Caso de Estudo
“Edifício Solar XXI”, inaugurado em Lisboa em 2006. Pretende ser um exemplo da integração e
aplicação de energias renováveis num edifício de serviços, com a utilização de sistemas solares
passivos e ativos, energeticamente eficiente e de baixo consumo energético.
Conceito do Edifício
A designação “Edifício Solar XXI” enfatiza a opção de utilização da “Energia Solar”, na sua vertente térmica
(solar ativo e passivo) e elétrica (solar fotovoltaico).
O projeto é marcado pela integração de soluções passivas de desempenho térmico, procurando diminuir suas
necessidades de aquecimento e arrefecimento, diminuindo o uso de sistemas mecânicos de aquecimento e
arrefecimento, sem prejuízo de níveis satisfatórios de conforto ambiental tanto no Inverno, como no Verão.
Tentou-se que os sistemas solares utilizados não se assumissem formalmente como elementos adicionados à
arquitetura, mas que fossem, eles próprios, geradores do conceito formal do edifício, resultando numa lógica
de conjunto e não como uma perturbação adicionada. Esta é uma das dificuldades maiores da integração das
denominadas Tecnologias Solares Passivas, na medida em que existe claramente o “preconceito”, de que o
solar passivo interfere negativamente com a liberdade de criação formal da solução arquitetônica.
O edifício tem funções de serviços e de laboratório, uma área total de 1500 m2, dividida em 3 pisos. Nos
espaços interiores, as salas de ocupação permanente se colocaram na parte orientada a sul, para tirar
partido dos sistemas de aquecimento e arrefecimento direto colocados nesses espaços. A zona norte do
edifício é ocupada por laboratórios e salas de reunião, com ocupação menos permanente. Na zona central há
um corredor de separação, com uma clarabóia de iluminação comum aos três pisos. Os espaços norte e sul
comunicam com a zona central através de aberturas translúcidas e reguláveis. Estas aberturas permitem
gerir a transferência de calor, por convecção natural da zona sul, mais quente no Inverno para a zona norte.
Construção do Edifício
Em termos construtivos, é um edifício constituído por paredes de alvenaria de tijolo, isoladas pelo exterior
com 6 cm de EPS (Poliestireno Expandido ou Isopor). A laje de cobertura é maciça, isolada pelo exterior com
10 cm (5 cm de EPS + 5 cm de XPS, Poliestireno Extrudido).
A solução do isolamento pelo exterior conduz, naturalmente, a uma situação sem qualquer ponte térmica,
sendo, do ponto de vista térmico, uma solução muita boa, diminuindo a condução de calor no Verão do
exterior para o interior do edifício, o que permite um menor impacto na carga de arrefecimento do edifício.
O edifício tem uma planta, na qual a fachada principal corresponde exatamente ao sul, onde foram colocados
a maioria dos vãos envidraçados de forma a maximizar a captação solar no período de Inverno (fig. 7 e 8).
Estes mesmos vãos são protegidos por estores exteriores de lâminas, reguláveis individualmente, e que
permitem o controle da captação solar, evitando a radiação solar indesejável durante o Verão (fig. 9).
A estratégia de captação solar no período de Inverno, aliada a um bom isolamento da envolvente, é
fundamental para a obtenção de condições de conforto térmico no interior do edifício, registrando, ainda
assim, a necessidade de recorrer a energia auxiliar para aquecimento em períodos continuados de ausência
de radiação solar.
Para este efeito, o edifício tem um sistema de aquecimento por convectores a água quente, fornecida por
uma caldeira a gás natural e assistida por um sistema de coletores solares localizados na cobertura do
edifício (e depósito de armazenamento solar) (fig. 10).
Solar Fotovoltaico
Na concepção do edifício, foi definido sistema fotovoltaico para produção de energia elétrica para consumo
próprio. Também se definiu a recuperação do calor, produzido pelos painéis fotovoltaicos para aquecimento
ambiente do edifício (fig. 12 e 13).
Estes dois propósitos conduziram à integração dos painéis fotovoltaicos, na fachada sul e na posição vertical.
Ainda que nesta situação se prejudique a captação solar e a produção de energia elétrica, é nesta posição
que mais facilmente se recuperará o calor produzido pelos painéis fotovoltaicos.
Foram instalados na fachada sul 100m2 de painéis fotovoltaicos totalizando cerca de 12 kWp para
fornecimento direto de energia elétrica ao edifício. Estima-se que a produção anual de energia elétrica seja
de cerca de 12 MWh, o que corresponde a cerca de 30 a 50% do consumo elétrico da estrutura (Iluminação
e Consumos do Equipamento Informático).
No gráfico abaixo, em Março de 2006 há uma produção contabilizada, desde Junho de 2005, da ordem dos
9800 KWh, o que confirma as expectativas iniciais.
Como já se referiu anteriormente, pretendeu-se, neste edifício, integrar os painéis fotovoltaicos de forma a
ser possível recuperar o calor produzido pelos mesmos, sendo esta uma das inovações deste projeto.
