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www.ebooksgospel.com.br/blog
Charles Finney
TEOLOGIA
SISTEMÁTICA
1a edição/2001
3a Edição 2004
SUMÁRIO
PREFACIO A EDIÇÃO BRASILEIRA
PREFÁCIO DO AUTOR
AULA1
AULA 2
GOVERNO MORAL
• Lei física
• Lei moral
• Os atributos essenciais da lei moral
• Subjetividade
• Objetividade
• Liberdade em contraposição à necessidade
• Adequação
• Universalidade
• Imparcialidade
• Praticabilidade
• Independência
• Imutabilidade
• Unidade
• Conveniência
• Exclusividade
AULA 3
GOVERNO MORAL
• A razão fundamental do governo moral
• De quem é o direito de governar?
• Que se implica no direito de governar?
• Os limites desse direito
• Obrigação moral
• As condições da obrigação moral
• Condições da obrigação de desenvolver atos executivos
AULA 4
OBRIGAÇÃO MORAL
• O homem está sujeito à obrigação moral
• A amplitude da obrigação moral
AULA 5
AULA 6
AULA 7
AULA 8
OS ATRIBUTOS DO AMOR
• Certos fatos na filosofia mental conforme revelados na consciência
• Atributos daquele amor que se constitui obediência à lei de Deus
• Voluntariedade
• Liberdade
• Inteligência
• Virtude
• Desinteresse
• Imparcialidade
• Universalidade
• Eficiência
• Satisfação
• Oposição ao pecado
• Compaixão pelos miseráveis
• Misericórdia
• Justiça
• Veracidade
• Paciência
• Mansidão
• Humildade
• Abnegação
• Condescendência
• Estabilidade
• Santidade
AULA 10
AULA 11
ATRIBUTOS DO EGOÍSMO
• Voluntariedade
• Liberdade
• Inteligência
• Irracionalidade
• Caráter interesseiro
• Parcialidade
• Eficiência
• Oposição à benevolência
• Crueldade
• Injustiça
• Falsidade, ou mentira
• Orgulho
• Inimizade contra Deus
• Intemperança
• Depravação moral total
AULA 12
AULA 13
EXPIAÇÃO
• Alguns princípios bem estabelecidos de governo
• O termo expiação
• Os ensinos da teologia natural
• O fato da expiação
• O que constitui a expiação
AULA 14
EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO
• Quais as pessoas para quem se destinavam os benefícios da expiação
Respostas às objeções
AULA 15
GOVERNO HUMANO
• Os governos humanos fazem parte do governo moral divino
• O fim último da criação divina
• Os governos providencial e moral são indispensáveis
• Os governos civil e familiar são indispensáveis
• Demarcação dos limites ou fronteiras do direito de governo
• Algumas observações a respeito de formas de governo
• Princípios dos direitos e deveres dos governos e indivíduos
AULA 16
DEPRAVAÇÃO MORAL
• O termo depravação
• A distinção entre depravação física e moral
• O que está sujeito à depravação física
• O que está sujeito à depravação moral
• A humanidade é física e moralmente depravada
• Subseqüente ao início da agência moral e anterior à regeneração, a
depravação moral da humanidade é universal
• A depravação moral dos agentes morais irregenerados de nossa raça é total
• O método apropriado para explicar a depravação moral universal e total dos
agentes morais irregenerados
• A depravação moral consiste em egoísmo ou na escolha do interesse
próprio
• Exame complementar dos argumentos mencionados em apoio à oposição
de que a natureza humana é em si pecaminosa
• Observações
AULA 17
REGENERAÇÃO
• A distinção comum entre regeneração e conversão
• As razões alistadas em favor dessa distinção
• As objeções a essa distinção
• O que não é regeneração
• O que é regeneração
• A necessidade universal de regeneração
• Agências empregadas na regeneração
• Instrumentos empregados na obra
• Na regeneração o indivíduo é passivo e ativo
• O que está implícito na regeneração
AULA 18
AULA 19
EVIDÊNCIAS DA REGENERAÇÃO
• Observações introdutórias
• Em que santos e pecadores podem concordar
• Em que santos e pecadores diferem
AULA 20
A CAPACIDADE NATURAL
• A noção do presidente Edwards sobre a capacidade natural
• Esta capacidade natural não é absolutamente capacidade
• O que constitui a incapacidade natural de acordo com esta escola
• Esta incapacidade natural não é absolutamente incapacidade
• A capacidade natural é idêntica à liberdade da vontade
• A vontade humana é livre, então os homens têm o poder ou a capacidade de
cumprir todo o seu dever
• O que constitui a incapacidade moral, segundo Edwards e os que estão de
acordo com ele
• A incapacidade moral da escola edwardiana em obedecer a Deus consiste
em real desobediência e numa incapacidade natural em obedecer
• Esta pretensa distinção entre a incapacidade natural e moral é absurda
• O que constitui a capacidade moral de acordo com esta escola?
• A capacidade moral da escola edwardiana em obedecer a Deus nada mais é
do que real obediência e uma incapacidade natural em desobedecer
• O que considero serem os erros fundamentais de Edwards e de sua escola
sobre o tema da capacidade
• Outro esquema da incapacidade e sua filosofia
• As reivindicações desta filosofia da incapacidade
AULA 21
A CAPACIDADE DA GRAÇA
• O que se quer dizer pelo termo capacidade da graça
• Esta doutrina de uma capacidade da graça é um absurdo
• Em que sentido é possível uma capacidade da graça?
AULA 22
A NOÇÃO DE INCAPACIDADE
AULA 23
ARREPENDIMENTO E IMPENITÊNCIA
• O que o arrependimento não é
• O que é arrependimento
• O que está implícito no arrependimento
• O que não é impenitência
• O que é impenitência
• Coisas que estão implícitas na impenitência
• Algumas das características ou evidências da impenitência
AULA 24
FÉ E INCREDULIDADE
• O que a fé evangélica não é
• O que é a fé evangélica
• O que está implícito na fé evangélica?
• O que a incredulidade não é
• O que é incredulidade
• Condições da fé e da incredulidade
• A culpa e o merecimento da incredulidade
• Conseqüências naturais e governativas da fé e da incredulidade
AULA 25
JUSTIFICAÇÃO
• O que a justificação evangélica não é
• O que é justificação evangélica?
