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PROFESSORAS: MS.

FERNANDA DINIZ
LENE ARAÚJO
O PRÉ-MODERNISMO
 No início do século XX, a literatura brasileira atravessava um
período de transição. De um lado, ainda era forte a
influência das tendências artísticas da segunda metade do
século XIX; de outro já começava a ser preparada a grande
renovação modernista, cujo marco inicial no Brasil é a
Semana de Arte Moderna(1922). A esse período de transição,
chamamos Pré-Modernismo.
 Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902
com a publicação da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha
e com a publicação da obra Canaã, de Graça Aranha. O Pré-
Modernismo é um período de transição, pois ao mesmo
tempo em que encontrávamos produções conservadoras
como a poesia parnasiana e a poesia simbolista,
encontrávamos as primeiras produções de caráter mais
moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.
Principais características do Pré-Modernismo
brasileiro:

 - Ruptura com o passado


- Denúncia da realidade
- Regionalismo
- Tipos humanos marginalizados

 *A busca de uma linguagem mais simples e coloquial


(Embora não se verifique na obra de todos os pré-
modernistas, essa preocupação é explícita na prosa de
Lima Barreto e representa um importante passo para
a renovação modernista de 1922.)
Principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:

 • Euclides da Cunha
 • Lima Barreto
 • Monteiro Lobato
 • Graça Aranha
 • Augusto dos Anjos*

 Euclides da Cunha= retratou a miséria do subdesenvolvido


nordeste do país.
 Lima Barreto= retratou a vida carioca urbana e suburbana do
início do século XX.
 Monteiro Lobato= retratou a miséria dos moradores do
interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.
 Graça Aranha= retratou a imigração alemã no Espírito Santo.
 Augusto dos Anjos*= apresenta uma classificação
problemática, não podendo ser apenas estudado como um
autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de várias
estéticas, mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como
pré-modernista.
EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909)

 Euclides da Cunha era engenheiro, mas


se destacou no cenário brasileiro do
começo do século XX como escritor. Era
também jornalista e foi mandado a
Canudos, na Bahia como correspondente
do jornal “O Estado de São Paulo”, com a
tarefa de registrar as operações do
exército na revolta baiana.
 O Livro Os Sertões localiza-se entre a sociologia e a
literatura, tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação
em retratar a realidade da maneira em que ela se
apresentava. É uma das primeiras obras a romper com a
visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca.
Nesse livro, Euclides da Cunha construiu uma espécie de
narrativa negativa de um povo massacrado pela miséria e
pela injustiça social. Segundo o autor, a realidade da
guerra era muito diferente da que o governo dizia.
Aparentemente, o motivo desencadeador da revolta foi o
fanatismo religioso e o cangaço, mas na realidade os
profundos motivos foram o sistema latifundiário, a
servidão e o abandono social da região.
 O livro está dividido em três partes: na primeira,
Euclides descreve a terra, o cenário em que se
desenvolverá o enredo; no segundo, o autor faz uma
descrição do homem, explicando a origem dos
jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a
descrição do líder do movimento, Antônio
Conselheiro. Na terceira parte, encontra-se a grande e
talvez a maior riqueza do livro, o conflito. Somente
depois de várias expedições é que os revoltados são
vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos,
restaram apenas quatro: um velho, dois homens e
uma criança na frente de um exército de 5 mil
homens.
LIMA BARRETO (1881-1922)

 Lima Barreto teve uma vida muito


atribulada, principalmente por ser
pobre e negro, numa época marcada
por várias formas de preconceito.
Ao contrário de Machado de Assis,
que alcançou a notoriedade ainda
em vida, Lima Barreto sofreu muito
com o preconceito racial, com o
alcoolismo e com as freqüentes
crises depressivas.
 Lima Barreto, sentindo as dores do preconceito e da pobreza,
mostrou grande identificação com as pessoas marginalizadas
da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua
obra é uma literatura sobre o povo e para o povo, seus textos
apresentam uma linguagem simples e direta, assemelhando-se
à linguagem jornalística, panfletária. O que lhe causou muitas
críticas.
 O renomado autor soube como nenhum outro pré-
modernista retratar com muito realismo a vida dos subúrbios
cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do início
do século XX, uma época de grande desenvolvimento e
transformações. Entre seus livros mais conhecidos,
destacamos Triste Fim de Policarpo Quaresma. Nesse romance
narrado em terceira pessoa, através de uma forte carga
humorística, Lima Barreto conta a história do Major Policarpo
Quaresma. O livro é uma caricatura da vida política brasileira
no período posterior à proclamação da República.
 Policarpo Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom
Quixote brasileiro. Um nacionalista convicto, Quaresma
tenta evitar a todo custo a influência da cultura européia
na cultura brasileira. Entre suas várias tentativas de
preservar a cultura nacional o major chega a escrever uma
carta ao Congresso Nacional. Veja com que objetivo:
 “Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário
público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao
Brasil; certo também de que, por este fato, o falar e o
escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se vêem
na humilhante contingência de sofrer continuamente
censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo,
além, que, dentro de nosso país, os escritores, com
especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à
correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas
polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso
idioma, usando o direito que lhe confere a Constituição,
vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-
guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.
 Depois de muita confusão Quaresma é internado como
louco. Ao sair do hospício seu nacionalismo parece ter
diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha,
desejava reformar a agricultura do país.
 Além da descrição política do país no início da República,
a obra traça um rico painel social e urbano dos subúrbios
cariocas na virada do século. Aposentados, profissionais
liberais, moças casadoiras, carreiristas, donas de casa, o
mulato ___ esse é o universo retratado por Lima Barreto
em Triste Fim de Policarpo Quaresma. Destacam-se nesse
conjunto, as personagens Ismênia, que, tendo sido
educada para a o casamento, enlouquece quando
abandonada pelo noivo; Olga, sobrinha de Policarpo, que
difere da maioria das mulheres por ser mais independente;
e o violonista e cantor de modinhas Ricardo Coração-dos-
Outros, amigo de Policarpo.
MONTEIRO LOBATO (1882-1948)

