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Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI

Instituto de Física & Química – IFQ

Universidade Aberta do Brasil – UAB


Curso de Licenciatura em Física – EaD

Textos Auxiliares para as disciplinas:

Física Experimental

Metodologia Científica

Prof. Gabriel Rodrigues Hickel

Baseado em material didático criado por


Prof. Agenor Pina da Silva & Profa. Mariza Grassi

Ano 2019

 Todos os direitos reservados à UNIFEI e UAB. O uso deste material para fins didáticos, não
lucrativos, é permitido, desde que mantidos os créditos.

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Conteúdo deste texto:

XIII – Propagação de Erros


XIV – Cuidados na representação de medidas indiretas

Referências Bibliográficas recomendadas para este texto

Livros:

1 – Vuolo, J.H., Fundamentos da Teoria de Erros. Editora Edgard Blücher LTDA, 2a


Edição, São Paulo, SP, 2000.

2 – Corradi, W.; Vieira, S.L.A.; Társia, R.D.; Balzuweit, K.; Fonseca, L.; Oliveira, W.S.,
Física Experimental. Editora da UFMG, Belo Horizonte, MG, 2008.

Endereços eletrônicos:

1 – DFTMA-UFBA; “Teoria de Erros – Física I”


http://www2.fis.ufba.br/dftma/TeoriaDeErros2013v3.pdf
(acesso em 15/Março/2018)

2 – UNIVAP; “Apostila de Metodologia Científica/Física Experimental”


http://www1.univap.br/irapuan/files/Apostila_Fisica_Experimental.pdf
(acesso em 10/Abril/2019)

3 – UFF; “Apostila de Física Experimental 1”


https://alldocs.net/philosophy-of-money.html?utm_source=apostila-fisexp1-pdf
(acesso em 15/Março/2018)

4 – Lima Júnior, P. et al., IF - UFRGS; “Medições indiretas e propagação da incerteza”


http://www.if.ufrgs.br/fis1258/index_arquivos/TXT_06.pdf
(acesso em 10/Abril/2019)

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XIII – Propagação de Erros

Quando iniciamos a análise dos erros de medidas, abordamos apenas a


estimativa do erro de medidas diretas analógicas (lidas diretamente em uma
escala), efetuadas com uma única medida. Mas como será que devemos
proceder quando a medida é indireta? Esta é uma pergunta bastante
pertinente, uma vez que medidas indiretas são mais comuns do que pensamos.
Por exemplo, ao medir a área de uma sala, não temos um instrumento de
medida que avalie esta grandeza diretamente. Normalmente, medimos
comprimento e largura separadamente e então efetuamos o cálculo da área
posteriormente.

Na maior parte dos casos, principalmente em laboratório, os resultados


de uma experiência fornecem dados de duas ou mais grandezas físicas
independentes, medidas diretamente. Posteriormente, estes dados são
utilizados em um modelo físico-matemático que fornecerá uma (ou mais)
medida(s) secundária(s). Em outras palavras, a medida de uma grandeza física
indireta é obtida a partir da medida de uma ou mais grandezas físicas diretas e
equações matemáticas de um modelo físico.

Já vimos no módulo anterior como efetuar o cálculo do valor de uma


medida indireta, baseado nas regras de operações de algarismos significativos
(A.S.). O problema que este módulo abordará é como avaliar a incerteza de
uma medida indireta a partir dos erros das medidas diretas e das operações
matemáticas que estão envolvidas na determinação da grandeza indiretamente
medida. A isto chamamos de propagação de incerteza ou de erros.

NOTA: Para entender o cálculo da incerteza de uma medida indireta


(propagação de erros) seriam necessários conhecimentos prévios de
Estatística e Cálculo Diferencial que os alunos do primeiro semestre
ainda não possuem. Como nossa disciplina é concomitante ao Cálculo
Diferencial e Integral I, apresentaremos, por hora, apenas as
“fórmulas finais” das operações algébricas mais simples. Aqueles que
desejarem mais informações devem procurar pelo assunto “Teoria de
Erros”. Ao final do semestre, os conhecimentos adquiridos na
disciplina de Cálculo tornarão mais claro o modelo de propagação de
erros e sua formulação genérica para medidas secundárias
quaisquer.

