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LIÇÃO 02

LEVANTAMENTO DO CONTEXTO
Análise Literária - Crítica Literária

1. CONTEXTO
“A lei do contexto é uma das primeiras leis que regem a interpretação.
Muitas interpretações errôneas têm sua origem na desconsideração desta
norma tão óbvia.”
A palavra “contexto” é composta por duas palavras latinas: “con”, que significa “junto”
e “textus”, que significa “entretecido”, e denota algo que é “entretecido ou entrelaçado”.
Assim, conceituamos que o contexto é:
“O conjunto de elementos físicos ou situacionais que ajudam o receptor
da mensagem a compreendê-la. Esses elementos caracterizam o texto,
que é uma comunicação de ideias expressas através de palavras escritas.”
Aplicados a documentos escritos, expressa a conexão de pensamento que existe entre
diferentes partes para fazer dela um todo coerente. Assim, contexto é o nexo recíproco
dos vários elementos duma oração, sejam próximos (contexto imediato), sejam distantes
(contexto remoto).
Num texto, ou uma sequência de textos, o “contexto” é constituído pela sequência de
parágrafos ou blocos que precedem e seguem imediatamente o texto, e que podem, de
uma forma ou de outra, fazer pesar sobre o texto certas coerções. O contexto é
fundamental para entender a linguagem empregada.
A “relação” entre texto e contexto é fundamental para que a “mensagem a ser
transmitida seja compreendida”. Quando um leitor começa a ler um texto, a primeira
coisa que ele faz, mesmo que inconscientemente, é tentar compreender a que o conteúdo
se refere. À medida que a leitura avança, alguns elementos ajudam a compreender qual
assunto está sendo abordado.
- A Importância do Contexto
Um dos reconhecidos problemas hermenêuticos são os chamados textos de “prova”. São
textos isolados do contexto usados por determinados intérpretes para aquilatar certas
asseverações teológicas, dogmáticas ou culturais. “Textos de prova”, segundo a
hermenêutica contextual, são secundários para a validação de uma interpretação,
simplesmente porque erram ao desconsiderar o contexto.
1.2. Importância de se Conhecer o Contexto
O exame do contexto é extremamente importante por três razões:
a) As palavras, as locuções e as frases podem assumir sentidos múltiplos.
O “contexto” neste caso vai “determinar” qual o sentido exato do termo
usado, como veremos adiante. Não somos escusados de frisar que não
basta apenas decompor o termo considerado em seus aspectos
etimológicos, é necessário compreendê-lo em relação ao conjunto geral
da frase.
O “significado” de um “termo” nem sempre se projeta baseado em sua raiz. E
necessário que se analise o signo linguístico com a luz refletida pela frase e pelo
contexto a que pertence. No entanto, verdade é que um vocábulo espelha o significado
de sua raiz e de sua composição.
O “estudo etimológico” é útil e necessário em vários casos, mas não significa que em
todos os textos essas análises sejam extremamente necessárias, ou que os termos
significarão aquilo que a raiz determina, daí a necessidade do estudo diacrônico da
1inguagem (isto é, histórico, as mudanças ocorridas aos vocábulos em certos períodos).
b) Os pensamentos normalmente são expressos por sequência de
palavras ou de frases. Os sentidos de uma palavra (unidade) podem ser
capta- dos de acordo com a frase (conjunto), pois o termo e a frase estão
associados dando entendimento um ao outro, da palavra à frase (várias
unidades formando um conjunto) e da frase à palavra (o conjunto
limitando, aí o sentido da palavra).
Deve-se lembrar que o sentido de um termo qualquer em uma frase geralmente é
determinado pelos artigos, verbos, adjetivos, etc., que o precedem e sucedem (tal como
veremos no contexto gramatical).
O vocábulo manga (fruta) e manga (camisa) são termos com o mesmo som e grafia,
porém de significado distinto (homônimos homógrafos perfeitos). Somente a frase
(geral) é que determinará se a palavra (unidade) deve ser interpretada como uma fruta,
ou tratar-se de parte de vestuário onde se enfia o braço (camisa).
c) Desconsiderar o contexto acarreta interpretações falsas, além de se
constituir numa eisegese.