 Monteiro Lobato foi uma figura muito


polêmica, ao contrário da impressão que a
maioria das pessoas tem a seu respeito.
Hoje, falar em Lobato é lembrar do
escritor de livros infantis e criador do Sítio
do Pica-pau Amarelo, mas sua produção
não se limita a esse gênero. Monteiro
Lobato foi um escritor que retratou como
ninguém o atraso das regiões interioranas
de São Paulo. Ele foi o criador de um dos
símbolos do atraso e da ignorância do
caipira, o personagem Jeca Tatu.
 Lobato tinha um gênio muito forte, desde criança
mostrou-se rebelde. Foi um dos primeiros a dizer que
havia petróleo em terras brasileiras, chegando a ser
preso por isso, durante o período da ditadura militar.
Seu jeito explosivo foi responsável por um dos
motivadores do movimento modernista. Monteiro
Lobato, num artigo intitulado “Paranóia ou
mistificação?”, faz duras críticas ao trabalho
modernista da pintora Anita Malfatti.
Leia uma trecho do artigo:
 “Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que
vêem normalmente as coisas e em conseqüência
fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida,
e adotados, para a concretização das emoções
estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres
(...)
A outra espécie é formada dos que vêem
anormalmente a natureza e a interpretam à luz de
teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva.
São produtos do cansaço e do sadismo de todos os
períodos de decadência; são frutos de fim de estação,
bichados ao nascedoiro (...) Embora eles se dêem
como novos precursores duma arte a vir, nada é mais
velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu
com a paranóia e com a mistificação (...) Sejamos
sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti
quanti não passam de outros tantos ramos da arte
caricatural (...)”
PROSA DE FICÇÃO – MONTEIRO LOBATO
 Em Urupês(1918), predomina a preocupação de
desenlaces deprimentes e chocantes: Lobato quis
mesmo intitulá-lo Dez histórias trágicas. Já em
Cidades mortas (1919), o desejo de reproduzir cenas e
tipos de vistos nos vilarejos decadentes do Vale do
Paraíba força a nota da sátira local, emergindo
caricaturas que têm lá a sua comicidade. Por fim
Negrinha, que toma o título do conto inicial, é uma
livro heterogêneo onde reponta com maior insistência
o documento social acompanhado do costumeiro
sentimento polêmico e da costumeira vontade de
doutrinar e reformar. (O Pré-Modernismo. SãoPaulo:
Cultrix, 1973.p.68-69)
GRAÇA ARANHA(1868-1931)
 Graça Aranha é o autor de Canaã, que
juntamente com Os Sertões, dá início
ao Pré-Modernismo brasileiro. Nessa
obra Graça Aranha narra o processo de
colonização alemã no Espírito Santo.
 Canaã é um romance de tese que
focaliza o confronto de idéias entre
Milkau e Lentz, dois imigrantes
alemães no estado capixaba. Milkau
defende a integração harmoniosa entre
as raças e dá inúmeras demonstrações
de amor ao Brasil. Lentz ao contrário,
defende a supremacia da raça ariana
sobre o mestiço, visto como fraco e
indolente.
 Como sabemos, essa discussão étnica tomou
proporções assustadoras nas décadas de 1930 e 1940,
quando a Alemanha nazista, com suas teorias da
supremacia da raça ariana, provocou a Segunda
Grande Guerra.
 Graça Aranha, com Canaã, foi um dos primeiros a
tratar desse tema na literatura, assumindo
nitidamente a postura humanista de Milkau, em
defesa da miscigenação racial, do amor entre os seres
humanos e da construção de uma Canaã.
AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

 Augusto dos Anjos, como já foi


visto, apresenta uma classificação
problemática. Ele era conhecido
como o autor do pessimismo, do
mau gosto, do escarro e dos
vermes.
 Como o poeta, produziu textos de
grande originalidade. Considerado
por alguns como poeta simbolista,
Augusto dos Anjos é na verdade
representante de uma experiência
única na literatura universal: a
união do Simbolismo com o
cientificismo naturalista. Por isso,
dado o caráter sincrético de sua
poesia, convém situá-lo entre os
pré-modernistas.
A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada pela união de duas
concepções de mundo bem distintas: de uma lado, a objetividade do
átomo; de outro, a dor cósmica, que busca descobrir o sentido da
existência humana. 

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas


–Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,


E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
AS VANGUARDAS EUROPÉIAS
 Ao se iniciarem os anos de 1900, a Europa enfrentava
a herança do final do século XIX, caracterizada
basicamente por duas situações opostas, mas
complementares: a grande euforia gerada pelos
avanços técnicos - científicos e o pessimismo
ocasionado pelas conseqüências desse avanço no
processo burguês-industrial.
 Tal antagonismo origina um clima propício para a
efervescência artística. Preocupadas em dar uma nova
interpretação para a realidade, surgem então, várias
tendências artísticas de vanguarda.
FUTURISMO
 O primeiro manifesto futurista foi assinado
por Filippo Tommaso Marinetti e publicado
em 1909. Apresentava como pontos
fundamentais a exaltação da vida moderna,
da máquina, da eletricidade, do automóvel,
da velocidade e uma inevitável ruptura com
os modelos do passado.
A estética da destruição (Trechos do Manifesto
Futurista)
 - Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à
energia e à temeridade.
 - Os elementos essências de nossa poesia serão a
coragem, a audácia e a revolta.
 - Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade
pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o
movimento agressivo, a insônia febril, o passo
ginástico, o salto perigoso, a bofetada e o soco.
 - Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do
mundo - , o militarismo, o patriotismo, o gesto
destruidor dos anarquistas, as belas idéias de quem
matam, e o menosprezo à mulher.
Umberto Boccioni, Carga de lanceiros, 1914-1915. Têmpera e colagem sobre
papelão, 32x50 cm.
EXPRESSIONISMO
 O movimento expressionista surgiu em 1910, na
Alemanha, trazendo uma forte influência da arte
do final do século XIX, preocupada com as
manifestações do mundo interior e com a forma
de expressá-las. Daí a importância da expressão,
ou seja, da materialização, numa tela ou numa
folha de papel, de imagens nascidas em nosso
mundo interior, pouco importando os conceitos
então vigentes de belo e feio.
Edvard Munch, O grito, 1893. Óleo, têmpera e pastel em cartão, 91 x 73,5 cm.
 Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

 (ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia de Augusto dos Anjos. 2. ed.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978)
CUBISMO
 Nascido a partir das experiências artísticas
de Pablo Picasso e de Georges Braque, por
volta de 1907, o Cubismo desenvolveu-se
inicialmente na pintura, valorizando as
formas geométricas (cones, esferas,
cilindros, etc.) e revelando um objeto em
seus múltiplos ângulos.
Pablo Picasso, As senhoras de Avignon, 1907. Óleo sobre tela, 243,9 x
233,7 cm.
hípica
 
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails.
 

(ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Obras completas. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. v. 7, p. 129).
 
DADAÍSMO
 Em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, o
romeno Tristan Tzara espanta o mundo com mais
uma vanguarda: o Dadaísmo, ou Dadá, a mais radical
de todas as vanguardas.
 Negando o passado, o presente e o futuro, o
Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da
guerra; daí ser contra as teorias, as ordenações
lógicas, pouco se importando com o leitor. Necessário
era criar palavras pela sonoridade, quebrando as
barreiras do significado. Importante era o grito, o urro
contra o capitalismo burguês e o mundo em guerra.
Raoul Hausmann, Tatlin em casa, 1920. Óleo e têmpera, 91 x 73
cm.
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu
poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam
esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do
saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade
graciosa, ainda que incompreendido do público.
 
