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2. PRÉ-DIMENSIONAMENTO
O pré-dimensionamento dos elementos estruturais é necessário para que se possa
calcular o peso próprio, que é a primeira carga atuante na estrutura. O prévio conhecimento
das dimensões permite determinar os vãos equivalentes e as rigidezes, necessários no
cálculo das ligações entre os elementos. O pré-dimensionamento é feito a partir do
lançamento e identificação dos elementos estruturais na planta de formas, gerando o que
chamamos de anteprojeto estrutural. Iniciamos o pré-dimensionamento pelos pilares, depois
realizamos o pré-dimensionamento das vigas e por último das lajes.

2.1 Pilares

Para efetuar o pré-dimensionamento dos pilares, alguns processos podem ser


considerados, entre eles a experiência do engenheiro, o que chamamos de sensibilidade
estrutural. Um processo simplificado muito utilizado é o pré-dimensionamento pela área de
influência, ou seja, a área da laje que descarrega no pilar, para isso é necessário ter um valor
que represente a carga total por metro quadrado de laje que descarrega no pilar, pode-se
estimar esta carga com valor igual a 10 kN/m². Este processo é uma estimativa e serve apenas
para fins de pré-dimensionamento. O dimensionamento final deve ser obrigatoriamente feito
com os esforços solicitantes reais, calculados em função das cargas (reações) das vigas e
lajes sobre o pilar, e com a atuação das forças do vento e outras que existirem.

Figura 01 – Processo simplificado para determinação da área de influência dos pilares

Fonte: BASTOS (2017)

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As equações para pré-dimensionamento da seção transversal de pilares levam em


consideração o tipo de pilar.

a) Pilar de centro
𝑁𝑑
𝐴𝑐 =
0,5 ∗ 𝑓𝑐𝑘 + 0,4

b) Pilar de extremidade e de canto


1,5 ∗ 𝑁𝑑
𝐴𝑐 =
0,5 ∗ 𝑓𝑐𝑘 + 0,4

Onde:
Ac = área da seção transversal do pilar (cm²)
Nd = força normal de cálculo (kN)
fck = resistência característica do concreto (kN/cm²)

Para o cálculo da estimativa da força normal de cálculo utilizamos a seguinte equação:

𝑁𝑑 = 𝛾𝑓 ∗ 𝛾𝑛 ∗ 𝑁𝑘

Onde:
𝛾𝑓 = coeficiente de majoração das ações
𝛾𝑛 = coeficiente adicional para pilares
Nk = força normal característica (kN)

Para o cálculo da estimativa da forma normal característica utilizamos a seguinte equação:

𝑁𝑘 = 𝐴𝑖 ∗ 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑝𝑜𝑟 á𝑟𝑒𝑎 ∗ 𝑛𝑝

Onde:
𝐴𝑖 = área de influência (m²)
carga por área = 10 kN/m²
np = número de pavimentos

De acordo com a ABNT NBR 6118:2014 no item 13.2.3:


“A seção transversal de pilares e pilares-parede maciços, qualquer que seja a sua forma,
não pode apresentar dimensão menor que 19 cm.“
“Em casos especiais, permite-se a consideração de dimensões entre 19 cm e 14 cm,
desde que se multipliquem os esforços solicitantes de cálculo a serem considerados no
dimensionamento por um coeficiente adicional 𝛾𝑛 acordo com o indicado na Tabela 13.1
e na Seção 11. Em qualquer caso, não se permite pilar com seção transversal de área
inferior a 360 cm².”

Considerando a menor dimensão do pilar de acordo com o que a ABNT NBR 6118 nos
informa acima temos 14 cm para a menor dimensão do pilar. E a área da seção transversal
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mínima de 360 cm² também de acordo com a norma temos que a menor seção de pilares em
concreto armado será de 360/14 igual a 26 cm. Ou seja, a seção mínima dos pilares de acordo
com norma será de 14 x 26. A tabela abaixo apresenta o coeficiente adicional 𝛾𝑛. É importante
salientar que o texto indica que todos os esforços solicitantes atuantes no pilar devem ser
majorados por 𝛾𝑛, ou seja, a força normal e os momentos fletores que existirem.

Tabela 01 – Coeficiente adicional 𝛾𝑛 para pilares e pilares-parede

Fonte: ABNT NBR 6118 (2014)

Os pilares convencionais são diferenciados dos pilares-parede em função da relação entre


os lados, conforme a norma:

Pilar: ℎ ≤ 5 ∗ 𝑏
Pilar-parede: ℎ > 5 ∗ 𝑏

Onde:
b = menor dimensão do pilar (cm)
h = maior dimensão do pilar (cm)

Obs: De acordo com o item 7.2.2.1 da ABNT NBR 15575-2:2013 para casas térreas e
sobrados, cuja altura total não ultrapasse 6,0 m (desde o respaldo da fundação de cota mais
baixa até a laje ou forro do segundo pavimento), não há necessidade de atendimento às
dimensões mínimas dos componentes estruturais estabelecidas nas Normas de projeto
estrutural específicas (ABNT NBR 6118, ABNT NBR 7190, ABNT NBR 8800, ABNT NBR
9062, ABNT NBR 15961 e ABNT NBR 14762), resguardada a demonstração da segurança e
a estabilidade pelos ensaios previstos nesta Norma (7.2.2.2 e 7.4), bem como atendidos os
demais requisitos de desempenho estabelecidos nesta Norma.