Assim, foi colocado na parede a sul de cada uma das salas um conjunto de 4 painéis, instalados de acordo
com o esquema da figura 12, de forma a propiciar o aproveitamento térmico das células fotovoltaicas no
período de Inverno.
Deste modo, cada sala comunica diretamente com o espaço posterior das células, onde recupera o calor
produzido pelas mesmas no Inverno, através de dois orifícios, um inferior e outro superior, controlados pelo
utilizador da sala. Durante um dia de Inverno, o utilizador pode abrir os dois orifícios e permitir a circulação
do ar entre a sala e o espaço contíguo à sala e, desta forma, aquecê-la.
No período de Verão, poderão ocorrer duas situações funcionais, o calor produzido nas células é evacuado
para o exterior por dois orifícios que comunicam diretamente entre as células fotovoltaicas e o exterior.
A outra situação corresponde ao aproveitamento do efeito de chaminé, e conseqüente evacuação do calor
interno da sala para o exterior.
Finalmente, o sistema poderá funcionar na meia estação como um sistema de pré-aquecimento do ar novo,
no qual se admite o ar do exterior por intermédio do orifício de comunicação entre as células e o exterior,
sendo esse ar injetado diretamente no interior da sala por convecção natural através do orifício superior de
comunicação entre as células e a sala.
Tendo o edifício sido ocupado em Janeiro de 2006, já é possível comprovar que este sistema, num dia de sol,
conduz a temperaturas no espaço contíguo aos painéis solares entre os 40 e 50ºC, sendo a temperatura de
injeção na sala de cerca de 30 - 35ºC.
Relativamente ao efeito desta recuperação de calor dos painéis fotovoltaicos, é suposto que a diminuição de
temperatura verificada nos painéis fotovoltaicos, em conseqüência desta estratégia, conduza a uma melhor
eficiência energética dos mesmos, pois é sabido que a sua eficiência melhora com a diminuição de
temperatura de funcionamento dos mesmos.
Sistema de Arrefecimento Passivo
No Verão o edifício vai utilizar, um conjunto de estratégias que permitirão o arrefecimento natural. Estas
estratégias conjugam o efeito da obstrução aos raios solares, pela diminuição da condução de calor pelo
isolamento exterior, nos vãos envidraçados (persianas reguláveis), a ventilação natural e o arrefecimento do
ar por tubos enterrados que permitirão a entrada de ar arrefecido no solo no interior do edifício.
Foram colocados 32 manilhas de cimento (diâmetro de 30 cm) enterradas a 4,6 m, a partir de um poço de
alimentação colocado a cerca de 15 metros do edifício (fig. 15 e 16). Estes tubos vão entrar no edifício pela
porão, subindo pelas paredes centrais, efetuando a distribuição do ar diretamente nas salas que se poderá
controlar, quer pela abertura de umas portas móveis, quer através de um pequeno ventilador.
Pretende-se, fundamentalmente, que este tipo de sistema funcione na situação de Verão, aproveitando o
diferencial de temperatura entre a temperatura do ar exterior (diurna, que pode chegar aos 30-35ºC) e a
temperatura da terra (14-18ºC). Desta forma, é utilizada esta fonte fria para arrefecer o ar a injetar nas
salas. A gestão funcional do sistema dependerá muito do comportamento global do edifício em termos
térmicos, prevendo-se que o sistema possa funcionar com maior eficiência caso seja promovida a entrada de
ar dos tubos a partir do meio da tarde, altura em que se requer ar frio para compensar o aumento de
temperatura interior.
A ventilação natural tem um importante papel neste edifício, quer na situação de Inverno quer na de Verão.
No primeiro caso, gerindo a transferência de calor dos espaços a sul para as zonas a norte. No Verão, como
estratégia fundamental de arrefecimento, sobretudo em termos de ventilação noturna, permitindo libertar
durante a noite as cargas acumuladas durante o dia e assim arrefecer a massa térmica do edifício. Foram
implementados vários tipos de aberturas, que permitem uma ventilação transversal e vertical, usando
aberturas na cobertura do edifício, quer na clarabóia central, quer no topo das escadas localizadas a
nascente e a poente do edifício. Esta estratégia de gestão de cargas térmicas é fundamental para a boa
prestação térmica do edifício, pelo que o utilizador de cada espaço será responsável pela sua gestão.
Fig. 18 − Montagem dos tubos
De referir também um outro aspecto muito cuidado neste edifício: a sua iluminação natural. No centro do
edifício verifica-se a existência de uma clarabóia central, aberta nos três níveis, que alimenta não só os
corredores mas, também, as salas a norte e a sul, por intermédio de vãos translúcidos (fig. 19). Estes
sistemas conduzem a reduzidas necessidades de iluminação.