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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

BRUNA FERRARI

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE SISTEMAS DE ENVOLTÓRIA QUANTO À


EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A PARTIR DE SIMULAÇÃO COM O SOFTWARE
ENERGY PLUS

São Leopoldo
2017
Bruna Ferrari

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE SISTEMAS DE ENVOLTÓRIA QUANTO À


EFICIÊNCIA ENERGÉTICA A PARTIR DE SIMULAÇÃO COM O SOFTWARE
ENERGY PLUS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil, pelo Curso de
Engenharia Civil da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos - UNISINOS

Orientador: Prof. Dr. Daniel Reis Medeiros

São Leopoldo
2017
Dedico esse trabalho aos meus pais, que sempre me deram apoio e incentivo
para percorrer os caminhos e superar os obstáculos na realização dos meus sonhos.
Sinto-me feliz em poder dedicá-lo, também, ao meu avô Angelo Ferrari, que se
orgulharia em ver que seus ensinamentos e sua profissão, que seguem em evolução
a cada geração, foram motivo de inspiração na busca pelo título Bacharel em
Engenharia Civil.
.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, especialmente, aos meus pais Valdecir Vitorino Ferrari e Marisete


Pessali Ferrrari, por todo o amor, paciência, dedicação e incentivo nas minhas
realizações. Acompanharam de perto todos os momentos, com muito carinho e
sendo sempre o meu porto seguro nos momentos de dificuldade.
Aos amigos que participaram da minha caminhada, e que sempre me
incentivaram e mostraram-se dispostos a ajudar no que fosse preciso.
Especialmente, ao meu amigo e namorado Bruno Martins, que se mostrou paciente,
motivador e amoroso nesse momento tão importante da minha trajetória acadêmica.
Por fim, agradeço ao orientador Daniel Reis Medeiros por ter aceito participar
desse projeto de pesquisa, e também, ao professor Paulo Roberto Wander, que se
prontificou a ajudar no decorrer do estudo, o que possibilitou a conclusão desse
trabalho.
RESUMO

A eficiência energética em edificações está ganhando espaço e importância


no setor da construção civil. Com a finalidade de avaliar o comportamento de
sistemas de envoltória dos sistemas construtivos light steel frame, wood frame e do
sistema de construção convencional, foram especificadas algumas modelagens a
serem simuladas com o auxílio do software Energy Plus. Devido à importância das
características climáticas do local no comportamento dos sistemas de envoltória, a
aplicação do estudo foi limitada às três zonas bioclimáticas que compreendem o
estado do Rio Grande do Sul. Além de avaliar o comportamento das diferentes
envoltórias com relação à eficiência energética, foram avaliadas as envoltórias que
representam o melhor e o pior custo benefício associado à demanda energética
necessária para aquecimento e resfriamento e ao investimento para execução do
projeto com determinado sistema de vedação vertical. Resultados relacionados a
envoltórias que possuem materiais isolantes em sua composição representaram
melhores eficiências energéticas, como é o caso das envoltórias no sistema
construtivo wood frame, com paredes de tábuas de madeira. Da mesma forma, as
envoltórias em wood frame apresentam valores competitivos no mercado imobiliário,
e aliado ao bom desempenho quanto à eficiência energética, apresentam também,
melhores resultados com relação ao custo benefício. Em contrapartida, envoltórias
no sistema convencional, apesar de apresentarem valor de investimento inicial
bastante competitivo no mercado imobiliário, não apresentaram bons resultados
relacionados à eficiência energética se comparadas às envoltórias dos sistemas
construtivos em wood frame e light steel frame. O sistema de vedação vertical
composto por tijolos furados e reboco foi classificado como sendo a pior envoltória
com relação ao custo benefício e desempenho energético.

Palavras-chave: Eficiência energética. Sistemas de envoltória. Desempenho térmico.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fontes geradoras e consumo de energia elétrica no Brasil ...................... 16


Figura 2 – Zoneamento bioclimático brasileiro .......................................................... 30
Figura 3– Esquematização do funcionamento do programa Energyplus .................. 34
Figura 4 - Fluxograma da metodologia ...................................................................... 40
Figura 5– Projeto residencial utilizado para simulação ............................................. 41
Figura 6 – Planta baixa do projeto residencial utilizado para simulação ................... 42
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Porto


Alegre (zona 3) .......................................................................................................... 50
Gráfico 2 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Porto
Alegre (zona 3) .......................................................................................................... 51
Gráfico 3 - Comportamento da envoltória J para Porto Alegre ao longo de um ano . 52
Gráfico 4 - Comportamento da envoltória L para Porto Alegre ao longo de um ano . 53
Gráfico 5 - Comportamento da envoltória H para Porto Alegre ao longo de um ano 53
Gráfico 6 - Comportamento da envoltória B para Porto Alegre ao longo de um ano. 54
Gráfico 7 - Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Santa Maria
(zona 2) ..................................................................................................................... 55
Gráfico 8 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Santa
Maria (zona 2) ........................................................................................................... 56
Gráfico 9 - Comportamento da envoltória J para Santa Maria ao longo de um ano .. 57
Gráfico 10 - Comportamento da envoltória L para Santa Maria ao longo de um ano 58
Gráfico 11 - Comportamento da envoltória H para Santa Maria ao longo de um ano
.................................................................................................................................. 58
Gráfico 12 - Comportamento da envoltória B para Santa Maria ao longo de um ano
.................................................................................................................................. 59
Gráfico 13 - Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Bento
Gonçalves (zona 1) ................................................................................................... 60
Gráfico 14 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Bento
Gonçalves (zona 1) ................................................................................................... 61
Gráfico 15 - Comportamento da envoltória J aplicada na edificação em Bento
Gonçalves ao longo de um ano ................................................................................. 62
Gráfico 16 - Comportamento da envoltória L aplicada na edificação em Bento
Gonçalves ao longo de um ano ................................................................................. 63
Gráfico 17 - Comportamento da envoltória H aplicada na edificação em Bento
Gonçalves ao longo de um ano ................................................................................. 63
Gráfico 18 - Comportamento da envoltória B aplicada na edificação em Bento
Gonçalves ao longo de um ano ................................................................................. 64
LISTA DE QUADROS

Quadro 1– Transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor solar admissíveis


para cada tipo de vedação externa ........................................................................... 32
Quadro 2– Elementos construtivos padronizados ..................................................... 44
Quadro 3 - Composição das Envoltórias ................................................................... 44
Quadro 4 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a
envoltória para a cidade Porto Alegre (zona 3) ......................................................... 50
Quadro 5 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a
envoltória para a cidade Santa Maria (zona 2) .......................................................... 54
Quadro 6 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a
envoltória para a cidade Bento Gonçalves (zona 1) .................................................. 60
Quadro 7 - Tabela de gastos anuais para a cidade Porto Alegre .............................. 68
Quadro 8 - Tabela de gastos anuais para a cidade Santa Maria .............................. 69
Quadro 9 - Tabela de gastos anuais para a cidade Bento Gonçalves ...................... 69
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Densidade de massa aparente (ρ), condutividade térmica (λ) e calor


específico (c) de materiais......................................................................................... 23
Tabela 2– Absortância (α) para radiação solar (ondas curtas) e emissividade (ε) para
radiações e temperaturas comuns (ondas longas).................................................... 24
Tabela 3– Fator solar para alguns tipos de superfícies transparentes ...................... 27
Tabela 4- Densidade de massa aparente (ρ), condutividade térmica (λ) e calor
específico (c) de materiais......................................................................................... 29
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
1.1 DEFINIÇÃO DO TEMA........................................................................................ 11
1.2 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO ....................................................................... 12
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13
1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 13
1.3.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 13
1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 15
2.1 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES ................................................ 15
2.2 BALANÇO ENERGÉTICO DA EDIFICAÇÃO ...................................................... 18
2.2.1 Condução ........................................................................................................ 19
2.2.2 Convecção ...................................................................................................... 20
2.2.3 Radiação ......................................................................................................... 20
2.3 INFLUÊNCIA DA ENVOLTÓRIA DA EDIFICAÇÃO NA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA ........................................................................................................... 21
2.3.1 Fechamentos Opacos .................................................................................... 23
2.3.2 Fechamentos Translúcidos ........................................................................... 25
2.3.2.1 Vidros e suas propriedades ........................................................................... 25
2.3.3 Isolamento Térmico........................................................................................ 28
2.4 ZONAS BIOCLIMÁTICAS ................................................................................... 30
2.5 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA UTILIZANDO
O ENERGY PLUS ..................................................................................................... 32
2.6 SISTEMAS CONSTRUTIVOS WOOD FRAME,LIGHT STEEL FRAME E
CONVENIONAL ........................................................................................................ 34
2.6.1 Sistema de Construção Convencional no Brasil e os Principais Materiais
de Envoltória............................................................................................................ 35
2.6.2 Sistemas construtivos Wood Frame e Light Steel Frame e os Principais
Materiais de Envoltória ........................................................................................... 36
2.6.2.1 Placas de OSB .............................................................................................. 36
2.6.2.2 Siding Vinílico ................................................................................................ 37
2.6.2.3 Smart Side ..................................................................................................... 37
2.6.2.4 Parede de Madeira ........................................................................................ 37
2.6.2.5 Placa cimentícia ............................................................................................ 38
2.6.2.6 Gesso acartonado ......................................................................................... 38
2.6.2.7 Telhas shingle ............................................................................................... 38
2.7 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS ......................................................................... 39
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 40
3.1 PROJETO E PARÂMETROS PADRÃO ADOTADOS PARA A SIMULAÇÃO ..... 41
3.2 DETERMINAÇÃO DAS ENVOLTÓRIAS E ELEMENTOS CONSTRUTIVOS ..... 44
3.3 ZONAS BIOCLIMÁTICAS E CIDADES DE REFERÊNCIA ................................. 46
3.4 COMPORTAMENTO DAS ENVOLTÓRIAS QUANTO À EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA ........................................................................................................... 46
3.5 CUSTO BENEFÍCIO DAS DIFERENTES ENVOLTÓRIAS ................................. 47
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................... 49
4.1 ANÁLISE DOS GASTOS ENEGÉTICOS DA EDIFICAÇÃO ............................... 49
4.1.1 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Porto Alegre (zona 3) ......... 49
4.1.2 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Santa Maria (zona 2) .......... 54
4.1.3 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Bento Gonçalves (zona 1) . 59
4.1.4 Parecer Geral .................................................................................................. 64
4.2 ANÁLISE DO CUSTO BENEFÍCIO DAS ENVOLTÓRIAS .................................. 67
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 71
11

1 INTRODUÇÃO

São relatadas questões pertinentes à definição e delimitação do tema a ser


abordado no decorrer do trabalho, bem como os objetivos e justificativa que
fomentaram o desenvolvimento do projeto de pesquisa em questão.

1.1 DEFINIÇÃO DO TEMA

Conforme Agopyan e John (2011), desde a década de 1970, marcada por


uma crise energética, os países desenvolvidos passaram a adotar estratégias
capazes de reduzir o consumo energético de edificações, sendo o foco inicial desse
tema a energia incorporada dos materiais de construção. As questões relacionadas
à eficiência energética começaram a ganhar força na Europa na mesma década.
De acordo com World Business Council for Sustainable Development
(WBCSD) (2007), na maioria dos países, os edifícios representam um consumo
energético em torno de 40% da energia utilizada no país, sendo, portanto,
fundamental que haja dedicação a fim de reduzir o consumo energético de
edificações, de forma a contribuir positivamente na utilização de energia, e
consequentemente, nas alterações climáticas.
WBCSD (2007) afirma que há tecnologia e conhecimento para imediatamente
iniciar o processo de redução de energia nos edifícios e simultaneamente melhorar o
conforto térmico, no entanto, há barreiras de comportamento, organizacionais e
financeiras que devem ser superadas.
O constante destaque da relevância do desenvolvimento sustentável implicou
em mudanças no setor da construção civil nos últimos anos, à qual são integrados
novos conceitos, ferramentas e materiais para atender as novas perspectivas do
setor de construção civil. (AGOPYAN; JOHN, 2011).
Os sistemas de construção light steel frame e wood frame surgem no Brasil
com a proposta de sistemas sustentáveis, cuja concepção é de que o desempenho
dos sistemas de envoltória proporcione maior eficiência energética e conforto
térmico quando comparados à construção convencional. (LP, 2012).
Devido às mudanças que o setor da construção civil vem experimentando a
fim de obter um desenvolvimento sustentável, conforme admitido por Agopyan e
John (2011) e pelo destaque do WBCSD (2007) com relação à importância da
12

eficiência energética em edificações, pode-se deduzir que há uma tendência


crescente na busca por projetos e materiais que apresentem bom desempenho com
relação à eficiência energética e conforto térmico simultaneamente.
Ainda, de acordo com Agopyan e John (2011), o consumo energético dos
edifícios varia conforme a região, sendo por exemplo, o gasto energético devido ao
resfriamento dos ambientes maior em regiões mais quentes, e dedutivamente,
menor em regiões mais frias, nas quais o gasto energético com aquecimento se
destaca.
Analisando as proposições apresentadas, tem-se que a busca pela eficiência
energética tende a se tornar uma necessidade para garantir a disponibilidade de
energia às gerações futuras, e deve ser avaliada de forma distinta para cada região,
uma vez que, devido às suas particularidades (características do clima local e
hábitos dos usuários), não necessariamente as mesmas estratégias trarão os
mesmos resultados.
O conhecimento dos resultados a partir do comportamento da troca térmica
de sistemas de envoltória ao longo do período de vida útil de projeto permite adotar
a composição de materiais que representem o melhor custo benefício, de forma a
tornar viável a incorporação do conceito de eficiência energética às edificações a
partir da escolha do sistema de envoltória a ser aplicado no projeto.

