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RESUMO
INTRODUÇÃO
Nesse período, o principal interesse das empresas na utilização das AAs residia no temor das
ações judiciais e da demanda das autoridades ambientais. Atualmente, a AA é vista pelas
organizações como um instrumento útil na identificação e redução das suas responsabilidades
por danos ambientais (THOMPSON e WILSON, 1994).
O que se busca com a auditoria é oferecer uma resposta sobre a performance ambiental da
empresa, não apenas aos órgãos governamentais ou à sua administração, mas, principalmente, à
sociedade civil, em geral, e aos consumidores de bens e serviços, em particular, que transmitem
ao mercado a valorização de processos, artigos e atividades que respeitam o meio ambiente.
A auditoria ambiental, de acordo com a União Européia, é “uma ferramenta de gerência que
compreende uma avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva do
desempenho de uma organização, do seu sistema de gerência e de equipamentos
destinados à proteção do meio ambiente, com os objetivos de facilitar à gerência o
controle de suas práticas ambientais e avaliar o cumprimento de políticas ambientais da
companhia, incluindo a observância da legislação”.
O contexto apresentado até aqui se refere às AAs voluntárias , onde o escopo da auditoria é
definido entre o empreendedor e o auditor, atendendo também às determinações contidas na
norma ISO 140101, que estabelece as diretrizes e os princ ípios gerais da AA.
No entanto, diferentemente dos países europeus, dos EUA e do Canadá, o Brasil instituiu a
realização de AAs obrigatórias para empresas com elevado potencial poluidor.
Os instrumentos legais vigentes no país referentes à matéria foram definidos para as esferas
estadual e municipal, podendo-se citar o exemplo dos estados do Rio de Janeiro, de Minas
Gerais e do Espírito Santo e os municípios de Santos (SP) e Vitória (ES) que possuem leis
específicas para a adoção de AAs. O Projeto de Lei federal, dispondo sobre o tema, encontra-
se em tramitação no Congresso Nacional desde 1992.
Não existe até hoje no Brasil, no entanto, nenhum procedimento estabelecido para a elaboração
de auditoria e, muito menos, para a sua avaliação pelo órgão regulamentador.
1
ISO - International Standard Organization, com sede em Genebra. É uma federação
mundial de normatização
Nesses casos, prevê -se que “à semelhança do que ocorre com os estudos de impacto
ambiental2, o órgão público ambiental poderá elaborar um ‘termo de referência’,
contendo orientações a serem seguidas em casos concretos ou genericamente no
procedimento” (MACHADO, 1995).
Considerando que o órgão de meio ambiente é quem emitirá o parecer final sobre as auditorias,
acredita-se que será de extrema importância que os procedimentos a serem adotados na
execução e na avaliação dessas AAs sejam o mais homogêneos possíveis, de forma a facilitar o
processo de análise, auxiliar o poder público na formulação de políticas a partir dos resultados
de AAs obtidos a médio e longo prazos - e avaliar riscos/potencialidades da AA enquanto
instrumento da gestão ambiental.
Para a formulação dessa metodologia, estão sendo utilizados, no âmbito do presente trabalho,
além de informações inerentes ao processo de auditoria ambiental, métodos multicritério de
auxílio à decisão.
A metodologia assim desenvolvida poderá ser utilizada quer como ferramenta para o decisor,
no caso específico o órgão ambiental, para a tomada de decisão quanto à aprovação ou não do
objeto auditado, quer por outros interessados no processo de auditoria ambiental.
OBJETIVOS DO TRABALHO
Como salientado, o objetivo geral da pesquisa, da qual o presente trabalho constitui um resumo
da primeira etapa, é o de formular, com base em abordagens do tipo multicritério, suporte
2
Em 1986, a Resolução CONAMA Nº 001 incorporou a questão ambiental no processo
decisório, a partir da exigência de apresentação de Estudo de Impactos Ambientais e o
respectivo Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA na fase de planejamento de
empreendimentos potencialmente poluidores do meio ambiente. É um instrumento de
licenciamento ambiental utilizado na fase de planejamento de um empreendimento.
De acordo com GREENO (1987), as auditorias ambientais têm sido sempre utilizadas de
diferentes formas pelas organizações. O escopo para a realização dessas auditorias não é ainda
preciso3. Esses podem se limitar a verificar o cumprimento das legislações, regulamentos e
políticas da empresa. Entretanto, é crescente o número de empresas que auditam os seus
processos de segurança e higiene industrial, medicina ocupacional e os aspectos relacionados à
segurança dos seus produtos.
