvidas pelo apóstolo Paulo; se havia estratégias definidas e intencionais, ou se

O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas


178 UNIDADE V

sua ação era resultado da absoluta expressão do Espírito Santo. Entretanto, já


podemos afirmar que o Espírito Santo age em cristãos sinceros que são alcança-
dos pelo poder das boas notícias, como vemos no exemplo da mulher samaritana.
Hesselgrave (1995), cita as palavras de J. Herbert Kane, nos auxiliando em
nossa reflexão:
[...] podemos começar perguntando: Paulo tinha uma estratégia mis-
sionária? Alguns dizem que sim; outros dizem que não. Muita coisa
depende da definição de estratégia. Se “estratégia” quiser dizer um
plano de ação deliberado, bem-formulado, e devidamente executado,
baseado na observação e na experiência humana, então Paulo tinha

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pouca ou nenhuma estratégia; mas se entendermos que a palavra sig-
nifica um modus operandi flexível, desenvolvido sob a orientação do
Espírito Santo e sujeito à Sua orientação e controle, então Paulo real-
mente tinha uma estratégia. Nosso problema hoje é que vivemos numa
era antropocêntrica. Imaginamos que nada pode ser realizado na obra
do Senhor sem boa dose de maquinária eclesiástica - comissões, con-
ferências, laboratórios, seminários; ao passo que os cristãos primitivos
dependiam menos da sabedoria e perícia humanas, e mais da iniciativa
e orientação divinas. É óbvio que não foram mal-sucedidos. O que o
movimento missionário moderno precisa acima de qualquer outra coi-
sa é voltar para os métodos missionários da igreja primitiva (KANE,
1947 apud HESSELGRAVE, 1995, p. 36).

Tomamos para nós, então, as conclusões de Hesselgrave (1995), de que Paulo


tinha poucas referências para basear suas estratégias e agia na total dependência
do Espírito Santo, mas, hoje, com dois mil anos de história da missão, necessita-
mos ter um plano de ação bem formulado, devidamente alicerçado na direção
do Espírito Santo e na dependência do poder de Deus. Seria insensatez despre-
zarmos os registros da ação missionária dos cristãos primitivos, bem como a
experiência de mais de dois mil anos de missão. Seria insensatez se o próprio
apóstolo tivesse desconsiderado os processos de influência da cultura grega ou
do judaísmo nos seus próprios dias. Hesselgrave conclui:
[...] apesar disto, a advertência de Kane não deve ser desconsiderada.
Se dependermos da estratégia global e do método na sua implementa-
ção ao invés da sabedoria e do poder do Espírito Santo, não podemos
alegar que somos leais ao precedente neotestamentário, nem nosso
testemunho será tão eficaz quanto foi o daqueles crentes do século I
(HESSELGRAVE, 1995, p. 37).

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


179

Tendo como relevante a tese de que necessitamos de estratégias sadias, bíblicas,


executáveis e bem elaboradas para expansão e avanço do evangelho, nos voltamos
ao pensamento de Lidório (2011) que aborda a importância da aplicabilidade das
estratégias, sempre levando em consideração cada contexto onde serão aplicadas.
Observamos no ministério Paulino de plantio de igrejas a percepção de
que o homem é o alvo do evangelho. As abordagens, ou estratégias, devem
variar de acordo com a forma deste homem se agrupar e pensar, porém
o alvo deve ser mantido de forma clara e constante. Assim, seja pregando
a três pessoas em uma praça pouco movimentada ou a milhares em uma
grande conferência evangelística, ou ainda proclamando o evangelho a
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uma família no aconchego de sua casa, sala de aula ou trabalho, o alvo é


relacionar-se com o homem e gerar ali um ambiente em que o evangelho
possa ser a ele comunicado e compreendido (LIDÓRIO, 2011, p. 8).

No modelo Paulino de plantio de igrejas, há um ensino declarado nas Epístolas que


seguem uma sequência lógica, apresentada por Hesselgrave (1995), tal como: ir para
onde as pessoas estão, pregar o evangelho, ganhar convertidos, reuni-los nas igrejas,
instruí-los na fé, escolher líderes e recomendar os crentes à graça de Deus. Lidório
(2011), em seus estudos, traduz essas principais estratégias da seguinte forma:
• Introduzir-se na sociedade local a partir de uma pessoa receptiva
ou um grupo aberto a recebê-lo e ouvi-lo.

• Identificar ali o melhor ambiente para a pregação do evangelho,


seja público como uma praça ou privado como um lar.

• Evangelizar de forma abundante e intencional, a partir da Criação


ou da Promessa, e sempre desembocando em Cristo, sua cruz e
ressurreição.

• Expor a Palavra, sobretudo a Palavra. Expor de tal forma que seja


ela inteligível e aplicável para quem ouve.

• Testemunhar do que Cristo fez em sua vida.

• Incorporar rapidamente os novos convertidos à igreja, à comu-


nhão dos santos, seja em uma casa ou um agrupamento maior.

• Identificar líderes em potencial e investir neles seja face a face ou


por cartas.

• Não se distanciar demais das igrejas plantadas, visitando-as e se


comunicando com as mesmas, investindo no ensino da Palavra.

O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas


180 UNIDADE V

• Orar pelos irmãos, pelas igrejas plantadas e pelos gentios ainda


sem Cristo, levando-as também a orar.

• Administrar as críticas e competitividade, sem permitir que tais


atos lhe retirem do foco evangelístico.

• Utilizar a força leiga e local para o enraizamento e serviço da igreja.

• Investir no ardor missionário e responsabilidade evangelística das


igrejas plantadas (LIDÓRIO, 2011, p. 8-9).

Lidório, em sua prática ministerial, nos apresenta sua rica experiência entre os
Konkombas em Gana, na qual, ao plantarem as primeiras igrejas, foram utiliza-

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das as mais diversificadas estratégias:
[...] as mulheres, muito ocupadas, tinham um tempo mais livre apenas
a caminho do rio para buscar água. Os velhos sentavam-se embaixo das
grandes árvores ao final da tarde. Os jovens e homens casados estavam
livres apenas durante a noite. As crianças corriam soltas o dia inteiro.
Ali os evangelizamos: a caminho do rio, embaixo das árvores, mais tar-
de, nas palhoças e brincando com as crianças. Durante anos fizemos
isso sistematicamente. Usamos histórias e ilustrações bíblicas. Encena-
mos alguns atos do evangelho. Expusemos com detalhes o plano de
salvação. Usamos símbolos da natureza para explicar a criação, seus
provérbios para falar sobre o pecado, suas músicas que comprovavam
o desespero no qual viviam. O centro era o evangelho, repetido várias
vezes. A mensagem era Cristo, sua vida e cruz. Nem todas estratégias
funcionaram bem, ou de forma constante. Mas, muitas foram essen-
ciais e percebo que a abundância na evangelização em múltiplas estra-
tégias de comunicação facilita o processo inicial de plantio de igrejas.
É o princípio do lançar da semente, sem saber qual germinará (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 9-10).

Lidório (2011, p. 10) ainda nos exorta para o entendimento de que a Palavra de
Deus foi um elemento centralizado no nascimento e crescimento da Igreja em
Atos. Em Atos 6,7, 12-24 e 19,20 a “Palavra é o agente condutor do crescimento
da Igreja. Em Atos 20,32 Paulo recomenda os líderes em Éfeso à Palavra de Deus”.
Isto é, o apóstolo Paulo vê na Palavra de Deus a essência e o poder para a trans-
formação do homem, utilizando-as de forma abundante e fiel.
Uma das visíveis limitações nas atuais estratégias evangelísticas é o de-
suso da Palavra de Deus. Histórias, encenações, músicas e apelos são
feitos, não raramente, de forma comunicativa, descontraída e interes-

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


181

sante, mas sem o conteúdo da Palavra. As estratégias evangelísticas não


devem estar jamais dissociadas da Palavra. Ao contrário, devem ser
instrumentos para que a mesma seja colocada diante de todo homem.
Devemos compreender que é a Palavra de Deus e não a capacidade
humana que produz frutos. Toda eloqüência ou criatividade que pos-
samos ter jamais será capaz de transformar vidas. No desenvolvimento
das estratégias evangelísticas paulinas creio que o apóstolo partia da
seguinte pergunta: de que forma, com que expressões, com qual abor-
dagem, comunicarei a Palavra de Deus, clara e viva, a este grupo? Estra-
tégias possuem valor se elaboradas para comunicar o poder de Deus, a
Sua Palavra (LIDÓRIO, 2011, p. 10).
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Em seguida, trataremos estratégias essenciais para o plantio de igrejas. Entretanto,


ressaltamos que toda estratégia deve ser dependente da graça que Deus deposita
em Seus servos. Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1 nos consola
ao demonstrar sua dependência da graça de Deus, que produz muitos resultados.
Precisamos entender que o caráter do mensageiro não define a comunicação da
mensagem, mas facilita a sua compreensão.
Ainda nos deteremos em Lidório, que nos compartilha sua experiência,
após três anos de trabalho missionário entre a etnia Konkombas, no interior da
África, quando a Igreja crescia velozmente e o Evangelho atingia lugares lon-
gínquos. Ele perguntou aos líderes locais sobre a razão principal que colaborava
para a boa comunicação estabelecida, indicando três opções:

