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REVISTA Nº 001

"A qualidade essencial da Justiça é ministrá-la


rapidamente; fazê-la esperar ou adiá-la já é
uma injustiça" (La Bruyère).

A criação dos Tribunais Regionais Federais teve como um de seus objetivos acelerar
a aplicação da Justiça pela repartição, por Regiões, do 2 grau de jurisdição, antes concentrado
no extinto Tribunal Federal de Recursos.
Esses Tribunais vêm se constituindo em valioso instrumento de solução de conflitos
e de garantia dos direitos do indivíduo e da sociedade, mantendo corajosamente a igualdade
das partes no processo e aplicando as leis de acordo com os fins sociais a que se destinam,
contribuindo assim, eficazmente, para a paz social, o avanço do Direito, o fortalecimento das
instituições democráticas brasileiras e a objetivação dos elevados ideais de Justiça.
A Revista, lançada na data do terceiro aniversário do Tribunal Regional Federal da 2
Região, pretende mostrar um pouco da vida e do pensamento jurídico dos seus juízes.
Espero que a divulgação da nossa jurisprudência, fruto da atuação do magistrado no exercício
da sua solitária e nobre missão, sirva de fonte de estudo e de reflexão e contribua, de alguma
maneira, para a elevação da dignidade humana.

PAULO FREITAS BARATA


Presidente

ATOS SOLENES

ATA DA SESSÃO ADMINISTRATIVA, REALIZADA NO DIA 6 DE OUTUBRO DE


1988

O EXMO. SR. MINISTRO GUEIROS LEITE (Presidente): Convoco Sessão Administrativa


pública para trato do assunto referente ao art. 27, parágrafo 6, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, da Legislação pertinente aos Tribunais Regionais Federais.
Transformo em Conselho, para depois reabri-la, a fim de que colhamos os votos dos Srs.
Ministros.
Senhores Ministros, está aberta esta Sessão Administrativa histórica, destinada à
aprovação da Resolução n 1, de 6 de outubro de 1988, que implementa o artigo 27, parágrafo
6, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal ontem
promulgada, ou seja, a localização das sedes e fixação da jurisdição dos Tribunais Regionais
Federais. A Sessão também terá por objetivo o exame e aperfeiçoamento do anteprojeto de lei
que disporá sobre a composição inicial desses Tribunais e sua instalação, criação dos
respectivos quadros de pessoal e que dá outras providências. Peço, pois, a cooperação dos
Senhores Ministros para o aperfeiçoamento dos atos referidos, o que constará da Ata.
Transformo primeiramente, a Sessão em Conselho para debates. Ultimados estes, reabro a
Sessão e torno-a pública, para enunciar o resultado dos trabalhos, a saber: 1) O Tribunal, por
unanimidade, expediu a Resolução n 01, de 6 de outubro de 1988, para fins de cumprimento
do art. 27, parágrafo 6, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da nova
Constituição hoje promulgada, ou seja, a localização das sedes e a fixação da jurisdição dos
Tribunais Regionais Federais, que é a seguinte: a) Tribunal Regional Federal da 1 Região,
com sede em Brasília e jurisdição sobre o Distrito Federal e os Estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia,
Roraima e Tocantins; b) Tribunal Regional Federal da 2 Região, com sede na cidade do Rio
de Janeiro e jurisdição sobre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo; c) Tribunal
Regional Federal da 3 Região, com sede na cidade de São Paulo e jurisdição sobre os Estados
de São Paulo e Mato Grosso do Sul; d) Tribunal Regional Federal da 4 Região, com sede na
cidade de Porto Alegre e jurisdição sobre os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa
Catarina; e) Tribunal Regional Federal da 5 Região, com sede na cidade do Recife e
jurisdição sobre os Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Sergipe; 2) O Tribunal aprovou a elaboração do anteprojeto de lei a ser encaminhado ao
Congresso e que define a composição de cada um dos Tribunais Regionais Federais; 3) O
Tribunal decidiu fazer constar da ata da Sessão os expedientes dirigidos à Presidência, a título
de colaboração, pelos Governos dos Estados da Bahia, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul; 4) O Tribunal decidiu, finalmente, encaminhar o anteprojeto de lei ao Congresso
Nacional e dar conhecimento do evento às autoridades e órgãos de classe, a seguir
relacionados: Presidente da República, Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos
Deputados, do Supremo Tribunal e dos Tribunais Superiores Federais, Procuradoria-Geral da
República, Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Governadores de todas as Unidades da
Federação, Presidentes das Assembléias Legislativas respectivas, Conselho Federal e Seções
da Ordem dos Advogados do Brasil e Juízes Federais de Primeira Instância, na pessoa dos
respectivos diretores do Foro; 5) A Presidência determinou para o dia de amanhã, sexta-feira,
7 de outubro de 1988, nova Sessão, em continuidade a esta para fins de exame e aprovação do
anteprojeto de lei relativo ao Superior Tribunal de Justiça, e tudo o mais que se fizer
necessário.

Encerrou-se a Sessão às 18:45 horas, ficando adiado para as próximas Sessões o julgamento
dos processos constantes de pautas anteriores e dos pedidos de vista não julgados nesta
assentada.

Brasília, 6 de outubro de 1988 - Ministro GUEIROS LEITE, Presidente - MARILIA


CHAVES COELHO, Secretária do Plenário.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, 1(1):149-157, set. 1989.


