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PARA QUE SERVEM AS ESCOLAS?

*
MICHAEL YOUNG**

Michael Young responde à pergunta-título afirmando que as escolas capacitam ou podem capacitar
jovens e adultos a adquirirem um conhecimento que, para a maior parte deles, não pode ser
adquirido em casa, nem na comunidade, ou mesmo nos seus locais de trabalho.

Currículo-
Para Young (1971, 2000), o currículo deve ser entendido com um propósito em si mesmo, que é o
desenvolvimento intelectual dos alunos. E tal desenvolvimento é baseado em conceitos e não em
habilidades. Explica que os conteúdos são importantes, por meio desses é possível formar conceitos.

escola é o lugar onde melhor se efetiva a educação.


Quem financia a educação e quais interesses estão em jogo.
Universos : o político e o econômico.

“para capacitar jovens para adquirir o conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser
adquirido em casa ou em sua comunidade [...]”. (p. 1294). Assim sendo, já temos a resposta do
autor à pergunta suscitada. O passo seguinte de Young consistirá em mostrar a consistência de sua
resposta. Para isso ele estrutura o texto em oito tópicos, que aqui vão ser chamados de partes.

questão sociológica e pedagógica, e não filosófica- diferenciação entre conhecimento escolar e


conhecimento não escolar

http://philosofiaeciencia.blogspot.com/2012/04/resenha-do-texto-para-que-servem-as.html

YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? In: Educ.soc., Campinas, vol. 28, n. 101, p. 1287-
1302, ser/dez. 2007.
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FÁBIO COIMBRA
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Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão


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Definir o papel da escola em meio à complexidade do mundo moderno e contemporâneo certamente


