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RESUMO
Nos últimos vinte anos o saldo da balança comercial do Mercosul, bloco econômico sul-
americano liderado pelo Brasil, teve um superávit expressivo. Em 1990 tinha um saldo
comercial de 18 bilhões de dólares. Em 2009, o resultado dobrou e superou de 36
bilhões de dólares. Para além dos quesitos políticos e econômicos o Mercosul
representou um avanço no papel negociador para seus Estados-parte. A integração
regional conferiu um peso nas negociações internacionais bem maior do que se os
países tivessem que se representar individualmente. É importante destacar que a
associação dos quatro membros, e depois de outros países associados, garantiu um papel
securitário o que conferiu ao grupo o compromisso com os processos democráticos bem
como com os princípios da não-agressão e da paz como instrumentos indissociáveis ao
desenvolvimento. Entretanto o otimismo deve dar lugar aos desafios que se colocam a
terceira década do mercado comum, sobretudo quanto ao seu papel na composição da
Unasul.
ABSTRACT
Over the past twenty years the trade balance of Mercosur, the South American trade
bloc led by Brazil, had an impressive surplus. In 1990 it had a trade surplus of 18 billion
dollars. In 2009, net income doubled and surpassed 36 billion dollars. Apart from
political and economic questions Mercosur represented a breakthrough in its negotiating
role for states parties. Regional integration given a weight in international negotiations
far greater than if countries were to be represented individually. Also, the combination
of the four state members, and other associated countries, ensured the security role that
gave the group a commitment to democratic processes, instituions and with the
principles of non-aggression and peace as inseparable from the development tools. Yet
optimism must give space to the challenges facing the third decade of the common
market, particularly concerning its role in the formation of Unasur.
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 4
Contexto Global......................................................................................................................... 5
O Integracionismo na América Latina ....................................................................................... 5
O Mercado Comum do Sul ........................................................................................................... 8
Estrutura .................................................................................................................................... 8
Conselho do Mercado Comum ......................................................................................... 9
Grupo do Mercado Comum............................................................................................ 10
Comissão de Comércio do Mercosul .............................................................................. 10
Parlamento do Mercosul ................................................................................................ 10
Foro-Consultivo Econômico Social ................................................................................. 11
Secretaria do Mercosul .................................................................................................. 11
Tribunal Permanente de Revisão ................................................................................... 11
Tribunal Administrativo Trabalhista ............................................................................... 11
Centro Mercosul de Promoção do Estado de Direito .................................................... 12
Primeira década do Mercosul: 1991 a 2000 ........................................................................... 12
Segunda década do Mercosul: 2001 a 2010 ........................................................................... 13
Um Balanço do Mercosul em suas duas primeiras décadas ..................................................... 17
Bibliografia .................................................................................................................................. 20
4
1. Introdução
1.1 Contexto global
A organização político-econômica dos séculos XX e XXI tem exigido as nações
cada vez mais empenho seja para superar as constantes crises financeiras, seja para
projetar-se nos mercados mundiais.
nível regional que vai de encontro com o regime de comércio defendido pela
Organização Mundial do Comércio (OMC). Neste período acreditava-se que os países
menos desenvolvidos não tinham condições de competir em igualdade com as nações
desenvolvidas.2
2
Ibidem
3
Ibidem
4
Ibidem
5
Ibidem
6
6
BOLÍVAR, Simón. Carta de Jamaica. Barcelona, Linkgua ediciones S.L.: 2007.
7
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004
7
8
ALMEIDA, Paulo R. de. Mercosul em sua primeira década (1991-2001): uma avaliação
política a partir do Brasil. Buenos Aires: INTAL-ITD-STA, 2002.
8
integração regional como estratégia para o desenvolvimento econômico dos países mais
atrasados.9
9
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004
10
ALMEIDA, Paulo R. de. Mercosul em sua primeira década (1991-2001): uma avaliação
política a partir do Brasil. Buenos Aires: INTAL-ITD-STA, 2002.
11
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004
9
12
e Uruguai aderiram ao projeto. Durante seis meses, entre 1990 e 1991, os quatro
países negociaram os termos da futura associação até que em 26 de março de 1991 foi
assinado o termo plurilateral de integração, também conhecido como Tratado de
Assunção. Nele ficou estabelecida a reciprocidade entre os signatários bem como sua
igualdade de direitos e obrigações, a despeito da diferença de peso político e comercial
de seus membros. O novo bloco, nesta altura, tinha como nome oficial “Tratado para a
constituição de um mercado comum” entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.13
2.1 Estrutura
12
ALMEIDA, Paulo R. de. Idem
13
ALMEIDA, Paulo R. de. Mercosul em sua primeira década (1991-2001): uma avaliação
política a partir do Brasil. Buenos Aires: INTAL-ITD-STA, 2002.
