Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
TEORIA PSICANALÍTICA
3
Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica desenvolvido por Sigmund Freud,
médico neurologista vienense nascido em 1856 que se propõe à compreensão e análise do
homem, compreendido enquanto sujeito do inconsciente e abrange três áreas:
Importante ainda é observar que em linguagem comum, o termo psicanálise é muitas vezes
usado como sinônimo de psicoterapia ou mesmo de psicologia. Em linguagem mais própria, no
entanto, psicologia refere-se à ciência que estuda o comportamento e os processos mentais,
psicoterapia ao uso clínico do conhecimento obtido por ela - ou seja, ao trabalho terapêutico
baseado no corpo teórico da psicologia como um todo - e psicanálise refere-se à forma de
psicoterapia baseada nas teorias oriundas do trabalho de Sigmund Freud; psicanálise é, assim,
um termo mais específico, sendo uma entre muitas outras formas de psicoterapia.
Conceituação
Os primórdios da psicanálise datam de 1882 quando Freud, médico recém formado, trabalhou
na clínica psiquiátrica de Theodor Meynert, e mais tarde, em 1885, com o médico francês
Charcot, no Hospital Salpêtrière (Paris, França). Sigmund Freud, um médico interessado em
achar um tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. Ao escutar
seus pacientes, Freud acreditava que seus problemas se originaram da inaceitação cultural, ou 4
seja, seus desejos eram reprimidos, relegados ao inconscientes. Notou também que muitos
desses desejos se tratavam de fantasias de natureza sexual. O método básico da psicanálise é
o manejo da transferência e da resistência em análise. O analisado, numa postura relaxada, é
solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente (método de associação livre). Suas aspirações,
angústias, sonhos e fantasias são de especial interesse na escuta, como também todas as
experiências vividas são trabalhadas em análise. Escutando o analisado, o analista tenta
manter uma atitude empática de neutralidade. Uma postura de não-julgamento, visando a criar
um ambiente seguro.
Não é possível abordar diretamente o inconsciente (Ics.), o conhecemos somente por suas
formações: atos falhos, sonhos, chistes e sintomas diversos expressos no corpo. Nas suas
conferência na Clark University (publicadas como Cinco lições de psicanálise) nos recomenda
a interpretação como o meio mais simples e a base mais sólida de conhecer o inconsciente.
Outro ponto a ser levado em conta sobre o inconsciente é que ele introduz na dimensão da
consciência uma opacidade. Isto indica um modelo no qual a consciência aparece, não como
instituidora de significatividade, mas sim como receptora de toda significação desde o
inconsciente. Pode-se prever que a mente inconsciente é um outro "eu", e essa é a grande
ideia de que temos no inconsciente uma outra personalidade atuante, em conjuntura com a
nossa consciência, mas com liberdade de associação e ação.
INCONSCIENTE = parte maior de nossa psique, não é uma coisa embutida no fundo da
cabeça dos homens e nem um lugar e sim uma energia e uma lógica em tudo oposta à lógica
da consciência que é a parte menor e mais frágil da nossa estrutura mental. Podemos imaginar
a consciência como a ponta de um iceberg e a montanha submersa abaixo como o
6
inconsciente. "A percepção que temos do mundo é consciência; as lembranças, inclusive a dos
sonhos e devaneios são consciência. A memória é consciência e só há memória de fatos
mentais conscientes. " (pág. 46, O que é psicanálise, Fábio Herrmann)
A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise mas não tem um sentido
restrito, ou seja, apenas genital. Tem um sentido mais amplo = toda e qualquer forma de
gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido amplo existe em nós desde
o nosso nascimento.A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os
princípios antagônicos que fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego
clássico, vida) X THANATOS (do grego clássico, morte) B) Princípio do Prazer X Princípio da
Realidade
- Eros = ligado às pulsões de vida, impulsiona ao contato, ao embate com o outro e com a
realidade. Sendo a vida tensão permanente, conflito permanente coloca-nos no interior de
afetos conflitantes e pode não ser a realização do princípio do prazer.
7
- Princípio do Prazer = é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais.
"É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de
mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito" (pág.
95, "Sobre Ética e Psicanálise", Maria Rita Kehl). Não está necessariamente ligado a Eros mas
de forma mais profunda a Thanatos pois "se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a
fuga do conflito, somente a morte (Thanatos) poderá satisfazer tal desejo." (pág. 63,
"Repressão Sexual", Marilena Chauí)
- Princípio da Realidade = princípio que nos faz "compreender e aceitar que nem tudo o que
se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser
conservado e muitas vezes não pode ser aumentado." (pág. 63, op. Cit., Marilena Chauí).
Impõe-nos limites internos e externos.
"Interpretação dos Sonhos", a mais conhecida, que publicou, em 1900; "Psicopatologia da Vida
Cotidiana", publicada em 1901 e na qual apresenta os primeiros postulados da teoria
psicanalítica, e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", de 1905, que contem a
exposição básica da sua teoria.
Freud notou que na maioria dos pacientes que teve desde o início de sua prática clínica, os
distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou histérica estavam relacionados a
sentimentos reprimidos com origem em experiências sexuais perturbadoras. Assim ele
formulou a hipótese de que a ansiedade que se manifestava através dos sintomas (neurose)
era conseqüência da energia (libido) ligada à sexualidade; a energia reprimida tinha expressão
nos vários sintomas neuróticos que serviam como um mecanismo de defesa psicológica. Essa
força, o instinto sexual, não se apresentava consciente devido à "repressão" tornada também
inconsciente. A revelação da "repressão" inconsciente era obtida pelo método da livre
associação (inspirado nos atos falhados ou sintomáticos, em substituição à hipnose) e pela
interpretação dos sonhos (conteúdo manifesto e conteúdo latente). O processo sintomático e
terapêutico compreendia: experiência emocional - recalque e esquecimento - neurose - análise
pela livre associação - recordação - transferência - descarga emocional - cura.
Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutrina platônica com certeza o
impressionou em seu curso de Filosofia. As partes da alma de Platão correspondem ao Id, ao
Superego e ao Ego da sua teoria que atribui funções físicas para as partes ou órgãos da mente
(1923 - "O Ego e o Id").
O Id, regido pelo "princípio do prazer", tinha a função de descarregar as tensões biológicas.
Corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos
desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida..
Também inconsciente, o Superego faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura
proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o
órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se á consciência
indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por
meio da educação, pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e
virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como
período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade ou adolescência.
Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social.
mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de realidade" ou
seja, a necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem transgredir as
exigências do Superego. É a alma racional, no esquema platônico. É a parte perceptiva e a
inteligência que devem, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer
simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas
duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres ou que, ao contrário,
imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.
10
O inconsciente, diz Freud, não é o subconsciente. Este é aquele grau da consciência como
consciência passiva e consciência vivida não-reflexiva, podendo tomar-se plenamente
consciente. O inconsciente, ao contrário, jamais será consciente diretamente, podendo ser
captado apenas indiretamente e por meio de técnicas especiais de interpretação desenvolvidas
pela psicanálise.