1.2 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO

O trabalho apresenta a análise e comparação dos dados referentes a


resultados de eficiência energética associados aos sistemas de envoltória. Os
sistemas de envoltória considerados no estudo são os principais que constituem os
sistemas construtivos light steel frame, wood frame e o sistema convencional, dos
quais os resultados obtidos e as diferenças mais significativas são analisados e
comparados.
Para a obtenção dos resultados, foram realizadas simulações a fim de
determinar a eficiência energética de uma residência de projeto padrão com relação
aos diferentes tipos de envoltória. Para a realização das simulações, foi utilizado o
software Energy Plus. É valido esclarecer que o projeto em si não foi avaliado, e sim,
a influência que a escolha do sistema de envoltória têm sobre o mesmo com relação
13

aos gastos de energia necessários com aquecimento e resfriamento para manter o


conforto térmico na residência.
Como as características climáticas são fator influente para a análise do
balanço energético das edificações, a fim de limitar a pesquisa, os sistemas de
envoltória foram analisados para o estado do Rio Grande Sul, compreendendo as
três zonas bioclimáticas que o integram, segundo a NBR 15220 (Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), 2003). As cidades de referência para as
simulações foram Bento Gonçalves (zona 1), Santa Maria (zona 2) e Porto Alegre
(zona 3).
A partir da análise dos resultados com os gastos de energia para manter a
residência em condições de conforto térmico e tendo o conhecimento do custo de
construção referente a cada sistema de envoltória simulado, foi possível avaliar os
sistemas de envoltórias com relação ao custo benefício associado à eficiência
energética de cada situação.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Comparar o comportamento de diferentes sistemas de envoltória (com foco


nos sistemas construtivos light steel frame, wood frame e convencional) com relação
à eficiência energética a partir de simulação com o software Energy Plus.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) analisar os resultados quanto à eficiência energética total e gasto


energético com resfriamento e aquecimento para manter o conforto térmico
dos ambientes, relacionados aos tipos de sistemas de envoltórias de
edificações, com foco nos sistemas construtivos light steel frame, wood
frame e convencional;
b) comparar o desempenho de eficiência energética entre os sistemas
construtivos light steel frame, wood frame e o sistema de construção
convencional, com a aplicação de diferentes envoltórias em um projeto
padrão de edificação;
14

c) definir, dentre as envoltórias de estudo, as que representam melhor custo


benefício relacionado ao desempenho quanto à eficiência energética.

1.4 JUSTIFICATIVA

Atualmente, a busca por estratégias em edificações que conciliem conforto


térmico e redução no gasto energético é cada vez mais perceptível e aplicável em
projetos. A envoltória da edificação tem grande influência nessa questão, uma vez
que é a partir desta que irão ocorrer as trocas térmicas com o meio, e, portanto, o
conhecimento do comportamento das envoltórias é fator determinante para definir o
projeto e alcançar o desempenho térmico e a eficiência energética que se pretende
para a edificação.
Apesar das características da envoltória serem um determinante de projeto,
em muitas situações, a questão financeira delimita o emprego de determinados
materiais ou sistemas construtivos. Entretanto, quando é possível ter a avaliação do
custo benefício associado ao emprego de certo sistema ou material construtivo, a
tomada de decisão pode ser feita de maneira mais crítica, de modo a permitir ao
investidor, maior segurança com relação ao investimento financeiro.
Todas essas questões podem ser explanadas e discutidas quando há
resultados relacionados à eficiência energética. Atualmente, existem projetos como
o Procel Edifica, que determina tal princípio a partir de equações simplificadas.
Entretanto, a simulação computacional com o software Energy Plus, devido ao
número de parâmetros admitidos na simulação, que é mais complexa e minuciosa,
torna esse método mais preciso e fidedigno, e, portanto, foi o adotado para esse
trabalho na obtenção dos resultados.
15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para a compreensão e análise crítica dos resultados do estudo, alguns


conceitos fundamentais merecem destaque. Portanto, são abordadas desde
questões relacionadas à eficiência energética de um modo geral até conhecimentos
sobre o balanço energético de edificações e o comportamento dos materiais de
envoltória.
Ainda, para o entendimento do estudo, assuntos relevantes como a divisão
bioclimática no Brasil, os materiais de construção aplicados nos sistemas de
construção light steel frame, wood frame e no sistema convencional, além de uma
breve revisão sobre economia são abordados.

2.1 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES

De acordo com Ferrer e Garrido (2013), a eficiência energética em


edificações consiste na aplicação de estratégias e adequações nos projetos, de
forma a considerar as características do entorno em que a edificação está inserida,
com a finalidade de reduzir o consumo energético da edificação em questão, e
consequentemente, amenizar a emissão de gás carbônico e de poluentes na
atmosfera.
Quando a utilização desenfreada dos combustíveis fósseis para a geração de
energia não representava custo significativo, os edifícios eram projetados apenas
com considerações estéticas, sendo que o conforto térmico poderia ser obtido por
métodos convencionais, tais como o uso de ar condicionado. Conforme a
preocupação acerca do custo e da disponibilidade dos recursos energéticos passa a
ser relevante, buscam-se estratégias que possam inverter o cenário do consumo
energético. A melhora na eficiência energética em edificações é uma medida que
representa maior economia de energia com relação ao investimento necessário, e a
partir de então, esse propósito torna-se fundamental na etapa de projeto. (FERRER;
GARRIDO, 2013).
A Figura 1 representa as fontes geradoras e o consumo de energia elétrica
pelos diferentes setores do país. Percebe-se que a demanda composta pelas
edificações no Brasil, considerando os segmentos residencial (21,3%), comercial
16

(14,8%) e público (6,9%), totalizam a utilização de 43,0% da energia elétrica gerada


pelo Brasil. (BRASIL, 2016).
Os dados obtidos pelo Balanço Energético Nacional (BEN) de 2016 (com
dados de referência do ano de 2015) complementam a informação relatada pelo
WBCSD (2007), ao alegar que em praticamente todos os países envolvidos no
levantamento dos dados do estudo (estando o Brasil incluído), a estimativa é de que
os edifícios representam o consumo de aproximadamente 40% da energia utilizada
no país.

Figura 1 - Fontes geradoras e consumo de energia elétrica no Brasil

Fonte: Brasil (2016).

Ainda, devido ao desenvolvimento econômico e populacional, o consumo de


energia tende a crescer constantemente (principalmente nos países em
desenvolvimento), e por essa razão, medidas mitigadoras devem ser adotadas.
Isolani (2008) afirma que o investimento em estratégias que resultem em
economia de energia é a primeira fonte de energia de fácil obtenção. Sendo que,
segundo WBCSD (2007), os edifícios são responsáveis por uma significativa parcela
da demanda energética, e a intervenção nos mesmos pode contribuir na reversão
dessa situação, uma vez que já existem tecnologias e conhecimentos acessíveis
17

para se atingir níveis de eficiência energética consideráveis, o que influencia


positivamente na redução do consumo de energia, e também na questão do conforto
térmico.
A busca por edifícios energeticamente eficientes está relacionada em manter
o conforto térmico, de forma a utilizar o menos possível sistemas convencionais de
aquecimento ou de refrigeração. Entretanto, muitas vezes, com a utilização de
materiais convencionais, o nível de conforto térmico admitido pelo usuário não é
atingido, sendo requisitado o uso de tais sistemas. Ainda assim, se o projeto for
desenvolvido com a consciência de reduzir a demanda de energia, a diminuição no
consumo é significativa se comparado às construções convencionais que não
incorporam estratégias de eficiência energética. (FERRER; GARRIDO, 2013).
A eficiência energética em edificações possui uma série de fatores variáveis
que influenciam no resultado final, tais como o clima local, entorno da edificação,
materiais utilizados, geografia local, além de aspectos culturais. Por essa razão, a
elaboração de um modelo único que seja solução para todas as situações é utópica,
e cada caso deve ser avaliado de forma individual para alcançar os resultados
desejados. (WBCSD, 2007).
Conforme Ganhão (2011), a utilização de soluções passivas, acompanhadas
se necessário, de soluções ativas, é capaz de alcançar os resultados que englobam
tanto a melhoria do desempenho energético da edificação como do comportamento
térmico.
A arquitetura bioclimática aborda a utilização da energia solar passiva e
estratégias construtivas que buscam aproveitar ao máximo as características locais
e do entorno em prol da melhoria do conforto da edificação e demanda energética.
(FERRER; GARRIDO, 2013). Alguns exemplos relacionados à aplicação de
estratégias da arquitetura bioclimática são a orientação solar do edifício, os
condicionantes locais do clima, a função e forma da edificação e materiais que
compõem a envoltória. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Conforme Ferrer e Garrido (2013), quando não é possível atingir os níveis de
desempenho térmico e eficiência energética desejados somente com o emprego de
soluções passivas da arquitetura bioclimática, complementa-se a edificação com
estratégias ativas, o que consiste no emprego de equipamentos convencionais de
aquecimento e de refrigeração ou na utilização de energia solar ativa (placas
18

fotovoltaicas e coletores solares para aquecimento de água) a fim de garantir a


situação de conforto térmico.
Isolani (2008) orienta que é necessário fazer uma avaliação com relação às
características do edifício tais como os custos de operação e sistemas de
condicionamento, a fim de assumir atitudes que conduzam a uma melhoria no
conforto da habitação alinhada à menor demanda energética, reduzindo assim, os
custos ao longo da vida útil de projeto da edificação.
Entretanto, apesar da perceptível consciência da sustentabilidade na
construção civil, e consequentemente, da importância da eficiência energética em
edificações, ainda há baixo envolvimento e conhecimento específico acerca da
temática. Barreiras como as considerações financeiras distanciam a prática de
investimentos para alcançar altos níveis de eficiência energética. O principal motivo
é que os benefícios da aplicação de alternativas ativas ou passivas para a redução
do consumo de energia são obtidos a longo prazo, pois o gasto com energia está
embutido majoritariamente nos custos operacionais da edificação. Logo, para o
investidor, que visa o lucro a curto prazo, a consideração do desempenho energético
da edificação quanto ao uso e operação ao longo da vida útil de projeto não se
mostra atrativo, e, portanto, não são implementadas ações que resultem em melhor
qualidade e menor gasto energético. (WBCSD, 2007).

2.2 BALANÇO ENERGÉTICO DA EDIFICAÇÃO

Para a elaboração e construção do projeto de uma edificação que tem em


vista o desempenho energético e conforto térmico, ao integrar os elementos
passivos é importante considerar os dados climatológicos locais, bem como seus
efeitos com relação ao comportamento termodinâmico do sistema. (FERRER;
GARRIDO, 2013).
Qualquer edificação é capaz de manter-se constantemente realizando trocas
de massa e de energia com o meio em que está inserida. Tal característica
enquadra as edificações como um sistema termodinâmico aberto de regime
transiente que responde aos efeitos de condução, convecção e radiação. (FERRER;
GARRIDO, 2013).
19

Os meios de transferência de calor são caracterizados por gerar fluxo de calor


do meio de maior temperatura para o de menor temperatura até que se alcance o
equilíbrio (mesma temperatura nos dois meios). (ÇENGEL; GHAJAR, 2012).
Hinrichs, Kleinbach e Reis (2013) apontam que a transferência de calor é a
forma de um sistema buscar por seu equilíbrio, e esse fenômeno ocorre até que as
temperaturas do sistema e do meio estejam completamente equilibradas. No
entanto, o tempo para que esse processo ocorra depende, além das características
bioclimáticas do meio, das propriedades de condução dos materiais e da área de
superfície do sistema.
Para a ocorrência da transferência de energia através do fluxo de calor, é
obrigatoriamente necessário que exista diferença de temperatura, sendo a
condução, convecção e radiação os mecanismos para tal fenômeno. No caso das
paredes de uma residência, por exemplo, as trocas de energia na superfície é que
devem ser consideradas. Pelo fato de que uma superfície é caracterizada por não
possuir massa e nem volume, considera-se a mesma como um sistema fictício, no
qual a quantidade de energia que entra e que sai durante o processo se mantém
constante. (ÇENGEL; GHAJAR, 2012).

2.2.1 Condução

A transferência de calor por meio da condução consiste na interação entre as


moléculas, seja de um sólido, de um líquido ou de um gás. No caso dos líquidos e
gases, basicamente ocorre a condução de calor a partir da transferência das
moléculas mais energizadas para as menos energizadas. Com os sólidos, podemos
compreender o fundamento do fluxo de calor por condução através das vibrações
moleculares, que instigam a transferência de energia pelos elétrons livres. A taxa de
condução de calor leva em consideração os parâmetros de área e espessura da
superfície, diferença de temperatura entre os meios e a condutividade térmica do
material (quanto menor o valor dessa propriedade característica, menor é a
transferência de calor por condução). (ÇENGEL; GHAJAR, 2012).
Hinrichs, Kleinbach e Reis (2013) explicam o processo de condução como
aquele que ocorre pela transferência de energia térmica por meio do material, a
partir da movimentação das moléculas, cujo sentido de fluxo é do meio de maior
para o de menor temperatura, até que se atinja o equilíbrio.
20

Quando se fala em condução, além da propriedade de condutividade térmica,


ainda há dois conceitos importantes, que representam propriedades características
dos materiais e que estão relacionados ao fenômeno de condução de calor. O
primeiro a ser mencionado é a capacidade térmica, que indica a quantidade de calor
que pode ser armazenada por um dado material. A outra propriedade é difusividade
térmica, que representa a velocidade com que ocorre a transmissão de calor. O
conhecimento desses conceitos permite a interpretação, análise e compreensão dos
comportamentos dos materiais na condução. (ÇENJEL; GHAJAR, 2012).
A NBR 15220 (ABNT, 2003) determina a capacidade térmica como sendo a
“quantidade de calor necessária para variar em uma unidade a temperatura de um
sistema” e a unidade de medida é expressa em J/K. O calor específico, por sua vez,
é determinados a partir da massa do material, sendo expresso por J/(kg.K).

2.2.2 Convecção

Segundo Çengel e Ghajar (2012), convecção é o processo que se


fundamenta na transferência de energia térmica entre uma superfície sólida e um
fluido (líquido ou gás) dinâmico. Caso não exista movimentação do gás ou líquido,
desconsidera-se tal processo, sendo somente a condução estimada na quantificação
da transferência de calor.
Quando se trata de convecção, deve-se considerar, basicamente, o processo
que ocorre a partir da movimentação de massa do fluido, uma vez que a condução
se torna inviável devido ao afastamento das moléculas. Sabe-se que as correntes de
convecção se formam a partir da diferença de densidade dos fluidos, sendo que o
quente é sempre menos denso do que o frio. (HINRICHS, KLEINBACH; REIS,
2013).