A segunda etapa tem como resultado o relatório com as conclusões da auditoria. Para tanto,
são realizadas reuniões, entrevistas, visitas a campo, avaliação dos controles ambientais
3
Segundo BAILEY et al. (1992), "não existe nenhuma metodologia uniforme para AA"
Nesse caso, apesar de existir uma nota e um peso associados a cada elemento de auditoria, não
existe a definição detalhada do que deve ser observado para cada nota. No caso dos pesos,
esses são definidos por cada grupo de auditores, de acordo com as suas preferências. Assim
sendo, é possível que o resultado de uma auditoria se apresente bastante diverso do resultado
de uma outra auditoria, realizada por auditores distintos.
No Brasil, as AAs começaram a ser utilizadas pelas empresas transnacionais que desejavam
“alcançar uma performance similar nos diferentes países onde eles operavam ”. “Neste
caso, a AA não tem limites bem determinados como outros campos tradicionais de
conhecimento do gerenciamento industrial, tais como os aspectos de saúde e segurança
das unidades industriais. Por exemplo, indústrias químicas como Sandoz, White Martins e
Hoeschst possuem checklist para implementação das auditorias que abarcam essas três
áreas”. E é muito freqüente a importação do sistema de AA de outros países, sem a devida
adaptação de suas especificidades nacionais, regionais e locais (LA ROVERE, 1995).
De acordo com KNAPP (1993), a metodologia utilizada pelas indústrias transnacionais segue,
em geral, o seguinte modelo: inicialmente as matrizes procuram uniformizar “suas políticas
ambientais em suas unidades em todo o mundo”. Nesse caso, realiza-se auditorias ambientais
em algumas de suas filiais. A primeira série de auditorias tem como objetivo a “revisão das
conformidades com as normas e legislações ambientais locais, dos sistemas de gerenciamento
ambiental dentro das unidades e do desempenho dos equipamentos de controle de poluição”.
De posse desses resultados, a matriz delineia “suas políticas e diretrizes internas”. A partir daí,
são elaborados os “manuais de práticas ambientais corretas”, os quais são geralmente
“acompanhados de cronogramas de implementação de medidas de controle da poluição e de
diretrizes gerais”. Geralmente, essas diretrizes contemplam “o treinamento de pessoal em meio
ambiente, elaboração de planos de contingência e emergência em caso de acidentes envolvendo
o meio ambiente, manejo de matérias-primas, sub-produtos e resíduos, emissões atmosféricas e
líquidas”. Após a implementação dessas recomendações, são realizadas as “auditorias de
acompanhamento”.
METODOLOGIAS MULTICRITÉRIO
Os métodos multicritério têm como objetivo propiciar a “seleção de uma ou várias soluções
para um problema apresentado”. São utilizados para tratar problemas multi-objetivo
(CORDEIRO NETTO et al., 1993). Os métodos multicritério são utilizados, normalmente,
como instrumento de auxílio na tomada de decisão.
Como são muito numerosos os métodos existentes, a utilização de um deles irá depender do
problema a ser analisado, da familiaridade do analista por determinado método e da existência
dos recursos necessários para a sua execução.
De acordo com CORDEIRO NETTO et al. (1993), o método ELECTRE III é uma técnica de
auxílio multicritério à decisão, de caráter quantitativo, que classifica as diversas alternativas para
solução de um problema “no caso de um ‘único’ decisor”. Pertence à família dos métodos de
desclassificação (de acordo com tipologia de Vincke).
Quando se tem mais de um decisor, o método ELECTRE III pode ser utilizado desde que
sejam adotadas hipóteses referentes ao peso de cada um dos decisores ou à existência de um
critério ou função de compromisso.
4
Do inglês outranking e do francês surclassement.
O método ELECTRE III considera que, quando o decisor necessita comparar duas ações, ele
poderá reagir por uma das seguintes formas: preferência por uma delas, indiferença entre elas,
recusa ou incapacidade de compará-las. Essas relações são traduzidas por situações de
preferência, indiferença e incomparabilidade (VINCKE, 1992). São definidos, assim, no
Método ELECTRE III, os limites p, q e v, respectivamente, como sendo os valores que
definem as mudanças nas relações de preferência, indiferença e comparabilidade, para cada
critério e para cada decisor, ao se compararem duas ações entre si. Um exemplo de utilização
dessas funções, para o caso do critério custo, seria:
im (jb ) < im (ja) + q(im (ja)) ? não preferência (j a não desclassifica jb)
im (ja) + p(im (ja)) < i m (jb) ? preferência forte (ja é preferível a jb)
im (ja) +q(im (ja)) < im (jb) < im (ja) + p(im (ja)) ? preferência fraca (ja é fracamente preferível a
jb)
im (ja) +v(i m (ja)) < im (jb ) ? não comparabilidade (j a não pode ser comparado a jb)
Esse método será utilizado neste trabalho para permitir, por exemplo, a agregação dos
diferentes critérios de avaliação, com vistas a se obter uma avaliação global da performance de
uma empresa a ser auditada. O decisor, no caso, pode ser assemelhado ao auditor ambiental,
que será responsável por uma avaliação global da empresa. No caso de vários auditores, como
já salientado, o método também pode ser utilizado, mediante algumas simplificações e
modificações.