Atos falhos ou sintomáticos. Os chamados Atos sintomáticos são para Freud evidência da
força e individualismo do inconsciente: e sua manifestação é comum nas pessoas sadias.
Fases do desenvolvimento sexual. Freud contribuiu com uma teoria das fases do
desenvolvimento do indivíduo. Este passa por sucessivos tipos de caráter: oral, anal e genital.
Pode sofrer regressão de um dos dois últimos a um ou outro dos dois anteriores, como pode
sofrer fixação em qualquer das fases precoces. Essas fases se desenvolverão entre os
primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos de idade, e estão ligadas ao desenvolvimento do Id:
Freud utilizou o termo instinto (al. instinkt) para designar um padrão fixo de comportamento
herdado, próprio de uma espécie animal. Utilizou ao termo pulsão (al. Trieb) a partir de 1905
(Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade), para referir-se a “uma pressão ou força que faz
o organismo tender para um objetivo. [...] Uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal
11
(estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte
pulsional; é no objeto ou graças a ele que uma pulsão pode atingir sua meta”. (LAPLANCHE,
2001,p.394). Na literatura psicanalítica encontramos, muitas vezes, os dois termos empregados
erroneamente de forma indistinta. Para designar a força, no sentido quantitativo, que exerce
uma pressão em relação à pulsão sexual, Freud utilizou o termo libido (al. libido). No cap. IV de
Psicologia de Grupo e Análise de Ego ( Sugestão e Libido, 1921) define libido como a energia
“das pulsões que tem a ver com tudo o que pode ser abrangido sob o nome de amor”. O
termo libido em latim significa vontade, desejo.
Klein (1975) define libido como uma energia afetiva original que sofrerá progressivas
organizações durante o desenvolvimento. Cada mudança será suportada por uma organização
biológica emergente no período, apoiada numa zona erógena corporal, caracterizando uma
fase de desenvolvimento.
O período de duração atribuído a cada fase altera-se de teórico para teórico.
Fase Oral
Nome dado ao estágio de organização libidinal que vai desde o nascimento até o desmame,
para Melanie Klein (1975). Para ela, existe na criança uma necessidade fisiológica de chupar,
que surge logo nas primeiras horas de vida e mesmo quando saciado, o bebê continua durante
o sono da sua digestão a sugar os lábios.
Transcorrido esse primeiro tempo da organização dos investimentos libidinais, a fase oral
estabelece a zona bucofaríngea e os lábios como primeira zona erógena e como fonte
pulsional coordenada com o objeto que é o seio.
Nesse estágio, independente das necessidades alimentares, o prazer da sucção constitui um
prazer auto-erótico. É o tipo de prazer narcisista primário, de auto-erotismo original, não tendo
ainda, a criança a noção de um mundo exterior diferenciado dela.
Em face do mundo exterior, por meio dessa atitude, harmonizar- se -á com o modelo dessa
relação de amorosidade. Se a criança tiver interesse em alguma coisa, levará à boca.
A criança identificar-se-á com a mãe segundo um primeiro modo de relação, que substituirá a
vida toda, mesmo depois de aparecerem outros modos: ela sorri, o filho sorri, se a mãe fala, a
criança articula sons sem sentidos; e a criança desenvolve-se armazenando passivamente as
palavras, os sons, as imagens e as sensações.
Estabelece a fase oral em sua primeira forma, passiva. As primeiras palavras já são uma
conquista, que exige um esforço compensado pela grande alegria e as carícias do meio
familiar.
Melanie Klein (1975) considera que existe uma subdivisão da fase oral em duas partes. Uma
fase oral precoce que abrange os primeiros seis meses de vida, dominado pelo prazer de
sucção, chamada fase pré-ambivalente, porque o seio ainda não é concebido como
simultaneamente bom e mau. Uma segunda fase, com início no segundo semestre, recebe o
nome de fase sádico–oral, igualmente chamada fase “canibálica”, contemporânea à erupção
dentária, durante a qual aparece o desejo de morder e a angústia de destruir o objeto amado.
Nesse progresso, aparece a dentição com sofrimento que precisa ser aliviado pela atividade de
12
morder. É então que a criança entra num período anal mais avançado, ativo.
Observa-se que a criança morderá tudo o que tiver na boca, os objetos e também o seio, se
ainda mamar. Como a mordedura é a sua primeira pulsão agressiva, a maneira como for
permitida ou não pelo objeto de amor é da maior importância, visto que a aprendizagem da
língua materna depende disso.
Iniciar o desmame nesse momento será considerado uma conseqüência da agressão, isto é,
uma punição sob a forma de frustração. Diante de um desmame brusco, priva-se subitamente
a criança do seio materno, sem que ela tenha ainda deslocado para outros objetos seu
investimento libidinal e este pode arriscar-se a permanecer fixado num modo oral passivo
(como no caso dos chupadores tardios de polegar). A criança reforça o seu auto-erotismo e
perdendo interesse pelo mundo exterior, concentra-se nos seus fantasmas imaginativos, nas
sucessões de imagens representativas de uma perturbação emotiva.
O conjunto do desenvolvimento libidinal é finalizado pela integração das pulsões destrutivas,
conclui Klein (1975). Ela situa o apogeu do sadismo durante o primeiro trimestre de vida.
A fase oral precoce “passiva” é marcada pela relação de objeto “engolir/ser engolido”, pelas
angústias de esvaziamento ou de aniquilamento. A fase sádico–oral é marcada pela relação e
objeto “devorar/ser devorado”, pela angústia do desmembramento e pela identificação
projetiva.
A vivência e satisfação alimentares não se limitam ao prazer orificial. Elas envolvem todo o
conjunto da vivência corporal. O último aspecto é considerado essencial no tocante aos
primeiros esboços do sentimento de si, ou seja, o Self e os alicerces do narcisismo.
A introjeção oral é igualmente considerada como subjacente em outras funções corporais,
como a observação cutânea, a visão, a audição, a respiração ou a apreensão manual.
A criança pode, assim, conservar um núcleo de fixação que entrará em ressonância quando
ocorrer uma frustração ulterior e que poderá, eventualmente, contribuir na escolha de uma
neurose.
Fase Anal
O segundo ano da infância, sem desconsiderar completamente a zona erógena bucal, conferirá
maior importância à zona anal. Esta, aliás, é despertada muito mais cedo e basta observar os
menores para se dar conta do seu prazer, durante o relaxamento espontâneo de seus
esfíncteres excrementícios. Neste segundo tempo de organização dos investimentos libidinais,
também chamada de fase sádico-anal, a relação de objeto estará então vinculada de
significações em relação à função de defecação e com o valor simbólico das fezes.
Nesta fase a criança atingiu um maior desenvolvimento neuromuscular: a libido que provoca
a sucção lúdica da fase oral provocará agora a retenção lúdica das fezes e da urina. A zona
erógena não está focalizada unicamente no orifício anal, mas no conjunto da mucosa ano-reto-
sigmoidiana e até à porção do sistema digestivo e da musculatura que intervém na
retenção/evacuação.