Concernente aos tipos de contexto estudaremos dentro do “contexto literário”.

2. CONTEXTO HISTÓRICO
Os contextos subsequentes e remotos são muito úteis para a interpretação de qualquer
texto bíblico. Não podemos ignorar, entretanto, os matizes histórico-culturais e literários
que enriquecem e adornam a mensagem de determinados versículos. Esta realidade
parte da premissa de que o hagiógrafo não é uma tabula rasa33, isto é, um indivíduo
alheio à cultura de seu tempo e desprovido de qualquer saber que o habilite a ter um
pré-conhecimento da realidade.
A “inspiração divina” sobre os sacros escritores não eliminou suas idiossincrasias
(particularidade comportamental própria de um indivíduo) e, portanto, valeu-se do
registro operado pelos órgãos dos sentidos e da cultura do tempo de cada um. Às vezes,
nos escritos sacros, vazam essa cultura dando beleza e fortalecendo a mensagem.
De acordo com Gordon D. Fee - Douglas Stuart:
“A situação histórica na qual, ou para a qual, uma parte específica das
Escrituras foi escrita precisa ser “entendida” para que o seu “significado”
seja plenamente compreendido. É claro que há passagens menos
rigorosamente “históricas” do que outras. Mas conhecer o contexto, o
ambiente social, o cenário histórico e geográfico, e a data, é normalmente
essencial para a avaliação do significado da passagem. A Bíblia é uma
revelação tão historicamente orientada que ignorar o contexto histórico
tende a garantir uma interpretação equivocada.”
Um princípio básico da interpretação é que uma passagem “não pode significar o que
ela nunca quis significar”. Em outras palavras, você deve saber a que fatos, situações,
épocas, pessoas e lugares a passagem se referem, se não quiser removê-la do contexto
específico que lhe confere o seu verdadeiro sentido.
Antes de estudar qualquer frase, parágrafo, ou alguma outra subseção de um
documento, é necessário que se tenha sempre uma boa idéia geral dele.
 Quem é o autor?
 Quem são os destinatários?
 Qual é o relacionamento entre ambos?
 Onde os destinatários vivem?
 Quais são suas circunstâncias no momento?
 Que situação histórica levou à composição do documento?
 Qual é o propósito do autor?
 Qual é o tema geral ou preocupação do autor?
 O argumento ou a narrativa têm um esboço facilmente discernível?
2.1. Estudando o contexto histórico em geral
2.1.1. Leia todo o livro de uma só vez
Não há substituto para esse passo. Não se começa a fazer a exegese de um livro no
primeiro versículo do capítulo inicial. O primeiro passo é sempre ler todo o livro. Você
precisa ter uma noção do todo antes de analisar suas partes. Você adquirirá essa noção
ao ler o texto integralmente. [Note-se que é possível ler uma carta do tamanho de
Filipenses em voz alta (aliás, um bom exercício) em cerca de treze minutos, assim,
deve-se ler documentos mais curtos por inteiro algumas vezes em dias consecutivos
antes de começar um projeto de exegese.]
Depois da primeira leitura, leia por alto todo o texto do livro pela segunda vez e faça
anotações sobre o seguinte (com referências):
2.1.2. Descubra tudo o que puder sobre os destinatários.
 Eles são judeus ou gentios?
 Ou uma combinação de ambos?
 Que relação eles têm com o autor?
 Existem indícios sobre a sua situação socioeconômica?
2.1.3. Descubra tudo o que puder sobre o propósito.
 O autor explicitamente diz algo a respeito?
 O que está implícito?
2 .1.4. Observe ênfases especiais ou questões emergentes.
 Que palavras ou ideias são frequentemente repetidas?
 Que vocábulos incomuns recorrem?
 O que, se for o caso, essas coisas podem-lhe informar sobre a ocasião ou o
propósito?
