Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

GISLLANE ALMEIDA DOS SANTOS

FICHAMENTO
(Idade Média – Nascimento do Ocidente/ cap. I. Estruturas Demográficas)

Boa Vista-RR
2021.1
GISLLANE ALMEIDA DOS SANTOS

FICHAMENTO
(Idade Média – Nascimento do Ocidente/ cap. I. Estruturas Demográficas)

Trabalho apresentado ao curso de


Licenciatura em História da Universidade
Estadual de Roraima – UERR como
requisito para obtenção de nota do quinto
semestre na disciplina de História Medieval
do Ocidente, ministrada pelo prof.: Manoel
Ribeiro Lobo Junior.

Boa Vista-RR
2021.1
FRANCO JUNIOR, Hilário. “As estruturas demográficas”. In: Idade Média –
Nascimento do Ocidente. 2. ed. rev. e ampl. - São Paulo: Brasiliense, 2001.
Pp.21-38

1- AS ESTRUTURAS DEMOGRÁFICAS
1.1- “O surgimento da Demografia Histórica, há menos de cinco décadas,
enriqueceu consideravelmente o arsenal do historiador na sua tarefa de
compreensão do passado, e os medievalistas não poderiam, é claro, ficar
indiferentes a ela. Apareceram assim vários trabalhos metodológicos sobre as
especificidades da demografia medieval e inúmeras monografias sobre as
condições populacionais de mosteiros, senhorios*, cidades e mesmo regiões mais
amplas. A partir de tais estudos esboçaram-se sínteses parciais, e hoje já vemos
com certa clareza as estruturas demográficas medievais”. (p.21)
1.2- “[...] a conjugação de certos fatores (estiagens, enchentes, epidemias etc.)
por poucos anos seguidos alterava o quadro demográfico ao elevar ainda mais a
mortalidade”. (p.21)

2- A RETRAÇÃO DA PRIMEIRA IDADE MÉDIA


2.1- “As cidades começaram a se esvaziar, cada região tentou passar a produzir
tudo aquilo de que necessitasse, Tal fenômeno paradoxalmente aumentou a
insegurança, pois bastava uma má colheita para que a mortalidade naquele local
rapidamente se elevasse, devido às dificuldades em obter alimentos em outras
regiões [...] santo era sobretudo o homem que conseguia alimentos para seus
concidadãos [...] “a fraqueza demográfica engendrava a fraqueza dos
rendimentos e esta por sua vez engendrava a fraqueza demográfica, reforçando
assim a causa da pobreza”.” (p.22)
2.2- “No conjunto, uma estimativa antiga, mas de forma geral ainda aceita, calcula
que o total de germanos que se fixaram no império representava somente uns 5%
da população romana. Desta forma, não houve um reforço populacional
germânico, porque a chegada de algumas poucas dezenas de milhares de
bárbaros teve como contrapartida o despovoamento de regiões inteiras diante de
seu avanço”. (p.22)
2.3- “[...] o recuo demográfico foi produto do recrudescimento de epidemias. Do
século III ao V, de malária. Do século VI ao VIII, de varíola conjugada com a
mortífera peste. Como a difusão das doenças era acelerada pelo deslocamento
de comerciantes e soldados, elas fizeram-se mais presentes no litoral
mediterrâneo do que no interior europeu, já então mais isolado em razão da
debilidade e depois do desaparecimento do Estado romano. O sul da França e da
Itália foi atingido por quinze vagas de peste entre meados do século VI e meados
do século VIII, cada uma delas geralmente com alguns anos de duração”. (p.22)
3- A RELATIVA RECUPERAÇÃO DA ALTA IDADE MÉDIA
3.1- “[...] o que se percebe por meio de indícios esparsos na documentação — de
interpretação problemática — indica uma certa retomada demográfica na segunda
metade do século VIII [...]Esse fato talvez esteja ligado à reorganização
promovida pelos Carolíngíos, e talvez ajude mesmo a explicar a expansão
territorial realizada por Carlos Magno. Contudo, essa recuperação foi desigual no
tempo e no espaço. Em muitos locais, em muitos momentos, a fome e a
mortalidade continuavam acentuadas. Uma crônica da região do Mosela afirma,
em fins do século VIII, que “os homens comiam os excrementos uns dos outros,
homens comiam homens, irmãos comiam seus irmãos, as mães comiam seus
filhos”.” (p.23)
3.2- Segundo o autor, por falta de alimentos a sociedade do alto-medieval
buscava ter um certo equilíbrio populacional, desse modo, eram praticados
abortos e sacrifícios de recém-nascidos do sexo feminino. (p.23)
3.3- “Em suma, a recuperação populacional da Alta Idade Média parece ter sido
tímida, e logo absorvida pelos problemas decorrentes do fracasso do Império
Carolíngio e das invasões de muçulmanos, magiares e sobretudo vikings [...] Os
poucos dados numéricos fornecidos pelas fontes não são confiáveis, mas as
descrições dos cronistas indicam o alcance dos estragos resultantes das
incursões vikings [...] De todos os lados os cristãos são vítimas de massacres, de
pilhagens, de devastações, de incêndios”. (p.24)

