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NOTÍCIAS

29 agosto 2021 / Número 1527


Esta revista faz parte integrante
do Jornal de Notícias n.º 89/134 e do
Diário de Notícias n.º 55648 e não pode
ser vendida separadamente

Negócios
que a pandemia
abriu
A alma é o segredo
de quem arriscou e lançou projetos
em tempos de incerteza

magazine
O MUNDO ADMIRÁVEL
E COMPLEXO DOS JOVENS
SOBREDOTADOS
alma-
ESPELHO
naque

PAULO ALEXANDRINO/GLOBAL IMAGENS


MEU Sara Dias Oliveira
POR

DAVID SANTOS
(NOISERV)
Músico
39 anos

VEJO BEM... ❶ Sou muito persistente e


não vejo como chato todo o processo e
percurso para chegar a algum sítio. ❷ Sou
moldável às coisas. Não me chateio mui-
to, não sou embirrento. Estou bem em
todo o lado, não sou esquisito. Só não gos-
to de melão, meloa e melancia. ❸ Gosto
de pessoas, e que sejam transparentes. Te-
nho o vício de olhar para os olhos e é bom
quando são transparentes. ❹ Costumo di-
zer algumas piadas de vez em quando.
Sou bem-disposto, acho eu. ❺ Sou sensí-
vel. Choro muitas vezes, choro com tudo
talvez, e acho que isso é fixe.
VEJO MAL... ❶ Sou demasiado perfec-
cionista, obsessivo na procura por ficar
completamente satisfeito. ❷ Indeciso.
Não me é fácil chegar a uma decisão por-
que há muitas e todas têm coisas boas.
❸ Não me é fácil desistir de algo. ❹ Sou
bastante competitivo, não gosto de per-
der. Joguei basquetebol durante muitos
anos, dos 8 aos 19 anos, e acho que vem
daí. ❺ Nem sempre tenho a melhor dose
de autoconfiança. ❻ Falo muito depres-
sa, o que pode ser um pouco difícil para
quem me escuta.

“Uma palavra começada por N” é o mais


recente álbum de Noiserv. Em setembro,
arranca com o projeto “Uma volta a Portugal
em 8 coretos”, percorrendo as oito regiões
do país, com oito concertos, sempre num
bonito coreto (a entrada é livre). Foi fotogra-
fado no seu estúdio, em Lisboa.

Notícias Magazine 29.08.2021 3


sumário#1527
HISTÓRIA
DA SEMANA
Quando
Empresários há demasiada
à prova fome de saber
de covid-19 Conviver diariamente com jovens
sobredotados é uma missão nada fácil
São alguns exemplos, mas de cumprir. A jornalista Catarina Silva
podiam ser mais. Muitos mais. ouviu famílias, especialistas e ainda
Durante o confinamento, nem uma das responsáveis da Associação de
todos se fecharam em casa à Crianças Sobredotadas, que de terça a
espera que o vírus acalmasse. quinta-feira organiza a 17.ª Conferên-
Milhares de portugueses arrega- cia do Conselho Europeu para a Alta
çaram as mangas e abriram negó- Capacidade e Sobredotação. P. 20
cios. A jornalista Ana Tulha
revela cinco histórias de sucesso
de empresas nascidas quando
a pandemia tomava conta
UM FUTURO COM PASSADO COMPORTAMENTO
do Mundo. P. 14 Quando se comemoram 200 anos sobre a primeira Lei
de Imprensa e numa altura em que foi aprovada a Carta
Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, a jorna-
lista Sofia Teixeira, com a ajuda de diversos especialis-
tas, analisa constrangimentos, limitações e ameaças
à liberdade que o jornalismo enfrenta. P. 26

A MODA DO “BRASILEIRO”
A influência do português do Brasil não é de agora, mas,
à boleia dos youtubers de conteúdos infantis, chega
a cada vez mais crianças. Há riscos? Deve ser contra-
riada? A jornalista Catarina Silva falou com duas famílias,
uma linguista, uma professora e uma psicóloga e sinte-
tiza as melhores estratégias para lidar com o tema. P. 34

Nota “Partida, Largada, Fugida”, a página de humor de Susana Romana, está de férias.
A rubrica regressa na edição de 12 de setembro.

magazine
NOTÍCIAS
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4 29.08.2021 Notícias Magazine


ESPECIAL REGRESSO ÀS AULAS
“Aprender a Brincar”
Edição temática a 5 de setembro

Aprender fora da escola


pode ser divertido para toda
a família, descubra como nesta
edição especial. Vamos ainda
mostrar os materiais escolares
que estão na moda e partilhar
dicas para um bom
regresso às aulas. A NM sai aos domingos
com o Jornal de Notícias
SAIBA MAIS EM NOTICIASMAGAZINE.PT e o Diário de Notícias.
alma-
naque
PERFIL
POR Ricardo Jorge Fonseca

Avançou para a sua carreira no teatro colocando o “car- PEDRO ZEGRE


ro à frente dos bois”, como reconheceu em várias en- PENIM
trevistas. Ou seja, antes de qualquer formação já ti-
nha criado a sua companhia, o Teatro Praga, em Cargo
1995. Tinha 19 anos e urgência em partici- Futuro diretor do
par num universo onde se faziam obras Teatro Nacional D.
como “Ñaque ou sobre piolhos e atores”, Maria II
texto de Sinisterra encenado pelo Teatro
Meridional, ou “O conto de inverno”, de Nascimento
Shakespeare, trabalhado pela Cornucó- 05/07/1975
pia – os dois espetáculos que o engancha- (46 anos)
ram na arte teatral.
Saiu de um café na Avenida de Roma, em Nacionalidade
Lisboa, a decisão de formar a nova estrutu- Portuguesa
ra, que contava ainda, no seu núcleo origi- (Lisboa)
nal, com as futuras atrizes Cláudia Gaiolas,
Sofia Ferrão e Paula Diogo. A conferência de
Antonin Artaud “O teatro e a peste” serviu de
inspiração para a escolha do nome e o primeiro
espetáculo do Teatro Praga foi montado logo no
seu ano de nascimento, no Auditório de Benfica:
uma encenação de “O concílio do amor”, de Oskar
Panizza. Tudo isto “antes de saberes do que estás a
falar ou o que estás a fazer”.
A companhia, que nos últimos 14 anos teve como
principais protagonistas, além de Penim, André E. Teo-
dósio, José Maria Vieira Mendes e Cláudia Jardim, vi-
ria a ser fundamental na definição da sua identidade
como ator, encenador e dramaturgo. Mas nos primei-
ros anos, antes da estabilização, Pedro Penim faria ain-
da um desvio pelo universo infantil. Os seus olhos pe-
O: quenos e sorridentes, que lhe dão ainda hoje, como
ÇÃ ES
TRA EV diria Pedro Lamy, um “ar de miúdo”, talvez tenham
US A N
IL LD
AF A contribuído para a sua seleção como apresentador
M
do Clube Disney da RTP. Entre 1997 e 2000 tornou-
-se rosto familiar junto dos mais novos, continuan-
do na sua companhia, durante mais alguns anos, como
anfitrião da versão portuguesa do programaArtAttack,
que propunha jogos criativos às crianças. De todas as
suas experiências na televisão, que incluíram partici-
pações em séries e novelas, Penim destaca a passagem
pelo Clube Disney como a mais interessante, pela pos-
sibilidade que teve de conhecer o país, com constan-
tes diretos a partir de várias cidades.
Quando terminou esse período, estava já formado
pela Escola Superior de Teatro e Cinema e pronto a
embrenhar-se em profundidade com o Praga, vindo
a conquistar o Prémio SPA para Melhor Texto Portu-

Pedro Penim guês Representado, em 2012, por “Israel”, ou um Glo-


bo de Ouro pelo espetáculo “Tropa Fandanga”, em
2014. Convocando múltiplas linguagens e criadores,

Homem de e operando sempre fora de qualquer zona de confor-


to, a companhia fez digressões por países como Fran-
ça, Alemanha, Turquia Brasil ou China e, a partir de

urgências 2015, passou a programar outros grupos no seu espa-


ço na Rua das Gaivotas, em Lisboa.
Penim desdobrou-se ainda pela formação, lecio-
nando em escolas do Porto, Bruxelas ou Istambul. E
A sua identidade artística confunde-se com a fez um mestrado em Gestão Cultural no ISCTE que
da companhia que fundou, em 1995, antes de lhe deverá ser útil nas novas funções. “Tenho esse
ter qualquer formação em teatro. Foi o rosto lado da gestão, gosto mesmo das contas, da parte or-
do Clube Disney durante três anos. Interessa- ganizacional.” Terá agora oportunidade de aliar essa
faceta à de criador teatral na condução do Teatro Na-
-se por gestão cultural. Diz-se pronto há anos cional D. Maria II, onde irá suceder a Tiago Rodrigues,
para o que aí vem: a condução dos destinos do que se encontra de malas aviadas para a direção do
Teatro Nacional D. Maria II. Festival de Avignon, em França. ● m

6 29.08.2021 Notícias Magazine


OBJETOS
POR Ana Tulha

Garfo,
uma história
dos diabos
Chegou a ser vetado pela Igreja
e “acusado” de deturpar o sabor
dos alimentos. A forma atual tem
dedo de um príncipe francês.

Se há expressão reveladora da forma como o talher


dentado é hoje universalmente aceite é a do “bom
garfo”, aplicada a todos quantos gostem de comer
bem. Mas a história deste objeto não se faz de
consenso nem de reconhecimento imutável.
Pelo contrário, chegou a ser proibido pela Igreja,
por causa da associação, imagine-se, ao Diabo.
Antes disso. Para descobrir a origem deste
objeto é preciso recuar até uns séculos antes de
Cristo, por alturas da civilização grega. Na altura,
o garfo, com dois dedos apenas, era usado única e
exclusivamente para servir os alimentos – até
porque naquela época se comia com as mãos.
Mais tarde, em meados do século XI, a filha do
imperador Constantino VIII, de Constantinopla,
trouxe para a Europa uma novidade: um garfo
dourado de dois dedos que, pasme-se, usava para
espetar a comida. Podia ter sido o início da nova
vida deste objeto, mas não. É aqui que começa a
embirração da Igreja a propósito do mafarrico.
Diziam os senhores do Clero que esse garfo se
assemelhava demasiado à forquilha do Diabo.
E que sendo os alimentos uma dádiva divina deve-
riam ser comidos à mão.
Foi preciso esperar, por isso, até ao século XV
para ver o garfo voltar a dar que falar. Primeiro em
Itália, depois em França, onde ainda assim se
deparou com uma certa resistência: agora, o argu-
mento era de que o metal deturpava o sabor da
comida. Quem muito contribuiu para acabar de
vez com os estigmas foi o rei Henrique III, de
Inglaterra, que criou o garfo individual, tornando
todo o conceito bem mais higiénico. Estava então
aberto o caminho da aceitação universal.
Tanto que, algures pelo século XVII, o para-
digma já se tinha invertido: comer com as mãos
era agora o problema, enquanto a utilização dos
talheres era vista como prática associada a um
certo status quo. Nesse mesmo século, o garfo
“ganhou” o terceiro dente, com o quarto a apare-
cer já no século XIX, muito graças ao príncipe
francês Fernando de Bourbon, que não se
amanhava a comer esparguete nos garfos de três
dedos. Consta que era um bom garfo. ● m

A primeira versão do garfo tinha


apenas dois dentes. Este exemplar
é do século XV e está no museu The
Met Fifth Avenue, em Nova Iorque

Notícias Magazine 29.08.2021 7


alma-
naque
AS HISTÓRIAS
DOS DIAS
POR Catarina Silva

BÉLGICA JOVEM
PILOTO TENTA VOLTA
AO MUNDO SOZINHA
Uma piloto de 19 anos partiu da Bélgica para uma
viagem de mais de 51 mil quilómetros pelo Mundo,
numa tentativa de bater o recorde mundial. Zara PAÍSES BAIXOS
Rutherford, que tem dupla nacionalidade (inglesa
e belga), quer ser a mais jovem piloto a voar sozinha
à volta do Mundo. Zara está a pilotar um avião Criam robô
ultraleve e tem planeado visitar 52 países e cruzar
o Equador duas vezes durante a viagem. A mais
jovem mulher, Shaesta Waiz, a conseguir o feito
para apanhar
de voar sozinha à volta do Mundo tinha 30 anos
e ainda detém o recorde. No que toca aos homens,
beatas na praia
o recorde pertence a Travis Ludlow, aos 18 anos.
Uma dupla de engenheiros holandeses criou um mini
robô para apanhar beatas da praia. O protótipo chama-
-se Beach Bot e conta com um sistema de inteligência
ITÁLIA artificial da Microsoft. Os criadores Edwin Bos e
Martjin Lukaart explicam que o robô tem estado a

Homem tatua o código aprender a localizar e apanhar os restos de cigarro nas


praias sozinho e é capaz de localizar até as beatas soter-

do certificado covid radas. A ideia de criar o Beach Bot surgiu quando Edwin
Bos viu o filho de quatro anos brincar na praia, nos
Países Baixos, e acabou por apanhar várias beatas de
Um homem italiano decidiu tatuar o código QR testá-lo num restaurante e registar o momento cigarro com as mãos. Com o colega Martjin fundaram
do seu certificado digital de vacinação no braço, num vídeo publicado no Instagram para provar que a empresa TechTics e a Microsoft juntou-se ao projeto.
o que significa que já não tem de pegar no telemóvel funciona. Mas a tatuagem vai para além da utilidade. Através da aplicação móvel Microsoft Trove App, as
para provar que está vacinado para viajar, entrar “As pessoas fazem tatuagens por diversos motivos, pessoas também podem submeter fotos de zonas da
em restaurantes, hotéis ou ir a eventos. O famoso neste caso serve também para lembrar este período praia com beatas e ganhar 20 cêntimos por foto.
tatuador italiano Gabriele Pellerone, que conta com histórico de pandemia e tudo o que mudou nas nossas
mais de 200 mil seguidores no Instagram, divulgou o vidas”, refere Pellerone. O certificado digital começou
seu trabalho inusitado nas redes sociais e até mostrou a ser usado em Itália em junho para facilitar as
que funciona ao digitalizar o código do passe digital viagens na Europa e, à semelhança de Portugal, MANUAL ASSINADO POR
tatuado no braço do cliente. Os dois decidiram ainda a utilização estendeu-se a restaurantes ou eventos. STEVE JOBS VENDIDO POR
MAIS DE 670 MIL EUROS
Um manual de instruções
do computador Apple II,
assinado por Steve Jobs
em 1980, foi vendido
por 671 215 euros. “Julian,
a tua geração é a primeira
a crescer com computadores.
Vai mudar o Mundo”, lê-se
na contracapa que tem
a assinatura rara de Jobs.
8 29.08.2021 Notícias Magazine
A CULTURA
Ana Markl
Por
Escolhas da radialista

25
e escritora

DA NOVELA
AO CONCERTO
milhões
de euros SUCCESSION
foi o prejuízo Nutro por esta série uma obsessão parecida com
causado por a que tínhamos com as telenovelas quando não
havia mais nada para ver: sonho com as persona-
um marinheiro gens, sinto um vazio de cada vez que acaba uma
de 20 anos temporada e conto os dias até estrear uma nova.
A própria premissa é algo telenovelesca: segui-
que reprovou mos os altos e baixos – sobretudo baixos – de uma
família rica. Mas, ao contrário das novelas, não há
nos testes para personagens boas e más: são todas péssimas.
a Força Especial
da Marinha dos
EUA e pôs fogo
a um navio. RICK & MORTY
Quando vejo “Rick & Morty” sinto uma
enorme inveja dos criadores, Dan Harmon
e Justin Royland. É a melhor sensação que se

UM TUBARÃO BEBÉ pode ter: quem me dera que isto tivesse saído
da minha cabeça. Há pessoas que desprezam

NASCEU NO ACQUA- um bocado o formato, acham que é só mais uma


animação de ficção científica para nerds e não

RIO CALA GONONE, se apercebem que estão a perder uma das séries
mais inteligentes, hilariantes e comoventes

NA SARDENHA, ITÁLIA, dos últimos tempos.

QUE TEM APENAS


FÊMEAS. ESPECIALIS- TINY DESK CONCERT
– SESAME STREET
TAS ACREDITAM
QUE PODE SER O PRI-
Desde que fui mãe que procuro entreteni-
mento para crianças que não estupidifique o

MEIRO CASO DOCU-


meu filho e me dê gosto ver com ele. A sua prefe-
rência vai para o “Pocoyo”, cuja estética e

MENTADO DE REPRO-
sentido de humor também adoro. Mas um dia
descobrimos o “Tiny Desk Concert” da “Rua
Sésamo” (versão americana), um pequeno
DUÇÃO ASSEXUADA concerto organizado na redação da NPR – e são
os melhores 15 minutos de música para miúdos.

DA ESPÉCIE. OS À conta disso, o meu puto já canta numa espécie


de inglês. Pena que nunca mais tenha havido

TESTES DE ADN VÃO “Rua Sésamo” produzida em Portugal.

