Resumo
Este artigo apresenta e discute os resultados de uma pesquisa realizada com um grupo de
estudantes do quarto semestre do Curso de Pedagogia em uma Universidade situada no
Distrito Federal. Este estudo teve como objetivos identificar a importância da práxis
educativa no processo de desenvolvimento e aprendizagem do estudante e, evidenciar as
contribuições das atividades práticas realizadas em instituições parceiras, para a formação
inicial do Pedagogo. O espaço utilizado para realizar este acompanhamento foram as parcerias
estabelecidas com as escolas públicas do Distrito Federal. Para analisar os resultados da
pesquisa foram utilizados métodos mistos, combinando abordagens quantitativas e
qualitativas. Coletados por meio de um questionário, os dados, foram sistematizados,
categorizados pelas pesquisadoras, posteriormente à experiência. As informações da prática
pedagógica obtida no projeto, foram submetidas à análise, possibilitando novos insights, que
permitiram a interpretação dos resultados, principalmente quanto à forma que a imersão na
prática pedagógica docente, contribui com o processo de desenvolvimento e a aprendizagem
do Pedagogo em sua formação inicial. Os resultados da pesquisa evidenciam uma relação
direta entre o processo de imersão na prática e a formação sólida, repleta de estratégias e
iniciativas que possibilitam ao docente encarar novos desafios, revelando de que forma tais
atitudes asseguram a formação integral do futuro pedagogo. O estudo realizado evidencia que
1
Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Analista de Planejamento Educacional da
Universidade Católica de Brasília. E-mail: camilleanjos@gmail.com
2
Doutoranda e Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), Master in Business
Administration em Gestão das Tecnologias da Informação e da Comunicação em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Pedagoga. Docente, Coordenadora do Curso de
Pedagogia nas Modalidades Presencial e a Distância e do Programa de Formação de Professores da UCB. E-
mail: carlacristie@gmail.com
3
Aluna especial do Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília. Especialista em Pedagogia
Hospitalar pela Faculdade Fortaleza - WPOS. Analista de Planejamento Educacional da Universidade Católica
de Brasília. E-mail: anabeatriz.cmoliveira@gmail.com
ISSN 2176-1396
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Introdução
aponta, ainda, que “o principal desafio para a formação de professores, nos próximos anos
será o de abrir um espaço maior para os conhecimentos práticos dentro do próprio currículo”
(TARDIF, 2008, p. 241).
Para o autor, os profissionais docentes que atuam em sala de aula, deveriam ter espaço
de contribuição nos currículos dos cursos de formação de professores, uma vez que a sua
prática revela a produção, a transformação e a mobilização de saberes, teorias e
conhecimentos específicos ao exercício da docência. No campo da discussão sobre a produção
de conhecimento a partir da prática, Gatti (1997) tem um posicionamento no qual considera
que a teoria e a prática se constituem uma unidade, em que toda teoria se origina na prática
social humana e que nesta estão tácitos pressupostos teóricos, logo, a teoria e a prática
possuem uma conexão circular, se retroalimentam, e ao percebermos este movimento e inseri-
lo na concepção da formação de professores, poderíamos ter um processo mais integrador.
A prática nos cursos de formação de professores, geralmente, acontece de maneira
aplicacionista, assim como pontua Tardif (2008). Neste processo os alunos passam alguns
anos assistindo aulas baseadas em disciplinas, para depois, ou concomitantemente, aplicarem
esses conhecimentos. Na lógica disciplinar o conhecimento se sobrepõe a ação, “numa
disciplina, aprender é conhecer. Mas, numa prática, aprender é fazer e conhecer fazendo”
(TARDIF, 2008, p. 271). Nesta lógica, estes aspectos se colocam de maneira distinta, desta
forma constitui-se uma falsa reprodução dos saberes profissionais em relação à prática.
Compreender a relação entre a teoria e a prática de maneira mais integrada ajudaria a
ter uma visão mais
[...] globalizada da função social de cada ato de ensino, sempre confrontada e
reconstruída pela própria prática e pelo trato com os problemas concretos dos
contextos sociais em que se desenvolvem, poderia ser a chave de toque que
acionaria uma nova postura metodológica. (GATTI, 1997, p. 57).