(TZARA, Tristan. In: TELES, Gilberto de Mendonça. Vanguarda
européia e modernismo brasileiro. 9 ed. Petropólis: Vozes, 1986.
p.132 – fragmento)
SURREALISMO
 O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924,
por André Breton (1896-1970). Trata-se de um
movimento de vanguarda iniciado no período entre
guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da Primeira
Guerra Mundial e sobre a experiência acumulada de
todos os outros movimentos. Entretanto suas origens
estão mais próximas do Expressionismo e da
sondagem do mundo interior, em busca do homem
primitivo, da liberação do inconsciente, da
valorização do sonho.
René Magritte, A condição humana, 1933. Óleo sobre tela, 100 x 81 cm.
O mar soprava sinos
os sinos secavam as flores
as flores eram cabeças de santos
Minha memória cheia de palavras
meus pensamentos procurando fantasmas
“meus pesadelos atrasados de muitas noites
De madrugada, meus pensamentos soltos
“voaram como telegramas
e nas janelas acesas toda a noite
o retrato da morta
fez esforços desesperados para fugir.
 
(MELO NETO, João Cabral de. João Cabral de Melo Neto –
Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995).
A HERANÇA BRASILEIRA DAS
VANGUARDAS
 Conforme Maria Luiza Abaurre, a principal
herança das vanguardas européias para a
literatura brasileira, além da influência localizada
que algumas delas exerceram sobre certos poetas
e escritores, é o impulso de destruir os modelos
arcaicos, desafiar o gosto estabelecido e propor
um olhar inovador para o mundo. Ruptura e
transformação: dois termos que definem bem o
espírito da primeira geração modernista.
O MODERNISMO EM PORTUGAL
(CONTEXTO HISTÓRICO – CULTURAL)
 As primeiras manifestações modernistas começaram a
surgir no período compreendido entre as duas guerras
mundiais, período marcado por profundas
transformações político-sociais em toda a Europa, não
só em Portugal.
 Didaticamente, o Modernismo português tem início
em 1915, com o lançamento do primeiro número da
Revista Orpheu, que inspirada pelos movimentos da
Vanguarda Européia, desejava romper com o
convencionalismo, com as idealizações românticas,
chocando a sociedade da época.
 Vários artistas participaram da elaboração da revista, entre eles
destacaram-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e
Almada Negreiros. Os escritores do Orfismo, como ficaram
conhecidos, queriam imprimir à literatura portuguesa as
inovações europeias.
 Anos depois, em 1927, outra importante revista passa a ser
divulgadora dos novos ideais modernistas – A Revista Presença,
que teve como maior representante, o escritor José Régio.
 Fernando Pessoa é a grande figura da produção modernista em
Portugal. Pessoa criou vários heterônimos que apresentavam
características particulares e que por isso escreviam textos bem
diversos. Mas o que é um heterônimo? É um desdobramento da
própria personalidade do autor, é a criação de outras pessoas.
Heterônimo é diferente de pseudônimo, pois atinge uma maior
complexidade, o pseudônimo é apenas a criação de nomes
fictícios para uma mesma pessoa, heterônimo é mais que um
nome diferente, é uma outra pessoa.
HETERÔNIMOS

 Alberto Caeiro

 Ricardo Reis

 Álvaro de Campos
 Existem outros heterônimos menos conhecidos. Como
disse o próprio escritor, várias foram as personagens que
o acompanharam desde a infância. Segundo ele sua
tendência, sua necessidade era multiplicar-se:
“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.
 Os heterônimos de Pessoa apresentavam uma biografia,
ou seja, tinham data e local de nascimento, profissão e
diferentes visões de mundo.
ALBERTO CAEIRO
 Nasceu em 1989 e morreu
tuberculoso em 1915, era um homem
simples do campo. Sua estatura era
mediana, loiro, de olhos azuis, órfão
e estudou pouco, até o primeiro ano.
 Seus textos são marcados pela
ingenuidade e pela linguagem
simples, seus versos são livres e falam
do amor à natureza e à simplicidade
da vida no campo. Recusa qualquer
explicação filosófica sobre a vida.
Caeiro pensa com os sentidos, não
com a razão, para ele a felicidade
reside em não pensar.
O Guardador de Rebanhos
“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz”.
RICARDO REIS
- Nasceu em 1887, na cidade do Porto e
era médico. Era baixo, forte, moreno e
um monarquista de formação. Seus
textos caracterizam-se pelo estilo
erudito e clássico. Enquanto Alberto
Caeiro era sinônimo de sensibilidade,
Ricardo Reis é extremamente racional.
Sua linguagem é rebuscada e
complexa. Usa com muita freqüência a
mitologia clássica, principalmente a
máximas horacianas do Carpe Diem
(“aproveite o momento”).
Ode VI
 
“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente, fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-
nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes (...)”
ÁLVARO DE CAMPOS
- Nasceu em outubro de 1890. Era
engenheiro naval, alto, magro, cabelos
lisos e assemelhava-se a um judeu
português. Álvaro de Campos era o poeta
do futuro, da velocidade, das máquinas,
do tempo presente, identificado com a
Vanguarda Européia. Seus textos são
contraditórios: ora marcados por uma
grande energia, ora revelando a crise dos
valores espirituais e a angústia do
homem de seu tempo, inadaptado às
condutas sociais Enquanto Alberto
Caeiro pensava com os sentidos e
Ricardo Reis com a razão, Álvaro de
Campos, pensava com a emoção.
Lisbon revisited
 
“Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas! Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me
enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) –
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da
técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus! (...)”
FERNANDO PESSOA –
ORTÔNIMO

 Fernando Pessoa foi um dos


escritores mais complexos da
literatura portuguesa. Começou a
se destacar como escritor a partir
de seus inúmeros artigos
publicados sobre as novas
tendências modernistas em
Portugal. Mas foi graças à criação
de seus heterônimos que ganhou
notoriedade mundial.
 A produção ortônima de Fernando Pessoa apresenta
características bem diferentes das encontradas em
seus heterônimos. Fernando Pessoa “ele-mesmo”
expressa um profundo sentimento nacionalista e um
apego à tradição portuguesa. Sua produção literária é
comumente dividida em: lírica e épica. O livro
Mensagem é um exemplo da sua obra épica. Nele
Fernando Pessoa, numa clara aproximação com
Camões, vai abordar os grandes feitos dos
portugueses da época das grandes navegações.
 Veja um exemplo de sua obra lírica, através de um de
seus poemas mais conhecidos:
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,


Na lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
MODERNISMO NO BRASIL
PRIMEIRA GERAÇÃO

Tarsila do Amaral, Cartão do Postal, 1929, óleo sobre tela.


