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A outra Margem

Texto Base: Mc 4:35-41

Introdução
Olá, queridos irmãos, é uma alegria estar aqui com vocês. Espero que todos, na
medida do possível, estejam bem. Quero aproveitar este momento inicial para agradecer ao
convite do meu irmão Michel.

Naquele dia
O contexto da narrativa desta travessia apresenta uma condição extremamente
importante para o ministério de Jesus. Nela, vemos o Criador ensinando as bases
fundamentais do reino dos céus. À beira mar Deus usou a natureza como palco universal. É ali
onde importantes histórias como: a parábola do semeador, a da candeia e a do grão de
mostarda foram anunciadas com eloquência e simplicidade. Jesus possuía um dom fenomenal
de tornar coisas simples do cotidiano em ferramentas contundentes para explicar o reino de
Deus e o evangelho.
No entanto, outro ponto importante é necessário visualizarmos aqui. Quando a
verdade é ensinada, o reino das trevas não permanece em silêncio, ele se levanta para causar
confusão. A cena é marcada pelo debate a respeito da autoridade de Jesus. Desde o capítulo 3
os fariseus estão atacando e colocando em descrédito o ministério do Mestre Galileu. Eles
chegam a afirmar que os milagres de Jesus são realizados pelo chefe dos demônios e
questionam o direito do messias de anunciar suas palavras.
A família consanguínea de Jesus, em uma situação no mínimo controversa, aparece
com o objetivo de interpelar seu ministério. Foram 30 anos no anonimato, toda essa
visibilidade, muitas vezes negativa, estava assustando algumas pessoas próximas de Jesus.
É dentro desse contexto que o termo “Naquele dia” demonstra uma atitude
inesperada de um Jesus exausto fisicamente: Partir de uma margem para a outra. O próprio
texto aponta diversos elementos de uma suposta decisão incomum. Marcos é um evangelho
com fortes influências do maior e mais importante pescador da trupe cristã, Pedro.

Mesmo sendo tarde


Por influência de Pedro, Marcos é o único que apresenta este pequeno detalhe da
narrativa. Somente um homem experimentado no mar sabia que a escolha de sair para o mar
naquela hora era perigosa. Era tarde, o que poderia gerar uma fatalidade. O mar da galileia era
conhecido por tempestades repentinas.
Outro detalhe, é a expressão: Assim como ele estava. Ou seja, não houve uma
preparação prévia.

A Tempestade
Em alto mar o pior acontece. O termo tempestade (Lailáps) se refere a tempestades
com caráter ciclônicas, ou seja, possivelmente fosse uma tromba d’agua que apareceu, um
furacão sobre o mar. Mateus apresenta uma outra ênfase, ele descreve a tempestade com a
palavra seismós, que se refere a abalos sísmicos ou ainda terremotos, em corpos de água,
maremotos. Tais termos usados pelas testemunhas oculares apontar um evento de
calamidade, não uma mera tempestade. Homens experimentados no mar perderam o controle
da situação e perceberam que aquela situação exigia mais do que mãos humanas poderiam
fazer, era algo de dimensões espirituais.
A linguagem interventiva de Jesus na situação crítica é muito similar a outra situação
no capítulo 1 de Marcos. O verso 39 diz: Cala-te e a reação dos discípulos é espanto (v. 41). A
mesma sequência acontece Mc 1:25 e 1:27. Tal condição pode apontar que as circunstâncias
da tempestade poderiam significar ações de forças espirituais.
No meio do caos do mundo, da turbulência repentina a voz do Criador corta toda a
agitação, resultando em silêncio, paz e bonança. As multidões precisavam de paz e cura, Jesus
lhes concedeu tudo isso, agora o mundo precisa de paz, a agitação descontrolada da natureza
precisava de um maestro, e foi contemplada pelo maior de todos eles.
Será que ainda nos espantamos com a voz do Senhor em nossa vida? Será que sua
autoridade ainda nos causa interesse?