13
Manifesta-se um pensamento caracterizado pelos mecanismos de identificação e projeção;
essas projeções são sempre efetuadas no quadro dualista inseparável da ambivalência
sadomasoquista das relações objetais.
A defecação fornece à criança a primeira ocasião de decidir entre a atitude narcísica e a atitude
de amor de objeto. Ou ele cede docilmente o excremento e o sacrifica ao amor ou o retém para
sua satisfação auto–erótica e a afirmação de sua própria vontade.
O objeto pulsional passa a ser duplo: de uma parte, há o prazer erótico ligado à zona erótica
por intermédio das fezes, e de outra parte, há uma intenção de manipulação e de controle da
pessoa da mãe, que começa a diferenciar-se.
Klein (1975) considera que aqui distinguem-se dois períodos distintos, ocorrendo dois tipos de
comportamentos opostos em relação ao objeto, dentro da fase sádico-anal expulsiva, que
depende da musculatura na qual o auto-erotismo está ligado na evacuação.
Se a criança conservar o objeto, predomina-se a retenção sobre a expulsão das fezes e a
incorporação da ambivalência que torna possível a redução das clivagens, resultando a função
de organização obsessiva na manutenção do vínculo com o objeto.
“Os cuidados higiênicos que se seguem à excreção são proporcionados pela mãe. Se ela está
satisfeita com o bebê, a toilette decorre numa atmosfera agradável; se ele sujou a roupinha,
passa-se o contrário – ralham com ele e chora”, afirma Dolto (1977. p.33). E acrescenta que
por outro lado, “por causa da satisfação fisiológica da zona erógena, essa toilette é agradável,
emoções contraditórias se associam à mãe: é a primeira descoberta de uma situação de
ambivalência”.
A criança percebe que emitir seus excrementos no momento oportuno em que o adulto
solicita é uma maneira de recompensar e manter uma boa harmonia com a mãe; ao passo que
se a criança recusar-se a atender o pedido da mãe e submeter-se aos seus desejos,
corresponde a uma punição, a um desentendimento com ela (DOLTO,1977).
Quando a criança conquista a disciplina esfincteriana descobre a noção de seu poder, de sua
propriedade íntima: os seus excrementos que ela oferece ou não. Poder auto- erótico sobre
sua ação, poder afetivo sobre sua mãe, que ela pode recompensar ou não.
“...Esse “presente” que ela lhe dará será assimilado a todos os outros “presentes” que se fazem
– dinheiro, quaisquer objetos que se tornam preciosos pelo simples fato de serem dados, até o
bebê, o irmãozinho ou a irmãzinha que, nos fantasmas da criança, a mãe faz sair pelo ânus,
após ter comido um alimento milagroso. É a descoberta do prazer sádico”. (DOLTO, 1977,p. 34
)
Neste momento, a criança passa a ter substitutos em que ela desloca seus afetos (cheirinho).
Esses substitutos serão os objetos singulares, excêntricos, que nessa idade ela arrastará
sempre consigo e nos quais ninguém poderá tocar, apertar, a não ser ela mesma, pois se isto
ocorrer, provocará uma birra; só ela tem esse direito sobre tais objetos, como a seus
excrementos (DOLTO, 1977).
“Em vez de brincar com seus excrementos, a criança absorver-se-á na fabricação de bolinhos
de areia”, se sujará na lama, brincará na água; “e por causa desse deslocamento inconsciente,
a atitude mais ou menos severa dos hábitos de asseio, não só esfincterianos mas gera”,
favorecerá ou dificultará o desenvolvimento sadio da criança e a sua adaptação à vida social
com desenvoltura do corpo e destreza manual”, analisa Dolto (id.,p.34).
Dolto (ibd., 34-35) reforça mais uma vez a situação ambivalente dizendo:
Se por jogo ou prisão de ventre, a criança retém os seus excrementos, segue-se
frequentemente uma agressão anal cometida pelo adulto, sob a forma de supositório ou clister.
Para a criança, isso constitui uma economia de esforço e uma satisfação erótica de sedução
passiva: mas a operação pode ser dolorosa, o adulto pode zangar-se.
14
(DOLTO, 1977,p.35)
É ativa, barulhenta, agressiva em relação aos objetos que ela pode apanhar onde estiverem
“para estraçalhar, agredir, jogar por terra, como se em tudo isso pusesse um prazer maligno,
acentuado [...] pelo fato dessa perversidade desagradar o adulto. A identificação foi atingida
com êxito” (Id.). Consolida-se a ambivalência surgida no final da fase oral.
Por meio dos componentes sádicos e masoquistas deste período explicam-se “as perversões
nos adultos, como o interesse libidinal exclusivo pelo orifício anal, no ato sexual, em detrimento
da vagina, cuja existência anatômica não é conhecida na idade da fixação infantil mantida viva
nos perversos”( Ib.,p.36)
Verifica-se que as pulsões agressivas espontâneas e as reações agressivas contra tudo o que
se opõe têm de ser deslocadas; “e quando o adulto está em causa, essas pulsões serão
deslocadas para objetos que recordem o adulto”; por associação ou por representação, é a
fonte, respectivamente, do fetichismo e do totemismo infantis ( bonecas eanimais de
estimação) (Ib., p.39).
Fase Fálica
É uma fase de organização infantil posterior às fases oral e anal e que se caracteriza por uma
unificação das pulsões parciais sob a prioridade dos órgãos genitais, por volta dos três anos de
idade, momento em que se manifesta a curiosidade sexual infantil.
Durante esta fase, a criança só conhece um órgão genital, o órgão sexual masculino, e a
oposição dos dois sexos é vivenciada por ela como uma oposição fálica/castrada – presença
ou ausência do pênis. A fase fálica precede, anuncia, culmina e declina o complexo de Édipo.
Ela apaga–se sob o efeito do complexo de castração.
O menino nega a sua castração pela negação do sexo feminino e mantém sua crença em que
a mãe é provida de um pênis; a menina manifestará sua “inveja do pênis” imaginando o seu
crescimento ulterior.
O órgão genital masculino é visto como uma “pequena parte separável do corpo” que se pode
perder, de acordo com o modelo fornecido pela perda do conteúdo intestinal, de modo que a
diferença dos sexos é, assim, interpretada pela teoria da castração. Nessa lógica da pré-
genitalidade, a oposição atividade/passividade da fase anal é transportada para a oposição
fálico/castrado. Só a partir da puberdade é que se edificará a oposição
masculinidade/feminilidade.
15
16
agressivos, adora causar medo e comandar. Identifica-se com o pai. Juntos, brincam de papai
e mamãe com os respectivos papéis definidos. O menino é o pai e a menina é a mãe.
Por volta dos quatro anos, o menino brinca de matar o pai e diz à mãe que vai se casar com
ela. Entrou no período edípico. Esse período na menina ocorre um pouco mais cedo, por volta
dos três anos e meio. Ela começa a se comportar como uma pequena amorosa, sedutora,
afetuosa, concentrando todo o seu interesse libidinal no pai.