 No começo dos anos 1920, o exército brasileiro vivia
uma situação desanimadora: o treinamento era
insatisfatório, os armamentos eram antigos, os soldos
eram baixos. Os tenentes estavam entre os mais
insatisfeitos. Foi em meio a essa situação que
ocorreram várias revoltas militares, conhecidas como
movimentos tenentistas.
 Em julho de 1924, um grupo de tenentes,
reivindicando maior representatividade política, voto
secreto e justiça, deu início a uma revolta em São
Paulo. Um mês depois, diante do avanço das tropas
governistas, os revoltosos retiraram-se em direção ao
interior.
 Em outubro do mesmo ano, tropas no Rio Grande do
Sul iniciaram outro levante comandado pelo capitão
Luís Carlos Prestes e encontraram-se com os rebeldes
paulistas, que naquele momento estavam
combatendo em Foz do Iguaçu, no Paraná. Estava
formada a Coluna Prestes que não conseguiu derrubar
o governo, mas mostrou a crise política e o desejo dos
oficiais de terem uma atuação política mais decisiva.
 Na economia, o mundo encaminhava-se para o
colapso, concretizado com a queda da Bolsa de Nova
York, em 1929. O Brasil, que dependia em grande
parte das exportações de café, sofreu um duro golpe e
teve de enfrentar um período de grande instabilidade
econômica.
 O agravamento da crise econômica contribuiu para
tornar mais tenso o clima político, que atingiu o seu
auge nas eleições de 1930, quando o presidente
Washington Luís rompeu com a política do “café-
com-leite”.
 A insatisfação com o controle paulista do poder uniu
líderes políticos e militares de diferentes estados
brasileiros. Formou-se então a Aliança Liberal.
Getúlio Vargas concorreu com Julio Prestes, que
venceu as eleições sob acusações de fraude. Como o
caminho das urnas não dera certo, gaúchos e
nordestinos organizaram uma marcha em direção à
capital federal. Quando lá chegaram, depuseram o
Presidente Washington Luís. Terminava assim a
chamada República Velha, controlada pelos grandes
proprietários rurais.
 Getúlio Vargas tomou posse “provisória” em 3 de
novembro de 1930. Começava a era Vargas, que se
estenderia até 1945.
CONTEXTO LITERÁRIO
 A Semana de Arte Moderna (1922) é considerada o
marco inicial do Modernismo brasileiro. Contudo,
ela não foi o começo das mudanças, mas o ponto
culminante de um processo que se iniciara duas
décadas antes, com as tentativas de renovação dos
pré-modernistas, passando por vários eventos
importantes, como publicações de livros
exposições de pintura, críticas, conferências, etc.
 Entre esses eventos, o que ganhou mais repercussão
foi a exposição da pintora Anita Malfatti, em 1917, e a
crítica contundente que Monteiro Lobato – escritor e
crítico do jornal O Estado de S. Paulo – fez de sua
obra. Com o artigo, intitulado “Paranóia ou
Mistificação”, Lobato insinuava que a pintora,
influenciada pelo expressionismo europeu, fosse
paranóica ou estivesse mistificando artistas como
Picasso – na opinião de Lobato, um pintor sem
nenhum valor. Se por um lado a critica de Lobato
acarretou consequências negativas para a vida
artística e pessoal de Anita Malfatti, por outro lado ela
provocou reações dos modernistas, que se uniram em
torno das ideias de renovação, o que resultou, cinco
anos depois, na Semana de Arte Moderna.
A estudante (1915-1916), de Anita Malfatti. Acervo
do Museu de Arte de São Paulo
A SEMANA DE ARTE MODERNA
 A semana ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922,
no Teatro Municipal de São Paulo, com participação
de artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O evento
contou com a apresentação de conferências, leitura de
poemas, dança e música. A mais agitada das noites foi
a segunda, na qual houve conferência sobre poesia e
declamação de poemas. Quando foi lido, por exemplo,
o poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, a platéia
teve uma reação surpreendente, ora vaiando ora
aplaudindo.
 Na época, a Semana não teve grande repercussão na
imprensa. Apesar disso, ela foi aos poucos ganhando
importância histórica. Primeiramente porque
representou a confluência das várias tendências de
renovação que vinham ocorrendo na arte e na cultura
brasileira antes de 1922 e cujo objetivo era combater a
arte tradicional. Em segundo lugar porque conseguiu
chamar atenção dos meios artísticos de todo o país e,
ao mesmo tempo, aproximar, os artistas com ideias
modernistas que até então se encontravam dispersos.
 Os reflexos da Semana perduraram durante toda a
década de 1920, atravessaram a década de 1930 e, de
alguma forma, estão relacionados com a arte que se
faz hoje.
 Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,


Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
 Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
 Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio..
A PRIMEIRA FASE DO
MODERNISMO
 O movimento modernista no Brasil contou com duas
fases: a primeira foi de 1922 a 1930 e a segunda, de 1930 a
1945. A primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de
solidificação do movimento renovador e pela divulgação
de obras e ideias modernistas.
 Apesar da diversidade de correntes e ideias, pode-se dizer
que, de modo geral, os escritores de maior destaque dessa
fase defendiam estas propostas: reconstrução da cultura
brasileira sobre bases nacionais; promoção de uma revisão
crítica do nosso passado histórico e de nossas tradições
culturais, eliminação definitiva do nosso complexo de
colonizados, apegados a valores estrangeiros. Portanto,
todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista,
porém crítica, da realidade brasileira.
 Mário de Andrade, na conferência que fez em 1942
sobre a Semana de Arte Moderna, assim se referiu a
esse período: “E vivemos uns oito anos, até perto de
1930 na maior orgia intelectual que a história artística
do país registra”.
 Várias obras, grupos, movimentos, revistas e
manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro,
numa investigação profunda e por vezes radical de
novos conteúdos e de novas formas de expressão.
Vejamos alguns manifestos e revistas de destaque:
REVISTA KLAXON

Capa da Klaxon de agosto de 1922


 Recebe este nome do termo usado para
designar a buzina externa dos automóveis.
Primeiro periódico modernista, é
consequência das agitações em torno da
Semana de Arte Moderna. Inovadora em
todos os sentidos: gráfico, existência de
publicidade, oposição entre o velho e o
novo.
 