2.1.5. Faça um esboço anotado de todo o livro (para ser revisto no estudo mais adiante).
Depois de sentir-se mais à vontade com o livro como um todo, prossiga para os
próximos passos.
 Pesquise sobre o pano de fundo histórico
 Pesquise o ambiente social
 Pesquise o cenário histórico
 Pesquise o aspecto geográfico
3. CONTEXTO LITERÁRIO – faz parte “observação”.
“A Literatura está presente em todas as civilizações, das mais antigas tribos até no
cotidiano das grandes cidades contemporâneas. Seja nos livros clássicos, seja nos muros
das capitais, manifestações verbais podem ser consideradas expressões literárias - mas
todas civilizações estão inseridas no contexto de literatura bíblica.”
Os escritores estavam familiarizados não somente com a cultura contemporânea à sua
época, mas também com a “literatura poética e filosófica”. Chama-se de “contexto
literário” (no âmbito bíblico) o contexto que é próprio à “literatura e publicações ”
correntes no período veterotestamentário ou neotestamentário, e que servem como
“fundo literário” para a compreensão dos matizes (diferentes) literários das Escrituras.
Ao “contexto literário” alia-se o estudo das “formas literárias”. Esse método combina a
“crítica dos gêneros literários” com a investigação de sua história. A “crítica dos
gêneros literários” investiga-os com base em determinados critérios. A história dos
gêneros é a história de seu uso no quadro da história das “civilizações”.
Costuma-se dizer que um “texto sem contexto é um pretexto - uma
desculpa para que a suposição de alguém possa ser confirmada pelo
texto”. Em outras palavras, muitas interpretações equivocadas da Bíblia
são devidas à negligência do contexto literário.
Para compreender uma passagem, você precisa tentar ver se ela se encaixa numa
unidade literária (ou várias) mais ampla do que naquela em que ocorre: por exemplo, o
capítulo, a seção do livro bíblico e o livro como um todo. O “contexto literário”,
portanto, envolve os contextos (plural). O texto é muitas vezes semelhante ao centro de
vários círculos concêntricos, cada um deles representando uma seção maior do livro
bíblico.
3.1. Tipos de Contexto
A interpretação da Bíblia deve levar em consideração os diversos tipos de contexto.
Esses contextos são geralmente considerados “contexto inicial, contexto imediato ou
próximo; contexto remoto ou restrito e amplo – contexto retórico”.
3.1.1. Contexto Inicial
E a própria frase ou versículo em que o termo foi usado. Antes mesmo de recorrer ao
contexto imediato e remoto, é extremamente necessário entender o texto (frase) onde o
termo aparece em seu conjunto. Na “análise contextual” decompõe-se o texto em suas
partes fundamentais. A postura do intérprete é primariamente analítica, e só depois
crítica. Na análise das unidades que estruturam o texto, pretende-se conhecer sua
estrutura a fim de absorver sua mensagem com todo colorido pincelado pelo autor.
Analisar o texto é entrar em diálogo com o seu autor.
No “contexto inicial”, os vários sentidos de uma mesma palavra podem relacionar-se
através de um significado tênue, mas comum. No “contexto inicial”, saber se o
vocábulo está sendo usado em sentido literal (denotativo) ou sentido figurado
(conotativo) é imprescindível.
 “Sentido literal ou denotativo” é o uso do signo linguístico
(palavra/representação gráfica) com seu significado próprio, que não permite
mais de uma interpretação.
 “Sentido figurado ou conotativo” é o uso do signo linguístico com novos
significados e com novas interpretações oferecidas pelo contexto ou não.
A palavra ou o significante, com seu sentido denotativo ou seu sentido próprio, é
muito comum nos textos informativos, narrativos e históricos, ainda que estes textos
não excluam o uso do sentido conotativo.
O significado denotativo dificilmente permite ambiguidade (diferentes sentidos) na
interpretação ou leitura do texto. Já a palavra (significante), com seu sentido figurado
(conotativo), renova o sentido da palavra.
O significado conotativo permite ambiguidade na interpretação ou leitura do texto, por
isso, no estudo do contexto inicial, é necessário conhecer as mutações semânticas que
um mesmo vocábulo pode possuir no texto.