Uma triste realidade faz com que a criança sinta–se impotente: os pais ocupam–se de coisas
comuns e embora tratem os filhos com ternura, não lhes dão a atenção devida, pedindo que a
criança vá brincar.
Surge, então, uma nova pergunta: o que fazem juntas duas pessoas grandes? Passa então a
espiar os adultos, ouve suas conversas, sem compreender o que dizem.
Se a criança assiste às relações sexuais dos pais, ou porque dorme com eles, o que é muito
freqüente, ou porque os surpreende, “interpreta–as como um ato sádico, uma batalha em que o
pai é o mais forte; e o papel da mãe deixa o perplexo”. A mãe estremecida é vencida e, talvez,
morta (DOLTO, 1977, p.47-48). Quando a criança vê o sangue menstrual, sua hipótese é
confirmada. Há qualquer coisa que ultrapassa o seu entendimento e a lança em profunda
confusão.
Para submeter–se à natureza, a criança deverá “abandonar a rivalidade, por vezes rancorosa
com o genitor do mesmo sexo, como também identificar–se com ele”. Deverá desenvolver as
qualidades que farão do menino um homem e da menina uma mulher (DOLTO, 1977,p.48).
A retirada da libido pulsional, que acontecerá na fase de latência, acalmará os conflitos,
empurrando para o inconsciente todas as curiosidades, todos os conflitos e todos os desejos
sexuais que tinham sido tão vivos no segundo período da infância.
Fase de Latência
Indo da fase fálica até o início da puberdade, nesta fase surge, progressivamente, a
sublimação com grande importância, fazendo com que a criança se fixe ou não, exagere ou
elimine seus componentes arcaicos da sexualidade e seus componentes perversos. É a fase
em que a curiosidade sexual da fase anterior é empregada em adquirir os conhecimentos
culturais necessários à sua vida futura. 17
Segundo Dolto (1977,p.49) a repressão do interesse sexual erótico permitirá à pessoa libertada
desenvolver “toda a sua atividade consciente e pré–consciente à conquista do mundo exterior”.
Se no início dessa fase a criança se encontra no estágio de um complexo de Édipo bem
resolvido, a libido estará inteiramente a serviço de um superego objetivo. Por meio dos
resultados no despertar da puberdade, a criança poderá não ter confiança em si, o que
facilitará ou dificultará o seu progresso. Quando ocorrerem as inquietações afetivas e eróticas
anunciadoras da puberdade e a masturbação terciária, “em vez de reagir como se fosse
culpada, a criança abrir-se-á ainda mais e saberá conquistar a sua liberdade, sem reações
autopunitivas”(Id.).
A causa para um difícil progresso poderá ser uma deficiência real e natural da criança. Se for
saudável, a criança procurará por si mesma superar sua inferioridade pelo desenvolvimento
compensatório de outras disposições.
A culpa poderá caber ainda a causas exteriores à criança que perturbam sua atmosfera afetiva
(mudança constante de escola, doenças, acidentes pessoais, mães castradoras inconscientes,
lutos, etc.).
Fase genital
A fase genital “caracteriza–se pela organização das pulsões parciais sob o primado da zona
genital; esta fase compreende dois tempos separados pelo período de latência: o período
fálico”, caracterizada pelo primado do falo, com referência exclusiva do órgão genital
masculino para os dois sexos e “a organização genital propriamente dita, a qual se instala a
partir da puberdade” (LAPLANCHE, 2001, p. 180 ).
Na fase fálica um ponto é muito importante para a fase genital: as escolhas de objeto, que se
manifestam a partir desse período da infância, são análogas às escolhas do período pós-
pubertário. É o período na infância, em que se dá a maior aproximação genital infantil,
contemporânea do pleno desenvolvimento do complexo de Édipo. É caracterizada por uma
teoria sexual particular e durante esse período, só existe para a criança um sexo único, o órgão
genital masculino. Daí o nome “fase fálica” dado a esse tipo de organização.
Se a evolução a fase fálica tiver sido saudável ou não, ou os sentimentos de inferioridade
tiverem impedido, no auge da puberdade, a liquidação de um núcleo conflitante residual ou
feito regredir a libido do individuo para fases anteriores à fálica, teremos a eclosão de uma
sexualidade normal ou perversa, ou uma neurose mais ou menos pronunciada. Fantasmas
dirigidos para objetos escolhidos fora da família acompanharão a masturbação terciária
(DOLTO, 1977,p.50).
A puberdade, com o aparecimento no rapaz da ejaculação e na moça do fluxo menstrual e o
desenvolvimento mamário, proporcionará os elementos que faltavam para a compreensão do
papel do homem e da mulher (Id.)
Esta fase caracteriza–se pela fixação libidinal no objeto heterossexual, para uma vida fecunda
a dois e para a proteção do filho ou de seu substituto. Essa fixação, chamada de oblativa, pode
ir no adulto realizado, até o abandono sincero e total de suas pulsões de auto-conservação,
para assegurar a proteção, a conservação e o livre desenvolvimento da vida física e psíquica
de um filho. É uma fixação “em um objeto exterior ao próprio indivíduo e cuja sobrevivência e
sucesso lhe importam mais do que se fossem dele” (Ib, p.53).
(1) Na fase oral, ou fase da libido oral, ou hedonismo bucal, o desejo e o prazer localizam-se
primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a
chupeta, os dedos são objetos do prazer;
(2) Na fase anal, ou fase da libido ou hedonismo anal, o desejo e o prazer localizam-se
primordialmente nas excreções e fezes. Brincar com massas e com tintas, amassar barro ou
18
argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;
(3)Na fase genital ou fase fálica, ou fase da libido ou hedonismo genital, o desejo e o prazer
localizam-se primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais
órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mae é o objeto do desejo e do prazer; para as
meninas, o pai.
Tipos de personalidade.
Aqueles que se detêm em seu desenvolvimento emocional, e por algum motivo se fixam em
qualquer uma das fases transitórias (Freud. 1908), constituem tipos e subtipos de
personalidade nomeados segundo a fase correspondente de fixação.
19
O tipo que se detém na fase oral é o Oral receptivo, pessoa dependente - espera que tudo lhe
seja dado sem qualquer reciprocidade; ou o Oral sadístico, o que se decide a empregar a força
e a astúcia para conseguir o que deseja. Explorador e agressivo, não espera que alguém lhe
dê voluntariamente qualquer coisa.
O Anal sadístico é impulsivamente avaro, e sua segurança reside no isolamento. São pessoas
ordenadas e metódicas, parcimoniosas e obstinadas.
Complexos de Édipo
Depois de ver nos seus clientes o funcionamento perfeito da estrutura tripartite da alma
conforme a teoria de Platão, Freud volta à cultura grega em busca de mais elementos
20
fundamentais para a construção de sua própria teoria.