2.2.3 Radiação

A radiação é uma forma de transferência de calor que difunde energia a partir


de ondas eletromagnéticas e de fótons, sendo que todos sólidos, líquidos e gases
que possuem temperatura acima do zero absoluto possuem a capacidade de emitir,
absorver ou transmitir radiação (especialmente a térmica), com maior ou menor
intensidade. (ÇENGEL; GHAJAR 2012) Segundo Hinrichs, Kleinbach e Reis (2013),
21

a taxa de emissão de radiação por um corpo depende da sua temperatura, sendo


que são fatores diretamente proporcionais.
Diferentemente dos outros processos de transferência de calor, a radiação
dispensa meios de propagação. É transmitida a partir de ondas eletromagnéticas
que se propagam, na velocidade da luz (no vácuo), cujas características variam
conforme a frequência e comprimento de onda. Pode-se citar como exemplo de
onda eletromagnética a radiação infravermelha, ondas de rádio e luz visível.
(HINRICHS; KLEINBAHC; REIS, 2013).

2.3 INFLUÊNCIA DA ENVOLTÓRIA DA EDIFICAÇÃO NA EFICIÊNCIA


ENERGÉTICA

De acordo com Carlo (2008), a transferência de calor que ocorre pela


envoltória da edificação está diretamente relacionada com o consumo de energia,
sendo que esse assunto deve ser abordado e tratado com importância em
programas de eficiência energética em edificações, desde o projeto até a
construção. Características como as propriedades térmicas do material, cor, e as
condições consequentes à exposição do ambiente externo influenciam no
comportamento da transferência de calor através dos materiais de envoltória da
edificação.
Os materiais possuem coeficientes de transmissão de calor distintos, e,
portanto, apresentam valores de condutividade térmica específicos, que
representam a capacidade que determinado material possui de conduzir calor.
Nessa análise, são levados em consideração, também, a espessura do material e a
diferença de temperatura nas zonas em que está ocorrendo a troca de calor.
(FERRER; GARRIDO, 2013).
Quanto à radiação, a cor dos materiais tem efeito significativo na emissão e
absorção. Elementos de cores mais escuras, ao contrário das cores claras ou
brilhantes, emitem e absorvem calor por radiação mais facilmente. É importante
também observar, que o material propenso a emitir mais radiação, também absorve
radiação mais facilmente de forma a garantir o equilíbrio térmico com o meio.
(HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2013).
Segundo Ferrer e Garrido (2013), a radiação absorvida pelo edifício é
resultado do comportamento do material de fechamento externo com relação à
22

emissão da radiação solar. Parte da radiação absorvida pela envoltória opaca torna-
se energia térmica para o interior da edificação, enquanto que uma outra parcela
dessa radiação é refletida. No caso das áreas de superfícies envidraçadas, parte da
radiação solar é transmitida diretamente pelo material e absorvida pelas paredes
internas.
As características primordiais da envoltória de uma edificação quanto à
eficiência energética, segundo Isolani (2008) são a inércia térmica e a capacidade
isolante dos materiais. A inércia térmica refere-se à capacidade que materiais
pesados, como pedras e tijolos, têm de manter a temperatura, reduzindo o impacto
dos picos climáticos na edificação. Por outro lado, o isolamento funciona como uma
barreira para o fenômeno de condução, o que reduz a transferência de calor com o
meio.
Segundo Lamberts, Dutra e Pereira (2014), os princípios da inércia térmica
são interessantes quando ocorrem variações térmicas de grande amplitude em um
único dia. Dessa forma, o calor retido no material pela inércia poderá ser devolvido
ao ambiente interno quando ocorrer queda de temperatura, funcionando como uma
reserva térmica, de forma que a oscilação da temperatura no interior da residência
ocorra de forma gradual, sendo que quanto maior a inércia térmica, maior a retenção
de calor. A inércia térmica está diretamente relacionada com a propriedade de
capacidade térmica do material, que expressa a eficiência de um material em reter
ou não calor.
Atrelada à capacidade térmica e à ordem de disposição das camadas dos
materiais, outra propriedade relevante é o atraso térmico (em horas), que faz
referência ao tempo que decorre para que haja variação térmica de um lado ao outro
da superfície do fechamento. (ABNT, 2003).
Outra propriedade dos materiais a ser considerada é a resistência térmica,
que depende da capacidade de condução e da espessura do mesmo, sendo que
quanto maior a espessura, maior a resistência térmica. O inverso da resistência
térmica é a transmitância térmica, variável de grande importância na análise de
desempenho de fechamentos opacos, expressa em W/(m².K). (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2014).
Além das propriedades térmicas dos materiais que compõem a envoltória,
outro aspecto relevante que implica na eficiência energética de uma edificação é a
área de superfície. Conforme Hinrichs, Kleinbach e Reis (2013), quanto maior a área
23

de superfície de uma edificação, menor é a capacidade de manter a temperatura,


uma vez que o processo de transferência de calor é proporcional à área superficial,
sendo que ao comparar uma residência de dois andares e uma térrea (mas com
área equivalente), a residência de dois andares (que possui menor área superficial)
terá uma taxa de transferência de calor inferior à da residência térrea.
Isolani (2008) remete essa análise a uma relação superfície/volume, a partir
da qual observa-se que quanto menor essa relação, mais eficiente a edificação será
do aspecto energético (no caso de Portugal). Isso se dá a partir da superfície de
contato do edifício com o meio externo, que apresenta maior troca de energia
térmica quanto maior a superfície de contato (paredes, janelas e telhados).

2.3.1 Fechamentos Opacos

A condição fundamental para que os fechamentos opacos transfiram calor é a


busca pelo balanço energético em tal situação que exista diferença de temperatura
entre os corpos ou os meios com os quais têm contato. (LAMBERTS et al, 2016).
De modo geral, todos os fechamentos opacos de uma edificação são
protagonistas do fenômeno de transferência de calor por condução na situação
acima descrita, no entanto, de acordo com Ferrer e Garrido (2013), a quantidade de
energia transmitida depende fundamentalmente de características únicas dos
materiais, como a condutividade, a densidade e a capacidade calorífica (capacidade
térmica específica ou calor específico). A partir da Tabela 1, pode-se observar as
diferentes características térmicas de alguns materiais opacos aplicados em
fechamentos de edificações.

Tabela 1 - Densidade de massa aparente (ρ), condutividade térmica (λ) e calor


específico (c) de materiais
ρ c
Material λ (W/(m.K))
(kg/m³) (KJ/(kg.K))
Argamassa comum 1800 – 2100 1,15 1,00
Tijolos e telhas de barro 1000 – 1300 0,70 0,92
Placas de fibro - cimento 1800 – 2200 0,95 0,84
Concreto normal 2200 – 2400 1,75 1,00
Gesso acartonado 750 – 1000 0,35 0,84
24

Madeira de pinus 600 – 750 0,23 1,34


Aglomerado de fibras de
850 – 1000 0,20 2,30
madeira (denso)
Aço, ferro fundido 7800 55 0,46
Policloretos de vinila (PVC) 1200 – 1400 0,20 0,0
Pedra basalto 2700 – 3000 1,60 0,84
Fonte: Adaptado da ABNT (2003).

O efeito da radiação incidente também é relevante quanto à transferência de


calor através de fechamentos opacos, sendo que a mesma é dividida em duas
parcelas: a radiação refletida, que não sofre qualquer alteração, e a absorvida, que é
transformada em energia térmica. (LAMBERTS et al., 2016).
O principal determinante das parcelas refletidas e absorvidas é a cor do
material, sendo que materiais de cores mais escuras absorvem mais radiação do
que os de cores mais claras. A propriedade de emissividade do material é que irá
determinar a quantidade de energia térmica emitida para o ambiente interno a partir
da radiação absorvida pela superfície do fechamento opaco. (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2014).
Alguns coeficientes de absortância e emissividade de materiais opacos
podem ser observados na Tabela 2.

Tabela 2– Absortância (α) para radiação solar (ondas curtas) e emissividade (ε) para
radiações e temperaturas comuns (ondas longas)
Tipo de Superfície α ε
Chapa de alumínio (nova e brilhante) 0,05 0,05
Chapa de alumínio (oxidada) 0,15 0,12
Chapa de aço galvanizada (nova e brilhante) 0,25 0,25
Concreto aparente 0,65/0,80 0,85/0,95
Telha de barro 0,75/0,80 0,85/0,95
Tijolo aparente 0,65/0,80 0,85/0,95
Reboco claro 0,30/0,50 0,85/0,95
25

Revestimento asfáltico 0,85/0,98 0,90/0,98


Pintura branca 0,20 0,90
Pintura amarela 0,30 0,90
Pintura verde clara 0,40 0,90
Pintura verde escura 0,70 0,90
Pintura vermelha 0,74 0,90
Pintura preta 0,97 0,90
Fonte: Adaptado de ABNT (2003).

2.3.2 Fechamentos Translúcidos

Os fechamentos translúcidos possuem comportamento análogo aos


fechamentos opacos com relação à transferência de calor, com a diferença de que,
quanto à radiação incidente, além das parcelas absorvidas e refletidas, há uma
parcela que é diretamente transmitida para o interior da edificação, sendo complexa
a determinação das frações referentes a tais parcelas de radiação. As trocas
térmicas através de fechamentos translúcidos ocorrem de forma mais acelerada, e,
portanto, é relevante analisar alternativas desses elementos que apresentam menor
geração de impactos, como por exemplo, a análise do melhor tipo de vidro ou então
o uso de proteções solares em aberturas. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
O conceito de fator solar também é importante para avaliar o impacto que
esses materiais possuem com relação à energia térmica conduzida para o interior. O
fator solar representa o percentual total da radiação que é diretamente transmitida
para o interior da edificação e da parcela absorvida pelo material com relação ao
total incidente. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

2.3.2.1 Vidros e suas propriedades

Em uma edificação, as janelas são o principal meio para a ocorrência de


trocas térmicas, justamente pelo fato de serem compostas por vidros, elementos
translúcidos de alta transmitância de calor. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
A radiação incidente nos vidros é dividida em três parcelas: a transmitida (que
atravessa a transparência do fechamento translúcido e propaga-se diretamente no
ambiente interno), a absorvida (convertida em calor e reemitida para os meios
26

externo e interno) e a refletida (depende do ângulo de incidência da radiação, sendo


que quanto maior o ângulo, maior será essa parcela). Portanto, as características
óticas do material translúcido oportunizam o maior controle de trocas térmicas com o
interior. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Conforme Lamberts, Dutra e Pereira (2014), atualmente, o vidro mais
comumente empregado nas edificações é o vidro simples transparente, devido às
vantagens que representa quanto ao custo e disponibilidade do material. Devido à
elevada transparência, que implica em alta transmissividade e absortância, esse
vidro é caracterizado pela elevada transmissão de calor para o interior.
Com a finalidade de melhorar as propriedades dos vidros, surgem novas
tecnologias que alteram as características do material. A exemplo, há as películas e
vidros absorventes (vidro fumê e vidro verde), que aumentam a parcela de absorção
pela diminuição da transparência, e consequentemente, reduz a transmissividade
direta de radiação através deles. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Os vidros reflexivos, por sua vez, possuem em sua composição uma película
metálica que proporciona efeito espelhado. Com isso, há redução na transmissão da
radiação visível e a reflexão das ondas de radiação. (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2014).
Segundo Sudbrack (2009), apesar das vantagens com relação ao conforto
térmico que a película reflexiva proporciona à edificação, pode trazer desvantagens
às construções vizinhas ou para o espaço público devido ao redirecionamento da
carga térmica proveniente da reflexão da radiação.
Lamberts, Dutra e Pereira (2014) destacam também os vidros chamados
escpectralmente seletivos, os quais tem a propriedade de permitir a passagem da
luz natural e bloquear boa parte dos ganhos e perda de calor por radiação.
Além desses, mais usuais e acessíveis, há atualmente vidros de tecnologias
mais avançadas, capazes de controlar a troca térmica no ambiente através do
material translúcido. Alguns exemplos são explanados por Lamberts, Dutra e Pereira
(2014), tais como os vidros especiais (categoria na qual os vidros de cristal líquido,
policrômicos, eletrocrômico e de partículas suspensas se enquadram). Esses tipos
de vidros são controladores da luz e do calor, e integram a automação da edificação.
O vidro de cristal líquido, a partir da passagem de corrente elétrica, é capaz
de alterar suas propriedades ópticas, semelhante nesse aspecto ao vidro
electrocrômico e ao de partículas suspensas, que também utilizam eletricidade, com
27

a diferença de que a intensidade da corrente elétrica pode ser controlada no


eletrocrômico e no de partículas suspensas, e conforme a intensidade, ocorre a
alteração da transparência do vidro. Os policrômicos, por sua vez, alteram a
transparência instantaneamente em consequência da intensidade de luz incidente.
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Há ainda, a aplicação dos vidros insulados (ou vidros duplos), que consistem
na composição de duas ou mais camadas de vidro, divididas por uma câmara de ar
ou de outro gás, que tem propriedade de isolante térmico. A existência de mais de
uma camada de vidro permite a combinação de diferentes tipos de vidro, que se
adequam a situações específicas. (LAMBERTS, DUTRA E PEREIRA, 2014).
O inconveniente dos vidros insulados, segundo Sudbrack (2009), é a baixa
disponibilidade no mercado e o alto investimento para alcançar o controle
termoenergético que o sistema é capaz de proporcionar.
Como consequência da alteração das propriedades dos materiais
translúcidos, o fator solar de cada um deles pode variar, conforme pode-se constatar
na Tabela 3.

Tabela 3– Fator solar para alguns tipos de superfícies transparentes


Superfícies transparentes Fs
Vidro transparente simples 3mm 0,87
Vidro transparente simples 6mm 0,83
Vidro transparente duplo 3mm 0,75
Vidro cinza (fumê) 3mm 0,72
Vidro cinza (fumê) 6mm 0,60
Vidro verde 3mm 0,72
Vidro verde 6mm 0,60
Vidro reflexivo 3mm 0,26 – 0,37
Fonte: Adaptado de Lamaberts et al (2016).
28

O controle da radiação solar e o desempenho térmico pretendido são


fundamentais para determinar o vidro a ser empregado nas mais diversas situações.
Entretanto, segundo Sudbrack (2009), o desempenho quanto a troca energética dos
vidros está diretamente relacionada com o custo dos mesmos, o que muitas vezes
inviabiliza o emprego dos materiais de melhor performance. Ainda assim, Sudbrack
(2009) conclui que mesmo aplicando o vidro de melhor tecnologia na edificação, o
desempenho energético depende de outras medidas, tais como proteções solares, o
meio de implantação do edifício, orientação de fachadas e de materiais empregados
nos fechamentos opacos.