O “sentido conotativo” pode apresentar-se também como um símbolo, figura, tipo, ou
até mesmo abrangendo termos característicos da cultura semita, e geralmente os termos
não correspondem àqueles registrados nos dicionários. A palavra adquire sentido
figurado dentro do texto, à medida que é relacionada a outras palavras. Deve-se cuidar
principalmente quando o autor usa uma figura de estilo, tais como o símile, a metáfora,
o eufemismo ou outra qualquer.
O “sentido denotativo”, que é o significado comum e usual da palavra, é encontrado
nos dicionários. Sobre essa designação denotativa da palavra, deve-se prestar atenção
nos termos:
Sinônimos: Palavras de significantes (letras) diferentes e significados (conceitos)
semelhantes. Exemplo: luminária - candeeiro/candeia/lâmpada (Hb 9.2; Mc 4.21; SI
119.105; Pv 20.20);
Antônimos: Palavras de significantes (letras) diferentes e significados (conceito)
opostos. Exemplo: justo - ímpio (Pv 21.12); prudente - simples (Pv 22.3), rico - pobre
(Pv 22.2);
Homônimos: Palavras de significantes iguais e significados diferentes:
a) canto, do verbo cantar), e canto como ângulo (S1I00.2;98.5; Pv 21.9; At 26.26);
b) lança (arma), lança (do verbo lançar) (Jo 19.34; Ec I I.I).
Homônimos Homófonos:
Mesmo som, mas grafias (letras) diferentes:
a) cega - tornar cego; sega - colheita, ceifa (Ex 23.8,16; Dt 16.19; Jr 5.17:51.33);
b) expiar - purificar; espiar - observar secretamente (Dn 9. 24; Ez 43.20; G1 2.4; Jz
18.2).
Homônimos Perfeitos: Os que são homógrafos e homófonos ao mesmo tempo (tem
escrita e pronúncia idênticos, mas significados distintos), como: pêlo - do corpo de um
animal; pelo - preposição (Mt 3.4; 21.8).
No “contexto inicial”, o importante não é o estudo isolado de uma palavra (interpretação
léxical) com seu significado “etimológico e diacrônico” (o estudo histórico da palavra),
e sim, ao sentido particular em que ela ocorre no texto.
O intérprete deve determinar se as palavras são usadas em sentido geral ou particular; se
empregadas em sentido literal ou figurado. Deve levar em conta também o aspecto
dinâmico de muitos textos. Deve-se levar em conta a variedade de significados
(polissemia) que uma palavra pode ter em uma mesma época, inclusos nos escritos de
um mesmo autor.
A “guisa de epílogo” (modo de conclusão), deve-se frisar acerca do contexto inicial
que:
1) O significado de uma palavra deve ser determinado, levando em conta o
marco cultural e costumes que imperavam durante a composição do texto, o
chamado usus loquendi. Por exemplo, “Moabe é a minha bacia de lavar/ sobre
Edon lançarei as minhas sandálias” (SI 108.9); “Dizendo, pois, o remidor a
Boaz: Compra-a para ti, descalçou o sapato” (Rt 4.8).
2) Deve-se examinar cuidadosamente os sinônimos, parônimos e homônimos; se
o sentido pretendido pelo autor é denotativo ou conotativo.
3) Deve-se dar devida atenção aos termos principais, às palavras com aspectos
litúrgicos ou que expressam a teologia do seu tempo, por exemplo: sacrifícios,
holocaustos, ofertas, luas novas, estender as mãos, purificar (Is I.I I-I7),
tradições de homens, Corbã (Mc 7.8,11), jurar pelo santuário e pelo altar (Mt
23.16-18).
4) Deve-se levar em conta a variedade de significados (polissemia) que uma
palavra possa ter numa mesma época - no autógrafo só haverá um significado
(monossemia) e incluso nos escritos de um mesmo autor. Um autor bíblico não
escreve uma coisa pensando noutra.10 O termo kosmos (mundo), por exemplo,
em cada um dos textos analisados, possui sentidos distintos, e somente o
contexto imediato esclarece o conceito pretendido pelo autor.