ATA DA SOLENIDADE DE INSTALAÇÃO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL
DA 2 REGIÃO E POSSE DOS JUÍZES NOMEADOS PARA SUA COMPOSIÇÃO
INICIAL E DEMAIS MEMBROS
Aos trinta dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e nove, às
dezesseis horas, na sala de Sessões do prédio localizado na Rua Acre, n 80, nesta cidade do
Rio de Janeiro, Capital do Estado do Rio de Janeiro, sob a presidência do Exmo. Sr. Ministro
Armando Leite Rollemberg, 1 decano, representando o Exmo. Sr. Presidente do Tribunal
Federal de Recursos, Ministro Evandro Gueiros Leite, mediante delegação conferida pelo Ato
n 1.314, de 28 de Março de 1989, e nos termos do art. 27, parágrafo 7, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, realizou-se a instalação do Tribunal Regional
Federal da 2 Região, bem assim a posse dos respectivos Juízes. Após a composição da mesa e
a execução do Hino Nacional o Exmo. Sr. Ministro Armando Leite Rollemberg abriu os
trabalhos, declarando instalado o Tribunal Regional Federal da 2 Região e, em ato seqüencial,
mediante a leitura dos respectivos termos de compromisso e posse, deu posse aos Juízes,
observada a ordem seguinte, conforme decidido pelo Egrégio Conselho da Justiça Federal, na
Sessão de 28 do corrente mês: Dr. Romario Rangel, Dr. Celso Gabriel de Rezende Passos, Dr.
Agustinho Fernandes Dias da Silva, Dr. Clélio Erthal, Dr. Ney Magno Valadares, Dr. Henry
Bianor Chalu Barbosa, Dr. Valmir Martins Peçanha, Dr. Sérgio de Andréa Ferreira, Dr. Paulo
Freitas Barata, Dra. Julieta Lídia Machado Cunha Lunz, Dr. Alberto Nogueira, Dr. Frederico
José Leite Gueiros, Dra. Tania de Melo Bastos Heine e Dr. Arnaldo Esteves Lima. Em
seguida, convidou o Exmo. Sr. Dr. Romario Rangel para, na forma prevista no artigo 4 da Lei
n 7.727, de 09 de janeiro de 1989, e na condição de Presidente do Tribunal Regional Federal
da 2 Região, tomar assento à mesa. Em seguida, usaram da palavra os Exmos. Srs. Dr. Paulo
Freitas Barata, para saudação em nome dos Juízes empossados; Dra. Célia Regina Souza
Delgado, representando o Ministério Público Federal; Dr. Candido de Oliveira Bisneto,
representando a Ordem dos Advogados do Brasil-Seccional do Rio de Janeiro. Finalmente, o
Exmo. Sr. Ministro Armando Leite Rollemberg fez uso da palavra para declarar encerrados os
trabalhos, convidando as autoridades presentes para o descerramento da placa comemorativa,
após registrar a presença dos Exmos. Srs. Ministros Carlos Augusto Thibau Guimarães e
Ilmar Nascimento Galvão, do Tribunal Federal de Recursos e dos Juízes Federais: Ariosto de
Resende Rocha, Silvério Luiz Nery Cabral, Bento Gabriel da Costa Fontoura, Celia
Georgakópoulos, Maria Helena Cisne Cid, José Eduardo Carreira Alvim, Constantino Alves
de Oliveira, José Ricardo de Siqueira Regueira, Marilena Soares Reis Franco, André José
Koslowski, Benedito Gonçalves, Salete Maria Polita Maccalóz, Wanderley de Andrade
Monteiro, Rogério Vieira de Carvalho, Júlio Cesar Martins, Neusa Dantas da Silva, Alfredo
França Neto, Lana Maria Fontes Regueira, Roberto Wanderley Nogueira, Joaquim Antonio
Castro Aguiar, Roy Reis Friede, Maria Teresa de Almeida Rosa Cárcomo Lobo, Sérgio
Feltrim Correa, Sérgio Schwaitzer, Ivo Tolomini, Augusto Guilherme Diefenthaeler, Nizete
Antonia Lobato Rodrigues, Fernando José Marques Raldenio Bonifácio Costa, Antonio Ivan
Athié, José Ferreira Neves Neto, Virginia Procópio Oliveira Silva e agradecer a presença das
demais autoridades que prestigiaram o evento. Nada mais havendo a tratar, o Exmo. Sr.
Ministro Armando Leite Rollemberg mandou que eu, Bel.(Jair Ferreira da Cunha), lavrasse a
presente Ata, que vai assinada por Sua Excelência, pelos Juízes empossados e outras
autoridades.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, 1(1):169-178, set. 1989.