É importante esclarecer que a teoria e a prática devem caminhar juntas e não serem
consideradas uma consequência da outra. Pimentel (2014) salienta que, é necessário que os
conhecimentos teóricos tenham sentido e significado para que se possa perceber a relação
entre a teoria e as ações cotidianas. Desta forma, também deveriam ser incluídas nos
currículos dos cursos de formação de professores o estudo de situações problema, práticas
reais, assim, o que se aprende nos cursos de formação inicial de professores não seriam
apenas estereótipos técnicos, mas o saber sobre porque certas ações são realizadas e quando se
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Metodologia
A metodologia utilizada para essa pesquisa foi a de caráter misto (quanti e qualitativo)
justifica-se tal escolha, tendo em vista a oportunidade de analisar profundamente as reflexões
que emergem a partir dos dados coletados. Segundo Creswell (2003) esta iniciativa é
importante por possibilitar maior aprofundamento de um único fenômeno na mesma pesquisa.
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participante número 10: “Aprendi o próprio conteúdo que ministrei foi de grande valia para o
meu aprendizado, relembrei coisas que não lembrava mais”. Alguns professores se mantém
ensinando o mesmo conteúdo, da mesma forma, por anos, quando na verdade o conhecimento
também se modifica e evolui. De acordo com Imbernón (2011) a docência exige uma postura
de estudo permanente durante todo a vida profissional, este hábito deve se iniciar na formação
inicial. Logo, o participante demonstra que, para ministrar o conteúdo previamente
selecionado, foi necessário fazer pesquisas e estudá-lo e com isso aprendeu coisas novas e
relembrou outras.
A segunda questão tinha o intuito de verificar quais foram os aspectos positivos sobre
as atividades desenvolvidas pelos participantes. A resposta com maior relevância entre os
pesquisados foi a importância da práxis em sala de aula, o que proporcionou uma imersão da
experiência prática no âmbito escolar ancorada à teoria trabalhada no componente curricular
do Curso de Pedagogia, e que contribuiu significativamente para uma reflexão sobre a sua
formação acadêmica. A consonância entre a teoria e prática se faz presente na fala de Tardif
(2008).
Outro ponto relevante destacado entre os pesquisados foi a importância da interação e
do feedback das avaliações feitas por eles, diante dos pares na atuação em sala de aula. A fala
da participante 10 evidencia esse aspecto: “Gostei das alunas em sala de aula onde elas
puderam nos avaliar. É interessante receber a opinião das pessoas que estão na mesma
situação e processo que você”.
A terceira questão teve o intuito de verificar quais foram os aspectos negativos sobre
as atividades desenvolvidas nas turmas de 5º ano do Ensino Fundamental. As participantes
expuseram a importância de terem mais tempo para o aprofundamento do conteúdo e para a
preparação das aulas. Isso é exemplificado na fala da participante 1: “ Ter maior preparo das
estratégias para os alunos”. Também foi apontado como um aspecto negativo, o nervosismo
que as participantes sentiram ao pôr em prática o planejamento proposto, o que causou uma
certa insegurança. A exemplo da fala da participante 3: “ O nervosismo no início de pôr em
prática o planejamento”. E na fala da participante 4: “ Nervosismo, por vezes, atrapalhou a
socialização do conteúdo”.
Diante do exposto é salutar dizer que para uma boa prática, munida de estratégias
didáticas criativas e inovadoras, é de suma importância um aprofundamento teórico, e para
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um melhor planejamento das aulas é preciso ter sensibilidade e atenção às diversidades que
emergem na sociedade. Nesse sentido o professor é o mediador do conhecimento, na medida
em que orienta, guia e estimula o aluno na construção do conhecimento e segundo Westbrook
(2010) é elemento essencial da situação em que o aluno aprende.
A último item presente no instrumento de pesquisa, tinha a intenção de verificar se a
experiência prática havia atendido as expectativas dos participantes. A maioria dos
participantes afirmaram ter atendido às expectativas ou superado, apenas um relatou que
atendeu em partes. Dos professores em formação que responderam positivamente à
indagação, suas justificativas se voltaram para aspectos inerentes à atuação docente, como,
por exemplo, a relação professor-aluno. O relato do participante 3 representa este exemplo:
“Sim. Conseguimos ministrar a aula, conversar com as crianças e interagir com elas foi de
grande valia para minha aprendizagem como futura docente”. Tal participante exalta o
momento de interação com os alunos do 5º ano.