2.3.3 Isolamento Térmico

O isolamento térmico está associado a questões culturais, sociais e


econômicas, sendo que depende principalmente das características climáticas do
local. Em regiões de baixa temperatura, o isolamento térmico tem a função
primordial de reduzir as perdas de calor do ambiente interno, enquanto que em
regiões de elevadas temperaturas, o isolamento contribui na redução do fluxo de
calor do exterior para o interior. A questão econômica está relacionada com a
redução do custo energético com aparelhos de condicionamento de ar, em ambas
as situações. (ISAIA, 2010).
Materiais isolantes são caracterizados pela alta porosidade. O preenchimento
desses vazios é feito por ar (sem movimento), o que os torna materiais de excelente
resistência à transferência de calor. (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2013).
De acordo com Isaia (2010), o fluxo térmico que ocorre por condução, ao
atingir os poros, reduz significativamente, pois depende do fenômeno de convecção
para dar continuidade ao fluxo térmico, o qual dificilmente ocorre com ar confinado,
como é o caso dos poros do material.
Usualmente conhecido como isopor, o poliestireno expandido (EPS) é o
isolante térmico originado por matéria prima polimérica mais utilizado. O volume do
poliestireno expandido (EPS) é representado por mais de 95% de poros, o que
justifica o seu emprego como material isolante térmico. (ISAIA, 2010).
O poliuretano por sua vez, é encontrado na forma de espumas, e sua
aplicação pode ser feita como placas (industrializado) ou ainda na forma de spray de
29

poliuretano, o qual pode ser também injetado, por exemplo, na fôrma de painéis de
divisória. (ISAIA, 2010).
A vermiculita, por sua vez, é um mineral que, a partir de um processo de
aquecimento, apresenta expansão volumétrica na ordem de 15 a 20 vezes. A
vermiculita expandida apresenta baixo peso e, devido à elevada porosidade, é
utilizada como isolante térmico e acústico. Seu emprego pode ser feito na forma de
argamassa, através de camadas de revestimento, ou ainda, pode ser aglomerada
em placas ou blocos. (ISAIA, 2010).
As lãs de vidro e de rocha são materiais utilizados para isolamento termo
acústico. No aspecto de isolamento térmico, podem ser empregadas em casos em
que a temperatura atinja até 500ºC. A densidade do material influencia nas
características isolantes e mecânicas, sendo que a especificação de projeto varia
conforme o desempenho requerido. Para a construção civil, podem ser encontradas
principalmente na forma de mantas e painéis. (ISAIA, 2010).
Como material de desempenho similar, há a lã de PET, considerado um
material ecologicamente correto por ser reciclável e proveniente de matéria prima
reciclada (garrafas PET). (POMARO, 2015).
A Tabela 4 apresenta algumas características relacionadas ao
comportamento térmico de alguns materiais isolantes.

Tabela 4- Densidade de massa aparente (ρ), condutividade térmica (λ) e calor


específico (c) de materiais
ρ
Material λ (W/(m.K)) c (KJ/(kg.K))
(kg/m³)
Lã de rocha 20 – 200 0,045 0,75
Lã de vidro 10 – 100 0,045 0,70
Poliestireno expandido moldado 15 – 35 0,040 1,42
Poliestireno extrudado 25 – 40 0,035 1,42
Espuma rígida de poliuretano 30 – 40 0,030 1,67
Fonte: adaptado da NBR 15220 (ABNT, 2003).

Uma estratégia bastante utilizada para reduzir a transferência de calor é a


aplicação de câmaras de ar, nas quais ocorrem somente os fenômenos de
30

convecção e radiação, excluindo a parcela de transferência de calor através da


condução. Um melhor resultado pode ser obtido quando ocorre a aplicação de um
material isolante no espaço da câmara de ar, aumentando significativamente a
resistência térmica da superfície em questão. (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA,
2014).

2.4 ZONAS BIOCLIMÁTICAS

O estado psicrométrico da atmosfera, que envolve a análise de temperatura e


umidade local, influencia diretamente no balanço energético de uma edificação com
relação às trocas de massa de ar e nos casos de condensação e evaporação no
contato sólido - ar do edifício. Por essa razão é fundamental ter conhecimento do
meio em que a edificação está inserida quando se faz a análise de eficiência
energética. Outro elemento relevante nessa análise é o vento, responsável por
intervir no isolamento térmico e nas infiltrações. (FERRER; GARRIDO, 2013).
Em busca de determinar características técnico construtivas para garantir o
bom desempenho e conforto térmico das edificações no Brasil, o país foi analisado
de tal forma a ser subdividido em zonas com características climáticas semelhantes,
especificadas pela norma NBR 15220 (ABNT, 2003), de tal forma que para cada
região são determinadas adequações mínimas a serem atendidas pelas edificações.
Para determinar as denominadas cartas bioclimáticas admitidas pela NBR
15220 (ABNT, 2003), avaliou-se, além da condição geográfica, as médias mensais
de temperaturas mínimas e máximas, bem como a umidade relativa do ar de 6500
localizações (denominadas “células” pela norma). A análise e comparação de todos
esses dados permitiu a divisão e enquadramento das regiões brasileiras em oito
zonas climáticas, conforme pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 – Zoneamento bioclimático brasileiro


31

Fonte: ABNT(2003).

A partir das condições climáticas avaliadas paralelamente à busca por


desempenho térmico, algumas recomendações construtivas com relação às
características de fachadas e coberturas são abordadas pela NBR 15220 (ABNT,
2003), as quais estão indicadas no Quadro 1.
32

Quadro 1– Transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor solar admissíveis


para cada tipo de vedação externa

Vedações externas Transmitância Atraso térmico Fator solar –


térmica – U φ (horas) FS (%)
(W/m².K)

Paredes Leve U ≤ 3,00 Φ ≤ 4,3 FSo ≤ 5,0

Leve refletora U ≤ 3,60 Φ ≤ 4,3 FSo ≤ 4,0

Pesada U ≤ 2,20 Φ ≤ 6,5 FSo ≤ 3,5

Coberturas Leve isolada U ≤ 2,00 Φ ≤ 3,3 FSo ≤ 6,5

Leve refletora U ≤ 2,30. FT Φ ≤ 3,3 FSo ≤ 6,5

Pesada U ≥ 2,00 Φ ≥ 6,5 FSo ≤ 6,5


Fonte: ABNT (2003).

2.5 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA UTILIZANDO


O ENERGY PLUS

A análise energética de um edifício é de grande complexidade, e pode ser


avaliada basicamente através de monitoramento ou de simulação. O monitoramento
consiste na coleta e análise dos resultados físicos de uma edificação, enquanto que
a simulação recorre à análise prévia do comportamento térmico do edifício.
(FERRER; GARRIDO, 2013).
A simulação permite analisar como um determinado edifício se comporta
termicamente frente a condições climáticas específicas. Mostra-se como um forte
apoio de projeto, uma vez que permite analisar diferentes estratégias para um
determinado problema quanto à eficiência energética. (FERRER; GARRIDO, 2013).
Crawley et al (1999) enfatiza que o EnergyPlus é primordialmente um
programa de simulação de edificações, originado a partir de dois antigos softwares
desenvolvidos pelo governo americano (DOE-2 e BLAST). O Energy Plus surge
como uma nova ferramenta, que agrega as melhores características dos antigos
programas, além de novos recursos e atribuições. Umas das principais prioridades
que se buscou no programa era a integração da análise. Para tanto, a partir da
simulação com base no balanço energético da edificação exposta a um determinado
33

local com características térmicas específicas, calcula-se o resfriamento e


aquecimento da mesma a cada curto período de tempo (o qual pode ser
determinado com dados de entrada) e a resposta do edifício quanto ao consumo
energético.
São três os módulos que compõem a análise do EnergyPlus: o gerenciador
de simulação (que controla todo o processo de simulação), o módulo de simulação
de balanço térmico e o módulo de simulação dos sistemas da edificação.
O módulo de simulação de balanço térmico estabelece algumas
simplificações para a análise, tais como: a massa de ar de cada zona possui
temperatura uniforme e as superfícies tais como como paredes, forros e tetos
possuem temperatura uniforme, ondas de radiação constantes, condução de calor
interna e superfícies radiantes difusas. Esse módulo foca a simulação no balanço
térmico das superfícies internas e externas bem como as suas interrelações e
condições nas divisas, e os efeitos ocasionados por condução, convecção, radiação
e transferência de massa de ar.
O módulo de simulação dos sistemas da edificação é responsável pela
análise do controle dos sistemas elétricos de componentes e equipamentos, de
resfriamento e aquecimento das zonas da edificação.
Por fim, o gerenciador de simulação é responsável por integrar as
informações dos outros módulos, tais como os dados de entrada e de saída e
administrar os procedimentos de simulação. (CRAWLEY et al, 1999).
Segundo Cavalcante (2010), o grande diferencial do programa Energy Plus se
comparado aos que foram fonte de sua origem, é a análise integrada. Enquanto o
DOE-2 e o BLAST faziam a análise de forma sequencial, ou seja, iniciava-se com o
balanço térmico de uma zona sem levar em consideração os efeitos na condição
ambiental da zona com a resposta do balanço térmico (obtendo frequentemente
resultados incoerentes), o Energy Plus faz a análise de desempenho energético de
forma integrada, a partir da qual considera-se a interação entre as zonas e o meio. A
Figura 3 esquematiza o funcionamento do programa.
34

Figura 3– Esquematização do funcionamento do programa Energyplus

Fonte: Elaborado pela autora.

A ferramenta Energy Plus é amplamente utilizada para a obtenção de


resultados de eficiência energética, principalmente na questão de comparação de
resultados a partir da utilização de diferentes estratégias na busca pela redução do
consumo de eficiência energética. Pode-se observar isso a partir do trabalho de
Cavalcante (2010), que fez uso do programa Energy Plus na obtenção de resultados
relacionados ao desempenho energético de escritórios condicionados artificialmente
a partir da variação da envoltória aplicada no edifício.
Além de Cavalcante (2010), Carlo (2008) utilizou-se do programa para a
análise do desempenho energético de protótipos de edificações institucionais e
comerciais com foco na envoltória, e Ganhão (2011) que a partir dos resultados do
Energy Plus, avaliou a melhora do desempenho energético de uma habitação a
partir da adoção de estratégias ativas e passivas.

2.6 SISTEMAS CONSTRUTIVOS WOOD FRAME,LIGHT STEEL FRAME E


CONVENIONAL

Os sistemas construtivos light steel frame e wood frame apresentam materiais


bastante diferentes dos que se utiliza no sistema de construção convencional do
Brasil, e portanto, é válido apresentar os principais materiais que compõem esses
métodos de construção, a fim de destacar as diferenças que há entre os materiais
35

de envoltória usualmente utilizados em cada sistema e também no sistema de


construção convencional utilizado no Brasil.

2.6.1 Sistema de Construção Convencional no Brasil e os Principais Materiais


de Envoltória

As condições econômicas do Brasil e a disponibilidade de materiais


orientaram a construção civil à aplicação e desenvolvimento da tecnologia do
concreto armado (material composto por cimento, agregados, água e aço)
amplamente aplicado nas edificações. (LOTURCO, 2008).
As alvenarias de vedação são utilizadas na maioria das edificações que
compreendem estrutura reticulada de concreto armado moldado no local (sistema
construtivo convencional). Caracterizadas por não ter resistência às ações, as
alvenarias protegem e compartimentam o edifício. (SILVA; GONÇALVES;
ALVARENGA, 2006).
Com a publicação da norma de desempenho NBR 15575 (ABNT, 2013) no
Brasil, a alvenaria de vedação de blocos de concreto ou de blocos cerâmicos,
sistema construtivo convencional de vedações tanto externas como internas de
edificações, passam a ter que atender critérios mínimos de desempenho
estabelecido pela norma (dentre os quais destacam-se os desempenhos térmico,
acústico e mecânico). (TAMAKI, 2015).
Como acabamento da superfície de alvenaria de vedação, é utilizada a
argamassa de revestimento, que será base para o acabamento final, como por
exemplo pintura ou aplicação de revestimento cerâmico. De acordo com a
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) (2002), o revestimento de
argamassa é a composição de uma ou mais camadas superpostas uniformemente
com a principal função de proteger o substrato da ação de agentes agressivos e
proporcionar estanqueidade. Possui importante participação também no isolamento
térmico e acústico das alvenarias de vedação.
36

2.6.2 Sistemas construtivos Wood Frame e Light Steel Frame e os Principais


Materiais de Envoltória

Os sistemas construtivos light steel frame e wood frame consistem em painéis


reticulados formados por perfis de madeira (wood frame) ou de aço (steel frame),
aos quais são aplicadas placas de OSB (com a finalidade de promover rigidez ao
sistema), isolamento termoacústico no miolo do painel e uma versatilidade de
elementos de revestimento, tais como placas cimentícias, placas de gesso
acartonado, siding vinílico e smart side ou tábuas de madeira. (LP, 2012).
Esses sistemas construtivos são amplamente utilizados em países como
Canadá e Estados Unidos de forma bastante abrangente para a construção de
residências, sendo que podem ser utilizados também, em edificações multifamiliares
de pequeno porte (até cinco pavimentos). (LP, 2012).
O método de construção desses sistemas abriga a ideia de que o
desempenho térmico e a economia de energia proveniente pela utilização desses
sistemas construtivos é significativa, tanto durante a execução como no decorrer do
tempo de uso da edificação. Quanto à relação com a sustentabilidade, questões
relacionadas à baixa emissão de gás carbônico, redução no consumo de água e na
geração de resíduos e aplicação de materiais que possam ser reaproveitados são
pontos de destaque (LP, 2012).