MANIFESTO DA POESIA
PAU-BRASIL
 Escrito por Oswald e publicado inicialmente no
Correio da Manhã. Em 1925, é republicado como
abertura do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald.
Apresenta uma proposta de literatura vinculada à
realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do
Brasil. Defendia a criaçao de poesia primitivista,
contruída com base na revisão crítica de nosso
passado histórico e cultural e na aceitação e
valorização das riquezas e contrastes da realidade e da
cultura brasileiras.
MANIFESTO REGIONALISTA
 1925 e 1930 é um período marcado pela difusão do
Modernismo pelos estados brasileiros. Nesse sentido,
o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca
desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste
nos novos moldes modernistas. Propõe trabalhar em
favor dos interesses da região, além de promover
conferências, exposições de arte, congressos etc. Para
tanto, edita-se uma revista. Vale ressaltar que o
regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos,
José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel
de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral, na 2ª fase
modernista em 1926.
ANTROPOFAGIA

Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928 óleo sobre tela


REVISTA DE ANTROPOGAFIA
 É a nova etapa do Pau-Brasil, sendo resposta a Escola da
Anta. Seu nome origina-se da tela Abaporu (O que come)
de Tarsila do Amaral.
 O Antropofagismo foi caracterizado pela assimilação
(“deglutição”) crítica das vanguardas e culturas europeias,
com o fim de recriá-las, tendo em vista o redescobrimento
do Brasil em sua autenticidade primitiva. Contou com
duas fases, sendo a primeira com dez números (1928 –
1929), sob direção de Antônio Alcântara Machado e
gerência de Raul Bopp, e a segunda publicada
semanalmente em 16 números no jornal Diário de São
Paulo em 1929, tendo como secretário Geraldo Ferraz.
VERDE-AMARELISMO E ANTA
 Grupos formado por Plínio Salgado, Menotti del
Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo em
resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil, criticando-se
o “nacionalismo afrancesado”, de Oswald. Sua
proposta era de um nacionalismo primitivista,
ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para
o Integralismo. Idolatria do tupi e a anta é eleita
símbolo nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-
amarelista publica o manifesto "Nhengaçu Verde-
Amarelo — Manifesto do Verde-Amarelismo ou da
Escola da Anta".
 A primeira geração do Modernismo contou com
muitos escritores. Entre eles, destacam-se Oswald
de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira,
Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Raul
Bopp, Ronald de Carvalho e Guilherme de
Almeida.
OSWALD DE ANDRADE
 A obra de Oswald de Andrade reúne todas as
características que marcaram a produção literária do
período. Escreveu poesia, romance, teatro, crítica e,
em todos os gêneros, deixou registrada a sua vocação
para transgredir, para quebrar as expectativas e criar
polêmica.
 Publicou, dentre outras obras, Os condenados (1922),
Memórias sentimentais de João Miramar (1924), Pau-
Brasil (1925), Primeiro caderno do aluno de poesia
Oswald de Andrade (1927), Serafim Ponte Grande
(1933), A morta (1937), O rei da vela (1937), e Marco
zero (1943-1946)
A POESIA
 Em seus poemas, Oswald de Andrade afirma uma imagem de
Brasil marcada pelo humor, pela ironia e também por uma
crítica profunda e um imenso amor ao país, como atesta o
lirismo de muitos de seus versos.
 Seu conceito de nacionalismo era diferente daquele pregado
pelos românticos e meso por certos grupos modernistas, como o
Verde-Amarelismo e o Anta. Sem ser ingênuo e ufanista,
Oswald defendia a valorização de nossas origens, de nosso
passado histórico e cultural, mas de forma crítica, isto é,
recuperando, parodiando, ironizando e atualizando a nossa
história de colonização
 Uma visão crítica da história do Brasil se manifesta na releitura
de textos e eventos do período colonial do Brasil. Percebe-se na
poesia de Oswald certa habilidade para desencadear efeitos de
sentido com uma linguagem simples e ágil. Essa característica
também será um aspecto definidor da sua prosa.
 A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo


Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
A PROSA
 Os dois romances escritos por Oswald de Andrade,
Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte
Grande, trouxeram para a literatura brasileira uma
estrutura inovadora. Os capítulos curtos formam um
imenso mosaico em que a realidade nacional é flagrada em
rápidos flashes, em técnica semelhante à poesia.
 Memórias sentimentais de João Miramar conta a história
de João Miramar, escritor, intelectual provinciano e filho
de ricos cafeicultores. Considerado um livro de vanguarda,
mantém o humor como lente pela qual a sociedade
brasileira é examinada de modo impiedoso. A estrutura do
romance, composto de 163 fragmentos, usa elementos da
linguagem cinematográfica. Escrita com grande economia
de linguagem, a obra é marca registrada da prosa do autor.
 Já Serafim Ponte Grande radicaliza a abordagem feita
em Memórias sentimentais de João Miramar. O
enredo se constrói pelo incessante deslocamento
geográfico da personagem principal, que embarca em
um navio cujos tripulantes fundariam a sociedade
ideal, em permanente estado de transformação. A
história desafia o leitor: são 203 fragmentos
organizados sem lógica aparente. Personagens
aparecem e desaparecem repentinamente, o estilo
flutua entre narração em primeira e terceira pessoas,
cartas, diários íntimos, fragmentos apresentados sob
forma de texto teatral, poemas, abaixo-assinados, etc.
 É considerado um romance revolucionário e seu
significado não se limita ao enredo, nasce
principalmente da organização dada à obra pelo mais
inquieto de todos os modernistas da primeira geração.
MÁRIO DE ANDRADE
 Com apenas 20 anos e com o pseudônimo de Mário Sobra,
publicou seu primeiro livro, Há uma gota de sangue em cada
poema, no qual fazia críticas à carnificina produzida pela
Primeira Guerra Mundial e defendia a paz. As inovações
formais da obra desagradaram aos críticos de orientação
parnasiana.
 O autor teve um papel decisivo na implantação do
modernismo no Brasil. Soube dar a substância teórica de
que necessitava o movimento em algumas ocasiões
decisivas: em 1922, meses após a Semana, publicou o seu
“Prefácio interessantíssimo”, texto teórico que abre
Paulicéia desvairada, sua primeira obra de poemas
verdadeiramente modernista. Em 1925, quando se
articulavam revistas e movimentos por todo o país, Mário
lançou o ensaio A escrava que não é Isaura, no qual
retomava e aprofundava suas considerações iniciais sobre
arte moderna.
 Entre 1924 e 1927, Mário de Andrade empreendeu
uma pesquisa profunda sobre a cultura brasileira –
o folclore, as lendas, os ritmos, a dança, os
costumes, as variações linguísticas –cujos
resultados contribuíram para a produção de obras
decisivas em sua carreira, como Macunaíma (1928)
 Da década de 1930 até 1945, Mário cultivou uma
poesia que toma duas direções: a poesia intimista
e introspectiva e a poesia social, de denúncia da
realidade brasileira.
 Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...