2.2 Vigas

Ao se fazer o pré-dimensionamento das vigas, a sua largura (bw) deve ser adotada de
maneira que estas fiquem embutidas nas paredes. Porém, nos casos de grandes vãos ou de
tramos muito carregados, pode ser necessário adotar larguras maiores. Nesses casos,
procura-se atenuar o impacto na arquitetura do edifício. Também devemos lembrar que a
largura da viga em alguns casos não deve ser maior que a menor dimensão do pilar.

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De acordo com a ABNR NBR 6118:2014 no item 13.2.2:


“A seção transversal das vigas não pode apresentar largura menor que 12 cm e a das
vigas-parede, menor que 15 cm. Estes limites podem ser reduzidos, respeitando-se um
mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo obrigatoriamente respeitadas as
seguintes condições:
a) alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros elementos
estruturais, respeitando os espaçamentos e cobrimentos estabelecidos nesta Norma;
b) lançamento e vibração do concreto de acordo com a ABNT NBR 14931.”
A diferença entre viga parede e viga esbelta é feita de acordo com a relação L / h. Onde L
representa o vão e h representa a altura da viga. Os limites entre vigas-parede e vigas
esbeltas são definidos pelas relações limites de L/h, onde:
Os limites para que uma viga seja considerada viga-parede são:
(L / h) < 2,0 vão simplesmente apoiado
(L / h) < 2,5 vãos extremos de vigas continuas
(L / h) < 3,0 vãos internos de vigas contínuas

Se a relação L/h for maior que esses limites a viga não é considerada viga parede e sim
viga esbelta. Em nosso estudo iremos abordar as vigas esbeltas.
A altura das vigas deve ser preferencialmente modulada de 5 em 5 cm, ou de 10 em 10
cm. A altura mínima indicada é de 25 cm. Com relação à altura da viga podemos estimar um
valor conforme equações abaixo.
𝑙0
• Tramos intermediários: ℎ = 12
𝑙0
• Tramos extremos ou vigas biapoiadas: ℎ = 10
𝑙0
• Tramos em balanço: ℎ = 5

Onde:
Lo = vão livre da viga, distância de face a face do pilar (cm)

As vigas não podem invadir os espaços de portas e de janelas. Nas estruturas de edifícios,
em geral se considera a abertura de portas com 2,20 m de altura. Para simplificar o
cimbramento, procura-se padronizar as alturas das vigas. Não é usual adotar mais que duas
alturas diferentes. Tal procedimento pode, eventualmente, gerar a necessidade de armadura
dupla, em alguns trechos.
Os tramos mais carregados, e principalmente os de maiores vãos, devem ter suas flechas
verificadas posteriormente, ainda na fase de projeto.

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2.3 Lajes Maciças

Para projetar uma laje maciça é necessário conhecer de início sua altura, conforme figura
02 abaixo.
Figura 02 – Seção transversal de uma laje maciça.

Fonte: BASTOS (2021)

Existem diferentes procedimentos para estimativa da altura da laje, sendo um deles


dependente da altura útil d, definida como a distância entre o centro de gravidade da armadura
tracionada e a face comprimida da seção. De acordo com o tipo de laje maciça podemos
utilizar equações para encontrar sua altura útil d. Para iniciar o procedimento precisamos
realizar a discretização das lajes, procedimento que tem por objetivo determinar a vinculação
das bordas das lajes e o vão efetivo de cada borda da laje analisada. A convenção de
vinculação das bordas é feita com diferentes estilos de linhas, como mostrado na figura 03
abaixo.
Figura 03 – Convenção de estilo de linha para os vínculos nas bordas engastadas,
bordas simplesmente apoiadas e bordas livres.

Fonte: adaptada de BASTOS (2021)

Bordas engastadas surgem no caso de lajes em balanço, como marquises, varandas etc.
É considerado também nas bordas onde há continuidade entre duas lajes vizinhas como na
figura 04 abaixo.
Figura 04 – Lajes adjacentes com espessuras iguais.

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Fonte: adaptada de BASTOS (2021)

OBS: Quando duas lajes adjacentes têm espessuras muito diferentes, como mostrado na
Figura 05, pode ser mais adequado considerar a laje de menor espessura (L2) engastada na
de maior espessura (L1), mas a laje com maior espessura pode ser considerada apenas
apoiada na borda comum as duas lajes.