2.6.2.1 Placas de OSB

Formadas pela composição de três camadas de lâminas orientadas


alternadamente entre si, de forma a melhorar a resistência à flexão e a estabilidade
dimensional. Cada lâmina é formada por lascas de madeira orientadas, de tal forma
que permite a permeabilidade dos adesivos, e assim garanta bom funcionamento.
(ISAIA, 2010).
As placas de OSB são amplamente utilizadas nos sistemas de construção em
light steel frame e wood frame. Conforme Santiago, Freitas e Crasto (2012), por
apresentarem características relacionadas à boa resistência mecânica e a impactos
e estabilidade dimensional, além de serem empregadas como fechamentos das
faces dos painéis, atuam na estrutura como diafragma de rigidez.
37

Embora consideradas um elemento de fechamento, devem ser revestidas por


material impermeável quando utilizadas em áreas externas, uma vez que não
possuem resistência à exposição a intempéries. Para proteger as placas de OSB da
umidade, as placas são revestidas por uma membrana de polietileno de alta
densidade, a qual evita a condensação dentro dos painéis e mantém a
estanqueidade da face exposta das placas de OSB. (SANTIAGO; FREITAS;
CASTRO, 2012).

2.6.2.2 Siding Vinílico

O siding vinílico é um material composto por PVC que desempenha a função


de acabamento de fachadas, amplamente utilizado em residências americanas.
Versátil e impermeável, garante a estanqueidade da edificação e é de fácil
instalação. Por ser produzido a partir do PVC, sua manutenção é reduzida, sendo
necessário apenas limpar as réguas periodicamente com água e sabão. Para fins
estéticos, as réguas recebem textura que imita a madeira. (SANTIAGO; FREITAS;
CASTRO, 2012).

2.6.2.3 Smart Side

Confeccionado com a mesma tecnologia utilizada em placas de OSB, o smart


side possui na sua composição, resinas que elevam a sua resistência à umidade.
Em sua superfície, recebe um acabamento impresso sob pressão de resina
impregnada saturada, de forma a proteger a camada de OSB e possibilitar aderência
a pinturas à base d’água. (LP, 2016?).

2.6.2.4 Parede de Madeira

Além de ser um material de origem orgânica, a madeira possui características


positivas com relação à sustentabilidade por ser biodegradável e de rápida
reposição a partir de reflorestamentos. Quando utilizada em acabamentos,
apresenta características como conforto higrotérmico, boa absorção acústica e baixa
emissões de radônio (nocivo à saúde humana) em comparação a outros materiais
de construção. Paredes de madeira podem ser utilizadas tanto em paredes externas
38

como internas, sendo esse um material nobre, capaz de atender às exigências de


desempenho. (ISAIA, 2010).

2.6.2.5 Placa cimentícia

As placas cimentícias são utilizadas como fechamento dos painéis, e podem


ser aplicadas em áreas molháveis e expostas a intempéries. A composição dessas
placas de fechamento consiste de cimento Portland associado a fibras (sintéticas ou
celulósicas) e agregados. O material, que é incombustível e de baixo peso próprio,
permite a utilização de diversos revestimentos sobre sua superfície, tais como
pintura acrílica, cerâmicas e pastilhas. (SANTIAGO; FREITAS; CASTRO, 2012).

2.6.2.6 Gesso acartonado

As placas de gesso acartonado são utilizadas no fechamento interno dos


painéis. Sua composição consiste da mistura de gesso, água e aditivos associada a
duas lâminas de cartão, responsáveis por proporcionar resistência à tração e à
flexão ao gesso. (SANTIAGO; FREITAS; CASTRO, 2012).
Os principais tipos de placas disponíveis são três: a standard (para aplicação
em ambientes secos), a placa resistente à umidade (à qual são incorporados
elementos hidrofugantes na mistura) para ambientes molháveis como banheiros e
cozinhas, e a placa resistente ao fogo (à qual são incorporados elementos
retardantes de chama na fórmula) indicadas para áreas em que maior resistência ao
fogo é requerida, como saídas de emergência e escadas enclausuradas. (KNAUF,
2011).

2.6.2.7 Telhas shingle

Uma manta de fibra de vidro saturada em asfalto e grânulos cerâmicos é a


composição que origina as denominadas tenhas shingle. Essas telhas contemplam
um sistema de cobertura no qual são utilizadas placas de OSB (que podem ou não
possuir uma lâmina de alumínio na superfície) às quais são aplicadas a membrana
de subcobertura (responsável pela proteção e estanqueidade) e a telha shingle, que
garantem leveza e durabilidade ao sistema. (LP, 2012).
39

2.7 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Conforme os conceitos abordados por Filho e Kopittke (2010), a


praticabilidade ou não de um projeto somente pode ser determinada frente à análise
de um estudo econômico.
Quando o assunto é análise de investimentos, há três métodos equivalentes
considerados modelos básicos: Método de Valor Anual Uniforme Equivalente
(VAUE), o Método do Valor Presente Líquido (VPL) e o método da Taxa Interna de
Retorno (TIR). Os métodos tendem a representar um mesmo resultado, no entanto,
se adequam a situações diferentes. (FILHO; KOPITTKE, 2010).
Para compreender tais métodos, é importante conhecer, primeiramente, o
conceito de taxa mínima de atratividade (TMA), que segundo Bischoff (2013), é a
taxa de juros que representa a alternativa mais favorável ao investidor, sendo
portanto, o parâmetro mínimo a se considerar no retorno da aplicação de capital.
Conforme Filho e Kopittke (2010) é a taxa que representa o retorno mínimo de um
mesmo capital em outro projeto, condicionando a atratividade de um investimento de
modo que o retorno desse seja no mínimo equivalente (e preferencialmente
superior) ao rendimento da TMA.
Os métodos VAUE e VPL levam em conta a TMA e o fluxo de caixa para
avaliar o investimento (FILHO; KOPITTKE, 2010), enquanto que, segundo Bischoff
(2013), a TIR avalia a taxa resultante do fluxo de caixa do projeto em que foi
realizado o investimento.
Além dos métodos exatos citados, métodos não exatos são utilizados por
analistas para avaliar a viabilidade de investimentos, sendo, de acordo com Filho e
Kopittke (2010), o Tempo de Recuperação do Capital Investido (conhecido também
por payback) o principal método não exato de avaliação ainda empregado.
Conforme Bischoff (2013), o método de payback simples, apesar de ser
considerado uma metodologia empírica (pelo fato de não admitir o valor do dinheiro
ao longo do tempo), é amplamente aceito e praticado como parâmetro de análise de
investimento, sendo que indica o período de recuperação de uma determinada
aplicação de capital.
Há também a metodologia do payback descontado, que leva em consideração
a TMA, e portanto, diferentemente do método do payback simples, atenta para o
valor do dinheiro ao longo do tempo. (BISCHOFF, 2013).
40

3 METODOLOGIA

A Figura 4 apresenta um fluxograma que resume de maneira objetiva as


etapas da metodologia de pesquisa.

Figura 4 - Fluxograma da metodologia

Fonte: Elaborado pela autora.

Conforme o fluxograma da Figura 4, inicialmente foram definidos: o projeto, as


envoltórias de estudo e os parâmetros fixos necessários para a simulação. Em
paralelo a essas decisões, definiram-se as cidades a serem adotadas como
referências das zonas bioclimáticas do Rio Grande do Sul.
Com essas informações, foi possível realizar as simulações com o software
Energy Plus, a partir do qual os resultados referentes à demanda energética anual
de aquecimento e de resfriamento da edificação foram obtidos.
A partir desses resultados, seguiram-se dois fluxos distintos: o primeiro deu
sequência à análise comparativa com relação à eficiência energética das diferentes
envoltórias para as distintas cidades; o segundo, após a realização de orçamento da
residência para cada situação de envoltória e a determinação do investimento
financeiro necessário para custear as despesas com a energia anual despendida
com aquecimento e resfriamento, foi possível analisar as envoltórias que
representam o melhor custo benefício com relação à eficiência energética.
41

3.1 PROJETO E PARÂMETROS PADRÃO ADOTADOS PARA A SIMULAÇÃO

Para a avaliação do desempenho energético de diferentes envoltórias dos


sistemas construtivos light steel frame, wood frame e alvenaria convencional, foi
utilizado o software de simulação energética Energy Plus.
Definiu-se uma planta baixa padrão de uma residência unifamiliar com
metragem de 69,35 m², composta por cozinha, sala de estar e sala de jantar
integradas (área social), três dormitórios, banheiro, área de serviço e circulação. A
escolha dessa planta baixa para realizar as simulações se fez devido ao fato de ser
um dos projetos padrão de maior destaque de uma construtora que cedeu o uso de
seus arquivos de projeto para a realização do estudo.
O estabelecimento da orientação solar foi definido como tendo a fachada
principal para o norte, uma vez que o estudo é direcionado ao comportamento das
envoltórias no estado do Rio Grande do Sul, sendo nessa região, a orientação solar
norte a mais valorizada. Esse padrão foi mantido em todas as análises, sendo válido
frisar que a orientação solar não foi considerada como um parâmetro de estudo
nesse trabalho, e sim, como um aspecto padrão para a análise de variação do
comportamento das envoltórias.

Figura 5– Projeto residencial utilizado para simulação

Fonte: Elaborado pela autora.


42

Entre outros aspectos padrão que foram definidos, há o número de pessoas


residentes e a potência de equipamentos elétricos e de lâmpadas. Essas definições
foram feitas tendo por base uma residência unifamiliar em que cada dormitório é
ocupado por duas pessoas. Para cada item, foi especificado um cronograma
referente ao tipo de atividades dos ocupantes, e a fração de utilização dos
equipamentos e lâmpadas, respectivamente, conforme os períodos de ocupação da
residência.
Com relação à troca de ar, admitiu-se uma troca de ar por hora para todos os
cômodos da residência e cinco trocas por hora no caso do ático.
Conforme requerido pelo Energy Plus, deve-se definir as zonas térmicas no
projeto. Para tal, determinou-se que cada cômodo da residência constitui uma zona
térmica distinta, delimitadas pelas paredes.

Figura 6 – Planta baixa do projeto residencial utilizado para simulação

Fonte: Elaborado pela autora.


43

A fim de obter resultados referentes ao consumo energético anual da


edificação na busca pelo maior período possível de conforto térmico durante a
ocupação da residência, considerou-se a utilização de equipamentos de
condicionamento de ar HVAC (heating, ventilation and air conditioning) do tipo PTHP
(packaged terminal heat pupmps), o qual pode ser empregado para aquecimento e
refrigeração de ambientes em projetos residenciais. Portanto, para as zonas
térmicas que caracterizam ambientes de maior permanência e convívio social, caso
da área social e dos três dormitórios, foi admitido um aparelho de ar condicionado
para cada zona. As demais áreas da edificação foram dispensadas do uso de
estratégia ativa para assegurar a temperatura de conforto térmico durante ocupação.
As principais análises a serem estudadas estão relacionadas ao gasto
energético total de aquecimento e de resfriamento da residência no decorrer do
período de um ano. Portanto, foi necessário instituir um cronograma de ocupação
dos ambientes da residência, adequado para estabelecer a condição de utilização
do equipamento para aquecimento e resfriamento nas zonas térmicas a fim de
atingir temperatura específica.
A zona térmica da área social teve um cronograma de ocupação estabelecido
diferente do cronograma de ocupação especificado para os dormitórios. A definição
desses cronogramas de ocupação foi realizada tendo por base a rotina de uma
residência unifamiliar em que todos os ocupantes trabalham durante o dia e
retornam a ocupar a residência ao final da tarde durante a semana, e permanecem
períodos mais longos no domicílio nos finais de semana e feriados. Considerou-se
que sempre que houvesse ocupação nas zonas térmicas, o equipamento de
condicionamento de ar deveria ser acionado quando a temperatura não estivesse
enquadrada nos setpoints de resfriamento e de aquecimento estipulados.
As temperaturas do ar que definiram o intervalo considerado de conforto
foram especificadas como sendo de 21ºC (setpoint de aquecimento) a 24ºC (setpoint
de resfriamento). Quando a temperatura do ar estivesse nessa faixa, não se fazia
necessário o acionamento do equipamento, no entanto, caso contrário, o
equipamento de condicionamento de ar era requerido até que se atingisse uma
temperatura dentro do intervalo estabelecido.
44

3.2 DETERMINAÇÃO DAS ENVOLTÓRIAS E ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Para a análise do comportamento das paredes de envoltórias da edificação,


alguns aspectos construtivos foram padronizados, como é o caso do telhado, das
esquadrias e do forro, conforme apresentado no Quadro 2. Esses elementos não
foram modificados, sendo que para cada simulação, alterava-se somente a
envoltória das paredes e o arquivo climático das cidade de referência, a fim de obter
resultados para avaliar o comportamento das envoltórias entre si, e em cada zona
bioclimática do Rio Grande Do Sul.

Quadro 2– Elementos construtivos padronizados


Cobertura Placas de OSB + subcobertura + telhas shingle
Forro Lã de PET + gesso acartonado
Piso Cerâmico
Esquadrias Caixilho em madeira
Vidro Simples 3mm
Fonte: Elaborado pela autora.

As tipologias das envoltórias foram determinadas de acordo com as vedações


mais frequentemente empregadas na execução de edificações, conforme
informações de uma empresa incorporadora de imóveis especializada na construção
de residências unifamiliares nos sistemas construtivos light steel frame, wood frame
e convencional. O Quadro 3 lista a nomeação das envoltórias, bem como a
composição das mesmas.