AJUDAR A ENTENDER “Onde moram os teus macaquinhos?”, livro

O FENÓMENO. infantojuvenil de Ana Markl ilustrado por Christina


Casnellie, chegou este mês às lojas.

Notícias Magazine 29.08.2021 9


alma-
naque Cidadania Impura
Valter Hugo Mãe
Por

Comprávamos o pão feito no forno tradicional, a descolar a folha


de jornal do fundo, e era uma alegria completa, não parecia
necessário haver mais nada.
Quando ia com a Odete a Vila Flor acontecia de estar- que poucas vezes se viu fachada mais bonita.
mos sempre à pressa, a sairmos e voltarmos à Quinta Pude visitar as obras da casa que albergará o Encon-
da Veiguinha com muita fome de almoçar ou jantar. tro das Artes, um espaço de Graça Morais, essa genial
Comprávamos o pão feito no forno tradicional, a des- que amo, e fiquei maravilhado. O projecto é de Antó-
colar a folha de jornal do fundo, e era uma alegria com- nio Portugal, infelizmente falecido entretanto, e de
pleta, não parecia necessário haver mais nada. Julgava Manuel Maria Reis, e é de uma beleza profunda. O
eu, ignorante, que Vila Flor fosse a primeira praça e uso do xisto, o desenho dos espaços, a varanda, a sala
uma infinidade de campos. Agora, tendo andado ali a superior do segundo piso, estão para a arquitectura
ver o incrível complexo das piscinas, a albufeira, a va- como o violino está para a música de Vivaldi. Há anos
riante, a vista deslumbrante sobre a vila, com a igreja que ouvia falar daquela casa como sendo para honrar
levantada em coração branco, descubro o trabalho in- a grande pintora transmontana, há anos que a via
crível que ali se tem feito e admito que procuro moça como pequena, embora bonita na praça. O espanto é,
herdeira e casadoira que me meta num daqueles palá- pois, enorme quando entramos e descobrimos a am-
cios brasonados, lindos de perder o fôlego. Deixo a dica plitude interior, como a porta se torna magia para
para aquele casarão que foi cenário de novela e tudo, um mundo de Alice onde tudo subitamente se agi-
ganta. Já mal posso esperar que fique pronta. É já um

NOSSOS MONTES
património essencial para a identidade e auto-estima
de Vila Flor e de toda a região.
Andar por estes montes é, pois, catar surpresas. Em
Torre de Moncorvo, por exemplo, um complexo es-
cultório da autoria de Hélder Carvalho homenageia
três autores brilhantes cujas vidas e obras tocam na-
quela terra. Borges, Torga e Saramago estão digníssi-
mos levantados em ferro, imortais e para sempre es-
tudando a humanidade. O que impressiona na obra
de Hélder Carvalho é a sóbria grandeza, um certo
efeito límpido de caminhar entre figuras que se tor-
nam míticas e, ao mesmo tempo, tão perto de um
abraço. Sinto-me comovido pela oportunidade de re-
gressar ao abraço de Saramago. Lembra-me como
chorei ao abraçar o José Afonso do Pedro Figueiredo.
Chego ao calor de Alfândega da Fé para abrir uma
exposição curada por António Franchini, incluída no
projecto Onda Bienal, da Bienal de Gaia, uma direc-
ção de Agostinho Santos. Não sei ver-me como artis-
ta plástico. Deparo-me com as obras enquanto sem-
pre observador, alguém que encontra mais do que
cria, e é gratificante essa relação inexplicável. “Um
pouco depois da terra muito antes da morte”, assim
chamei à exposição que vai na Galeria José Rodri-
gues, é uma reflexão sobre a espiritualidade, citando
El Greco, lembrando o meu pai, Cruzeiro Seixas e
buscando um auto-retrato que possa apaziguar-me
com a tragédia de não vivermos mais nada, de não
nos vermos mais, de não nos podermos mais amar.
Ando pelos montes a intensificar, e colher um figo
poderá ser, por tão simples, um fim de vida perfeito.
Uma perfeição que Vila Flor conserva. ● m

O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

10 29.08.2021 Notícias Magazine


RAIO-X
POR Ana Tulha

Prazo de garantia
engorda em 2022
A partir de janeiro, os consumidores passam
a ter três (em vez de dois) anos para devolver ou pedir
a troca de um produto avariado. O alargamento aplica-se
a “bens móveis” como os eletrodomésticos
ou os equipamentos digitais.

O CONTEXTO O DIREITO DE REJEIÇÃO


O decreto-lei, que entrará em vigor a 1 Outra novidade: se a avaria ou defeito
de janeiro de 2022, transpõe duas diretivas do produto for identificado nos primeiros
europeias que têm como objetivo reforçar 30 dias após a entrega, o consumidor pas-
“a proteção do consumidor num mercado sa a poder solicitar a imediata substituição
cada vez mais competitivo e digital”. do bem ou a sua devolução.

OS USADOS E OS RECONDICIONADOS
No caso dos primeiros, a garantia pode ser
reduzida para 18 meses, mediante acordo
entre as partes. Para os segundos, a regra
dos três anos prevalece.
24
MIL EUROS
O valor máximo previsto para casos de

10 ANOS
violação dos direitos dos consumidores
garantidos por este diploma, considera-
dos contraordenação económica grave.

O período durante o qual os vendedores


ficam obrigados a disponibilizar peças
sobresselentes, de acordo com o novo
decreto-lei.
TECHNOLOGY VECTOR/MACROVECTOR/WWW.FREEPIK.COM

Notícias Magazine 29.08.2021 11


alma-
naque
A SEMANA
QUE VEM
Catarina Silva


POR

OS ROSTOS

Autoeuropa retoma produção


e apoios a empresas terminam
SEGUNDA-FEIRA
3ª TERÇA-FEIRA

ACABA O PRAZO PARA


REEMBOLSOS DO IRS
Depois da paragem de agosto, perante
a escassez de semicondutores no E PARA O IVAUCHER
mercado mundial devido à pandemia,
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República
a fábrica de Palmela da Autoeuropa O prazo para reem-
retoma a produção. No mesmo dia,
O chefe de Estado vetou a lei devem terminar os apoios do Governo bolso do IRS aos
que perdoava as Câmaras às empresas e trabalhadores indepen-
dentes com quebras de faturação, que
contribuintes acaba.
que não cumpriram regras
do Apoio à Economia Local foram prolongados até este mês. A Também termina o
partir desta data, já deverá ser possível
e cujo diploma foi submetido
já depois da convocação as famílias candidatarem-se ao “vale programa IVAucher.
das eleições autárquicas. eficiência” que vai atribuir um apoio,
em média, de 1300 euros para financiar
No futebol, encerra
Para evitar “interferências
eleitorais”, só se pronunciará obras em casa contra a pobreza energé- o mercado de transfe-
tica. E arranca o evento de balões de ar
depois de 26 de setembro.
quente “Voar na Beira Baixa”. rências de verão.

Spencer Elden
O bebé que apareceu nu e
debaixo de água na mítica
capa do álbum “Nevermind”,
de 1991, está a processar os
Nirvana por exploração
sexual e pornografia infantil,
devido à utilização da sua
4ªQUARTA-FEIRA
Serviços públicos
sem marcação
e 2.ª fase dos
exames nacionais
Os serviços públicos, como as lojas
do cidadão, passam a funcionar sem
marcação prévia. Arranca a 2.ª fase
dos exames nacionais do Ensino
Secundário. Rulotes, feiras e merca-
5ª QUINTA-FEIRA

imagem. Pede uma indemni- dos passam a estar proibidos de usar


zação de 127 mil euros. plástico. O músico Caetano Veloso
começa uma digressão pelo país, com
um concerto no Coliseu de Lisboa.
E Portugal defronta a República da
Irlanda, no Estádio Algarve, na quali-
ficação para o Mundial do Qatar 2022.
Balsemão homenageado
“TEM
“TEMOS
MOS MIL MILHÕES DE EUROS e feira de futebol no Porto
PARA
PARRA O AFEGANISTÃO,
AFE MAS ESTA Francisco Pinto Balsemão, na celebração dos 40 O livro “Memórias”,

ASSISTÊNCIA
ASSSISTÊNC ESTÁ CONGELADA anos da tomada de posse do seu Governo, é
homenageado na residência oficial do primeiro-
de Francisco Pinto Bal-
semão, fundador do

ATÉ TERMOS
TERMO UMA GARANTIA” -ministro, em São Bento. Neste dia, arranca a
feira de futebol de âmbito europeu Thinking
PSD, chega às livrarias
no mesmo dia em que
será homenageado
Football Summit, no Super Bock Arena - Pavi-
Urs
Ursula von der Leyen
Pres
Presidente da Comissão Europeia, lhão Rosa Mota, no Porto. Mais a sul, começa o Figueira Jazz Fest. Ainda
ape
apelando a ações credíveis dos tali- nesta data, deve ser conhecida a decisão sobre o processo movido pela
bãs que demonstrem que o país vai Comissão Europeia contra Portugal por discriminar carros importados no
resp
respeitar os direitos humanos, no- Imposto Sobre Veículos. Se Portugal for condenado, o Fisco poderá ser
mea
meadamente das mulheres obrigado a devolver o ISV cobrado desde 2017 a milhares de contribuintes.

12 29.08.2021 Notícias Magazine


S SÁBADO
Limite para Estudo
de Impacto Ambiental
da mina de Montalegre
Termina, neste dia, o prazo para a Luso-
recursos, concessionária de exploração
da mina do Romano, em Montalegre,
ter o Estudo de Impacto Ambiental


aprovado. Caso contrário, o Governo
pode resgatar a concessão e pedir a resci-
são do contrato. A Lusorecursos diz já ter
entregue toda a documentação na Agên-
SEXTA-FEIRA cia Portuguesa do Ambiente. Este é o Dia
Mundial da Saúde Sexual, uma efemé-
ride instituída pela Associação Mundial
para a Saúde Sexual. Ainda nesta data,
COMEÇAM A FESTA DO começam as XIV Jornadas do Núcleo
de Estudo das Doenças do Fígado,
AVANTE E A BIENAL DE em Tomar, no Hotel dos Templários.

ARTE CONTEMPORÂNEA
No mesmo dia, às 17.45 horas,
na Hungria, a seleção
nacional de futebol O contrato de
A festa do Avante regressa à Quinta defronta o Qatar, em concessão da ex-
ploração de lítio
da Atalaia, no Seixal, para a 45.ª jogo de preparação em Montalegre
edição que este ano coincide com para o Campeonato tem estado envol-
o centenário do PCP. Será o ponto do Mundo 2022. to em polémica
alto das celebrações e mantém as
regras sanitárias aplicadas em 2020.
Estende-se até domingo. No mesmo DOMINGO
dia, começa a BoCA-Biennial of
Contemporary Arts, em Lisboa, Al-
mada e Faro, que só termina a 17 de
TERMINA A 1.ª VOLTA
outubro. “Prove You Are Human”
é o desafio da 3.ª edição da bienal
A PORTUGAL FEMININA
que vai contar com mais de 40 artis- Cerca de uma centena de ciclistas termi-
tas nacionais e internacionais. Ain- nam, nesta data, uma jornada de 259,3
da nesta data, arranca a primeira quilómetros, naquela que é a primeira
edição da Caravana Literária anual Volta a Portugal feminina, com início
da candidatura da Guarda a Capital a 2 de setembro. Também nesta data,
Europeia da Cultura em 2027. Vai chegam ao fim os Jogos Paralímpicos
ser dedicada ao filósofo e ensaísta Tóquio 2020, no Japão. Ainda no
Eduardo Lourenço. desporto, acabam as 24 Horas de Barce-
lona, com a participação do piloto portu-
guês de MotoGP
NETFLIX ESTREIA A Miguel
Oliveira.
ÚLTIMA TEMPORADA
DE “LA CASA DE PAPEL”
A Netflix estreia, neste dia, a quin-
ta e última temporada da série es-
panhola “La Casa de Papel”, que
será dividida em duas partes e cu-
jas filmagens passaram por Portu-
gal. Só a 3 de dezembro é lançada
a segunda parte. No mesmo dia,
há Feira das Lambarices em Águe-
da e “Noites F Convida” em Faro.

Notícias Magazine 29.08.2021 13


SEM MEDO
DA COVID
Uns já traziam a ideia
embrulhada há muito
tempo, outros viram
a oportunidade à espreita
e agarraram-na com unhas
e dentes. Em comum,
têm a ousadia de quem faz
gato-sapato da incerteza.
Histórias de sucesso de
negócios nascidos quando
a pandemia tomava conta
do Mundo.
TEXTO Ana Tulha

14 29.08.2021 Notícias Magazine


ANDRÉ ROLO/GLOBAL IMAGENS

Francisca e Benedita
Lobão aproveitaram a
pandemia para abrir uma
mercearia de bairro, com
tudo o que gostam de ter
na despensa de casa

Notícias Magazine 29.08.2021 15


SEM MEDO DA COVID

H
á muito que Francisca Lobão, 33 da durante o verão (do ano passado), a loja que magi-
anos, levava a vida ao ritmo de uma cara apareceu em setembro.
roda-viva. No bar de tapas que Depois, foi pôr pés ao caminho, ao ritmo de um
abriu em 2016, na baixa do Porto, sprint. “Em meados de outubro começámos a planear
era uma espécie de faz-tudo. Con- tudo, em novembro assinámos o contrato de arren-
tabilidade, reservas, compras, damento, em dezembro abrimos.” Ao todo, investi-
eventos, atendimento, não havia ram 15 mil euros, dinheiro de família. E assim nasceu
nada que não passasse por ela. De- um espaço onde se pode encontrar requeijão de Gou-
pois veio a pandemia. Os confina- veia, queijo fresco da Guarda, pão de Mirandela, chás
mentos e tudo a fechar à força. A do Alentejo, bolachas Paupério, chocolates da Avia-
azáfama a fazer-se só tédio dos dias nense e da Arcádia ou mesmo frescos de uma socie-
de agenda vazia. Ela a acusar a sú- dade agrícola de Ermesinde. Mas o espaço das irmãs
bita quietude. “É muito complica- Lobão foi-se fazendo bem mais do que isso. “Sempre
do quando se trabalha demasiado quisemos que as pessoas se sentissem à vontade con-
e se pára de repente.” Soube logo que teria de arran- nosco, que pudessem contar-nos as histórias do seu
jar com que ocupar a cabeça. Agarrar-se à ideia que já dia, que também nos vissem como uma companhia.”
andava ali a marinar há muito, de abrir uma mercea- E a pandemia serviu-lhes o propósito da bandeja.
ria de bairro, surgiu, pois, como solução óbvia. “Acha- “Com o isolamento as pessoas sentiam-se muito so-
va que aqui na zona do Pinheiro Manso, onde eu vivo, zinhas. Os mais velhos diziam-nos muitas vezes que
faltava algo assim. Que tivesse produtos regionais, não iam aos grandes supermercados, mas que se sen-
coisas frescas e diferentes. Que tivesse um bocadi- tiam seguros connosco. Este sítio deu-lhes alguma
nho de tudo o que temos na nossa despensa.” A se- independência. Além de que tinham mais tempo. Po-
mente da Pasto Fino começava a germinar aí, à me- diam parar e conversar sem pressa.” Ou como a pra-
dida que Francisca ia convencendo a irmã Benedita ga de covid-19 que desatinou o Mundo as ajudou a
para se juntar a ela e espreitando os anúncios para de- criar laços com a vizinhança. “Também tínhamos
sencantar uma loja livre. Benedita convenceu-se ain- muitas mães que não podiam sair porque estavam