De acordo com Libâneo (2013) a relação professor-aluno é permeada de aspectos
cognoscitivos, nos quais se inserem a maneira de ensinar do professor, os objetos, métodos e
conteúdos da aula, e de aspectos socioemocionais, estes que ressaltam os vínculos afetivos e a
disciplina dos alunos. A vivência destes aspectos, ainda na formação é salutar para que o
futuro professor possa desenvolver sua postura profissional e começar a perceber as
especificidades e desenvoltura necessárias neste ambiente.
Outro elemento que foi utilizado como justificativa a esta última indagação foi a
oportunidade da prática. A resposta do participante 9 demonstra: “o projeto permite que, nós
estudantes, nos sensibilizemos quanto a prática, ao modo de ensinar, como ensinar, para que
ensinar. É um projeto enriquecedor para a vida acadêmica do estudante de Pedagogia, pois
permite que ele aprimore antes de sua formação o que deverá fazer quando assumir de fato
uma sala de aula”. O que foi pontuado pelo participante pode ser relacionado ao impacto
positivo que a efetiva experiência prática, ainda no processo formativo, pode causar na
formação docente. Nesta mesma direção encontramos Imbernón (2011), para ele as práticas
reais precisam ser inseridas nos currículos dos cursos de formação de professores, para que
não sejam ensinados apenas estereótipos técnico e desconexos da realidade, e para que
possam ter uma atuação flexível frente às estratégias necessárias ao processo de ensino e
aprendizagem.
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A importância da relação entre a teoria e a prática também foi uma resposta que
chamou a atenção, novamente, nesta questão. Para o participante 6, a experiência “atendeu
todas as expectativas, desde o frio na barriga que senti antes de ministrar minha primeira
aula até as descobertas quanto a interação da teoria com a prática. Fazer um planejamento é
importante e ter a oportunidade de pôr em prática nos obrigou a mergulhar bem fundo na
teoria para obter os resultados que desejávamos em nossos objetivos”. Os autores citados
neste artigo evidenciam esta relação.
A expressão deste participante se encontra com o que Pimentel (2014) que postula
sobre a teoria e prática, para a autora os conhecimentos teóricos precisam ter sentido e
significado para que se perceba a relação entre a teoria e as ações rotineiras. Para ela, a
compreensão desta relação pode ajudar a construir uma práxis educativa na formação de
professores que visem a indissociabilidade entre a teoria e a prática no exercício docente. A
práxis, como movimento de ação, reflexão e ação, é essencial para o aprimoramento do
exercício da docência, uma vez que permite ao professor rever sua conduta e conhecimentos
para que possam atuar de uma maneira contextualizada, com o passar do tempo.
O participante 11 foi o único que ressaltou que a experiência atendeu em partes suas
expectativas. Para ele “atendeu em partes, no sentido da oportunidade que nos é dada e a
experiência em sala de aula, isso é muito vantajoso e proveitoso. Mas sinto que ainda tenho
muito o que aprender, sinto que não tenho domínio de turma e me falta criatividade para
elaborar atividades voltadas para a ludicidade”. Pode-se compreender que para este
participante, a prática fez emergir a percepção de que alguns elementos precisam ser
aprimorados para que sua atuação se torne para satisfatória.
Contudo, essa conscientização e reconhecimento somente seriam possíveis a partir da
experiência real de sala de aula. Assim, pode-se compreender que o fato de ministrar uma aula
pode suscitar variadas percepções que vão auxiliar na formação de uma postura docente que
condiz com as demandas da profissão. Logo, não é possível que a prática da sala de aula se
ausente no processo de formação de professores, com efeito, a prática também não pode ser
algo meramente aplicacionista. É preciso dar valor e sentido à relação estabelecida entre a
teoria e a prática.
Considerações finais
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REFERÊNCIAS
DEWEY, John. Experiência e educação. 2. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1976.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2. ed. São Paulo, SP: Cortez, 2013.
RAMALHO, Betânia Leite; FIALHO, Nadia Hage; NUÑEZ, Isauro Beltrán. Por um saber
pedagógico e didático para profissionalizar a docência. In: RAMALHO, Betânia Leite;
NUNES, Claudio Pinto; CRUSOÉ, Nilma Margarida de Castro (org.). Formação para a
docência profissional: saber e práticas pedagógicas. Brasília: Liber Livro, 2014. p. 39-59.