OS JUÍZES DO TRIBUNAL
DESEMBARGADOR FEDERAL
PAULO FREITAS BARATA

Paulo Freitas Barata, filho de Aladir de Bragança Rodrigues Barata e Corina Freitas
Barata, nasceu a 21 de abril de 1940, em Belém do Pará. É casado com Lilian Lúcia Pinheiro
Barata, tendo deste matrimônio um filho, Bruno Pinheiro Barata. Bacharelou-se em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, licenciando-se, mais tarde, em
Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense.
Possui os cursos de doutorado em Direito Privado Especializado (PUC/RJ) e de
mestrado em Filosofia da Educação (Universidade Católica de Petrópolis - RJ), embora não
possua, ainda, os graus correspondentes.
Concluiu também, cusrsos de extensão universitária sobre Política e sobre Economia
(Universidade de Brasília), recebendo prêmio pela dissertação de conclusão deste último.
Cursou a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra-ADESG, onde
foi dirigente de Grupo e apresentou trabalho sobre: o enfraquecimento da família: causas
educacionais e econômicas.
Iniciou no serviço público como Auxiliar de Portaria do Ministério do Trabalho,
cargo para o qual fora aprovado em 1 lugar em 1960. Dentro da carreira, ascendeu a diversas
categorias, chegando a Diretor de Secretaria da 8 Vara Federal do Rio de Janeiro.
Em 1974 ingressou na Magistratura como Juiz Federal Substituto na mesma Vara em que
havia trabalhado como Diretor, onde, em seguida, assumiu a titularidade e permaneceu até ser
nomeado para o Tribunal Regional Federal da 2 Região. Em 1984 ocupou a Direção do Foro,
ficando sob sua supervisão a construção do edifício anexo à sede da Seção Judiciária do Rio
de Janeiro.
Judicou, também, por curtos períodos, em Goiás, no Amazonas e no Pará, sendo
naqueles dois primeiros Estados Diretor do Foro e membro dos Tribunais Regionais
Eleitorais.
Nomeado para o TRF-2 Região, em março de 1989, Paulo Barata foi eleito
Vice-Presidente-Corregedor e Presidente, respectivamente para os biênios de 89/91 e 91/93.
Dentre suas realizações, presidiu a Comissão de elaboração de projeto da estrutura
administrativa deste Tribunal e a Comissão Organizadora e Examinadora dos 1 e 2
Concursos para Juiz Federal Substituto da Justiça Federal da 2 Região.
Como docente, lecionou Metodologia Científica e Instituições de Direito Público e
Privado na Federação das Faculdades Celso Lisboa.
Dentre as inúmeras conferências proferidas, ressaltam-se os temas ligados ao
Processo Expropriatório, Avaliação e Perícia. Em seu currículo constam ainda participações
destacadas em Congressos, Grupos de Trabalho, Fóruns de Debate e Comissões; promovendo,
entre estas, estudos visando à padronização e uniformização de impressos concernentes ao
expediente das Secretarias das Varas, à segurança e manutenção dos prédios da Seção
Judiciária do Rio de Janeiro e a padronização dos cálculos na Justiça Federal.
________SUSPENSÃO DE EXECUÇÃO DE MEDIDA LIMINAR EM
MANDADO DE
SEGURANÇA________________________________________

Nº 0042/90 (REG. GERAL Nº 90.02.16302-9)

Requerente: União Federal

________DESPACHO_____________________________________________
___

A UNIÃO FEDERAL, com fundamento nos artigos 13 da Lei n 1.533/51 e 4 da


Lei n 4.384/64, requer a Suspensão da execução da liminar concedida pelo Juiz Federal em
exercício na 28 Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, nos autos do Mandado
de Segurança n 90.0007320-0, impetrado por FIDUCIA S.A. DISTRIBUIDORA DE
TÍTULOS E VALORES IMOBILIÁRIOS para eximir-se da aquisição compulsória dos
Certificados de Privatização criados pela Lei n 8.018, de 11 de abril de 1990, regulados pela
Resolução BACEN 1.709, de 14 de maio do mesmo ano.
Alega que foi contrariada a Medida Provisória n 186/90, que proíbe o deferimento
de liminares em Mandado de Segurança que tenham por objeto as medidas econômicas do
chamado "Plano Collor"; que inexiste o periculum in mora justificador da concessão da
liminar; que foi desprestigiado o Poder Executivo produtor do ato e ferido o princípio da
harmonia entre os Poderes; que a liminar foi deferida contra Lei em tese, afrontando a Súmula
n 266 do Supremo Tribunal Federal; que o deferimento ocorreu "em tempo recorde".
Entende que a execução da medida "colocará o interesse público sob risco iminente
em face das graves lesões à ordem jurídica e ao sistema econômico do País".
É princípio corrente em Direito que alegar e nada provar é o mesmo que nada alegar.
Não basta dizer que a execução da liminar colocará em risco a economia pública, pois a
presunção de veracidade, aqui, não tem a extensão que lhe dá a Requerente. O simples fato de
ser, a liminar, contrária a algum dispositivo das medidas executórias do plano econômico do
Governo não significa, só por essa razão, que sua execução irá causar danos à economia
pública. É necessário um mínimo de prova nesse sentido, para que, ressalte-se, A UNIÃO
nem tentou apresentar.
A Suspensão de execução de liminar é medida jurídica excepcional e, como tal, só
excepcionalmente deverá ser deferida. Não deve ser transformada em instrumento político e
nem em indesejável prática de intromissão no poder e na liberdade de julgar do magistrado de
1 grau.
Aqui poderia encerrar o despacho, já que, em pedidos como este, não cabe verificar
se estão presentes os pressupostos do artigo 7, II, da Lei n 1.533/51: Fumus boni juris e
periculum in mora. Compete ao Presidente do Tribunal examinar se a execução da liminar
causará ofensa aos bens tutelados pelo artigo 4 da Lei n 4.348/64, a saber: ordem, segurança,
saúde e economia públicas.
Contudo, algumas colocações da UNIÃO, embora impertinentes, exigem que nele
me alongue.
A União afirma que o próprio Governo Federal, "atendendo às reivindicações de
empresas interessadas, resolveu adiar o lançamento dos CPs, o que, por si só, afasta o
requisito do periculum in mora, alegado mas não demonstrado nestes autos".
Tal assertiva afasta, também, a necessidade de suspender a execução da liminar,
porquanto seus efeitos não representam qualquer ameaça atual à economia pública.
A alegação de que o Juiz, ao conceder a liminar, contrariou a Medida Provisória n
186/90, causando grave lesão à ordem jurídica, é matéria estranha ao artigo 4 da Lei n
4.384/64 e, para que inocorra essa lesão, deverá ser apreciada no momento próprio. O mesmo
raciocínio se aplica quanto à mencionada ofensa à Súmula n 266 do Supremo Tribunal
Federal.
Igualmente, não tem pertinência a afirmativa de que o deferimento da liminar
"implicou em manifesto desprestígio ao Poder Executivo produtor do ato, por marginalizá-lo,
quando do exame de um comportamento seu, em favor do qual milita, repita-se, o benefício
anteriormente citado" da presunção de legitimidade.
Esta Presidência não pode silenciar a respeito de tão perigosa manifestação,
promotora da desordem pública e da desarmonia entre os Poderes.
Enfatize-se, antes de mais nada, que não se cuidou, em momento algum, de apreciar
o "comportamento" do Senhor Presidente da República. O Judiciário não tem por missão
precípua proferir julgamentos éticos sobre o comportamento de qualquer pessoa.
Por outro lado, o Judiciário não se sente desprestigiado nem marginalizado quando o
Executivo baixa Decretos ou Medidas Provisórias. O mesmo certamente ocorre com o
Executivo quando o Judiciário declara inconstitucional qualquer deles. Não se trata aqui,
evidentemente, dessas questões menores, mas da objetivação do exercício regular da
democracia, da divisão dos Poderes e da salutar independência que existe entre eles. Nada
mais.
Inexiste, no país, confronto entre os Poderes Executivo e Judiciário. Convém não
fomentar essa idéia e, por sua natureza política, não erigí-la em argumento principal para
solucionar questões que são jurídicas.
Finalmente, a crítica ao magistrado por haver concedido a liminar "em tempo
recorde - menos de 24 horas após concluso o processo", é descabida. Na Justiça Federal,
quase todas as liminares são decididas no mesmo dia do ajuizamento ou no dia imediato.
Poucas ultrapassam as 48 horas. É da essência da medida liminar que ela seja
apreciada rapidamente, sob pena de perder seu objeto. A presteza do magistrado não tem
conotação política.
Face ao exposto, INDEFIRO o pedido formulado pela UNIÃO FEDERAL.
Publique-se.