...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
 
 Na prosa, Mário escreveu contos publicados em
Primeiro Andar (1926) e Contos novos (1946), crônicas
reunidas em Os filhos da Candinha (1945), o romance
Amar, verbo intransitivo (1927) e a rapsódia
Macunaíma (1928). Em quase todas essas obras se
destaca a preocupação coma descoberta e a
exploração de novas técnicas narrativas e, ao mesmo
tempo, com a sondagem do universo social e
psicológico do ser humano das grandes cidades.
MACUNAÍMA: A REDEFINIÇÃO DO
HERÓI NACIONAL
 Publicado em 1928, Macunaíma, o herói sem nenhum
caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira.  
 Numa narrativa fantástica e picaresca, ou, melhor
dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de
um Sargento de Milícias (1852), de Manuel Antônio de
Almeida, Mário de Andrade reelabora literariamente
temas de mitologia indígena e visões folclóricas da
Amazônia e do resto do país, fundando uma nova
linguagem literária, saborosamente brasileira. 
 Macunaíma - bem como Memórias Sentimentais de João
Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), de Oswald
de Andrade - foram obras revolucionárias na medida em
que desafiaram o sistema cultural vigente, propondo,
através de uma nova organização da linguagem literária, o
lançamento de outras informações culturais, diferentes em
tudo das posições mantidas por uma sociedade dominada
até então pelo reacionarismo e o atraso cultural
generalizado.  
 Nacionalista crítico, sem xenofobia, Macunaíma é a obra
que melhor concretiza as propostas do movimento da
Antropofagia (1928), criado por Oswald de Andrade, que  
buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira
com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem
de fora, mas consumir aquilo que há de bom na arte
estrangeira. Não evitá-la, mas, como um antropófago,
comer o que mereça ser comido.  
 O tom bem humorado e a inventividade narrativa e
linguística fazem de Macunaíma uma das obras
modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura
de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse
romance encontram-se dadaísmo, futurismo,
expressionismo e surrealismo aplicados a um vasto
conhecimento das raízes da cultura brasileira.  
MANUEL BANDEIRA
 Manuel Bandeira compõe, juntamente com Oswald e
Mário de Andrade, a tríade maior da primeira fase
modernista, responsável pela divulgação e pela
solidificação do movimento em nosso país.
 Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia
de Manuel Bandeira, duas se destacam: o seu papel
decisivo na solidificação da poesia de orientação
modernista, com todas as suas implicações (verso
livre, língua coloquial, irreverência, liberdade
criadora, etc.) e o alargamento da lírica nacional pela
sua capacidade de extrair a poesia das coisas
aparentemente banais do cotidiano.
 Partindo de temas até então considerados
“pequenos” para a criação da “grande poesia”, tais
como a própria doença, o quarto, as ações
mecânicas do cotidiano, o jornal, a cultura
popular, etc., Bandeira cria uma poesia rica em
construção e significação, apesar de sua aparência
quase prosaica. A evocação do passado e a morte
como libertação são duas importantes temáticas
trabalhadas pelo autor.
 Profundamente

Quando ontem adormeci


Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
 — Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
MODERNISMO NO BRASIL
SEGUNDA GERAÇÃO (PROSA)
 Quando a literatura se volta para um retrato mais objetivo da
realidade, quase sempre o romance é o gênero que ela privilegia.
Nas décadas de 1930 e 1940, período em que o país e o mundo
viveram profundas crises, não foi diferente. O romance brasileiro de
então, encontrando no regionalismo uma de suas principais
vertentes, ganha matizes ideológicos e se transforma num
importante instrumento de análise e denúncia da realidade
brasileira.
 A Literatura Brasileira já apresentava uma tendência regionalista.
Desde o Romantismo, a busca de traços particulares da realidade
brasileira já estava presente em algumas obras, entretanto, neste
período, a partir das conquistas da primeira fase modernista e das
ideias socialistas, os autores dão um novo tom a esse regionalismo.
 O livro A bagaceira(1928), de José Américo é considerado o primeiro
romance regionalista do Modernismo. Mas seu valor deve-se mais à
temática histórica da seca, dos retirantes e ao aspecto social do que
aos aspectos literários.
Principais autores da prosa dessa segunda fase:

 Rachel de Queiroz
 Graciliano Ramos
 Jorge Amado
 Érico Veríssimo
 José Lins do Rego

 Quase todos esses autores voltaram-se basicamente


para os temas do Nordeste, como a seca, o cangaço e o
ciclo açucareiro. Com exceção de Érico Veríssimo que
apresentou uma obra voltada para as relações do
homem e a paisagem do Sul do Brasil.
RACHEL DE QUEIROZ(1910-2003)
 Rachel de Queiroz foi a primeira
mulher a se “eleger imortal” na
Academia Brasileira de Letras. Suas
obras regionalistas destacam-se pela
reflexão sobre a figura feminina numa
sociedade patriarcal.
 Em seu livro O quinze, conta a história
da luta de um povo contra a seca e a
miséria, tema marcante da prosa
modernista da segunda geração. A
força da mulher nordestina também é
tratada em toda sua obra. Entre as
suas figuras femininas destacam-se:
Conceição em O quinze e Maria
Bonita em O Lampião.
GRACILIANO RAMOS (1892-1953)

 Graciliano Ramos é considerado pela


crítica literária o melhor ficcionista
dessa segunda fase. Sua obra é
marcada pela ausência de
sentimentalismo e por um forte
poder de síntese, refletida na
linguagem direta e precisa. Entre
seus livros destacam-se Memórias do
Cárcere(1953) e São Bernardo(1934).
 Memórias do Cárcere é uma narrativa autobiográfica que
analisa as atrocidades cometidas pela Ditadura Vargas. Por
suas ligações com o partido comunista Graciliano Ramos
foi realmente preso durante um ano. Em São Bernardo,
Graciliano Ramos ao contar a história de Paulo Honório,
rico proprietário da fazenda São Bernardo, que se casa com
a professora Madalena, personagem fortemente
influenciada por idéias progressistas, faz uma reflexão sobre
o processo de coisificação do ser humano, (“muitas vezes
mais preocupado com o ter e do que com o ser”).
 Em Vidas Secas(1938), obra de extrema notoriedade, o autor
narra a história de uma família de retirantes que abandona
sua terra atingida por uma forte seca. A família é formada
por Sinhá Vitória, a mãe; Fabiano, o pai; seus dois filhos,
denominados apenas como menino mais velho e menino
mais novo e os animais: o papagaio e a cachorra Baleia.
ANÁLISE DA OBRA
 Publicado em 1930, o romance O Quinze, de
Rachel de Queiroz, renovou a ficção regionalista.
Possui cenas e episódios característicos da região,
como a procissão de pedir chuva que é um traço
descritivo da condição do retirante.
 Em O Quinze, primeiro e mais popular
romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime
intensa preocupação social, apoiada, contudo, na
análise psicológica das personagens, especialmente o
homem nordestino, forçado à aceitação fatalista do
destino. Há uma tomada de posição temática da seca,
do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o
psicológico se harmoniza com o social. A obra
apresenta a seca do nordeste e a fome como
conseqüência, não trazendo ou tentando dar uma
lição, mas como imagem da vida. Não se percebe uma
total separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita
através da personagem Conceição que pertence
realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo
dos romances sociais na divisão entre "bons pobres" e
"maus ricos", não condicionando inocentes ou
culpados.
ESTRUTURA DA OBRA – O Quinze
ENREDO