Habilidade de falar no dialeto


local e ser entendido com facilidade

Entendimento da cultura,
costumes e forma de vida Konkomba

Envolvimento pessoal com a sociedade


tribal, sendo aceito e aceitando-a

O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas


182 UNIDADE V

Nosso plantador de igrejas entre os Konkombas se surpreende com a resposta:


[...] eles então responderam: o ponto mais importante para nosso povo
parar para ouvi-lo é porque você sempre sorri quando nos vê, parando
para nos cumprimentar e sempre alegre em nos escutar. Naquele dia
eu escrevi em meu diário: caráter é mais importante que habilidade
(LIDÓRIO, INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1.

Confirmamos o entendimento de que nossa permanência em Cristo é o princi-


pal elemento para alcançar os perdidos e revolucionar um povo, uma cultura,
ou uma nação. De nada valem métodos bem aplicados se não forem acompa-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nhados pelo testemunho de vida e pela ação do Espírito Santo.

A visão missionária de Paulo trouxe muitos resultados favoráveis para ex-


pansão da igreja em seus dias. Você já pensou como encontrar maneiras de
proclamar o Evangelho de Jesus Cristo, distinguir seu chamado, concluir sua
tarefa e lutar por transformações radicais em nossa geração?

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


183
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ESTRATÉGIAS ESSENCIAIS PARA O PLANTIO DE


IGREJAS

A) Comunicação do Evangelho: modelos e estratégias


Certamente existem, no mundo atual, diversos modelos e contextos em que
os movimentos de plantio de igrejas têm se desenvolvido. Veremos, a seguir, um
levantamento apresentado por Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1
baseado nos escritos de David Garrison (1999), nas pesquisas da World Mission
e o banco de dados da WEC International, além de contribuições pessoais de
missiólogos como Patrick Johnstone, David Barrett, Bruce Carlton J. Johnson e
David Watson. Trata-se de alguns movimentos de plantio de igrejas onde a pre-
sença de valores bíblicos aplicados têm trazido resultados surpreendentes.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


184 UNIDADE V

Quadro 1 - Movimento de plantio de igrejas no mundo atual

Movimento de plantio de igrejas entre os Khmer no Camboja no qual 3.3 milhões


de pessoas foram mortas no regime autoritário de Pol Pot’s entre 1975-1979.
Vários cristãos também foram mortos e em 1985 não havia mais do que 450
evangélicos entre o povo Khmer. A partir de 1999 o número de evangélicos cres-
ceu de 600 para mais de 60.000 divididos em 700 igrejas. Hoje registram-se mais
de 100.000 evangélicos e mais de 800 templos registrados.
Movimento de plantio de igrejas na cidade de Kanah, na China, em que um
rápido crescimento evangélico mudou o cenário de 3 igrejas reconhecidas pelo
Estado para 57 novas igrejas em dois anos. Em novembro de 1997, contabilizou-
-se mais de 450 igrejas em três províncias e mais de 18.000 pessoas entregaram-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
-se ao Senhor Jesus. Atualmente Kanah é uma das mais influentes regiões cristãs
na China com mais de 500 igrejas reconhecidas.
Movimento de plantio de igrejas entre os Kekchi na Guatemala onde este grupo
com cerca de 400.000 pessoas vivendo na região de Alta Verapaz foi impactada
pelo evangelho. Entre 1993 e 1997, mais de 20.000 pessoas aceitaram ao Senhor
Jesus e 245 congregações nasceram. Entre 1997 e 2000 outras 10.000 pessoas
aceitaram ao Senhor Jesus e há entre eles hoje mais de 500 igrejas registradas.

Movimento de plantio de igrejas entre os Kui, na Índia, um grupo com 1.7


milhões de habitantes na região de Orissa, estado na costa leste da Índia. Os pri-
meiros convertidos vieram para Cristo em 1914 com missionários ingleses. Nos
anos 20 algumas poucas igrejas nasceram. A partir de 1988 mais de 100 igrejas
nasceram, especialmente ligadas a missionários da Southern Baptist Mission. En-
tre 1988 e 1991 as igrejas aumentaram para mais de 200. Entretanto entre 1993 e
1997 houve um crescimento ainda maior e mais de 900 igrejas foram registradas
entre os Kui com cerca de 80.000 convertidos.
Movimento de plantio de igrejas entre os Giriama no Kenya onde, em 1970, 90%
eram animistas. O movimento missionário teve início em 1974 e em 1981 um rá-
pido e impactante crescimento de igreja tomou conta dos Giriama. Em três anos
foram registradas o plantio de 180 igrejas após 5 anos de preparação e treina-
mento de obreiros leigos. A cada ano, desde 1993, registram-se o nascimento de,
em média, 28 novas igrejas entre os Giriama e províncias ao redor.
Movimento de plantio de igrejas no campo de refugiados na Europa, divisa com
a Bulgária. Em 1995 um casal missionário começou ali um trabalho através do
filme Jesus. Era um campo de refugiados onde pessoas do oeste europeu mistu-
ravam-se com pessoas da China, Sudão, Congo, Camarões e Angola. Em 1998 o
casal missionário já contabilizava cerca de 15 pequenas igrejas de reuniões e até
1999 outras 30 novas igrejas nasceram. Hoje são mais de 60 pequenas igrejas,
todas autóctones.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


185

Movimento de plantio de igrejas entre os Mizo na Índia com uma população de


686.000 pessoas. O evangelho chegou entre eles em 1894 através de missioná-
rios britânicos. Em 1900 contavam com 120 cristãos. Resultado do avivamento
no país de Gales em 1904, um número expressivo de missionários foi enviado
para os Mizo na Índia. Somente a partir dos anos 50, entretanto, os resultados
passaram a ser mais visíveis e conversões em massa eram notificadas. Hoje 85%
de todos os Mizo na Índia consideram-se cristãos.
Movimento de plantio de igrejas na Etiópia, África, país com mais de 60 milhões
de habitantes. Até 1994 não havia mais do que 1% de evangélicos no país. Entre
1994 e 1999 Great Harvest os Souls Mission registrou a conversão de cerca de 10
milhões de pessoas em todo o país. Hoje, 16% da população considera-se cristã.
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Great Harvest mencionou o estudo de caso de uma congregação a qual, entre


1995 e 1997 cresceu de 2.500 para 25.000 pessoas.
Fonte: adaptado de Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2010, on-line)1.

Analisando mais de 90% dos processos de plantio de igrejas mais amplos e fru-
tíferos, pode-se notar que havia uma visão intencional de desenvolver um forte
e impactante movimento de evangelização, seja entre um povo, cidade ou país.
Nenhum campo missionário, ou ministério pode ser maior que a sua visão.
Perante uma quantidade expressiva de estratégias missionárias de plantio
de igrejas, apresento aquelas que Lidório considera mais utilizadas pelos movi-
mentos no mundo atual, tornando-se verdadeiros valores para as organizações
missionárias:
• Mapeamento etno-cultural e geograficamente definido. Saber qual
a extensão do desafio.

• Análise cultural e fenomenológica. Entender as vias para a com-


preensão do evangelho.

• Comunicação inteligível e comunitária do evangelho.

• Adoração e vida diária da igreja na própria língua materna e cul-


tura alvo.

• Rápida incorporação dos novos convertidos à vida da igreja.

• Consciência de urgência evangelística já transmitida no processo


de discipulado.
• Identificação de líderes locais o mais cedo possível.

• Treinamento para líderes durante o processo de liderança.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


186 UNIDADE V

• Descentralização da autoridade eclesiástica.

• Ênfase na reprodução.

• Supervisão contínua quanto ao amadurecimento espiritual.

• Modelo missionário: Inicie, discipule, reproduza, assista, encoraje


e parta (LIDÓRIO, on-line)2.