4- A EXPANSÃO DA IDADE MÉDIA CENTRAL


4.1- “Apesar da inexistência de uma documentação quantitativa, é inquestionável
aquele crescimento na Idade Média Central, como se percebe por cinco claros
indícios [...] O primeiro deles, um acentuado movimento migratório [...]De fato,
podemos constatar para aquela fase a ocorrência de quatro grandes tipos de
migração: 1) migrações habituais, ou seja, deslocamentos de população [...] 2)
migrações coloniais, como as que levaram à formação de entrepostos comerciais
italianos no Oriente [...] 3) migrações extraordinárias [...] 4) migrações sem
instalação [...]”. (p.25)
4.2- “Um segundo indício da expansão demográfica da Idade Média Central é o
movimento de arroteamentos, que fazia recuar as florestas, os terrenos baldios,
as zonas pantanosas [...] Terceiro indício: aumento do preço da terra e do trigo
[...]Um quinto indício de que a população européia ocidental crescia bastante
entre os séculos XI e XIII é proporcionado pelas transformações sofridas pela
arquitetura religiosa. A própria passagem do românico para o gótico — deixando
de lado por ora todas as suas implicações estéticas, filosóficas, mentais — reflete
a necessidade de áreas internas maiores, capazes de abrigar um número
crescente de fiéis”. (pp-26-28)
4.3- “ [...] devemos lembrar que naquele período dois fatores que anteriormente
elevavam a mortalidade tiveram seu alcance reduzido. O primeiro deles — ainda
insuficientemente esclarecido — foi a ausência de epidemias, com o recuo da
peste e da malária, continuando apenas a lepra a ter certa intensidade [...] O
segundo fator a considerar é o tipo de guerra, que não envolvia grandes tropas de
combatentes anônimos, como nas legiões romanas ou nos exércitos nacionais
modernos: a guerra feudal era feita por pequenos bandos de guerreiros de elite,
os cavaleiros. As batalhas propriamente ditas eram raras”. (p.30)
4.4- “ E claro que durante essas lutas alguns senhorios eram devastados, porém
o efeito destruidor da guerra geralmente fazia-se sentir apenas de forma local. O
raio de ação de um grupo de cavaleiros era bastante reduzido, em virtude das
dificuldades de deslocamento e de aprovisionamento [...] Acima de tudo, a guerra
feudal não objetivava a morte do adversário, apenas sua captura. Como uma das
obrigações vassálicas era pagar o resgate do senhor aprisionado, c como na
pirâmide hierárquica feudal quase todo nobre, além de ser vassalo de outros,
tinha seus próprios vassalos, capturar um inimigo na guerra era obter um
rendimento proporcional à importância do prisioneiro”. (p.31)
4.5- “A abundância de terras cultiváveis fica atestada pelos arroteamentos
empreendidos durante a Idade Média Central, possíveis graças à existência de
largos espaços a serem conquistados à natureza. Diante disso, é possível pensar
que o aumento da produtividade agrícola nos séculos XI-XII deveu-se, pelo
menos em parte, ao fato de se cultivarem terras virgens — ou praticamente isso,
por terem ficado inexploradas por longo tempo — e portanto de maior fertilidade.
Outro fator que contribuiu para a expansão demográfica medieval foi a suavização
do clima.” (p.32)
4.6- “[...] dentre os aperfeiçoamentos técnicos da época, três exerceram uma
ação direta sobre a elevação da produtividade agrícola: a nova atrelagem dos
animais, a charrua pesada e o sistema trienal [...] A nova atrelagem substituiu as
correias colocadas no pescoço do animal, que pressionavam a jugular e a
traquéia, por uma espécie de coleira rígida que não estrangulava. Assim, o cavalo
pôde desde então ser utilizado nos serviços agrícolas, o que representou um
grande ganho de energia: boi e cavalo têm a mesma força de tração, porém este
último desloca-se uma vez e meia mais rápido e pode trabalhar uma ou duas
horas a mais por dia. Viabilizou-se dessa forma a utilização da charrua”. (p.33)
4.7- “As inovações tecnológicas não apenas produziram uma maior quantidade de
alimentos como, sobretudo, uma melhor qualidade. Até aquela época a dieta era
mal balanceada, porque, baseada em cereais, fornecia muitas calorias e hidrato
de carbono e poucas proteínas e vitaminas. A alteração então ocorrida na dieta
talvez explique a mudança na proporção entre população masculina e feminina,
favorável à primeira na Alta Idade Média e à segunda posteriormente”. (p.34)

