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Algumas citações sobre

renúncia e bodhicitta
Sobre autocentramento

Sobre renúncia

Sobre nossa conexão com os seres e as quatro qualidades incomensuráveis

Sobre a resolução extraordinária (assumir responsabilidade pela liberação dos seres)

Sobre aspiração

Sobre ação no mundo, prática e seis perfeições

Sobre autocentramento

“O ego é como a sua sala, uma sala com uma vista, com a temperatura e os odores
e a música que você gosta. Você a quer da sua maneira. Você apenas gostaria de
um pouco de paz, um pouco de felicidade, sabe, apenas para “dar um tempo”. No
entanto, quanto mais você pensar assim, tentando ajustar a vida para que ela
sempre se adeque a você, quanto mais você temer outras pessoas, mais crescerá o
que está fora de sua sala. Em vez de se tornar mais tranquilo, você começa a fechar
as cortinas e a trancar a porta. Quando você sai, a experiência se torna mais e mais
desconfortável e conflitante. Você se torna mais hiper-sensível, mais temeroso, mais
irritadiço do que nunca. Quanto mais você tentar ajustar as coisas à sua maneira,
menos você se sentirá em casa.”

—Pema Chödrön

“Você precisa abandonar a si mesmo quando está praticando compaixão. Tentar


praticar compaixão enquanto continua absorto em si mesmo vai exauri-lo, você vai
se sentir muito cansado, você vai sentir que não consegue mudar nada, que não
está ajudando o suficiente, você pensa que precisa fazer algo positivo e então sente
culpa de não fazer o suficiente… Se você está cheio de preocupação e de medo,
isso não é realmente compaixão. Nós ficamos exaustos por nossas ideias, mas a
compaixão genuína é maior do que nossas ideias, é mais forte, não se esgota. A
compaixão não drena você. O que realmente drena você é tentar praticar compaixão
enquanto está envolvido consigo mesmo. Verifique por você mesmo, olhe para você.
Não acredite em mim. Experimente com você mesmo e veja se é verdade.”

—Phakchok Rinpoche

“A ideia de que a vida não tem sentido se os desejos não forem satisfeitos é
resultado de um pensamento estreito. É um sinal de que só se pensa em si, com
uma ideia bem estreita sobre si mesmo. Mesmo quando a vida parece sem sentido
porque nossos desejos particulares não foram satisfeitos, ainda temos
possibilidades ilimitadas. Podemos ver que é assim porque nossa vida alcança muito
além de onde nos encontramos a qualquer momento.

Nossa vida é vasta. Ela não termina nos limites daquilo que pessoalmente
vivenciamos. Não é algo concreto ou delimitado. Não acho que seja válido encarar
nossa vida como estando limitada a nós mesmos — como se a vida humana
alcançasse apenas até onde vai nosso próprio corpo. Em vez disso, podemos ver
que a vida se estende por todas as direções, como uma rede. Jogamos a rede e ela
vai se expandindo. Exatamente assim, nossa vida se estende para tocar muitas
outras vidas. Nossa vida pode alcançar adiante e se tornar uma parte constante da
vida de todos.

Acredito que nossa vida pode parecer sem sentido apenas quando pensamos nela
de modo limitado, como sendo apenas aquilo que está diretamente ligado a nós.
Pessoalmente, se eu fosse encarar minha própria vida assim, ela seria totalmente
sem sentido. Carregando esse grande nome, escapando do Tibete, todos os
esforços feitos desde então — dificilmente valeria a pena tanta confusão por causa
de uma pessoa apenas: eu! Mas quando vejo minha vida como algo expansivo, e
vejo que posso trazer alguma felicidade e alegria nem que seja para apenas uma
pessoa, então sei que minha vida realmente tem significado.”

—Ogyen Trinley Dorje (no livro “The Heart Is Noble: Changing the World from the
Inside Out”)

Sobre renúncia

"The Tibetan term for renunciation is ngepar jungwa, which literally means
"certainty of release." Ngepar is short for ngepar shepa, meaning to have
certain, decisive knowledge from within. In this case, it refers to having certainty
that the nature of worldly existence is suffering. In addition to this certainty, there
is the heartfelt wish to be released, jungwa, from this suffering.
One must gain confidence in the fact that the nature of cyclic existence in
samsara is suffering, together with having the powerful wish and intention to be
free of this suffering. This is what is known as the thought of renunciation."

...

"The nature of everything is illusory and impermanent.


Those with dualistic perception believe suffering is happiness.
It is as though they are licking honey from a razor blade.
How sad it is that they grasp to a concrete reality.
Turn your attention within."

...

"An effortless compassion can arise for all beings who have not realized their
true nature. So limitless is it that if tears could express it, you would cry without
end. Not only compassion, but tremendous skillful means can be born when you
realize the nature of mind. Also you are naturally liberated from all suffering and
fear, such as the fear of birth, death and the intermediate state.

Then if you were to speak of the joy and bliss that arise from this realization, it is
said by the buddhas that if you were to gather all the glory, enjoyment, pleasure
and happiness of the world and put it all together, it would not approach one tiny
fraction of the bliss that you experience upon realizing the nature of mind."

—Nyoshul Khen Rinpoche

"Ngé means "actually" or "definitely," and jung means to "come out," "emerge,"
or "be born." The fruit of frequent and deep reflection on death will be that you
will find yourself "emerging", often with a sense of disgust, from your habitual
patterns. You will find yourself increasingly ready to let go of them, and in the
end you will be able to free yourself from them as smoothly, the masters say, "as
drawing a hair from a slab of butter."