Essas estratégias podem ser aplicadas nos mais diversos contextos encontrados:
urbano, rural ou tribal. São ações relevantes que podem nortear e consolidar o
trabalho de plantio de igrejas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os conceitos de Missão, Visão e Valores podem ser utilizados adequadamen-
te para a plantação de igrejas, desde que a igreja seja considerada um orga-
nismo vivo. Assim, a missão é a razão da existência da organização, sendo o
seu DNA e definindo a sua identidade. A visão é uma construção do futuro
criada de uma forma pré-determinada, podendo ser modificada ao longo
do tempo. Possuindo uma missão e visão bem estruturadas, se originam re-
gras que definirão os valores da organização, dos quais não podemos abrir
mão.
Fonte: adaptado de Gilles de Paula (TREASY, 2015, on-line)3.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


187

B) Modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas segundo


David J. Hesselgrave

Ott e Wilson (2013), dizem que as plantações de igreja crescem por meio de
fases de desenvolvimento relativamente previsíveis. Essas fases refletem um pro-
cesso fluído, em vez de passos claramente definidos. Ainda assim, compreender
as fases de desenvolvimento e suas características é importante para identificar
as necessidades individuais, os desafios e as oportunidades que uma planta-
ção de igreja enfrenta. Ignorar as necessidades em constante mudança de uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

plantação de igreja, à medida que ela se desenvolve, pode levar a dificuldades


desnecessárias e à estagnação.
Para abrir uma nova congregação é preciso ter em mente um modelo efetivo
de programa de trabalho. É preciso, também, que haja o mapeamento das fases
do projeto, com suas atividades descritas. Tal planejamento serve de norteador
para que o trabalho do plantio da igreja aconteça com segurança.
Existem muitos modelos de plantio de igreja. Um dos autores mais respeita-
dos nesse assunto é David. J. Hesselgrave, professor e autor de muitos livros na
área de missões. Hesselgrave (PhD) foi também o diretor da Escola de Missões
Mundiais e Evangelização da Trinity Evangelical Divinity School. Antes, por um
longo tempo, David tinha sido missionário no Japão, organizando muitas igrejas.
De acordo com o Ciclo Paulino de Hesselgrave (1995), dez fases de desen-
volvimento devem ser observadas, que são:
■ Missionários comissionados: devem ser selecionados com oração, enco-
rajados e treinados. É preciso ainda verificar se haverá condições para que
eles recebam seus suprimentos para sustento e provisão necessários. Esta
é a primeira fase do ciclo paulino.
■ Auditório contatado: serão representantes relevantes da comunidade
abordados por cortesia, pessoas que poderão ser contatadas pelos veí-
culos já existentes de assistência à sociedade, interessados no evangelho,
descobertos por contatos missionários e o grande público atingido pelas
ações midiáticas da campanha evangelística que será realizada.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


188 UNIDADE V

■ Evangelho comunicado: para isso, é preciso contextualizar a mensagem,


continuar firme no método adotado, saber selecionar os veículos de comu-
nicação e implantar um sistema de medição.
■ Ouvintes convertidos: a esta altura, os ouvintes estarão prontos para agora
serem conduzidos ao processo de conversão. E para que se consiga ouvintes
convertidos é preciso ajudá-los a passarem por quatro passos sequenciais:
a) da instrução; b) da motivação; c) da decisão e d) da confissão.
■ Crentes congregados: um novo cristão sofre um certo tipo de transfor-
mação em sua cultura, ele precisa ser levado a sentir-se integrante de sua

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nova comunidade. Nisso, não somente as funções do grupo receptor são
importantes, mas há também um ideal de tamanho para esse grupo. E
uma análise deverá ser feita junto com a escolha e os cuidados para com
o local e os horários das reuniões desses cristãos.
■ Fé confirmada: a conversão não deve ser concebida simplesmente em
termos de um exercício mental, explica Hesselgrave (1995). Por isto, a fé
deve ser confirmada por meio da instrução para (e na) adoração, quanto
aos cultos, o testemunho e a sábia administração da vida. A instrução na
Palavra, a adoração a Deus, o serviço prestado a Cristo, o testemunho ao
mundo, a mordomia dos bens – estes são os elementos da confirmação
da fé do novo e de qualquer crente.
■ Liderança consagrada: mas como uma nova igreja irá se desenvolver sem
ter uma liderança? Pensar, orar, trabalhar e planejar tendo em vista a edifi-
cação de uma liderança espiritual para a igreja que está sendo organizada
deve ser da máxima prioridade. Quando emergir a liderança espiritual, a
organização se tornará prática e essencial. Cabe salientar que nenhuma
organização pode ser mais forte do que a sua liderança. Nesta sétima fase,
já vislumbram-se os horizontes da repetição do ciclo.
■ Crentes recomendados: Hesselgrave instrui que, após a nova liderança
ser delegada, uma retirada amigável do pioneiro da congregação estabele-
cida na melhor ocasião possível deve acontecer, para que, tão logo quanto
possível, haja uma transição ordeira da liderança pastoral na congrega-
ção. Trata-se de uma continuação de ministérios eficazes que tenham sido
empreendidos pelo obreiro pioneiro.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


189

■ Relacionamentos continuados: embora esta igreja que acaba de nascer


deva continuar os seus relacionamentos com a igreja que a concebeu, ela
não deve olhar, somente, no retrovisor. Os relacionamentos devem rece-
ber continuidade, tanto no cultivo e crescimento da fraternidade mútua
entre os crentes desta nova igreja, quanto na busca por relacionar-se com
novas pessoas a serem alcançadas.
■ Igrejas missionárias convocadas: de igreja plantada, a nova igreja passa
ao status das igrejas missionárias convocadas. Aqui está sendo descrita
a igreja em sua última fase de maturidade. É quando os novos crentes,
entendendo a missão, dispõem-se a seguir participando na missão. E agora
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

passarão a ser os missionários comissionados, repetindo o ciclo paulino


a partir de sua primeira fase.

O modelo de Hesselgrave (1995), tem a força de um exemplo bíblico e é conhe-


cido como “Ciclo Paulino”. Nas últimas décadas, tem sido o modelo mais relevante
para plantação transcultural de igrejas. No entanto, dá menos atenção ao desen-
volvimento da igreja e sua multiplicação.

C) Modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas segundo


Craig Ott e Gene Wilson

Outro modelo de desenvolvimento de igrejas muito relevante é baseado nos estu-


dos de Ott e Wilson (2013) que visam a reprodução e a multiplicação da igreja
no contexto da plantação transcultural de igrejas. Ott e Wilson (2013) enfati-
zam que é preciso dar atenção ao planejamento e às questões estruturais. Vários
formatos de igrejas podem ser beneficiados com essa proposta de desenvolvi-
mento, como igrejas nos lares, congregação reunida voluntariamente ou igrejas
de celebração em células.
O modelo visa também uma reprodução dirigida por leigos, que é menos
dependente de pastores ou plantadores com formação acadêmica. Nesse modelo,
é necessário considerarmos os três tipos de plantadores de igreja que Ott e Wilson
(2013) apresentam:

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


190 UNIDADE V

Plantador de igrejas pastoral


O objetivo é simplesmente começar uma nova igreja e pastoreá-la até que
ela seja capaz de sustentar um pastor local para que o plantador de igrejas
possa partir. Muitas vezes o próprio plantador de igrejas permanece como o
pastor. Não há uma visão de multiplicação da igreja, ou quando há é muito
lenta.

Plantador de igrejas catalítico


O plantador permanece como obreiro na igreja plantada para se tornar um
catalisador ou facilitador de expansão do trabalho na região. A igreja se
torna uma base para várias plantações de igrejas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Plantador de igrejas apostólico
Radicalmente diferente dos plantadores catalíticos e pastorais. Esse planta-
dor procura seguir o modelo do apóstolo Paulo que, até onde se sabe, nunca
se tornou o pastor de uma igreja que tenha plantado. Em vez disso, depois
do evangelismo inicial, ele se concentrava em capacitar os cristãos locais,
principalmente leigos, para dar continuidade e expandir o trabalho depois
de sua partida. Seu ministério era mais itinerante, inserindo a visão da
multiplicação em cada igreja plantada.

Figura 1:
Fonte: adaptado de Ott e Wilson (2013).

O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wilson


(2013) visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um plan-
tador de igrejas apostólico. Prevê cinco fases diferentes de desenvolvimento,
que são: preparação, lançamento, estabelecimento, estruturação e reprodução.
Apresentaremos cada uma delas com base no modelo estabelecido pelos autores.