 A narrativa é recheada de amarguras. Bastaria a saga da


família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras
da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família
de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no
Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.
 A história de amor entre Vicente e Conceição poderia ser o
lado bom e humano da história. Não é, pois a falta de comunicação
entre os dois, o desnível cultural que os separa constituem
ingredientes amargos para um desfecho infeliz. É como se a seca,
responsável por tantos infortúnios, fosse causadora de mais uma
impossibilidade de ser feliz para quem tem consciência da miséria. É
um romance de profundidade psicológica. A análise exterior dos
personagens existe, mas sem relevo especial dentro do livro. A
autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem
interromper a narrativa para minúcias. O lado introspectivo,
psicológico é uma constante em toda a narrativa. Ao mesmo tempo
em que o narrador informa as ações dos personagens, introduz
interrogações e dúvidas que teriam passado por sua cabeça, por seu
espírito.
 A obra O Quinze aborda a seca de 1915, descreve alguns
aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos
mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é
interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste
Brasileiro e se dá em dois planos.
 No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua
família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e
criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.
Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler
vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o
que estranha a sua avó, Mãe Nácia que é representante das
velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na
fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de
ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se
"engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que
cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o
advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e
deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava
incessantemente para manter os animais vivos. Conceição,
trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam
alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso"
com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe
Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é
mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
 Vicente encontra-se com Conceição e sem perceber
confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo
indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a
razão. As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma
amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que
estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela
e não tinha a menor intenção de comprometimento. Conceição
percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase
impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam
para o Logradouro.
 O segundo plano é, sem dúvida, a parte mais importante
do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico
Bento com sua mulher e seus cinco filhos, representando os
retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara.
Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para
atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte,
extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome,
Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se.
Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa
passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma
cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não
tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais
alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo
buraco, à sombra das mesma cruz."
 Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar
uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de
ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas
as tripas para saciarem a fome. Léguas após, Chico Bento dá falta
do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Acarape, lugar onde
supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre
que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é
possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha
fugido com comboeiros de cachaça. E a conclusão fatal:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em
maior desgraça do que ficando com o pai?"
 Ao chegarem no campo de concentração, são
reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um
emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos.
Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São
Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
TÍTULO
 Evoca a terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de Rachel foi
obrigada a fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para Belém do
Pará. Compõe-se de 26 capítulos, sem títulos, enumerados.
CLASSIFICAÇÃO
 O Quinze é um romance regionalista de temática social. Mas com uma
visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na história, a divisão batida de
"pessoas boas e pobres” e de "pessoas más e ricas". A autora registrou no
papel a sua emoção, sem condicionar o romance a uma tese ou à
preocupação de procurar inocentes e culpados pela desgraça de cada um ou
mesmo do grupo envolvido na história.
TEMPO
 A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico
importante da época era a própria seca, obrigando os filhos da terra,
principalmente do sertão, a migrarem para o Amazonas ou para São Paulo,
à procura de vida melhor. Não há avanços nem recuos. A história é contada
de forma linear, valorizando o presente, o cotidiano das pessoas. O passado
é evocado raramente, muito mais por Conceição. A passagem do tempo
dentro do romance é marcada de maneira tradicional, obedecendo à
seqüência de início, meio e fim.
CENÁRIO

 O cenário do romance é o Ceará. Especificamente, a região


de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia
(avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de Dona
Maroca (patroa de Chico Bento). Há também, em menor
escala, o cenário urbano, destacando a capital, Fortaleza,
para onde migram os retirantes e onde mora Conceição.

LINGUAGEM

 O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da


linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há
exibicionismo da autora no uso de palavreado erudito.
Mesmo quando a dona da palavra é uma professora
(Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano.
 Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples,
sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da
linguagem moderna brasileira. A estas características
deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua
matéria está isenta do peso da idade. Em O Quinze,
Rachel usa o que lhe deu fama imediata: uma
linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão
literária e sem vínculo obrigatório a um falar
específico (modismo comum na tendência
regionalista).
 A sobriedade da construção, a nitidez das formas, a
emoção sem grandiloqüência, a economia de adjetivos
são recursos perceptíveis em todo o livro.
FOCO NARRATIVO

 O Quinze é romance narrado na terceira pessoa, ou


seja, o narrador é a própria autora. O narrador é
onisciente, portanto sabe tudo sobre os personagens,
por dentro e por fora. Conhece-lhes os desejos e
adivinha-lhes o pensamento. O Discurso livre indireto
Em vez de apresentar o personagem em sua fala
própria, marcada pelas aspas e pelos travessões
(discurso direto), o narrador funde-se ao personagem,
dando a impressão de que os dois falam juntos. Isto
faz com que o narrador penetre na vida do
personagem, no seu íntimo, adivinhando-lhe os
anseios e dúvidas.
RELAÇÕES INTERTEXTUAIS
 O QUINZE(RACHEL DE QUEIROZ) E VIDAS SECAS
(GRACILIANO RAMOS)
 
 - A migração dos personagens em busca de uma vida
melhor.
 - O simbolismo presente nos títulos das obras: O
Quinze – o título se refere a grande seca de 1915,
vivida pela escritora em sua infância. Vidas Secas –
título bastante sintético. Representa a vida sem fartura,
sem água, sem alimento; realidade do povo nordestino
do Brasil.
 O juazeiro é a única vegetação verde citada nos textos.
 Os personagens são vaqueiros – ênfase para os chefes
de família.
 Os homens bebem quando vão à cidade.
 As pessoas soltam o gado quando abandonam suas
casas.
 A única alegria retratada é a Festa de Natal.
 As narrativas ocorrem durante o período da Ditadura
Vargas.
O QUINZE (RACHEL DE QUEIROZ) E A
BAGACEIRA(JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA)

 O enredo baseia-se no êxodo da seca.