14
PAMPLONA, João Batista, FONSECA, Juliana Fernanda Alves da. Avanços e recuos do
Mercosul: um balanço recente de seus objetivos e resultados. CADERNOS PROLAM/USP. São
Paulo, Ano 7, Volume 2, p. 7-23: 2008.
10
15
Modelo também adotado na União Européia e que destina-se a satisfazer as necessidades
criadas pela associação através da colaboração e associação. Se levadas a cabo este modelo
pode levar os Estados constituintes a avançar para um novo grau de complexidade de relações
(EVANS, NEWNHAM, 1998).
16
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004
11
Este é o principal órgão e tem poderes legislativos sobre o bloco. Entretanto suas
decisões precisam ser ratificadas pelos parlamentos dos Estados-membro. O conselho
detém a personalidade jurídica do Mercosul e pode estabelecer negociações com ou
países ou associações extra-bloco. É composto por ministros das relações exteriores e de
economia dos estados-parte que alternam a presidência a cada seis meses, num esquema
denominado pro tempore. Seu funcionamento é articulado entre a Reunião de Ministros,
Foro de Consulta e Concertação Política, Reunião de Altas Autoridades na Área de
Direitos Humanos, Comissão de Coordenação de Ministros de Assuntos Sociais do
Mercosul, Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul e de vários grupos de
trabalho, alto-nível e ad-hoc.17
17
PORTAL OFICIAL DO MERCOSUL, Estrutura Institucional, disponível em
<http://www.mercosur.int/t_generic.jsp?contentid=493&site=1&channel=secretaria&seccion=2>
Acesso em 22/12/10.
12
Foi criado como órgão de representação da sociedade civil. A idéia é que o Foro
funcionasse como um representante de trabalhadores, empresários e consumidores. Tem
a competência de acompanhar, analisar e avaliar as implicações econômicas e sociais
derivadas das políticas destinadas ao processo de integração, bem como de suas diversas
fases de implementação tanto em níveis setoriais, regionais e nacionais. Também tem a
18
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004.
19
PORTAL OFICIAL DO MERCOSUL, ibidem.
20
PARLAMENTO DO MERCOSUL, Sobre o parlamento. Disponível em
<http://www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/4300/1/secretaria/Sobre_o_Parlamento.
html?seccion=2> Acessado em 22/12/2010.
13
Até 2002 teve como funções principais o arquivo de documentos oficiais do bloco
e o apoio ao Grupo do Mercado Comum (GCM), bem como a publicação das normas
aprovadas pelos órgãos decisórios. Tem também a atribuição de informar regularmente
os Estados-parte sobre a incorporação das normas aprovadas e de outras tarefas
solicitadas pelos outros órgãos do Mercosul. A Secretaria está localizada em
Montevidéu, no Uruguai, e tem um diretor de caráter administrativo, eleito pelo GMC
para um mandato de dois anos, sem possibilidade de reeleição, além de um corpo de 40
funcionários (até 2010).22
21
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004.
22
PORTAL OFICIAL DO MERCOSUL, A Secretaria do Mercosul. Disponível em <
http://www.mercosur.org.uy/show?contentid=46&channel=secretaria> Acesso em 22/12/10.
23
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro. Ibidem.
14
titulares e quatro suplentes indicados pelo GMC por um período de até dois anos,
renováveis por igual período. O tribunal atua essencialmente na sede da SM. 24
Também criado pelo GMC, através do decreto 24/04, instituiu o Centro Mercosul
de Promoção do Estado de Direito com o objetivo de analisar o desenvolvimento de
cada Estado-parte, a governabilidade democrática e aos aspectos de integração regional,
nomeadamente com relação ao Mercosul. Para tanto realiza trabalhos de pesquisa,
conferências, seminários, foros, publicações, bem como reuniões entre acadêmicos,
representantes governamentais e da sociedade civil. Também tem a missão de oferecer
cursos de capacitação, programas de intercâmbio, assim como ofertar bolsas de estudo e
de abrigar uma biblioteca física e virtual especializada. Sua sede tem lugar no Tribunal
Permanente de Revisão (TPR) na cidade de Assunção, no Paraguai.25
24
MERCOSUL. Solução de Controvérsias no Mercosul. Disponível em <
http://www.mercosur.int/innovaportal/types/file/downloadfilecontent.jsp?contentid=681&site=1&c
hannel=secretaria> Acesso em 22/12/10.