No centro do "Id", determinando toda a vida psíquica, constatou o que chamou Complexo de
Édipo, isto é, o desejo incestuoso pela mãe, e uma rivalidade com o pai. Segundo ele, é esse o
desejo fundamental que organiza a totalidade da vida psíquica e determina o sentido de nossas
vidas. Freud introduziu o conceito no seu Interpretação dos Sonos (1899). O termo deriva do
herói grego Édipo que, sem saber, matou seu pai e se casou com sua mãe. Freud atribui o
complexo de Édipo às crianças de idade entre 3 e 6 anos. Ele disse que o estágio geralmente
terminava quando a criança se identificava com o parente do mesmo sexo e reprimia seus
instintos sexuais. Se o relacionamento prévio com os pais fosse relativamente amável e não
traumático, e se a atitude parental não fosse excessivamente proibitiva nem excessivamente
estimulante, o estagio seria ultrapassado harmoniosamente. Em presença do trauma, no
entanto, ocorre uma neurose infantil que é um importante precursor de reações similares na
vida adulta. O Superego, o fator moral que domina a mente consciente do adulto, também tem
sua parte no processo de gerar o complexo de Édipo. Freud considerou a reação contra o
complexo de Édito a mais importante conquista social da mente humana. Psicanalistas
posteriores consideram a descrição de Freud imprecisa, apesar de conter algumas verdades
parciais.
Complexo de Eletra
21
Narcisismo
Conta o mito que o jovem Narciso, belíssimo, nunca tinha visto sua própria imagem. Um dia,
passeando por um bosque, encontrou um lago. Aproximou-se e viu nas águas um jovem de
extraordinária beleza e pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o jovem saísse
das águas e viesse ao seu encontro, mas como ele parecia recusar-se a sair do lago, Narciso
mergulhou nas águas, foi ás profundezas á procura do outro que fugia, morrendo afogado.
Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por sua própria imagem ou pela
auto-imagem. O narcisismo é o encantamento e a paixão que sentimos por nossa própria
imagem ou por nós mesmos, porque não conseguimos diferenciar um do outro. Como crítica à
humanidade em geral - que se pode vislumbrar em Freud - narcisismo é a bela imagem que os
homens possuem de si mesmos, como seres ilusoriamente racionais e com a qual estiveram
encantados durante séculos.
Mecanismos de defesa são processos subconscientes que permitem à mente encontrar uma
solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A psicanálise supõe a existência
de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre si. Freud utilizou a
expressão pela primeira vez no seu "As neuroses e psicoses de defesa", de 1894. Os
mecanismos de defesa mais importante são:
Repressão, que é afastar ou recalcar da consciência um afeto, uma idéia ou apelo do instinto.
Um acontecimento que por algum motivo envergonha uma pessoa pode ser completamente
esquecido e se tornar não evocável. 22
Defesa de reação, que consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos ambos
opostos aos impulsos verdadeiros, quando estes são inconfessáveis. Um pai que é pouco
amado, recebe do filho uma atenção por vezes exagerada para que este convença a si mesmo
de que é um bom filho.
Projeção. Consiste em atribuir ao outro um desejo próprio, ou atribuir a alguém, algo que
justifique a própria ação. O estudante cria o hábito de colar nas provas dizendo, para se
justificar, que os outros colam ainda mais que ele.
Além dos substitutos reais, o imaginário inconsciente também oferece outros substitutos, os
mais freqüentes sendo os sonhos, os lapsos e os atos falhos. Neles, realizamos desejos
inconscientes, de natureza sexual. São a satisfação imaginária do desejo. Alguém sonha, por
exemplo, que sobe uma escada, está num naufrágio ou num incêndio. Na realidade, sonhou
com uma relação sexual proibida. Alguém quer dizer uma palavra, esquece-a ou se engana,
comete um lapso e diz uma outra que o surpreende, pois nada terá a ver com aquela que
queria dizer: realizou um desejo proibido. Alguém vai andando por uma rua e, sem querer,
torce o pé e quebra o objeto que estava carregando: realizou um desejo proibido.
Transferência. Freud afirmou que a ligação emocional que o paciente desenvolvia em relação
ao analista representava a transferência do relacionamento que aquele havia tido com seus
pais e que inconscientemente projetava no terapeuta. O impasse que existiu nessa relação
infantil criava impasses na terapia, de modo que a solução da transferência era o ponto chave
para o sucesso do método terapêutico. Embora Freud demorasse a considerar a questão
inversa, a da atratividade do paciente sobre o terapeuta, esse problema se manifestou tão cedo
quanto ainda ao tempo das experiência de Breuer, que teria se deixado afetar
sentimentalmente por sua principal paciente, Bertha Pappenheim.
Os mecanismos de defesa são aprendidos na família ou no meio social externo a que a criança
e o adolescente estão expostos. Quando esses mecanismos conseguem controlar as tensões,
23
nenhum sintoma se desenvolve, apesar de que o efeito possa ser limitador das potencialidades
do Ego, e empobrecedor da vida instintual. Mas se falham em eliminar as tensões e se o
material reprimido retorna à consciência, o Ego é forçado a multiplicar e intensificar seu esforço
defensivo e exagerar o seu uso. É nestes casos que a loucura, os sintomas neuróticos, são
formados. Para a psicanálise, as psicoses significam um severa falência do sistema defensivo,
caracterizada também por uma preponderância de mecanismos primitivos. A diferença entre o
estado neurótico e o psicótico seria, portanto, quantitativa, e não qualitativa.
Perversão. Porém, assim como a loucura é a impossibilidade do Ego para realizar sua dupla
função (conciliação entre Id e Superego, e entre estes e a realidade), também a sublimação
pode não ser alcançada e, em seu lugar, surgir uma perversão ou loucura social ou coletiva. O
nazismo é um exemplo de perversão, em vez de sublimação. A propaganda, que induz no leitor
ou espectador desejos sexuais pela multiplicação das imagens de prazer, é outro exemplo de
perversão ou de incapacidade para a sublimação.
A dimensão imaginária de nossa vida psíquica - substituições, sonhos, lapsos, atos falhos,
prazer e desprazer, medo ou bem-estar com objetos e pessoas - indica que os recursos
inconscientes surgem na consciência em dois níveis: o nível do conteúdo manifesto (escada,
mar e incêndio, no sonho; a palavra esquecida e a pronunciada, no lapso; o pé torcido ou
objeto partido, no ato falho) e o nível do conteúdo latente, que é o conteúdo inconsciente
verdadeiro e oculto (os desejos sexuais). Nossa vida normal se passa no plano de conteúdos
manifestos e, portanto, no imaginário. Somente uma análise psíquica e psicológica desses
conteúdos, por meio de técnicas especiais (trazidas pela psicanálise), nos permite decifrar o
conteúdo latente que se dissimula sob o conteúdo manifesto.
Está ele diante de um problema, cujos dados impressionam pela quantidade e pela
diversidade temátida, incluindo-se aí :
*A higidez ou patologias detectáveis.
*As pressões que, de ordinário, as sessões psicanalíticas exercem sobre o
analisando.
*A imprevisibilidade no que se refere à duração do tratamento.
*A dificuldade de se estabelecer, com rapidez usando-se as entrevistas
perliminares, uma avaliação confiável acerca da personalidade do candidato.