Rio de Janeiro, 25 de junho de 1990.

PAULO FREITAS BARATA


Presidente em exercício

________SUSPENSÃO DE
LIMINAR_________________________________

PROCESSO N 91.02.12248-0

Requerente: Banco Central do Brasil


Requerido: Juízo Federal da 4 Vara - ES

Vistos, etc...,
O BANCO CENTRAL DO BRASIL requer, com base no artigo 12, parágrafo 1, da
lei n 7347, de 24.07.85, suspensão de liminar concedida pelo Juiz Federal da 4 Vara da Seção
Judiciária do Estado do Espírito Santo nos autos da Ação Civil Pública n 383/91, proposta
pelo Ministério Público Federal diante da União Federal e do Banco Central do Brasil.
Afirma que a liminar foi deferida nos termos da inicial, ou seja, com a ordem a
serem convertidos em cruzeiros todos os saldos em cruzados novos de que são titulares
pessoas físicas e jurídicas no Estado do Espírito Santo, com remunerações e correções que
houver, sem quaisquer limites, restrições ou obstáculos à livre movimentação dos valores
pelos beneficiários, restabelecendo-se, a critério destes, os contratos de natureza bancária ou
financeira vigentes quando da edição da mencionada lei n 8.024/90.
Sustenta que a execução da medida causará "inevitável escalada inflacionária" e
poderá "tornar inócuas todas as providências e medidas econômicas que até aqui foram
suportadas com indizível sacrifício pelo povo brasileiro, inutilizando os resultados obtidos
pelo Plano Brasil Novo".
Argumenta, ainda, que existe o perigo de grave lesão à ordem jurídica, por se tratar
de execução de liminar eminentemente satisfativa, não deixando resíduo a ser concedido em
sentença final.
O Juiz Federal entendeu presentes o fumus boni juris - por lhe parecer que a lei n
8.024/90 afrontou direitos garantidos constitucionalmente - e o periculum in mora - porque a
devolução do dinheiro bloqueado, se for feita, o será em parcelas, não recompondo o direito
violado.
Assim resumidos os fatos, diga-se, desde logo, que a decisão das questões jurídicas
em debate escapam dos limites deste procedimento.
Aqui, como na lei n 4.348/64, compete ao Presidente do Tribunal decidir se, da
execução da liminar resultará grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia
públicas.
No caso em exame, entendo que os efeitos da medida causarão grave ameaça à
economia pública pois, em um só momento e de uma só vez, colocará em circulação todos os
cruzados novos que foram bloqueados no Estado do Espírito Santo.
Não é necessário ser economista para perceber que a expansão monetária dessa
ordem de grandeza terminará por causar a aceleração da inflação, em prejuízo de todo o povo
brasileiro, inclusive dos que não tiveram cruzados novos bloqueados por não possuírem
reservas monetárias.
Por outro lado, a questão da inconstitucionalidade da lei n 8.024/90, na parte que
agora nos interessa, ainda não foi enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal e vem sendo
decidida pelos outros Tribunais de maneira conflitante.
Assim, até mesmo por simples cautela, é de ser evitado o cumprimento de medida
liminar tão ampla e de natureza satisfativa. A execução da liminar, medida provisória por
natureza, terá efeitos de execução definitiva, porque será impossível retornar ao estado
anterior e recompor os danos.
Saliente-se, também, que o cumprimento do ato judicial representa, na hipótese,
retirar a eficácia da citada Lei n 8.024/90 no território do Estado do Espírito Santo, o que, de
certa forma, ameaça gravemente a ordem jurídica.

Diante do exposto, DEFIRO a suspensão da execução da liminar concedida pelo Juiz Federal
da 4 Vara da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo na Ação Civil Pública n 383/91.
P., I. e Oficie-se ao Juiz Federal e ao impetrante.

Rio de Janeiro, 09 de julho de 1991.