• Condições da justificação
• O fundamento da justificação dos crentes penitentes em Cristo
• Observações finais
AULA 26
SANTIFICAÇÃO
• Alguns pontos já estabelecidos neste curso
• Definindo os termos principais a serem usados nesta discussão
• Mostrando qual é a verdadeira questão em debate
• Esta santificação plena é alcançável nesta vida
• O argumento da Bíblia
AULA 27
AULA 28
AULA 29
OBJEÇÕES À SANTIFICAÇÃO
• Objeções respondidas
• Observações finais
AULA 30
ELEIÇÃO
• Concordância geral entre todas as denominações cristãs, no que diz respeito
aos atributos naturais e morais de Deus
• O que a doutrina bíblica da eleição não é
• O que a doutrina bíblica da eleição é
• Devo provar a doutrina quando a declaro como verdadeira
• Quais podem ter sido as razões para a não eleição
• Quais devem ter sido provavelmente as razões para a eleição
• Quando a eleição foi feita
• A eleição não fornece meios desnecessários à salvação dos eleitos
• A eleição é a única base para a esperança no sucesso dos meios
• A eleição não coloca nenhum obstáculo à salvação dos não eleitos
• Não existe nenhuma injustiça na eleição
• Este é o melhor que pode ser feito pelos habitantes deste mundo
• Como é que podemos apurar a nossa própria eleição
• Inferências e comentários
AULA 31
REPROVAÇÃO
• O que a doutrina da reprovação não é
• O que a doutrina da reprovação é
• Esta é uma doutrina da razão
• Esta é a doutrina da revelação
• Por que os pecadores são reprovados ou rejeitados
• Quando os pecadores são reprovados
• A reprovação é justa
• A reprovação é benevolente
• Como se poderá saber quem são os reprovados
• Objeções
AULA 32
A SOBERANIA DIVINA
• O que o termo "soberania" não significa quando é aplicado a Deus
• O que se deseja transmitir através dos termos "soberania divina"
• Deus é, e deve ser, um soberano absoluto e universal
• Observações finais
AULA 33
OS PROPÓSITOS DE DEUS
• O que eu entendo por propósitos de Deus
• A diferença entre propósito e decreto
• Existe obrigatoriamente um sentido pelo qual os planos de Deus estendem-
se a todos os eventos
• O diferente sentido, em que Deus propõe diferentes eventos
• A vontade revelada de Deus jamais é inconsistente com o seu propósito
secreto
• A sabedoria e a benevolência dos propósitos de Deus
• A imutabilidade dos propósitos divinos
• Os propósitos de Deus são a base de uma confiança eterna e feliz
• Os propósitos de Deus com a sua presciência ou conhecimento prévio
• Os propósitos de Deus não são inconsistentes entre si, porém demandam o
uso de meios, tanto por parte de Deus como por nós, para que se cumpram
AULA 34
AULA 35
AULA 36
GLOSSÁRIO
PREFACIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
Gostaria que Ernest Renan tivesse lido a Teologia Sistemática de
Charles Finney. Mas pelo que depreendemos das obras do genial escritor
francês, não fora ele brindado com tal privilégio. Quem sabe haja sido
este o motivo que o levou a pronunciar-se tão ceticamente acerca da
teologia: "Construção, toda ela, do século XIII, a teologia se assemelha a
uma catedral gótica: tem-lhe toda a grandeza, os vazios imensos e a
pouca solidez".
Que a teologia é comparável a uma catedral, nem os seus mais
renhidos adversários discordam. Ela é bela e majestosa; é a ciência de
Deus. Vazios? São preenchidos pelo Espírito Santo toda vez que a Ele se
entrega o teólogo que busca o conhecimento do Altíssimo. Imensidões?
Imensurável é Deus em suas grandezas e bondades. Pouca solidez? As
catedrais, mesmo as góticas, vêm desafiando os séculos, ostentando
uma firmeza digna dos palácios encastelados nas rochas.
A teologia, porém, não é propriamente uma catedral; é um templo
similar ao que Salomão fez construir em Jerusalém. Neste santuário,
Renan jamais transpôs a linha dos átrios exteriores; limitou-se a
contemplar os alpendres. Tivera se postado naqueles degraus de onde os
levitas enalteciam a Deus, veria que a teologia é celebração. Adentrasse
o santuário onde estavam a mesa com os pães da apresentação e o
candelabro, constataria ser a teologia alimento para a alma e luz para o
caminho do peregrino. Rompesse o véu do Santos dos santos, haveria de
ser convencido de que a teologia, conquanto a mais alta e sublime das
ciências, acha-se acessível ao viajor que anseia por um conhecimento
mais profundo de Deus.
Se Renan, por causa de sua incredulidade, não logrou ultrapassar
os alpendres da teologia, Charles Finney não se limitou aos seus
degraus. Seguindo as pegadas do Mestre dos mestres, adentrou o
santíssimo onde ofertou a Deus o labor de um conhecimento maduro,
sólido e experimentado, e o incenso de uma devoção própria dos
serafins.
Finney não foi apenas um grande teólogo; ergueu-se como um
autêntico homem de Deus. Por mais altissonantes que lhe hajam sido as
palavras, sua vida é de uma eloqüência insuperável.
O grande evangelista
Charles Finney foi um grande evangelista. Suas campanhas eram
marcadas por fatos extraordinários. O missionário Orlando Boyer mostra
o impacto que Finney causava como mensageiro de Cristo:
"Perto da aldeia de New York Mills, no século dezenove, havia uma
fábrica de tecidos movida pela força das águas do Rio Oriskany. Certa
manhã, os operários se achavam comovidos, conversando sobre o
poderoso culto da noite anterior, no prédio da escola pública.
"Não muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador,
um rapaz alto e atlético, entrou na fábrica. O poder do Espírito Santo
ainda permanecia sobre ele; os operários, ao vê-lo, sentiram a culpa de
seus pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a
trabalhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam juntas, uma
delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que
caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos em redor tinham
lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as
dependências da fábrica.
"O diretor, vendo que os operários não podiam trabalhar, achou
que seria melhor se cuidassem da salvação da alma, e mandou que
parassem as máquinas. A comporta das águas foi fechada e os operários
se ajuntaram em um salão do edifício. O Espírito Santo operou com
grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram.
"Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Charles Finney,
que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não
houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos.
Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil
pessoas foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney".
