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Redação Dia do Professor

15 de outubro – Dia do Professor

"Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço


missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e
preparar os homens do futuro. “
(D. Pedro II)
Alguma coisa em mim, latente e indômita, me diz que nosso estimado
Imperador pensaria diferente se vivesse em nossa época. Esta bela frase
honra muito o profissional da educação que ainda é chamado professor.
Assim que conheci tal frase, por exemplo, fiquei meio envaidecido, pois
sabia que viera de uma das mentes mais brilhantes e idealistas que o Brasil
já teve. Mas a realidade escolar hoje é muito diferente daquela do séc. XIX.
O professor já foi um ícone na educação. Era respeitado, admirado, até
mesmo amado. Ser professor era sinônimo de responsabilidade e prestígio.
Pais, alunos, sociedade, o tinham em alta estima. A voz do “mestre” era
ouvida e suas palavras calavam fundo n’alma. Ele era convidado a versar
sobre temas de naturezas diversas e, quando se pronunciava, ouvidos o
prestigiavam com prestimosa atenção.
Havia entusiasmo no seu falar. Fazia-se o “silencio do boi no campo”
quando ele expunha suas explicações. Sua voz era mui agradável de ouvir;
era amplificada pelo desejo de conhecimento oriundo de uma platéia que ora
o ouvia, ora o indagava em busca de mais sabedoria. Ele era sensato nos
seus gestos e polido no seu falar. Todavia, cada movimento seu eternizava
aquele momento e, cada palavra sua, embora branda e meiga, ecoava como
espada afiada, brandida e arremetida contra os monstros da ignorância e do
descaso.
Mas hoje, na era da tecnologia, da comunicação e da informação digital, a
voz contagiante e vibrante daquele herói apaixonado tem enrouquecido e até
emudecido. Tem sido forçada a ceder seu lugar pra coisas mais
contagiantes como os mp3-players, os ipods, ipads, iphones etc. que
chegaram há algum tempo e dão mostras de que vieram pra ficar.
Tomara que fiquem, pois mudaram o conceito de mídia e comunicação.
Tomara que fiquem, pois se os perdermos, regrediremos mais rápido do que
progredimos nas nossas conquistas. No entanto, creio piamente que sala de
aula não é lugar para o uso dessas coisas com o propósito de
entretenimento. No ambiente de ensino não há espaço para a voz
orientadora do professor e um áudio digital tomando a atenção do aluno que,
por sua vez, não precisa de nenhum esforço para perder seu foco naquilo
que realmente importa.
Com a atenção do aluno foi embora também o respeito pelo professor que já
o havia perdido dos pais, do sistema e da sociedade.
O sistema também o inibe a exercer seus talentos. Tolheu-lhes os
movimentos. Calou a sua voz encorajada e alvissareira. Proibiu-o de exercer
influências nas mentes despreparadas. Fez o aluno imaginar que não
precisa estudar para escapar da alienação profissional e social. Que não
precisa estar atento às explicações do educador e mais, que educação não
é sinônimo de disciplina e aprendizado.
O Estado o abate com salários aquém de tão grande responsabilidade que
pesa sobre seus ombros, cobra dele resultados imediatos e satisfatórios,
mas sequer o recompensa por sua dedicação e coragem.
Não! Não acredito que o verdadeiro professor esteja interessado em fã-
clubes. Que queira ser o mestre erudito do passado. Que queira ser ícone
duma platéia escolar. Mas creio que o professor deseja que sua dignidade
seja reconhecida, o seu cantinho seja preservado. Não precisa agradecer
seu esforço e dedicação nem aplaudir seus feitos, mesmo os maiores. Mas
ele anseia por um pouco de consideração pela sua pessoa e profissão. Ele
anseia por dias melhores para si e com o mesmo anseio ele deseja
mudanças para a sociedade. Ele deseja um mundo mais justo para todos.
Pois a ele foi dada uma consciência arrebatadora que o abate e o seduz.
Que lhe tira o sono e a paz sempre que ele olha ao redor e percebe que as
boas mudanças não estão acontecendo e que o mundo para o qual ele
direciona seus ideais e sonhos está piorando a cada dia.
O verdadeiro professor é esse ser sofredor; com sua autopreservação nula
em detrimento do bem-estar da educação; com sua auto-estima em baixa
por amor àqueles por quem é repudiado. Duvido muito que esse ser sofrido
e mal-amado, injustiçado e adoecido por tantas coisas tenha o seu lugar
desejado por alguém.
Duvido muito que mesmo uma alma Nobre e bondosa como a do nosso
inestimável Imperador desejasse com tanto interesse vestir a camisa suada
e surrada do professor atual.
Hoje é dia do professor. Ele merece ser homenageado e aplaudido. Porém o
único presente que ele quer é o direito de poder ensinar.

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