não é uma das mais fáceis tarefas. É um ato que, para sua melhor efetivação, deve levar em conta
múltiplos fatores que vão, por exemplo, do econômico (que obviamente exerce muita influencia
sobre a educação) ao cultural (entendendo-se aqui por elemento cultural a totalidade das práticas,
costumes, atos, ritos, símbolos e valores que norteiam a vida de um povo, uma comunidade ou um
grupo).
Para definir o papel da escola é preciso também definir o que se entende por escola. Se partirmos do
princípio de que a escola é o lugar onde melhor se efetiva a educação, precisaremos perguntar o que
é a educação e qual a sua finalidade. A resposta a essa questão toca em outro assunto, a saber, quem
financia a educação e quais interesses estão em jogo, assunto esse que, à sua vez, traz a baila dois
universos paralelos: o político e o econômico. Nesse contexto, já estamos diante de determinados
conflitos, os quais, nesse sentido, são frutos das brigas de interesses, muitas vezes, particulares.
Portanto, não é fácil definir o papel da escola, o que não significa dizer que isso é impossível, e nem
que não haja quem por esse caminho tenha enveredado.
Michael Young é um dos pensadores que quis dar conta dessa problemática. Assim, ao questionar
“para que servem as escolas?”, ousou responder: “para capacitar jovens para adquirir o
conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser adquirido em casa ou em sua comunidade
[...]”. (p. 1294). Assim sendo, já temos a resposta do autor à pergunta suscitada. O passo seguinte de
Young consistirá em mostrar a consistência de sua resposta. Para isso ele estrutura o texto em oito
tópicos, que aqui vão ser chamados de partes.
Na primeira parte (Os críticos de escolas nos anos 1970 e 1980), Young busca mostrar como a
esquerda (ao que parece, política) e a sociologia da educação estavam próximas uma da outra em
razão de apresentarem visões negativas à questão da escolaridade. Segundo ele, “a idéia de que o
papel primordial das escolas na sociedade capitalista era o de ensinar à classe trabalhadora qual era
o seu lugar era amplamente aceita no campo da sociologia da educação”. (p. 1298). Por esse ângulo,
já se torna passível de percepção a influência da teoria marxista no meio educacional. Essa
influência marxista vai ser retomada na segunda parte do texto (A Virada pós-estruturalista nas
ciências sociais). Porem, nesse contexto, segundo o autor, essas influencias “perderam sua
credibilidade”. (p. 1290). Ao tratar desse assunto, Young deixa a impressão de que essa perda
resultara do fato de que a teoria marxista teria faltado ao prever o fim do capitalismo (o que até hoje
não ocorrera). “[...] essas criticas [oriundas do marxismo] tinham muito pouco a dizer sobre escolas,
exceto para outros cientistas sociais”. (p. 1290).
Na terceira parte (Respostas governamentais), o autor mostra a tensão que se gerara entre o setor
político e o educacional. Por um lado, os neoliberais defendiam a idéia de que “a economia deveria
ser deixada para o mercado e que os governos deveriam desistir de tentar ter políticas econômicas
ou industriais”. (p. 1290). Acatando essas idéias neoliberais, “os governos dedicavam seus esforços
a reformar o sistema educacional ou aprimorar o ‘capital humano’”. De acordo com o autor, isso
acarretou muitas implicações para a escola. “Uma delas foi a tentativa de adequar os resultados da
escola, ao que é tido como as ‘necessidades da economia’”. (p. 1290). Outra consequência que se
pode destacar, diz respeito ao fato da “transformação da educação em si num mercado, no qual as
escolas são obrigadas a competir por alunos e fundos”. (p. 1291).
Na quarta parte (Novos objetivos para velhas coisas), Young procura reafirmar os propósitos das
escolas. Para tanto, ele parte de críticas feitas por ele mesmo a certos pensadores, como, por
exemplo, Foucault quando de suas argumentações em Vigiar e punir. Nesse sentido, ele vai dizer
que “Foucault [...] quando coloca as escolas na mesma categoria que as prisões, asilos e hospitais,
ele deixa de mencionar a historia da luta política pela escolaridade para todos e o que é especifico
das escolas”. (p. 1292). Desse modo, na quinta parte (As lutas pelos propósitos das escolas), o autor
ressalta que “essas lutas podem ser vistas em torno de duas tensões. “A primeira é entre os objetivos
da emancipação e da dominação. [...] A segunda é entre as perguntas ‘quem recebe a escolaridade?’
e ‘o que o indivíduo recebe?’”. (p. 1292). Na primeira, o autor pretende mostrar que a escola pode
ser usada para a aquisição de diferentes objetivos. Assim, ela pode promover tanto o processo de
emancipação, quanto o de dominação. Nessa quinta parte, o autor aborda ainda a idéia de educação
enquanto transmissão de conhecimentos. Segundo ele, essa idéia “tem sido duramente criticada por
pesquisadores da área da educação, especialmente sociólogos educacionais”. (p. 1293). De acordo
com o autor, “A idéia de que a escola é primordialmente um agente de transmissão cultural ou de
conhecimento leva-nos a pergunta: ‘Que conhecimento?’. E em particular questiona que tipo de
conhecimento é responsabilidade da escola transmitir”. (p. 1293).
Young argumenta que esses tipos de conhecimentos são diferenciados, sendo que “uns podem ser
mais valiosos que outros”. (p. 1294). Nesse contexto, ele distingue conhecimento escolar de
conhecimento não escolar. É justamente nesse ponto que ele dá (como já foi mostrado) sua resposta
à pergunta “Para que servem as escolas?”, ao que ele responde dizendo (em outras palavras) que
servem para fazer com que o aluno aprenda aquilo que em casa, ou na rodada de amigos, ou em
outros lugares ele não pode aprender.
Na sexta parte (Que conhecimento), o autor aborda duas idéias de conhecimento: “o conhecimento
dos poderosos” e o “conhecimento poderoso”. O primeiro “é definido por quem detém o
conhecimento”. (p. 1294). Já o conhecimento poderoso “é um conceito que se refere ao que o
conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explicações confiáveis ou novas formas de
pensar a respeito do mundo”. (p. 1294). De acordo com o autor, “é isso que os pais esperam, mesmo
que às vezes inconscientemente”. (p. 1294).
Na sétima parte (Diferenciação do conhecimento e conhecimento escolar), Young argumenta que
“as questões sobre o conhecimento para professores e pesquisadores educacionais, não são
primordialmente questões filosóficas, como ‘o que conhecemos’, ou ‘como conhecemos’”. (p.
1295). De acordo com ele, o que está em jogo ai é a diferenciação entre conhecimento escolar e
conhecimento não escolar, o que faz com que a questão referente ao conhecimento, neste aspecto,
seja uma questão sociológica e pedagógica, e não filosófica.
Young ressalta que por traz dessa diferenciação, há outra que se destaca entre dois tipos específicos
de conhecimento, que ele vai chamar de “conhecimento dependente do contexto” e “conhecimento
independente do contexto”. O primeiro seria um conhecimento mais prático na medida em que sua
aquisição e seu desenvolvimento estariam ligados à resolução de “problemas específicos do
cotidiano”. (p. 1296). Já o segundo, também chamado de teórico, “é desenvolvido para fornecer
generalizações, e busca a universalidade”. (p. 1296). O autor argumenta que esse é o conhecimento
que se adquire na escola, ao qual ele também chama de conhecimento poderoso.
Finalmente, na oitava, e ultima parte, (Conceituando o conhecimento escolar), Young diz que “a
tentativa mais aceita de se conceituar o conhecimento escolar é a desenvolvida pelo sociólogo
inglês Basil Bernstein”. (p. 1297). Dados os limites deste escrito, não aprofundaremos aqui a
reflexão de Young sobre Bernstein. Entretanto, reconhecemos a grandeza e relevância do seu
pensamento para a área da educação.
Após mostrar como Young resolve a questão “Para que servem as escolas?”, compete-nos aqui –
para fins de contribuição ao debate – prestar algumas considerações sobre o trabalho do autor.
Em princípio, podemos dizer que suas reflexões são relevantes na medida em que proporcionam um
entendimento paralelo de outras questões que são tocadas pelo problema em discussão. Um detalhe
bem interessante é quando o autor, ao longo de sua argumentação, procura mostrar o que compete à
Filosofia e o que compete à Sociologia em termos de educação. Da mesma forma consideramos
plausível a distinção que ele faz entre conhecimento escolar e conhecimento não escolar.
Diante de tudo isso (que são aspectos positivos do pensamento de Young), há também outros que
precisam ser – por ele – mais bem explicitados como, por exemplo, quando ele diz (na sexta parte)
que “aqueles com maior poder na sociedade são aqueles que têm acesso a certos tipos de
conhecimentos”. (p. 1294). Ao argumentar dessa forma, o autor parece esquecer o poder da
influência nas relações sociais vigentes na sociedade capitalista contemporânea. Ao final da sétima
parte, Young diz que “as escolas obtém mais sucesso com alguns alunos que com outros”. (p. 1296),
o que também precisa ser mais bem esclarecido ao não prestar considerações mais consistentes
sobre esses “melhores”.
Em suma, devemos dizer que esses pontos críticos não ofuscam, de modo nenhum, a grandeza do
pensamento do autor.]

