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Nomenclatura Gramatical

A Língua Portuguesa falada no Brasil durante o período colonial, ela mesma um


misto de variados falares lusitanos, mesclou-se primeiramente com as várias línguas
indígenas – as línguas gerais – faladas pelos silvícolas e, mais tarde, também com as
diversas línguas africanas trazidas pelos escravos. O Padre José de Anchieta escreveu, e
usou desde 1556, uma Arte de Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil,
publicada em Portugal em 1595, três anos antes de sua morte, com o intuito de auxiliar
os colonos que aqui chegavam na comunicação com os nativos com quem teriam que
relacionar-se.
O Português era, então, a língua oficial da colônia, mas não a mais falada. E teve
ainda de dividir durante algum tempo essa sua condição de língua oficial com o
Neerlandês falado pelos invasores holandeses.
Foi em meados do século XVIII aproximadamente, por iniciativa do Marquês de
Pombal, que a Língua Portuguesa passou a ser ensinada nas escolas, em Portugal e no
Brasil, tendo mesmo havido a proibição do uso e do ensino das “línguas gerais” nas
nossas escolas. Há quem entenda que essa medida, ao mesmo tempo em que ajudou a
garantir a hegemonia portuguesa no controle da colônia, colaborou para impedir a
formação espontânea do que poderia vir a ser o embrião de uma autêntica “língua
brasileira”.
O modelo de ensino de língua escolhido é o da Tradição Gramatical, o que, não
só garante a homogeneidade linguística, importante para manter a unidade do território,
como também sustenta a hegemonia da elite colonizadora, que é quem domina o padrão
culto da língua e fornece os multiplicadores (professores) necessários a sua perpetuação.
Essa situação vai consolidar-se quando da vinda da família real ao Brasil, em 1808, e
após a proclamação da independência.
Só em 1871, um decreto imperial cria oficialmente o cargo de professor de
Português, mas, por não haver ainda cursos de formação de professores, são intelectuais
oriundos das elites sociais que lecionam Língua Portuguesa no ensino básico, o que gera
a manutenção do uso do modelo de ensino escolhido.
Muito provavelmente, deriva daí a tradição de, até hoje, o ensino de Língua
Portuguesa, como língua materna, confundir-se com o ensino da gramática normativa,
privilegiando a aprendizagem da Nomenclatura Gramatical dissociada da prática de
linguagem.

Bibliografia
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

GUIMARÃES, Eduardo. A Língua Portuguesa no Brasil. In Línguas do Brasil. Ciência


e Cultura. Revista da SBPC. Ano 57. n°2. Abril – Junho, 2005. p. 24 – 28.

ORLANDI, Eni. A Língua brasileira. In: Línguas do Brasil. Ciência e Cultura. Revista
da SBPC. Ano 57, n° 2. Abril – Junhode 2005. p 29 – 30

SOARES, Magda. Português na escola: história de uma disciplina curricular. Material


de divulgação da obra Português através de textos. São Paulo: Moderna, 1996.

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