C.1. Fase de Preparação

A fase de preparação é um momento de intenso planejamento, na qual come-


çam a ser desenvolvidas ações de levantamento de dados e tomada de decisões.
Ott e Wilson (2013) definem que a preparação para a plantação de uma igreja
inclui duas subfases:

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


191

1. escolha do alvo e recrutamento;


2. compreensão e estratégia.
A preparação é um tempo de grande antecipação. As bases foram lan-
çadas para que, quando a nova igreja for, de fato, fundada, seja constru-
ída por uma equipe de artesãos que possuem tanto as habilidades ne-
cessárias quanto um profundo conhecimento da tarefa. Ou para mudar
a metáfora, os jogadores são recrutados, treinados e aperfeiçoados em
equipe. Então um plano de jogo é desenhado para que, no dia do jogo,
o time entre em campo para ganhar. Os sistemas de apoio necessários
são também organizados (OTT; WILSON, 2013 p. 167).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Durante a primeira subfase, escolha do alvo e recrutamento, o plantador deter-


mina o local e o povo-foco do ministério da plantação de igreja. Uma equipe
é formada e comissionada por uma igreja local ou agência enviadora. Oração,
fundos e outros recursos necessários são providenciados. Essencialmente, isso
envolve a definição do alvo, a reunião dos participantes e a garantia dos siste-
mas de apoio.
O objetivo principal dos plantadores de igrejas, nesse momento, é serem for-
madores de equipe, o que inclui não somente relacionamentos entre os membros
da equipe de plantadores, mas também a formação de alianças estratégicas com
outros parceiros, como as igrejas enviadoras, as comunidades nacionais de cris-
tãos e outros grupos externos.
A segunda subfase, compreensão e estratégias, envolve um planejamento
cuidadoso em oração. O povo-foco do local é escolhido e uma rede inicial deve
começar. Normalmente, a equipe visita o local em vista ou vive entre o povo-foco
durante esse tempo para obter informações precisas de uma ampla variedade de
fontes, assim, as estratégias apropriadas de evangelismo e discipulado são formu-
ladas. Vários papéis para os membros da equipe são determinados e formação
especializada ou preparação pode ser obtida se necessário. Isso traz a equipe ao
ponto de realmente dar início ao projeto de plantação.
Durante a segunda subfase da preparação, o papel principal dos plantadores
é de aprendiz. Os plantadores de igrejas experientes podem cair na tentação de
avançar precipitadamente. Porém, as abordagens contextualmente apropriadas
devem ser reconsideradas com cada nova plantação de igreja e com cada povo-
-foco. Dentro do mesmo país ou região, as diferenças locais também podem ser

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


192 UNIDADE V

significativas. Acima de tudo, um amor profundo e apreciação pelo povo-foco


devem crescer conforme os plantadores aprendem mais sobre ele, abraçando-o
em oração.
Quadro 2 - Fase 1 - Preparação de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE PREPARAÇÃO
- Estabelecendo o alvo e comissio- - Entendendo e delineando a estra-
nando - tégia -
Determinar local e povo-foco a ser Aprender a língua e a cultura
alcançado. (se necessário).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Definir a visão e modelo de plantação Pesquisa do contexto demográfico,
de igreja. social, religioso e cultural.
Selecionar líder e recrutar equipe. Determinar estratégia de evangelismo
Garantir apoio financeiro e de oração. e de plantação de igreja.
Comissionar a equipe. Construir relacionamentos e consultar
parceiros.
Fortalecer a equipe, esclarecer papéis,
obter treinamento.
Esboçar uma proposta de plantação
de igreja.
Formador de equipe (papel do plan- Aprendiz (papel do plantador)
tador)
Definir a visão geral. Obter inspiração para um ministério
Desenvolver um sistema de apoio espi- eficaz e culturalmente apropriado.
ritual e financeiro. Aprender a língua local.
Recrutar e formar uma equipe de plan- Desenvolver amor e habilidade para
tação de igreja baseada em chamado, trabalhar com o povo-foco.
dons e afinidade. Estagiar, se possível, sob a orientação
Fazer da oração uma prioridade. de um obreiro nacional.
Fonte: Ott e Wilson (2013, p.166).

C.2. Fase de Lançamento

O lançamento é a fase onde se iniciará a implantação do projeto elaborado. É


um momento muito esperado e emocionante para a equipe.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


193

Essa fase consiste principalmente em ministérios pioneiros de evan-


gelismo e discipulado. Relacionamentos são desenvolvidos com o po-
vo-foco e programas evangelísticos são iniciados. A esperança é que
os novos cristãos estejam em breve prontos para o batismo. Então eles
são discipulados em pequenos grupos, geralmente encontrando-se nos
lares (OTT; WILSON, 2013, p. 167-168).

Mesmo nesse estágio inicial, é essencial que os novos cristãos sejam treinados
para ministrar nas formas mais básicas e mobilizados para compartilhar sua fé
e discipular a outros. Por essa razão, é importante que, desde o início, os plan-
tadores usem métodos que possam ser facilmente imitados e reproduzidos pelo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

povo local. O plantador compartilha a liderança com o povo local, incluindo


tarefas básicas, como organização e preparação do local para reuniões ou atua-
ção em ministérios que nascem na nova igreja.
Durante essa fase inicial, os ministérios de misericórdia e serviço po-
dem se desenvolver para demonstrar o amor de Cristo, estabelecer re-
lacionamentos e servirem de sinal do Reino de Deus. No entanto, os
plantadores devem dividir cuidadosamente suas energias e capacidades
para não começar a correr em muitas direções ao mesmo tempo, pro-
vocando um esgotamento ou iniciando ministérios que não podem ser
sustentados por um longo período de tempo (OTT; WILSON, 2013,
p. 168).

Ott e Wilson (2013) observam que em situações pioneiras em que há poucos


cristãos locais, ou mesmo nenhum, na equipe de plantadores, os plantadores
apostólicos funcionam como “motores”. Por não haver cristãos locais para treinar
e mobilizar, praticamente tudo nessa fase de lançamento é feito pelos missioná-
rios ou equipe itinerante.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


194 UNIDADE V

Quadro 3 - Fase 2 - Lançamento de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE LANÇAMENTO
- Evangelizando e discipulando -
• Desenvolver relacionamentos e iniciar evangelismo
• Combinar diversos métodos e ministérios de misericórdia
• Batizar e ensinar obediência
• Discipular novos cristãos e treiná-los a fazer o mesmo
• Formar uma comunidade fundamental
• Assimilar sabiamente o crescimento por transferência
• Começar a treinar líderes servos.

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Motor e modelo (papel do plantador)
• Iniciar e moldar ministério
• Recursos externos podem ser necessários para dar a largada na plantação de
igreja, evitando a dependência de longo prazo
• Envolver cristãos locais no ministério básico
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.3 Fase de Estabelecimento

Nesse momento, os pequenos grupos já podem se reunir para celebração ou cul-


tos públicos, estabelecendo certa periodicidade, até evoluir para cultos semanais.
O ministério, no entanto, avança somente quando os líderes locais se apropriam
dele e demonstram habilidade para liderança. Embora possa haver um orçamento
e um local garantido para reuniões, as instalações e orçamentos não devem ser
a preocupação principal da igreja em formação.
Durante a fase de estabelecimento os primeiros frutos de progresso são
experimentados quando os cristãos locais são formados dentro de uma
congregação de adoradores que vive cada vez mais os propósitos do
Reino. Essa fase enfoca a congregação e o amadurecimento da igreja
que está nascendo (OTT; WILSON, 2013, p. 168).

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


195

Uma equipe preliminar de liderança local da igreja ou do movimento emergente


de igrejas nos lares pode ser formada. Ott e Wilson (2013) indicam que con-
forme o ministério for se expandindo e os cristãos locais forem assumindo mais
responsabilidades para liderar esses ministérios, a maturidade espiritual deles e
a capacitação para o ministério devem se tornar, progressivamente, o foco cen-
tral do ministério dos plantadores de igrejas.“Geralmente, no momento em que
os cultos públicos começam, a congregação espera que o plantador ou o missio-
nário assuma a liderança pastoral. De acordo com o modelo apostólico, deve-se
resistir a isso” (OTT; WILSON, 2013, p. 168). Os plantadores devem colocar a
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ênfase no treinamento dos cristãos locais para essa liderança.


De certa forma, essa é a fase mais crítica por causa dos muitos prece-
dentes que serão estabelecidos na vida da igreja. O DNA da igreja é
determinado. São formados os padrões para o ministério que guiarão
a igreja em seu futuro e serão difíceis de serem mudados mais tarde
(OTT; WILSON, 2013, p. 169).