3.1.2. Contexto Imediato ou Próximo
O “contexto imediato”, consequente, “micro-contexto” ou subsequente é aquele que
procede imediatamente ao texto (que se segue ou que continua ‘origem’). Quando o
texto está numa sequência ordenada, é um termo ou texto que sucede imediatamente
(depois) o outro de modo racional, lógico e coerente.
Em linguística chama-se micro-contexto, o “contexto imediato” da palavra considerada,
isto é, a palavra que precede e a palavra que segue, em oposição ao “macro-contexto”,
que designa um contexto maior – isto é, o “contexto imediato” é aquilo que vem antes
ou depois do verso que lemos.
O “contexto imediato” de um versículo ou texto é formado pelos textos que antecede e
sucede a passagem, isto é, o versículo considerado.
Deve-se:
1) verificar a situação histórica do texto;
2) saber quem foi o autor;
3) a quem o autor destinou o escrito;
4) e qual foi o propósito do autor.

Assim sendo:
 O contexto imediato de um versículo é o parágrafo pelo qual é formado;
 O contexto de um parágrafo é o capítulo que o forma;
 O contexto do capítulo é todo o livro.
Deve-se observar que nem sempre os parágrafos ou blocos, tal como se
encontram nas atuais edições das Escrituras, estão coerentemente divididos. As
vezes bipartem as ideias centrais do texto como se fossem unidades distintas.
Nunca é demais insistir que:
 A exata extensão da delimitação do texto é “conditio sine qua non” para uma
compreensão perspicaz das unidades que ο acompanham;
 A determinar essas integridades lógicas subjaz uma compreensão dos
movimentos sucessivos do texto, no decurso dos quais produz, abandona e
ultrapassa teses ligadas umas às outras numa ordem racional;
 A delimitação dos textos auxilia na determinação do conteúdo, de forma que o
analista é capaz de saber se as unidades são congruentes e perfeitamente unidas,
ou se verifica elisão (supressão) de ideias e conceitos cuja estrutura dificulta a
claridade do texto, o chamado contexto irregular.
3.1.3. Contexto Remoto, restrito ou amplo
O “contexto remoto”, consequente, “macro-contexto”, também chamado de restrito,
amplo, imediato ou remoto de uma palavra ou de um versículo, é um contexto maior
que a palavra ou o versículo que precede ou segue o versículo considerado.
O “contexto remoto” é formado pelas passagens que não vêm imediatamente antes ou
depois do texto, mas que se referem ao assunto do texto. Além de o exegeta contar com
o esclarecimento do texto, derivado do contexto imediato, ele também é auxiliado pelo
contexto remoto. Pois este é formado por todas as passagens que se referem ao assunto
do texto - O “contexto remoto ou amplo é a divisão do livro bíblico no qual ela ocorre e,
então, no livro como um todo.
No “contexto remoto ou amplo”, o importante é verificar o tema exposto pelo versículo,
parágrafo e capítulo e como ele se relaciona com o esboço geral do livro, e com temas
semelhantes em outros livros. Quanto mais estudamos sobre o contexto, mas
impressionado ficamos pelo respeito dos escritores sacros a esta norma.
Por exemplo, o contexto imediato da história do encontro de Nicodemos com Jesus
(João 3) inclui os eventos narrados e interpretados no capítulo, especialmente no
capítulo 2, assim como o encontro subsequente de Jesus com a mulher samaritana, no
capítulo 4. O contexto amplo inclui a primeira metade do Evangelho, muitas vezes
chamado “o livro dos sinais” (João 1:19—12:20, seguindo o prólogo), além do
Evangelho de João como um todo.
Uma ajuda útil, quase necessária, na tarefa de análise contextual, especialmente para o
contexto amplo, é um esboço (mesmo que breve) do livro da Bíblia em que a passagem
está inserida. Esboços podem ser encontrados em muitas edições da Bíblia e em
dicionários bíblicos, textos introdutórios e comentários. Entretanto, o ideal é que os
estudantes construam seus próprios esboços dos livros bíblicos que estão estudando.