This renunciation that you will come to has both sadness and joy in it: sadness
because you realize the futility of your old ways, and joy because of the greater
vision that begins to unfold when you are able to let go of them. This is no
ordinary joy. It is a joy that gives birth to a new and profound strength, a
confidence, an abiding inspiration that comes from the realization that you are
not condemned to your habits, that you can indeed emerge from them, that you
can change, and grow more and more free."

—Sogyal Rinpoche
“O que queremos dizer com renúncia? Quando assistimos um filme, isso é uma
renúncia genuína. Por quê? Porque conforme assistimos o filme, apesar de
todos os tipos de coisas acontecerem na tela, sabemos que é apenas um filme,
é tudo de mentira. Pode haver relacionamentos amorosos, ou suspense;
podemos até mesmo ser levados às lágrimas, mas em algum lugar dentro de
nossa mente, sabemos que isto é apenas um filme.

Quando sentimos vontade de ir ao toalete durante o filme, por exemplo,


podemos ter a coragem de levar e ir. Não é uma grande coisa, não estamos
realmente presos. É por isso que chamamos isto de renúncia — temos a visão
correta quanto a isto. Já que sabemos do aspecto fútil da vida, há uma renúncia
genuína. Por outro lado, neste grande filme que chamamos de nossas vidas,
poucos de nós temos este tipo de coragem.

Claro que a renúncia não significa que, já que percebemos que isto é um filme,
devemos sair do cinema e fazer um grande voto de nunca mais assistirmos um
filme novamente. Simplesmente perceber que isto é um filme mudou toda a
nossa atitude diante dele. Não temos de parar de assistir. Podemos ainda
assistir, mas agora, por causa deste conhecimento, não nos prendemos; ele
não se tornou uma grande coisa. Esse é um tipo de pequena iluminação.”

—Dzongsar Khyentse Rinpoche (texto inteiro)

"Não é suficiente desejar de tempos em tempos que você se libere do samsara. Essa
ideia deve permear seu fluxo mental, dia e noite. Um prisioneiro trancado em uma
cadeia pensa o tempo todo em diferentes maneiras de se libertar — como ele poderia
escalar os muros, pedir ajuda para pessoas poderosas ou arrecadar dinheiro para
subornar alguém. Da mesma forma, ao ver o sofrimento e a imperfeição do samsara,
nunca pare de pensar em como atingir a liberação, com um profundo sentimento de
renúncia.'

—Dilgo Khyentse Rinpoche

"Se, lá no fundo, você continuar acreditando que algum cantinho do samsara


ainda pode ser útil ou que talvez possa oferecer uma solução definitiva para
todos os seus problemas mundanos, será extremamente difícil se tornar um
praticante espiritual genuíno."

—Jamgon Kongtrul Lodro Thaye

"Aspire passar pela experiência da tristeza."


"Kongtrul Rinpoche sugeriu que rezemos ao guru, budas e bodisatvas para
pedir que concedam suas bênçãos, “para que eu faça nascer o coração de
tristeza”. Mas o que é um “coração de tristeza”?

Imagine que você tem um sonho. Embora seja um bom sonho, lá no fundo você
sabe que eventualmente terá que acordar e tudo vai acabar. Na vida também,
cedo ou tarde, qualquer que seja o estado de nossos relacionamentos, nossa
saúde, nossos empregos e qualquer aspecto de nossas vidas, tudo,
absolutamente tudo irá mudar. E o pequeno sino batendo ao fundo em sua
cabeça para lembrá-lo dessa inevitabilidade é o que se chama “coração de
tristeza”.

A vida, você compreende, é uma corrida contra o tempo, e você não deve
nunca adiar a prática do darma para o ano que vem, mês que vem ou amanhã,
porque o futuro pode nunca chegar.

Essa atitude de corrida contra o tempo é muito importante, especialmente


quando se trata de prática. Minha própria experiência já me mostrou que
prometer para mim que vou começar a praticar semana que vem, isso
praticamente garante que eu nunca chegue a fazer. E não acho que eu esteja
sozinho.

Então, uma vez que você entenda que a verdadeira prática do darma não é
apenas sentar em meditação formal — mas um confronto sem fim de oposição
ao orgulho e o ego, assim como uma lição sobre como aceitar a mudança —
você será capaz de começar a praticar imediatamente.

Por exemplo, imagine que você está sentado em uma praia admirando o pôr do
sol. Nada de terrível aconteceu e você está contente, até feliz. Então,
subitamente aquele pequeno sino começa a soar em sua cabeça, lembrando
que esse pode ser o último pôr do sol da sua vida, você pode renascer sem a
habilidade de apreciar um pôr do sol — sem nem falar na capacidade de
entender o que é isso — e esse pensamento por si só te ajuda a focar a mente
na prática."

—Dzongsar Khyentse Rinpoche

As cinco citações abaixo são transcrições curtíssimas que fiz nos últimos anos de diferentes
retiros do Lama Padma Samten, todas sobre renúncia, que vem de analisar o problema de
viver sob ignorância, autocentramento e reatividade (contemplar os defeitos do samsara):

“Nós não temos sossego. Não temos um ponto de repouso. Não há um ponto
final dentro do samsara. Cada lugar é um lugar transitório. Eu não queria
preocupar vocês. É uma situação difícil, ou seja, não tem um lugar para a gente
parar. Não tem, nós estamos numa esteira. Em qualquer lugar que vocês
estejam, vocês têm que estar assim, se movendo. Se não, vocês não
conseguem ficar no lugar, ele despeja para fora. Vocês têm que fazer esforços
em qualquer lugar. Não há lugar em que vocês gerem algum tipo de equilíbrio
no futuro e aquilo não se torne desconfortável, em que vocês não se sintam
compelidos a olhar em outra direção. Não há nenhuma situação em que vocês
estejam que seja suficientemente confortável, que não convide vocês para de
vez em quando dar uma olhada: quem sabe eu vou para lá, quem sabe eu vou
para cá ou alguma coisa assim… A gente está sempre em mobilidade. Essa
mobilidade é o aspecto incessante da transmigração. Não temos como evitar,
estamos sempre transmigrando.