16 29.08.2021 Notícias Magazine


a Emanuel Cabral e Joana em casa sozinhas com os filhos e que nos pediam para ros.” Além de 14 funcionários. “Desde que abrimos
Melo, namorados, criaram fazer entregas em casa.” Pelo meio, foram crescen- que o negócio tem sido sempre em crescendo. Numa
a primeira empresa de do e diversificando a oferta: fazem cabazes (só no Na- primeira fase, a pandemia ajudou. E o facto de os res-
entregas da Guarda em tal foram mais de 200, mas também preparam caba- taurantes estarem a passar por dificuldades também,
setembro do ano passado zes semanais com frutas e legumes), têm duas fun- porque aderiram ao serviço e ajudaram-nos a divul-
cionárias, procuram adaptar-se aos desejos dos clien- gá-lo. Isso permitiu-nos cimentar o negócio. Hoje as
tes – “por exemplo, houve uma cliente que nos dis- pessoas já se habituaram, já temos muitos clientes
se que gostava de levar umas pencas e nós passámos que pedem coisas diariamente, um bocadinho de
a encomendar pencas” – e até já têm serviço de espla- tudo, mas as comidas continuam a ser o que sai mais.”
nada. Quanto ao próximo passo, também está defi- E, ao contrário do que se possa pensar, os jovens nem
nido: começar um serviço de take-away, com mar- representam a esmagadora maioria dos clientes. “A
mitas saudáveis. faixa etária dos 30 aos 60 anos também faz muitos
pedidos. Até mais do que os jovens, quer-me pare-
ENTREGAS DE VENTO EM POPA cer.” Os números atestam o sucesso. A média de en-
Aproveitar as lacunas insufladas pela pandemia foi tregas mensal da Vamos Já anda hoje entre as 2500 e
também a ideia de Emanuel Cabral, 30 anos, e Joana as 3500. Tanto que o prognóstico não podia ser mais
Melo, 26, casal de namorados que em setembro do positivo: esperam recuperar já no próximo ano o in-
ano passado criou o primeiro serviço de entregas da vestimento feito até ao momento, que já anda na or-
Guarda. “Eu já trabalhava na área e tinha noção que dem dos 50 mil euros.
era algo que estava em falta na cidade, até já tinha a Francisca Lobão e Emanuel Cabral foram dois en-
ideia há alguns anos”, explica Emanuel. Depois, a im- tre dezenas de milhares de empresários portugueses
posição de ficar em casa, o medo do vírus a complicar que arregaçaram as mangas e abriram portas em 2020,
as compras, a pandemia a acelerar-lhes o desejo anti- o primeiro ano da pandemia, o mais incerto também.
go. O sonho ganhou forma a 14 de setembro. Ema- Ao todo, segundo dados da empresa Informa D&B,
nuel tem a data na ponta da língua. “A ideia foi criar cuja base de dados abrange mais de 1,7 milhões de em-
uma empresa com bastante diversidade a nível de en- presas, houve 37 558 novos negócios a surgir no ano
tregas ao domicílio.” Desde os produtos – sejam os passado. O número soa generoso, mas a comparação
alimentos, os medicamentos, as botijas de gás – aos com o ano anterior trata de desfazer o equívoco: em
serviços, como limpezas ao domicílio, baby-sitting, relação a 2019, houve uma quebra de 24%. E é preci-
massagens. “E também temos um serviço de entre- so recuar até 2016 para encontrar um ano com um va-
MIGUEL PEREIRA DA SILVA/GLOBAL IMAGENS

q Pedro Barbosa, gas-surpresa, que é muito requisitado.” Isto em toda lor tão baixo. Os setores do alojamento, da restaura-
CEO de uma empresa a cidade da Guarda e nas aldeias dos arredores. ção, dos transportes e dos serviços gerais foram aque-
de tecnologia e marketing A princípio, confessa, não se livraram do medo. Tan- les em que se agudizaram os recuos percentuais. Já o
digital, abriu, no último to mais tratando-se de um investimento considerá- retalho conta uma história distinta. O setor passou a
ano, dois novos negócios: vel feito em tempos de areias movediças. Passo a pas- ser o terceiro maior em número de constituições,
um de big data e um so, pois. “Quando abrimos só tínhamos uma mota e muito graças às empresas de retalho online, onde as
de criação de sites uma carrinha. E trabalhávamos a partir de casa. Hoje, novas empresas subiram quase 50% em relação ao
de e-commerce já temos um escritório físico, seis motas e três car- ano de 2019.

REAGIR EM TEMPO RECORDE


IGOR MARTINS/GLOBAL IMAGENS

Foi precisamente por perceber a explosão do e-


-commerce e da área digital que Pedro Barbosa, fun-
dador e CEO da Wise Pirates, empresa de tecnologia
e marketing digital fundada em 2017, se aventurou,
no ano passado, em dois novos negócios. “O digital
já antes era, na teoria, a coisa mais importante. Mas
só passou a ser, na prática, primeira prioridade duran-
te a pandemia. As operações pararam ou reduziram
e as administrações das empresas tiveram mais tem-
po para se focar nisso. Só para lhe dar um exemplo,
um CEO de uma empresa com quem trabalhamos pe-
diu-nos para reunir duas vezes por semana para fa-
zermos coaching direto de digital acelerado. Ou seja,
para perceber tudo o que era possível fazer no digital
e acelerar essa transição.”
Pedro era, por isso, o homem certo no lugar certo.
Mas não, não foi tudo um mar de rosas. “Sofremos
no início. Perdemos clientes, outros deixaram de
pagar. Tivemos uma pequena crise de liquidez. Con-
seguimos pagar salários, mas foi difícil.” O segredo,
defende, foi saber reagir à velocidade da luz. “Quan-
do fomos para casa, a 12 de março, toda a equipa se
comprometeu a trabalhar o fim de semana todo,
para preparar uma nova estratégia para os clientes,
adaptada à nova realidade, em apenas quatro dias.”
A resposta pronta deu frutos. Não só porque o ne-

Notícias Magazine 29.08.2021 17


SEM MEDO DA COVID

gócio que já tinha começou a crescer a 200% ao ano, garante o responsável), deverá fechar o ano com um tendência de recuperação vivida no primeiro semes-
mas também porque a torrente de solicitações que volume de negócios na ordem dos 300 mil euros. E a tre deste ano. A 4 de janeiro, abriu um clube de padel
lhes iam chegando motivou a criação de dois novos empresa só não triplica o número de funcionários na cidade em que vive. Mas perceber os contornos do
negócios. (sete) porque, assegura Pedro Barbosa, não há mão investimento que fez implica recuar uns quantos
“Começámos a perceber que havia duas áreas com de obra disponível. “Há mais ou menos um mês que anos. Formado em Educação Física e Desporto, com
potencial para um projeto próprio. Uma relacionada temos todo o projeto de crescimento em standby por- mestrado na área do Alto Rendimento, ainda foi trei-
com a criação de sites de e-commerce e outra ligada que não temos gente para aceitar mais orçamentos.” nador de futebol na formação do Feirense, mas de-
à ‘big data’.” Ou seja, um projeto de digital analytics. Por causa disso, o portuense até já tem mais um pro- pressa enveredou pela organização de eventos e se
Para os menos entendidos, Pedro Barbosa traduz em jeto na algibeira: em outubro, conta lançar a Wit Aca- fez DJ. Foi nesse contexto de uma relação estreita
exemplos mais práticos. “Fazemos estimativas em demy, para dar formação na área do digital. com o mundo da noite e das discotecas que, há seis
relação às vendas, identificamos os clientes de acor- Os números comprovam a recuperação que se vai anos, lhe surgiu a primeira oportunidade de negócio:
do com determinados grupos-tipo, entre outras coi- sentindo no tecido empresarial português. No pri- propuseram-lhe adquirir 50% da Cool Disco. Ele ati-
sas. Por exemplo, no Natal passado, fizemos para uma meiro semestre deste ano, e ainda segundo dados da rou-se de cabeça. Como não tinha dinheiro em cai-
grande marca portuguesa um estudo que estimava, Informa D&B, foram criadas 24 312 empresas, o que xa, e os pais não tinham meios de o ajudar, pediu um
através do número de pessoas em loja e no centro co- se traduz num crescimento de 13,1% face a igual pe- empréstimo. Um ano depois, com os capitais que foi
mercial, qual seria a loja mais segura para as pessoas ríodo do ano passado. A consultora destaca que “o em- acumulando ao longo desses meses, novo investi-
se dirigirem.” Eis uma parte do trabalho feito pela In- preendedorismo mostra capacidade de adaptação, mento. Tornou-se então sócio maioritário de outra
ner Data, que deverá chegar ao final do primeiro ano com alguns subsetores a ultrapassar mesmo os valo- discoteca da terra, a Forever Club. Tudo corria sobre
com três funcionários e 100 mil euros em volume de res de 2019”. É o caso das atividades imobiliárias, do rodas quando em março de 2020 o vírus lhe fechou à
negócios. retalho e dos transportes. força os dois negócios.
Já no caso da Shopping Builders, a tal empresa que Ele deixou-se ficar uns meses em standby. Apro-
se dedica à criação de sites de e-commerce, o sucesso TROCAR A NOITE PELO PADEL veitou o tempo – que antes nunca existiu – para jo-
é ainda mais evidente. Criada em junho de 2020 (“Fo- Bruno Coelho, 29 anos, residente em Santa Maria da gar padel. E do hobbie se fez uma nova oportunida-
mos os mais rápidos do mercado a reagir à procura”, Feira, é um desses empreendedores que dão corpo à de. “Nessa altura, tive de tomar uma decisão: ou iria
TONY DIAS/GLOBAL IMAGENS

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RITA CHANTRE/GLOBAL IMAGENS
M Diogo Borges e Frede- trabalhar para alguém ou abria um negócio meu.” planos que tinha se precipitaram em queda livre. Ha-
rico Neves, primos e flexi- Decidiu-se pela segunda hipótese. “Como vi que o veria um final feliz ao dobrar da esquina, ainda assim.
tarianos, abriram no início padel já estava a ser um sucesso noutras cidades, de- Primeiro, o confinamento. E eles preocupados com
do ano o primeiro talho cidi juntar-me ao meu melhor amigo, que está liga- a linha. “O meu primo sempre comeu muito bem, eu
veggie em Portugal. do à área da construção, para abrir um clube de pa- nem tanto. Mas nessa altura também comecei a ter
Agora, já pensam em abrir del.” Em agosto do ano passado, puseram mãos à mais cuidado.” Tornaram-se flexitarianos – só comem
uma segunda loja. E até obra. Definir o projeto, pedir orçamentos, ver pavi- carne ou peixe ocasionalmente – e começaram a apos-
uma minifábrica lhões, fazer um estudo que lhes permitisse aferir a tar tudo na preparação de comida vegetariana, pri-
viabilidade do projeto, encontrar um diretor técni- meiro para eles, depois para os amigos, mais tarde
co. Foi durante esse processo que de dois passaram para vender. O clique soou alto quando, numa janta-
a quatro sócios. Poucos meses depois, a 4 de janeiro, rada, conheceram um chef que lhes apresentou uma
abria o Padel Plus, fruto de um investimento a ron- variedade imensa de pratos vegetarianos. “Aí perce-
dar os 200 mil euros. bemos o que era realmente bom.” Logo souberam
Os primeiros tempos não foram fáceis. Entre mea- que haveriam de fazer daquilo vida. E fizeram. Em ja-
dos de janeiro e abril, com a imposição de um novo neiro deste ano, após um investimento na ordem dos
confinamento, estiveram fechados. Depois, reabri- 60 mil euros, abria na Parede (Cascais) o Asoka Veggie
ram, mas tinham de fechar às 21 horas. “E o horário Market. “Foi a primeira loja de Portugal a abrir fisica-
de pico é entre as 18 e as 23 horas, por isso ainda per- mente com este tipo de negócio, o primeiro talho
díamos muita gente.” Nada que lhes tenha levado o veggie.”
fôlego. “Felizmente, o clube está a trabalhar muito Por lá se encontra um pouco de tudo o que costu-
bem. Acima das nossas expectativas.” São em média ma ter carne... mas sem carne. “Hambúrgueres, al-
900 jogos por mês. E até já têm quatro funcionários môndegas, rolo de carne vegetal, beet wellington,
fixos. Sinais que os levam a acreditar que algures em que é uma espécie de bife wellington mas sem car-
janeiro de 2023 será possível recuperar todo o inves- ne, empadão, lasanha.” Também há doces. E molhos.
timento feito. E que já os fazem pensar na expansão. Para levar ou encomendar pela net. Também ven-
“Estamos em negociações para abrir um novo Padel dem a supermercados e restaurantes. Juntando tudo,
Plus noutra cidade.” Tudo por culpa... da pandemia. o balanço dá para saciar. “Estamos a vender em mé-
“Foi o que me levou a sair da roda onde eu estava e dia cinco mil hambúrgueres por mês. Tem sido sem-
que me ajudou a abrir horizontes. Senão provavel- pre a subir, todos os meses um bocadinho. Achei que
mente não o teria feito. Foi simultaneamente uma estes meses de verão, por causa das férias, seriam os
necessidade e uma oportunidade.” piores do ano e não. Já começamos a ter pedidos do
a Bruno Coelho, proprie- país todo.” E a ambição a crescer com eles. “Neste
tário de duas discotecas O PRIMEIRO TALHO VEGGIE momento temos seis funcionários e estamos a pen-
em Santa Maria da Feira, A premissa é comum às histórias que aqui lhe conta- sar abrir outra loja com o mesmo conceito e uma mi-
viu a covid-19 deixar-lhe mos. A dos primos Diogo Borges, 34 anos, e Frederi- nifábrica”, exulta Diogo, sem esquecer os trágicos
a vida profissional em co Neves, 35, não é exceção. Diogo já era empresário, prognósticos que chegaram a ouvir quando anun-
suspenso, mas não se mas os negócios que tinha, nas áreas dos eventos e ciaram que se preparavam para lançar o talho em ple-
ficou. Em janeiro, abriu, do turismo, ficaram emperrados. Frederico tinha aca- na pandemia. “Disseram-nos que éramos loucos.”
com mais três sócios, bado de tirar o curso de piloto e preparava-se para co- Ou a prova de que a alma do negócio é bem mais do
um clube de padel meçar a trabalhar quando a covid bateu à porta e os que o segredo. ● m

Notícias Magazine 29.08.2021 19


20 29.08.2021 Notícias Magazine
As mentes
brilhantes difíceis
de descobrir
Quando a inteligência sobressai e as capacidades
ultrapassam a idade, o desafio agiganta-se. Para pais,
professores, amigos. Não há respostas que cheguem para
tanta fome de saber. E a escola é muitas vezes pouco
no mundo das crianças sobredotadas, que se pinta
de todas as cores – da música à ciência, das artes
ao desporto. E que há muito deixou de morar
na imagem afunilada de pequenos Einstein.

TEXTO
Catarina Silva

Notícias Magazine 29.08.2021 21


AS MENTES BRILHANTES DIFÍCEIS DE DESCOBRIR

A
s dezenas de caracóis no cabelo escuro que nem
carvão pendem para cima do telescópio que
guarda no quarto para espreitar a Lua. Vestiu-se
a rigor, camisa e laço, para mostrar tudo o que
sabe sobre o sistema solar, a paixão assolapada
de Marco António. “Foi nos livros que aprendi
tudo o que sei. Sou muito curioso e peço à minha
mãe para mos comprar.” Uma prateleira inteira,
numa estante encostada à parede laranja da casa
em Águas Santas, na Maia, com autênticas en-
ciclopédias, da história às ciências, é o retrato
fiel de uma criança que não consegue acalmar a
ânsia de saber mais e mais. “Quando descubro
um tema novo, pesquiso sobre ele até saber tu-
dinho.” Esmiúça ao mais ínfimo pormenor. Não é de admirar que
já queira acelerar o tempo para poder vir a cumprir o sonho de ser
cientista.
Entre as experiências com o microscópio, o esqueleto para ex-
plorar a anatomia humana, o nome de todas as células sanguíneas
na ponta da língua, as preocupações com a poluição atmosférica,
com os oceanos e com a desflorestação, difícil é adivinhar-lhe a
idade. Marco tem nove anos e já pensa ser ativista com receios de
um Planeta em contagem decrescente que poderá não sobreviver.
Num diário, vai escrevendo as preocupações de um miúdo sobre-
dotado. E para um primeiro filho – agora tem um irmão de seis –,
sem termo de comparação, a mãe Marta Vieira sabe bem o que pas-
sou até lhe descobrir o talento. Faz “rewind” no filme da vida. Aos
seis meses, Marco disse as primeiras palavras, aos três anos come-
çou a ler, sozinho. Um ano depois, não era capaz de identificar o
frigorífico em casa, mas já sabia tudo sobre planetas. Para o parque
infantil, Marco levava livros, kits de ciência, brincadeiras sobre o
sistema imunitário. Baloiços, saltar à corda, jogar à bola não entra-
vam num mundo que parecia só pertencer a ele.
“Além da socialização, ele tem dificuldades em fazer amigos, M Em casa, Marco Muitos casos por identificar
porque nenhuma criança se interessa por aquilo de que ele fala”, António guarda um Estima-se que 3 a 5% das crianças que frequentam a escola sejam
conta a mãe, que descobriu Helena Serra, especialista em educa- telescópio, um sobredotadas. A maioria está por identificar. “Tanto há rapazes
ção especial e sobredotação, quando chegou a um beco sem saí- microscópio e um como raparigas. Mas os casos que me chegam são 90% rapazes e
da. Marco entrou na escola já sinalizado. “Não foi fácil. Ele julga- esqueleto para explorar 10% raparigas. Porque há aquele estereótipo dos pais em relação
va que ia aprender, e começaram a ensinar as vogais. Ele dizia-me aos filhos de que, quando as meninas são muito boas alunas, é nor-
que tinha ido para a escola dos bebés”, lembra a mãe. O caminho mal.” Ana Serra, psicóloga, cresceu com um irmão sobredotado, foi
pela sala de aula foi melhorando. Para um miúdo que gosta de fa- isso que lhe espicaçou a curiosidade de quem sabe que alunos mal
lar sobre a Guerra Fria e que até sabe o hino da Rússia de cor, a mãe integrados, malcomportados ou desmotivados pode ser sinal de in-
tenta à força toda que não desmotive, alimenta-lhe a curiosida- teligência acima da média. “Muitas vezes, estas crianças acham
de infinita. inútil ir à escola.” Para ser considerada uma criança sobredotada,
Compra-lhe livros, material científico, vai a encontros de astró- tem que se destacar face ao seu grupo etário, ter um nível de exce-
nomos. Marco vai entrar, agora, no 5.º ano. No Ensino Primário, os lência numa ou em várias áreas. E é algo inato. Não é a criança a
pais não queimaram etapas. Mas saltar um ano já começa a entrar quem os pais ensinaram o abecedário aos quatro anos. É, por exem-
no radar. “Agora, com muitos professores, tenho receio que algum plo e tal como Marco, quem aprende a ler sem nunca lhe ter sido
não seja tão disponível. Estas crianças conseguem ser muito can- ensinado. Mas a sobredotação pinta-se de tantas cores. Tanto pode
sativas, levam uma pessoa ao limite, desafiam o professor, sei que existir em múltiplas áreas, como apenas em História, Matemática
não é fácil.” E mesmo para os pais que não têm respostas para tan- ou no desporto. Não há um perfil único. “O Cristiano Ronaldo é
ta fome de saber, o trabalho é gigante. “Talvez só lhe tenha ensina- uma pessoa sobredotada”, exemplifica Ana.
do as regras sociais, aprendo muito com o Marco”, confessa Marta. “Há crianças com grande inteligência linguística, muito bem-fa-

22 29.08.2021 Notícias Magazine


LEONEL DE CASTRO/GLOBAL IMAGENS
rem as áreas das quais a criança foge a sete pés. “Não pode haver
uma grande dessincronia. Ser muito bom em astronomia e depois
não ser capaz de desenvolver uma amizade. Nós somos um todo”,
refere a psicóloga educacional.