PREFÁCIO
1. Boa parte das verdades do evangelho bendito está escondida
sob uma falsa filosofia. Em minhas primeiras indagações no campo • da
religião, vi-me totalmente incapaz de compreender as instruções tanto
orais como escritas de mestres religiosos não inspirados. Parecia-me que
eles resolviam toda religião dividindo-a em estados, ou do intelecto, ou
da sensibilidade, coisa que a consciência me garantia serem totalmente
passiva ou involuntária. Quando buscava definições e explicações, ficava
certo de que eles não compreendiam bem a si próprios. Fiquei alarmado
com o fato de que raramente definiam, mesmo para si, as próprias
posições. Entre as palavras empregadas com maior freqüência, era-me
difícil encontrar algum termo definido de maneira inteligível. Eu
perguntava em que sentido os termos "regeneração", "fé",
"arrependimento", "amor", etc, eram empregados, mas não conseguia
obter resposta, e não me parecia que a razão ou a revelação
revoltassem-se contra isso. As doutrinas de uma natureza, pecaminosa
por si, de uma vontade necessitada, da incapacidade e da regeneração
física, e a influência física na regeneração, com seus dogmas afins e
conseqüentes, desconcertavam e até confundiam-me a cada passo. Dizia
para mim mesmo com freqüência: "Se essas coisas são de fato
ensinadas na Bíblia, devo ser incrédulo". Contudo, quanto mais lia minha
Bíblia, tanto mais claro percebia que essas coisas não se encontravam ali
sob nenhum dos princípios sadios de interpretação que pudessem ser
aceitos em um tribunal de justiça. Não pude deixar de perceber que a
verdadeira idéia de governo moral não tinha lugar na teologia da Igreja;
pelo contrário, por trás de todo o sistema havia pressuposições de que
todo governo era físico (no que se opõe a "moral") e que o pecado e a
santidade são mais atributos naturais que atos morais e voluntários. Tais
erros não eram expressos em palavras, mas não podia deixar de ver que
eram pressupostos. Desconcertavam-me a distinção entre pecado origi-
nal e pecado de fato, e a total ausência de uma distinção entre
depravação física e moral. Aliás, estava convencido: ou eu era incrédulo
ou eram erros que não encontravam espaço na Bíblia. Fui várias vezes
alertado contra a racionalização e a dependência de meu próprio
entendimento. Descobri que os mestres de religião discriminadores eram
levados a confessar que não conseguiam estabelecer a consistência
lógica do sistema deles e que eram obrigados a fechar os olhos e crer,
quando a revelação parecia entrar em conflito com as afirmações da
razão. Mas eu não podia seguir esse curso. Descobri, ou pensei ter
descoberto, que todas as doutrinas do cristianismo estão envolvidas
pelas pressuposições acima citadas. Mas o Espírito de Deus conduziu-me
pela escuridão e livrou-me do labirinto e do nevoeiro de uma falsa
filosofia, firmando-me os pés sobre a rocha da verdade, conforme creio.
Mas até hoje encontro alguns que parecem estar muito confusos a
respeito da maioria das doutrinas práticas do cristianismo. Reconhecem
que o pecado e a santidade devem ser voluntários, ainda assim falam
em regeneração como qualquer coisa, exceto mudança voluntária, e
dizem que a influência divina na regeneração é tudo, exceto moral ou
persuasiva. Parece que não têm consciência alguma das decorrências e
implicações da admissão da existência do governo moral e do fato de
que o pecado e a santidade devem ser atos livres e voluntários e estados
mentais. Nesta obra empenho-me por definir os termos empregados por
clérigos cristãos e as doutrinas do cristianismo, conforme os compreen-
do, e levar às conclusões lógicas as conseqüências das admissões
cardeais de autores teológicos mais recentes e típicos. Insisto,
especialmente, em levar às suas conseqüências lógicas as duas
afirmações de que a vontade é livre e que o pecado e a santidade são
atos voluntários da mente. Não vou pressupor que consegui satisfazer os
outros nos pontos que discuti, mas consegui ao menos satisfazer a mim
mesmo. Considero perigosa e ridícula a declaração de que as doutrinas
da teologia não podem preservar uma coerência lógica do princípio ao
fim.
2. De início, meu principal objetivo ao publicar uma Teologia
Sistemática era prover para meus alunos um livro didático em que
fossem discutidos muitos pontos e questões de grande importância
prática que, segundo me consta, não têm sido discutidos em nenhum
sistema de instrução teológica existente. Também espero beneficiar
outras mentes estudiosas e piedosas.
3. Escrevi para aqueles que se disponham a enfrentar a dificuldade
de pensar e formar opiniões próprias acerca de questões teológicas. Não
faz parte de meu alvo poupar meus alunos ou qualquer outra pessoa do
trabalho de pensar intensamente. Caso desejasse fazê-lo, os assuntos
discutidos tornariam abortivo tal empenho.
4. Há muitas questões de grande importância prática e questões
em que multidões estão profundamente interessadas no momento, as
quais não podem ser estabelecidas de maneira inteligente sem que se
institua investigações fundamentais envolvendo a discussão daquelas
questões colocadas no alicerce da moralidade e da religião.
5. A maior parte dos assuntos em debate entre cristãos nos dias de
hoje está fundamentada em concepções errôneas em torno de assuntos
discutidos no volume. Se consegui elucidar as questões que discuti,
veremos que num volume futuro a maior parte dos focos de discordância
entre os cristãos no presente pode ser ajustada com relativa facilidade.
6. O que digo em "Lei Moral" e "Fundamento da Obrigação Moral" é
a chave para toda a questão. Quem dominar e compreender esses pode
compreender de pronto o restante. Mas aquele que não dominar o que
entendo desses assuntos não compreenderá o restante.
7. Que ninguém desanime no início do livro nem tropece nas
definições, pensando que jamais conseguirá compreender assunto tão
obscuro. Lembre-se que o que se segue é uma expansão e explicação à
guisa de aplicação do que se encontra de maneira muito condensada nas
primeiras páginas no livro. Meu irmão, irmã, amigo: leia, estude, pense e
leia novamente. Você foi feito para pensar. Far-lhe-á pensar; desenvolver
suas capacidades pelo estudo. Deus determinou que a religião exigisse
pensar, pensar intenso, e desenvolvesse nossa capacidade de
pensamento. A própria Bíblia é escrita em estilo tão condensado para
exigir o mais intenso estudo. Não pretendo explicar a teologia de tal
maneira que dispense o labor do pensamento. Não tenho habilidade para
isso nem desejo fazê-lo.
8. Se alguns de meus irmãos pensam convencer-me de que estou
errado, primeiro devem compreender-me e mostrar que leram o livro
todo, que o compreenderam e que estão em busca sincera da verdade,
não "lutando por domínios". Se meu irmão está buscando a verdade, irei,
pela graça de Deus, "ouvir com os dois ouvidos e depois julgar". Mas não
prometerei atender a tudo o que os críticos possam dizer nem prestar
atenção ao que possam dizer ou escrever todos aqueles palestrantes e
escritores impertinentes que precisam de controvérsias. Mas a todos os
que buscam honestamente a verdade, eu diria: Salve, meu irmão! Vamos
ser meticulosos. A verdade nos fará bem.
9. Notar-se-á que o presente volume só contém parte de um curso
de Teologia Sistemática. Caso o curso inteiro venha a público, um
volume precederá e outro sucederá o presente. Publico primeiro este
porque contém todos os pontos em que suponho diferir das opiniões que
se costumam receber. Como professor de teologia, considerei que a
Igreja e o mundo mereciam que lhes desse minhas opiniões acerca
daqueles pontos em que tenho sido acusado de divergir das opiniões
comuns dos cristãos.