Figura 05 – Lajes adjacentes com espessuras muito diferentes.

Fonte: adaptada de BASTOS (2021)

Caso as lajes não tenham continuidade ao longo de toda a borda comum conforme
figura 06 abaixo, o critério simplificado para se considerar a vinculação é:
2
• se 𝑎 ≥ 𝐿 → a laje L1 pode ser considerada com a borda engastada na laje
3

L2;
2
• se 𝑎 < 3 𝐿 → a laje L1 fica com a borda simplesmente apoiada.

• Em qualquer dos casos, a laje L2 tem a borda engastada na laje L1, pois a
menor laje sempre será engastada na maior laje.

Figura 06 – Lajes parcialmente contínuas.

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Fonte: adaptada de BASTOS (2021)

Em lajes maciças armadas em duas direções (LA2D), temos duas armaduras principais de
flexão, isto ocorre quando a relação entre os lados é menor ou igual a dois, tal que:

𝑙𝑦
λ= ≤2
𝑙𝑥

Onde:
ly = maior vão efetivo da laje (cm)
lx = menor vão efetivo da laje (cm)

A altura útil d pode ser estimada como:

𝑑 = (2,5 − 0,1 ∗ 𝑛) ∗ 𝑙′/100


Onde:
d = altura útil da laje (cm);
n = número de bordas engastadas da laje;
l’ = dimensão da laje em centímetros (cm), sendo:

𝑙𝑥
𝑙′ ≤ {
0,7 ∗ 𝑙𝑦

Com a altura útil d podemos definir a altura h sendo:


∅𝑙
ℎ = 𝑑 + 𝑐𝑛𝑜𝑚 +
2
Onde:
d = altura útil da laje (cm);
cnom = cobrimento nominal da laje (cm);
∅𝑙 = diâmetro da armadura longitudinal de flexão da laje maciça (cm).

Como não se conhece inicialmente o diâmetro ∅𝑙 da armadura longitudinal de flexão da


laje maciça, esse diâmetro deve ser estimado. No caso das lajes correntes o diâmetro varia
comumente de 5 a 10 mm, e para efeito de cálculo inicial pode-se estimar o diâmetro de 10
mm.

Em lajes maciças armadas em uma direção (LA1D), temos uma armadura principal de
flexão no menor vão e no maior vão temos uma armadura de distribuição, isto ocorre quando
a relação entre os lados é maior que dois, tal que:
𝑙𝑦
λ= >2
𝑙𝑥
Onde:
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ly = maior vão efetivo da laje (cm)


lx = menor vão efetivo da laje (cm)

OBS: o vão efetivo da laje é considerado de eixo a eixo do apoio.

A altura útil d pode ser estimada como:

𝑙𝑥
𝑑=
ψ2 ψ3
Tabela 02 – Coeficiente ψ2

1,0 1,2 1,7 0,5

Fonte: adaptado de PINHEIRO (2007)

Tabela 03– Coeficiente ψ3

fyk ψ3
CA-25 35
CA-50 25
CA-60 20

Fonte: adaptado de PINHEIRO (2007)

Com a altura útil d podemos definir a altura h sendo:


∅𝑙
ℎ = 𝑑 + 𝑐𝑛𝑜𝑚 +
2
Onde:
d = altura útil da laje (cm);
cnom = cobrimento nominal da laje (cm);
∅𝑙 = diâmetro da armadura longitudinal de flexão da laje maciça (cm).

Como altura final (h) para a laje maciça deve-se aproximar o valor encontrado para o
número inteiro mais próximo, obedecendo-se a altura mínima prescrita para as lajes de acordo
com a ABNT NBR 6118:2014.
De acordo com a ABNR NBR 6118:2014 no item 13.2.4.1:
“Nas lajes maciças devem ser respeitados os seguintes limites mínimos para a
espessura:
a) 7 cm para cobertura não em balanço;
b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN;
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e) 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN;
𝑙
f) 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, com o mínimo de 42
para lajes
𝑙
de piso biapoiadas e para lajes de piso contínuas;
50

g) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo, fora do capitel.”

Bibliografia

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 6118:2014. Projeto de


estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

BASTOS, P. S. S. Pilares de Concreto Armado. Bauru: UNESP, 2017. Disponível em:


<http://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto2/Pilares.pdf>. Acesso em: 25 out. 2018.

PINHEIRO, L. M. Notas de Aula – Fundamentos do Concreto e Projeto de Edifícios. São


Carlos: USP, 2007. Disponível em:
<http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf>. Acesso
em: 27 ago. 2021.

Concreto Armado 2 | Prof. Esp. Emílio Augusto de Queiroz Velois

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