Michael Young responde à pergunta-título afirmando que as escolas capacitam ou podem capacitar
jovens e adultos a adquirirem um conhecimento que, para a maior parte deles, não pode ser
adquirido em casa, nem na comunidade, ou mesmo nos seus locais de trabalho. Passa, então, o
autor, a explorar as implicações dessa sua afirmação (2007, p. 1294).
Primeiramente, Young apresenta uma útil distinção entre “conhecimento dos poderosos” e
“conhecimento poderoso”. Para esse autor, o conhecimento dos poderosos é definido por aqueles
que detêm o conhecimento, de modo que, historicamente e mesmo na atualidade, quando se pensa
na distribuição do acesso à universidade, aqueles com maior poder na sociedade são os que têm
acesso a certos tipos de conhecimento. Todavia, o conhecimento dos poderosos ou conhecimento de
alto status é apenas parte do conhecimento, o que não diz nada sobre o conhecimento em si. Assim,
necessário se torna, no enfoque do currículo, o desenvolvimento de um outro conceito que Young
chama de conhecimento poderoso. Referido conceito abrange o conhecimento realmente útil, ou
seja, trata daquilo que o conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explicações
confiáveis ou novas formas de se pensar o mundo. É isso que os pais esperam, ainda que
inconscientemente, quando fazem sacrifícios para manterem os filhos na escola: que eles possam
adquirir o conhecimento poderoso que não está disponível em casa (2007, p. 1294).
Segundo o autor, nas sociedades modernas, o conhecimento poderoso é, cada vez mais, o
conhecimento especializado. Assim, se o objetivo das escolas é transmitir esse tipo de
conhecimento, as relações professor-aluno passam a ter as seguintes características específicas: a)
serão hierárquicas e, portanto, diferentes das relações entre colegas; b) não serão baseadas nas
escolhas dos alunos, uma vez que, em muitos casos, eles não terão o conhecimento prévio
necessário para fazer essas escolhas. Isso não significa que não se deva levar em conta o
conhecimento trazido pelos alunos ou mesmo que a autoridade pedagógica não precise ser
desafiada, mas sim que alguns tipos de relação de autoridade são próprios da pedagogia e das
escolas (2007, p. 1294-1295).
Young apresenta ainda a diferenciação entre conhecimento escolar e não-escolar, afirmando que
essa diferenciação abrange as diferenças entre: a) conhecimento escolar e cotidiano; b) domínios do
conhecimento, bem como suas relações; c) conhecimento especializado e conhecimento com
tratamento pedagógico, como por exemplo as diferenças entre história e história escolar para
diferentes tipos de alunos (2007, p. 1295-1296).
Por trás dessas diferenças, o autor aponta uma mais básica entre dois tipos de conhecimento. Um
deles é o conhecimento dependente do contexto, que se desenvolve quando se resolvem problemas
específicos do cotidiano. Tal conhecimento não explica nem generaliza, mas lida com detalhes. Já o
segundo tipo de conhecimento é o conhecimento independente de contexto ou conhecimento
teórico, que é desenvolvido para fornecer generalizações e busca a universalidade. Esse
conhecimento fornece uma base para fazer julgamentos e geralmente está relacionado às ciências. É
a esse último tipo de conhecimento, que é adquirido na escola, pelo menos potencialmente, a que
Young se refere como sendo o conhecimento poderoso (2007, p. 1296).

Fonte: YOUNG,

https://prezi.com/74fdq7bj3329/para-que-servem-as-escolas-michael-young/

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