Aí, a gente se define de um outro jeito, vive num outro lugar, com uma outra
característica. A gente se reinventa. E todo mundo tem suas fantasias. O
pessoal do Sul pensa: o Nordeste é o melhor lugar…O pessoal do Nordeste
frequentemente migra para o Sul. Os brasileiros migram para outros países. Os
outros países eventualmente migram para cá. E assim segue. (…) Então, esse
é o aspecto incessante da transmigração. Nós estamos em um lugar e
queremos ir para outro lugar. É como se não houvesse essa possibilidade de a
gente realmente repousar de algum modo. Se a gente entende isso, é uma boa
coisa. (…) Mas sendo transmigração pode dar problema. A vida dos artistas,
por exemplo, é um voo rápido, tem uma intensidade e de repente afunda… Aí
tem outro voo rápido. As coisas são difíceis. Então, a gente vê, o samsara gira,
é complicado. E com base nisso é que vem a primeira nobre verdade do Buda.”

“O samsara não tem uma regra, não tem uma possibilidade de, seja o que
for, ficar sem sofrimento, ficar perfeito. Não vamos encontrar isso. É assim.
Se as pessoas se separam tem uma série de inconvenientes, se as pessoas
não se separam tem uma série de inconvenientes. Se as pessoas ficam juntas,
tem algumas vantagens, se as pessoas não ficam juntas, também tem
vantagens. Qualquer opção é sempre uma opção dentro do samsara. O
samsara é caracterizado por: tem algumas coisas das quais eu gosto, tem
algumas coisas das quais eu não gosto, a gente quer o que gosta, não quer o
que não gosta. Isso é o samsara. Não temos possibilidade de obter êxito nisso.
Porque aquilo que a gente quer e parece favorável dali a pouco apresenta
problemas. E aquilo que a gente não quer é desfavorável, é penoso, mas dali a
pouco apresenta algumas vantagens. É assim. É melhor desistir disso. Não
criticar o samsara. O samsara tem essa característica.

O único jeito de escapar disso é liberação do samsara. Liberação do samsara é


operar com um outro software, é viver de um outro jeito. Manifestar as cinco
sabedorias, as quatro qualidades incomensuráveis, as seis perfeições. Não
operar com os doze elos da originação dependente, não operar com a noção de
gostar e não gostar como um filtro das experiências. Isso não é uma coisa
extraordinária ou impossível, todo mundo faz isso numa certa medida. Esse
procedimento é melhor.”

“A gente percebe que as pessoas estão continuamente se matando, que o


mundo não se pacifica. Tem uma guerra que a gente pensa que é a última,
daí tem outra guerra… A partir daí, naturalmente nós temos muitas diferentes
possibilidades de problemas, de diagnósticos e de tentativas de soluções. Tem
vários tipos de viés: podemos pegar um viés político, um viés ecológico, um
viés espiritual, um viés ligado à saúde, um viés ligado à cultura de paz, um viés
vegano, um viés ligado à ciência… Vamos pegando vieses de todos os lados.
Podemos mergulhar na arte, mergulhar no esporte… Tentamos criar um nicho
onde aquilo mais ou menos ande. A gente pode virar montanhista, andarilho na
estrada… A gente pode começar a subir todo tipo de montanha, mergulhar em
todo tipo de mar, namorar todas as pessoas possíveis… Mas a pessoa vai
entrando por isso e percebe que nenhuma dessas coisas resolve. Tem um
desgaste ali dentro.”

“O samsara não vai a lugar nenhum. O samsara é assim: o jogo artificial da


vida, para onde ele me leva? Para lugar nenhum. Os jogos artificiais não levam
as pessoas a lugar nenhum. As pessoas jogam mas não tem lugar para chegar.
Vocês olhem os campeonatos de futebol: aquilo não termina nunca… Os
jogadores vão sendo substituídos por outros, por outros… Aquilo não tem fim.
Daí o jogador para de jogar, fica velho… E não foi a lugar algum. Nem os que
ganham dinheiro, nem os que não ganham… Aquilo não vai a lugar nenhum.
No entanto, o campeonato segue. Aquilo não tem sentido. O samsara segue e
nós vamos morrendo.

Se estamos presos na ignorância e isso parece que é o sentido total da vida,


isso é super frustrante. Ao mesmo tempo, o samsara não tem como se
defrontar com a lucidez. Aquilo não tem graça. É 7 a 1 para a lucidez! Não tem
comparação. Não tem nem graça. Não precisamos ter medo do samsara. A
lucidez é totalmente inabalável. As pessoas se confundem dentro das bolhas,
aquilo é insatisfatório. Mas é inevitável que a lucidez apareça, que a natureza
primordial se revele, que a realidade apareça. Não tem como tapar.”

“O samsara é todo desequilibrado. Se o casamento se desequilibrou, a


separação provavelmente também será um pouco desequilibrada. Mas a gente
sobrevive. A médio prazo, se não a curto prazo, as relações vão melhorar. Por
quê? Porque a gente mantém a mesma disposição positiva e o samsara vai
roendo as alianças que não são verdadeiras. Se você seguir um praticante com
uma visão elevada, a pessoa vai descobrir em você um apoio.”