3.1.4. Contexto Retórico
Somado ao contexto literário, o texto também tem um contexto retórico. A retórica é a
arte efetiva (e, portanto, muitas vezes persuasiva) de falar e escrever. De acordo com
Cícero, o propósito da retórica é o ensino, o prazer, e mexer com ouvintes e leitores.
Assim, o contexto retórico faz referência ao lugar da passagem na estratégia global do
documento no sentido racional, artístico e/ou influência e persuasão emocional. O
contexto retórico é uma função do contexto literário, porém é mais que isso.
Analisar o contexto literário significa perguntar onde o texto está localizado; analisar o
contexto retórico significa perguntar por que o texto está aí situado. A questão
fundamental é saber que efeito o texto produziu, ou pode ter produzido, sobre os leitores
em virtude de sua condição dentro um discurso maior.
Por exemplo, a relação de João 3 com os pequenos e os mais extensos segmentos de
textos mencionados anteriormente poderá afetar o modo como entendemos a narrativa
do encontro de Nicodemos com Jesus.
O exegeta com conhecimento médio, e mesmo o erudito bíblico não podem esperar
compreender todo os meandros da crítica retórica. Será útil conhecer algumas das
estruturas básicas da retórica indicadas no próximo capítulo, mas talvez a mais
importante ferramenta para a análise retórica é a imaginação disciplinada.
Qualquer “obra literária” (autores) sempre apresenta, em suas literaturas, várias fontes
de pensamentos que se encontram relacionadas com a composição e coerção literária de
vários textos tanto veterotestamentário como neotestamentários.
 O contexto histórico e o literário, às vezes, convergem simultaneamente
esclarecendo o sentido de determinados textos.
 O contexto literário também pode auxiliar a interpretação dos versículos.
A análise do “contexto literário” tem interesses diferentes dos da “análise histórica”. A
preocupação aqui não é com todo o contexto histórico, que se aprende de quaisquer
fontes, mas com a “maneira peculiar” pela qual um autor inspirado, ou editor, colocou
uma passagem nos limites de todo um bloco de literatura. Na maioria das vezes, o
“contexto literário” mais importante de uma passagem será:
 O livro no qual a própria passagem se encontra?
 Como a passagem se encaixa no livro?
 Qual é a sua contribuição para o desenvolvimento estrutural do livro?
 Qual a contribuição da estrutura do livro para a passagem?
 Estão entre as principais perguntas no estudo do contexto literário na exegese.
Não há como evitar alguma sobreposição entre o contexto histórico e o literário. A
escritura é uma revelação historicamente orientada e, portanto, seu desenvolvimento e
organização literários tenderão a corresponder, de modo geral, à história com a
interação com o povo. Ao considerar os contextos literal e retórico, então você vai fazer
a si mesmo perguntas, tais como:
3.1.5. Examine a função literária
 A “passagem” é parte de uma história, ou de um “complexo literário”, que tem
começo, meio e fim?
 Ela se encaixa, acrescenta, introduz, conclui ou contrabalança a porção ou o
livro da qual faz parte? É auto-suficiente?
 Poderia ser colocada em algum outro lugar ou é essencial ao contexto atual?
 O que ela acrescenta ao quadro total?
 O que o quadro total adiciona a ela?
3.1.6. Examine a localização
 Como a passagem se encaixa na seção, no livro, na divisão, no Testamento, na
Bíblia - nessa ordem?
 O que você é capaz de descobrir sobre seu estilo, tipo, propósito, nível de
integração literária (nível em que a passagem é ligada ou "entrelaçada" com o
restante do livro), função literária etc.?
 O texto é um dos muitos textos semelhantes no mesmo livro, ou talvez no AT
como um todo?
 Em que sentido sua natureza é única em relação ao material circundante, e/ou
sua posição no material é singular?
3.1.7. Examine os detalhes
 Quão abrangente é a passagem?