PAULO FREITAS BARATA
Presidente

DESEMBARGADORA FEDERAL
JULIETA LÍDIA MACHADO CUNHA LUNZ

Nasceu na cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia, em 1 de julho de 1941, filha do


jornalista Joaquim Machado Cunha e da médica obstetra Maria José Cerqueira.
Casada com o Dr. Benevides Aristeu Lunz, Juiz de Direito da Co-marca do Estado do Rio de
Janeiro, tendo três filhos: Gustavo Adolfo, Juliana Lídia e Jorge Alberto.
Chegou com três anos de idade ao Rio de Janeiro, onde, pelo Educandário Modelo. concluiu o
Curso Primário. Cursou o Segundo Grau no Colégio Tereziano, da Companhia de Santa
Tereza de Jesus. Diplomou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
obtendo nessa mesma instituição o grau de Doutora em Direito Privado em 1967.
Advogada atuante no Foro da Justiça do Estado do Rio de Janeiro e da Justiça Federal por um
período de dez anos e cinco meses.
Logrou aprovação em concursos para Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro, Juíza de
Direito do Estado do Rio de Janeiro e Juíza Federal, optando pela Magistratura Federal.
Assumiu, em 13/09/74, o cargo de Juíza Federal Substituta na 4 Vara, ali permanecendo por
alguns meses, até ser transferida para a 6 Vara, onde exerceu a jurisdição cível.
Em maio de 1977, retornou à jurisdição criminal na 4 Vara, a qual foi desdobrada em 4 Vara I
e II, desta última originando-se a 13 Vara.
Na titularidade da 13 Vara Federal até março de 1989, teve oportunidade de presidir e julgar
processos que notabilizaram a Justiça Federal no combate ao crime organizado, tráfico de
entorpecentes, o denominado crime do colarinho branco e as fraudes da Previdência Social.
Eleita Juíza do Tribunal Regional Eleitoral, ali exerceu a jurisdição por 2 biênios, de 1986 a
1989 na condição de Juíza Federal, e já como representante do Tribunal Regional Federal da 2
Região até 1990.
Nomeada Juíza do Tribunal Regional Federal da 2 Região, tomou posse em 30 de março de
1989 e presidiu a Comissão que elaborou o Regimento Interno dessa Corte de Justiça.
Assumiu a presidência da 2 Turma e, em abril de 1991, foi eleita
Vice-Presidênte-Corregedora.

_______AGRAVO REGIMENTAL EM SUSPENSÃO DE LIMINAR

REGISTRO N 90.02.24239-5-RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Romario Rangel


Relatora p/ Acórdão: Exma. Sra. Desembargadora Federal Julieta
Lídia Lunz
Agravante: Trevo - Instituto Bandeirantes de Seguridade Social
Agravado: R. Despacho de Fls. 55/61
________EMENTA__________________________________________

PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - CASSAÇÃO DE MEDIDA


LIMINAR - FALTA DE REQUISITOS - INEXISTÊNCIA DE GRAVE LESÃO
<182> ECONOMIA PÚBLICA.
Não lesa a ordem ou a economia nacional o resgate dos 20% dos Bônus do Tesouro
Nacional, pela variação do IPC e não pela variação cambial - tendo em conta a base
legal do art. 5 da Lei 7777/89.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em Sessão Plenária, por maioria,
dar provimento ao Agravo para reformar a decisão agravada, restabelecendo a liminar, na
forma do voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio, 13 de dezembro de 1990 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Presidente Relatora p/ acórdão

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O Exmo. Sr. Presidente, Desembargador Federal Romario Rangel: - Trata-se de


Agravo Regimental apresentado pelo impetrante do Mandado de Segurança TREVO -
INSTITUTO BANDEIRANTE DE SEGURIDADE SOCIAL, pelos seguintes fatos e
fundamentos:
O Governo Federal determinou que o valor nominal do Bônus do Tesouro Nacional
(BTN) passasse a ser atualizado, no primeiro dia de cada mês, pelo Índice de Reajuste de
Valores Fiscais (IRVF).
Inconformada, a Impetrante requereu Mandado de Segurança, objetivando medida
liminar no sentido de que recebesse o valor nominal dos seus BTN's atualizado pelo Índice de
Preços ao Consumidor (IPC) e não pela variação cambial ou pelo IRVF.

Apreciando o Mandado de Segurança impetrado, o MM. Juiz Federal da 19 Vara da


Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro deferiu a liminar para que a Autoridade
Impetrada fizesse o resgate dos BTN's adquiridos pela Impetrante indexado pelo IPC,
"devendo a importância correspondente à diferença da aplicação desse indexador e do IRVF
ser caucionada em conta judicial até o desfecho do mandamus" (fls. 21).
Contra essa decisão, em 06/11/90, o Banco Central do Brasil requereu a suspensão
da execução da liminar, junto à Presidência deste Tribunal, sustentado que a manutenção da
tutela jurisdicional provisória concedida causa grave lesão à ordem e à economia públicas, por
inviabilizar "desde as suas bases" o Plano Econômico desenvolvido pelo Governo Federal.
Alega que "a vigorar a decisão", ocorrerá a subversão "das competências
constitucionais, passando o Judiciário a administrar a moeda nacional caso a caso",
"impedindo Executivo e Legislativo de cumprirem seu papel de determinar a moeda, os meios
de pagamento, a circulação do crédito, o planejamento econômico, o cumprimento das leis
orçamentárias (anuais e pluri-anuais), etc." (fls. 03).
Adianta que "a quantia disputada constitui valor elevado, que põe em risco a
economia pública, seja pela sua vultosidade ou pelo perigosíssimo precedente que enseja, uma
vez que já existem outros mandados de segurança com o mesmo objeto.
O requerente, para evidenciar a grave lesão que a liminar provocaria na economia
pública, anexou à inicial o Quadro Demonstrativo II, onde ficou esclarecido que,
"se pela correção cambial o valor de resgate em todo o sistema monetária a
Cr$ 123.277.200.000,00, pelo cálculo via IPC iria a Cr$
185.528.700.000,00, num acréscimo de Cr$ 62.251.500.000,00".
Tal valor importa em um impacto sobre a base monetária, da ordem de
"inacreditáveis 6,9%" (fls. 4, item 10).
Ressalta no Anexo III, sob outro prisma o problema como um todo, escrevendo que,
"... apenas neste ano de 1990 os 948 milhões de BTN's a serem resgatadas
teriam seu valor total, conforme as diversas formas de correção, em
cruzeiros como se segue:
a) pelo IRVF: Cr$ 65.048.400.000,00;
b) pelo câmbio: Cr$ 78.247.900.000,00;
c) pelo IPC: Cr$ 129.713.400.000,00."
Diz, ainda, que de junho a setembro último, todo o esforço do Governo Federal, com
restrições de gastos, resultou em um superavit de caixa de Cr$ 60,2 bilhões de cruzeiros.
Assim, diante da situação com que se depara, todo esse esforço "poderá ter sido em vão em
vista da liminar" concedida.
Equacionada a questão nestes termos, assim decidi:
"Os dados trazidos a exame são convincentes, não deixando dúvida de que
a liberação, agora, na forma pretendida e consentida, ainda que para
depósito em juízo, ocasionará grave dano à economia pública, considerada
como um todo, face à necessária emissão de meio circulante,
comprometendo a política que o Governo Federal desenvolve.
Por outro lado, é da competência exclusiva do Congresso Nacional "sustar
os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa" (art. 49-V da
Constituição Federal). No entanto, o Poder Legislativo transformou em Lei
as Medidas Provisórias que dispunham sobre a atualização do BTN (Lei n
8.088, de 31/10/90), entendendo, por conseguinte, que a medida não era
exorbitante.