—Lama Padma Samten

“As oito preocupações mundanas consistem em quatro pares de prioridades:


buscar aquisições materiais e evitar sua perda; buscar o prazer dirigido pelo
estímulo e evitar o desconforto; buscar o elogio e evitar a crítica; e manter a
boa reputação e evitar a má reputação. Essas oito preocupações resumem, em
geral, nossa motivação pela busca da felicidade, e este é exatamente o
problema. As oito preocupações mundanas — que não são erradas em si —
são a base de nossa motivação enganada, e é a motivação, mais do que
qualquer outro fator, que determina o resultado da prática espiritual.”

—Alan Wallace (no livro “Budismo com atitude”)

"Não importa onde você estiver — em um lugar agitado ou em um retiro solitário


— a única coisa que você precisa conquistar são os cinco venenos da mente e
seus próprios inimigos verdadeiros, as oito preucupações mundanas, nada
mais."

—Chatral Rinpoche

“When you don’t have obsession,


When you don’t have hang-ups,
when you don’t have inhibition,
When you are not afraid,
You will be breaking certain rules.
When you are not afraid
You will not fulfill somebody’s expectations.
What more enlightenment do you want.
That’s it.”

—Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche

"Most people feel cozy enough in samsara. They do not really have the genuine
aspiration to go beyond samsara; they just want samsara to be a little bit better. It is
quite interesting that “samsara” became the name of a perfume. And it is like that. It
seduces us into thinking that it is okay: samsara is not so bad; it smells nice! The
underlying motivation to go beyond samsara is very rare, even for people who go to
Dharma centers. There are many people who learn to meditate and so forth, but with
the underlying motive that they hope to make themselves feel better. And if it ends up
making them feel worse, instead of realizing that this may be a good sign, they think
there is something wrong with Dharma. We are always looking to make ourselves
comfortable in the prison house. We might think that if we get the cell wall painted a
pretty shade of pale green, and put in a few pictures, it won’t be a prison any more."
—Jetsunma Tenzin Palmo

“Agora, se mil homens perfeitos tivessem de aparecer, isso não me espantaria

Agora, se mil formas maravilhosas de mulher aparecessem, isso não me


assombraria.

Agora vejo o segredo de como produzir as melhores pessoas,

É o de crescer ao ar livre e de comer e de dormir com a terra.”

—Walt Whitman (“Canção da Estrada Aberta”)

Aqui, nesses versos que resumem a visão, a primeira linha se refere à renúncia e ausência
de esperança (a segunda se refere às práticas de compaixão, a terceira às práticas de
sabedoria e a última à bem-aventurança que surge como resultado dessa liberação):

“Tristeza profunda, porque nada dura.

Amor fervoroso, porque todos os seres são minha amada família.

Abertura lúcida, porque esta mente comum é pleno despertar.

Pura alegria, porque tudo isso é verdade.”

—Chokyi Nyima Rinpoche

Sobre nossa conexão com os seres e as quatro


qualidades incomensuráveis

“Se você vai ficar enrolado com todos os seres para sempre, é melhor você otimizar
seu envolvimento com eles. Qual é o melhor modo de ficar enrolado com alguém?
Você os ama e eles amam você. Você não pode forçá-los a amar você, então você
tenta ser o mais amoroso possível se tornando um ser desperto. Amar significa
desejar que eles sejam felizes. E quando eles realmente forem felizes, eles vão
amar você. Então esse é o melhor caminho.”

—Robert Thurman

“O que é isso que lhe chamou tão repentinamente do nada para desfrutar por um
breve tempo um espetáculo que permanece bastante indiferente a você? As
condições para sua existência são tão antigas quanto às pedras. Por milhares de
anos, os homens se esforçaram, sofreram e procriaram e as mulheres deram à luz
em dor.

Cem anos atrás, talvez, outro homem — ou mulher — se sentou neste ponto;
como você, ele contemplou, com temor e receio no coração, o morrer das geleiras.
Como você, ele foi criado de um homem e nascido de uma mulher. Ele sentia dor e
breve alegria, como você sente. Ele era outra pessoa? Não era ele você mesmo?”

—Erwin Schrödinger

“O sofrimento não tem dono,


Não há, portanto, como fazer distinções.
Já que dor é dor, irei dissipá-la.
Para que criar limites?”
—Shantideva (O caminho do bodisatva)

“O amor diz: eu sou tudo isso. A sabedoria diz: eu não sou nada disso. Entre os
dois, minha vida flui.”
—Nisargadatta Maharaj (em “Eu sou aquilo”, citado por Alan Wallace em
ensinamentos recentes)

Sobre a resolução extraordinária e assumir


responsabilidade pela liberação dos seres

"How wholehearted resolve and the spirit of enlightenment are the effects of
compassion
Qualm: Once you develop compassion through a gradual training of the mind, you generate
the desire to attain buddhahood for the sake of all living beings. This should be enough. Why
is it necessary to have the step of developing wholehearted resolve in between developing
compassion and generating the spirit of enlightenment?
Reply: Although śrāvakas and pratyekabuddhas have the immeasurable love and
compassion whereby they think, “If only beings could have happiness and be free from
suffering,” these non-Mahāyāna followers do not think, “I will take on the responsibility to
remove the suffering and to provide the happiness of all living beings.” Therefore, you must
develop wholehearted resolve that surpasses all other courageous thoughts. It is not enough
to think, “If only all living beings could have happiness and could be free from suffering.” You
must also wholeheartedly assume the responsibility of producing this yourself.
Consequently, you should distinguish between these ways of thinking."
Tsongkhapa (The Great Treatise on the Stages of the Path to Enlightenment)
"One must dedicate one’s own life to attaining enlightenment. Only by attaining
enlightenment will we be able to guide others, to protect them, to care for them and cherish
them. A baby cannot take responsibility for caring for a baby; a child cannot take
responsibility for caring for a child. Instead, a baby is brought into adulthood by parents who
are adults. In the same way, one must oneself attain enlightenment in order to bring babylike
sentient beings to enlightenment."

