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REDAÇÃO FUVEST

Pós-verdadeiro adj. Que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm
menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais.

Dicionário Oxford. Adaptado.

Pós-verdadeiro parece mais uma expressão de impacto para chamar a atenção de um público
saturado de informações e inclinado para a alienação noticiosa. Mas o fato é que estamos
diante de um fenômeno que já começou a mudar nossos comportamentos e valores em relação
aos conceitos tradicionais de verdade, mentira, honestidade e desonestidade, credibilidade e
dúvida. Segundo a revista The Economist, o mundo contemporâneo está substituindo os fatos
por indícios, percepções por convicções, distorções  por vieses. Estamos saindo da dicotomia
tradicional entre certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto, fatos ou versões, verdade ou
mentira para ingressarmos numa era de avaliações fluidas, terminologias vagas ou juízos
baseados mais em sensações do que em evidências. A verossimilhança ganhou mais peso que
a comprovação.

Carlos Castilho. Adaptado.

Fonte: https://theintercept.com.

Seria prudente resgatarmos o território da verdade. Substantivo feminino. Simples assim.


Expressão dos fatos, e fatos podem ser verificados. Esse é o papel do jornalismo. Ou
torcermos para que, no ano que vem, a palavra escolhida pelo Dicionário de Oxford não seja
parecida com desastre.

Luiz Cláudio Latgé


Entramos na era da pós-verdade e do pós-fato, em que a verdade não é falsificada, ou
contestada, mas de importância secundária. A campanha de Donald Trump nos Estados
Unidos, a popularização dos enunciados criacionistas e da cura gay anunciados pelos
parlamentares-pastores no Brasil, a campanha jurídico-midiática que produziu o
impeachment, o repertório memético da direita e da esquerda, transformam questões
complexas em evidências instantâneas, em sentimentos, preconceitos, caricaturas que podem
ter apenas um efeito irônico e cômico ou podem, em uma campanha política ou de difamação,
serem devastadores e destruir reputações, campos e a credibilidade de grupos inteiros.

Ivana Bentes

Para alguns filósofos, o empirismo está correto ao considerar que a verdade é


sempre verdade de fato e é obtida por indução e por experimentação. No entanto, além disso,
é preciso acrescentar qual o critério que permite decidir-se se um conhecimento é verdadeiro.
Esse critério é sua eficácia ou sua utilidade. Um conhecimento é verdadeiro não só quando
explica alguma coisa ou algum fato, mas sobretudo quando permite obter consequências
práticas e aplicáveis.
[...]
A verdade é, ao mesmo tempo, frágil e poderosa. Frágil porque os poderes
estabelecidos podem destruí-la, assim como mudanças teóricas podem substituí-las por outra.
Poderosa porque a exigência do verdadeiro é o que dá sentido à existência humana.

Marilena Chauí. Adaptado.

Conhecer é pensar o que é. O conhecimento é certa relação – de conformidade, de


semelhança, de adequação – entre o espírito e o mundo, entre sujeito e objeto. Assim
conhecemos  nossos amigos, nosso bairro, nossa casa. O que há em nosso espírito, quando
pensamos neles, corresponde aproximadamente ao que existe na realidade.
Este aproximadamente é o que distingue o conhecimento da verdade. Pois sobre
nossos amigos, podemos nos equivocar. Sobre nosso bairro, nunca sabemos tudo. Inclusive
sobre nossa própria casa, podemos ignorar muitas coisas. Quem pode jurar que ela não foi
invadida por cupins? Ou que, pelo contrário, não está construída sobre um tesouro escondido?
Não há conhecimento absoluto, conhecimento perfeito, conhecimento infinito. Você conhece
o seu bairro? Naturalmente! Mas para conhecê-lo na sua totalidade, você teria de poder
descrever todas e cada uma das ruas que nele existem, todos os edifícios de cada rua, todos os
cantos e recantos de cada casa ou apartamento, todas e cada partícula de poeira, todos e cada
um dos átomos de cada objeto lá encontrado… Como você poderia fazer isso? Você
precisaria de uma ciência absoluta e de uma inteligência infinita; nem uma nem outra está ao
nosso alcance.
Isso não quer dizer que nada conhecemos. Se fôssemos incapazes de conhecer
alguma coisa, como saberíamos o que é conhecer e o que é ignorar? Neste campo, a pergunta
de Montaigne é: o que existe de facto.

André Comte-Sponville
O conjunto de excertos acima contém um verbete, que traz uma definição de pós-
verdade, seguido de outros textos (sendo um deles uma charge) que apresentam diferentes
reflexões sobre o mesmo assunto ou que se lhe relacionam. Considerando as ideias neles
contidas, além de outras informações que você julgue pertinentes, redija uma dissertação em
prosa, na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o tema A pós-verdade na era da
informação e do conhecimento.

Instruções:

A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma padrão da língua
portuguesa.

Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível.

Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.

Dê um título a sua redação.

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