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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ________ VARA

CRIMINAL DE CURITIBA / PARANÁ

Processo nª _________________

JORGE, já qualificado no processo – crime em epígrafe, nos autos


da ação penal que lhe move o Ministério Público, vem à presença de Vossa Excelência,
com fulcro artigo 403 parágrafo 3º do Código de Processo penal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

Em razão dos fatos e fundamentos narrados a seguir:

I – DOS FATOS

O acusado foi denunciado pelo Ministério Público pois, segundo a peça acusatória,teria
praticado o delito descrito no artigo 217 – A , na forma do artigo 69, ambos do Código
Penal.
Narra a denúncia que o réu, de 21 anos de idade, ao estar em um bar com seus amigos,
conheceu a suposta vítima e, após um bate papo informal e trocarem beijos, decidiram
ir para um local mais reservado. No local, teriam trocado carícias e a vítima, de forma
voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Jorge (ora acusado).
O órgão do Ministério Público ofereceu a denúncia, imputando ao acusado a prática do
crime de estupro de vulnerável (à época dos fatos a suposta vítima contava com 13
anos de idade) duas vezes, em concurso material. Requereu ainda, o início de
cumprimento de pena em regime fechado, com base no artigo 2º § 1º da Lei 8072/90, e
o reconhecimento da agravante prevista no artigo 61, inciso II alínea “i” ( embriaguez
preordenada ) do Código Penal.
A denúncia foi recebida pelo presente Juízo e o réu, por ser primário e de bons
antecedentes, respondeu ao processo em liberdade.
Na audiência de instrução e julgamento, em suas declarações, a vítima afirmou que
aquela teria sido a sua primeira noite, mas que tinha o hábito de fugir de casa com as
amigas para frequentar bares de adulto.
As testemunhas arroladas pela acusação, em seus depoimentos, afirmaram que não
viram os fatos e que não sabiam das fugas da vítima para sair com as amigas.
Já as testemunhas arroladas pela defesa, amigos do acusado, disseram nos
depoimentos, que o comportamento e a vestimenta da vítima eram incompatíveis com
uma menina de 13 anos e que qualquer pessoa acreditaria tratar-se de maior de idade
e que Jorge (ora acusado) não estava embriagado quando conheceu a vítima.
Em seu interrogatório, o denunciado afirmou que se interessou pela vítima, por ser muito
bonita e estar bem vestida. Disse ainda, que não perguntou a sua idade pois acreditou
que no local só pudessem frequentar pessoas maiores de 18 anos. Corroborou que
praticaram sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de forma espontânea e
voluntária por ambos.
A prova pericial atestou que a menor era virgem, mas não pode afirmar que aquele ato
sexual foi o primeiro da vítima, pois a perícia somente foi realizada longos meses após
o referido ato.
O Ilustre Representante do Ministério Público pugnou pela condenação do acusado, nos
termos da denúncia, sendo a defesa intimada no dia 24 de abril de 2014.
Diante da complexidade das provas produzidas neste processo, foram concedidas às
partes o oferecimento de memoriais por escrito, os quais ora apresento-os.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
(erro de tipo invencível previsto no artigo 20 do CP ) .Ausência de dolo, afastando a
tipicidade , não há previsão da forma culposa (artigo 18 CP).
(doutrina/jurisprudência)

DA NÃO INCIDÊNCIA DO CONCURSO MATERIAL DE CRIMES PREVISTO NO


ARTIGO 69 DO CÓDIGO PENAL / DO CRIME ÚNICO.

Caso Vossa Excelência não entenda pela atipicidade da conduta, a defesa pugna pelo
afastamento do concurso material de crimes.
O tipo penal em questão, segundo entendimento da doutrina e jurisprudência, misto
alternativo, oriundo do princípio da alternatividade. Assim, a prática de duas ou mais
condutas incriminadoras presentes num único tipo, configura um tipo único.
A lei 12015/09 unificou a prática de outros atos libidinosos diversos da conjunção carnal
no artigo 213 do Código Penal. Conclui-se que, se o agente praticar conjunção carnal e
outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal, no mesmo contexto, constitui um crime
único.

(doutrina/jurisprudência)
DO AFASTAMENTO DA CIRCUNSTÂNCIA AGRAVANTE DE EMBRIAGUEZ
PREORDENADA

Não obstante restar comprovada a não embriaguez do acusado, tal agravante prevista
no Diploma Legal somente irá incidir quando o agente se coloca em situação de
embriaguez com o dolo, a intenção de praticar o crime, quando se coloca de forma
proposital embriagado, para cometer a infração penal.
Exige-se, portanto, o dolo direito ou eventual no tocante ao ato de beber. Trata-se da
actio libera in causa, ou seja, quando o elemento subjetivo estiver presente no ato de
ingerir a bebida.
(doutrina / jurisprudência )

DO RECONHECIMENTO DA CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE PREVISTA NO


ARTIGO 65, INCISO I DO CÓDIGO PENAL
(da confissão)

DA FIXAÇÃO DA PENA NO MÍNIMO LEGAL , COM A CONSEQUENTE FIXAÇÃO DO


REGIME SEMIABERTO, CONFORME O ARTIGO 33 § 2º, ALÍNEA “B” DO CÓDIGO
PENAL
(da inconstitucionalidade do artigo 2º , § 1º da lei 8072/90)
(súmula 719 STF)

DO PEDIDO

Diante do exposto, requer a absolvição do acusado, com fulcro no artigo 386, inciso III
do Código de Processo Penal, pela atipicidade da conduta.
Caso Vossa Excelência não acolha a tese absolutória, requer, subsidiariamente, o
afastamento do concurso material de crimes, sendo reconhecida a existência de crime
único, bem como a não incidência da circunstância agravante da embriaguez
preordenada, reconhecendo a circunstância atenuante da confissão.
Requer, ainda, a fixação da pena base no mínimo legal, pela primariedade e bons
antecedentes, sendo fixado o regime semiaberto de início de cumprimento de pena, por
matéria da mais LÍDIMA JUSTIÇA !

Nestes termos,
Pede deferimento.
Curitiba, 29 de abril de 2014
Advogado / OAB

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