5- O RESSURGIMENTO DA PESTE NA BAIXA IDADE MÉDIA


5.1- “O aumento populacional tinha implicado a derrubada de grandes extensões
florestais, já que a madeira era o principal combustível e material de construção:
em 1300 as florestas da França cobriam 1 milhão de hectares a menos que hoje
(57: 80). Dessa forma comprometia-se o equilíbrio ecológico, provocando
mudanças no regime pluvial e portanto no clima, elemento fundamental para uma
sociedade agrária como aquela.” (p.35)
5.2- “O clássico estudo de Henry Lucas (22:1930, 343-377) mostra que as chuvas
constantes e a queda de temperatura prejudicavam as vinhas, a produção do sal
que se dava por evaporação, e sobretudo a produção dos cereais, cujos grãos
não cresciam nem amadureciam”. (p.35)
5.3- “A fome fazia grande quantidade de vítimas. O canibalismo tornou-se comum.
Diferentes epidemias agravavam a situação. Impulsionada pela fome, muita gente
vagava em busca do que comer, levando consigo as epidemias e a desordem”.
(p.35)
5.4- “Na verdade, este foi apenas um ensaio da crise demográfica da Baixa Idade
Média, que teve seu ponto crucial no ressurgimento da peste, então conhecida
por peste negra. Ela apresentava-se de duas formas. A bubônica (assim chamada
por provocar um bubão, um inchaço) tinha uma letalidade (relação entre os
atingidos pela doença e os que morrem dela) de 60% a 80%, com a maioria
falecendo após três ou quatro semanas. A peste pneumônica, transmitida de
homem a homem, tinha uma letalidade de 100%, fazendo suas vítimas depois de
apenas dois ou três dias de contraída a doença.” (p.36-36)
5.5- “Democrática e igualitária, a peste atingia indiferentemente a todos. Ao
contrário do que os historiadores sem conhecimento médico sempre afirmaram, a
má nutrição não era condição agravante. Ricos e pobres, organismos bem e mal
alimentados, eram igualmente suscetíveis à peste. A diferença residia no fato de
se estar mais ou menos exposto ao contágio. Grupos como coveiros, médicos e
padres eram mais atingidos por razões profissionais. As zonas rurais, de
população mais esparsa, eram mais poupadas que as cidades. A única
possibilidade de salvação estava em manter-se afastado dos locais tocados pela
peste [...]A peste negra foi a maior catástrofe populacional da história ocidental:
num intervalo de tempo bem menor, matou, em termos absolutos, mais do que a
Primeira Grande Guerra Mundial e, em termos relativos, considerando-se a
população européia nos dois momentos, mais do que a Segunda Guerra
Mundial”. (p.36-37)

Você também pode gostar