—Dzigar Kongtrul Rinpoche

“Estamos com um déficit de imaginação do que é possível manifestarmos nessa vida.”

—Tim Olmsted

“Esse mundo precisa ser chacoalhado. E calhou de ser por nós.”

—Alan Wallace

Sobre aspiração

“Ao desejarmos algo que não temos, buscamos no oceano das possibilidades, no
reino do possível, algo que ainda não é realidade mas que poderia ser – desejos,
ideais, aspirações. Algo que ainda não está presente a não ser no reino das
possibilidades. Mas a realidade não consiste apenas de fatos; a realidade consiste
também de possibilidades. Se não fosse assim, nada nunca mudaria. Teríamos
sempre apenas os fatos.”

—Alan Wallace

“Se você tem uma aspiração grandiosa (atingir a iluminação para beneficiar todos os
seres), você não vai se incomodar com uma tragédia aqui ou um fracasso ali. Você
vai dormir bem, você vai viver bem. Se você não tem uma visão grandiosa, aí sim
você terá muitas preocupações. As aflições mentais tem medo de uma aspiração
grandiosa. Se a sua aspiração é limitada e pequena, então há espaço para você ser
enganado. […] Se você deseja que alguém seja feliz, às vezes isso parece que é
apenas um desejo, não realidade. Às vezes você não sente isso de verdade. E
mesmo que a pessoa encontre alguma felicidade, você não acha que isso tem a ver
com seu desejo. É por isso que você precisa entender como a mente opera de
acordo com causas e condições. Se uma nação inteira decidir desejar o bem para os
outros, se cada pessoa fizer isso todo dia às nove da manhã… Você sabe, nossas
ações seguem nossas motivações. O mundo está precisando de bons desejos.”

—Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche (Anotações com base no ensinamento


de DJKR sobre "A Aspiração do Bodisatva Samantabhadra":
https://vimeo.com/199253914)

“Se você é um praticante e, digamos, você passou uma semana em um retiro de


meditação, mas a sua mente não parou, você viu que é tão aflito quanto os outros,
você não conseguiu meditar, ficou distraído, checando o celular, agitado… Se você
deseja apenas a sua felicidade, você sai frustrado. Mas se você tem um pouco
dessa grande visão, então você diz: não importa. Eu desejo que os seres sejam
felizes e floresçam em todo o seu potencial. Quem se importa se eu meditei
adequadamente ou não? Quem se importa se eu consegui domar a minha mente ou
não? Você vê? É uma motivação. Se você tiver esse tipo de motivação, aspiração,
intenção, focando nos outros, isso já estabelece sua vida a partir de uma grande
visão. Você fica forte. Você se torna imbatível. Como você poderia ser derrotado por
uma força externa? Você não tem mais objetivos pessoais limitados. Você não tem
mais uma agenda autocentrada. Então, a bodicita relativa é um treinamento incrível.”

—Dzongsar Khyentse Rinpoche

“Como o futuro é ilimitado e os seres sencientes são incontáveis, nossas aspirações


podem também ser ilimitadas. Com essa atitude, podemos atravessar qualquer
problema, porque podemos fazer tirar os limites de nossas aspirações e projetá-las
até que o problema se resolva. Isso torna inabalável a nossa resolução de nos
estendermos o quanto for necessário. Quando nossas aspirações são vastas como
o céu e se estendem até o tempo em que todo o sofrimento cessa, nós não
ficaremos desapontados ou frustrados se não enxergarmos resultados
imediatamente ou mesmo num futuro próximo.”

—Sua Santidade o 17º Karmapa (no livro Interconnected)

"Sentient beings are limitless. Therefore if we cultivate bodhicitta by relying on the


understanding that there are limitless sentient beings, our cultivation of bodhicitta
becomes limitless too. The authentic cultivation of limitless bodhicitta is
accomplished that way.

Then if our cultivation of bodhicitta is limitless, it goes without saying that the benefits
would be limitless too. But the problem is that we do not fully understand that sentient
beings really are limitless.
We may talk about "all old-mother-like sentient beings who are equal to space", but
nobody seems to fully understand just how vast the universe actually is. And no one
seems to know that it is pervaded by sentient beings. Some scientists even say that
there are no inhabited worlds except planet earth. But such a perspective is too
narrow! It is like only seeing the eye of a needle!"

—Yangthang Rinpoche

Sobre ação no mundo, prática e seis perfeições

“You keep going. That is the bodhisattva’s way. As long as it benefits even one being
you have to, without any sense of discouragement, go on.”

—16º Karmapa

“Enquanto o espaço existir,


enquanto seres humanos permanecerem,
possa eu também permanecer
para aliviar o sofrimento do mundo.”
—Shantideva (O caminho do bodisatva)

Uma Canção de Compaixão


de Shabkar Tsokdruk Rangdrol

Meu coração está com todos os que estão sofrendo agora,


Minhas próprias mães que cuidaram tão gentilmente de mim,
Por todos os tempos, do início até agora.

Essas bondosas mães me refrescaram quando estava quente,


Mas agora algumas nasceram nos oito infernos quentes,
Atormentadas pelo calor ardente – meu coração está com elas!

Essas minhas mães me aqueceram quando estava frio,


Mas agora algumas nasceram nos oito infernos gelados,
Atormentadas pelo frio congelante – meu coração está com elas!

Essas minhas mães me deram comida e bebida quando tive fome e sede,
Mas agora algumas renasceram como espíritos famintos,
Atormentadas pela fome e seca – meu coração está com elas!

Essas bondosas mães sempre cuidaram de mim com amor,


Mas agora algumas renasceram como animais,
Atormentadas pela servidão e exploração – meu coração está com elas!