Associação quer programas públicos


Foi exatamente por isso – e porque há casos de automutilação, sui-
cídio, consumos em miúdos incompreendidos – que a Associação
Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS) criou o Projeto In-
vestir na Capacidade (PIC) que, a custo e com muito trabalho, co-
meçou a entrar em algumas escolas em 2010. Os agrupamentos de
Vila Nova de Gaia, através da Câmara, foram os primeiros a abrir a
porta a um projeto que, desde então, já chegou a Nelas, Leiria, Lis-
boa, Pedrouços e Oeiras. A APCS deu formação a professores, pais,
psicólogos, monitores voluntários, para identificarem estas crian-
ças nas suas escolas e levarem a cabo o projeto. Até agora, o PIC já
envolveu 1500 crianças.
São atividades fora da caixa, uma vez por semana, que dão respos-
ta ao mundo sem-fim de curiosidade destas crianças, das áreas em
que são fortes àquelas em que são mais fracas. Desde experiências
em laboratório, robótica, música, teatro, pintura, esgrima. E, nes-
te espaço, encontram crianças como elas, para perceberem que não
estão sozinhas, e que até há alunos melhores e mais rápidos. “Per-
cebem que têm que dar a vez a outros, lidam com a frustração. E tra-
balham competências em grupo”, diz Marcela Pinho, vice-presi-
dente da associação. Mas a APCS bate-se para estender estes recur-
sos a todo o ensino público. “O nosso trabalho é fazer com que não
desmotivem da escola. Gostávamos que houvesse um maior com-
prometimento do Ministério da Educação, para garantir o acesso a
todas estas crianças”, explica a também professora de Filosofia, que
reconhece que falta formação de base nesta área e que a maioria das
escolas não está preparada.
Ainda no último ano letivo, Marcela, especializada em educação
lantes, que escrevem e leem muito bem. Como há crianças com al- especial, encontrou uma aluna sobredotada numa turma do 12.º
tas capacidades interpessoais, que são líderes natos e muito sociá- ano. E, aqui, a sensibilidade dos docentes também entra. “Foi um
veis. Há aquelas que se destacam na inteligência motora, como os desafio enorme. Tinha que abordar o tema para a generalidade da
atletas, e outras com grande capacidade lógico-matemática e pés- turma, fazer diferenciação pedagógica para os que têm mais difi-
simas na motricidade. Um sobredotado não é bom a tudo.” A ima- culdades e depois para ela, que já sabia o programa de trás para a
gem de um pequeno Einstein há muito que deixou de ter adesão à frente.” Teve de ir além do manual, levou-lhe livros de grandes fi-
realidade. O mito é difícil de desconstruir, só que no mundo da so- lósofos que a aluna leu de fio a pavio, artigos de jornais, tudo para
bredotação não há fórmulas, daí ser tão difícil identificar. Entre pais não tornar os 90 minutos enfadonhos. A diferenciação pedagógi-
e professores, os casos vão-lhe chegando. Os psicólogos ainda se fa- ca está prevista na lei, mas nem sempre entra em jogo.
zem valer dos testes de inteligência tradicionais, para avaliar a ida- A política educativa e modelos de ação inovadores vão estar em
de mental ou o QI. “Mas já estamos a caminhar para as inteligên- debate, de terça a quinta-feira, na 17.ª Conferência do Conselho
cias múltiplas, porque uma criança sobredotada não tem de ter ne- Europeu para a Alta Capacidade e Sobredotação, que, este ano, é or-
cessariamente um QI acima de 130. Pode ser sobredotada na músi- ganizada pela APCS. Uma candidatura portuguesa feliz que a pan-
ca e no desenho. Temos de ir através da observação.” demia empurrou para o modo online, mas que, mesmo assim, terá
Segundo a lei portuguesa, nestes casos, é possível avançar dois mais de 300 especialistas, incluindo o autor da teoria das inteligên-
anos em todo o percurso escolar, um ano no 1.º Ciclo e outro nos 2.º cias múltiplas, Howard Gardner.
ou 3.º Ciclos. Algo que traz riscos associados. Mesmo tendo capaci-
dades acima da média, nem sempre há maturidade emocional para O miúdo que quer ser jogador de futebol
o salto. No entretanto, para pais e educadores, o desafio é serem ca- Os pais de Gaspar Maganinho sabem bem o que é remar contra um
pazes de alimentar as áreas fortes e, ao mesmo tempo, estimula- ensino que, tantas vezes, deixa crianças sobredotadas à margem.

Notícias Magazine 29.08.2021 23


AS MENTES BRILHANTES DIFÍCEIS DE DESCOBRIR

Gaspar tem 12 anos, já está com um pé no 7.º ano, sonha ser jogador
de futebol. “Competitivo é o primeiro nome dele. Precipita-se, quer
ser o mais rápido, faz tudo a correr”, atira a mãe, Cláudia Queirós.
Depois de uma professora primária sensível, a ir além do programa
para manter o miúdo de Sanguedo, Santa Maria da Feira, com a ca-
beça na sala, no 5.º ano os pais bateram num muro que nunca ha-
veria de cair. “Os professores nunca quiseram perceber, o diretor
da escola ignorou os relatórios de três psicólogos, o Gaspar chegou
a ser proibido de intervir nas aulas, porque sabia as respostas”, re-
lata a mãe.
Para uma criança que gosta de mostrar o que sabe, com um racio-
cínio três anos à frente da idade, que quer ser protagonista de uma
história a que perdeu o leme, o desencanto foi tal que o desgaste
dos pais numa luta inglória os levou a tomar a dura decisão: mudar
de escola para um colégio privado no 6.º ano. Um esforço financei-
ro e emocional pesado, que compensou. “Da mesma forma que há
necessidades educativas especiais no sentido da incapacidade, tam-
bém há crianças com estas necessidades mas no sentido da alta ca-
pacidade. E a maior parte dos professores não procura responder a
isto, porque dá muito trabalho”, desabafa a mãe.
Para desfiar este novelo temos de voltar atrás na história do miú-
do que salta à vista nas artes, no raciocínio, nas ciências e no des-
porto. Que joga futebol, na Escola de Futebol Benfica de Gaia, e faz
natação. “Ele estava na escola primária em Gaia e fizeram um ques-
tionário a todas as turmas. Identificaram aí as capacidades dele”,
revela o pai, Hugo Maganinho. Começou a frequentar um PIC aos
sábados. De peixe fora de água, que sempre se sentiu diferente, en-
controu o seu mundo. Os pais já suspeitavam, Gaspar era muito au-
tónomo para a idade. Gosta de desenhar e de ver National Geo-
graphic. “Se ele tem um amigo com quem se identifica verdadei-
ramente? Não”, responde a mãe. E Gaspar desmotiva quando tudo
lhe parece fácil. Dá um jeito nos óculos e interrompe os pais para
tomar as rédeas ao discurso: “Não me desmotivo, sei algumas coi-
sas mas não sei tudo. Vou às aulas para aprender mais ainda.”
Na pauta, tudo 5 e um 4 a Matemática. Não por não saber, faz con-
tas de cabeça num despacho, antes porque responde só com o re-
sultado e esquece-se de explicar o raciocínio. Na correria dos dias,
passa a vida em competições com a irmã Guiomar, de oito anos,
também ela sobredotada. Ainda assim, traz a humildade de quem
tem pais que o puxam à terra. “Eu sou melhor numas coisas e ela
noutras.” mais do que dar aulas. Faz parte de mim.” M Gaspar Maganinho
Quando a inteligência sobressai, se as crianças não forem esti- e a irmã, Guiomar,
A paixão eterna de um professor muladas, Arsénio, que sempre esteve ligado ao desporto adapta- são ambos sobredotados
Se há docentes ainda pouco sensíveis e preparados neste campo, do, já adivinha. Das duas uma, ou desmotivam ou passam a per- e os pais já travaram
outros há que abraçam os alunos com a entrega que nem a campai- turbar a aula a todo o minuto. Tem dois filhos, sabe bem que não uma luta com a escola
nha para a saída trava. Arsénio Barros já leva 21 anos a dar aulas. É há manuais de instruções, mas vai tentando. “Tive o caso de um
professor de Educação Física. “Tenho encontrado alunos com ca- aluno com grande capacidade, rápido a responder, mas que não
pacidades acima da média e a maior dificuldade é conseguir esti- gostava de Educação Física, com fracas capacidades motoras. Tive
mulá-los, são alunos que precisam de mais. Que precisam de ser de mudar a minha abordagem e não é fácil. Tentei valorizá-lo de
muito acompanhados pelos pais, professores, pares.” A experiên- outra forma, com apresentações sobre a modalidade, questões de
cia que teve, no arranque da carreira, a trabalhar na área da educa- arbitragem. O segredo é não os minimizar, mas também não lhes
ção especial durante três anos deu-lhe ferramentas que guardou tirar responsabilidade.”
para a vida. “Os alunos ensinam-nos muito, ser professor é muito Talvez por ser tão apaixonado, o PIC que funciona em Pedrou-

24 29.08.2021 Notícias Magazine


CARLOS VIDIGAL JR/GLOBAL IMAGENS

a Afonso Rocha é capaz

TONY DIAS/GLOBAL IMAGENS


de passar dias inteiros a
estudar e o pai teme que
esteja a perder o melhor
da adolescência

ços, na Maia, lhe tenha caído no colo, qual presente. “É uma gota “O Afonso sempre demonstrou um interesse e uma atenção ex-
de água num oceano de alunos com estas capacidades. Mas acaba tra nas aulas”, recorda o pai. Na primária, a professora via-se obri-
por colmatar um bocadinho esta diferença que eles sentem e tirá- gada a dar-lhe exercícios extra para o entreter enquanto os outros
-los da zona de conforto. Aqueles que são muito bons a Matemá- alunos acabavam os primeiros. Afonso era rápido. Sérgio Rocha ti-
tica brilham em atividades de enigmas, mas já não são tão bons na nha noção, via o quão diferente ele era do irmão mais velho, mas
hora de dar uma cambalhota.” Este ano, Arsénio foi colocado nou- só quando o filho fez testes de inteligência teve a certeza. O ado-
tra escola, em Valongo, mas promete não largar o PIC de Pedrou- lescente sabe que os outros alunos o acham melhor. Pesquisa ma-
ços. “Não sou capaz. Não há ano que não me sinta surpreendido e térias avançadas de Matemática ainda antes de lá chegar. Afonso
é isso que me entusiasma.” tem pressa. Quando se interessa por alguma coisa, é na Internet
que encontra respostas ao mar sem-fim de perguntas. E aquela que
Os vintes na pauta paira agora é o que fará com a sua capacidade acima da média no fu-
O que entusiasma Afonso é pôr os olhos na pauta. Tudo vinte, ex- turo. Medicina, Direito, Engenharia Aeroespacial, Engenharia In-
ceto um 19 a Educação Física. “Mas ninguém conseguiu 20”, diz formática, ainda está baralhado, gosta de tanta coisa.
ele na urgência de se justificar. Está em Nelas, Viseu, anda às vol- É perfeccionista, picuinhas. “Os trabalhos faz a 110%. Às vezes
tas no quarto, de um lado para o outro, de livro na mão, para mos- grava peças de teatro e é capaz de filmar dezenas de vezes até ficar
trar o segredo. Estuda e estuda e estuda. Até à exaustão. Numa re- perfeito. Ou desenhar o mesmo vezes sem conta”, salienta o pai,
siliência fora do normal. Vai entrar no 11.º ano, tem 16 anos. “Não que só tem pena que o filho, de tão focado, esteja a perder o melhor
tenho necessidade de estudar em casa, mas fico mais confortável da adolescência. “É tão obsessivo com o estudo que, durante o tem-
sabendo que estudei muito”, admite Afonso. A partir de setembro, po de escola, não joga, não sai com amigos, só estuda.” Uma coisa é
larga os jogos no computador e tudo o resto, por iniciativa própria. certa, “atinge o inatingível, vai sempre além”. ●m

Notícias Magazine 29.08.2021 25


26
ILUSTRAÇÃO: MG/NOTÍCIAS MAGAZINE

29.08.2021 Notícias Magazine


No ano em que
se comemoram
os 200 anos sobre
a primeira Lei de
Imprensa e foi
aprovada a Carta
Portuguesa de
Direitos Humanos
na Era Digital,
especialistas e
profissionais do
setor garantem
que continua a
ser necessário
estar atento aos
constrangimentos,
limitações e ameaças
à liberdade que o
jornalismo enfrenta.
TEXTO Sofia Teixeira

Notícias Magazine 29.08.2021 27


QUE DESAFIOS ENFRENTA A LIBERDADE DOS MEDIA?

