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FERNANDA DINIZ
LENE ARAÚJO
O PRÉ-MODERNISMO
No início do século XX, a literatura brasileira atravessava um
período de transição. De um lado, ainda era forte a
influência das tendências artísticas da segunda metade do
século XIX; de outro já começava a ser preparada a grande
renovação modernista, cujo marco inicial no Brasil é a
Semana de Arte Moderna(1922). A esse período de transição,
chamamos Pré-Modernismo.
Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902
com a publicação da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha
e com a publicação da obra Canaã, de Graça Aranha. O Pré-
Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo
tempo em que encontrávamos produções conservadoras
como a poesia parnasiana e a poesia simbolista,
encontrávamos as primeiras produções de caráter mais
moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.
Principais características do Pré-Modernismo
brasileiro:
• Euclides da Cunha
• Lima Barreto
• Monteiro Lobato
• Graça Aranha
• Augusto dos Anjos*
Psicologia de um vencido
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Alberto Caeiro
Ricardo Reis
Álvaro de Campos
Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como
disse o próprio escritor, várias foram as personagens que
o acompanharam desde a infância. Segundo ele sua
tendência, sua necessidade era multiplicar-se:
“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.
Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia,
ou seja, tinham data e local de nascimento, profissão e
diferentes visões de mundo.
ALBERTO CAEIRO
Nasceu em 1989 e morreu
tuberculoso em 1915, era um homem
simples do campo. Sua estatura era
mediana, loiro, de olhos azuis, órfão
e estudou pouco, até o primeiro ano.
Seus textos são marcados pela
ingenuidade e pela linguagem
simples, seus versos são livres e falam
do amor à natureza e à simplicidade
da vida no campo. Recusa qualquer
explicação filosófica sobre a vida.
Caeiro pensa com os sentidos, não
com a razão, para ele a felicidade
reside em não pensar.
O Guardador de Rebanhos
“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz”.
RICARDO REIS
- Nasceu em 1887, na cidade do Porto e
era médico. Era baixo, forte, moreno e
um monarquista de formação. Seus
textos caracterizam-se pelo estilo
erudito e clássico. Enquanto Alberto
Caeiro era sinônimo de sensibilidade,
Ricardo Reis é extremamente racional.
Sua linguagem é rebuscada e
complexa. Usa com muita freqüência a
mitologia clássica, principalmente a
máximas horacianas do Carpe Diem
(“aproveite o momento”).
Ode VI
“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente, fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-
nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes (...)”
ÁLVARO DE CAMPOS
- Nasceu em outubro de 1890. Era
engenheiro naval, alto, magro, cabelos
lisos e assemelhava-se a um judeu
português. Álvaro de Campos era o poeta
do futuro, da velocidade, das máquinas,
do tempo presente, identificado com a
Vanguarda Européia. Seus textos são
contraditórios: ora marcados por uma
grande energia, ora revelando a crise dos
valores espirituais e a angústia do
homem de seu tempo, inadaptado às
condutas sociais Enquanto Alberto
Caeiro pensava com os sentidos e
Ricardo Reis com a razão, Álvaro de
Campos, pensava com a emoção.
Lisbon revisited
“Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas! Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me
enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da
técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus! (...)”
FERNANDO PESSOA –
ORTÔNIMO
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio..
A PRIMEIRA FASE DO
MODERNISMO
O movimento modernista no Brasil contou com duas
fases: a primeira foi de 1922 a 1930 e a segunda, de 1930 a
1945. A primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de
solidificação do movimento renovador e pela divulgação
de obras e ideias modernistas.
Apesar da diversidade de correntes e ideias, pode-se dizer
que, de modo geral, os escritores de maior destaque dessa
fase defendiam estas propostas: reconstrução da cultura
brasileira sobre bases nacionais; promoção de uma revisão
crítica do nosso passado histórico e de nossas tradições
culturais, eliminação definitiva do nosso complexo de
colonizados, apegados a valores estrangeiros. Portanto,
todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista,
porém crítica, da realidade brasileira.
Mário de Andrade, na conferência que fez em 1942
sobre a Semana de Arte Moderna, assim se referiu a
esse período: “E vivemos uns oito anos, até perto de
1930 na maior orgia intelectual que a história artística
do país registra”.
Várias obras, grupos, movimentos, revistas e
manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro,
numa investigação profunda e por vezes radical de
novos conteúdos e de novas formas de expressão.
Vejamos alguns manifestos e revistas de destaque:
REVISTA KLAXON
Rachel de Queiroz
Graciliano Ramos
Jorge Amado
Érico Veríssimo
José Lins do Rego
LINGUAGEM
Itabira