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BABY-ART Os pgimeiros passos com a arte Ania Marie Holm MUSEU DE ARTE MODERNA mam DE SAO PAULO. lan bes2 CAs Cer ter Cena oe) CS Aeon roe Cod ere eae un Ca CEE en ee ne Sala Cee aco aed ea ey fackiyathurai | Torben Madsen | Anna Marie Holm ee Ree er ae ey Derry Ue ee Ee ae Pas) Ce rem ee ane) Cot ee eee een kee) pec erg CONVITE s pequenos nos convidam a experimentar. Eles tem a arte dentro de si les criam arte. Hles nos dizem algo. ‘Ngo que perdemos. Ago atraente e sedutor. Algo que reconhecemos. E que nio podemos explicar. Tudo é muito maior. Para as ctiancas pequenas existe uma conexao direta entre vida e obra. Fssas sao coisas inseparsves Milan, 1 ano e 2 meses, para um instante e escuta 0 som das gotas O SUBLIME A narrativa imprevisivel esté além de nossa compreensao. Se essumirmos que o sublime ¢ algo que nio podemos compreender; algo maior do que 1nds e sem limites, posso afirmar que tenho passado por recorrentes situacdes de narrativas sublimes com as criancas. As ctiancas precisam se sentir seguras para que © sublime aconteca. Se nds permititmos 0 espaco € as oportunidades para a ocorréncia do sublime, as criangas irdo automaticamente experimentar um dia-a-dia attistico, 'Nés, adultos, sempre temos em mente uma ou outra atividade para desenvolver com as criancas. Procuramos manter 0 foco em nossa idéia original. ‘As criancas, por seu lado, rapidamente descobrem rnovas possibilidades com os materiais apresentados e as relacdes entre eles. Nés continuamos tentando manter 0 foco em “nossa” atividade. Mas dai em diante é importante ousar ir além e ouvir: nds devemos ouvir as criancas, a> A narrativa sublime. Para onde ela vai? Sei que esta, mas ela nao € 0 que esta sendo mostrado ou comunicado, ‘Como podemos desenvolver atividades de artes visuais com criangas pequenas que conciliem o ‘espaco para as histérias dos alunos e a0 mesmo tempo a incorporacio da criatividade dos adultos que estdo propondo a atividade? Antes eu achava importante que as criancas ficassem dentro de limites previamente estabelecidos. Hoje jd nao penso assim. Constantemente emergem histdrias fantasticas das atividades desenvolvidas com as criancas. E 6 nessas oportunidades que acontece algo genial. Eu mesma deixo de ver “o que deveriamos estar fazendo’. ‘Vejo nas entrelinhas tudo aquilo que nao é nada Procuro sentir o sublime entre as criancas. Annarrativa sublime & como uma musica que preenche o ambiente e depois desaparece Poderiamos até concluir que a atividade da oficina de arte é “apenas” um pretexto para o surgimento de novas relacdes e a expressao livre de nossos sentimentos. No entanto, ao mesmo tempo, as ctiangas estdo ocupadas, usando as maos. Os materiais que s80 sentidos, tocados e manuseados nao criam, necessariamente, uma “obra de arte” visivel, mas “algo” proprio, que esta além disso. Como adultos, precisamos melhorar nossa capacidade de ouvir. Ouse ouvir. Ouse sentir 0 que € sublime, o que vai além dos limites. Gosto de estar no campo do desconhecido ¢ imprevisivel com as criancas. Muito daquilo que considero artistco e criativo € 0 que geralmente se considera “bagunca’, e acaba sendo recolhido ou jogado fora pelos adultos. ‘Annarrativa sublime é varrida junto com o original, © diferente, 0 vivo e 0 nao adestrado. E af que estao a energia e 0s valores artisticos, tudo 0 que as criancas inventam e as relacdes que estabelecem paralelamente as atividades de arte desenvolvidas. © sublime ¢ isso. | i ena deve tocar © 52 0 pe eianga aprende ot te entdos, tudo ¢ novidade. Laer, 1 ano 6 9 meses Laerke, ano e 10 meses CALIGRAFIA DE BEBE ‘et i Nn ste ae ¥ q> Quando viajo, sempre levo para «asa jomais de outros paises. Junte jornais! Publicacoes de diferentes tipos, com formatos e cores variadas. Algumas secoes geralmente 580 cor-de-rosa ou com fundo amareto. Para os jornais, tinta preta. Aescolha do pincel determina se a pintura vai ser de “caligrafia” ou “pintura de paredes” 0 resultado depende do tempo que a crianca passa pintando e também de quanto ela € ouvida durante o processo. A partir do jornal, surge muita comunicacdo. Ludvig, de 2 anos 5 meses, teve a sorte de ganhar uma folha de um jornal brasileiro na qual havia uma gravura do Batman, na parte inferior. Ele levanta seu blusao mostra sua camiseta com 0 Batman. E pinta em cima da ilustragao do jornal e ao lado dela, Muitas das criancas pintaram por cima das ilustragoes, que iam cobrindo com o pincel, a0 mesmo tempo que conversavam. Clara, de 2 ‘anos e meio, pintava os rostos falava, como se estivesse lendo tum poema, Os menores, naturalmente, se deliciaram quando viram que podiam pintar uma superficie grande com a tinta preta. € uma delicia participar dessa atividade. 05 tracos caligraficos de pincel das criangas pequenas sao belos Por si s6 ~ incrivelmente belos. Uma idéia bem simples: jornais de graca e tinta preta diluida, 0 processo ctiativo ndo pode se desenvolver numa situacdo fechada. Quando se cria, é preciso fugir da necessidade de ser bem sucedido o tempo todo. Temos que retornar & criaéo como um elemento integrado, uma convivéncia comum, sem esperar resultados Nesse dia, levei giz e um rolo de papel pardo, que desenrolei sobre © gramado. Rapidamente descobri que Renesh, de 2 anos e 1 més, nao conseguia desenhar sobre o papel colocado no chao. Para ele © papel precisa estar mais alto, senao suas pernas atrapalham. Porém, Renesh encontrou uma saida junto com o pai: ele se deitou sobre as pernas dele, e ai seus bracos ficaram na posi¢do ideal para desenhar naquele momento. Um menino um pouco maior, de 2 anos e 9 meses, passava por ali Foi atraido pelo papel grande e pelos gizes. Mostrou-se interessado, mas tinha um pirulito na mao. Com muita confianca e método, consegui que ele me deixasse segutar 0 pirulito. Deithe um pedaco de giz ¢ ele, de modo elegante, se curvou para a frente, com as pemas estendidas, Desenhou um lindo circulo, depois outro e mais um. Sentia um enorme prazer ao ver 0 circulo se fechar, unindo 0 inicio ao fim do traco. Ele continuou nessa posi¢ao ~ desenhou circulos por toda a borda do papel. Renesh observava, interessado. © menino tinha que ir para casa. Pegou de volta seu pirulito e me devolveu o giz. E entio nos despedimos, acenando um para 0 outro! Renesh entéo resolveu ficar de pé, curvado para a frente e também agachado. Seu pai desenhou um elefante, e entao ficaram conversando sobre o elefante e seus sons. 0 desenho como forma de convivio na natureza. Saia de dentro da sala e permita um convivio improvisado lé fora. € tao bom quanto um almoco em grupo ao ar livre. Mas Renesh me ensinou que para ele seria melhor desenhar com o papel em pé. Material Rolo de papel Giz

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