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TEMA: Negócios jurídicos celebrados com vícios ou falta de vontade

Conceito de NJ

Os negócios jurídicos são actos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do direito, visam a produção dos efeitos jurídicos conformes à intenção manifestada
pelo declarante ou declarantes.

Assim, os negócios jurídicos são, portanto, declarações de vontade que são


destinados à produção de efeitos jurídicos queridos pelo declarante. 

Vícios de Vontade

Trata-se de perturbações do processo formativo da vontade, operando de tal modo que


esta, embora concorde com a declaração, é determinada por motivos anómalos e valorados,
pelo Direito, como ilegítimos. Nos vícios da vontade o prejudicado é um dos contratantes,
pois há manifestação da vontade sem corresponder com o seu íntimo e verdadeiro querer.

Ex: A quer comprar uma moeda de ouro a B. B engana-o e diz-lhe que é de ouro mas é de
cobre.
A compra a moeda e é essa a sua vontade, não há qualquer divergência entre a declaração
e a vontade, mas a vontade está viciada, foi formada de uma maneira anormal. Estes
vícios podem revestir as seguintes categoria:

 Erro;
 Dolo;
 Coacção
 Incapacidade acidental.

Erro

O erro-vício traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma qualquer


circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efectuar o negócio.
a) Erro sobre a pessoa do declaratório: resulta do texto da lei respeitando ao facto de
estar apenas em causa a pessoa do declaratório. Se se referir a outras pessoas
declarantes já se aplica o art. 252º/1 CC.

EX: António quer dar um anel à Berta porque está convencido de que é filha da antiga
namorada dele, mas na verdade esta não é filha. ANULÁVEL.

b) Erro sobre o objecto do negócio: deve aceitar-se que ele abrange o objecto


material como jurídico (conteúdo), o erro aqui relevante quando relativo ao erro material
reporta-se à entidade ou às qualidades objectivas (art. 251º -247º); ANULÁVEL.

EX: A compra um terreno a pensar que tem água mas não tem. O objecto é o terreno, é
um erro sobre o objecto.

c) Erro sobre os motivos não referentes à pessoa do declaratório nem ao objecto do


negócio (art. 252º CC). ANULÁVEL

Ex: Eu descubro que padeço de uma enfermidade e dentro de 1 dia vou falecer, e
decido doar minha casa, passando dois meses descubro que foi um erro do hospital, aqui os
motivos que me levaram a doar foi essencialmente a morte.

NB: Para que o erro vício possa anular o negócio é necessário que hajam duas
condições gerais:
- Essencialidade, ou seja, determinante para fazer o negócio, sem ele o negócio não se teria
feito.

-Propriedade, ou seja, o erro tem de ser próprio, tem que incidir sobre uma circunstância que
não seja a verificação de qualquer elemento de validade do negócio.

Dolo – aqui o dolo ocorre quando se tem uma sugestão ou artifício usados com o fim
de enganar o autor da declaração (art. 253º/1 CC). A noção de dolo consta do art. 253º/1.

Só existirá dolo, quando se verifique o emprego de qualquer sugestão ou artifício com


a intenção ou a consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração ou quando
tenha lugar a dissimulação, pelo declaratario ou por terceiro.
Ex: Eu sei que as sapatilhas que estou a vender são piratas e de uma outra marca, mas
eu minto que são originais e da marca preferencial do declaratario.

Coacção

Corresponde a ameaça ou então intimidação.

Coacção Moral - Consiste no “receio de um mal de que o declarante foi ilicitamente


ameaçado com o fim de obter dele a declaração”. É, portanto, a perturbação da vontade,
a coacção moral origina a anulabilidade do negócio (art. 256º CC).

EX: Nas circunstâncias em que nos dizem ou você me assina o contrato ou dou-lhe um
tiro.

É diferente da coacção física ou absoluta porque na coacção moral a pessoa tem


liberdade de escolha, embora sofra as consequências, logo é uma coacção relativa.

A coacção pode ser dirigida à pessoa (Ex: ou assinas o contrato ou dou-te um tiro),
pode ser dirigido à honra, ou dirigido a terceiro (Ex: ou assinas ou dou um tiro à tua mulher).
A coacção pode ser feita pelo declaratório ou pelo terceiro.

Coacção Física duma análise feita no art. 246 do CC nota-se que a declaração negocial
emitida por coacção física não produz efeitos jurídicos, desde que o declarante não tenha
culpa, logo há aqui nulidade.

Temor reverencial (art. 255º/3 CC) (quando necessário).

Consiste no receito de desagradar a certa pessoa de quem se é psicológica, social ou


economicamente dependente.

Pretende afastá-lo como causa relevante do medo, tendo como consequência que o
acto praticado por temor reverencial, tem por fonte um dever, que é a contrapartida de um
poder funcional. O temor reverencial é irrelevante porque não haveria nunca ameaça ilícita,
porque a conduta do pertenço coactor, mais não é o exercício normal desse poder. Deixará de
haver simples temor reverencial se exceder no exercício do poder que lhe é atribuído.

Incapacidade Acidental

A hipótese está prevista no art. 257º CC, onde se prescreve a anulabilidade, desde que
se verifique o requisito (além da incapacidade acidental) destinado à tutela da confiança do
declaratário a notoriedade ou o conhecimento da perturbação psíquica.

É um vício de vontade porque a pessoa que está acidentalmente incapacitada não está
em condições de celebrar um negócio no estado normal, a sua vontade não foi formada de
uma maneira.

Para se conseguir a anulação de uma declaração negocial, com base neste preceito é
necessário:

a) Que o autor da declaração, no momento em que a fez, se encontrava, ou por anomalia


psíquica, ou por qualquer outra causa em condições psíquicas tais que não lhe permitiam o
entendimento do acto que praticou ou o livre exercício da sua vontade.

b) Que esse estado psíquico era notório ou conhecido do declaratário.

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