10. Ainda não consegui estereotipar minhas opiniões teológicas e
parei de pensar consegui-lo algum dia. A idéia é absurda. Nada, senão
um intelecto onisciente, pode continuar mantendo uma identidade
precisa de concepções e opiniões. Mentes finitas, a menos que
adormecidas ou entorpecidas por preconceitos, devem avançar no
conhecimento. A descoberta de uma nova verdade modificará
concepções e opiniões antigas, e talvez esse processo não tenha fim em
mentes finitas, qualquer que seja o mundo. A verdadeira coerência cristã
não consiste em estereotipar nossas opiniões e concepções e em
recusar-nos a fazer qualquer progresso para não sermos acusados de
mudança, mas consiste em manter a mente aberta para receber os raios
da verdade por todos os lados e em mudar nossas opiniões, linguagem e
prática na freqüência e na velocidade com que conseguimos obter
informações complementares. Chamo-o de coerência cristã porque só
essa trilha está de acordo com uma confissão cristã. Uma confissão
cristã implica a confissão de uma sinceridade e de uma disposição de
conhecer toda a verdade e obedecer a ela. Deve-se seguir que a
coerência cristã implica investigação contínua e mudança de opinião e
prática em correspondência ao conhecimento crescente. Nenhum
cristão, portanto, e nenhum teólogo deve temer uma mudança em suas
concepções, linguagem ou práticas em conformidade com uma luz
crescente. A predominância desse temor manteria o mundo no mínimo
numa imobilidade perpétua, e todos os objetos da ciência e, por
conseguinte, todos os aperfeiçoamentos tornar-se-iam impossíveis.
Toda tentativa não inspirada de esboçar para a Igreja um padrão de
opinião que possa ser considerado uma exposição inquestionável da
Palavra de Deus não só é ímpia em si, como também uma admissão
tácita do dogma fundamental do papado. A Assembléia de Clérigos fez
mais que admitir a necessidade de um papa para fazer leis das opiniões
humanas; ela admitiu criar uma lei imortal ou, antes, embalsamar o
credo que tinha e preservá-lo como o papa de todas as gerações; ou é
mais justo dizer que os que adotaram aquela confissão de fé e catecismo
como padrão autorizado de doutrina, adotaram de maneira absurda o
mais detestável princípio do papado, elevando a confissão e o catecismo
deles ao trono papal e ao lugar do Espírito Santo. Que o instrumento
forjado por tal assembléia seja reconhecido no século XIX como o padrão
da Igreja, ou de um ramo inteligente dela, não só é surpreendente como,
devo dizer, por demais ridículo. É absurdo na teologia como seria em
qualquer outro ramo da ciência, e tão prejudicial e entorpecente quanto
absurdo e ridículo. É melhor ter um papa vivo que um morto. Se
precisarmos de um expositor autorizado da palavra de Deus, que
tenhamos um vivo, para não excluir a esperança de progresso. "Melhor é
o cão vivo do que o leão morto" (Ec 9.4), assim, um papa vivo é melhor
que uma confissão de fé morta e estereotipada, que obrigue todos os
homens a subscrever seus dogmas inalteráveis e sua terminologia
invariável.
11. Mantenho-me sagradamente obrigado, não a defender essas
posições em qualquer circunstância, mas, pelo contrário, a sujeitar cada
uma delas à mais completa discussão e a mantê-las e tratá-las como
opiniões de qualquer outro; ou seja, se após maior discussão e
investigação não encontrar motivo para mudar, mantenho-as com
firmeza; mas se conseguir ver uma falha em alguma delas, farei
emendas ou a rejeitarei por completo, conforme exigir a luz
complementar. Caso eu me recusasse a isso ou falhasse nesse ponto,
teria
de corar por meu desatino e incoerência, pois, repito, a verdadeira
coerência cristã implica progresso em conhecimento e santidade, e
mudanças em teoria e prática conforme exigir a luz crescente.
Nas questões estritamente fundamentais da teologia, minhas
opiniões não têm sofrido nenhuma mudança há muitos anos, exceto pelo
fato de ter uma compreensão mais clara do que antes, devendo, talvez,
expressar algumas delas de maneira um tanto diferente do que teria
feito.
O AUTOR
AULA 1
VÁRIAS CLASSES DE VERDADES
(Da edição de 1847)
As revelações da autoconsciência
A autoconsciência nos revela três faculdades primárias da mente a
que chamamos intelecto, sensibilidade e vontade. O intelecto é a
faculdade de conhecimento; a sensibilidade é a faculdade ou
susceptibilidade de sentir; a vontade é a faculdade executiva ou a
faculdade de fazer ou agir. Todo pensamento, percepção, intuição,
raciocínio, opinião, formação de noções ou idéias pertencem ao intelecto.
A consciência revela as várias funções do intelecto e também da
sensibilidade e da vontade. Aqui, só vamos atentar para as funções do
intelecto, uma vez que nosso interesse presente é verificar os métodos
pelos quais o intelecto chega a seus conhecimentos, os quais nos são
dados na autoconsciência.
A autoconsciência é, em si, obviamente, uma das funções do
intelecto; e cabe aqui dizer que uma revelação na consciência é ciência
e conhecimento. O que a consciência nos dá, sabemos. Seu testemunho
é infalível e conclusivo em todos os assuntos sobre os quais testifica.
Entre outras funções do intelecto, que não preciso mencionar, a
autoconsciência revela a tríplice distinção fundamental dos sentidos, da
razão e do entendimento.
Dos sentidos
O sentido é a capacidade que percebe sensações e as leva ao
campo da consciência. A sensação é uma impressão deixada na
sensibilidade por algum objeto externo ou por algum pensamento na
mente. O sentido assume ou percebe a sensação e essa sensação
percebida é revelada na consciência. Se a sensação vem de algum
objeto fora da mente, como um som ou uma cor, sua percepção pertence
ao sentido externo. Se vem de algum pensamento ou exercício mental, a
percepção é do sentido interno. Eu disse que o testemunho da
consciência é conclusivo para todos os fatos dados por seu testemunho
inequívoco. Não precisamos nem podemos ter qualquer evidência mais
contundente da existência de uma sensação que aquela dada pela
consciência.
Nossas primeiras impressões, pensamentos e conhecimento são
derivados dos sentidos. Mas o conhecimento derivado puramente dessa
fonte seria necessariamente muito limitado.