Essas bondosas mães, com carinho me deram tudo o que desejei,


Mas agora algumas nasceram entre os seres humanos,
Atormentadas pelas dores do envelhecimento e da morte – meu coração está com elas!

Essas bondosas mães me protegeram de todo perigo,


Mas agora algumas nasceram entre os asuras,
Atormentadas pela luta e pelas guerras – meu coração está com elas!

Essas bondosas mães me nutriram e trouxeram apenas benefícios,


Mas agora algumas nasceram entre os deuses,
Atormentadas pela morte e transmigração – meu coração está com elas!

Sozinhas, vocês não têm como escapar das dores do saṃsāra,


E, por enquanto, não têm como se protegerem –
Oh minhas mães, passando por tanto sofrimento, meu coração está com vocês!

Quando considero esses sofrimentos pelos quais todos passamos,


Penso “se ao menos eu pudesse alcançar a iluminação!
Que não seja amanhã, mas que me venha hoje!”

Rapidamente, muito rapidamente, que eu alcance o estado desperto,


E, tendo assim feito, que eu elimine a dor de todos os seres,
Guiando-os à perfeita felicidade, assim rezo!

Quando grupos de gente pobre, que nunca tiveram roupa e comida suficientes, vieram
mendigar de novo e de novo na minha cabana de retiro, fui tomado por uma compaixão do
fundo do coração, e, derramando muitas lágrimas, escrevi essas palavras.

(Traduzido do tibetano por Adam Pearcey em 2008. Traduzido do inglês por Gustavo
Santhiago em 2019.)

"Unless we make pure prayers of aspiration with unceasing compassion and bodhicitta, in
the knowledge that there is not a single being among the three realms or the six classes who
has not been our mother or father in the past, we will not unlock the treasury of altruism."

—Longchenpa

"We work on ourselves in order to help others, but also we help others in order to work on
ourselves."
—Pema Chodron ("Start Where You Are: A Guide to Compassionate Living")

"If we are missing nonduality, our every act will lead to disappointment. How far do you go if
you are a therapist trying to help an alcoholic or drug addict? If this person has somehow
decided to become a drug addict for the next five thousand lifetimes, you, as a bodhisattva,
must have the determination to be reborn wherever they are going to be reborn. You might,
for instance, aspire to be reborn at the right time and place to be nearby him or her. Say for
example, you are a bodhisattva and have been trying to help this drug addict for over two
thousand lifetimes. Now, somewhere in an obscure place, their 2,042nd rebirth is going to
happen. Although you need to appear for only half a day, in order to do that you actually
have to be reborn there. It is almost a waste of a complete whole life, to be reborn there just
to do something that will take only half an hour, or half a day, but as a bodhisattva you must
do it. That is what we call the strength and quality of relative compassion.

Now we come to the real quintessence of bodhichitta. Why does a bodhisattva have this
degree of compassion? Why don’t they give up? What is the real basis of their confidence?
The bodhisattva realizes that the notion of “drug addict,” “problem,” “healing,” and “being
healed” are all in their own mind. The bodhisattva knows that none of this exists “out there”
somewhere, externally and truly. Based on this wisdom, the bodhisattva can develop
compassion.

This understanding can really help. My own experience is like being a firefly in front of the
sun. Even so, when I try to help people and things don’t work according to plan, I say to
myself, “How can I get frustrated?” In the first place, I myself have set up a certain goal
based on my own interpretation. In helping a person, I imagine that he or she should reach a
certain level, but this is my own idea. After becoming obsessed with the idea of success,
when the person is not there, I might lose hope and confidence in this person. Sometimes
we do realize that it is all our own projection, but most of the time we don’t. Instead, we think:
“This is how it should be. This is real success!” We don’t realize that it is all our own
interpretation. This is where we go blind. When you are helping, if you know that your
so-called “help,” “success,” and “failure” are all in your own mind, you won’t get worn out.
Because you realize that it is all your mind’s doing, you won’t get tired. This is a very general
and somewhat coarse example of ultimate bodhichitta. If you have this understanding, you
have a complete picture of bodhichitta.

To reiterate, ultimate bodhichitta is an understanding of emptiness. Only when this is


included is there a complete picture of bodhichitta. When we talk about bodhichitta, usually
we make reference to something simple, such as a kind, compassionate heart, but that’s not
all. This is something many people have. It does not necessarily make you a bodhisattva. Of
course this is not to deny that there are very kind and compassionate people. There are
people who may even sacrifice their lives for others, but still they may not be bodhisattvas. In
fact, they are in danger of acting out their obsession and could end up being victimized by
their goal-oriented mind. Being too obsessed with a goal can produce a lot of side effects,
such as thinking, “This is how it should work!” With this approach, a bodhisattva can lose
hope and determination when things do not work out; they may even stop being a
bodhisattva. Having said this, a bodhisattva should not just do things aimlessly."

—Dzongsar Khyentse Rinpoche

“If someone has compassion, he is a Buddha;

Without compassion, he is a Lord of Death.

With compassion, the root of Dharma is planted,

Without compassion, the root of Dharma is rotten.

One with compassion is kind even when angry,

One without compassion will kill even as he smiles.

For one with compassion, even his enemies will turn into friends,

Without compassion, even his friends turn into enemies.

With compassion, one has all Dharmas,

Without compassion, one has no Dharma at all.

With compassion, one is a Buddhist,

Without compassion, one is worse than a heretic.

Even if meditating on voidness, one needs compassion as its essence.

A Dharma practitioner must have a compassionate nature.

Compassion is the distinctive characteristic of Buddhism.

Compassion is the very essence of all Dharma.


Great compassion is like a wish-fulfilling gem.

Great compassion will fulfill the hopes of self and others.