O método ME-MCDM é, de acordo com YAGER (1993), utilizado para avaliação e seleção
de alternativas, usando-se uma escala não-numérica, a partir da avaliação de um ou mais
especialistas. Os critérios poderão ter níveis diferenciados de importância, sendo esses níveis
também representados por uma escala lingüística. O uso de uma escala não-numérica é
recomendado pelo autor em função da “falsa precisão” associada à utilização de números e
operadores numéricos (médias, somas, etc.) em problemas multicritério e multidecisor, em que
é elevado o nível das incertezas, como os problemas de caráter ambiental.
Um exemplo de escala lingüística usada pelo método, e que foi adotada no presente trabalho, é
apresentada a seguir:
Escala S n, onde 1 ? n ? N e N = 7 (número de avaliações)
S7= perfeito;
S6= muito oportuno;
S5 = oportuno;
S4 = médio;
S3 = inoportuno;
S2 = muito inoportuno;
S1 = nulo.
Para determinação de uma avaliação global para uma ação, utiliza-se a seguinte expressão:
? - operador de máximo;
Neg. - operador de negação;
I(qj) - importância atribuída a cada critério por cada decisor (expresso na escala S 1 a S7);
Pik (qj) - avaliação sob critério i (expresso na escala S1 a S 7).
para:
Neg.Sn = SN-(n-1)
onde N = número de avaliações na escala numérica adotada
(N = 7, neste caso, por exemplo, Neg.S 5 = S 7-(5-1) = S3)
A partir das informações coletadas, foi formulado um teste inicial para avaliação das
metodologias propostas (ELECTRE III e ME-MCDM).
Promoveu-se a definição de 10 (dez) critérios, a partir das informações coletadas nas auditorias
avaliadas, os quais, por hipótese, foram ponderados em sete níveis: nulo, muito inoportuno,
inoportuno, médio, oportuno, muito oportuno e perfeito. Esses pesos correspondem a valores
que variam de 1 a 7, para o método ELECTRE III e, na escala de S1 a S7, para o método ME-
MCDM.
Considerou-se, como hipótese simplificadora, que as avaliações, sob cada um dos critérios,
seriam também expressas em valores que variam de 0 a 6, para o método ELECTRE III, e, na
escala de S1 a S7, para o método ME-MCDM
(valor 4), ela não teria sua auditoria aprovada. Salienta-se que o resultado de aplicação do
Método ELECTRE III é uma hierarquia de ações, não havendo uma avaliação global para cada
ação: pode-se dizer, somente, que a é melhor, pior ou equivalente a b, por exemplo.
No caso do método ME-MCDM, seria considerada aprovada a empresa que obtiver uma
avaliação global melhor ou igual a S4 (médio).
A avaliação de cada critério será realizada de duas maneiras: diretamente por uma avaliação do
auditor, que classificará o critério em valores que variam de 1 a 7, de acordo com a per-
formance da empresa sob aquele critério; ou através da utilização de 6 (seis) perguntas com
respostas do tipo sim, valendo um ponto, e não, valendo zero, para um outro critério em ques-
tão. Nesse último caso, será possível obter-se uma classificação que também variará de 1 a 7.
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Na conversão dos pesos referentes à utilização do método ELECTRE III para uso no método
ME-MCDM, utilizou-se a seguinte relação de correspondência: 0 - S1, 1 - S2, 2 - S3, 3 - S4,
4 - S5, 5 - S6, 6 - S7
8.Plano de descomissionamento S6 S2 S4 S7 S6 S6 S6
9.Plano de Emergência S7 S1 S7 S6 S7 S6 S5
10.Ações relativas à saúde do trabalhador S6 S2 S5 S3 S7 S6 S5
RESULTADOS OBTIDOS
Com a aplicação dos métodos ELECTRE III e ME-MCDM para todas as alternativas padrão
e os testes, obteve -se, resumidamente, a classificação apresentada na Tabela 3.
Comparando-se esses resultados, e consid erando que houve uma mesma correlação de
importância entre os métodos, observou-se que há certa coerência entre os resultados obtidos.
Somente para o teste 5, a empresa auditada seria considerada melhor que a média para o
método ELECTRE III e reprovada, pelo método ME-MCDM.
De todo modo, o objetivo dessa primeira fase era bastante modesto. Buscava-se testar a
viabilidade e aplicabilidade de dois métodos. Vários testes e comparações deverão ainda ser
feitos, buscando-se estudar a sensibilidade dos métodos a variações de peso e de escalas de
avaliação. Outros métodos deverão, também, ser testados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
14. YAGER, R. Y. Non-numeric multi-criteria multi-person decision making. In: Shakun, M. F. (ed.),
Group Decision and Negotiation, v. 2, n. 1, Kluwer Academic Publishers, 1993.