Da razão
A autoconsciência também nos revela a razão ou a função a priori
do intelecto. A razão é aquela função do intelecto que defende ou intui
de imediato uma classe de verdades que, pela natureza delas, não
podem ser conhecidas nem pelo entendimento nem pelos sentidos. Tais,
por exemplo, são os axiomas e postulados da matemática, filosofia e
moral. A razão fornece leis e princípios primeiros. Ela fornece o abstrato,
o necessário, o absoluto, o infinito. Ela fornece todas as suas afirmações
pela contemplação ou intuição direta, não por indução ou raciocínio. As
classes de verdades dadas por essa função do intelecto são manifestas.
Ou seja, a razão intui ou as contempla de maneira direta, assim como a
faculdade dos sentidos intui ou contempla de maneira direta uma
sensação. Os sentidos fornecem à consciência a visão direta de uma
sensação e, assim, a existência da sensação é conhecida de maneira ine-
gável por nós. A razão fornece à consciência a visão direta da classe de
verdades das quais toma conhecimento; e da existência e validade
dessas verdades já não podemos duvidar, assim como não podemos
duvidar da existência de nossas sensações.
Há uma diferença entre o conhecimento derivado dos sentidos e o
derivado da razão: no primeiro caso, a consciência nos dá a sensação:
pode-se questionar se as percepções dos sentidos são uma
contemplação direta do objeto da sensação e, por conseguinte, se o
objeto realmente existe e é o real arquétipo da sensação. De que a
sensação existe estamos certos, mas se existe o que supomos ser o
objeto e causa da sensação, admite dúvida. A questão é: será que os
sentidos intuem ou contemplam de maneira imediata o objeto da
sensação? O fato de nem sempre ser possível confiar no relato dos
sentidos parece mostrar que a percepção dos sentidos não é uma
contemplação imediata do objeto da sensação; a sensação existe, isso
sabemos; que possui uma causa, sabemos; mas talvez não saibamos se
conhecemos corretamente a causa ou o objeto da sensação.
Mas a respeito das intuições da razão, essa faculdade contempla
diretamente as verdades que afirma. Essas verdades são os objetos de
suas intuições. Não são recebidas em segunda mão. Não são inferências
ou induções, não são opiniões, nem conjecturas ou crenças; são
conhecimentos diretos. As verdades fornecidas por essa faculdade são
vistas e conhecidas de maneira tão direta que é impossível duvidar
delas. A razão, em virtude de leis próprias, contempla-as face a face à
luz das evidências delas próprias.
Do entendimento
O entendimento é aquela função do intelecto que toma, classifica e
arranja os objetos e verdades da sensação sob uma lei de classificação e
arranjo dada pela razão, e assim forma noções e opiniões e teorias. As
noções, opiniões e teorias do entendimento podem ser errôneos, mas
não é possível haver erros nas intuições a priori da razão. O
conhecimento do entendimento é com tamanha freqüência o resultado
de indução ou raciocínio, ficando com isso totalmente distante de uma
percepção direta, que muitas vezes só são conhecimento num sentido
modificado e restrito.
Da imaginação, da memória, etc, não há necessidade que eu fale
aqui.
O que se disse, creio, preparou o caminho para dizer que as
verdades da teologia agrupam-se sob duas categorias: Verdades que
exigem prova e verdades que não exigem prova.
GOVERNO MORAL
OBRIGAÇÃO MORAL
A idéia de obrigação ou dever é uma idéia de razão pura. É uma
concepção simples e racional e, falando de maneira estrita, não admite
definição, uma vez que não há termos mais simples pelos quais possa
defini-la. Obrigação é um termo pelo qual expressamos uma concepção
ou idéia que todos os homens possuem, conforme se manifesta na língua
universal dos homens. Todos os homens têm idéias de certo e errado e
têm palavras com que expressam essas idéias e, talvez, nenhuma idéia
revele-se com mais freqüência entre os homens que a de dever ou
obrigação. O termo não pode ser definido, por um motivo simples: é
compreendido tão bem e de maneira tão universal, que não precisa nem
admite que se expresse em alguma linguagem mais simples e definida
que a própria palavra obrigação.
OBRIGAÇÃO MORAL
AULA 5
A filosofia utilitarista
Ela sustenta que a utilidade de uma ação ou escolha a torna
obrigatória. Ou seja, a utilidade é o fundamento da obrigação moral; a
tendência de uma ação, escolha ou intenção garantir o bem ou um fim
valioso é o fundamento da obrigação de concretizar tal escolha ou
intenção. Quanto a essa teoria, observo:
1. Que o utilitarista deve defender, juntamente com outros, que é
nosso dever desejar o bem de Deus e do próximo pelo próprio bem; e
que o valor intrínseco desse bem cria a obrigação de desejá-lo e de
empenhar-nos para promovê-lo; que a tendência de escolhê-lo não seria
nem a utilidade nem a obrigação, mas seu valor intrínseco. Como
podem, então, sustentar que a tendência da escolha em garantir seu
objeto, em lugar do valor intrínseco do objeto, seja a base da obrigação?
É absurdo dizer que o fundamento da obrigação de escolher certo fim
deve ser encontrado, não no valor do fim em si, mas na tendência de a
intenção garantir o fim. A tendência é valiosa ou não, conforme o fim é
valioso ou não. O valor do fim, não a tendência de uma intenção garantir
o fim é e deve ser o que constitui o fundamento da obrigação de
intentar.
2. Vimos que o fundamento da obrigação de desejar ou escolher
algum fim como tal, ou seja, por ele mesmo, deve consistir no valor
intrínseco do fim, e que nada mais, seja o que for, pode impor a
obrigação de escolher algo como um fim último, senão seu valor
intrínseco. Afirmar o contrário é afirmar uma contradição. E o mesmo
que dizer que devo escolher algo como um fim, mas não como um fim,
ou seja, por ele mesmo, mas por alguma outra razão, a saber, a
tendência de minha escolha garantir tal fim. Aqui afirmo no mesmo
fôlego que o objeto intentado deve ser um fim, ou seja, ser escolhido por
seu valor intrínseco, mesmo assim não como um fim ou por seu valor
intrínseco, mas por um motivo inteiramente diferente, a saber, a
tendência de a escolha garanti-la.
3. Mas o próprio anúncio dessa teoria implica sua absurdidade.
Uma escolha é obrigatória porque tende a garantir o bem. Mas por que
garantir o bem em lugar do mal? A resposta é: porque o bem é valioso.
Ah! Então temos aqui outro motivo, e um motivo que deve ser a
verdadeira razão, a saber, o valor do bem que a escolha tende a
garantir. A obrigação de usar meios para fazer o bem pode e deve ser
condicionada pela tendência de esses meios garantirem o fim, mas a
obrigação de usá-los fundamenta-se somente no valor do fim.