Como mobilizador e mentor, nesta fase, o plantador descobre que sua tarefa mais
importante está cada vez mais atrás dos bastidores, capacitando, aconselhando e
encorajando outros que terão ministérios mais visíveis e, finalmente, assumirão
a total responsabilidade de liderança. A sólida formação dessa liderança deter-
minará o futuro da igreja plantada.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


196 UNIDADE V

Quadro 4 - Fase 3 - Estabelecimento de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE ESTABELECIMENTO
- Congregando e amadurecendo -
• Desenvolver relacionamentos e iniciar evangelismo
• Combinar diversos métodos e ministérios de misericórdia
• Batizar e ensinar obediência
• Discipular novos cristãos e treiná-los a fazer o mesmo
• Formar uma comunidade fundamental
• Assimilar sabiamente o crescimento por transferência
• Começar a treinar líderes servos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Mobilizador e mentor (papel do plantador)
• Incutir visão e valores bíblicos
• Avançar o ministério somente na proporção em que os cristãos locais este-
jam dispostos e preparados
• Esperar compromisso
• Mudança de ênfase do ministério direto para a capacitação de leigos para o
ministério em todos os níveis
• Evitar estabelecer padrões altos demais
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.4. Fase de Estruturação

Nessa fase, Ott e Wilson (2013) indicam que várias coisas precisam acontecer:
em primeiro lugar, novas pessoas devem ser completamente integradas na vida
da igreja, treinadas e mobilizadas para servir.
Em segundo lugar, o ensino sobre mordomia deve ser aplicado a fim de que
os ministérios em crescimento sejam providos e a igreja seja autossustentável.
“Uma igreja que está em crescimento deve vencer a tentação de continuar a agir
como uma pequena igreja familiar, a menos, claro, que escolha se multiplicar
em igrejas de tamanho familiar” (OTT; WILSON, 2013, p. 169).

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


197

À medida que a igreja amadurece, a fase de estruturação se torna um


tempo de grande satisfação quando o trabalho duro começa a valer a
pena. Seja o novo corpo de cristãos um movimento informal de igre-
jas nos lares ou uma igreja mais tradicional, uma estrutura deve ser
providenciada para sustentar o crescimento, atender às necessidade de
expansão e promover o discipulado. A organização da igreja começa
com a eleição formal de seus primeiros líderes, a incorporação legal
da igreja (quando possível) e a criação de novos ministérios para o
aproveitamento de novas oportunidades. Essa fase é caracterizada pela
expansão do ministério e a capacitação dos cristãos locais para assu-
mir plena responsabilidade e autonomia no ministério e na liderança
(OTT; WILSON, 2013, p. 169).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

As estruturas de liderança não podem mais funcionar como se fossem do tama-


nho de uma família, mas devem ser expandidas, e o fardo do trabalho dividido
entre muitos. Se a igreja que está sendo plantada recebe subsídios ou outras for-
mas significativas de ajuda, deve buscar uma independência financeira neste
ponto, evitando dependência a longo prazo.
A essa altura do desenvolvimento, o plantador apostólico de igrejas se
prepara para deixar completamente o trabalho, entrando nos últimos
estágios da fase de retirada. Isso é muito difícil, especialmente porque
os plantadores estão colhendo o fruto de seu trabalho e parece haver
tantas oportunidades de ministério. No entanto, os cristãos locais pre-
cisam assumir a responsabilidade principal da liderança e expandir,
nessa fase, os ministérios da igreja (OTT; WILSON, 2013. p. 169).

O papel primordial dos membros da equipe nesse momento é o de serem multi-


plicadores, capacitando os líderes locais para que eles possam, no futuro, capacitar
outros. Não somente os cristãos locais estão assumindo a responsabilidade pelo
ministério, mas esses líderes precisam aprender a tornarem-se capacitadores a
fim de que uma verdadeira multiplicação de igrejas possa ocorrer.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


198 UNIDADE V

Quadro 5 - Fase 4 - Estruturação de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE ESTRUTURAÇÃO
- Expandindo e capacitando -
• Formalmente empossar líderes e confiar-lhes totalmente a liderança
• Iniciar novos ministérios e estruturas para atender às necessidades
• Multiplicar trabalhadores treinando líderes para treinar outros
• Assimilar novos cristãos e visitantes
• Avaliar o desenvolvimento e a saúde da igreja
• Organizar legalmente a igreja
• Obter autonomia financeira total

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Multiplicador (papel do plantador)
• Não somente empossar os cristãos locais para assumirem todas as responsa-
bilidades principais, mas capacitá-los para tornarem-se capacitadores
• Os missionários trabalham somente nos bastidores
• Descontinuar qualquer dependência de recursos externos
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

C.5. Fase de Reprodução

Quando Ott e Wilson (2013) falam em reprodução, não têm em mente somente
a multiplicação de igrejas-filhas plantadas localmente, mas que a igreja se torne
também um agente de envio de missionário, facilitando a plantação de igrejas
entre povos não alcançados.
A alegria de um plantador de igrejas não é muito diferente da alegria de
um avô, quando a igreja se reproduz plantando uma nova igreja. Além
de equipar os cristãos locais com ferramentas para o exercício do mi-
nistério e de visão para a multiplicação, a jovem igreja precisa analisar e
avaliar novamente seu desenvolvimento: ela ainda é fiel aos propósitos
bíblicos para a igreja ou se acomodou com sua estabilidade? O impacto
de ser sal e luz deve estar atingindo outros níveis. Essa fase pode ser
caracterizada pela tarefa dupla de fortalecimento e envio (OTT; WIL-
SON, 2013, p. 170).

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


199

Os plantadores apostólicos de igrejas devem permanecer por algum tempo, con-


tinuando como multiplicadores, mentoreando o movimento enquanto ele se
reproduz, ou tornando-se capacitadores e facilitadores regionais. Finalmente,
a equipe apostólica deve seguir em frente para continuar seu trabalho pioneiro
em novas localidades e entre grupos não alcançados.
Quadro 6 - Fase 5 - Reprodução de uma plantação pioneira de igreja

FASE DE REPRODUÇÃO
- Fortalecendo e enviando -
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Apoiar iniciativas evangelísticas (agir contextualizadamente)


• Preparar a igreja para a reprodução
• Determinar local e abordagem da possível igreja-filha ou plantação pioneira
• Enviar missionários transculturais
• Participar de esforços conjuntos com outras igrejas
Multiplicador (papel do plantador)
• Mentorear a igreja nas plantações de suas primeiras igrejas-filhas
• Os cristãos locais são os plantadores de novas igrejas
• Seguir para outro local de ministério
• Permanecer como mentor e conselheiro
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 166).

Percebemos que na fase de reprodução o modelo de desenvolvimento de plan-


tação de igrejas já está recomeçando. O objetivo da abordagem apostólica, como
apresentado no início, é uma igreja que cresce e se reproduz constantemente sem
auxílio externo. Ott e Wilson (2013) enfatizam que em cada fase os plantadores
apostólicos devem capacitar os cristãos locais a assumirem a responsabilidade
pelos ministérios emergentes da igreja.

Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas


200 UNIDADE V

Depois das fases de lançamento da plantação da igreja, cada ministério


ou programa deve ser liderado ou codirigido desde o princípio por um
cristão local, que será treinado e, eventualmente, se responsabilizará
por aquele ministério. Dessa forma, a transferência da liderança de um
ministério do plantador para um cristão local não será problema. De-
pois de um período inicial de treinamento, os plantadores devem ser
capazes de se retirar a qualquer momento sem ameaçar a existência
do ministério. Além disso, em razão do treinamento estar incluído no
princípio de cada novo ministério, um programa de treinamento e mul-
tiplicação é moldado e introduzido na nova igreja. Essa é a chave para a
multiplicação de longo prazo (OTT; WILSON, 2013, p. 170-171).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Embora o desenvolvimento de plantação de igrejas possa ser considerado um
processo em sequência, no qual encontramos diferentes fases previsíveis, não
podemos nos prender a certas etapas lineares do tipo passo a passo. O Espírito
Santo pode nos surpreender e modificar nosso programa, e devemos estar dese-
josos que isso aconteça.
Assim realizou-se na pregação de Pedro em Pentecostes, na qual quase três
mil pessoas foram acrescentadas à Igreja primitiva. Assim fez Deus em muitos
avivamentos, em que o Espírito Santo agiu para grandes colheitas, entretanto,
nem sempre os convertidos foram plantados adequadamente em igrejas. Aqueles
que servem ao Senhor devem estar bem preparados para conduzir na prática o
assunto desenvolvimento de plantação de igreja.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


201
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA PLANTAÇÃO DE


IGREJAS

Tudo que vimos até aqui não seria possível sem a maravilhosa presença do Espírito
Santo de Deus, cuja presença, no decorrer da história da igreja, tem sido respon-
sável pelos grandes avivamentos e grandes movimentos de plantação de igrejas.
Lidório (2011), reconhecendo que o conhecimento teológico sem a presença do
Espírito Santo não pode fazer nascer uma igreja, relata que:
[...] se olharmos o crescimento da Igreja em um panorama mundial per-
ceberemos que o crescimento evangélico foi 1.5 % maior que o Islã na
última década. O evangelho já alcançou 22.000 povos nestes últimos 2
milênios. Temos já a Bíblia traduzida hoje em 2.220 idiomas. As gran-
des nações que faziam resistência ao evangelho estão sendo fortemente
atingidas pela Palavra, como é o caso da Índia e China, que em breve
deverá hospedar a maior Igreja nacional (e informal) sobre a terra. Um
movimento missionário apoiado pela Dawn Ministry plantou mais de
10.000 igrejas-lares no Norte da Índia na última década, em uma das
áreas tradicionalmente mais fechadas para a evangelização. No Brasil
menos evangelizado como o sertão nordestino, o norte ribeirinho e in-
dígena e o sul católico e espírita, vemos grandes mudanças na última
década, com nascimento de novas igrejas, multiplicação de movimentos
evangelísticos e crescimento da liderança local (LIDÓRIO, 2011, p. 60).