 Análise da vida dos retirantes.
 Relações de poder legitimadas pelo autoritarismo.
 Através das ideias do personagem Lúcio há uma
relação com o período da Era Vargas.
LETRAS DE MÚSICA – ÚLTIMO PAU-DE-ARARA /
TRISTE PARTIDA

OBRA DE ARTE – RETIRANTES


 CANDIDO PORTINARI, Retirantes (Retirantes), 1944.
 Óleo s/ tela 190 x 180 cm. Col. Museu de Arte de São
Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil.
A POESIA DE 30
 A poesia e o romance de 30 tomaram rumos diferentes,
embora tenham conservado algumas características em
comum. Os poetas de 30, interessados fundamentalmente
no sentido da existência humana, no confronto do homem
com a realidade, enfim, no “estar-no-mundo”, seguiram
caminhos diferentes, que vão da reflexão filosófico-
existencialista ao espiritualismo, da preocupação social e
política ao regionalismo, da metalinguagem ao
sensualismo.
 A segunda geração modernista, livre do compromisso de
combater o passado, manteve muitas das conquistas da
geração anterior, mas também se sentia inteiramente à
vontade para voltar a cultivar certos recursos poéticos que
o radicalismo da primeira geração tornara objeto de
desprezo, tais como os versos regulares, a estrofação
criteriosa e as formas fixas, como o soneto.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
 Como cronista e contista, escreveu, entre outras
obras, Fala, amendoeira, A bolsa e a vida, Quadrante 1
e 2 e cadeira de balanço.
 Na poesia, é possível observarmos a presença de pelo
menos quatro fases. Vejamos:
 1. Fase gauche: consciência e isolamento
 Nessa fase são comuns o pessimismo, o
individualismo, o isolamento, a reflexão existencial,
além de certas atitudes permanentes que se
estenderão por toda a obra do autor, tais como a
ironia e o uso da metalinguagem.
 Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto


desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
 
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
 
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
 
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
 
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
 
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
 
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
 2. Fase social
 Nessa fase, o eu-lírico de seus poemas manifesta
interesse pelos problemas da vida social, da qual
estivera isolado até então. De certa forma, o
gauchismo da primeira fase é deixado de lado. Essa
mudança de postura diante da realidade observada
nos poemas de Drummond relaciona-se ao contexto
histórico, marcado pelo nazi-fascismo e a Segunda
Guerra Mundial. No Brasil, viu-se ainda a Intentona
Comunista (1935) e a ditadura de Vargas (1937-45). Em
todo o mundo se verificava o crescimento de uma
literatura social engajada numa causa política.
 Percebe-se que muitos poemas são postos a serviço da
causa revolucionária, transformada em instrumento
de luta e de expressão da esperança e da
solidariedade.
Mãos dadas
 
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes,
a vida presente.
 
 3) O signo do não
 Na década de 1950, a poesia de Drummond tomou
novos rumos. O período crítico de guerras, ditaduras
e medo tinha passado. O mundo vivia então a Guerra
Fria e o poeta acumulava o desencanto de sua
aventura política pela poesia.
 A partir de Claro enigma, a criação poética de
Drummond começou a seguir duas orientações: de
um lado, a poesia reflexiva, filosófica e metafísica –
em que, com frequência, aparecem os temas da morte
e do tempo; de outro, a poesia nominal, com
tendências ao Concretismo, em que ressalta a
preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos
do texto.
 
 um ausente

Tenho razão de sentir saudade,


tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
 Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.


Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
 
 4) Fase final: tempo de memória
 A produção poética de Drummond das décadas de 1970 e 1980
dá amplo destaque ao universo da memória. Nela, ao lado de
temas universais, são retomados e aprofundados certos temas
que nortearam toda obra do escritor, tais como a infância,
Itabira, o pai, a família, a piada, o humor, o cotidiano e a auto-
ironia.

 Itabira

Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê


Na cidade toda de ferro
as ferraduras batem como sinos.
Os meninos seguem para a escola.
Os homens olham para o chão.
Os ingleses compram a mina.
Só, na porta da venda, Tutu caramujo cisma na
derrota incomparável.
MURILO MENDES
 Sua obra de estréia, Poemas, veio a público somente em
1930 e nela já se notavam alguns dos traços que iriam
marcar sua poesia futura: a dilaceração do eu em conflito,
a presença constante de metáforas e símbolos, a inclinação
para o surrealismo e os contrastes entre abstrato e
concreto, lucidez e delírio, realidade e mito.
 Posteriormente o autor enveredou por um caminho
bastante particular, conciliando poesia religiosa com as
contradições do eu, com a preocupação social e com o
sobrenatural surrealista. Criou assim, um conceito
particular de religiosidade, unido à arte e a um senso
prático da vida – erotismo, democracia e socialismo
 Em sua concepção religiosa, elementos contrastantes, tais
como: finito e infinito, visível e invisível, matéria e
espírito, não se excluem. Para ele, essas polaridades
confundem-se no Corpo Místico, em Deus e apenas
passam por uma experiência terrestre.
Poema espiritual
Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.
 
A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Cristo, dos filhos do homem és o perfeito.
 
Na Igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.
 
CECÍLIA MEIRELES
 Primeira mulher a alcançar destaque no cenário da
poesia brasileira, Cecília Meireles escreveu vários
livros de poesia em que desenvolveu as tendências da
corrente espiritualista da segunda geração. Na sua
obra destacam-se Espectros (1919), Baladas para El-Rei
(1925), Viagem (1939), Vaga música (1942), Mar
absoluto (1945), Retrato natural (1949), Romanceiro
da Inconfidência (1953), Canções (1956) e o livro de
poesias infantis Ou isto ou aquilo (1964).
 Sua sensibilidade manifestava-se na valorização da
intuição e da emoção como formas de interpretar o
mundo. O lirismo delicado que caracteriza sua poesia
está intimamente ligado a imagens da natureza (a
água, o mar, o ar, o vento, o espaço, a rosa, etc.) e do
infinito, compondo uma atmosfera de sonho e de
fuga.
 Dotada de um forte rigor formal, o trabalho de
Cecília Meireles apresenta preocupação com a seleção
vocabular e com o verso curto. A efemeridade das
coisas e a fugacidade do tempo – temas explorados
pela tradição clássica, especialmente pelo Barroco –
são também abordados pela poetisa e constituem um
dos pontos altos de sua poesia.
 
 Retrato
 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
 
VINÍCIUS DE MORAES
 Vinícius além de ser compositor conhecido da MPB, foi
também um dos mais importantes escritores da segunda
geração do Modernismo brasileiro. Cultivou poesia,
crônica e teatro.
 Nas obras iniciais, Vinícius aproximou-se de temas
trabalhados por outros autores da sua geração, como a
religiosidade e a angústia associada à oscilação entre
matéria e espírito.
 Aos poucos, porém, seu interesse voltou-se para
aspectos do cotidiano e para o relacionamento amoroso.
Nos seus inúmeros poemas de amor, a influência da poesia
camoniana é muito forte e pode ser observada na tentativa
de analisar o amor, na preferência pelo soneto como forma
poética e no uso freqüente de antíteses para expressar as
contradições próprias desse sentimento.
 Soneto da separação
 
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
 
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
 
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
INTERTEXTUALIDADE
• “Poema Sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade
e “Com licença poética”, de Adélia Prado.
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
 • Poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel
Bandeira; “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias;
“Canto de Regresso à Pátria”, de Oswald de Andrade.
Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
 
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive [...]
 
 Canção do exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 
Canto de regresso à pátria
Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

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