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Erros em medidas indiretas

Se uma grandeza G = ( g ± ∆g ) é calculada como função de outras


grandezas medidas diretamente, A = (a ± ∆a ) , B = (b ± ∆b ) , C = (c ± ∆c ) ,....,
podendo ser representada por uma função matemática que envolva os valores
destas grandezas; é razoável que o seu erro também seja função dos valores e
dos erros das grandezas medidas diretamente, ou seja:

 g = f (a , b, c , K)
G = f ( A, B , C ,...) ⇒  ,
 ∆g = f [(a ± ∆a ) , (b ± ∆b ) , (c ± ∆c ) ,K]

sendo a, b, c,...; valores experimentais obtidos diretamente e ∆a, ∆b, ∆c,...;


suas respectivas incertezas experimentais.

Neste módulo, veremos a determinação da incerteza ∆g de uma medida


indireta, apenas para as quatro operações aritméticas simples e potenciação.
Para qualquer tipo de função, sempre que uma determinação diferente das
explicitadas neste módulo, for necessária, ela será fornecida pelo professor.

Regras para cálculo do erro de medidas secundárias, para as


seguintes operações com medidas primárias:

Para todos os exemplos a seguir, estamos supondo uma grandeza


G = ( g ± ∆g ) , obtida de forma secundária, a partir das grandezas primárias
A = (a ± ∆a ) e B = (b ± ∆b ) .

1) Adição e Subtração (G = A + B ou G = A – B)

Independente do sinal, na adição e subtração, os desvios sempre se


somam de forma quadrática:

• Adição: A = (a ± ∆ a ) e B = (b ± ∆ b)
G = A+ B

Então, teremos que a medida G = (g±∆g) será dada da seguinte maneira:


g=a+b

(∆g)2 = (∆a)2 + (∆b)2

De modo que uma medida indireta, obtida por adição, fica:

43
G = ( g ± ∆ g ) =  (a + b ) ±  (∆ a ) 2 + (∆ b ) 2 

  
 

• Subtração:
A = (a ± ∆ a ) e B = (b ± ∆ b)
G = A− B

Então, teremos que a medida G = (g±∆g) será dada da seguinte maneira:

g=a-b

(∆g)2 = (∆a)2 + (∆b)2

De modo que uma medida indireta, obtida por subtração, fica:

G = ( g ± ∆ g ) =  (a − b ) ±  (∆ a ) 2 + (∆ b ) 2  .

  
 

Note que o erro para uma medida indireta, obtida a partir da adição ou
subtração de medidas diretas, é o mesmo: a raiz quadrada da soma quadrática
dos erros das medidas diretas.

De modo geral, erros de medidas indiretas sempre são somas


quadráticas envolvendo os erros de medidas diretas (e outros termos).
Por hora, vamos aplicar estas regras em alguns exemplos:

Exemplo: Suponha que A = (42,4 ± 0,4) m e B = (33,3 ± 0,2) m, então:

Adição

G = A+ B ⇒
g = 42,4 + 33,3 = 75,7 m
∆g = (0,4) 2 + (0,2) 2 = 0,447214 m

G = (75,7 ± 0,4 ) m .

Nas operações com os valores das medidas (a e b), as regras de


operações com A.S. continuam valendo. Assim, para obter o valor da medida
secundária (g), é necessário observar as regras que aprendemos no módulo

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passado. Note também que o erro, mesmo propagado, só pode ser
representado com um único A.S.. Logo, é necessário fazer o
arredondamento do erro, com as regras que aprendemos.