Lidório (2011) nos leva a refletir sobre a relação entre a expansão do evangelho e
a pessoa do Espírito Santo e quais os critérios para uma Igreja cheia do Espírito
envolver-se com a expansão do evangelho do Reino. Observamos abaixo suas
conclusões:

O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas


202 UNIDADE V

■ A essência da pessoa do Espírito e sua função na Igreja


Em Lucas 24, Jesus promete enviar-nos um consolador, que é o Espírito
Santo, e que viria sobre a Igreja (em Atos 2) de forma mais permanen-
te. Ali, a Igreja seria revestida de poder. O termo grego utilizado para
“consolador” é “parakletos” e literalmente significa “estar ao lado”. É um
termo composto por duas partículas: a preposição “para” - ao lado de -
e “kletos” do verbo “kaleo”, que significa chamar. Portanto vemos aqui a
pessoa do Espírito, cumprimento da promessa, habitando a Igreja, cha-
mado para estar ao seu lado para o propósito de Deus. Segundo John
Knox a essência da função do Espírito Santo é estar ao lado da Igreja
de Cristo e fazê-la possuir a face de Cristo e espalhar o nome de Cristo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesta percepção, O Espírito Santo trabalha para fazer a Igreja mais pa-
recida com seu Senhor e fazer o nome do Senhor da Igreja conhecido
na terra (LIDÓRIO, 2011, p. 61).

■ A essência da pessoa do Espírito e Sua função na conversão dos perdidos


Cremos que é o Espírito Santo quem convence o homem do seu peca-
do. O homem natural sabe que é pecador porém apenas com a inter-
venção do Espírito ele passa a se sentir perdido. Portanto em toda apre-
sentação do evangelho, se o Espírito Santo não convencer o homem do
pecado e do juízo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará
de uma apologia humana. [...] Todos já passamos por uma experiên-
cia evangelística em que apresentamos Cristo a alguém com o coração
endurecido. Quem sabe, observando o Cristianismo de forma crítica
e com zombarias. E lhe apresentamos o mesmo evangelho uma, duas,
cinco vezes. Na sexta, nada novo é falado. O mesmo evangelho é apre-
sentado. Porém neste momento, a Palavra entra em sua mente, desce
ao coração e gera quebrantamento, consciência de que está perdido e
precisa de Deus. Há ali uma entrega pessoal ao Senhor Jesus. A pessoa
do Espírito Santo, Sua natureza e missão, é quem faz a diferença entre
um ouvir acomodado do evangelho e sede de Deus, quebrantamento e
entrega a Cristo (LIDÓRIO, 2011, p. 61-62).

■ A clara ligação entre os avivamentos históricos e os movimentos


missionários

Lidório (2011), nos apresenta dados dos avivamentos ocorridos nos últimos
séculos. A presença do Espírito Santo em cada mover de Deus foi o que determi-
nou e impulsionou os movimentos missionários. Os momentos de avivamentos
tornam a proclamação da Palavra um efeito natural da ação do Espírito Santo.

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


203

Quadro 7 - Dados de avivamentos ocorridos nos últimos séculos

Como resultado de um avivamento, a partir de 1730 John Wesley durante 50


anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorri-
do 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida.

Como resultado de um avivamento, em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar


missionários para todo o mundo conhecido da época, chegando a enviar, ao
longo de 100 anos, mais de 3.600 missionários.

Como resultado de um avivamento, em 1784, após ler a biografia do missionário


David Brainerd, o estudante William Carey foi chamado por Deus para alcançar os
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para
mais de 20 línguas locais.

Como resultado de um avivamento, em 1806 Adoniran Judson tem uma forte


experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia,
onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com
300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores.
Como resultado de um avivamento, em 1882 Moody pregou na Universidade de
Cambridge e 7 homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e im-
pactaram o mundo da época. Foram chamados “os 7 de Cambridge”, que incluía
Charles Studd. Foi para a África, percorreu 17 países e pregou a mais de meio
milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC Internatio-
nal) que conta hoje com mais de 3.000 missionários no mundo.
Como resultado de um avivamento, em 1950 no Wheaton College 500 jovens fo-
ram chamados para a obra missionária ao redor do mundo a partir da pregação
da Palavra. E obedeceram. Dentre eles estavam Jim Elliot que foi morto tentando
alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956 e do seu martírio houve um grande
avanço missionário em todo o trabalho indígena.

Fonte: Lidório (2011, p. 62-63).

O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas


204 UNIDADE V

Podemos retirar daqui algumas conclusões bem claras:


■ A presença do Espírito Santo nos leva a testemunhar publicamente, com
palavras e com ações, que somos de Cristo. Desta forma o evangelho vai
para as ruas, para as escolas e para os lugares em que estão as pessoas que
Deus quer alcançar.
■ A presença do Espírito confirma o plano de Deus em fazer com que as
igrejas sejam santificadas, separadas do pecado e desenvolvam uma natu-
reza missionária.
■ Uma Igreja revestida do Espírito Santo terá um crescimento explosivo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e abundante em função da contínua pregação e do testemunho de vida.

Assim, nosso profundo desejo e oração deve ser para que Deus traga novos avi-
vamentos sobre seu povo. Para que a Igreja possa alcançar aqueles que vivem
longe de Cristo e possa reencontrar sua verdadeira vocação: ser uma Igreja que
reflete a Jesus, que expressa ao mundo o amor de Deus e, por fim, uma Igreja
que proclama as boas novas da salvação em todas as nações da terra.

Perante o grande desafio que ainda temos diante de nós ao redor do mun-
do, creio que missiólogos nos mostrarão o caminho, mas apenas homens
cheios do Espírito Santo alcançarão a terra.
(Ronaldo Lidório)

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA


205

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da nossa Unidade V com o testemunho da grande contri-


buição do ministério do apóstolo Paulo para o Cristianismo e para o plantio de
igrejas. Em Filipenses 2,5-8, Paulo retrata a humilhação de Cristo, esvaziando-se
de si mesmo, fazendo-se servo, sendo reconhecido em figura humana e sendo
obediente até a morte, e morte de cruz. Não foi diferente o caminho de serviço
e renúncia que Paulo trilhou pelo Evangelho. Antes tudo aquilo que poderia ser
lucro ele considerou perda por causa de Cristo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Em seus pressupostos de desenvolvimento do plantio de igrejas encontra-


mos, no paradigma paulino, um caminho seguro para a edificação de igrejas,
teologicamente corretas e cheias do vigor do Espírito Santo. Seu alvo foi alcan-
çar o maior número possível de pessoas por meio de seu ministério. O apóstolo
Paulo nos ensina que plantação de igrejas é obra de Deus.
Os modelos de Hesselgrave (1995) e Ott e Wilson (2013), devem ser estuda-
dos e aprofundados por meio de pesquisas e aplicação prática. Eles não encerram
os únicos caminhos para o plantio de igrejas, mas constituem-se em referên-
cias seguras.
Basicamente, candidatos devem ser selecionados e enviados; os planos devem
ser feitos com cuidado; depois, contatos realizados, o evangelho comunicado, os
convertidos congregados e batizados, a fé confirmada, a liderança consagrada,
a igreja recomendada à graça de Deus e novos líderes enviados. Repetindo-se,
assim, o processo de plantação de igrejas até que Cristo venha.
Vimos a relevante função do Espírito Santo, nas indicações de Lidório (2011),
em nos conceder poder para a realização da tarefa. Como foram as últimas
palavras do Senhor Jesus em Atos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda
a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (BÍBLIA, Atos, 1,8). Que assim
sejam os plantadores de igrejas, cheios do Espírito Santo, cheios do poder de
Deus e bem preparados teologicamente para a tarefa! Que venham novos avi-
vamentos sobre a terra!