25
MERCOSUL. CMC/DEC. N°24/04: Criação do Centro Mercosul de Promoção do Estado de
Direito.
15
intra-bloco as metas foram atingidas parcialmente, por que vários produtos foram
incluídos em uma lista de exceções.26
Mesmo com estes entraves o comércio regional deu seus primeiros sinais de
avanço. Como é possível observar na Tabela 1, o comércio intra-bloco nos primeiros
quatro anos foram de crescimento expressivo. O volume negociado saltou de U$ 10.032
milhões em 1991 para U$ 23.671 milhões em 1994, o que representa um crescimento
aproximado de 132%. A média de crescimento do volume negociado foi de 30% ao ano
neste período.27 Em janeiro de 1995 foi implementada Tarifa Externa Comum (TEC)
que marcou a passagem do Mercosul de uma área de livre-comércio para o de uma
união aduaneira.
26
ALMEIDA, Paulo R. de. Mercosul em sua primeira década (1991-2001): uma avaliação política a partir
do Brasil. Buenos Aires, INTAL-ITD-STA: 2002.
27
PAMPLONA, João Batista, FONSECA, Juliana Fernanda Alves da. Avanços e recuos do Mercosul: um
balanço recente de seus objetivos e resultados. CADERNOS PROLAM/USP. São Paulo, Ano 7, Volume 2,
p. 7-23: 2008.
28
Na união aduaneira perfeita as barreiras comercias estão totalmente eliminadas entre os países
membros, bem como suas políticas comerciais harmonizadas em relação a terceiros o que é diferente
do que acontece com o Mercosul, que conta com uma lista de exceções para estes casos.
16
Comércio Intra-
7.834 10.032 28,05% 14.477 44,31% 19.081 32%
Zona
Comércio Extra-
Zona
65.833 68.026 3,33% 74.437 9,42% 80.863 9%
Entre 1997 e 1998 uma crise financeira atingiu os chamados Tigres Asiáticos
(Hong-Kong, Coréia do Sul, Singapura e Taiwan) impactou diretamente sobre os
avanços do Mercosul. Em decorrência do choque de competitividade no mercado
externo tanto sobre Brasil como Argentina, a TEC terminou por ser revista em uma
reunião do CMC.29 Os anos seguintes foram tensos na seara política, em especial devido
as declarações do então ministro da economia argentina, Domingo Felipe Cavallo, no
sentido de fazer o Mercosul retroceder a um status de zona de livre-comércio.
A estes fatos soma-se a crise financeira também vivida pelo Brasil, quando da
desvalorização de sua moeda, em janeiro de 1999. É possível observar uma
desaceleração do crescimento do comércio intra-bloco entre 1997 e 1999 na Tabela 2.
Entre 1995 e 1997 as negociações regionais cresciam 20% ao ano até que entre 1998 e
1999 o comércio não estagnou como diminui consideravelmente. “O Mercosul passou a
viver, a partir de 1999, uma “crise de identidade” que influiu gravemente no seu modo
de funcionamento e nas relações entre os países membros, sobretudo entre seus dois
principais sócios” (ALMEIDA, 2002, p. 25).
30
PAMPLONA, João Batista, FONSECA, Juliana Fernanda Alves da. Avanços e recuos do Mercosul: um
balanço recente de seus objetivos e resultados. CADERNOS PROLAM/USP. São Paulo, Ano 7, Volume 2,
p. 7-23: 2008.
18
31
HERZ, Mónica; HOFFMAN, Andrea Ribeiro, Organizações Internacionais, História e prática,
Rio de Janeiro, Elsevier Editora Ltda, 2004.
32
A Comunidade Andina das Nações (ou Comunidad Andina de Naciones, CAN) é um bloco
econômico da América do Sul, paralelo ao Mercosul, dos quais fazem parte Bolívia, Colômbia,
Equador e Peru. Chile e Venezuela deixaram o bloco respectivamente em 1977 e 2006.
