Essa edição do Projeto A Palavra Líquida, idealizada e realizada pelo SESC Niterói,
propõe Feminismo(s): corpo(s) múltiplo(s), projeto expositivo que posiciona-se politicamente
a partir do diálogo entre feminismos e corpos plurais. O que nos faz pensar sobre a presença da mulher no campo das artes em suas dimensões produtivas e curatoriais, bem como na importância de um feminismo interseccional. O conceito de Feminismo Interseccional foi cunhado por Kimberlé Crenshaw em 1989, e traz a ideia de que dispositivos de opressão sistêmica estão interligados de forma rizomática, ou seja, questões étnicos-raciais, identidade de gênero, classe social, orientação sexual, maternidade, corponormatividade e, toda tentativa de hierarquização funcionam e são experimentadas em camadas. A partir da ideia de normatividade como em Foucault, que situa de maneira dicotômica normalidade e anormalidade e prevê como sanção para a suposta anormalidade a exclusão, enfatizamos aqui a pergunta elaborada por Linda Nochlin: “Porque não existiram grandes artistas mulheres?” ao que cito uma frase de María Izquierdo sobre outra questão, que poderia facilmente caber aqui, como resposta: “É crime ser mulher e talentosa.” O mito histórico da meritocracia que ronda a imagem-fetiche do artista, preocupou-se em cristalizar a ideia de que o fruto da genialidade aparece inevitavelmente, mais cedo ou (geralmente) mais tarde… logo, se existiam pouquíssimas obras em exposições ou grandes acervos produzidas por mulheres, seria porque elas não comungavam da mesma genialidade masculina. Escamoteando assim, uma série de motivos políticos e misóginos por trás dessas escolhas e ausências no âmbito de circulação das artes. Sendo assim, Feminismo(s): corpo(s) múltiplo(s) é além de potencialidade expositiva, compromisso político com o necessário revisionismo de uma história da arte tão marcada por silenciamentos. Ela conta com obras produzidas por quatro mulheres atravessadas por questões interseccionais, mas unidas no enfrentamento da misoginia nos espaços das artes. Dolores, Amanda, Day e Mila respondem, cada uma à seu modo, à questão: “Porque não existiram grandes artistas mulheres?” Elas sempre existiram. Nós existimos.