Não pode, portanto, o Poder Judiciário, por força de uma Liminar, por si só
satisfativa - que pode ser, afinal, cassada, quando do julgamento da
Segurança - subverter a ordem pública, quebrando a autonomia dos
Poderes e administrando a economia discricionária e subjetivamente.
Diante dos argumentos e fatos aduzidos, e por considerar que a liminar, por
suas conseqüências, causa, na situação atual, grave lesão à economia
pública, defiro o pedido e suspendo a sua execução, com base no art. 4,
da Lei n 4.348/64".
Em 05/12/90, TREVO - INSTITUTO BANDEIRANTE DE SEGURIDADE
SOCIAL interpôs Agravo Regimental (fls. 90/98), alegando, em síntese, que:
- "de forma compulsória", adquiriu títulos públicos configurados em Bônus
do Tesouro Nacional - BTN, instituídos pela Lei n 7.777/89, regulados por
Portaria do Ministério da Fazenda (n 170/89), sendo estes denominados
BTN's cambiais, devido à indexação, legalmente prevista, estar vinculada
ao Índice de Preços ao Consumidor - IPC, havendo cláusula alternativa de
opção, quando à época do resgate, que ocorreu em 1 de novembro
próximo passado, pela atualização cambial.
Salienta que, o Poder Público, através das Medidas Provisórias n 189/90,
195/90, 200/90, 212/90 e 237/90, introduziram novo indexador o Índice de
Reajustes de Valores Fiscais (IRVF), com eficácia retroativa, o qual
reduziu substancialmente a correção monetária que seria "legitimamente
aplicável, violando o direito adquirido e o ato jurídico perfeito", que já
havia sido fixado no documento de aquisição dos BTN's cambiais em
questão.
Continuando, diz o requerente que, o "eminente magistrado" ao conceder a
liminar, mediante o depósito judicial dos valores pertinentes à diferença
apurada entre os critérios de indexação dos títulos, garantiu o direito de
ambas as partes litigantes.
Aduz ser "cristalina" a competência do Poder Judiciário para apreciar
qualquer matéria "mormente quanto aos atos editados pelo Executivo".
Finalmente acentua que, em caso semelhante, o Egrégio Tribunal de Justiça
de São Paulo negou a aplicação retroativa da legislação que fora editada
em decorrência do Plano Bresser.
Mantive meu despacho por entender que a desobediência frontal à Lei n 8.088/90,
no contexto atual, causa, não só grave lesão à ordem pública, como também grave lesão à
economia nacional, atendendo assim o disposto no art. 4 da Lei n 4.348/64.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

A EXM SR DESEMBARGADORA FEDERAL JULIETA LÍDIA LUNZ: - Sr.


Presidente, Egrégia Corte, ilustre Advogado que presente está, ainda que não tenha, como
decerto não lhe competia segundo o nosso Regimento Interno, oportunidade para ocupar a
Tribuna, nem por isso deixo de a ele me dirigir, posto que até mesmo por dever de cortesia,
tendo em conta que também por parte dele recebi memoriais, por parte dele recebi
determinados esclarecimentos, em termos, porque esclarecimentos quanto a matéria de fato e
a questão jurídica, sem nenhuma pretensão de soberba não carecia. Mas tendo em vista a
maneira cavalheira como se apresenta, aliás pouco comum entre os advogados, a ele eu saúdo.