Quadro 3 - Composição das Envoltórias


COMPOSIÇÃO DA ENVOLTÓRIA ESPESSURA
REFERÊNCIA
(sentido da face externa à interna) (mm)
Siding vinílico + membrana de polietileno de alta
densidade + placa de OSB + câmara de ar (painéis
A 116.6
estruturais em light steel frame) + lã de PET +
gesso acartonado
Siding vinílico + membrana de polietileno de alta
densidade + placa de OSB + câmara de ar (painéis
B 127.7
estruturais em light steel frame) + lã de PET +
placa de OSB + gesso acartonado
Smart side + membrana de polietileno de alta
densidade + placa de OSB + câmara de ar (painéis
C 123.1
estruturais em light steel frame)+ lã de PET +
gesso acartonado
45

COMPOSIÇÃO DA ENVOLTÓRIA ESPESSURA


REFERÊNCIA
(sentido da face externa à interna) (mm)
Smart side + membrana de polietileno de alta
D densidade + câmara de ar (painéis estruturais em 112
light steel frame) + lã de PET + gesso acartonado
Placa cimentícia + membrana de polietileno de alta
E densidade + câmara de ar (painéis estruturais em 112.5
light steel frame) + lã de PET + gesso acartonado
Placa cimentícia + membrana de polietileno de alta
densidade + placa de OSB + câmara de ar (painéis
F 123.6
estruturais em light steel frame) + lã de PET +
gesso acartonado
Parede de madeira + membrana de polietileno de
G alta densidade + câmara de ar (painéis estruturais 122.5
em wood frame) + lã de PET + gesso acartonado
Parede de madeira + placa de OSB + membrana
de polietileno de alta densidade + câmara de ar
H 144.7
(painéis estruturais em wood frame) + lã de PET +
placa de OSB + gesso acartonado
Parede de madeira + membrana de polietileno de
alta densidade + câmara de ar (painéis estruturais
I 133.6
em wood frame) + lã de PET + placa de OSB +
gesso acartonado
J Reboco + bloco de concreto + reboco 250

K Reboco + tijolo + câmara de ar + tijolo + reboco 300

L Reboco + tijolo + reboco 150

Fonte: Elaborado pela autora.

As divisórias internas de cada envoltória foram definidas da seguinte forma:


para as envoltórias referentes aos sistemas construtivos wood frame (G a I) e light
steel frame (A até F) as divisórias internas foram compostas por placas de gesso
acartonado, câmara de ar, lã de pet e placa de gesso acartonado; as divisórias
internas quando utilizadas as envoltórias no sistema convencional de construção (J
ao L) foram compostas dos materiais respectivos à envoltória em questão, sendo
que para K, não foi conseidrada câmara de ar na constituição das divisórias internas.
46

As propriedades térmicas dos materiais de construção que compõem os


sistemas de envoltória e os demais elementos construtivos foram obtidas a partir do
banco de dados do software, que contempla as características dos principais
materiais dos sistemas construtivos considerados no estudo.

3.3 ZONAS BIOCLIMÁTICAS E CIDADES DE REFERÊNCIA

Sabe-se que um fator de forte influência na eficiência energética são as


condições climáticas do meio em que a edificação está inserida, sendo portanto,
relevante a determinação das características climáticas da área na qual será
aplicado o estudo.
A abrangência do presente trabalho é limitada para o estado do Rio Grande
do Sul. Levando em consideração a NBR 15220 (ABNT, 2003), percebe-se que o
estado compreende três zonas bioclimáticas distintas (Z1, Z2 e Z3), para as quais
serão avaliados o comportamento das envoltórias.
Para realizar a análise, definiu-se, para cada zona bioclimática uma cidade de
referência, sendo elencados, para as simulações, os arquivos climáticos das cidades
Bento Gonçalves, Santa Maria e Porto Alegre, representando as zonas bioclimáticas
Z1, Z2 e Z3 respectivamente.
Os arquivos climáticos do Instituo Nacional de Meteorologia (INMET),
disponibilizados no site do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações
(Labee) foram elaborados a partir da compilação do histórico de dados
climatológicos obtidos pelas estações climatológicas do INMET, levando em
consideração varáveis como a temperatura do ar, umidade relativa, velocidade e
direção do vento, entre outras. (RORIZ, 2012).

3.4 COMPORTAMENTO DAS ENVOLTÓRIAS QUANTO À EFICIÊNCIA


ENERGÉTICA

Após determinados o projeto, todos os parâmetros fixos, as envoltórias a


serem avaliadas e as cidades de aplicação, deu-se procedência à simulação, a partir
da qual foram obtidos os resultados quanto à demanda energética anual.
Os resultados utilizados para a análise comparativa foram o gasto energético
total e o gasto energético com aquecimento e com resfriamento. A partir dessas
47

informações, foi possível comparar os resultados das envoltórias entre si, definindo
as associadas às maiores e menores demandas energéticas.
Ainda, foi avaliado o comportamento mensal com relação à demanda
energética de aquecimento e de resfriamento referentes às envoltórias dos casos
que foram destacados como sendo as piores e melhores situações acerca da
eficiência energética da edificação.

3.5 CUSTO BENEFÍCIO DAS DIFERENTES ENVOLTÓRIAS

Para determinar o custo benefício das envoltórias quanto ao gasto energético


das mesmas com aquecimento e resfriamento, inicialmente, fez-se o orçamento da
residência considerando os elementos construtivos padrão (definidos no Quadro 2) e
respectiva envoltória, chegando-se ao valor total de investimento necessário para a
construção da residência, incluindo gastos com material e mão de obra referentes
aos serviços de fundações, estrutura, cobertura, envoltórias, acabamentos (forro,
piso e pintura), esquadrias, instalações elétricas e instalações hidrossanitárias.
Especificou-se os custos do orçamento de forma a considerar o valor atual
necessário para investimento, utilizando como ferramenta de suporte, a planilha
orçamentária de uma empresa construtora que executa obras nos sistemas
construtivos convencional, wood frame e light steel frame, na qual os valores são
atualizados mensalmente.
Concomitantemente, com os resultados das simulações e a partir do
conhecimento do valor que uma concessionária de energia elétrica arrecada pelo
kWh utilizado em edificações residenciais, definiu-se o investimento financeiro
necessário para cobrir as despesas com o gasto energético anual referente a
aquecimento e resfriamento requerido pela edificação (a fim de atingir a faixa de
conforto térmico previamente estabelecida, de 21ºC a 24ºC).
Com os valores referentes ao investimento total para a construção,
especificou-se o período de retorno (payback simples) equivalente a 50 anos, que é
o período mínimo de vida útil de projeto considerado pela NBR 15575 (ABNT, 2013).
Dessa forma, foi possível especificar o valor anual de investimento necessário para
que o período de retorno do investimento total para a construção da residência
resultasse em 50 anos.
48

A partir disso, somaram-se as parcelas referentes ao gasto anual com energia


para aquecimento e resfriamento e o investimento anual para retorno do capital
necessário para a execução da residência, de forma a resultar em parcelas anuais
referentes a essas situações específicas.
Dessa forma, tornou-se possível comparar os valores das parcelas
relacionadas a cada envoltória, e definir a que apresenta o melhor custo benefício,
de tal forma que quanto menor a parcela anual, mais interessante se torna o
investimento no respectivo tipo de envoltória e sistema construtivo.
49

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização das simulações, as informações relacionadas aos gastos


energéticos da edificação ao longo de um ano foram organizadas na forma de
quadros e gráficos, para facilitar a interpretação e análise dos resultados, que são
discutidos nesse capítulo.

4.1 ANÁLISE DOS GASTOS ENEGÉTICOS DA EDIFICAÇÃO

Sendo o estudo da eficiência energética um dos objetivos dessa pesquisa, a


análise do gasto energético da residência ao longo de um ano permite visualizar o
comportamento da edificação frente à alteração das envoltórias que a compõe.
Os quadros foram formatados com as informações referentes ao gasto
energético total, gasto energético com aquecimento, gasto energético com
resfriamento, gasto energético total com condicionamento do ar e o percentual
equivalente desse com relação ao gasto energético total da simulação.
É válido ressaltar que a única alteração feita em cada simulação foi a
composição das envoltórias, sendo todos os outros parâmetros fixos, e o
equipamento de ar condicionado dimensionado automaticamente pelo software
Energy Plus conforme necessidade de cada situação para se manter na faixa de
temperatura admitida no termostato.

4.1.1 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Porto Alegre (zona 3)

O Quadro 4 e os Gráficos 1 e 2 apresentam de forma sintética os resultados


das simulações realizadas considerando as carcaterísticas climáticas da cidade
Porto Alegre, que representa a zona bioclimática 3 de acordo com a NBR 15220
(ABNT, 2003).
50

Quadro 4 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a


envoltória para a cidade Porto Alegre (zona 3)
REFERÊNCIA GASTO GASTO ENERGÉTICO GASTO ENERGÉTICO GASTO ENERGÉTICO COM
DA ENERGÉTICO TOTAL COM AQUECIMENTO COM RESFRIAMENTO AQUECIMENTO E
ENVOLTÓRIA (kWh) (kWh) (kWh) RESFRIAMENTO (kWh)

A 5010.82 1093.86 1113.91 2207.77 44%


B 4976.26 1058.91 1121.26 2180.17 44%
C 5008.51 1092.38 1113.4 2205.78 44%
D 5022.91 1115.94 1100.7 2216.64 44%
E 5046.61 1114.15 1124.38 2238.53 44%
F 5025.53 1093.23 1127.89 2221.12 44%
G 5000.93 1086.62 1112.66 2199.28 44%
H 4927.96 1025.19 1114.49 2139.68 43%
I 4966.37 1052.58 1119.1 2171.68 44%
J 5402.83 1306.94 1298.85 2605.79 48%
K 5012.91 1173.36 1092.16 2265.52 45%
L 5573.08 1390.55 1364.98 2755.53 49%

Fonte: Elaborada pela autora.

Gráfico 1 – Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Porto


Alegre (zona 3)

Fonte: Elaborado pela autora.


51

Gráfico 2 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Porto


Alegre (zona 3)

Fonte: Elaborado pela autora.

Ao analisar os Gráficos 1 e 2 e o Quadro 4 referentes a Porto Alegre,


visualiza-se facilmente que a demanda total de aquecimento e de resfriamento é
praticamente a mesma ao longo do ano, sendo que os gastos energéticos com
aquecimento representam em média 22% do gasto energético total, enquanto que
os gastos com resfriamento, 23% do total.
Observa-se também, que o gasto energético total com aquecimento e
arrefecimento representa em média 45% do gasto energético da edificação. No
entanto, se compararmos o percentual referente ao gasto de energia com
aquecimento e resfriamento da edificação quando as envoltórias são no sistema
wood frame e light steel frame, observa-se um gasto equivalente a 44% do total,
enquanto que esse percentual é de 48% no caso de envoltórias no sistema
convencional brasileiro de construção.
Percebe-se também, que as envoltórias J e L, que são no sistema
convencional, apresentam disparidade com relação às no sistema wood frame e light
steel frame, e são as envoltórias associadas aos maiores gastos energéticos com
aquecimento e resfriamento (48% e 49% do gasto energético total,
respectivamente).
Por outro lado, as três envoltórias associadas aos menores gastos
energéticos com aquecimento e resfriamento são a H, I e B (43%, 44% e 44% do
52

gasto energético total, respectivamente), referentes ao sistema construtivo wood


frame (H e I) e light steel frame (B).
O gasto energético com aquecimento e resfriamento quando se utiliza a
envoltória H representa uma economia de energia de aproximadamente 22,3% com
relação à envoltória L, e de 17,9% com relação à envoltória J.
No caso da utilização da envoltória B, essa economia representa 20,9% se
comparada à envoltória L, e 16,3% se comparada à envoltória J.
Ao observar os Gráficos 3, 4, 5 e 6, que representam o comportamento das
envoltórias J, L, B e H ao longo do ano, percebe-se que o comportamento quanto à
necessidade de aquecimento e de resfriamento é exatamente o mesmo, apesar da
diferença com o gasto energético.

Gráfico 3 - Comportamento da envoltória J para Porto Alegre ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


53

Gráfico 4 - Comportamento da envoltória L para Porto Alegre ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 5 - Comportamento da envoltória H para Porto Alegre ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


54

Gráfico 6 - Comportamento da envoltória B para Porto Alegre ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Percebe-se que nas envoltórias B e H, o gasto energético com aquecimento e


resfriamento é menor nos meses em que a necessidade de aquecimento ou de
resfriamento é maior. Entretanto, em meses caracterizados por maior variação de
temperatura, como é o caso dos meses de abril e de outubro, observamos um
melhor desempenho das envoltórias J e L.

4.1.2 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Santa Maria (zona 2)

O Quadro 5 e os Gráficos 7 e 8 apresentam de forma sintética os resultados


das simulações realizadas considerando as características climáticas da cidade
Santa Maria, que representa a zona bioclimática 2 de acordo com a NBR 15220
(ABNT, 2003).

Quadro 5 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a


envoltória para a cidade Santa Maria (zona 2)
GASTO GASTO
REFERÊNCIA GASTO GASTO ENERGÉTICO COM
ENERGÉTICO COM ENERGÉTICO COM
DA ENERGÉTICO AQUECIMENTO E
AQUECIMENTO RESFRIAMENTO
ENVOLTÓRIA TOTAL (kWh) RESFRIAMENTO (kWh)
(kWh) (kWh)

A 5347,28 1498,97 1045,78 2544,75 48%


B 5301,23 1458,11 1046,54 2504,65 47%
C 5344,61 1497,17 1045,23 2542,4 48%
D 5366,20 1526,98 1034,24 2561,22 48%
E 5387,96 1524,65 1056,17 2580,82 48%
REFERÊNCIA GASTO GASTO GASTO GASTO ENERGÉTICO COM
DA ENERGÉTICO ENERGÉTICO COM ENERGÉTICO COM AQUECIMENTO E
ENVOLTÓRIA TOTAL (kWh) AQUECIMENTO RESFRIAMENTO RESFRIAMENTO (kWh)
55

(kWh) (kWh)

F 5360,93 1498,2 1058,59 2556,79 48%


G 5335,83 1489,96 1044,59 2534,55 48%
H 5249,69 1417,66 1042,1 2459,76 47%
I 5289,34 1449,85 1044,16 2494,01 47%
J 5736,39 1797,94 1136,8 2934,74 51%
K 5313,94 1624,98 940,47 2565,45 48%
L 5919,50 1903,36 1194,76 3098,12 52%

Fonte: Elaborada pela autora.

Gráfico 7 - Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Santa Maria
(zona 2)

Fonte: Elaborado pela autora.


56

Gráfico 8 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Santa


Maria (zona 2)

Fonte: Elaborado pela autora.