Considerações Finais
206

1. No modelo Paulino de plantio de igrejas, há um ensino declarado nas Epístolas


que seguem uma sequência lógica, apresentada por Hesselgrave (1995), qual
seja: ir para onde as pessoas estão, pregar o evangelho, ganhar convertidos, reu-
ni-los nas igrejas, instruí-los na fé, escolher líderes e recomendar os crentes à
graça de Deus. Lidório (2011) traduz essa sequência lógica em estratégias para o
plantio de igrejas. Cite três dessas estratégias.
2. Perante uma quantidade expressiva de estratégias missionárias de plantio de
igrejas, apresentamos as que são mais utilizadas pelos movimentos no mundo
atual, tornando-se verdadeiros valores para as organizações missionárias. Cite
duas dessas estratégias.
3. O modelo de Hesselgrave (1995) tem a força de um exemplo bíblico e é conhe-
cido como “Ciclo Paulino”, nele dez fases de desenvolvimento devem ser obser-
vadas. Nas últimas décadas, tem sido o modelo mais relevante para plantação
transcultural de igrejas. Cite e explique três dessas fases do ciclo paulino.
4. Um modelo de desenvolvimento de igrejas muito relevante é baseado nos es-
tudos de Ott e Wilson (2013) que visam a reprodução e a multiplicação da igreja
no contexto da plantação transcultural de igrejas. Cite os três tipos de plan-
tadores de igreja que Ott e Wilson (2013) apresentam em seu modelo de
desenvolvimento de plantação de igrejas.
5. O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wil-
son (2013) visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um plan-
tador de igrejas apostólico. Cite as cinco fases de desenvolvimento previstas
para esse modelo.
207

Orientação Básica para Aquisição Linguística


Algumas considerações preliminares ao entrarmos no desenvolvimento de uma orien-
tação básica para a aquisição lingüística.
O método é importante, mas não determinante.
Alguns que aprendem bem uma segunda ou terceira língua, bem como aqueles que se
frustram na tentativa, costumam atribuir tal resultado ao método. Observo, porém, que
o método (a técnica mais amiúde) é menos importante do que julgamos. Isto porque
todos nós nascemos com a capacidade de aprendizado de língua, a qual foi aplicada
para nos dar fluência em nossa própria língua materna.
Desta forma freqüentemente encontramos pessoas que jamais estudaram ou aplicaram
um método específico aprendendo bem uma segunda ou terceira língua, apenas com
orientações gerais. Não me refiro aqui à análise de uma língua (ato mais técnico) mas
sim ao aprendizado de fala e compreensão de uma língua (ato mais intuitivo). O método
é importante, porém não determinante neste processo.
Lembre-se que o aprendizado de uma nova língua não é uma atividade puramente lin-
güística, mas também cultural. Assim, devemos ter em mente que o maior valor no pro-
cesso de aprendizado está com o povo (que detém o conhecimento da própria língua) e
não na metodologia de estudo da mesma.
Invista no método escolhido
O método tem a capacidade de lhe direcionar e não permitir que você perca o foco. O
método escolhido (seja um método aprendido ou desenvolvido por você) deve ser cla-
ro, simples, objetivo e aplicável. Pense nestas quatro características.
Você deve ser capaz de explicá-lo de maneira objetiva, clara e prática a outra pessoa. Se
tiver dúvidas, simplifique o processo. Se você parte da coleta de termos, composição de
idéias e prática de fluência, por exemplo, invista nisto durante um bom tempo. Se você
utiliza a análise interativa como método, não deixe para trás na primeira dificuldade.
Nenhum método deve ser visto como uma idéia hermética, fechada, inalterável. Cada
pessoa tem um perfil próprio. Adapte o método a você e não o contrário.
É mais fácil não aprender a língua.
Após alguns meses de ânimo no estudo da nova língua é possível que você seja tentado
a perder o foco. Se isto acontecer tudo ao seu redor lhe parecerá mais urgente do que
o aprendizado da língua. Pelo fato do aprendizado ser algo contínuo (e de médio ou
longo prazo) será sempre mais fácil desistir exceto em situações em que o aprendizado
da língua seja uma questão de sobrevivência, como é o caso de nossa língua materna.
208

É certo que há alguns apaixonados pelo aprendizado de línguas, mas para a maioria será
necessário uma boa dose de disciplina. Após chegar ao nível 1, o mais confortável será
jamais sair deste nível. Percebo que a maior parte dos estudantes de uma nova língua
atinge e permanece no nível pouco acima do 1 (normalmente 1.2). Neste caso eles já
conhecem as saudações, os termos chaves, interagem um pouco e não estão mais per-
didos no meio de uma conversa, entendendo o assunto geral. Mais de 80% dos que se
propõe a aprender uma língua não chegam ao nível 3 (de 1 a 5) que é de fluência relati-
va, transmissão e interpretação de idéias. Isto os privará de uma conversação mais pro-
funda, uma melhor compreensão do universo da língua falada bem como gerará uma
clara limitação na apresentação de idéias, emoções, mensagens, projetos e argumentos.
Tenha um claro alvo em mente. Talvez seu alvo seja aprender uma língua no nível 1
apenas. Mas, caso seja no nível 3, ou outro acima, mantenha este alvo claro, de forma
constante, em sua mente e coração. De toda forma, seja qual for seu alvo, não desista!
Não há alegria maior para um estudante de uma nova língua do que compreender e ser
compreendido ao ponto de comunicar, interagir e fazer diferença no ambiente em que
está inserido.
Fonte: Lidório (INSTITUTO ANTROPOS, 2008, on-line)4
MATERIAL COMPLEMENTAR

Plantação Global de Igrejas: princípios bíblicos e as


melhores estratégias de multiplicação.
Craig Ott e Gene Wilson
Editora: Esperança
Sinopse: este livro não só apresenta uma extensa fundamentação
bíblica para o início de novas igrejas, mas também contém o bê-á-bá
para o levantamento de fundos, o desenvolvimento de um senso de cultura local e formação de uma
equipe que melhor atenda às necessidades específicas da comunidade na qual a igreja está sendo
plantada. “Ele deve ser lido por todos os que pensam em plantar uma igreja, mas creio que deveria ser
lido, também, por qualquer pessoa que ocupe um cargo de liderança na igreja” (Rick Warren - Pastor -
Saddleback Church).

Terra Selvagem
O filme Terra Selvagem é, talvez, o melhor filme cristão que já foi
produzido. Conta a história de cinco missionários cristãos que são
mortos de forma bárbara por uma tribo indígena canibal. Após a
morte dos missionários, as esposas deles vão até a amazônia para
evangelizar estes índios e a aldeia se converte em uma história de
amor cristão que excede todo entendimento humano.

Revista Americana - Missões Evangélicas Trimestrais


Por quase meio século, Missões Evangélicas Trimestrais (EMQ) tem servido a comunidade
missionária em todo o mundo, fornecendo relevantes e envolventes artigos para reflexão em
uma vasta gama de ministérios com foco em liderança, tradução, contextualização, negócios
como missão, cuidados de membro, etc. EMQ continua a ser uma das principais revistas para
missiólogos e é, para muitos de pensamento praticantes, o primeiro jornal para a comunidade
missão norte-americana. Vale a pena conhecer mais sobre acessando o link: <https://www.
emqonline.com/>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-


alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.
GARRISON, D. Church Planting Movements. Richmond: International Mission Bo-
ard of the Southerns Baptist Convetion, 1999.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
LIDÓRIO, R. Estratégias para o Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos,
2011.
LOPES, A. N. Paulo, Plantador de Igrejas: repensando fundamentos bíblicos da obra
missionária. Fides Reformata, São Paulo, n. 2, p. 138-153,1997.
OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores
estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <http://instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_co
1

ntent&view=article&id=452:estrategias-de-plantio-de-igrejas--parte-
dois&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 29 maio. 2017.

Em: <http://ronaldo.lidorio.com.br/wp/o-campo-e-o-envio-de-missionarios//>.
2

Acesso em: 01 jun. 2017.

Em: <https://www.treasy.com.br/blog/missao-visao-e-valores>. Acesso em: 29


3

maio. 2017.

Em: <http://www.instituto.antropos.com.br/v3/index.php?option=com_
4

content&view=article&id=429&catid=35&Itemid=3>. Acesso em: 29 maio. 2017.