*Outras do mesmo porte quanto à importância dos eventuais efeitos que podem
25
desencadear.
Impondo-se a decisão, optam, via de regra, os analistas, pela exclusão dos casos
que evidenciem psicose maníaco-depressiva e as esquizofrenias, aceitando aqueles
que se enquadrem nos quadros das diversas formas de histeria, das neuroses, das
doenças psicossomáticas e das depressões psico-neuróticas e, com algumas
precauções, os caos correspondentes a perversões, aos delinquentes, aos
fronteiriços, aos adictos e aos impulsivos.
Contudo uma coisa é certa : por mais que o profissional se cerque de cautelas,
nunca se pode dizer que o tratamento se desenvolverá sem surpresas, vez que
uma determinada sintomatologia atual pode estar mascarando uma grave patologia
latente.
Em se falando de aliança de trabalho, há que se ter presente que o paciente,
quando dos primeiros passos da terapia, deverá mostrar também que está apto a
desenvolver uma relação objetal racional, dessexualizada e deagressificada,
capacidade esta não disponível quando se é um narcisista, que, também não pode
desenvolver relações sublimadas, desprovidas de características interesseiras no
seu dia-a-dia, o que o torna caracteristicamente capaz, de no máximo, apresentar
manifestações transferenciais fragmentadas, o que as torna não só fugidias, como
praticamente inacessíveis, inviabilizando destarte, a psicanálise.
Se o narcisista, SF dizia que não havia como tratálo psicanaliticamente, vez que lhe
era impossível desenvolver uma neurose transferencial, compreensão adotada
ainda hoje, conquanto, nos nossos dias, até portadores de psicoses busquem e
recebam tratamento de casos de narcisismo, introduzem alterações nos
procedimentos usuais da Psicanálise.
ALIANÇA DE TRABALHO
ASSOCIAÇÃO LIVRE
Na psicanálise clássica, para comunicar o material clínico, o paciente tenta, como
forma predominante de comunicação, a associação livre. Geralmente, esse
processo começa depois de concluídas as entrevistas preliminares. Nas entrevistas
preliminares, o analista pôde chegar a uma avaliação da capacidade do paciente
27
AS REAÇÕES TRANSFERENCIAIS
Para que ocorram as reações transferenciais na situação analítica, o paciente deve
estar disposto e capacitado para correr o risco de alguma regressão temporária em
relação às funções do ego e das relações objetais.O paciente deve ter um ego
capaz de regredir temporariamente às reações transferenciais mas tal regressão
deve ser parcial e reversível de modo que o paciente possa ser tratado
analiticamente e ainda assim viver no mundo real.As pessoas que não se atrevem a
regredir da realidade e aquelas que não conseguem voltar rapidamente à realidade
são riscos indesejados para a psicanálise.Freud dividiu as neuroses em dois gurpos
baseando-se no fato de o paciente conseguir ou não desenvolver e manter um
conjunto relativamente coerente de reações transferenciais e mesmo assim agir na
análise e no mundo externo. Os pacientes com uma “neurose de transferência”
conseguiam fazer isso ao passo que os pacientes sujeitos a uma “neurose narcísica”
não o conseguiam.
AS RESISTÊNCIAS
28
O termo “analisar” é uma expressão compacta que abrange aquelas técnicas que
aumentam a compreensão interna.Em geral, inclui quatro procedimentos
diferentes:
possa interpretar o motivo que possa ter um paciente para eviar um determinado
assunto na sessão, tenho primeiro de fazer com que ele enfrente o fato de estar
evitando alguma coisa. Algumas vezes, o próprio paciente vai perceber tal fato e
não terei necessidade de fazê-lo.Todavia, antes que sejam tomadas quaisquer
medidas analíticas posteriores, deve ter-se certeza de que o paciente discerne
dentro de si mesmo o fenômeno psíquico que estmos tentando analisar.
30
ANALASIBILIDADE
Embora a diagnose nos mostre muita coisa sobre a patologia, pode indicar
relativamente pouco sobre os recursos saudáveis do paciente em questão.Alguns
casos obssessivos se transformam em excelente pacientes e outros são não-
analisáveis. Os tipos controvertidos de pacientes, por exemplo, perversões e casos
fronteiriços, têm uma proporção variada de recursos saudáveis.No entanto, é a
reserva de capacidades positivas, não a patologia, que pode vir a ser o fator
decisivo. O centro de enfoque tem de ser a avaliação ou a patologia.
Um método de abordagem valioso no problema da analisabilidade consiste em
investigar as qualidades positivas do paciente em relação às exigências específicas
da terapia psicanalítica. Como já dissemos, o tratamento psicanalítico é uma
terapia demorada, dispendiosa e de longo alcance, terapia que, pela sua própria
natureza, é, frequentemente, muito dolorosa. Assim, só os pacientes
profundamente motivados irão trabalhar com entusiasmo na situação analítica. Os
sintomas do paciente os os traços de caáter contraditórios lhe devem causar uma
dose suficiente de sofrimento para capacitá-lo a suportar os rigores do tratamento.
A infelicidade neurótica deve interferir em aspectos importantes da vida do paciente
e a consciência da miséria de sua situação deve ser mantida se quisermos que o
paciente continue motivadao. Problemas triviais e os palpites dos parentes,
namorados ou amantes e dos patroões não justificam de forma alguma que se
inicie um tratamento psicanalítico. A curiosidade científica ou o desejo de progredir
profissionalmente não irão motivar um analisando para que se submeta a uma
experiência analítica profunda a não ser que tudo isso esteja relacionado com uma 32
necessidade terapêutica adequada. Os pacientes que exigem resultado rápidos ou
que têm um ganho secundário enorme de suas doenças também não terão a
motivação necessária. Os masoquistas que necessitam de seu sofrimento neurótico
podem começar a análise e ficar, depois, presos ao sofrimento do tratamento. Eles
constituem um problema de difícil avaliação quanto à motivação para se curar. As
crianças são motivadas de forma bem diferente dos adultos e também precisam ser
avaliadas de um ponto de vista diferente.
A psicanálise exige que o paciente tenha a capacidade de desempenhar, de maneira
maio ou menos firme e repetida, as funções do ego que estão em contradição entre
si. Por exemplo, para chegar à associação livre o paciente deve ser capaz de
regredir em seu raciocínio, deixar as coisas surgirem passivamente, abandonar o
controle de seus pensamentos e emoções e renunciar, parcialmente, ao seu teste
de realidade. Mesmo assim, também esperamos que o paciente nos compreenda
quando lhe transmitimos alguma coisa, que faça por conta própria algum trabalho
analítico, que controle suas ações e emoções depois da sessão e que fique em
contato com a realidade. Apesar de sua neurose, espera-se que o paciente tenha
funções do ego flexíveis e elásticas.