Diferente de Porto Alegre, no caso da cidade Santa Maria, é notória a maior


demanda por aquecimento (que representa em torno de 29% do gasto energético
total) do que por resfriamento (aproximadamente 20% do gasto energético total),
sendo que o gasto energético com aquecimento e com resfriamento é a parcela
mais significativa quanto à demanda energética total da edificação.
A média com gasto energético de aquecimento e de resfriamento da
residência representa 48% do gasto total, sendo que, no caso de envoltórias dos
sistemas construtivos em wood frame e light steel frame a demanda com gasto
energético para tal finalidade é de 47% e no caso da edificação com composição de
envoltórias referentes ao sistema convencional brasileiro, o gasto energético com
aquecimento e resfriamento é, em média, de 51%.
Da mesma forma que ocorreu para a cidade de Porto Alegre, percebe-se que
o gasto energético das envoltórias J e L, referentes ao sistema de construção
convencional brasileiro, se destacam pelo maior consumo, sendo que o gasto
energético com aquecimento e resfriamento representa mais do que metade do
gasto energético total da edificação (51% e 52% respectivamente).
Com relação às envoltórias de menor gasto energético, destacam-se a H, I e
B, tal como no caso de Porto Alegre. Essas envoltórias, que representam os
sistemas de vedação dos sistemas construtivos wood frame e light steel frame,
57

representam gastos energéticos com aquecimento e resfriamento equivalentes a


47%.
A envoltória H, associada ao menor gasto energético com aquecimento e
resfriamento, representa uma economia de 20,6% com relação ao sistema de
vedação associado ao maior gasto energético (L), e uma economia de 16,2% com
relação à envoltória J.
Por sua vez, a utilização da envoltória B na edificação implica em uma
economia de 19,2% no gasto energético com aquecimento e resfriamento em
relação à envoltória L, e uma economia de 14,7% com relação à envoltória J.
Ao observar os gráficos 9,10, 11 e 12, representando o comportamento ao
longo de um ano com relação ao gasto energético com aquecimento e resfriamento
associado à utilização das envoltórias J, L, B e H, notamos que, para a cidade Santa
Maria, o comportamento não se mantém constante em todas as situações, sendo
que para o mês de abril percebe-se uma inversão de demanda se comparadas as
envoltórias: enquanto para J e L a demanda maior é de aquecimento, para B e H, a
maior demanda é de resfriamento.

Gráfico 9 - Comportamento da envoltória J para Santa Maria ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


58

Gráfico 10 - Comportamento da envoltória L para Santa Maria ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 11 - Comportamento da envoltória H para Santa Maria ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


59

Gráfico 12 - Comportamento da envoltória B para Santa Maria ao longo de um ano


(kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Percebe-se também, que nos meses de temperaturas constantes, as


envoltórias B e H representam uma melhor eficiência energética, uma vez que
resultam em menor gasto energético (sendo a diferença mais significativa quando a
necessidade é de aquecimento). Em contrapartida, percebe-se novamente que em
meses de maiores variações térmicas (em que é necessário tanto o aquecimento
como o resfriamento) as envoltórias J e L apresentam desempenho quanto à
demanda energética por aquecimento e resfriamento muito semelhante, e em alguns
casos, melhor, se comparadas às envoltórias B e H.

4.1.3 Gastos Energéticos da Edificação na Cidade Bento Gonçalves (zona 1)

O Quadro 6 e os Gráficos 13 e 14 apresentam de forma sintética os


resultados das simulações realizadas considerando as características climáticas da
cidade Bento Gonçalves, que representa a zona bioclimática 1 de acordo com a
NBR 15220 (ABNT, 2003).
60

Quadro 6 - Gasto energético total e com aquecimento e resfriamento conforme a


envoltória para a cidade Bento Gonçalves (zona 1)

REFERÊNCIA GASTO ENERGÉTICO GASTO ENERGÉTICO GASTO ENERGÉTICO COM


GASTO ENERGÉTICO
DA COM AQUECIMENTO COM RESFRIAMENTO AQUECIMENTO E
TOTAL (kWh)
ENVOLTÓRIA (kWh) (kWh) RESFRIAMENTO (kWh)

A 4939.29 1701.19 474.53 2175.72 44%


B 4886.13 1661.32 469.71 2131.03 44%
C 4936.38 1699.04 474.1 2173.14 44%
D 4947.03 1725.48 454.14 2179.62 44%
E 4963.59 1727.37 467.93 2195.3 44%
F 4950.29 1704.03 481.83 2185.86 44%
G 4927.01 1691.06 473.74 2164.8 44%
H 4826.56 1617.52 462.02 2079.54 43%
I 4874.51 1652.4 468.37 2120.77 44%
J 5365.43 2220.04 414.33 2634.37 49%
K 5004.47 2002.31 308.02 2310.33 46%
L 5551.07 2366.7 438.51 2805.21 51%

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 13 - Gasto energético total conforme as envoltórias para a cidade Bento


Gonçalves (zona 1)

Fonte: Elaborado pela autora.


61

Gráfico 14 - Gasto energético com aquecimento e resfriamento para a cidade Bento


Gonçalves (zona 1)

Fonte: Elaborado pela autora.

A disparidade do gasto energético com aquecimento em relação ao gasto


com resfriamento torna-se evidente ao analisar o Gráfico 13, assim como nota-se
que a demanda energética para tais finalidades tem peso significativo frente ao
gasto energético total, assim como foi observado no caso de Santa Maria.
Entretanto, para a cidade de Bento Gonçalves, essa diferença é mais
expressiva, sendo que o gasto com aquecimento é responsável por cerca de 36% do
gasto energético total, enquanto que o resfriamento apenas 9%.
A média de gasto energético com aquecimento e resfriamento da edificação
na cidade de Bento Gonçalves é equivalente a 45% do gasto energético total.
Entretanto, se avaliarmos isoladamente os casos de envoltórias dos sistemas
construtivos wood frame e light steel frame, essa parcela é de aproximadamente
44%, enquanto que para o sistema construtivo convencional, em torno de 49%.
Assim como foi observado nas outras cidades, as envoltórias J e L, que
compõem o sistema convencional de construção, destacam-se pelo maior gasto
energético com aquecimento e resfriamento, equivalente a 49% e 51%,
respectivamente.
Da mesma forma, as envoltórias associadas aos menores gastos energéticos
são as mesmas observadas nas cidades Porto Alegre e Santa Maria: H, I e B,
62

referentes aos sistemas construtivos wood frame e light steel frame. O gasto da
edificação com aquecimento e resfriamento com relação ao gasto energético total é
de 43% para a envoltória H e 44% para as envoltórias I e B.
A utilização da envoltória H na edificação representa uma economia de 25,9%
se comparada à envoltória L, e de 21,1% se comparada à envoltória J.
O sistema de vedação B, por sua vez, se aplicado na edificação, representa
economia de 24,0% se comparado à envoltória L, e de 19,1% se comparado à
utilização da envoltória J.
Ao comparar os Gráficos 15, 16, 17 e 18 referentes ao gasto energético das
envoltórias J, L, B e H para a cidade de Bento Gonçalves, percebe-se um
comportamento padrão com relação à demanda de aquecimento e de resfriamento
no decorrer do ano, apenas diferenciando a quantidade de energia demandada.

Gráfico 15 - Comportamento da envoltória J aplicada na edificação em Bento


Gonçalves ao longo de um ano (kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


63

Gráfico 16 - Comportamento da envoltória L aplicada na edificação em Bento


Gonçalves ao longo de um ano (kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Gráfico 17 - Comportamento da envoltória H aplicada na edificação em Bento


Gonçalves ao longo de um ano (kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.


64

Gráfico 18 - Comportamento da envoltória B aplicada na edificação em Bento


Gonçalves ao longo de um ano (kWh/mês)

Fonte: Elaborado pela autora.

Como as características climáticas dessa cidade predominam a demanda por


aquecimento, a diferença de gasto energético entre as envoltórias J, L e B, H é
ainda mais significativa se comparadas às outras cidades.
É notório, também, que a diferença no gasto total com condicionamento de ar
está diretamente relacionada com a demanda por aquecimento, cujo gasto
energético é reduzido no caso de utilização das envoltórias B e H.
Da mesma forma, no mês de abril, por exemplo, em que há variações de
temperatura e demanda considerável tanto por aquecimento como por resfriamento,
a demanda por resfriamento quando utilizadas as envoltórias B e H é
consideravelmente maior se comparadas à demanda por resfriamento quando
aplicadas as envoltórias J e L à edificação.

4.1.4 Parecer Geral

O gasto energético da edificação com aquecimento e resfriamento, nas três


cidades de estudo, representa uma parcela equivalente a quase 50% do gasto
energético total da residência, o que enaltece a importância da busca por meios que
gerem economia de energia, e consequentemente, melhor eficiência energética em
edificações.
Ao comparar as cidades de estudo, observa-se que o gasto energético com
aquecimento e resfriamento é maior em Santa Maria e Porto Alegre e menor em
65

Bento Gonçalves. Observa-se que Porto Alegre e Santa Maria apresentam maior
variação térmica, uma vez que os gastos com aquecimento e com resfriamento são
semelhantes. Enquanto isso, Bento Gonçalves, que possui o menor gasto energético
com condicionamento de ar, apresenta demanda significativamente maior por
aquecimento e baixa demanda para resfriamento.
De modo geral, o gasto energético total das edificações está diretamente
relacionado com o gasto energético total com aquecimento e resfriamento, sendo
que representam a maior parcela constituinte da demanda energética da residência.
No entanto, para as cidade de Porto Alegre e Santa Maria, observa-se que certas
situações de maiores gastos energéticos totais apresentam menores gastos
energéticos com aquecimento e resfriamento quando os resultados associados às
envoltórias são comparados entre si.
Nos resultados da cidade de Porto Alegre observa-se que a envoltória D
possui um gasto energético total superior à envoltória K, no entanto, o gasto
energético total com aquecimento e resfriamento da envoltória D é menor em
relação a K. Da mesma forma, para a cidade de Santa Maria pode-se notar que o
gasto energético total de K é menor se comparado às envoltórias C e D, entretanto,
o gasto energético somente com aquecimento e resfriamento é menor para C e D do
que para K.
Como todos os parâmetros são fixos, constatou-se que a diferença de gasto
energético nesses casos está associada ao gasto energético com ventilação, que
pode ser explicado pelo fato de que o ar condicionado é dimensionado conforme a
necessidade em cada caso, podendo aumentar ou diminuir a demanda de ventilação
do próprio equipamento.
Outra razão para tal resultado é que foi determinado como parâmetro fixo,
uma troca de ar por hora dos ambientes; envoltórias de maior espessura demandam
menos ventilação pelo fato de reduzirem a metragem cúbica do ambiente, enquanto
que ocorre o contrário no caso de espessuras menores. O menor gasto energético
total de K se faz coerente ao associar os fatos de que K é a envoltória de maior
espessura (menor gasto com ventilação em razão do menor volume) e de que foi a
única em que essa variação do gasto energético com ventilação mostrou-se
significativa.
As envoltórias mais relevantes ao estudo, associadas aos menores e aos
maiores gastos energéticos com aquecimento e resfriamento da edificação são as
66

mesmas para as três cidades: B, H e I associadas aos menores gastos energéticos,


e J e L associadas às maiores demandas energéticas.
As envoltórias B, H e I, em todos os casos, apresentam melhor desempenho
quando as condições climáticas demandam apenas aquecimento ou apenas
resfriamento. De forma contrária, geralmente nos períodos em que há constantes
demandas de aquecimento e de resfriamento (nos casos de frequentes variações
térmicas), as envoltórias B, H e I estão relacionadas a desempenhos muito
semelhantes ou inferiores se comparadas às envoltórias J e L.
H e I são do sistema construtivo wood frame e B do sistema construtivo light
steel frame. Todas são caracterizadas por possuírem materiais isolantes em sua
composição, como é o caso da lã de pet, e da própria câmara de ar dos painéis
estruturais. Além disso, utilizam-se placas de OSB no caso das três envoltórias, e
paredes de madeira em H e I. Conforme Mady (2008), a composição celulósica e a
estrutura celular da madeira, que é constituída por poros com ar aprisionado,
caracteriza a baixa condutividade térmica desse material natural e o desempenho
como isolante.
A resistência à transferência de calor, caracterizada pelos materiais isolantes,
explica a melhor eficiência energética quando da aplicação das envoltórias B, H e I
em situações de demandas por aquecimento, quando é necessário manter a
temperatura interna, com baixas perdas para o meio externo.
Entretanto, torna-se evidente a queda de desempenho de envoltórias com
materiais isolantes em situações de variações térmicas, pois os sistemas de
vedação que incorporam materiais ou técnicas de isolamento térmico demoram mais
tempo para dissipar a energia, e por isso, no caso de variações térmicas frequentes,
demandam mais energia para manter a temperatura no padrão estabelecido como
de conforto.
Em contrapartida, as envoltórias J e L, que são compostas por blocos de
concreto e tijolos, respectivamente, possuem a propriedade de inércia térmica que,
conforme Lamberts, Dutra e Pereira (2014), é uma propriedade interessante na
ocorrência de variações de temperatura, de forma que o calor retido pelo material
devido à sua inércia térmica pode ser gradualmente devolvido ao meio interno no
caso de queda de temperatura, atuando como uma fonte de reserva térmica.
Com relação à economia de energia comparando as envoltórias de menor e
de maior gasto energético com condicionamento de ar, observa-se que a economia
67

com o gasto energético é significativamente maior quando utilizadas envoltórias com


materiais isolantes, quanto maior a demanda por aquecimento, como é o caso de
Bento Gonçalves, que apresenta a maior economia em comparação a Santa Maria e
a Porto Alegre.
Logo, pode-se dizer que, para as zonas bioclimáticas do Rio Grande do Sul
(região em que as características climáticas exigem, de acordo com os resultados
obtidos, gasto energético com aquecimento entre 22% e 36% do gasto energético
total de uma edificação) os sistemas construtivos wood frame e light steel frame, em
função das características de suas envoltórias (que integram isolantes térmicos),
condicionam melhores eficiências energéticas para residências.