211
GABARITO

1. Poderão ser utilizada para resposta três estratégias paulinas dentre as estraté-
gias abaixo listadas:
• Introduzir-se na sociedade local a partir de uma pessoa receptiva ou um
grupo aberto a recebê-lo e ouvi-lo.
• Identificar ali o melhor ambiente para a pregação do evangelho, seja públi-
co como uma praça ou privado como um lar.
• Evangelizar de forma abundante e intencional, a partir da Criação ou da
Promessa, e sempre desembocando em Cristo, sua cruz e ressurreição.
• Expor a Palavra, sobretudo a Palavra. Expor de tal forma que seja ela inteli-
gível e aplicável para quem ouve.
• Testemunhar do que Cristo fez em sua vida.
• Incorporar rapidamente os novos convertidos à igreja, à comunhão dos
santos, seja em uma casa ou um agrupamento maior.
• Identificar líderes em potencial e investir neles seja face a face ou por car-
tas.
• Não se distanciar demais das igrejas plantadas, visitando-as e se comuni-
cando com as mesmas, investindo no ensino da Palavra.
• Orar pelos irmãos, pelas igrejas plantadas e pelos gentios ainda sem Cristo,
levando-as também a orar.
• Administrar as críticas e competitividade sem permitir que tais atos lhe re-
tirem do foco evangelístico.
• Utilizar a força leiga e local para o enraizamento e serviço da igreja.
• Investir no ardor missionário e responsabilidade evangelística das igrejas
plantadas.
2. Devem ser apresentadas três modelos de estratégias, podendo ser:
• Mapeamento etnocultural e geograficamente definido. Saber qual a exten-
são do desafio.
• Análise cultural e fenomenológica. Entender as vias para a compreensão do
evangelho.
• Comunicação inteligível e comunitária do evangelho.
• Adoração e vida diária da igreja na própria língua materna e cultura alvo.
• Rápida incorporação dos novos convertidos à vida da igreja.
• Consciência de urgência evangelística já transmitida no processo de disci-
pulado.
GABARITO

• Identificação de líderes locais o mais cedo possível.


• Treinamento para líderes durante o processo de liderança.
• Descentralização da autoridade eclesiástica.
• Ênfase na reprodução.
• Supervisão contínua quanto ao amadurecimento espiritual.
• Modelo missionário: Inicie, discipule, reproduza, assista, encoraje e parta.
3. Devem ser citadas três fases do Ciclo Paulino de Hesselgrave, das dez listadas
abaixo:
1. Missionários comissionados: devem ser selecionados com oração, encoraja-
dos e treinados. É preciso ainda verificar se haverá condições para que eles
recebem seus suprimentos para sustento e provisão necessários. Esta é a
primeira fase do ciclo paulino.
2. Auditório contactado: serão representantes relevantes da comunidade
abordados por cortesia, pessoas que poderão ser contatadas pelos veículos
já existentes de assistência à sociedade, interessados no evangelho desco-
bertos por contatos missionários e o grande público atingido pelas ações
midiáticas da campanha evangelística que será realizada.
3. Evangelho comunicado: para isso, é preciso contextualizar a mensagem,
continuar firme no método adotado, saber selecionar os veículos de comu-
nicação e implantar um sistema de medição.
4. Ouvintes convertidos: a esta altura, os ouvintes estarão prontos para agora
serem conduzidos ao processo de conversão. E para que se consiga ouvin-
tes convertidos, é preciso ajudá-los a passarem por quatros passos sequen-
ciais: a) da instrução; b) da motivação; c) da decisão; e d) da confissão.
5. Crentes congregados: um novo congregante sofre um certo tipo de trans-
formação em sua cultura, e ele precisa ser levado a sentir-se integrante de
sua nova comunidade. Nisso, não somente as funções do grupo receptor
são importantes, mas há também um ideal de tamanho para esse grupo. E
uma análise deverá ser feita junto com a escolha e os cuidados para com o
local e os horários das reuniões desses cristãos.
6. Fé confirmada: A conversão não deve ser concebida simplesmente em
termos de um exercício mental, explica Hesselgrave. Por isto, a fé deve ser
confirmada por meio da instrução para (e na) adoração, quanto aos cultos,
o testemunho e à sábia administração da vida. A instrução na Palavra, a
adoração a Deus, o serviço prestado a Cristo, o testemunho ao mundo, a
mordomia dos bens – estes são os elementos da confirmação da fé do novo
e de qualquer crente.
213
GABARITO

7. Liderança consagrada: mas como uma nova igreja irá andar com suas pró-
prias pernas sem ter uma liderança? Pensar, orar, trabalhar, e planejar tendo
em vista a edificação de uma liderança espiritual para a igreja que está sen-
do organizada deve ser da máxima prioridade. Quando emergir a liderança
espiritual, a organização se tornará prática e essencial. Cabe salientar que
nenhuma organização pode ser mais forte do que a sua liderança. Nesta
sétima fase, já vislumbram-se os horizontes da repetição do ciclo.
8. Crentes recomendados: Hesselgrave instrui que, após a nova liderança ser
delegada, uma retirada amigável do pioneiro da congregação estabeleci-
da na melhor ocasião possível deve acontecer, para que, tão logo quanto
possível, haja uma transição ordeira da liderança pastoral na congregação.
Trata-se de uma continuação de ministérios eficazes que tenham sido em-
preendidos pelo obreiro pioneiro.
9. Relacionamentos continuados: embora esta igreja que acaba de nascer
deva continuar os seus relacionamentos com a igreja que a concebeu, ela
não deve olhar somente no retrovisor. Os relacionamentos devem receber
continuidade, tanto no cultivo e crescimento da fraternidade mútua entre
os crentes desta nova igreja quanto na busca por relacionar-se com novas
pessoas a serem alcançadas.
10. Igrejas missionárias convocadas: de igreja plantada, a nova igreja passa ao
status das igrejas missionárias convocadas. Aqui está sendo descrita a igreja
em sua última fase de maturidade. É quando os novos crentes, entendendo
a missão, dispõem-se a seguir participando na missão. E agora passarão a
ser os missionários comissionados, repetindo o ciclo paulino a partir de sua
primeira fase.
4. São três os tipos de plantadores de igrejas apresentados pelo modelo de desen-
volvimento de plantação de igrejas sugerido por Ott e Wilson, que são:
• Plantador de igrejas pastoral;
• Plantador de igrejas catalítico;
• Plantador de igrejas apostólico.
5. O modelo de desenvolvimento de plantação de igrejas proposto por Ott e Wil-
son (2013), visa a reprodução e a multiplicação por meio da atuação de um
plantador de igrejas apostólico. Prevê cinco fases diferentes de desenvolvimen-
to, que são: preparação, lançamento, estabelecimento, estruturação e reprodu-
ção.
CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de nossa disciplina Modelos de Plantação de


Igrejas. Minha sincera oração é para que Deus lhe conceda entendimento para saber
quais são os próximos passos a serem dados em sua formação acadêmica e minis-
terial.
Que grande nuvem de testemunhas temos diante de nós, a qual nos inspiram a
completar a carreira cristã. São homens e mulheres que deram suas vidas pelo Reino
Eterno, histórias surpreendentes de fé, coragem e manifestação do poder de Deus.
Nas páginas da Bíblia Sagrada e da História do Cristianismo vemos homens e mulhe-
res dos quais o mundo não era digno, como nos fala a BÍBLIA, no livro de Hebreus,
capítulo 11.
Que na continuação de nosso serviço a Deus possamos depender de Sua soberania
em todas nossas escolhas e decisões, orando, jejuando e fazendo tudo que estiver
ao nosso alcance para persuadir os homens a entrarem no Reino eterno.
Quando temos a revelação de que nossa vida, verdadeiramente, está nas mãos de
Deus, temos dois resultados bem objetivos: primeiro, podemos descansar, pois
Deus é soberano sobre todas as coisas. Se Ele controla o Universo com Seu poder,
Ele é capaz de controlar nossa vida. Em segundo lugar, temos que ter uma grande
expectativa, pois quando Ele está presente tudo pode acontecer.
Que possamos nos esforçar para pregar o evangelho nos lugares em que Cristo
ainda não foi anunciado, na completa dependência do Espírito Santo, e que Deus
nos conceda perseverança para prosseguir. Como o apóstolo Paulo nos diz em Fi-
lipenses: “...mas uma coisa faço, esquecendo-me das coisas que para trás ficam e
avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (BÍBLIA, Filipenses, 3:14)”.
Que Deus nos abençoe, nos levante com poder e cheios do Espírito Santo para cum-
prirmos Sua missão na terra.

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