Therefore, all of you, practitioners and laypeople,

Cultivate compassion and you will achieve Buddhahood.

May all men and women who hear this song,

With great compassion, benefit all beings!”

—Shabkar (1781-1851, grande mestre e escritor, reconhecido como emanação de


Milarepa, no livro “The Life of Shabkar: The Autobiography of a Tibetan Yogin”, traduzido por
Matthieu Ricard)

“Quando acordamos desse modo o nosso coração, descobrimos com surpresa que ele
está vazio. Temos a impressão de olhar o espaço sideral. O que somos nós? Quem somos
nós? Onde está nosso coração? Se olharmos com atenção, nada veremos de tangível ou
sólido. Claro, é possível encontrar algo muito sólido, se tivermos rancor contra alguém ou se
estivermos possessivamente apaixonados. Esse, porém, não é um coração desperto. Se
procuramos o coração desperto, se colocamos a mão no peito para senti-lo, nada
encontramos – a não ser ternura. Sentimo-nos doloridos e ternos, e se abrimos os olhos
para o mundo, reconhecemos em nós uma profunda tristeza. Uma tristeza que não vem de
termos sido maltratados. Não estamos tristes porque nos insultaram ou porque nos
consideramos pobres. Não. Essa experiência de tristeza é incondicional. Ela se manifesta
porque nosso coração está absolutamente exposto. Nenhuma pele ou tecido o recobre – é
pura carne viva. Mesmo que nele pousasse apenas um mosquito, nós nos sentiríamos
terrivelmente tocados. Nossa experiência é crua; nossa experiência é terna e
absolutamente pessoal. O autêntico coração da tristeza provém da sensação de que o
nosso inexistente coração está repleto. Estaríamos prontos para derramar o sangue desse
coração, prontos para oferecê-lo aos outros. Para um guerreiro, é a experiência do coração
triste e terno que dá origem ao destemor, à coragem. Convencionalmente “ser destemido”
significa não ter medo, significa revidar um murro, dar o troco. Aqui, entretanto, não
estamos falando do destemor das brigas de rua. O verdadeiro destemor é produto da
ternura e sobrevém quando deixamos o mundo roçar nosso coração, nosso belo e despido
coração. Estamos dispostos a nos abrir, sem resistência ou timidez, e a encarar o mundo.
Estamos dispostos a compartilhar nosso coração."

—Chogyam Trungpa Rinpoche (no livro “Shambhala: a trilha sagrada do guerreiro”)


"O outro é você mesmo em um mundo diferente. Olhe-o com apreciação profunda."

—Lama Padma Samten

“Em Plum Village, onde vivo na França, recebemos muitas cartas dos campos de
refugiados de Cingapura, da Malásia, Indonésia, Tailândia e das Filipinas. Centenas a cada
semana. E muito triste ler essas cartas, mas temos de fazê-lo, temos de nos manter em
contato. Fazemos o possível para ajudar, mas o sofrimento é tamanho que às vezes
desanimamos. Dizem que metade dos refugiados que fogem em barcos morre no mar. Só
metade chega às costas do sudeste da Ásia, e mesmo nesse caso eles podem não estar
em segurança.

Muitas meninas, dos refugiados em barcos, são violentadas por piratas. Muito embora as
Nações Unidas e muitos países tentem ajudar o governo da Tailândia a acabar com essa
pirataria, os piratas continuam a infligir muito sofrimento aos refugiados em barcos. Um dia
recebemos uma carta de um refugiado que nos contava a história de uma menina num
pequeno barco que foi violentada por um pirata tailandês. Ela só tinha doze anos. Jogou-se
no oceano e morreu afogada.

Quando você ouve uma história dessas pela primeira vez, você sente raiva do pirata.
Naturalmente toma o partido da menina. A medida que examinar o assunto com maior
profundidade, verá tudo de um modo diferente. Se você tomar o partido da menina, é fácil.
Basta pegar uma arma e matar o pirata. No entanto, não podemos agir assim. Na minha
meditação, vi que, se eu tivesse nascido na aldeia em que o pirata nasceu e tivesse sido
criado como ele foi, haveria uma grande probabilidade de que eu me tornasse pirata
também. Vi que muitos bebês nascem nas costas do golfo do Sido, centenas a cada dia. Se
os educadores, os assistentes sociais, os políticos e outras pessoas não fizerem algo para
mudar sua situação, daqui a vinte .e cinco anos uma quantidade deles vai ser pirata. Isso é
líquido e certo. Se você ou eu nascêssemos hoje numa daquelas aldeias de pescadores,
dentro de vinte e cinco anos poderíamos nos tornar piratas. Quem pega a arma e mata o
pirata está matando a todos nós, porque todos nós até certo ponto somos responsáveis por
esse estado de coisas.

Depois de uma longa meditação, escrevi o seguinte poema. Nele, há três pessoas: a
menina de doze anos, o pirata e eu. Será que podemos olhar um para o outro e nos
reconhecer no outro? O título do poema é “Chame-me pelos meus nomes verdadeiros, por
favor”, porque eu tenho muitos nomes. Sempre que ouço um desses nomes, tenho de dizer,
“Sim”.

Não diga que parto amanhã

porque hoje mesmo ainda chego.

Olhe bem: chego a cada instante

para ser o botão num ramo na primavera,

para ser o pequeno passarinho,

de asas ainda frágeis,

aprendendo a cantar o meu novo ninho,

para ser a lagarta no coração da flor,

para ser a joia que se esconde na pedra.

Chego ainda para rir e para chorar,

para temer e esperar.

O ritmo do meu coração é o nascimento

e a morte de tudo que está vivo.

Sou a efemérida que se metamorfoseia à flor d’água

e sou a ave que, quando vem a primavera,

chega a tempo

de comer a efemérida.