4.2 ANÁLISE DO CUSTO BENEFÍCIO DAS ENVOLTÓRIAS

Os resultados referentes às parcelas anuais necessárias para cada caso de


envoltória em suas respectivas cidades, incluindo o gasto anual com energia para
aquecimento e para resfriamento e o investimento anual necessário considerando o
payback simples de 50 anos para o capital necessário para a construção da
residência são apresentados na forma de tabelas, a fim de facilitar a interpretação e
discussão dos resultados.
Vale destacar que os valores de investimento são os mesmos para as três
cidades de referência, sendo que a diferença na parcela anual está diretamente
relacionada ao maior ou menor gasto energético com aquecimento e resfriamento,
considerando as diferentes características climáticas de cada cidade.
A partir dos Quadro 7, 8 e 9 percebe-se que as envoltórias que representam
os maiores investimentos para construção são a B, F e K, enquanto que as
envoltórias associadas aos menores investimentos são G, I e J.
Entretanto, observa-se que as parcelas anuais respectivas às envoltórias não
estão diretamente associadas ao investimento inicial necessário, uma vez que a
envoltória J, por exemplo, está associada a uma das maiores parcelas anuais ao
mesmo tempo que representa um dos menores investimentos necessários para a
construção da residência, sendo esse resultado constatado para as três cidades de
referência.
Observa-se, também, que o maior investimento não está necessariamente
condicionado a um melhor desempenho com relação ao gasto energético. Isso pode
68

ser comprovado ao analisar os valores associados às envoltórias F e K, que


representam um alto investimento inicial, e também, uma alta parcela anual em
consequência do gasto energético.
De modo contrário, têm-se para o caso das envoltórias G e I um baixo
investimento inicial e também uma baixa parcela anual, em decorrência da menor
demanda energética para aquecimento e resfriamento associada a essas
envoltórias.

Quadro 7 - Tabela de gastos anuais para a cidade Porto Alegre

GASTO ENERGÉTICO COM


CUSTO DE CONSTRUÇÃO DA
AQUECIMENTO E
RESIDÊNCIA
REFERÊNCIA RESFRIAMENTO (kWh) GASTO ANUAL
DA TOTAL (ENERGIA
ENVOLTÓRIA E CONSTRUÇÃO)
ENERGIA INVESTIMENTO
GASTO ANUAL1 GASTO ANUAL3
(kWh) TOTAL2

A 2207,77 R$ 1.399,50 R$ 97.973,13 R$ 1.959,46 R$ 3.358,96


B 2180,17 R$ 1.382,01 R$ 99.963,03 R$ 1.999,26 R$ 3.381,27
C 2205,78 R$ 1.398,24 R$ 98.913,32 R$ 1.978,27 R$ 3.376,51
D 2216,64 R$ 1.405,12 R$ 96.880,87 R$ 1.937,62 R$ 3.342,74
E 2238,53 R$ 1.419,00 R$ 97.808,83 R$ 1.956,18 R$ 3.375,18
F 2221,12 R$ 1.407,96 R$ 100.042,80 R$ 2.000,86 R$ 3.408,82
G 2199,28 R$ 1.394,12 R$ 92.905,49 R$ 1.858,11 R$ 3.252,23
H 2139,68 R$ 1.356,34 R$ 97.129,55 R$ 1.942,59 R$ 3.298,93
I 2171,68 R$ 1.376,62 R$ 94.895,59 R$ 1.897,91 R$ 3.274,54
J 2605,79 R$ 1.651,81 R$ 95.342,33 R$ 1.906,85 R$ 3.558,65
K 2265,52 R$ 1.436,11 R$ 98.983,74 R$ 1.979,67 R$ 3.415,78
L 2755,53 R$ 1.746,73 R$ 95.434,04 R$ 1.908,68 R$ 3.655,41
1: valor do kWh de energia referente ao mês de maio/2017 (Fonte: RGE) = R$0,633/kWh
2: valores do custo de construção referentes ao mês de maio/2017 (Fonte: tabela de construtora que executa obras nos sistemas
construtivos convencional, wood frame e light steel frame)
3: considerando o período de retorno equivalente a 50 anos (payback simples)

Fonte: Elaborado pela autora.


69

Quadro 8 - Tabela de gastos anuais para a cidade Santa Maria

GASTO ENERGÉTICO COM


AQUECIMENTO E CUSTO DE CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA
REFERÊNCIA RESFRIAMENTO (kWh) GASTO ANUAL
DA TOTAL (ENERGIA
ENVOLTÓRIA E CONSTRUÇÃO)
ENERGIA
GASTO ANUAL1 INVESTIMENTO TOTAL2 GASTO ANUAL3
(kWh)

A 2544,75 R$ 1.613,11 R$ 97.973,13 R$ 1.959,46 R$ 3.572,58


B 2504,65 R$ 1.587,69 R$ 99.963,03 R$ 1.999,26 R$ 3.586,95
C 2542,4 R$ 1.611,62 R$ 98.913,32 R$ 1.978,27 R$ 3.589,89
D 2561,22 R$ 1.623,55 R$ 96.880,87 R$ 1.937,62 R$ 3.561,17
E 2580,82 R$ 1.635,98 R$ 97.808,83 R$ 1.956,18 R$ 3.592,15
F 2556,79 R$ 1.620,74 R$ 100.042,80 R$ 2.000,86 R$ 3.621,60
G 2534,55 R$ 1.606,65 R$ 92.905,49 R$ 1.858,11 R$ 3.464,76
H 2459,76 R$ 1.559,24 R$ 97.129,55 R$ 1.942,59 R$ 3.501,83
I 2494,01 R$ 1.580,95 R$ 94.895,59 R$ 1.897,91 R$ 3.478,86
J 2934,74 R$ 1.860,33 R$ 95.342,33 R$ 1.906,85 R$ 3.767,17
K 2565,45 R$ 1.626,23 R$ 98.983,74 R$ 1.979,67 R$ 3.605,91
L 3098,12 R$ 1.963,89 R$ 95.434,04 R$ 1.908,68 R$ 3.872,57
1: valor do kWh de energia referente ao mês de maio/2017 (Fonte: RGE) = R$0,633/kWh
2: valores do custo de construção referentes ao mês de maio/2017 (Fonte: tabela de construtora que executa obras nos sistemas
construtivos convencional, wood frame e light steel frame)
3: considerando o período de retorno equivalente a 50 anos (payback simples)

Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 9 - Tabela de gastos anuais para a cidade Bento Gonçalves

GASTO ENERGÉTICO COM


AQUECIMENTO E CUSTO DE CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA
REFERÊNCIA RESFRIAMENTO (kWh) GASTO ANUAL
DA TOTAL (ENERGIA E
ENVOLTÓRIA CONSTRUÇÃO)
ENERGIA INVESTIMENTO INVESTIMENTO
GASTO ANUAL1
(kWh) TOTAL2 ANUAL3

A 2175,72 R$ 1.379,19 R$ 97.973,13 R$ 1.959,46 R$ 3.338,65


B 2131,03 R$ 1.350,86 R$ 99.963,03 R$ 1.999,26 R$ 3.350,12
C 2173,14 R$ 1.377,55 R$ 98.913,32 R$ 1.978,27 R$ 3.355,82
D 2179,62 R$ 1.381,66 R$ 96.880,87 R$ 1.937,62 R$ 3.319,27
E 2195,3 R$ 1.391,60 R$ 97.808,83 R$ 1.956,18 R$ 3.347,77
F 2185,86 R$ 1.385,61 R$ 100.042,80 R$ 2.000,86 R$ 3.386,47
G 2164,8 R$ 1.372,26 R$ 92.905,49 R$ 1.858,11 R$ 3.230,37
H 2079,54 R$ 1.318,22 R$ 97.129,55 R$ 1.942,59 R$ 3.260,81
70

GASTO ENERGÉTICO COM


REFERÊNCIA AQUECIMENTO E CUSTO DE CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA GASTO ANUAL
DA RESFRIAMENTO (kWh) TOTAL (ENERGIA E
ENVOLTÓRIA CONSTRUÇÃO)
ENERGIA INVESTIMENTO INVESTIMENTO
GASTO ANUAL1
(kWh) TOTAL2 ANUAL3

I 2120,77 R$ 1.344,35 R$ 94.895,59 R$ 1.897,91 R$ 3.242,26


J 2634,37 R$ 1.669,92 R$ 95.342,33 R$ 1.906,85 R$ 3.576,77
K 2310,33 R$ 1.464,51 R$ 98.983,74 R$ 1.979,67 R$ 3.444,19
L 2805,21 R$ 1.778,22 R$ 95.434,04 R$ 1.908,68 R$ 3.686,90
1: valor do kWh de energia referente ao mês de maio/2017 (Fonte: RGE) = R$0,633/kWh
2: valores do custo de construção referentes ao mês de maio/2017 (Fonte: tabela de construtora que executa obras nos sistemas construtivos
convencional, wood frame e light steel frame))
3: considerando o período de retorno equivalente a 50 anos (payback simples)

Fonte: Elaborado pela autora.

Ao comparar as envoltórias associadas ao maior e ao menor gasto energético


com aquecimento e resfriamento (L e H respectivamente), percebe-se que um
investimento inicial de aproximadamente 1,78% maior do que o investimento
necessário para a construção da residência considerando a envoltória L, pode
resultar em uma economia que varia de 9,7% (para Porto Alegre e Santa Maria) até
11,6% (para Bento Gonçalves) ao ano se comparada aos valores relacionados à
envoltória H quando se considera o gasto com a construção e o gasto energético
com aquecimento e resfriamento.
De modo geral, ao examinar os Quadros 7,8 e 9, constata-se que a envoltória
que representa o melhor custo benefício para as três cidades de referência das
zonas bioclimáticas do Rio Grande do Sul é a envoltória G, enquanto que a
envoltória associada ao pior custo benefício em questão é a L (determinada também
como sendo a envoltória associada ao maior gasto energético com aquecimento e
resfriamento).
É interessante observar, também, que as envoltórias associadas às menores
parcelas anuais de capital necessário são referentes ao sistema construtivo wood
frame, sendo que as envoltórias G e I são também as representantes dos menores
investimentos necessários para construção.
71

5 CONCLUSÃO

Quando se trata de edificações, a abordagem com relação à eficiência


energética está ganhando cada vez mais espaço e importância ao passo que a
sustentabilidade tornou-se um aspecto importante a ser considerado no projeto e
execução de obras.
A envoltória da edificação é um dos principais meios pelo qual ocorre a
transferência de calor e o balanço energético entre o ambiente interno da edificação
e o ambiente externo ao qual está exposta. Por essa razão, a avaliação das
características climáticas do local em que a edificação será construída é de
fundamental relevância, pois mostra-se como o ponto chave para estudar e definir
alternativas mais eficientes que venham a alcançar um melhor desempenho
energético.
O estudo foi limitado ao estado do Rio Grande do Sul, o qual abrange três
zonas bioclimáticas distintas (Z1, Z2 e Z3). Observou-se que o comportamento
relacionado à demanda energética nas cidades de referência às zonas bioclimáticas
apresentou considerável variação, fato que, além de enaltecer a importância das
condições climáticas locais ao se avaliar a viabilidade de um projeto quanto ao seu
desempenho energético, faz jus à determinação de mais de uma zona bioclimática
no estado, conforme é proposto pela NBR 15220.
Apesar da diferença de comportamento com relação à demanda energética
de aquecimento e de resfriamento para as três cidades de referência, obteve-se
resultados que indicaram uma melhor e uma pior envoltória que satisfaz tais
condições para as três zonas bioclimáticas.
A envoltória relacionada ao pior desempenho energético refere-se ao sistema
construtivo convencional, caracterizada por ser composta por tijolos de vedação e
reboco em ambas as faces. Por outro lado, a envoltória associada a uma melhor
eficiência energética é do sistema construtivo wood frame, com composição em
placas de OSB em ambas as faces, parede externa em tábuas de madeira e interna
em gesso acartonado. Vale o destaque de que, para a região sul do país, materiais
com carcaterísticas isolantes apresentam um melhor desempenho geral quanto ao
gasto energético com aquecimento e resfriamento do que materiais caracterizados
pela propriedade de inércia térmica.
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Outro aspecto que vale enfatizar é que frequentemente associa-se que um


melhor desempenho energético está diretamente relacionado a um maior
investimento de capital inicial na execução do projeto. Entretanto, a partir dos
resultados apresentados nessa pesquisa, pode-se concluir que essa relação é
equivocada, uma vez que algumas envoltórias de menores investimentos inicias
estão associadas a melhores eficiências energéticas com relação ao gasto com
aquecimento e resfriamento, como é o caso das envoltórias no sistema wood frame,
que além de investimentos iniciais bastante acessíveis, estão associadas às
melhores eficiências energéticas.
Sistemas construtivos como o wood frame e light steel frame apresentam, de
modo geral, menores demandas energéticas de aquecimento e de resfriamento para
o caso de residências localizadas no estado do Rio Grande do Sul. Ao nos
deparamos com valores de investimento com baixa variação entre esses sistemas
de construção e o sistema construtivo convencional, deve-se refletir a razão pela
qual esses sistemas ainda são pouco empregados em residências no estado do Rio
Grande do Sul. Aparentemente, a resistência cultural e a falta de profissionais com
conhecimento técnico acerca desses sistemas construtivos podem ser elencados
como os maiores obstáculos para a execução de obras em wood frame e em light
steel frame levando em consideração o bom desempenho quanto à eficiência
energética apresentada pelos sistemas construtivos wood frame e light steel frame.
Como fechamento, é importante enaltecer que refletir sobre a situação e o
local ao qual a edificação estará exposta, bem como a finalidade de ocupação da
mesma, são fatores imprescindíveis para tomar decisões de projeto visando
eficiência energética. Além disso, quando se pretende buscar melhoras na eficiência
energética de um determinado projeto, o estudo e a utilização de ferramentas de
simulações que auxiliem na análise e comparação de diferentes estratégias
permitem atingir um melhor desempenho energético a partir de soluções que podem
ser economicamente viáveis, como é o caso do estudo do comportamento de
diferentes envoltórias aplicadas nas fachadas de edificações residenciais.
Portanto, no caso de residências, pode-se dizer que há possibilidade de se ter
viabilidade econômica a fim de alcançar melhores desempenhos energéticos, no
entanto, é necessário que o critério eficiência energética seja levado em
consideração desde o princípio da elaboração do projeto arquitetônico.
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