19
“O período que se iniciou no primeiro semestre de 2003 abriu, segundo INTAL (2004, p. 65),
„uma janela de oportunidade para a agenda interna do Mercosul‟. A convergência das políticas
cambiais, a retomada do crescimento econômico na região e a posse de presidentes claramente
favoráveis ao Mercosul deram origem a um clima propício aos entendimentos entre os países-
membros.” (PAMPLONA, FONSECA, 2008, p. 20)
No decorrer dos anos seguintes a maior parte dos temas da agenda central do
Mercosul avançou, como a coordenação das políticas macroeconômicas, a TEC (ainda
que de forma tímida graças as constantes prorrogações da lista de exceções), sem contar
com a instituição do Banco do Sul, fundado em 9 de dezembro de 2007. A nova
instituição tem por finalidade financiar projetos de desenvolvimento regional, como
alternativa às instituições já existentes.33 O retorno do crescimento intra-bloco, em
expansão até 2008, sofre, no entanto, um forte impacto de mais uma crise financeira
mundial. Desta vez a crise partiu do sistema bancário norte-americano e se alastrou por
todo o mundo, favorecendo a retração dos mercados e a diminuição acentuada no
comércio do Mercosul que sofreu um decréscimo de 23% no comércio regional e de
25% nos negócios extra-bloco, como é possível observar na Tabela 4.
2009 Var. %
Comércio Intra-
64.668 -23%
Zona
Comércio Extra-
332.449 -25%
Zona
Comércio Total 397.117 -25%
Tabela 4 - Desempenho Comercial do Mercosul (em U$ milhões) – 2006 a 2009. Elaboração própria com base
no CEI (2010), citando INDEC, SECEX, Secretaria Administrativa do Mercosul, Banco Central do Uruguai e
Banco Central do Paraguai.
33
PAMPLONA, João Batista, FONSECA, Juliana Fernanda Alves da. Avanços e recuos do Mercosul: um
balanço recente de seus objetivos e resultados. CADERNOS PROLAM/USP. São Paulo, Ano 7, Volume 2,
p. 7-23: 2008.
20
Tabela 6 – Comparação entre os principais blocos de integração em 2009. Elaboração própria com base nos
dados disponibilizados nos sites oficiais da OMC, NAFTA, Comunidade Andina. *Os dados referentes ao
Mercosul datam de 2008 e tem como base um levantamento realizado pelo IPEA a partir de informações do
FMI.
34
IPEA. Mercosul: assimetrias estruturais em debate. Disponível em
<http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/boletim_internacional/100208_boletim_internacional01_apresen
tacao02.pdf> Acesso em 24/12/10.
22
Entretanto o otimismo deve dar lugar aos desafios que se colocam a terceira
década do mercado comum, sobretudo quanto a eliminação das exceções à TEC e,
principalmente quanto o seu papel decisivo na composição da UNASUL (anteriormente
designada Comunidade Sul-Americana de Nações, CSN) como zona de livre-comércio
e que deve unir tanto Mercosul quanto a Comunidade Andina em um acordo maior com
representatividade sobre toda a América do Sul. Nove Estados já ratificaram a
Declaração de Cuzco (2004) entre eles Argentina, Bolívia, Equador, Guiana, Peru,
Venezuela, Chile, Suriname e Uruguai. Uma de suas principais iniciativas é a criação de
uma área de mercado comum regional a partir da eliminação das tarifas para produtos
35
considerados não sensíveis até 2014 e para os produtos sensíveis até 2019.
Considerando as dificuldades e obstáculos para os mesmos fins dentro do Mercosul, a
nova meta dos países componentes da Unasul, incluindo os Estados-parte do Mercosul,
representa o mais novo desafio do continente para a segunda década do século XXI.
35
UNASUR. Sobre a Unasur. Disponível em: < http://www.pptunasur.com>. Acesso em: 24/12/2010.
23
4. Bibliografia
STURARO, George Wilson dos Santos. Mercosul aos 20 anos: a evolução dos
papéis do bloco e a inserção internacional do Brasil. Disponível em:
<http://mundorama.net/2010/11/02/mercosul-aos-20-anos-a-evolucao-dos-
papeis-do-bloco-e-a-insercao-internacional-george-wilson-dos-santos-sturaro-
do-brasil/>. Acesso em 02/12/2010.
World Trade Association. World Trade developments in 2009. Disponível em: <
http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2010_e/its10_world_trade_dev_e.ht
m>. Acesso em 23/12/10.