 Se for histórica, até que ponto é seletiva?
 Em que ela concentra a atenção e o que ela não menciona?
 Registra os acontecimentos a partir de uma perspectiva especial?
 Se for assim, o que ela lhe diz sobre o propósito especial da passagem?
 De que forma essa perspectiva se relaciona com o contexto mais amplo?
 Se ela for poética, qual é a amplitude de seu alcance?
 Algum detalhe o ajuda a determinar sua composição com base numa situação
cultural ou histórica específica?
 Os detalhes fornecem alguma idéia sobre as intenções do autor?
3.1.8. Analise a autoria
 O autor da passagem é identificado, ou identificável?
 Se o autor for identificado, quão segura é sua identificação?
 Se a passagem for anônima, é possível sugerir, de modo geral, a provável fonte
humana ou o ambiente a partir do qual Deus comunicou sua palavra?
 E possível saber a data da escrita, independentemente de a identidade do autor
ser conhecida com certeza absoluta?
 O material originalmente escrito por outro autor pode ter sido reutilizado,
adaptado, ou incorporado mais tarde numa estrutura maior por um “autor” ou
"editor" inspirado?
 Isso lhe diz alguma coisa em termos da teologia?
 Será que isso o ajuda a melhor acompanhar a lógica da passagem?
 Se o autor é conhecido, seja explícita ou implicitamente, isso o ajuda a
relacionar a passagem, inclusive seus temas, estilo, vocabulário etc., com outras
porções das Escrituras produzidas pelo mesmo autor?
 É isso, de alguma forma, instrutivo para a interpretação da passagem?
 O autor revela aqui algum a característica peculiar (estilisticamente, por
exemplo), ou essa passagem é típica de seu modo de escrever em outros lugares?
Como foi citado acima sobre o “contexto”, o texto é muitas vezes semelhante ao centro
de vários círculos concêntricos, cada um deles representando uma seção maior do livro
bíblico. Esses contextos são geralmente considerados próximos ou imediatos,
“contextos restrito e amplo”.
O contexto próximo, ou imediato, é aquele que antecede e sucede a passagem. O
contexto amplo é a divisão do livro bíblico no qual ela ocorre e, então, no livro como
um todo.
4. CONTEXTO BÍBLICO
4.1. Listas de referências em série (Chave de referência)
Algumas edições da Bíblia em português trazem o que é informalmente chamado de
“chave” de referências. Numa coluna em separado, ou ao fim de cada versículo, é feita
referência a passagens em outras partes da Bíblia que, de algum modo, são semelhantes
ou são relacionadas àquele versículo. Nenhuma dessas listas é inteiramente confiável ou
coerente, e muitas sugerem referências forçadas ou absurdas. Apesar de tudo isso, essas
listas podem, muitas vezes, orientá-lo rapidamente a passagens paralelas ou
relacionadas, que não contêm necessariamente as mesmas palavras da passagem que
está estudando e, assim, são passagens não encontradas com o auxílio de uma
concordância.
4.2. Concordâncias por assunto
Muitos estudantes estão familiarizados com as “concordâncias de palavras” (v. 4.8.2).
Uma concordância de palavras pode servir tanto para facilitar o estudo de vocábulos
como para guiar o estudante à informação sobre o contexto bíblico. Para o segundo
propósito, a concordância é usada como um rápido meio de pesquisa do AT (e do NT)
em busca de:
(1) passagens paralelas contendo a palavra; e
(2) passagens paralelas contendo tópicos ou conceitos relacionados, que são
encontrados por referência a seu vocabulário característico.
Além de concordâncias de palavras, há também “concordâncias temáticas”, que reúnem
passagens bíblicas relacionadas umas com as outras por meio de um tópico ou tema
comum. Esse tipo de concordância pode ser imensamente valioso por sugerir outras
passagens relacionadas à passagem na qual você está trabalhando. Em certo sentido, as
concordâncias temáticas fazem o que as listas de referência também fazem, porém com
muito mais detalhe e, geralmente, dão o texto todo das passagens relacionadas para
análise imediata.

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