Subtração

G = A− B ⇒
G = 42,4 − 33,3 = 9,1 m
∆G = (0,4) 2 + (0,2) 2 = 0,447214 m

G = (9,1 ± 0,4 ) m

2) Produto

Seja o produto G = (A×B), das grandezas medidas diretamente,


A = (a ± ∆a ) , B = (b ± ∆b ) , neste caso, teremos a seguinte regra:

g = a×b

(∆g)2 = (b×∆a)2 + (a×∆b)2

O erro do produto envolve a soma quadrática dos termos cruzados entre


medidas e erros. Desta forma, uma medida indireta fruto de um produto é dada
por:

G = ( g ± ∆ g ) =  (a × b ) ±  (b × ∆ a ) + (a × ∆ b )  
2 2

 
  

Exemplo: Suponha que A = (50,8 ± 0,2) m e B = (12,2 ± 0,1) m, então:

Multiplicação

G = A× B ⇒
g = 50,8 × 12,2 = 619,76 m 2
∆g = (12,2 × 0,2) 2 + (50,8 × 0,1) 2 = 5,635601 m 2

G = (620 ± 6 ) m 2

45
Na multiplicação também é necessário utilizar as regras de operações
com A.S. e de arredondamento. O resultado foi escrito com apenas 3 A.S.,
conforme a regra para o produto de A.S.. O erro também foi arredondado para
apenas 1 A.S..

3) Divisão

Seja o quociente G = (A/B), das grandezas medidas diretamente,


A = (a ± ∆a ) , B = (b ± ∆b ) ,neste caso, teremos a seguinte regra:

g = a/b

(∆g)2 = (a/b)2×[(∆a/a)2 + (∆b/b)2]

O erro da razão envolve a soma quadrática das razões entre erros e


medidas, multiplicada pela razão quadrática entre as medidas. Desta forma,
uma medida indireta fruto de uma divisão é dada por:

  a  
 ∆ b  
2 2
 a   × 
∆a 
G = (g ± ∆ g ) =    ±  +  
  b   b   a   b   
 

Exemplo: Se A = (8,456 ± 0,005) cm e B = (2,45 ± 0,03) s então:

Divisão

G = A/ B ⇒
g = 8,456 2,45 = 3,451429 cm/s
2 2
 8,456   0,005   0,03 
∆g =  ×   +  = 0,042312 cm/s
 2,45   8,456   2,45 

G = (3,45 ± 0,04 ) cm/s

Note que as regras de operações com A.S. foram observadas para o


resultado da divisão. Ambos os valores de g e ∆g necessitaram ser
arredondados.

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4) Potenciação

É bastante comum obtermos medidas secundárias que envolvam


potências de medidas primárias. Por exemplo, para calcular a área de um
círculo cujo diâmetro "D" foi medido, teremos que elevar D ao quadrado. Para
calcular a energia cinética de um corpo com massa "m" e velocidade "v",
teremos que elevar v ao quadrado. Podemos tratar os erros de medidas
indiretas obtidas a partir de potências inteiras de medidas diretas,
generalizando o erro de um produto com n variáveis.

Seja G uma grandeza obtida a partir do produto de n variáveis vi. Então,


o valor da grandeza g o erro ∆g serão:

g = v1× v2× v3×...

(∆g)2 = (v2× v3×...×∆v1)2 + (v1× v3×...×∆v2)2+(v1× v2×...×∆v3)2+...

Mas se ao invés de termos várias variáveis, existir apenas uma única variável v
elevada a uma potência inteira, por exemplo G = vn, então, a regra do produto
explicitada acima ficará:

g = v × v × v ×... = vn

(∆g)2 = (v × v ×...×∆v)2 + (v × v ×...×∆v)2+(v × v ×...×∆v)2+...

(∆g)2 = [v(n-1)× n ×∆v]2

Esta formulação é válida para qualquer n, inteiro ou não.