4. A lei exige que amemos a Deus e ao próximo porque amar a
Deus e ao próximo tende ao bem-estar de Deus, de nosso próximo ou de
nós mesmos? É a tendência ou utilidade do amor que nos torna
obrigatório exercê-lo? Quê! Desejar o bem, não por causa de seu valor,
mas porque desejar o bem fará bem! Mas por que fará bem? O que é
esse amor? Aqui, deve-se lembrar de maneira distinta que o amor
requerido pela lei de Deus não é uma mera emoção ou sentimento, mas
desejar, escolher, intentar, em suma, que esse amor é nada mais que
uma intenção última. O que, portanto, deve ser intentado como um fim
ou pelo próprio valor dele? Seria a tendência do amor ou a utilidade da
intenção última o fim a ser intentado? Deve ser, se o utilitarismo for
verdadeiro.
De acordo com essa teoria, quando a lei requer o amor supremo a
Deus e amor igual ao próximo, o significado é, não que devamos desejar,
escolher, intentar o bem-estar de Deus e do próximo pelo próprio bem,
ou por causa de seu valor intrínseco, mas por causa da tendência de a
intenção promover o bem de Deus, do próximo e de nós mesmos. Mas
seja o qual for a tendência do amor ou da intenção, sua utilidade
depende do valor intrínseco daquilo que tende a promover. Suponham
que o amor ou a intenção tenda a promover seu fim, essa é uma
tendência útil só porque o fim é valioso em si. É absurdo, portanto, dizer
que o amor a Deus e aos homens, ou uma intenção de promover o bem
deles, é exigido, não pelo valor do bem-estar deles, mas porque o amor
tende a promover o bem estar deles. Isso representa a lei requerendo
amor, não a Deus e ao próximo como um fim, mas à tendência como um
fim. A lei nesse caso seria: "Amarás a utilidade ou a tendência do amor
de todo o teu coração", etc.
Se a teoria em consideração é verdadeira, esse é o espírito e
significado da lei: "Amarás ao Senhor e ao próximo, ou seja, escolherás o
bem deles, não pelo próprio bem, ou como um fim, mas porque a
escolha tende a promovê-lo". Isso é absurdo, pergunto de novo: por que
promovê-lo, mas não pelo próprio valor dele? Se a lei de Deus requer
intenção última, é uma contradição afirmar que a intenção deve terminar
na própria tendência dela como um fim.
5. Mas dizem que temos consciência de afirmar a obrigação de
fazer muitas coisas em razão de tais coisas serem úteis ou tenderem a
promover o bem.
Respondo que temos consciência de afirmar a obrigação de fazer
muitas coisas sob condição de sua tendência de promover o bem, mas
que jamais afirmamos que a obrigação esteja fundamentada nessa
tendência. Tenho a obrigação de usar os meios para promover o bem,
não pelo valor intrínseco dele, mas pela tendência de o meio promovê-lo!
Isso é absurdo.
Digo novamente: a obrigação de usar os meios pode e deve ser
condicionada pela tendência percebida, mas jamais fundamentada nessa
tendência. A intenção última não possui tal condição. O valor intrínseco
percebido impõe a obrigação sem nenhuma referência à tendência da
intenção.
6. Mas suponham que algum utilitarista negue que a obrigação
moral só diga respeito à intenção última e sustente que também diz
respeito àquelas volições e ações que sustentam até o fim último a
relação de meios e, portanto, assevere que o fundamento da obrigação
moral a respeito de todas essas volições e ações é a tendência delas de
garantir um fim valioso. Isso não removeria de modo algum a dificuldade
do utilitarismo; pois nesse caso a tendência só poderia ser uma condição
da obrigação, enquanto a razão fundamental da obrigação seria e
deveria ser o valor intrínseco do fim que estes teriam a tendência de
promover. A tendência de promover um fim não pode impor qualquer
obrigação. O fim deve ser intrinsecamente valioso, e só isso impõe a
obrigação de escolher o fim e de usar os meios para promovê-lo. Na
condição de que se perceba algo que mantenha até esse fim a relação
de um meio necessário, estamos, só pelo mérito do fim, sob a obrigação
de usar os meios.
Assim vemos:
1. Que a utilidade da escolha última não pode ser um fundamento
da obrigação de escolher, pois isso seria transferir, daquilo que é
intrínseco ao objeto escolhido para a tendência utilitária da escolha em
si, a base da obrigação. Conforme eu disse, a utilidade é uma condição
da obrigação de desenvolver um ato executivo, mas jamais pode ser um
fundamento da obrigação; pois a utilidade da escolha não é uma razão
encontrada exclusivamente no objeto de escolha, se for nela encontrada.
2. O caráter moral da escolha não pode ser um fundamento da
obrigação de escolher, pois essa razão não é intrínseca ao objeto de
escolha. Afirmar que o caráter da escolha é a base da obrigação de
escolher é transferir, do objeto escolhido para o caráter da escolha em si,
a base da obrigação de escolher; mas isso é uma contradição de
premissas.
3. A relação de um ser com outro não pode ser a base da obrigação
de um desejar o bem do outro, pois a base da obrigação de desejar o
bem um do outro deve ser a natureza intrínseca do bem, não as relações
entre um ser e outro. As relações podem ser condições da obrigação de
se procurar promover o bem de indivíduos em particular; mas em todos
os casos, a natureza do bem é a base da obrigação.
4. Nem a relação de utilidade, nem a de adequação moral ou
direito, conforme existentes entre a escolha e seu objeto, podem ser
uma base da obrigação, pois ambas as relações dependem, para a
própria existência delas, da importância intrínseca do objeto de escolha;
além disso, nenhuma dessas relações é intrínseca ao objeto de escolha,
como deve, para ser uma base de obrigação.
5. A importância ou valor relativo de um objeto de escolha jamais
pode ser uma base da obrigação de escolher tal objeto, pois sua
importância relativa não é intrínseca ao objeto. Mas a importância
relativa de um objeto pode ser uma condição da obrigação de escolhê-lo
como condição para garantir um objeto intrinsecamente valioso com que
mantenha a relação de meio.
6. A idéia de dever não pode ser uma base de obrigação; essa idéia
é uma condição, mas jamais um fundamento da obrigação, pois essa
idéia não é intrínseca ao objeto que afirmamos ser nosso dever escolher.
7. A percepção de certas relações existentes entre indivíduos não
pode ser uma base; embora seja uma condição da obrigação de cumprir
para com eles certos deveres. Nem a relação em si nem a percepção da
relação são intrínsecas àquilo que afirmamos ter obrigação de desejar ou
fazer para eles; obviamente, nem um nem outro podem ser uma base da
obrigação.
8. A afirmação da obrigação pela razão não pode ser uma base,
embora seja uma condição da obrigação. A obrigação é afirmada com
base na importância intrínseca do objeto, e não em vista da afirmação
em si.