A
primeira Lei de Imprensa data de 1821,
mas uma parte significativa destes 200
as declarações sem perguntas. São muito convenien-
tes para quem gere a informação, mas o jornalista não NO ÍNDICE
anos foram passados sem verdadeira au- ter hipótese de questionar é perigoso.” MUNDIAL DA
todeterminação e independência dos
UM ATAQUE TAMBÉM ONLINE LIBERDADE DE
meios de comunicação social. Os últimos
47 anos são, na verdade, o mais longo pe- Nem todos os ataques à liberdade informativa são fí- IMPRENSA 2021,
ríodo de liberdade de imprensa – o que sicos e, hoje, os mais frequentes, acontecem em pla- ELABORADO PELOS
lembra que os direitos, mesmo depois de taformas online. Na hostilidade para com os meios REPÓRTERES SEM
conquistados, nem sempre são manti-
dos. Preservá-los exige vigilância.
de comunicação e seus profissionais no ambiente vir-
tual, concorrem três grupos distintos, refere Luís An- FRONTEIRAS,
Muitas das atuais ameaças à liberdade são externas tónio Santos, ex-jornalista e Professor de Ciências da PORTUGAL É O
ao setor. De acordo com o relatório da Plataforma para Comunicação na Universidade do Minho, onde é di- 9.º PAÍS MAIS BEM
a Proteção do Jornalismo e Segurança dos Jornalistas,
divulgado em abril de 2021, nos 47 países do Conse-
retor-adjunto do Centro de Estudos de Comunica-
ção e Sociedade. “Há grupos que são hostis porque CLASSIFICADO,
lho da Europa, houve 201 casos graves de ameaça à li- têm dificuldade em lidar com leituras que lhes são SUBINDO UMA
berdade de informação, um aumento de 40% em re- adversas, seja em termos políticos, desportivos ou POSIÇÃO EM
lação ao ano anterior. As queixas mais graves são de
ataques à integridade física (24%), assédio e intimi-
outros, e há um segundo tipo de hostilidade que é fo-
mentado por estratégias políticas que visam a des- RELAÇÃO A 2020.
dação (24%) e detenção de jornalistas (16%). O docu- credibilização dos pilares da sociedade, como o apa-
mento refere também constrangimentos criados pelo relho de justiça, os políticos, o conhecimento cien- SEGUNDO A EDIÇÃO
Estado a meios de comunicação social independen-
tes, assédio judicial, pressão política e vigilância de
tífico e o jornalismo.” O docente lembra, a esse pro-
pósito, que a expressão fake news, foi popularizada DESTE ANO DO
jornalistas. por Donald Trump, como forma descredibilizar no- “REUTERS DIGITAL
Em Portugal, a hostilidade contra os profissionais tícias verdadeiras que lhe eram desfavoráveis. NEWS REPORT”,
de informação é uma das preocupações do Sindica-
to dos Jornalistas (SJ). A propósito de uma manifes-
No entanto, é o terceiro grupo, maioritário, que
preocupa o investigador: pessoas que não leem jor- 61% DOS
tação antivacinas convocada para junto da delega- nais, que veem um pouco de televisão e ouvem um PORTUGUESES
ção da RTP em Vila Nova de Gaia, a 19 de agosto, o SJ pouco de rádio, mas que se “informam” sobretudo CONFIAM EM
enviou uma carta ao ministro da Administração In-
terna, ao superintendente-chefe da Polícia de Segu-
pelos fluxos de informação que o algoritmo lhes apre-
senta nas redes sociais. “São pessoas que se sentem NOTÍCIAS DADAS
rança Pública e ao comandante-geral da Guarda Na- fragilizadas em questões essenciais como o empre- POR ÓRGÃOS DE
cional Republicana, em que se manifestou preocu- go, a saúde, o futuro dos filhos e, como o jornalismo COMUNICAÇÃO
pado com “o crescendo de violência” contra os pro-
fissionais de informação. “Este aumento da agressi-
não dá resposta às suas inquietações, vão procurá-la
noutro lugar.” SOCIAL, UMA
vidade durante as manifestações intensificou-se du- Infelizmente, não precisam de procurar muito SUBIDA EM
rante a pandemia. Algumas franjas, como o movi- porque a rede está montada para lhes fazer chegar a RELAÇÃO AOS 55%
mento antivacinas, vê os jornalistas como inimigos
da verdade”, diz o presidente do SJ, o jornalista Luís
desinformação que lhes alimenta mais a raiva e o
descontentamento. O jornalista Paulo Pena, que tem DO ANO ANTERIOR.
Filipe Simões. investigado a desinformação, mostra no seu livro
Mas este não foi o único problema que a pandemia “Fábrica de mentiras: viagem ao mundo das fake
agravou. O teletrabalho, muitas vezes imposto, trou- news” como o fenómeno já está instalado em Por-
xe também restrições à liberdade dos profissionais. tugal: à data da publicação do livro, em 2019, eram
“As redações, que já estavam emagrecidas, tornaram- 40 os sites de desinformação a atuar no país, usando
-se sítios vazios, onde não há massa crítica nem tro- mecanismos sofisticados como os bots – soluções in-
ca de ideias.” Por fim, o dirigente sindical menciona formáticas automatizadas para fazer disseminação
ainda obstáculos no acesso à informação. “Tornou- através de perfis falsos e a criação de páginas e gru-
-se habitual o jornalista não estar presente por causa pos no Facebook –, tendo um alcance mínimo de 2,5
das contingências da pandemia”, realça, e isso criou milhões de portugueses.
uma barreira no acesso às fontes. “Multiplicaram-se O polémico artigo 6.º da Carta Portuguesa de Di-

28 29.08.2021 Notícias Magazine


reitos Humanos na Era Digital, publicada a 17 de dade de Letras da Universidade do Porto, que tem BICENTENÁRIO
maio, pretende dar resposta a esse problema gigan- desenvolvido investigação nos campos da análise de
N O PA R L A M E N T O ,
te. Estabelece o direito à proteção contra a desinfor-
mação e define que “o Estado assegura o cumpri-
conteúdo de jornalismo, História do Jornalismo e
Estudos de Media, acredita que uma das maiores EM SELOS E NUMA
mento em Portugal do Plano Europeu de Ação con- ameaças à liberdade de imprensa é o desinvestimen- E X P O S I Ç Ã O D O C U M E N TA L
tra a Desinformação, por forma a proteger a socie- to das empresas nas redações e nos trabalhadores.
dade contra pessoas singulares ou coletivas, de jure “A redução das redações e a consequente dependên- A lei de 12 julho de 1821, promul-
ou de facto, que produzam, reproduzam ou difun- cia das fontes oficiais, com dinâmicas burocratiza- gada por D. João VI e publicada
dam narrativa considerada desinformação”. A gran- das, leva a pouca multiplicidade em termos infor- no dia 25 de julho no Jornal Ofi-
de polémica está no facto de o ponto seis do artigo mativos: o que lemos, ouvimos e vemos num sítio é cial, introduziu a liberdade de
estabelecer que “o Estado apoia a criação de estru- o mesmo que lemos, ouvimos e vemos nos outros. “imprimir, publicar, comprar e
turas de verificação de factos por órgãos de comuni- E isso faz com que as pessoas criem alguma indife- vender nos estados portugueses
cação social devidamente registados e incentiva a rença em relação ao conteúdo jornalístico”, alerta. quaisquer livros ou escritos sem
atribuição de selos de qualidade por entidades fide- Helena Lima sente-se particularmente preocupa- prévia censura”, mas previa
dignas dotadas do estatuto de utilidade pública”. da ao olhar para os mais jovens: a geração que lê no- também quatro tipos de abuso:
Alguns têm apontado para esta formulação como tícias parece estar em vias de extinção. “Isto tem contra a religião católica, contra
uma nova forma de censura. Luís Filipe Simões não também que ver com as dinâmicas da sociedade e o Estado, contra os “bons costu-
vai tão longe, mas tem dúvidas quanto à sua consti- com a educação, mas o certo é que em turmas de 100 mes” e “contra os particulares”,
tucionalidade, frisando que o SJ alertou desde o iní- alunos – no Ensino Superior e na área da comunica- abusos que, todos eles, implica-
cio para a provável inconstitucionalidade do docu- ção – tenho no máximo dez que estão habituados a vam a apreensão de todos
mento. “A decisão do presidente da República, que ler notícias”, exemplifica. os exemplares do título em
pediu agora ao Tribunal Constitucional a fiscaliza- Assim, o problema tornou-se circular: redações pe- causa, multas e, em alguns
ção sucessiva do artigo 6.º, confirma dúvidas que o quenas e jornalistas com condições de trabalho pre- casos, penas de prisão que
SJ sempre teve”, defende o líder sindical. cárias têm mais dificuldade em produzir informa- podiam atingir os cinco anos.
Também Luís António Santos acredita que a in- ção de qualidade; sem ela as pessoas não consomem Apesar disso, era extremamente
tenção do legislador é benigna, mas alerta para o fac- o produto; sem leitores ou audiência os anuncian- inovadora para a época.
to de abrir a porta a “coisas estranhas”, por exemplo, tes não compram espaço publicitário e, sem isso, não O voto de saudação pelos
para interpretações diferentes do que está escrito há sustentabilidade financeira, o que por sua vez 200 anos da aprovação da pri-
em sucessivos governos. “Além disso, o meu enten- conduz a mais desinvestimento, com cortes nas re- meira Lei de Imprensa, aprovado
dimento é que o jornalismo já é, ele próprio, um selo dações e condições de trabalho mais precárias. por unanimidade pelo Parlamento,
de qualidade”, remata. “Enquanto não se valorizar o trabalho e a qualida- em julho deste ano, defende que a
de de vida das pessoas, o jornalismo vai ter sempre melhor homenagem ao trabalho
OLHAR PARA DENTRO muitas fragilidades”, argumenta Luís António San- feito pelas Cortes Constituintes,
Nem tudo são ataques e condicionantes externos e tos. O investigador crê que o mercado vai tender para há dois séculos, é “assegurar a
pensar as limitações à liberdade de informação não um crescimento das empresas maiores, que se tor- robustez de uma comunicação
é possível sem olhar para dentro. E não faltam pro- narão gigantes, e por uma diminuição da estrutura social livre, transparente e rigo-
blemas no setor que podem condicionar a liberdade das mais pequenas, que passam a forcar-se em públi- rosa, realizando um imperativo
dos jornalistas. cos de nicho ou temáticos. Mas terá obrigatoriamen- urgente perante as ameaças que a
“Preocupa-me que possamos estar a criar uma clas- te de haver mudanças que partem de dentro. “Num ensombram”, não reduzindo
se que, pelos baixos salários, pela precariedade e pela mercado em que os meios de comunicação social não a exigência nem a vigilância.
falta de tempo, não tenha condições para ter cora- detêm o exclusivo da disseminação da informação, Os 200 anos foram também
gem, que é uma das armas do jornalista”, frisa Luís a debilidade do modelo de negócio e a crise do setor assinalado pelos CTT, com a
Filipe Simões. “Coragem para dizer não, para resistir não são contextuais. Já não estamos num lugar em emissão de dois selos e de um
às pressões e para ter espírito crítico, não se limitan- que o jornalismo se possa voltar a posicionar como bloco filatélico, bem como pela
do às ‘verdades adquiridas’ – como o que diz o chefe fornecedor exclusivo de informação credível”, con- exposição documental “Bicente-
ou o que escreve o outro jornal – sem as verificar.” sidera Luís António Santos. Para sobreviver e pros- nário da Liberdade de Imprensa”,
Porque tudo isto, vinca o jornalista, conduz a uma das perar – com sustentabilidade, autonomia e liberda- no Museu Nacional da Imprensa,
mais perniciosas formas de restrição: a autocensura. de – o setor vai ter de se reinventar. Como o fará, ain- no Porto, que pode ser visitada
Na mesma linha, Helena Lima, docente da Facul- da ninguém parece saber exatamente. ● m até 30 de setembro.

Notícias Magazine 29.08.2021 29


1877
É um dos maiores e mais belos diamantes amarelos do Mundo. Há quem o avalie em
30 milhões de dólares, mas os joalheiros Tiffany & Co garantem não ter preço. A pe-
dra em bruto, de 287,42 quilates, foi descoberta em 1877 na África do Sul. Um ano de-
pois, foi comprada por Charles Lewis Tiffany, conhecido por “Rei dos Diamantes”,
por 18 mil dólares. O formato de almofada que tem hoje, com 82 faces (mais 24 do que
é habitual ), foi talhado pelo gemólogo da marca, George Frederick Kunz. Quando
não está a ser exibido em pescoços de estrelas ou em exposições, o famoso diaman-
te pode ser apreciado na loja principal da Tiffany na Quinta Avenida, Nova Iorque.

TIFFANY
BY MR. & MRS. CARTER
O C A S A L C A R T E R , U M A P I N T U R A A Z U L T I F FA N Y D E S C O N H E C I D A
D E B A S Q U I AT, O FA M O S O D I A M A N T E A M A R E L O . E L A , A P R I M E I R A
MULHER NEGRA A USAR A ICÓNICA PEDRA, PRODUZIDA AO ESTILO
A U D R E Y H E P B U R N . E L E , J AY-Z , TA M B É M E N V E R G A D I A M A N T E S
N O S B O T Õ E S D E P U N H O , M A S É Q U A S E U M E S P E C TA D O R D A D I VA .
“A B O U T L OV E ” , A M A I S R E C E N T E C A M PA N H A D A T I F FA N Y & C O ,
VA I C O N TA R A I N D A C O M U M F I L M E E M Q U E B E YO N C É I N T E R P R E TA
U M A N OVA V E R S Ã O D E “ M O O N R I V E R ” , O R I G I N A L M E N T E C A N TA D A
P O R H E P B U R N E M “ B R E A K FA S T AT T I F FA N Y ’ S ” .
30 29.08.2021 Notícias Magazine
5
A primeira mulher a usar o famoso diamante foi Mary Whitehouse, esposa do diplo-
mata norte-americano Edwin Sheldon Whitehouse, em 1957, num baile em Rhode
Island. Depois, em 1961, foi usado pela atriz Audrey Hepburn nas imagens publici-
tárias do filme “Breakfast at Tiffany’s”(“Boneca de luxo”, em Portugal), após a peça
de joalharia ter sido repensada e reajustada. Lady Gaga foi a terceira mulher a usar o
colar – que, além do diamante principal, soma mais de cem quilates de diamantes
brancos –, na 91.ª edição dos Oscars, quando recebeu o prémio de melhor canção ori-
ginal com “Shallow”. O precioso diamante foi também usado por Gal Godot na ver-
são mais recente de “Morte no Nilo”, que ainda não estreou. E agora por Beyoncé.

avenida
Notícias Magazine 29.08.2021 31
SABE TUDO

QUE DIREITOS TÊM MULHERES


E CRIANÇAS NO AFEGANISTÃO?
Os extremistas islâmicos vinham a ganhar terreno desde maio e agora
dominam o país, abandonado pelas forças ocidentais. O regresso dos talibãs
coloca em causa direitos conquistados nos últimos anos, especialmente
para a população feminina e menores.
POR Sara Sofia Gonçalves

JALIL REZAYEE/EPA
O Afeganistão vive em sobressalto desde 1979. São
41 anos de um país em guerra e conflitos constantes,
onde as mulheres e as crianças são quem mais sofre.
Os Estados Unidos da América invadiram em
2001 o Afeganistão, dominado desde 1996 pelos
talibãs (grupo radical islâmico), na sequência dos
ataques de 11 de setembro e com o objetivo de
capturar Osama bin Laden. A presença militar dos
americanos continuou mesmo depois da captura
do líder da Al-Qaeda e, em maio deste ano, o presi-
dente dos EUA, Joe Biden, anunciou a retirada, em
concordância com os restantes países aliados da
NATO. Os talibãs, que já controlavam várias
zonas, continuaram a conquistar o país e, a 15 de
agosto, assumiram o domínio da capital, Cabul.
Desde os avanços talibãs em maio, cerca de 250
mil afegãos viram-se forçados a fugir, à procura de
um lugar mais seguro e estável para viver. Destes,
80% são mulheres e crianças.
Com os talibãs novamente no poder, é temido o
regresso de uma interpretação estrita da Sharia,
conjunto de leis islâmicas que orientam as deci-
sões de quem pratica esta religião. Quem faz uma
leitura à letra da lei apoia, por exemplo, os espan-
camentos públicos ou o uso obrigatório da burca
(roupa utilizada por mulheres que cobre todo o lista de 29 restrições que eram impostas às mulhe- tentativa de fuga de milhares de afegãos, as forças
corpo, deixando apenas os olhos à vista). res e crianças quando os talibãs dominavam o país talibãs monitorizam os movimentos no aero-
Apesar de os talibãs terem afirmado, na confe- na viragem do século. Uma delas é a proibição de porto de Cabul. Há mulheres impedidas de sair do
rência de imprensa após a conquista de Cabul, que mulheres, mesmo adultas, saírem de casa sem ser país e jovens obrigados a combater. Pelas redes
irão respeitar mulheres e crianças dentro dos limi- acompanhadas por um “guardião” masculino, sociais circulam imagens de cartazes e montras
tes da lei islâmica, a verdade é que não especifica- estando ainda impedidas de trabalhar. Outra com fotografias de mulheres que foram arranca-
ram o que, na prática, será feito. As organizações grave restrição é as meninas, por exemplo, só dos ou pintados, de forma a esconder a imagem
internacionais e quem está no terreno têm o legí- poderem estudar até aos dez anos de idade. feminina que, segundo a interpretação que os
timo receio de que regressem as restrições e puni- Ao longo dos últimos 20 anos, a mulheres foram talibãs fazem da Sharia, não pode ser exposta
ções vividas durante o último domínio talibã, conquistando direitos fundamentais, tais como o publicamente.
entre 1996 e 2001. acesso ao ensino (incluindo Superior) e ao traba- Antes mesmo da conquista da capital, outras
lho, a exposição pública e a livre circulação sem zonas já dominadas pelos talibãs relatavam casa-
O TERROR NA VIRAGEM DO SÉCULO qualquer autorização masculina. Avanços que mentos forçados de meninas com menos de 15
A RAWA, sigla inglesa para Associação Revolucio- agora podem estar em risco. anos ou mulheres proibidas de sair de casa sem
nária das Mulheres do Afeganistão, elaborou uma E já há relatos muito preocupantes. Devido à companhia masculina. ● m

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À V O LTA D O M U N D O VÊ MAIS EM

RECEITA TAG.JN.PT
UMA SALADA DE VERÃO
QUE JUNTA FRANGO,
LEGUMES E FRUTA NO PRATO
TAIWAN ABATE
154 GATOS POR MENOS
BIOSSEGURANÇA NASCIMENTOS,
AFINAL QUAL
Foram abatidos 154 O IMPACTO?
gatos, de várias raças
e avaliados em cerca Numa população
de 300 mil euros, envelhecida, haver
encontrados num navio menos bebés
de pesca em Taiwan. a nascer afeta
A origem dos animais o futuro de todos.
era desconhecida e as Portugal é o quinto
autoridades considera- país mais envelhe-
ram que representa- cido do Mundo. No
vam um risco de bios- primeiro semestre
segurança, uma deci- de 2021, a natali-
Quando se chega a casa com a moleza INGREDIENTES são que gerou grande dade apresentou os
de uma manhã bem passada na praia ou controvérsia. valores mais baixos
no parque, o apetite exige que se repo- Frango assado dos últimos 30
nham as energias, mas não apetece pas- desossado e cortado anos: 37 675 nasci-
sar horas a cozinhar. Para estas (e ou- em bocadinhos mentos, quase
tras) ocasiões, uma salada nutritiva e pequenos menos 4500 face ao
fácil de fazer pode ser uma boa opção. mesmo período de
Aproveitando restos de frango assado, Massa (fusilli ou penne 2020. Fica a saber
um tipo de massa à escolha e manga, resultam bem) tudo no site do TAG.
acrescentam-se outros sabores à tradi-
cional conjugação de alface e tomate. Folhas de alface
Tudo unido com azeite e vinagre bal- e de rúcula
sâmico. A receita é da Pumpkin, site
parceiro do TAG. SANDRA ALVES Tomate tipo cereja
cortado ao meio CONDENADO
LÍDER DE GRUPO
PREPARAÇÃO
Manga cortada NEOFASCISTA
em cubos
1 Coze a massa e, logo que esteja O líder dos Proud Boys,
cozida “al dente”, mergulha-a 1/2 dúzia de folhas um grupo neofascista O INDIEJÚNIOR
em água fria para parar a cozedura. de coentros e salsa norte-americano, ESTÁ DE
Muda-se a água duas vezes foi condenado a cinco REGRESSO!
até ficar à temperatura ambiente. 1 colher de sopa meses de prisão
de azeite por ter queimado uma O IndieJúnior
2 Numa tigela pequena, mistura o bandeira do movi- chegou a Lisboa
azeite, o sumo de limão, o vinagre Sumo de 1/2 limão mento Black Lives e promete trazer
balsâmico, os orégãos e o sal. Matter, exposta numa muito cinema até
1 colher de chá de igreja em Washington, 6 de setembro, com
3 Numa taça grande, deita todas vinagre balsâmico EUA. Enrique Tarrio curtas e longas-
as verduras da salada, a massa, declarou-se culpado -metragens, ofici-
os pedaços de frango, o tomate 1 colher de chá e “profundamente” nas, workshops,
cortado, os cubos de manga de orégãos arrependido das suas atividades e até
e finaliza com o molho da salada. ações. Ele e outros oito um debate para
sal a gosto estavam acusados de toda a família,
“praticar atos de terror” desde bebés a
e de vandalismo avós. Estão todos
para silenciar o “apoio convidados! Sabe
à justiça racial”. mais em tag.jn.pt.

