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Pesquisa mostra que mais de 86 milhões de brasileiros não têm

acesso a serviço jurídico gratuito da DPU


Por falta de orçamento, a Defensoria Pública da União está ausente em 71,3% das varas
federais, o que dificulta o acesso à Justiça da população vulnerável

Mais de 86 milhões de brasileiros não têm acesso aos serviços jurídico-assistenciais oferecidos
pela Defensoria Pública da União (DPU), dos quais 78 milhões são pessoas economicamente
vulneráveis com renda familiar de até três salários mínimos. O diagnóstico é da Pesquisa
Nacional da Defensoria Pública 2021, um dos maiores levantamentos sobre acesso à justiça já
realizados no Brasil.

De acordo com a pesquisa, ao menos 40,7% da população brasileira encontram-se


potencialmente à margem do sistema de justiça federal e impedidos de reivindicar seus
próprios direitos por intermédio da DPU. O trabalho foi realizado em cooperação entre os
Defensores Públicos Gerais, Corregedores Gerais, Defensores Públicos e Servidores das
Defensorias Públicas Estaduais, da Defensoria Pública do Distrito Federal e da Defensoria
Pública da União.

A situação contraria o artigo 134 da Constituição Federal e o artigo 98 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT). De acordo com o texto, a União, os estados e o Distrito
Federal devem contar com defensoras e defensores públicos em todas as unidades
jurisdicionais do Poder Judiciário de forma proporcional à efetiva demanda pelo serviço da
Defensoria Pública e à respectiva população.

Prazo quase esgotado


A Emenda Constitucional nº 80, de 2014, estabelece que a determinação seja cumprida até
2022. Até o momento, porém, apenas 80 subseções judiciárias são regularmente atendidas
pela Defensoria Pública da União, representando 28,7% do total. Segundo a pesquisa, 125,6
milhões de habitantes possuem potencial acesso aos serviços jurídico-assistenciais oferecidos
pela DPU, representando 59,3% da população brasileira.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que todo indivíduo, brasileiro ou estrangeiro, que
comprovar insuficiência de recursos terá assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo
Estado. O critério para ter acesso a atendimento da DPU é a renda bruta familiar mensal, que,
atualmente, não deve ultrapassar R$ 2 mil. Para aqueles que ganham acima desse limite, é
necessário comprovar a incapacidade de pagar por um advogado, diante do
comprometimento do sustento próprio ou da família.

A DPU atua em causas que envolvem a União, como pagamentos de aposentadorias,


benefícios e auxílios sociais do INSS, solicitação de medicamentos e insumos fornecidos ou
não pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pedidos de cirurgias e procedimentos negados pelo
Poder Público, ações envolvendo o Programa Minha Casa Minha Vida, entre outros. Em 2020,

SBS Qd. 02, Bloco E, Lote 15, Edifício Prime, Sala 303, Asa Sul, Brasília/DF, CEP 70070-120
Fone (61) 3326-9121 – www.anadef.org.br
por exemplo, foram realizados mais de 575 mil atendimentos jurídicos relacionados apenas
ao auxílio emergencial.

“Estamos falando de uma população em situação de extrema vulnerabilidade e insegurança


social, sem condições de contratar advogado particular para promover a defesa de seus
direitos. E a falta de estruturação da Defensoria Pública impede que elas tenham efetivo
acesso à justiça. Diante disso, podemos dizer que há um descompromisso inconstitucional
com esses brasileiros e brasileiras”, avalia o presidente da Associação Nacional das Defensoras
e Defensores Públicos Federais (Anadef), Eduardo Kassuga.

SEÇÕES E SUBSEÇÕES JUDICIÁRIAS FEDERAIS ATENDIDAS PELA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

Fonte: Defensoria Pública da União | Pesquisa Nacional da Defensoria Pública (2021). Dados sobre a base geográfica de jurisdição das seções e subseçoẽ s judiciárias
federais obtidos junto aos Tribunais Regionais Federais. Dados sobre as seções e subseçoe ̃ obtidos junto à DPU.
̃ s atendidas pela Defensoria Pública da Uniao
Informaçoe
̃ s atualizadas até 10/03/2021. Cartografia: Eduardo Dutenkefer.

Há uma grande disparidade ainda no quantitativo de membros da Defensoria Pública, do


Ministério Público e do Poder Judiciário por unidade federativa. O número de defensoras e
defensores públicos federais é 207,3% menor que o quadro de promotores(as) e
procuradores(as) de Justiça; 772,2% menor que o quadro de juízes(as), desembargadores(as)
e ministros(as).

“Realizando a análise comparativa entre o quantitativo de membros da Defensoria Pública, do


Ministério Público e do Poder Judiciário por unidade federativa, os dados revelam que a
iniquidade entre as instituições que compõem o sistema de justiça ainda subsiste em todo o
país, em maior ou menor medida”, explica o Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro
Diogo Esteves, um dos responsáveis pela pesquisa.

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A análise comparativa foi realizada considerando o quantitativo de membros do Ministério
Público e do Poder Judiciário inseridos na área geográfica e jurisdicional de atuação de cada
Defensoria Pública. Com relação à Defensoria Pública da União, por possuir atribuição legal
para atuar nos estados e no Distrito Federal, junto às Justiças Federal, do Trabalho, Eleitoral,
Militar e Tribunais Superiores, foram considerados os membros do Ministério Público e Poder
Judiciário que atuam perante os referidos órgãos jurisdicionais.

A diferença com os demais órgãos do sistema de justiça também é relevante em relação aos
recursos disponíveis. Em 2021, o orçamento destinado à Defensoria Pública da União é
1.137,25% menor que do Ministério Público e 7.669,02% menor que do Poder Judiciário. O
orçamento deste ano da DPU é de R$ 607,8 milhões.

A Pesquisa Nacional da Defensoria Pública promoveu a coleta de informações sobre a


distribuição geográfica dos órgãos de atuação da Defensoria Pública no território nacional,
realizando o cruzamento com os dados sobre a distribuição demográfica dos destinatários dos
serviços jurídico-assistenciais públicos.

Contato:
Helayne Boaventura – FSB Comunicação: (61) 9.8153.6246

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