Exemplo: Se medimos X = (15,23 ± 0,05) m e T = (3,6 ± 0,2) s,


podemos calcular a aceleração de um corpo em movimento
uniformemente acelerado (X = ½·a·T2):

A aceleração é determinada por a = 2X/T2, o que significa que


teremos que fazer três operações: elevar o tempo ao quadrado,
multiplicar a distância por 2 e finalmente fazer a divisão. Em cada
operação desta será necessário levar em conta A.S., propagar o erro e
arredondar os valores:

• T2 = T·T = 3,6·3,6 = 12,96 s2 ⇒ 13 s2


• ∆T2 = T·2·∆T= 3,6·2·0,2 = 1,44 s2 ⇒ 1 s2
• medida de T2 = (13 ± 1) s2

47
• 2·X = 2·15,23 = 30,46 m
• ∆2·X = 2·∆X = 2·0,05 = 0,1 m
• medida de 2·X = (30,5 ± 0,1) m

• a = 2X/T2 = 30,5 m/13 s2 = 2,346154 m/s2


• ∆a = (2X/T2)·[( ∆2·X/2·X)2+(∆T2/ T2)2]1/2
∆a = (30,5/13)·[( 0,1/30,5)2+(1/13)2]1/2 = 0,181 m/s2

Assim, a medida secundária da aceleração do corpo será (após os


devidos arredondamentos):

a = (2,3 ± 0,2) m/s2.

Importante notar que no exemplo acima utilizamos não só o conceito de


potenciação, mas também o da divisão de variáveis. Outro conceito utilizado foi
o da multiplicação de um número por uma medida (no caso, 2X). Nestas
situações, tanto a medida quanto o erro são multiplicados pelo mesmo número.
Por exemplo:

G = (0,678 ± 0,004) cm, então, 3×G = (2,034 ± 0,012) cm, que deverá
ser representado como 3×G = (2,03 ± 0,01) cm, devido às regras de
representação de erros e arredondamento.

Em muitas expressões matemáticas encontramos números irracionais


como o π, por exemplo. Nestes casos devemos tomar cuidado quando for
necessário arredondar esses números na realização dos cálculos. O ideal é
utilizá-los com o máximo de casas decimais possíveis. A seguir veremos um
exemplo prático disto, calculando o volume de uma esfera através do diâmetro
medido:

Seja uma esfera de diâmetro D = (20,00 ± 0,01) cm. Seu volume é


calculado através da expressão:

1
V = π D3
6

• D3 = D·D·D = 20,00 cm·20,00 cm·20,00 cm = 8000 cm3


• ∆D3 = D2·3·∆D= 20,00·20,00·3·0,01 = 12,00 cm3 ⇒ 1×101cm3
• V = (1/6) ·π·D3 = 4188,7902 cm3 ⇒ 4189 cm3
• ∆V = (1/6) ·π·∆D3 = 5,24 cm3 ⇒ 5 cm3

Assim, a medida indireta do volume da esfera será (após os devidos


arredondamentos e representação em notação científica):

48
V = (4,189 ± 0,005)×103 cm3

Logo, sempre que um número irracional for utilizado em uma equação


matemática envolvendo medidas, ele deverá ser representado no cálculo com
pelo menos dois algarismos a mais do que a medida mais rica em A.S., de
forma a garantir que a sua representação não afete o valor da medida indireta.
Note que no exemplo do cálculo do volume da esfera, o diâmetro (medida
direta) tinha 4 A.S.. Se tivéssemos representado o π como 3,14, isto alteraria o
resultado final (verifique!).

XIV – Cuidados na representação de medidas indiretas

Você já deve ter percebido que ao calcular e representar medidas


indiretas, temos que estar atentos a dois aspectos:

1) O erro só pode ser representado com 1 A.S., o que limita o


número de casas decimais que a medida pode ser representada;
2) As regras de operações com algarismos significativos (que
aprendemos no módulo passado) também devem ser
respeitadas, podendo limitar a medida e o erro.

Mas qual dos dois aspectos é mais importante? Os dois têm a mesma
importância na representação de medidas indiretas e elas podem ser
limitadas por um ou outro aspecto.