9. A vontade soberana de Deus jamais é o fundamento, embora
com freqüência seja uma condição de certas formas de obrigação. Se
conhecêssemos o valor intrínseco ou relativo de um objeto, teríamos a
obrigação de escolhê-lo, quer fosse isso requerido quer não, por Deus.
A vontade revelada de Deus é sempre uma condição da obrigação,
sempre que tal revelação seja indispensável para nosso entendimento da
importância intrínseca ou relativa de algum objeto de escolha. A vontade
de Deus não é intrínseca ao objeto que Ele nos ordena desejar e,
obviamente, não pode ser uma base da obrigação.
10. A excelência moral de um ser jamais pode ser um fundamento
da obrigação de desejar seu bem; pois seu caráter não é intrínseco ao
bem que devemos desejar para ele. O valor intrínseco daquele bem deve
ser a base da obrigação, e seu bom caráter só uma condição da
obrigação de desejar seu gozo do bem em particular.
O bom caráter jamais pode ser uma base da obrigação de escolher
algo que não ele próprio; pois as razões da escolha última devem ser
encontradas exclusivamente no objeto de escolha. Assim, se o caráter é
uma base da obrigação de desenvolver uma escolha última, deve ser o
objeto de tal escolha.
11.0 direito jamais pode ser uma base da obrigação, a menos que o
direito em si seja o objeto que temos a obrigação de escolher por si.
12. A susceptibilidade ao bem jamais poder ser uma base, embora
seja uma condição da obrigação de desejar o bem para um ser. A
susceptibilidade não é intrínseca ao bem que devemos desejar e,
portanto, não pode ser uma base da obrigação.
13. Nenhum elemento pode ser a base da obrigação de escolher
algum outro elemento; pois os motivos para a escolha de algo, com fim
último, devem ser encontrados nele mesmo, não em algo estranho a ele.
14. Pela admissão do fato de que nada, senão a escolha ou
intenção última é certa ou errada per se, e que todas as volições
executivas, ou atos, derivam seu caráter da intenção última a que
devem a existência, segue-se:
(a) Que se as volições executivas são desenvolvidas com a
intenção de garantir um fim intrinsecamente valioso, são corretas; se
não, são erradas.
(b) Também se segue que a obrigação de desenvolver atos
executivos é condicionada, não fundamentada, pela suposta utilidade de
tais atos. De novo:
(c) Também se segue que todos os atos externos são certos ou
errados conforme provêem de uma intenção correta ou errada.
(d) Também se segue que a justiça de qualquer volição executiva
ou ato externo depende da utilidade suposta e intentada daquela volição
ou ato. A utilidade delas deve ser pressuposta como uma condição da
obrigação de desenvolvê-las e, é claro, sua utilidade intentada é uma
condição para estarem corretas.
(e) Também se segue que, sempre que decidimos ser nosso dever
desenvolver algum ato externo, qualquer que seja, independentemente
de sua suposta utilidade, por pensarmos ser correto, nos enganamos;
pois é impossível que atos externos ou volições que, pela natureza são
sempre executivos, possam ser obrigatórios ou corretos,
independentemente de sua suposta utilidade ou tendência de promover
um fim intrinsecamente valioso.
(f) Segue-se também que é erro crasso afirmar a retidão de um ato
executivo como uma razão para desenvolvê-lo, mesmo supondo que sua
tendência seja para o mal e não para o bem. Com essa suposição não há
possibilidade de algum ato executivo estar correto. Quando Deus requer
certos atos executivos, sabemos que eles tendem a garantir o máximo
bem e que, se desenvolvidos para garantir tal bem, são corretos. Mas em
caso algum em que Deus não tenha revelado o caminho do dever no que
diz respeito a atos executivos ou cursos de vida, devemos decidir tais
questões em vista de sua retidão, independentemente da boa tendência
de tais atos ou cursos de vida; pois a retidão deles depende de sua
suposta boa tendência.
Mas dizem que um agente moral pode às vezes ter a obrigação de
desejar o mal em lugar do bem para os outros.
Resposta: Jamais pode ser dever de um agente moral desejar para
algum ser o mal pelo mal ou o mal como um fim último. O caráter e as
relações governamentais de um ser podem ser tais que possa ser seu
dever desejar sua punição para promover o bem público. Mas nesse caso
o bem é o fim desejado e a desgraça, só o meio. Assim, pode ser o dever
de um agente moral desejar a desgraça temporária até de um ser santo
para que se promovam os interesses públicos. Tal foi o caso dos
sofrimentos de Cristo. O Pai desejou sua desgraça temporária para
promover o bem público. Mas em todos os casos quando é dever desejar
a desgraça é só como um meio ou condição para o bem público ou
individual, e não como um fim último.
1
Na edição de 1878, aqui começa uma nova aula
intitulada: Fundamento da Obrigação Moral.
2
Veja Glossário.
3
Na edição de 1878, aqui começa uma nova aula
intitulada: Fundamento da Obrigação Moral.
4
Na edição de 1878, aqui começa uma nova aula
intitulada: Fundamento da Obrigação Moral.
AULA 6
TENDÊNCIAS PRÁTICAS DAS VÁRIAS
TEORIAS DO FUNDAMENTO
DA OBRIGAÇÃO MORAL
AULA 7
A UNIDADE DA AÇÃO MORAL
AULA 8
OBEDIÊNCIA À LEI MORAL
AULA 10
EM QUE CONSISTE A DESOBEDIÊNCIA À LEI MORAL
ATRIBUTOS DO EGOÍSMO
AULA 12
SANÇÕES DA LEI MORAL, NATURAL E GOVERNAMENTAL
O termo expiação
A palavra "expiação" vem do termo hebraico cofer. Trata-se de um
substantivo do verbo caufar, cobrir. O cofer ou a cobertura era o nome
da tampa ou cobertura da arca da aliança e constituía o que era
chamado propiciatório. A palavra grega traduzida por expiação é
katallage. Isso significa reconciliação com o favor ou, mais estritamente,
os meios ou condições para que haja reconciliação com o favor; de
katallasso, "mudar ou trocar". O significado estrito do termo é
substituição. Um exame dessas palavras originais, no contexto em que
se apresentam, mostrará que a expiação é a substituição governamental
da punição dos pecadores pelos sofrimentos de Cristo. São os
sofrimentos de Cristo cobrindo os pecados dos homens.
O fato da expiação
Essa é uma doutrina pura da revelação e, no estabelecimento
dessa verdade, é preciso apelar só às Escrituras.
1. Todas as Escrituras judaicas e, em especial, toda a dispensação
cerimonial dos judeus atestam sem o menor equívoco a necessidade de
uma expiação.