Também exigimos que o paciente possua a capacidade de regredir e sair da
regressão no relacionamento com seu psicanalista. Espera-se que ele desenvolva
diversas formas de reações transferenciais regressivas, seja capaz de mantê-las e
também trabalhe com elas como colaborador do analista. Em geral, os pacientes
psicóticos ou orientados narcisicamente não são indicados para a psicanálise.A
capacidade para a empatia é fundamental para uma boa disposição psicológica e
depende da capacidade para uma boa disposição psicológica e depende da
capacidade para uma identificação parcial e temporária com outros. Ela é
necessária para uma comunicação eficaz entre paciente e analista e deve estar
presente em ambos. As pessoas retraídas e desinteressadas, emocionalmente, não
são bons candidatos à terapia psicanalítica.
A associação livre acaba levando à exposição de detalhes dolorosos e íntimos da
vida pessoal de uma pessoa. Donde se conclui, portanto, que um paciente
adequado deve possuir um grau elevado de honestidade e de integridade de
caráter. Também exige a capacidade de comunicar inteligivelmente sobre
combinações sutis de emoções. Também constituem riscos inadequados as pessoas
com graves problemas de raciocínio e distúrbios da fala. Também são candidatos
inadequados à psicanálise as pessoas com caráter impulsivo, pessoas que não
aguentam esperar, que não suportam a frustação ou emoções dolorosas.
Outra série de fatores que tem que ser levada em conta é a situação da vida
externa do paciente. Uma doença ou incapacidade física graves podem exaurir a
motivação de um paciente ou acabar com suas energias para o trabalho
psicológico. Em determinadas ocasiões, uma neurose pode ser um mal bem menor
do que determinada doença arrasadora ou uma situação de vida miserável. Em
geral, os pacientes que estão no auge de um caso de amor excitante não estão
aptos para trabalhar na análise. A presença de um marido intrometido, genioso e
briguento, ou de uma esposa ou pai/mãe- pode tornar a análise temporariamente
inexequível. Não se pode fazer um trabalho analítico num campo de batalha. É
preciso que haja oportunidade para a contemplação e introspecção fora da sessão
analítica. E depois, temos os elementos práticos: tempo e dinheiro, ambos, 33
geralmente, fundamentais. As clínicas psicanalíticas podem diminuir o desgaste
financeiro mas, até agora, nada que se conheça pode substituir o tempo prolongado
exigido pelo tratamento psicanalítico.
Todas as considerações anteriores são úteis para determinarmos se a psicanálise é
indicada ou contra-indicada para um determinado paciente. Todavia, anos de
trabalho clínico nos ensinaram que somente a experiência real de um período de
análise pode determinar, com segurança, se um paciente está apto para fazer
psicanálise. Aparentemente, existem inúmeras variáveis e incógnitas para que
qualquer outro método emita previsões seguras.
A maioria dos analistas, não estabelece um limite de tempo específico para uma
análise de experiência mas alude ao elemento provisório de diferntes maneiras.
NEUROSE
Neurose, também conhecida como psiconeurose ou distúrbio neurótico, é um termo que refere-
se a qualquer desequilíbrio mental que causa angústia e ansiedade, porém ao contrário da
psicose e algumas outras desordens mentais, não impede ou afeta o pensamento racional.
Neurose é particularmente associada ao campo da psicanálise.
O termo neurose foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1769 para indicar
"desordens de sentidos e movimento" causadas por "efeitos gerais do sistema nervoso". Na
psicologia moderna, é sinônimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico e se refere a qualquer
desordem mental que, embora cause tensão, não interfere com o pensamento racional ou com
a capacidade funcional da pessoa. Essa é uma diferença importante em relação à psicose,
desordem mais severa
A palavra deriva de duas palavras gregas: neuron (nervo) e osis (condição doente ou anormal).
A neurose, na teoria psicanalítica, é uma estratégia ineficaz para lidar com sucesso com algo, o
que Sigmund Freud propôs ser causado por emoções de uma experiência passada causando
um forte sentimento que dificulta reação ou interferindo na experiência presente. Por exemplo:
alguém que foi atacado por um cachorro quando criança pode ter fobia ou um medo intenso de
cachorros. Porém, ele reconheceu que algumas fobias são simbólicas e expressam um medo
reprimido.
Na teoria da psicologia analítica, de Carl Jung, a neurose resulta do conflito entre duas partes
psíquicas, das quais uma deve ser inconsciente.
Apesar de sua longa história, o termo "neurose" não é mais de uso comum. Os atuais sistemas
de classificação abandonaram a categoria "neurose". O DSM IV eliminou a categoria por
completo. Desordens primeiramente chamadas de neuroses agora são descritas sob os títulos
de ansiedade e disordens depressivas.
Em outras palavras,
A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode
ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem
usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura". Mas isso não é verdade, de forma
alguma.
Trata-se de uma reação exagerada do sistema psíquico em relação a uma experiência vivida
(Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida. A pessoa É
neurótica e não ESTÁ neurótica .
Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações
vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato
de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo que não exista uma causa
vivencial aparente.
Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de
comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade... etc). O neurótico, tem
plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo.
Para Freud, a neurose resultaria de um conflito entre duas forças antagônicas, um desejo de
prazer (pulsão) e o medo de punição (moral e social). O Dicionário de Psiquiatria, editado no
site do Hospital das Clínicas da USP e organizado pelo Dr. Hélio Elkis diz o seguinte:
"A palavra neurose foi criada pelo médico escocês Wiliam Cullen no fim do século 18, para
designar distúrbios das sensações e movimentação corporal, sem uma lesão anatômica
correspondente na rede nervosa.
Este conceito prevaleceu na Psiquiatria até a década de 60, em que os transtornos mentais
eram distribuídos em dois grandes grupos: psicoses e neuroses. Às psicoses, consideradas
35
doenças mentais mais graves, atribuíam-se causas orgânicas ou funcionais; as neuroses, tidas
como menos graves, teriam origem nos conflitos emocionais e traumas psicológicos.
As pesquisas das últimas décadas mostraram que esta distinção não se sustenta; nas
neuroses, embora os eventos vitais tenham capital importância, mecanismos químicos de
neurotransmissão participam, também, da produção e manutenção dos sintomas, e os fatores
genéticos são igualmente significativos. Considera-se que, nas neuroses, a autodeterminação
e capacidade de discernimento não são afetadas seriamente.
Na atual classificação oficial de doenças (CID – 10), são registrados os seguintes transtornos
neuróticos: fóbico-ansiosos, transtornos de ansiedade, obssessivo-compulsivo, reações de
estresse e transtornos de ajustamento, transtornos dissociativos, somatoformes e outros, onde
se incluem neurastenia e despersonalização. Cada um desses quadros apresenta subdivisões
e formas com sintomas diferentes, que só o psiquiatra pode distinguir e tratar adequadamente
(Z.B.A. RAMADAM)
Para diferenciar entre neurótico e neurose : "neurótico", ou afetado pela neurose, é o termo que
descreve a pessoa com depressão ou ansiedade, falta de emoções, pouca auto-confiança,
e/ou instabilidade emocional. O termo neurose foi cunhado em 1769 pelo médico escocês
William Cullen para referir a "desordens do sentido e ação". Para ele, a neurose descreve
várias desordens nervosas e sintomas que não poderiam ser explicados psicologicamente.