Existem medidas secundárias limitadas pela propagação de erros, ou


seja, o valor da medida é representado até a casa decimal onde o erro aparece.
Mas também existem medidas secundárias limitadas pelas regras de operações
com A.S., ou seja, o valor do erro precisa ser artificialmente aumentado para
ser representado na última casa decimal do valor da medida. Vamos entender
melhor estes aspectos com alguns exemplos.

a) Medidas indiretas limitadas por operações com A.S.:

• Suponha que queiramos medir o volume de água em um cano longo. Um


cano pode ser aproximado por um cilindro. Então, o volume de água
dentro de um cano será dado pela expressão do volume de um cilindro:

π
V = área da base × altura = × D 2i × h
4

49
onde Di é o diâmetro interno e h, a altura. Suponha que meçamos
diretamente Di = (5,942 ± 0,001) cm, com um paquímetro e
h = (671,7±0,1) cm, com uma trena. Note que as duas medidas diretas
foram representadas com 4 A.S. e como o volume é obtido através de
uma multiplicação; a priori, a medida final poderia ser representada com
no máximo 4 A.S.. Procedendo o cálculo do volume V e seu erro ∆V:

π
× (5,942) × 671,7 = 18626,4686 ⇒ 1,863 × 10 4 cm 3
2
V =
4

π π
∆V =
4
× (h × ∆D ) + (D
2
i
2
i
2
× ∆h ) 2
=
4
× (h × 2 × Di × ∆D i ) 2 + (Di2 × ∆h) 2 ⇒

π
∆V = × (671,7 × 2 × 5,942 × 0,001) 2 + (5,942 2 × 0,1) 2 = 6,86 cm 3 ⇒ 0,0007 × 10 4 cm 3
4

A medida termina na terceira casa decimal, pois só podemos


representar V com 4 A.S.. O que fazer com o erro que só aparece na
quarta casa decimal??? Nestas situações, somos forçados a reescrever o erro
e aumentá-lo artificialmente, uma vez que o erro deve aparecer justamente na
última casa decimal do valor da medida. Desta forma, a medida do volume
deve ser escrita como:

V = (1,863 ± 0,001) × 104 cm3 .

Note que o erro teve de ser artificialmente elevado de 0,0007×104 para


0,001×104 para auxiliar na representação da medida com 4 A.S.. Nestes casos,
é dito que o valor da medida é limitado pelas regras de operações com
A.S.

b) Medidas indiretas limitadas pela propagação de erros:

• Suponha que queiramos medir a aceleração da gravidade através do uso


de um pêndulo simples, sob ângulo pequeno. Como sabemos, o período T
do pêndulo estará relacionado ao comprimento L do pêndulo e à
aceleração da gravidade g, pela relação:

L 4π 2 × L
T = 2π → g=
g T2

Suponha também que meçamos diretamente o comprimento


L = (2,023 ± 0,005) m, com uma trena e T = (2,855 ± 0,003) s, com um

50
cronômetro. Note que as duas medidas diretas foram obtidas com 4 A.S.
e como a gravidade é obtida através de uma divisão; a priori, a medida
final poderia ser representada com no máximo 4 A.S.. Procedendo o
cálculo da aceleração da gravidade g e do seu erro ∆g:

T 2 = (2,855) = 8,151025 ⇒ 8,151 s 2


2

4π 2 × 2,023
g= = 9,798164497 ⇒ 9,798 m/s 2
8,151

2 2 2 2
4π 2 × L  ∆ L  ∆T 2  4π 2 × L  ∆ L  2×T × ∆T 
∆g= ×   +  2  = ×   +  ⇒
T2  L   T  T2  L   T2 

2 2
4π 2 × 2,023  0,005   2 × 0,003 
∆g= ×   +  = 0,03179 ⇒ 0,03 m/s 2
8,151  2,023   2,855 

onde o erro da aceleração da gravidade foi arredondado para ser


representado com apenas 1 A.S.

Note que neste exemplo o erro aparece na segunda casa decimal.