Sou a rã que nada feliz na água limpa de um lago,

e sou a cobra que,

em silenciosa aproximação,

vem se alimentar da rã.


Sou a criança de Uganda, só pele e osso,

com as pernas finas como bambus,

e sou o traficante de armas que vende

a morte para Uganda.

Sou a menina de doze anos,

refugiada num pequeno barco,

que se atira ao mar depois de ser violentada

por um pirata,

e sou o pirata, com o coração ainda incapaz de ver

e de amar.

Sou um membro do politburo,

com muito poder nas mãos,

e sou o homem que tem de pagar sua “dívida de sangue”

ao seu próprio povo,

morrendo lentamente num campo de trabalhos forçados.

A minha alegria é como a primavera,

tão doce que faz brotar as flores

em todos os caminhos da vida.

A minha dor é como um rio de lágrimas,

tão forte que enche os

quatro oceanos.

Chame-me pelos meus nomes verdadeiros,


por favor,

para que eu possa ouvir de uma só vez todo o meu pranto

e todo o meu riso,

para que eu veja que a minha alegria

e a minha dor

são uma só.

Chame-me pelo meus nomes verdadeiros,

por favor,

para que eu desperte,

e para que a porta do meu coração possa

ficar aberta,

a porta da compaixão.”

—Thich Nhat Hanh

“Imagine que você está afundado em um dívida que você nunca conseguirá pagar, está
muito doente, algemado e com as pernas acorrentadas, alguém o comprou e o vendeu para
o mercado de escravos, e aí te colocam em um helicóptero e te jogam no meio do deserto
do Saara, dizendo “Boa sorte!”. É assim que Buda caracterizou a mente que ainda está sob
o domínio dos cinco obscurecimentos: 1) apego e fixação hedônica; 2) malevolência e
ressentimento; 3) torpor e embotamento; 4) excitação e ansiedade; 5) dúvida ou incerteza
aflitiva.”

—Alan Wallace (pra contextualizar a importância de shamatha na geração de


compaixão)

“Não evite o contato com o sofrimento ou feche os olhos diante do sofrimento. Não perca
a consciência da existência do sofrimento no mundo. Encontre maneiras de ficar com
aqueles que estão sofrendo, incluindo contato pessoal, visitas, imagens e sons. De todos os
modos, desperte a si mesmo e aos outros para a realidade do sofrimento no mundo.

—Thich Nhat Hanh


“Bodisatvas praticam no meio do fogo. Isso significa que eles entram no sofrimento do
mundo; significa também que eles se mantém inabaláveis com o fogo de suas próprias
emoções dolorosas. Eles não as expressam nem as reprimem. Eles se dispõe a ficar “no
ponto” e explorar as qualidades impossíveis de agarrar e as energias fluidas de uma
emoção — deixando que aquela experiência os conecte com a dor e com a coragem dos
outros.”

—Pema Chödrön (no livro “Sem tempo a perder”)

“Olhando em qualquer direção, não vamos localizar uma origem de mal, vamos ver apenas
uma natureza ilimitada vitoriosa, que não pode ser atingida. É uma perspectiva muito
importante, pois não vamos trabalhar com a noção de que há um centro do mal, ou que há
um complô que deseja afundar o navio, ou que as pessoas querem a infelicidade ou querem
justamente o sofrimento. Não vamos trabalhar com essa noção. Isso não é muito simples,
pois esta noção de exclusão, de mal, está muito arraigada dentro de nós — a idéia de que
precisamos de uma espada ou um revólver e assim tudo vai ficar melhor.”

—Lama Padma Samten (retiro no CEBB SP em 2005)

“No seio do amor altruísta a empatia manifesta-se quando nos confrontamos com os
sofrimentos do seres, e essa confrontação é que gera a compaixão (o desejo de remediar
esses sofrimentos e suas causas). Assim, quando o amor altruísta passa através do prisma
da empatia, torna-se compaixão. […] O amor altruísta cria em nós um espaço positivo que
serve de antídoto à aflição empática e impede que a ressonância afetiva se amplifique a
ponto de tornar-se paralisante e de ocasionar o esgotamento emocional característico do
burnout. Sem o aporte do amor e da compaixão, a empatia entregue a ela mesma é como
uma bomba elétrica na qual a água não circula mais: ela vai rapidamente superaquecer e
queimar. A empatia deve portanto tomar lugar no espaço muito mais vasto do amor
altruísta.”

—Matthieu Ricard (no livro “A revolução do altruísmo”)

“A maioria dos nossos relacionamentos é uma mistura de amor e apego. A razão da


ansiedade nos relacionamentos não é porque existe muito amor, mas porque existe muito
apego. O teste do amor versus o apego pode ser feito quando você percebe que uma
pessoa que você ama muda para pior. O que acontece? Se o amor for genuíno, os
sentimentos de amor crescerão mais fortes. Se o amor for realmente um apego, haverá um
afastamento.”

—Alan Wallace
“If we divide into two camps; even into violent and the nonviolent; and stand in one camp
while attacking the other, the world will never have peace. We will always blame and
condemn those we feel are responsible for wars and social injustice, without recognizing the
degree of violence within ourselves. We must work on ourselves and also with those we
condemn if we want to have a real impact.”

—Ayya Khema

“When you are frightened by something, you have to relate with fear, explore why you are
frightened, and develop some sense of conviction. You can actually look at fear. Then fear
ceases to be the dominant situation that is going to defeat you. Fear can be conquered. You
can be free from fear, if you realize that fear is not the ogre. You can step on fear, and
therefore you can attain what is known as fearlessness. But that requires that, when you see
fear, you smile.”

“Hope and fear cannot alter the season.”

—Chogyam Trungpa

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