Neurose deriva da palavra grega neuron (nervo) com o sufixo osis (doença ou condição
anormal). Entretanto, o termo neurose foi mais influenciado por Sigmund Freud e Carl Jung
mais de um século depois.
Hoje em dia o termo neurose não é mais comum entre médicos. O DSM-III ("Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders") eliminou a categoria neurose. Isso segue a tendência
de dar descrições de comportamento conhecidas ao invés de termos que referem-se a
mecanismos psicológicos ocultos devido a dificuldades no diagnóstico.
Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade
na vida mental.
36
Teorias da Personalidade
Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida
mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais. Há uma
causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento
mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o
precederam. Uma vez que alguns eventos mentais "parecem" ocorrer espontaneamente, Freud
começou a procurar e descrever os elos ocultos que ligavam um evento consciente a outro.
O ponto de partida dessa investigação é o fato da consciência.
37
Segundo Freud, o consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo do que
estamos cientes num dado momento. O interesse de Freud era muito maior com relação às
38
áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava Pré-Consciente e
Inconsciente.
Inconsciente. A premissa inicial de Freud era de que há conexões entre todos os eventos
mentais e quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos
pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estariam no inconsciente. Uma vez
que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade está resolvida.
"Denominamos um processo psíquico inconsciente, cuja existência somos obrigados a supor -
devido a um motivo tal que inferimos a partir de seus efeitos - mas do qual nada sabemos".
O inconsciente, por sua vez, não é apático e inerte, havendo uma vivacidade e imediatismo em
seu material. Memórias muito antigas quando liberadas à consciência, podem mostrar que não
perderam nada de sua força emocional. "Aprendemos pela experiência que os processos
mentais inconscientes são em si mesmos intemporais. Isto significa em primeiro lugar que não
são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera, e que a idéia de tempo
não lhes pode ser aplicada".
Assim sendo, para Freud a maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais
determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, as pulsões e os instintos.
Teoria Estrutural
As observações de Freud revelaram uma série interminável de conflitos e acordos psíquicos. A
um instinto opunha-se outro. Eram proibições sociais que bloqueavam pulsões biológicas e os
modos de enfrentar situações freqüentemente chocavam-se uns com os outros. Ele tentou
ordenar este caos aparente propondo três componentes básicos estruturais da psique: o Id, o
Ego e o Superego.
O Id
O Id contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento e está presente na
constituição, acima de tudo os instintos que se originam da organização somática e encontram
expressão psíquica sob formas que nos são desconhecidas (1940, livro 7, pp. 17-18 na ed.
bras.). O Id é a estrutura da personalidade original, básica e central do ser humano, exposta
tanto às exigências somáticas do corpo às exigências do ego e do superego. As leis lógicas do
pensamento não se aplicam ao Id, havendo assim, impulsos contrários lado a lado, sem que
um anule o outro, ou sem que um diminua o outro (1933, livro 28, p. 94 na ed. bras.). O Id seria
o reservatório de energia de toda a personalidade.
O Id pode ser associado a um cavalo cuja força é total, mas que depende do cavaleiro para
usar de modo adequado essa força. Os conteúdos do Id são quase todos inconscientes, eles
incluem configurações mentais que nunca se tornaram conscientes, assim como o material que
foi considerado inaceitável pela consciência. Um pensamento ou uma lembrança, excluído da
consciência mas localizado na área do Id, será capaz de influenciar toda vida mental de uma
pessoa.
39
O Ego
O Ego é a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. O Ego se
desenvolve a partir do Id, à medida que a pessoa vai tomando consciência de sua própria
identidade, vai aprendendo a aplacar as constantes exigências do Id. Como a casca de uma
árvore, o Ego protege o Id, mas extrai dele a energia suficiente para suas realizações. Ele tem
a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade.
Uma das características principais do Ego é estabelecer a conexão entre a percepção sensorial
e a ação muscular, ou seja, comandar o movimento voluntário. Ele tem a tarefa de auto-
preservação. Com referência aos acontecimentos externos, o Ego desempenha sua função
dando conta dos estímulos externos, armazenando experiências sobre eles na memória,
evitando o excesso de estímulos internos (mediante a fuga), lidando com estímulos moderados
(através da adaptação) e aprendendo, através da atividade, a produzir modificações
convenientes no mundo externo em seu próprio benefício.
Com referência aos acontecimentos internos, ou seja, em relação ao Id, o Ego desempenha a
missão de obter controle sobre as exigências dos instintos, decidindo se elas devem ou não ser
satisfeitas, adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias mais favoráveis ou
suprimindo inteiramente essas excitações. O Ego considera as tensões produzidas pelos
estímulos, coordena e conduz estas tensões adequadamente. A elevação dessas tensões é,
em geral, sentida como desprazer e o sua redução como prazer. O ego se esforça pelo prazer
e busca evitar o desprazer.
O Superego
Esta última estrutura da personalidade se desenvolve a partir do Ego. O Superego atua como
um juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do Ego, é o depósito dos códigos morais,
modelos de conduta e dos parâmetros que constituem as inibições da personalidade. Freud
descreve três funções do Superego: consciência, auto-observação e formação de ideais.
Enquanto consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a
atividade consciente, porém, ele também pode agir inconscientemente. As restrições
inconscientes são indiretas e podem aparecer sob a forma de compulsões ou proibições.
Nesses termos, o propósito prático da psicanálise "é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais
independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de
maneira a poder assenhorear-se de novas partes do id"
ANZIEU,D. - A auto-análise de Freud e a descoberta da Psicanálise, PA, Ed. Artes Médicas, 1989
GAY, P. - Freud, uma vida para o nosso tempo, Companhia das Letras, 1989.
MEZAN, R. - Freud, pensador da cultura, SP, Ed. Brasiliense, 1986 (4a. edição)
ROTH, M. S. - Freud: Conflito e Cultura: Ensaios sobre sua Vida, Obra e Legado, Jorge Zahar Editores
SULLOWAY, F.J. - Freud, Biologist of the Mind, NY, Basic Books, Inc., Publishers, 1983
CDROM
"Freud, Sigmund" Microsoft (R) Encarta. Copyright (c)1993. Microsoft Corporation. Copyright (c)1993 Funk &
Wagnall's Corporation.
HANNS, LUIZ -Dicionário Comentado do Alemão de Freud, RJ, Imago Ed., 1996
41
LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J.-B. -Vocabulário da Psicanálise, SP, Martins Fontes Editores Ltda., 1985
MOORE, BURNESS E. & FINE, BERNARD D. - Termos e Conceitos Psicanalíticos, Artmed, recomendado pela
"The American Psychoanalytic Association"
ROUDINESCO, ELIZABETH & PLON, MICHEL - Dicionário de Psicanálise, RJ, Jorge Zahar Editor, 1998
(edição original francesa: Dictionnaire de la psychanalyse, Paris, Librairie Arthème Fayard, 1997
FENICHEL,O., Teoria Psicanalítica das Neuroses.Atheneu.2000