Notícias Magazine 29.08.2021 33


esti-
los COMPORTAMENTO
POR Catarina Silva

O Brasil está
a invadir o vocabulário
dos mais novos
A “geladeira”, o “trollar” ou o “policial” estão a entrar
a toda a velocidade na fala das crianças à boleia de youtubers
brasileiros de conteúdos infantis. As modas da oralidade
sempre existiram e a influência do país irmão já cá anda
há umas décadas. Fomos saber se há motivos para alarme.

O
s olhos arregalados e expressivos, a fala despachada e
a brincadeira é num mar de bonecos vestidos de t-shirt
e boné azul, tal e qual o youtuber brasileiro Luccas
Neto. Maria Luís fala pelos cotovelos e, no meio de um
discurso articulado a enganar os quatro anos de idade,
entram palavras como geladeira, mamadeira, picolé,
sorvete ou trollar. O português do Brasil está a inva-
dir o vocabulário das crianças à boleia de influenciado-
res infantis do outro lado do Atlântico que inundam
o YouTube e acumulam dezenas de milhões de seguidores.
As respostas de Maria Luís têm pressa, chegam num ápice. “O
meu youtuber preferido é o Luccas Neto porque ele é divertido e
ensina que temos de pôr o lixo no caixote para não sujar o ambien-
te.” O maior influenciador infantil do Brasil tem 29 anos e salta
fronteiras. Lança episódios em que recria momentos do dia a dia,
na escola, no supermercado, em brincadeiras no exterior, com vá-
rias personagens. Produções que envolvem uma equipa enorme
e que já chegaram à Netflix e ao merchandising, com brinquedos,
mochilas, jogos, discos, livros. E há mais exemplos de youtubers
infantis do Brasil a ganhar terreno por cá, como Maria Clara & JP.
MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS

O fenómeno aterrou em força em Portugal, é transversal no mun-


do dos mais pequenos.
Na agenda de Maria Luís, que mora em S. João da Madeira, o dia
20 de novembro está reservado. É o musical de “Luccas Neto e a Es-
cola de Aventureiros” em Guimarães. O youtuber esgotou aí duas
sessões e já abriu a terceira. Em Lisboa, idem. Na costureira, a mãe
Maria João Lima já tem uma fatiota “igual à da irmã do Luccas Neto”

34 29.08.2021 Notícias Magazine


q No tablet, a explorar
o YouTube, Henrique
Guerra descobriu o
influenciador brasileiro
Robin Hood, que ensina
a jogar Minecraft

ANDRÉ LUÍS ALVES/GLOBAL IMAGENS


enriquecedora”. Basta rebobinarmos umas décadas para o tempo
em que as telenovelas brasileiras, como “Gabriela”, inundaram a
televisão portuguesa. “Nessa altura, já se dizia que a língua estava
em risco e sobreviveu. O mesmo aconteceu com as influências do
inglês. Depois o pânico veio com as abreviaturas que se usavam nas
SMS, as crianças iam deixar de saber escrever. Nada disso aconte-
ceu. E é muito saudável ouvirem outras variantes do português.”
As modas da oralidade raramente têm impacto na língua escri-
ta. Mas é certo que já bebemos muita influência do Brasil. A expres-
são “nem que a vaca tussa”, importada das novelas brasileiras, é
prova disso. “Eles são 200 milhões, nós somos dez. É inevitável.
E não há que combater as influências. Há mais de sete mil línguas
no Mundo, a língua portuguesa é provavelmente a quinta mais fa-
lada. Como é que pode estar em risco? A evolução de uma língua re-
sulta da evolução da sociedade que a fala.” E num português vivo
que cresce à boleia das modas de cada época, Margarita Correia apon-
ta umas quantas. Foi Alexandra Lencastre no programa “Na cama
com”, no início dos anos 90, que introduziu a expressão “à séria”
em vez de “a sério”. “E foi uma reportagem da TVI que aproveitou
o título de uma canção para chamar música pimba à música popu-
lar. E não é uma expressão enriquecedora?”, questiona.
A professora de Português Filomena Viegas também não drama-
tiza. O “policial”, o “café da manhã” ou a “geladeira” até a podem
incomodar, mas sabe que o pequeno Portugal não pode lutar con-
tra um gigante Brasil. “Não
vale a pena remar contra uma
a Maria Luís é fã do a ganhar forma para Maria Luís vestir no dia do espetáculo. Ou me- “A TENDÊNCIA É maré de milhões, isto vai con-
youtuber Luccas Neto
e está a contar os dias
lhor, do “show”. E a pequena, que parece carregar toda a energia do
Mundo, leva as músicas do youtuber na cabeça, sabe-as de cor e sal- NORMAL E ENRI- tinuar a acontecer.” De puris-
ta tem pouco, a verdade é que
para o espetáculo do teado, e as coreografias também. QUECEDORA. [...] já dizemos “email” em vez de
brasileiro em Portugal “Quando a Maria Luís começou a ver estes vídeos, notámos que ELES SÃO 200 “correio eletrónico” ou “site”
começou a usar algumas palavras de português do Brasil. Não fala
com sotaque, mas vai introduzindo algumas expressões”, revela Ma- MILHÕES, NÓS em vez de “sítio”. “Também
enraizamos o bué. E há proble-
ria João. A solução mais simples não foi pôr-lhe travão em proibições SOMOS DEZ. ma? Não é isso que faz uma lín-
aceleradas, foi antes explicar que em Portugal não se diz “banheiro” É INEVITÁVEL. gua. O caminho é explicar que
mas sim “casa de banho”. “Os vídeos até são pedagógicos. Dou por
ela a brincar sozinha e a falar sobre o ambiente. E embora não ache E NÃO HÁ QUE o youtuber diz assim e nós cá
dizemos assado. Perdemos
graça nenhuma a ouvi-la dizer estas palavras, a verdade é que ela evo- COMBATER AS tempo a ensinar? Sim, mas
luiu muito na fala, porque vai reproduzindo o discurso”, constata a INFLUÊNCIAS. [...] vale a pena tirar partido disto,
mãe. O fenómeno, acredita Maria João, “tem a ver com o facto de a
língua brasileira ser muito mais sonante e de não haver oferta infan- A EVOLUÇÃO DE é uma oportunidade para a
aprendizagem. Mesmo em
til portuguesa no YouTube”. Mas Maria Luís, de tão desenvolta, faz UMA LÍNGUA Portugal, temos variantes, no
os pais baixarem os alarmes, já sabe dizer palavras com o mesmo si- RESULTA DA EVO- norte, no sul, nas ilhas.”
gnificado em português do Brasil e em português europeu.
LUÇÃO DA SOCIE- Numa idade em que absor-
vem tudo, ainda antes da entra-
AS MODAS, AS INFLUÊNCIAS, A ORALIDADE DADE QUE A FALA” da na Primária, as crianças são
E parece ser esse o caminho: não corrigir, mas sim explicar aos mais 
Margarita Correia
“pequenos aspiradores de pala-
novos a diferença. Pelo menos é nisso em que acredita a linguista vras” e proibir não é solução.
Linguista
M Luccas Neto tem Margarita Correia, que não entra em histerismos com o abrasilei- Os pais, aconselha, devem con-
35 milhões de seguidores rar da fala. “Vejo este fenómeno não só como linguista, mas tam- tinuar a falar no português eu-
no YouTube onde produz bém como avó. Tenho um neto que chama a mãe de mamãe e o pai ropeu. “Os miúdos têm capacidade para aprenderem várias línguas
uma espécie de de papai.” Os desenhos animados dobrados em português do Bra- ao mesmo tempo e, quanto mais variantes ouvirem e isso lhes for
websérie infantil sil também são sintoma de uma tendência que diz ser “normal e explicado, mais vão aprender.”

Notícias Magazine 29.08.2021 35


esti-
los COMPORTAMENTO

“JÁ SEI QUE GRAMADO É RELVA”

ANDRÉ LUÍS ALVES/GLOBAL IMAGENS


Henrique Guerra está em casa, em Lisboa, agarrado ao tablet a ver
o youtuber brasileiro Robin Hood a ensinar a jogar Minecraft. Tem
cinco anos. “Ele está a jogar e vejo para aprender. Mas os meus pais
já me ensinaram que gramado é relva”, atira o petiz. Deixa logo tudo
em pratos limpos, como quem quer vincar, no meio de uma timi-
dez apressada, que sabe distinguir o português do Brasil do portu-
guês europeu. Os pais, André Guerra, bancário, e Patrícia Luz, ad-
ministrativa, foram corrigindo algumas palavras. “Não é querer
castrar. Mas ele dizia reais em vez de moedas, marrom em vez de
castanho, goleiro em vez de guarda-redes e quisemos ensinar. Não
para dizer que está errado, mas para explicar que no Brasil diz-se de
uma maneira e em Portugal
diz-se de outra. Até porque ele
“UMA CRIANÇA tem amigos brasileiros no pré-
-escolar e já percebe a diferen-
QUE CRESCE EM ça”, comenta o pai.
PORTUGAL, FILHA O caminho no YouTube co-
DE PAIS PORTU- meçou aí há uns dois anos,
quando Henrique descobriu o
GUESES, QUE Luccas Neto. Desde então que
ESTÁ EXPOSTA os youtubers brasileiros, que
AO PORTUGUÊS falam alto e bom som – para ir-
ritação dos pais –, entraram
EUROPEU DIARIA- pela porta de casa da família
MENTE, FALAR sem pedir licença. André e Pa-
PORTUGUÊS DO trícia já os reconhecem só de
os ouvir entoar no tablet. E os
mo. “Porque uma criança que cresce em Portugal, filha de pais por-
tugueses, que está exposta ao português europeu diariamente, fa-
M Os pais de Henrique
tentam corrigir algumas
BRASIL DE FORMA brinquedos que abundam nos lar português do Brasil de forma intensiva significa uma grande ex- palavras que o pequeno
INTENSIVA vídeos também trazem atre- posição, tempo excessivo no YouTube. Quer dizer que não está a usa, como marrom,

SIGNIFICA UMA lados pedidos constantes.


“Acho que os conteúdos até
trabalhar a motricidade e que passa muito tempo sozinha a inter-
agir com um aparelho eletrónico.”
gramado, goleiro ou reais

GRANDE EXPOSI- são interessantes e podem in- A psicóloga antevê potenciais alterações ao nível da socialização
ÇÃO, TEMPO fluenciar positivamente. Mas e o risco de dificuldades de aprendizagem na hora de entrar no 1.º
EXCESSIVO NO há uma grande vertente co-
mercial, virada para o consu-
Ciclo, nomeadamente na leitura, que implica associar sons da fala
a letras. “Os fonemas numa variante e noutra são diferentes. E mes-
YOUTUBE” mismo, e isso, sim, tentamos mo na escrita, a língua difere muito na construção de frases. É o

Manuela Cameirão
combater”, diz André. A entra- exemplo do dá-me ou me dá.” Para os casos em que a criança já só
da de algumas palavras do Bra- fala com o vocabulário e o sotaque típico do português da outra mar-
Psicóloga
sil no vocabulário de Henrique gem do Atlântico, Manuela Cameirão alerta que os pais podem pro-
não os assusta, mas o casal co- curar ajuda de um terapeuta da fala. “Mas isso deve acontecer an-
nhece o caso de uma menina que só fala com a pronúncia brasilei- tes de entrar para a escola. A partir dos sete anos, pode ser difícil re-
ra e talvez aí o fenómeno ganhe outra escala. verter. E, mesmo querendo, a criança já será muito resistente à in-
tervenção.”
OS RISCOS E QUANDO É PRECISO INTERVIR O fenómeno tende a crescer – também já se faz notar entre ado-
Segundo a psicóloga Manuela Cameirão, é aí que está o risco. “Já lescentes e jovens –, é o mundo do YouTube infantil em ascensão.
me deparei com casos desses, sobretudo em contexto pré-escolar, E unânime, entre os especialistas, é a ideia de que importar algu-
é nessa faixa que o fenómeno mais está a acontecer. Duas crianças, mas palavras do Brasil para a fala não é problemático. Tal como Ma-
muito fãs de youtubers brasileiros, com total ausência do recurso ria Luís faz. No próximo domingo, a pequena grande fã do Luccas
ao português de Portugal.” Sabe que os vocábulos do Brasil já come- Neto faz cinco anos. Antes disso, a irmã mais nova, que ainda está
çaram a entrar no país há uns bons anos, “e isso é normal e desejá- na barriga da mãe, deve nascer. Mas o entusiasmo maior dos próxi-
vel, as línguas estão vivas”. A preocupação chega quando vê crian- mos tempos ela não tem dúvidas qual é: “Ir ao ‘show’ do Luccas
ças que falam integralmente o português do Brasil. É o nível extre- Neto. Acho que ele vai saltar e cantar muitas músicas”. ● m

36 29.08.2021 Notícias Magazine


RECEITAS DA ÉPOCA
POR Ana Bravo
Nutricionista, autora e blogger (Nutrição com Coração)

TODOS OS MESES,
AS MINHAS RECEITAS TÊM
UM ALIMENTO EM DESTAQUE.
EM AGOSTO, É A BERINGELA

Existe à venda pó
de beringela que é
utilizado para fins
terapêuticos,
nomeadamente
no tratamento
de queimaduras
e infeções cutâneas!
Há quem utilize a sua
polpa para aliviar
irritações da pele
ou apenas como uma
máscara refrescante
e hidratante.

PATÊ DE INGREDIENTES Preparação ❶ Programei o forno a


180 graus. ❷ Levei bem a beringela e
BERINGELA 1 beringela
1 dente de alho
envolvi-a juntamente com o dente de
alho em papel vegetal. Levei ao forno
4 colheres de sopa cerca de 45 minutos (ou até a beringe-
de iogurte natural la estar cozinhada), retirei e deixei ar-
1 colher de sobremesa refecer. ❸ Tirei a polpa da beringela e
de sumo de limão do alho e transformei ambos em puré
q.b. ervas secas a gostos utilizando uma varinha mágica. Envol-
q.b. paprica vi o sumo de limão e o iogurte. ❹ Servi
Este patê é divinal: q.b. curcuma polvilhado com ervas secas, paprica e
suave na textura e no sabor. curcuma.
Não pode deixar terminar
o mês sem o saborear!
É muito fácil de preparar 4 pessoas
e até pode ser usado como Duas horas
molho numa salada. Fácil

Notícias Magazine 29.08.2021 37


esti-
los

LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS


BEM-ESTAR
POR Sara Sofia Gonçalves

A FORÇA
DE EMAGRECER
EM GRUPO
Pessoas de várias idades, origens e rotinas
juntam-se com um objetivo comum.
Ganham em motivação e entreajuda.
À distância de um telemóvel, os grupos
de nutrição são um sucesso.