2. O Novo Testamento é também igualmente inequívoco em seu
testemunho quanto ao mesmo ponto.
Devo aqui tomar por assentado que Cristo era o próprio Deus "que
se manifestou em carne" (1 Tm 3.16) e passar a citar algumas dentre
uma multidão de passagens que atestam o fato de sua morte e também
sua natureza viçaria; ou seja, que foi por nós e como satisfação da
justiça pública em relação a nossos pecados, que seu sangue foi
derramado. Primeiro citarei algumas passagens para mostrar que a
expiação e a redenção, por meio dele, eram uma questão de
entendimento e aliança entre o Pai e o Filho. "Fiz um concerto com o
meu escolhido; jurei ao meu servo Davi: a tua descendência estabe-
lecerei para sempre e edificarei o teu trono de geração em geração
(Sela)" (Sl 89.3,4); "Todavia, ao SENHOR agradou o moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a
sua posteridade, prolongará os dias, e o bom prazer do SENHOR
prosperará na sua mão. O trabalho da sua alma ele verá e ficará
satisfeito; com o seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a
muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si. Pelo que lhe darei a
parte de muitos, e, com os poderosos, repartirá ele o despojo; porquanto
derramou a sua alma na morte e foi contado com os transgressores; mas
ele levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu"
(Is 53.10-12); "Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de
maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu não para fazer
a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do
Pai, que me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se
perca, mas que o ressuscite no último Dia" (Jo 6.37-39); "Manifestei o teu
nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e
guardaram a tua palavra. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas
por aqueles que me deste, porque são teus. E eu já não estou mais no
mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em
teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós"
(Jo 17.6, 9,11).
Em seguida cito algumas passagens para mostrar que se os
pecadores devessem ser salvos, isso seria por meio da expiação. "E em
nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At
4.12); "Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por este se vos
anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não
pudestes ser justificados" (At 13.38,39); "Ora, nós sabemos que tudo o
que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca
esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso,
nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque
pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.19-20); "Sabendo, contu-
do, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé
em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos
justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da
lei, ninguém será justificado. Não anulo a graça de Deus; pois, se a
justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão" (Gl
2.16,21); "Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da
maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer
em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é
evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o
justo viverá da fé. Ora, a lei não é da fé, mas o homem que fizer estas
coisas por elas viverá. Porque, se a herança provém da lei, já não
provém da promessa; mas Deus, pela promessa, a deu gratuitamente a
Abraão.
Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões,
até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita, e foi
posta pelos anjos na mão de um medianeiro. Ora, o medianeiro não o é
de um só, mas Deus é um. Logo, a lei é contra as promessas de Deus?
De nenhuma sorte; porque, se dada fosse uma lei que pudesse vivificar,
a justiça, na verdade, teria sido pela lei. De maneira que a lei nos serviu
de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos
justificados" (Gl 3.10-12,18-21,24); "E quase todas as coisas, segundo a
lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há
remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que
estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais,
com sacrifícios melhores do que estes" (Hb 9.22, 23).
Cito agora passagens que estabelecem o fato da morte viçaria de
Cristo e da redenção por meio de seu sangue. "Mas ele foi ferido pelas
nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que
nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados.
Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava
pelo seu caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós
todos" (Is 53.5-6); "Bem como o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt
20.28); "Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que
é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.28); "E,
como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho
do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pere-
ça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.14,15); "Eu sou o pão vivo que desceu
do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu
der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo" (Jo 6.51); "Olhai,
pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue" (At 20.28); "Sendo justificados gratuitamente
pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus
propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua
justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de
Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que
Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Logo, muito
mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos
da ira. Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus
pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos
salvos pela sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em
Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a
reconciliação. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre
todos os homens para condenação, assim também por um só ato de
justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.
Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos
pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos"
(Rm 3.24-26,5.9-11,18,19); "Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para
que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque
Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Porque primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras" (1 Co 5.7; 15.3); "Já estou crucificado com Cristo;
e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na
carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si
mesmo por mim. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios por Jesus Cristo e para que, pela fé, nós recebamos a promessa
do Espírito" (Gl 2.20; 3.13,14); "Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que
antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. E andai
em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por
nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave" (Ef 2.13, 5.2); "Nem
por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou
uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque,
se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida
sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto
mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si
mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras
mortas, para servirdes ao Deus vivo? E quase todas as coisas, segundo a
lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há
remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que
estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais,
com sacrifícios melhores do que estes. Porque Cristo não entrou num
santuário feito por mãos, figura do verdadeiro; porém no mesmo céu,
para agora comparecer, por nós, perante a face de Deus; nem também
para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada
ano entra no Santuário com sangue alheio. Doutra maneira, necessário
lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas, agora,
na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o
pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado
morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo, assim também Cristo,
oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá
segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação" (Hb 9.12-
14,22-28); "Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do
corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. E assim todo sacerdote aparece
cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios,
que nunca podem tirar pecados; mas este, havendo oferecido um único
sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus,
daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por
escabelo de seus pés. Porque, com uma só oblação, aperfeiçoou para
sempre os que são san*:ificados" (Hb 10.10-14); "Tendo, pois, irmãos,
ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne" (Hb
10.19,20); "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por
tradição, recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1 Pe 1.18,19);
"Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro,
para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e
pelas suas feridas fostes sarados" (1 Pe 2.24); "Porque também Cristo
padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a
Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito" (1
Pe 3.18); "Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos
purifica de todo pecado" (1 Jo 1.7); "E bem sabeis que ele se manifestou
para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado" (1 Jo 3.5); "Nisto se
manifestou a caridade de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho
unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está a caridade:
não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e
enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4.9-10).
Essas, como todo leitor da Bíblia deve saber, são apenas algumas
das passagens que ensinam a doutrina da expiação e redenção pela
morte de Cristo. É de fato maravilhoso como de várias maneiras essa
doutrina é ensinada, pressuposta e implicada na Bíblia. Aliás, é
enfaticamente o grande tema da Bíblia. Ela é expressa ou implícita em
quase todas as páginas da inspiração divina.
AULA 14
EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO
AULA 15
GOVERNO HUMANO
Objeção: 5. Alega-se que o amor é tão melhor que a lei, que onde
reina o amor no coração, é possível dispensá-la de maneira universal.
Resposta: Isso supõe que, se houver só amor, não é preciso haver
regra de dever, qualquer revelação que dirija o amor em seus esforços
para garantir o fim a que se destina. Mas isso é totalmente falso. A
objeção desconsidera o fato de que a lei é a regra de dever em todos os
mundos e que as sanções legais formam uma parte indispensável
daquele círculo de motivos adequados à natureza, relações e governo
dos seres morais.
AULA 16
DEPRAVAÇÃO MORAL