A outra margem
A outra margem Jesus tem um encontro inusitado. Ele se encontra com um homem
atormentado. Alguém com a vida destruída por satanás, alguém que não sabe o que é
liberdade. Escravo de pecados, com aguilhões pseudo arrebentados em mãos um moribundo
cambaleia por uma terra estrangeira.
É impressionante perceber que as cadeias sobre ele impostas supostamente estavam
arrebentadas, mas a prisão na qual ele estava, olhos humanos não podiam enxergar. Aquele
homem então recebe a maior visita de sua vida, do próprio Deus. Jesus vai ao seu encontro e
ele tem a oportunidade de um milhão de dólares, ele pode falar com o salvador.
As multidões que tinham acesso aos oráculos de Deus precisavam de paz, Jesus lhes
concedeu a paz, o mar e o vento precisavam de paz, ele concedeu a um mundo em caos ordem
e bonança. Mas, agora, toda a atenção do salvador sai do macro para o micro, sai do todo para
o indivíduo. Os olhos de amor do Salvador se voltam para uma única pessoa. O bom pastor dá
a vida por suas ovelhas, nem que apenas uma se perca ele vai ao seu encontro. É dentro desta
realidade que o texto deságua, Jesus atravessa o mar para dialogar com alguém marginalizado,
alguém rejeitado, um homem destruído pelo maligno.

A rejeição da maioria
O encontro com Jesus transformou a vida daquele escravo do mal, mas ao custo da
perda econômica dos latifundiários da região. Tal situação provocou a rejeição de Jesus na
região. Quantas vezes em nome da situação econômica as pessoas rejeitam a Cristo, por causa
dos bens materiais e dos interesses pessoais várias pessoas tem expulsado Cristo de suas
vidas.

Parte final
Meus amigos, essa história possui um enredo extraordinário. Onde Jesus ia o reino de
Deus o acompanhava levando um novo modelo de vida, uma vida de abundância, de
plenitude. Onde Jesus estava os cegos viam, os coxos andavam, os surdos ouviam e os
pecadores eram amparados.
As multidões encontraram paz, o mundo caótico encontrou paz e ordem, e o escravo
atormentado encontrou descanso para seu tormento. Tudo isso está presente no texto e nos
dá confiança de que nosso Deus é um Deus de perto e não de longe, um Deus pessoal e não
impessoal, um Deus real e não meramente filosófico. No entanto, há mais para ver.
Essa história é um miniresumo do grande conflito. Essas duas porções de Texto
revelam o plano da salvação na qual Jesus é a peça fundamental de toda a narrativa histórica.
Lembra da pergunta que fizemos no início do sermão? O que Deus está disposto a fazer por
amor?
Jesus sai de uma margem e vai para outra colocando tudo em perspectiva. Em uma
margem ele lida com um problema de autoridade, no meio de seu próprio povo. No céu, a
milênios atrás, a pessoa de Deus começou a ser julgada por um anjo. Essa rebelião resultou na
expulsão de lúcifer e a autoridade de Deus por sua lei ficou em cheque. O efeito dessa rebelião
resultou na queda do homem e Deus iniciou um plano de salvação com um preço jamais
imaginado. Jesus sai da margem celestial, do meio de seu povo, para passar por um período de
turbulência crítico.
O planeta terra entrou em um turbilhão caótico e cheio de incertezas. Ventos
ideológicos de toda espécie arrastam o pensamento dos homens. Mas, a voz do Senhor ainda
é possível de ser ouvida. O Senhor nunca se cala, em meio as trevas, ventos e ondas, Deus
continua sendo Deus e é soberano. Tudo isso, para alcançar a cada um de nós. Atormentados
pelos nossos próprios demônios, vivemos moribundos e fadados a guilhões que nem sempre
podemos ver. Mas, Jesus nos encontra em terra estrangeira. Isso é maravilhoso. Há esperança
para todos nós, há libertação.

Apelo
Quero chamar a sua atenção para a última parte da história. Após ser liberto de sua
escravidão, o geraseno toma a decisão que todos nós tomaríamos. Foi nos olhos de Jesus que
ele encontrou segurança e misericórdia. Foi nos braços do salvador que ele reencontrou
sentido na vida. Sendo assim, ao Jesus entrar no barco para partir, obviamente, este homem
decide seguir o mestre. No entanto, ele é impedido de fazê-lo. Como assim? Seria esperado
que Jesus desejasse permanecer com esse filho perdido.
Só possível entender essa atitude de Jesus com olhos espirituais. Ainda não era o
momento de eles estarem para sempre juntos, a separação era uma fase necessária. A
sensação deste homem pode ser comparada a que sentimos hoje, a 2 mil anos Jesus subiu ao
céu e prometeu voltar. Se dependesse de nós, certamente gostaríamos de já estarmos
protegidos ao lado do pai celeste, mas ainda não é o momento, há uma batalha a travar.
Agora é a hora do envio. É a hora de sermos enviados a decápolis, irmos para as
cidades, ampliarmos o reino dos céus.

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