Bárbara Rodrigues
participou num grupo
de nutrição e perdeu
13 quilogramas em
seis meses

38 29.08.2021 Notícias Magazine


Em seis meses, perdeu 13 quilogramas ter um nutricionista de bolso”, resume mas dúvidas, a vários clientes, em di-
– sucesso que Bárbara Rodrigues acre- a nutricionista Lillian Barros. versos momentos do dia. Agora, não
dita que não seria possível sem os gru- Apesar de o objetivo da maioria dos respondo apenas à dúvida de um, mas
pos de emagrecimento que integrou participantes ser a perda de peso, há ca- de vários que encontram e partilham
durante dois meses, no início deste sos de educação alimentar, transição questões semelhantes”, conta Lillian
ano. Depois, manteve a ligação às res- para o vegetarianismo, alimentação na Barros, que também dedica parte do
tantes participantes e os resultados gravidez ou pós-parto, entre outras si- seu trabalho à conta profissional do
continuaram a aparecer, numa dinâ- tuações. “Independentemente do Instagram (@nutricionistalillian).
mica em que, mais do que o foco em peso, todas têm um objetivo: sentirem- “AGORA, NÃO Como no caso de Bárbara Rodrigues,
perder peso, a entreajuda é a chave.
Os grupos de nutrição ou de emagre-
-se melhor com o corpo”, lança Bárba-
ra Rodrigues, de 41 anos, que partici- RESPONDO os grupos não estão limitados a uma
única participação e, como não há re-
cimento são cada vez mais frequentes pou no primeiro grupo nutricional em APENAS À petição de conteúdos, é possível uma
e os nutricionistas estão a aderir cres- fevereiro e mantém até hoje o contac- DÚVIDA DE UM evolução constante de conhecimen-
centemente a este serviço, especial-
mente durante o confinamento, que
to diário com todas as participantes e
até já se conhecem presencialmente. [CLIENTE], MAS tos. A primeira participação aconte-
ceu em fevereiro, mês em que Patrí-
obrigou a passar a assistência do pre- O Nutricionistas Online, marca regis- DE VÁRIOS QUE cia Aguiar chegou a ter 50 mulheres
sencial para o digital. A ideia consiste tada dedicada ao acompanhamento nu- ENCONTRAM numa só edição dos grupos de nutri-
basicamente na formação de um gru-
po, presencial ou através de aplicações
tricional digital desde 2013, de que
Lillian Barros faz parte, procura orga- E PARTILHAM ção. Para Lillian Barros, os grupos, ape-
sar de permeáveis à sazonalidade, têm
de telemóvel, para partilha de desa- nizar as pessoas por objetivos e dispo- QUESTÕES apresentado um número estável de
fios, conhecimentos e metas (nutri-
cionais ou físicas), por norma, duran-
nibiliza uma equipa multidisciplinar.
Patrícia Aguiar acredita que os resul-
SEMELHANTES” participantes, quase sem divulgação,
na base da manutenção de clientes e
te cerca de um mês. As mulheres são tados vêm, em parte, da empatia. “São Lillian Barros da recomendação.
quem mais adere a este método. mulheres com vidas idênticas, dias cor- Nutricionista Há também a opção de ser acompa-
A duração e a forma de trabalhar são ridos, filhos, maridos, e percebem-se.” nhado tanto de forma individual como
sustentadas com dados científicos. Pa- Lillian Barros lembra que a perda de em grupo. Lillian Barros não compara
trícia Aguiar explica que 21 dias é o peso não passa apenas pelo cálculo de os métodos: “Não há melhor ou pior,
tempo necessário, para fazer uma mu- calorias, é preciso “não sentir isolamen- há pessoas diferentes que se adaptam
dança de hábitos e, por isso, os grupos to, ter motivação e perceber que há al- a abordagens diferentes”.
de nutrição apresentam resultados tos e baixos” e, para isso, a entreajuda E as contraindicações? “Nenhuma,
mesmo com apenas um mês de parti- no grupo é fundamental. pois não se perde nada, só se ganha”,
cipação. Segundo a nutricionista de considera Patrícia Aguiar. No entanto,
Lisboa, que foca parte do seu trabalho Tirar dúvidas a qualquer hora as pesagens, que fazem parte da rotina
no digital e na página de Instagram A vantagem principal parece óbvia, a dos grupos, são uma desvantagem
(@patricia_aguiar_nutricionista), há motivação, mas há outros fatores po- apontada ao método. “Apesar de toda
estudos que comprovam a eficácia de sitivos a apontar. Muitas vezes, as dú- a informação de como fazer uma pesa-
emagrecer em grupo, que pode ter até vidas surgem na rotina. No momento gem correta em casa, há sempre dúvi-
cinco vezes mais sucesso do que de for- de cozinhar, na escolha de um restau- das”, sinaliza Lillian Barros.
ma individual. rante ou em frente à prateleira do su- Para a profissional da Nutricionistas
Nos grupos de nutrição, é delineado permercado. “Não vamos à consulta de Online, o método de grupo e digital é o
um plano alimentar comum, que vai nutricionista todos os dias”, sublinha “SÃO MULHERES futuro, “mas não vai deixar de haver o
sendo adaptado em certos detalhes a
cada pessoa. Há partilha de receitas, lis-
Lillian Barros, mas o grupo de nutrição
está disponível a qualquer hora. COM VIDAS método tradicional ou presencial”. Pela
importância que esta forma de traba-
tas de compras, dicas culinárias e de or- Para os profissionais, também há IDÊNTICAS, lhar tem a nível pessoal e profissional,
ganização dos alimentos e até lembre- vantagens no método. “Antes, dispo- DIAS CORRIDOS, Patrícia Aguiar remata: “Os grupos são
mágicos”. ● m
tes para fazer exercício físico. “É como nibilizava-me para esclarecer as mes-
FILHOS, MARI-
DOS, E PERCE-
BEM-SE”
Patrícia Aguiar
Nutricionista

Notícias Magazine 29.08.2021 39


esti-
los

FOTOS: DIREITOS RESERVADOS


Campanha publicitária conta
com portadores de trissomia 21,
uma causa que é apoiada pela
IDEIAS marca de chapéus artesanais
POR Sara Sofia Gonçalves

CHAPÉUS PELA LIBERDADE


E SUSTENTABILIDADE
A marca de acessórios o álbum homónimo, da artista norte- fornecedores lá fora, o que podia ser mais ou seja, é desperdício reciclado para co
portugueses Lemonade -americana Beyoncé, pela sua forte vantajoso a nível financeiro, mas não nfecionar novas peças. A lã tem certi-
componente de luta pela igualdade. coincidia com os valores a passar”. Pro- ficado de produção sustentável. O plás-
assenta no comércio local Para a fundadora e responsável da Le- curar o artesanato local foi a escolha ób- tico é banido de todos os processos de
e na tradição, nasceu a 25 monade, também o nascimento do ne- via para a gaiense, que desde o primeiro produção.
de abril e já abriu caminho gócio, a 25 de abril, é simbólico e repre- negócio ficou apaixonada pelo proces- O caráter social é um forte pilar da
à internacionalização. sentativo dos valores que quer trans- so de produção de chapéus. “É encanta- marca de chapéus artesanais. Cada peça
mitir nas peças que vende. dora a forma como ainda são feitos.” vendida converte-se na doação de um
O objetivo é fazer parte Os produtos são modelos tradicionais, A Lemonade procura ter práticas sus- euro à Associação Portuguesa de Porta-
da mudança. “com centenas de anos”, refere Sílvia tentáveis desde a escolha de matérias- res de Trissomia 21. O problema diz
Silva, que tem o seu papel de designer -primas à composição da emba- muito a Sílvia Silva, que tem uma irmã
na conceção final das peças, em lagem. O algo- com a mesma condição, e o objetivo da
Nem todos os projetos que terminam pormenores como a cor ou os dão advém designer gráfica de 31 anos é ter uma
têm um desfecho negativo. A Lemo- acessórios a acrescentar. de stock marca feita “não só de palavras, mas de
nade nasce de um negócio falhado com Chapéus de feltro, boinas morto de ações”. Um dos exemplos é também a
o objetivo de procurar a mudança no de linho, bonés de algo- outras presença de pessoas portadoras de tris-
Mundo. Com os pilares de liberdade, dão, panamás em sarja, marcas, somia 21 na campanha publicitária.
igualdade e sustentabilidade bem de- chapéus de palha. Varie- Levar ao Mundo um produto muito
finidos, os ideais estão presentes em dade não falta, com “arti- português é uma das metas da marca,
cada um dos produtos. O lema da mar- gos duradouros e de que logo no primeiro mês conseguiu
ca é simples: “Quando a vida lhe der li- excelente design”. fazer vendas para o México e para a
mões, esprema-os e faça uma doce li- Ajudar o comér- Austrália. O futuro da Lemonade é a
monada”. De preferência, à sombra cio local era essen- diversificação, “para não ficar presa aos
dos chapéus da Lemonade. cial e, por isso, “não chapéus”. A próxima novidade será
A grande inspiração de Sílvia Silva foi fazia sentido procurar uma bolsa. ● m

40 29.08.2021 Notícias Magazine


BELEZA
POR Sara Sofia Gonçalves

GIVENCHY
Prisme
libre blush
47 euros

CLINIQUE
Blushing
Blush
37,40 euros

GIORGIO ARMANI
Blush Neo
Nude Powder
38,80 euros

CLARINS
Bronzing
& Blush Summer
45,50 euros

O TOQUE
DE LUZ
NO ROSTO
O blush é essencial para dar vida ao rosto
e o verão não é exceção. Para uma aplicação natural,
Pedro Freitas, make up artist, recomenda as versões
líquidas ou em creme. “Para um efeito bronzeado,
devemos aplicar nas zonas onde o sol causa mais
pigmentação”, alto da testa, nariz e topo das maçãs
do rosto. E evitar tons rosados, pois poderão passar
despercebidos ou até dar aspeto de queimadura na
pele. Para um efeito sublime, Pedro Freitas aconselha EQUIVALENZA
Bálsamo para lábios
o Terracotta, da Guerlain, “um dos melhores e mais e bochechas
cobiçados do mercado”. 6,95 euros

Notícias Magazine 29.08.2021 41


esti-
los POR
TENDÊNCIAS
Sara Oliveira

BURBERRY
DESCONTRAÍDOS
230 euros

GUCCI
voltaram em força e usam-se, até com

290 euros
Os chinelos slide, com look retro,
PARA PÉS

meias, em ambientes casuais.

ZARA
15,95 euros

Há muito que os chinelos slide


saíram dos decks das piscinas
para a rua, conquistando o públi-
co masculino nos dias mais
quentes de verão. Bastante usa-
dos na década de 1990, voltaram
à cena e muitos homens não he-
sitam na hora de os calçar, mui- DOLCE & GABBANA
tas vezes combinados com 250 euros
meias, como mostram várias fi-
guras públicas nas redes sociais.
As tendências anunciadas nos
últimos desfiles confirmam que
se manterá no próximo ano, rou-
bando protagonismo aos chine-
los de dedo. De dia e em ambien-
tes casuais, a descontração mar-
ca os visuais da cabeça aos pés.
Das marcas de luxo às mais
acessíveis, há sugestões ecléti-
cas para todos os gostos, mesmo
que a base seja semelhante. Em- ADIDAS
baladas pelo estilo desportivo 35 euros
que está para ficar, vão além das
opções monocromáticas, ofere-
cendo cores fortes, padrões ou
riscas, às quais as mulheres aca-
bam também por não resistir. O
design serve-se sem género e,
mesmo que a numeração possa
não servir qualquer um, há sem-
pre alternativas para calçar de
acordo com a moda. ● m

42 29.08.2021 Notícias Magazine


O JN VOLTA À ESTRADA DE BICICLETA
De 31 de agosto a 5 de setembro,
assista em direto em jn.pt aos momentos mais vibrantes desta prova.

ETAPAS
31 de agosto 3 de setembro
Prólogo 4.ª Etapa
Gondomar – Gondomar | 1,8 km Vila Real – Vila Real | 149,5 km
Partida 1.º corredor (10h30m) – Av. da Conduta Partida (11h25m) – Av. Aureliano Barrigas
Chegada (12h32m) – Av. da Conduta Chegada (15h14m) – Av. Aureliano Barrigas
1.ª Etapa
Gondomar – Gaia | 85,8 km 4 de setembro
Partida (15h25m) – Gondomar: Av. da Conduta 5.ª Etapa
Chegada (17h38m) – Gaia: Av. D. João II Valongo – Valongo | 132,2 km
Partida (11h25m) – Av. 5 de outubro
1 de setembro Chegada (14h48m) – Av. 5 de outubro
2.ª Etapa
Porto – Ovar | 124,5 km 5 de setembro
Partida (11h25m) – Porto: Parque Oriental da cidade 6.ª Etapa
(Pavilhão Gimnodesportivo “O Lagarteiro”) Vila Nova de Gaia – Viana do Castelo | 178,5 km
Chegada (14h36m) – Ovar: Av. da Régua Partida (11h25m) – Gaia: Av. D. João II
Chegada (15h57m) – Viana do Castelo – Praia Norte /
2 de setembro / Observatório Litoral Norte
3.ª Etapa
Cronoescalada Santo Tirso – N.ª Sra. Assunção | 7,4 km
Partida 1.º corredor (14h30m) – Av. Unisco Godiniz
Chegada (16h44m) – N.ª Sra. Assunção

Patrocinadores Institucionais:

Patrocinadores: Apoios:
esti-
los

LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS


SABORES
POR Sara Sofia Gonçalves

CÂNHAMO
Parte da ementa da Gato Gelados
é alterada sazonalmente. O câ-
nhamo foi a escolha para o verão,
com o objetivo de ter um produto
local com produção de qualidade.
Apesar do sabor intenso, “correu
muito bem”, conta o dono João
Gato. A associação do produto
à droga, apesar de, neste estado,
se tratar apenas da planta sem
componente alucinogénica, des-
perta a curiosidade de muitos.

Gato Gelados
Rua do Grilo, 65,
1950-145 Lisboa
Aberto todos os dias

DIREITOS RESERVADOS
INSÓLITOS
QUE CONQUISTAM
O PALADAR
Insetos, plantas incomuns e até água do mar são
alguns dos sabores que ninguém espera encontrar
na vitrina de uma gelataria. Mas eles existem.

Baunilha, chocolate, menta e uma varie- ced, revela que há “clientes desagradados”
dade de frutas são sabores de gelados que com a presença de insetos no expositor.
nunca passam de moda, mas os mais curio- João Gato afirma que as misturas impro-
sos e de palato aguçado podem gostar de váveis não são boas apenas para quem pro- ÁGUA DO MAR
conhecer novos sabores. Os produtos cau- va, sendo um “enorme prazer criar novos
sam estranheza e chamam a atenção. De- sabores”. E a inspiração vem de situações Como homenagem à costa por-
pois, é só provar e descobrir se a experiên- tão inesperadas quanto as criações. Ana tuguesa, chegou à Tchipepa,
cia é tão agradável quanto insólita. Ferreira, da Gelataria Portuense, confiden- em Cascais, o gelado com nome
A adesão é, quase sempre, positiva. João cia que algumas criações nascem de ouvir homónimo à localidade. O insóli-
Gato, da gelataria lisboeta Gato Gelados, uma simples conversa na rua. to? Leva água do mar na compo-
diz que o que é diferente causa curiosida- Para João Gouveia, lançar novos produ- sição, juntamente com menta e
de e, por isso, nem que seja para provar, tos é também uma forma de “resiliência spirulina. Uma criação do verão
“as pessoas acabam sempre por aderir”. face à crise atual”, pois os novos sabores passado, de cor azul, que pro-
No entanto, nem tudo são boas expe- dão notoriedade às marcas e com ela as ven- mete uma experiência diferente.
riências. Com um produto incomum como das dos produtos mais tradicionais acaba
as larvas, João Gouveia, fundador da MyI- por subir. ●
m Tchipepa
Rua Visconde Luz, 17A
2750-415 Cascais
Encerra à terça-feira
e à quarta-feira

44 29.08.2021 Notícias Magazine


AMIN CHAAR/GLOBAL IMAGENS
MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS
EUCALIPTO
A Gelataria Portuense é já conhe-
cida pelas experiências de sabo-
res e, este ano, lançou o gelado
de eucalipto e mel. A criação
nasceu a pedido de um chef
e Ana Ferreira, criadora de sabo-
res na gelataria do Porto, juntou
LARVAS uma infusão com as folhas da ár-

DIANA QUINTELA/GLOBAL IMAGENS


vore a natas e leite. O resultado,
O consumo de insetos começa diz, é semelhante a rebuçados
a ser cada vez mais falado, mas peitorais.
na MyIced é já uma realidade tra-
balhada desde 2019, pelo insólito, Gelataria Portuense
mas ta mbém pela sustentabilida- Rua do Bonjardim, 136
de na alimentação global. O gela- 4000-114 Porto
Encerra à segunda-feira
do com larvas é uma experiência e à terça-feira
crocante que tem atraído muitos
curiosos à rede de gelatarias pre-
sente em várias cidades do país.