Mas a medida pode ser representada até a terceira casa decimal. Como
proceder? Nestes casos a medida deve ser representada somente até a casa
decimal onde o erro aparece. No exemplo, a medida indireta da aceleração da
gravidade ficaria:

g = (9,80 ± 0,03) m/s2

Note que o valor da medida precisou ser arredondado, perdendo uma


casa decimal (e 1 A.S.), artificialmente. Nestes casos, é dito que o valor da
medida é limitado pela propagação de erros.

c) Medidas indiretas com concordância de representação:

• Suponha que queiramos medir a densidade de uma substância pura,


sabendo a massa m do corpo de prova e o volume V do memo. Podemos
relacionar a densidade ρ, a massa m e o volume V do corpo de prova,
como segue:

51
ρ=mV

Suponha também que meçamos diretamente a massa m =


(20,12 ± 0,05) g, com uma balança e o volume V = (2,28 ±
0,02) cm3, mergulhando o corpo de prova em uma pipeta cheia de água
(princípio de Arquimedes). Note que a medida direta com menor número
de A.S. possui 3 deles e como a densidade é obtida através de uma
divisão; a priori, a medida final poderia ser representada com no máximo
3 A.S.. Procedendo o cálculo da densidade do corpo de prova ρ e do seu
erro ∆ρ:

m 20,12
ρ= = = 8,824561 ⇒ 8,82 g/cm3
V 2,28

2 2 2 2
m  ∆m  ∆V  20,12  0,05   0,02 
∆ρ = ×   +  = ×   +  ⇒
V  m   V  2,28  20,12   2,28 

∆ ρ = 0,080455 ⇒ 0,08 g/cm3

Note que neste exemplo, tanto a representação da medida


termina na segunda casa decimal, quanto o erro aparece nesta mesma
casa. Não temos qualquer problema em representar a medida indireta.
Nestes casos, basta escrever a medida indireta. No exemplo da densidade
do corpo de prova, ficaria:

ρ = (8,82 ± 0,08) g/cm3.

Nestes casos, é dito que o valor da medida tem concordância com a


propagação de erros.

A Tabela 4.1 (página seguinte) fornece um quadro resumo das regras de


operações com algarismos significativos e propagação de erros para as
operações algébricas mais simples. Como vimos, as medidas podem ser
limitadas por um ou outro caso (ou também concordar) e deve-se ficar atento
aos valores de representação e à coerência ao escrever a medida secundária
(indireta) final. Esta Tabela 4.1 pode e deve ser consultada sempre, como fonte
de referência para as operações com A.S. e propagação de erros.

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Tabela 4.1 – Regras para obtenção de Medidas Indiretas (Operações com A.S. e Propagação de Erros)

Sejam A = (a ± ∆a ) e B = (b ± ∆b ) , medidas primárias. Então:

Regra de representação com Algarismos


Operação Regra de Propagação de Erros
Significativos

a+b
Adição deve ser escrito com o mesmo número de casas (∆ a ) 2 + (∆ b ) 2
A+B decimais da parcela (a ou b) com o menor número deve ser escrito com 1 A.S. apenas
de casas decimais
a–b
Subtração deve ser escrito com o mesmo número de casas (∆ a ) 2 + (∆ b ) 2
A–B decimais da parcela (a ou b) com o menor número deve ser escrito com 1 A.S. apenas
de casas decimais
a×b
Multiplicação
deve ser escrito com o mesmo número de A.S. da (∆ a × b ) 2 + (∆ b × a ) 2
A×B deve ser escrito com 1 A.S. apenas
parcela (a ou b) com o menor número de A.S.
2 2
a/b a  ∆a  ∆b
Divisão
deve ser escrito com o mesmo número de A.S. da ×   + 
A/B b  a   b 
parcela (a ou b) com o menor número de A.S.
deve ser escrito com 1 A.S. apenas
Potenciação an a ( n −1 ) × n × ∆ a
An deve ser escrito com o mesmo número de A.S. de a deve ser escrito com 1 A.S. apenas

Obs: estas regras não precisam ser decoradas. Esta tabela poderá ser consultada nas avaliações presenciais. O importante é saber utilizá-las!

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