MyIced
Braga, Leiria, Penafiel, Ponte STRACCIATELLA
de Lima, Santarém, Setúbal
e Viseu DE REQUEIJÃO
Aberto todos os dias
A nova criação traz no nome
o que é. Não há que enganar,
mas, ainda assim, o sabor
intenso a requeijão no novo
gelado da Mamma Mia pode
surpreender. Todos os ingre-
dientes da gelataria de Campo
de Ourique são frescos e a
produção é artesanal, para
obter o sabor mais autêntico
possível.

Mamma Mia
Rua Saraiva de Carvalho, 147,
Loja 3 – 1350-300 Lisboa
Encerra à segunda-feira

Notícias Magazine 29.08.2021 45


esti-
los MODA
POR Sara Sofia Gonçalves

PARA TODOS
OS MOMENTOS
Os coletes estão há muito na moda, mas a forma
de vestir esta peça vai sofrendo inovações em cada
estação. Agora, a tendência é brilharem sozinhos.

Herança dos fatos clássicos de antiga- e para as ruas e, agora, veem-se por todo
mente, têm vindo a conquistar cres- o lado. Mais clássicos, de corte justo, ou
cente protagonismo. Os coletes usam- manifestamente largos, são um dos
-se cada vez mais no quotidiano como must-have da estação. Os materiais são
parte de um estilo descontraído. variados, mas as cores mostram-se, na
No ano passado, fizeram sensação maioria, neutras: pretos, castanhos e
vestidos como camada superior de uma beges.
camisa ou camisola mais justa. Uma Combinado com calça de linho, de
conjugação irreverente que se man- ganga ou de corte clássico, o colete pode
tém. Mas, agora, chegam também ser o protagonista de conjuntos mais
como protagonistas solitários. formais ou mais casuais. Versáteis, a fa-
Como muitas outras tendências, os zer conjunto ou como apontamento de

H&M 14,99 euros


coletes em cima da pele saltaram das ce- destaque, prometem marcar também
lebridades e das passarelas para as lojas os outfits da próxima estação. ● m
LA REDOUTE 39,99 euros

SFERA 19,99 euros

RELISH 99,75 euros


AQUA DEL DOQ 184,50 euros
LONGCHAMP 1200 euros

46 29.08.2021 Notícias Magazine


MOTORES
POR Reis Pinto
MG REGRESSA A PORTUGAL
SEM FAZER BARULHO

A MG, mítica marca inglesa, Encarámos este ensaio com natural expectativa,
agora nas mãos de um grupo tratando-se do primeiro carro elétrico chinês à
venda em Portugal. Esteticamente, a aposta está
chinês, chegou de novo ao ganha. Não faz virar cabeças e é possível ver nas
mercado português. Uma das suas linhas influências de modelos de outras
apostas é o elétrico ZS, que marcas, mas o todo resulta coerente. O interior é,
ensaiámos em primeira mão. igualmente, muito agradável e, ao contrário de
boa parte dos veículos elétricos, o painel de instru-
mentos tem uma disposição clássica, facilmente
inteligível. Os materiais alternam entre os almo-
fadados e os plásticos duros (como a concorrên-
cia), sendo que os bancos estão revestidos, na
versão Luxury que ensaiámos, com um material
semelhante ao couro. A montagem pareceu-nos ❶ Segurança dispensa o travão.
correta, o equipamento muito completo e com O ZS dispõe de trava-
bastante espaço para passageiros e bagagem. gem ativa de emergên- ❸ A rever
O motor tem 140 cavalos e 350 Nm de binário que, cia e de assistente à A portinhola de carre-
aliado a um peso que ronda os 1500 quilogramas, manutenção na faixa. gamento não é prática
permite acelerações vigorosas. A suspensão está e não se entende a
orientada para o conforto – gostávamos de um ❷ Regeneração necessidade de trancar
pouco mais de firmeza – e a autonomia anunciada Estão disponíveis três o carro para carregar.
é de 260 quilómetros (chegámos aos 280), rapida- níveis de regeneração O monitor tátil é pouco
mente repostos porque o ZS aceita carregamentos da travagem. O mais reativo e o grafismo
rápidos. O preço vai dos 29 499 aos 39 212 euros. ●m intenso quase ultrapassado.

Notícias Magazine 29.08.2021 47


esti- FRUTA PARA HIDRATAR O CABELO

los A SAIR
Para dar vida ao cabelo, tal como as máscaras faciais fazem
rejuvenescer o rosto, a Bear Fruits apresenta seis máscaras
capilares frutíferas com toucas excêntricas e divertidas.
Em apenas 30 minutos, prometem um tratamento
de hidratação profunda e um cabelo suave e liso.

MERGULHAR
COM TRÊS CORES
A versão mais pequena
do versátil relógio de
mergulho da Oris, movido
pelo inovador Calibre 400,
único no Mundo, acaba de
ser lançada como uma cele-
bração da mecânica. O Aquis
Date Cal.400 41.5 mm está
disponível com com
mostrador em três cores:
azul, verde e antracite.

PAIXÃO
PELA MIXOLOGIA
A receita mantém-se
inalterada desde a
criação em 1860,
em Itália, e a Campari
tornou-se uma bebida
icónica, base de muitos
cocktails famosos.
Agora, dez bartenders
portugueses mostraram
a sua paixão pela mixologia
num e-book exclusivo, RENTRÉE EM
“The Portuguese Mixologist ESTILO BOHO
Edition”, que pode ser descar-
regado gratuitamente . Para momentos inesquecí-
veis nas férias ou para uma
rentrée que se quer serena,
a Natura apresenta propos-
tas variadas e repletas de
detalhes. Mantém-se o
estilo Boho e a inspiração
na Natureza através de
padrões florais ou a reme-
terem para o mar, em vesti-
dos esvoaçantes, detalhes
em croché, ou em linhas
geométricas . A estas
propostas juntam-se os já
famosos jumpsuits, o tie-
-dye presente em vários
formatos e os kaftans,
perfeitos para momentos
relaxantes ao final do dia.

O BÁSICO COM
TOQUE SOFISTICADO
Ténis brancos são um básico essencial em qualquer guarda-roupa. Para looks
mais descontraídos ou para mais arranjados, são a escolha certa por permitirem
grande versatilidade. A Deichmann propõe quatro modelos clássicos com um
toque de sofisticação através de detalhes prateados, solas grossas ou brilhantes.

48 29.08.2021 Notícias Magazine


HORÓSCOPO
POR Isabel Guimarães
Astróloga — ISAR/CAP

ANIVERSÁRIO
30 de agosto a 5 de setembro

Carneiro Touro Gémeos Caranguejo


21.03 a 20.04 21.04 a 21.05 22.05 a 20.06 21.06 a 22.07

Aproveite a energia A começar a semana, A prioridade esta sema- A semana desafia os na-
dada pelo seu planeta analise os recursos a que na é a carreira e a forma tivos do primeiro deca-
para cumprir prazos e precisa de dar maior im- como estrutura a vida. nato a encontrarem
alterar hábitos que es- portância. Pode sentir Pode sentir desgaste e meios para conseguir
tão a afetar a vitalidade. que tem de ir mais longe mais cansaço do que o expor os seus talentos.
Para aproveitar este ci- e criar métodos de traba- habitual. É importante Os diálogos estão mais
clo que remete para as- lho para se expandir. En- criar momentos de con- difíceis. Dificuldades
suntos do final do ano contros socais são neces- vívio com amigos e fa- de concentração e de ser
passado e início deste, sários para partilhar mília na Natureza, de entendido como neces-
precisa de refletir e en- ideias. A vida afetiva forma a relaxar. Precisa sita. Comunique e parti-
tender a auto ilusão. precisa de romantismo. de se focar na saúde. lhe sentimentos.
Cameron Diaz
Atriz, 48 anos

Cameron Michelle Diaz é uma atriz


e modelo nascida a 30 de agosto
de 1972 em San Diego, EUA. De
signo solar Virgem com ascendente
Leão Virgem Balança Escorpião em Caranguejo, revela uma imagem
23.07 a 23.08 24.08 a 22.09 23.09 a 23.10 24.10 a 22.11 acolhedora e atraente. O regente
confirma uma forte popularidade
Procure reorganizar-se Fase em que deve dar A semana intensifica os Pode sentir a necessida- e capacidade de valorizar os seus
com novos métodos de mais atenção aos seus relacionamentos de for- de de colocar o trabalho recursos, permitindo ter prazer
trabalho e sair das suas recursos. Os nativos do ma por vezes inespera- como prioridade. No en- e estabilidade. Marte em Virgem
rotinas de forma a criar segundo e terceiro deca- da. Os nativos do tercei- tanto, os excessos po- forma união ao Sol, direcionando
soluções para conciliar natos festejam o aniver- ro decanato precisam de dem começar a compro- a sua ação para o trabalho, podendo
com a vida pessoal. O sário e precisam fechar se focar no trabalho e de meter a saúde e a pa- acumular várias tarefas com quali-
trabalho pode começar um ciclo. Os relaciona- criar novos métodos de ciência. Os nativos do dade e exigência.
a exigir mais de si. Pode mentos sociais e os no- organização das tarefas primeiro decanato po-
sentir dificuldade em li- vos encontros podem para obter os resultados dem ter energia para ta-
bertar-se de alguns re- trazer, com a influência desejados. Altura favo- refas que exijam esforço
cursos, pondere se não é desta semana, os resul- rável para reforçar o sis- físico, principalmente PLANETAS
melhor prescindir deles. tados que pretende. tema imunitário. para reconstruir algo.
Mercúrio ingressa no signo de Balança
e ativa o regente que se encontra
no mesmo signo, o que fortalecerá a
tendência de estarmos mais ativos nas
relações sociais e de criar pontes onde
o ponto focal será a aceitação das dife-
renças. No entanto, a agitação mental
Sagitário Capricórnio Aquário Peixes pode levar a exageros pela dificuldade
23.11 a 21.12 22.12 a 20.01 21.01 a 18.02 19.02 a 20.03 de reunir a informação necessária antes
de atuar. A fase lunar minguante inicia a
Desafios no trabalho e Aproveite esta semana Fase em que vai sentir Semana com desafios ao semana no signo de Gémeos acentuado
na forma como lida com para expandir com rea- que alguns dos seus pro- nível da vitalidade. A vi- mais esta tendência. Todos os planetas
novos métodos ou com lismo as suas ideias, pro- jetos estão a ter resulta- ver o ciclo anual da opo- sociais e transociais estão retrógrados,
a saturação de algumas jetos e iniciativas, prin- dos, principalmente os sição Sol/Sol, os nativos podendo levar a uma forte revisão nas
rotinas. Os nativos do cipalmente os nativos nativos do terceiro deca- do terceiro decanato po- regras, leis e a uma profunda transfor-
segundo decanato po- do terceiro decanato. nato. Tente controlar a dem sentir que os recur- mação, em geral, na sociedade. O desa-
dem aproveitar esta Procure novas formas rapidez e a necessidade sos estão mais escassos fio é ter maior compaixão.
altura para apresentar de trabalhar. Ouse arris- de mudar várias coisas e ter dificuldade em ex-
as propostas e levar oti- car e procure o apoio ne- ao mesmo tempo. Preci- por as ideias, seja por
mismo e esperança aos cessário para realizar as sa de estrutura e dos re- ansiedade ou por falta
outros. Restruture. suas tarefas diárias. cursos adequados. de firmeza.

Notícias Magazine 29.08.2021 49


cró-
nica LEVANTE-SE
O RÉU
POR Rui Cardoso Martins

ILUSTRAÇÃO: JOÃO VASCO CORREIA

VENHA PARA FORA


anormal.
— Mas na altura!..., quis saber a juíza.
Revelou-se uma comédia rodoviária, como termos um furo e

LÁ DENTRO
descobrirmos que não se leva pneu sobresselente nem macaco.
Primeiro, cumprimentos felizes entre os dois homens. Depois,
ver o tal jipe impecável e lavadinho nos arredores de Lisboa. Dar
duas voltecas num parque de estacionamento, irem à conserva-
tória fazer a mudança do registo de propriedade, pagar, terminar
Passeios em família, uns correm bem, outros não. Foi longa a via- a compra. Tudo sobre rodas. Miguel, agora, ia destravar a língua.
gem: Miguel apanhou o avião na Suíça e tinha Paulo à sua espera — Eu peguei no carro e arranquei para Norte. A meio, mais ou
no aeroporto. Não se conheciam (e agora não se podem ver). Mi- menos, ali pela Mealhada, dei conta que o carro estava a perder
guel descobrira um jipe no OLX, era só comprá-lo e levá-lo para muito óleo. Liguei para o senhor Paulo e até foi ele que me cha-
Barcelos, a sua terra natal. A seguir, voltar para a Suíça para a cons- mou o reboque...
trução civil e um dia, novamente, regressar para as férias em Por- E ali estava Miguel, sujeito ao Sol e à chuva, sem poder sequer
tugal. Anos depois, a vítima de burla respondia à juíza por vídeo, comer leitão, esperando reboque. O resto do caminho no reboque
desde Barcelos. Paulo, o arguido, observava-o no ecrã, de ar zan- a pensar na vida. Miguel escolheu a garagem de um mecânico ami-
gado, fervendo em óleo escuro. go. Este olhou, abriu o capô e disse: “Ó Miguel, meteste-te num
— O senhor celebrou algum negócio com um jipe? grande sarilho. Este motor nem sequer é deste carro!”.
— Sim, fizemos o negócio do carro. Tenho um grupo de amigos Queixa na Polícia, telefonemas a bem que azedaram (recusa de
que faz passeios por Portugal, cada qual com o seu jipe. Vivia na Paulo em devolver o dinheiro), e o lastro bruto destes aconteci-
Suíça e queria comprar um. Vi este belo anúncio. mentos. Miguel descreveu a viagem do seu espírito:
Iam os amigos e as mulheres e a vida era uma aventura pelos ca- — Houve uma altura em que me apeteceu bater em mim pró-
minhos de Portugal, viam tantas coisas lindas, viam um Mundo prio. Porque ele disse ao colega que estava com ele: “Vês como
sem igual. consegui vender o carro?”. Ele pensa que eu não ouvi, mas ouvi!
— Tenho um primo que tem um jipe, muito bonito, suspirou O carro, vá-se lá saber como, reprovou no centro de inspecção.
Miguel. Mas o vendedor Paulo, na sala, estava indignado. Também fora
Só que o novo jipe em segunda mão – que lhe custara nove mil enganado, porque o comprara de boa-fé! Só tinha arranjado o car-
francos suíços, ou 8500 euros – estava todo quitado. Era um cha- ro para o revender. Papéis sempre em ordem! Era indigno acusa-
ço, como o seu vendedor: há palavras que são peças com vários rem-no de burla. Em conversa com a procuradora, a magistrada
usos técnicos e figurados, incluindo as defeituosas. A juíza diri- encontrou uma falha no histórico de circulação do jipe. De 2012
gia os problemas do jipe: segundo a Polícia e a peritagem, não po- a 2014, estava em branco.
dia andar na estrada, só em caminhos de todo-o-terreno. Ou me- — De 2012 a 2014 estive fora, resmungou Paulo.
lhor, poderia se o número do motor coincidisse com os documen- — Esteve fora onde?
tos e, melhor ainda, se o motor original não tivesse sido mudado, Ponto de embraiagem na conversa. Mete a primeira velocidade.
provavelmente com grua, de um carro de marca mais barata! Já — Estive preso.
agora, se os pneus e os bancos fossem dali, se a quilometragem — Ah, fora da liberdade.
não tivesse sido viciada, se a própria chapa de matrícula não esti- — É isso.
vesse “em divergência” com o registo do carro. Miguel, de Barce- Ou isto: esteve dentro. Mete a segunda mudança, mete a ter-
los para Lisboa, parecia falar do espaço, má ligação. ceira, acelera estrada fora.
— Sentiu que havia alguma coisa anormal, que não batia certo?
— Agora sim, pelo que sei agora de jipes, tinha muita coisa de O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

50 29.08.2021 Notícias Magazine


TURISMO
10h00 | ABERTURA
Pedro Araújo, EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN

10h05 | INTERVENÇÕES
Carlos Abade, VOGAL DO CONSELHO DIRETIVO DO TURISMO DE PORTUGAL
Francisco Calheiros, PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DO TURISMO DE PORTUGAL
José Theotónio, CEO DO GRUPO PESTANA
João Patrício, DIRETOR COORDENADOR DO NEGÓCIO DE AGRICULTURA,
TURISMO E IMOBILIÁRIO DO BPI

MODERAÇÃO: Pedro Araújo, EDITOREXECUTIVOADJUNTO JN

11h20 | QUESTÕES DO PÚBLICO (via WhatsApp)

11h30 | ENCERRAMENTO

9 DE SETEMBRO
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Saiba mais em: retomarportugal.pt

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