Vou iniciar meu breve e sucinto voto com a indagação, de tudo que aqui restou da
larga explanação de V.Ex, do lúcido e erudito Relatório de V.Ex, com conteúdo de política
econômica, com conteúdo jurídico e finalmente com o senão político, me cabe a indagação:
no caso presente, quando o Tesouro Nacional, o Governo Federal, colocou à venda títulos do
Bônus do Tesouro Nacional com a cláusula prevista na Lei 7.777, que faculta seja ao
tomador, seja ao investidor a opção quando da época do resgate, quem será o vilão? Se o
investidor que acorre àquele chamado e aplica o seu pouco, ou o seu muito e opulento recurso
nas mãos do Governo Federal, ou será o vilão aquele que acena com vantagens e estabelece
parâmetros diversos, visando a estimular o recurso, retirar de circulação a base monetária?
Mas quem é que gere, quem é o responsável, quem é o único responsável pela área
econômica? Decerto que não é o Poder Judiciário. Então, fico no início com essa indagação,
porque não me parece tenha ficado muito clara a posição do ora agravante, que a minha frente
se apresenta como um requerente baseado num direito que em princípio se me apresenta bom.
Pretendeu e obteve uma liminar para que o resgate de 20% daquilo que aplicou nas mãos do
Tesouro Nacional lhe fosse garantido, com base na opção que lhe acenou o art. 5 da Lei
7.777/89 já citada.
Ora, o resgate não é contestado pelo Banco Central. O Banco Central não contesta o
resgate dos 20% - e tive a ousadia de fazer um aparte ao Desembargador Federal Paulo Barata
e lhe agradeço e me penitencio - mas o Banco Central não contesta esssa circunstância. A
grave lesão, Sr. Presidente, a grave lesão, Egrégia Corte, adviria unicamente do fato desses
20% serem corrigidos, serem reajustáveis, o valor nominal desses títulos ser calculado com
base no IPC e não pela variação cambial.
Então, temos duas indagações: afinal, onde se mente? É quando se coloca o IPC
acima de um patamar que não corresponde à realidade, dando causa e uma inflação, a um
desgaste individual, social, coletivo exagerado, ou quando se falseia com uma variação
cambial que não é correta, que não reflete o valor exato, o padrão do dólar e com isso se acena
uma política paternalista ou protecionista com os importadores e exportadores. Mais ainda,
num momento em que as importações mais se alargaram no País.
É sabido que muitos bens que até então eram proibidos tiveram a importação
liberada. Então o que faz aquele que é o único responsável pela gestão da economia nacional?
Simplesmente abaixa a taxa de câmbio e data venia do Sr. Presidente, tivemos a
oportunidade de ouvir aqui que o dólar caiu. Ora, data venia, o dólar só pode cair na visão do
Tribunal, porque quem quiser hoje comprar um dólar vai pagar, seja no paralelo, seja no dólar
turismo, um absurdo, um absurdo em termos de padrão monetário para com o nosso cruzeiro
ou cruzado, ou que nome seja. Uns já até disseram que a moeda já traz em si a Cruz de Cristo,
que por isso é pesada para o povo brasileiro. Moeda, Sr. Presidente, data venia, sei muito
bem o que é. E sei mais ainda quando a tenho em mãos, quando a procuro cambiar pelos
valores que dizem que ela representa. Nesse sentido, vou pedir venia, e como não tenha o
Banco Central contestado o resgate dos 20% e sim a variação, a atualização desses títulos
pode e deve se fazer através da variação medida pelo IPC, que então se faça consoante a
legislação estabelece, esclarecendo ainda um pequeno tópico: que a defesa da ordem, da
saúde, da segurança e da economia pública é certamente obrigação, não somente dos poderes
públicos lato sensu, mas deve ser dever de todo e qualquer cidadão.
E vem refletida no art. 4 da Lei 4.348/64 ao deferir a V.Ex, enquanto Presidente
deste Egrégio Tribunal, a obrigação, dada a sua condição especial, de velar para que as
decisões judiciais não venham a atingir tais valores - os valores a que me referi: a ordem, a
saúde, a segurança e a economia pública. Ainda que em resguardo dos interesses individuais,
tais valores não podem ser postergados.

Entretanto, é certo também que a política econômico-financeira está nas mãos do


Chefe do Poder do Estado. Não compete ao Presidente de qualquer Tribunal, seja do Estado
do Rio de Janeiro, seja de Alagoas, ou do Regional da 2 Região ou da 5 Região - como me
chegou às mãos uma certidão de um julgado recente - não compete ao Presidente e quiçá
como seria conveniente, como talvez fosse melhor conduzida a política econômica se com a
cassação de liminares fosse possível sustar essa desordem, essa falta de credibilidade que
inspira tudo o que diz respeito à área econômica no País. Não me parece que seja a finalidade
do art. 4 o resguardo da ordem econômica. A ordem econômica não se vê abalada quando se
resguarda o interesse individual, enquanto que o Poder Público, que é o responsável e que
detém a carga horária de seu trabalho, de seu empenho, de sua obrigação, silencia e estabelece
parâmetros desiguais para uma moeda que reflete, em última análise, a mesma situação.
Data venia, vou me serenar e me abster de entrar no mérito da decisão da Liminar
concedida, porque para não tocar na questão da fiança bancária, com o que comungo com
V.Ex, entendo que um Banco a creditar, a fiduciar outra entidade também bancária seria
desnecessário. Mas isso me fica a latere, uma vez que o próprio Banco Central em nenhuma
oportunidade contestou que o resgate dos 20% causaria à economia nacional a grave lesão.
E cabe, aqui e agora, mais uma indagação: e cada cidadão brasileiro, seja ele o mais
humilde ou o menos - de certo vivenciamos uma sociedade de paradoxos, ou estamos diante
de um miserável ou de um opulento praticamente no mesmo momento - como será na época
em que o governo pretende o resgate daquilo que, compulsoriamente, nos tomou emprestado?
Em suma, o governo passou a ser o tomador de toda a poupança nacional. Então, no momento
em que ele tiver que resgatar - como já previsto legalmente terá que resgatar - será alegada a
grave lesão à economia nacional, porque o dinheiro fará expandir a base monetária. Então
teremos que simplesmente impedir que sejam resgatados aqueles títulos. Até hoje não temos
sequer os Bônus.
No caso do agravante, ele ainda os tem, mas os investidores do Plano Collor sequer
detêm o Bônus. Então, no momento em que tiver que resgatar aquilo que compulsoriamente
tomou, a grave lesão, seguindo o raciocínio estrito do que se apresenta neste Agravo, será
inevitável.
Data venia, vou me penitenciar com V.Ex e com todo o respeito, Sr. Presidente, dou
provimento ao Agravo.

JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargadora Federal

________AGRAVO REGIMENTAL EM
PRECATÓRIO_________________

REGISTRO N 90.02.16717-2/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Paulo Freitas Barata


Relatora p/ Acórdão: Exma. Sra. Desembargadora Federal Julieta Lídia Lunz
Agravante: Ouro Fino Importadora Exportadora S/A
Agravado: R. Despacho de Fls. 257
________EMENTA________________________________________________
__

PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - ORDEM DE PRECEDÊNCIA


DE PRECATÓRIO DE PAGAMENTO - PRETERIÇÃO - FALTA DE VERBA
ORÇAMENTÁRIA DESTINADA <182> REQUISIÇÃO JUDICIÁRIA -
SEQÜESTRO REQUERIDO E DEFERIDO.
A teor do parágrafo 2 do artigo 100 da Constituição Federal, há de ser deferido o
seqüestro para atender a precatório judicial.
A ordem de preferência no pagamento do precatório conta-se a partir de sua
apresentação no Tribunal, através da competente distribuição.
Há de ser assegurada a ordem de apresentação que não deve ser prejudicada com o
processamento do precatório no Tribunal, sendo garantia constitucional o respeito à
precedência na apresentação.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em Sessão Plenária, por maioria,
dar provimento ao agravo, para determinar a expedição de mandado contra o Banco Central,
para o seqüestro da quantia correspondente ao presente precatório, que permanecerá em
depósito, à disposição deste Tribunal, efetuando-se o pagamento na ordem de apresentação
dos precatórios, de acordo com o voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 25 de abril de 1991 (data do julgamento).

PAULO FREITAS BARATA JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Presidente Relatora p/ Acórdão

________VOTO__________________________________________________
___

A EXM SR DESEMBARGADORA FEDERAL JULIETA LÍDIA LUNZ: - Do


relatório de S.Ex, o Eminente Presidente deste Egrégio Tribunal, posso inferir que a empresa
agravante pretende o seqüestro das importâncias relativas a seu precatório de pagamento,
registrado neste Tribunal Regional Federal, em 28/06/90, o qual alega não ter sido incluído na
verba orçamentária destinada ao pagamento dos créditos às entidades de direito público, no
caso o Banco Central do Brasil.
Recebi memoriais da ilustre advogada da empresa agravante e do culto advogado do
Banco Central, nos quais se contêm, no primeiro deles, fotocópias de peças dos autos, das
quais se evidencia que a empresa agravante, "Ouro Fino Importadora Exportadora S/A", fez
apresentar na Secretaria deste Egrégio Tribunal os precatórios que receberam os ns
90.02.16711-3 e 90.02.16717-2, em 28 e 29 de junho de 1990. Da certidão acostada às fls.
184 dos autos, verifica-se que os dois precatórios receberam os ns 962 e 964, previstos os
pagamentos para este exercício de 1991. Tais elementos contradizem a afirmação do Banco
Central, no sentido de que o precatório indigitado nestes autos teria sido apresentado após
01/07/90. Daí, o sofisma de que os recursos relativos deverão ser colocados à disposição deste
Egrégio Tribunal em 01/01/92, consoante ofício nos autos.
Verifica-se que a hipótese suscita discussão quanto ao momento em que ocorre a
apresentação do precatório para efeito de precedência cronológica, o que há de ser
solucionado à luz do artigo 100, da Constituição Federal, que não deixa margem de dúvidas
quanto à precedência cronológica computar-se a partir do momento da apresentação do
precatório no âmbito do Tribunal e não como pretende o agravado, Banco Central, a partir da
comunicação àquele órgão. A prevalecer o último entendimento, estaria revogada toda a
garantia constitucional quanto à precedência e à preferência dos precatórios. Transferir-se-ia à
parte executada comandar o momento inicial que através de expedientes, até mesmo válidos,
poderia levar a uma preterição indefinida, da data do pagamento do precatório.
Todo e qualquer precatório, quando apresentado no Tribunal, recebe o devido
processamento, previsto nos artigos 335 a 338, do nosso Regimento Interno, deste E.
Tribunal, nos quais se contêm todas as formalidades que devem ser observadas. No artigo
336, verifica-se o momento inicial, tal como previsto no artigo 100, da Constituição Federal.
Protocolado e autuado o precatório, será ouvido o Procurador da República. Com o
parecer, os autos serão conclusos ao Presidente, que o decidirá, podendo ordenar diligências.
Segue-se, então, no nosso Regimento Interno, o procedimento que deve obedecer o
Precatório já distribuído e autuado neste Tribunal. Tal procedimento do precatório não é causa
impeditiva de sua precedência na ordem cronológica de sua apresentação. O processamento se
há de impor até mesmo em resguardo de eventuais falhas e lapsos. Foi o que ocorreu nos
autos.
Ouvi de S.Ex, eminente Presidente, que teria a empresa agravante solicitado
diligências e feito a ressalva quanto à precedência na ordem de apresentação de seu precatório
perante esta Corte.
No caso em julgamento, trata-se de preterição inconteste na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios, com afronta à garantia constitucional da autonomia dos
Tribunais. Ignorada foi a obrigatória inclusão no orçamento da entidade ora executada, de
verba necessária ao pagamento de seus débitos, constantes de precatório judicial.
A questão é claramente solucionada no parágrafo 2, artigo 100, da Constituição
Federal, no sentido de que as dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados
ao Poder Judiciário, reconhecendo-se as importâncias:
"Art. 100. à exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos
devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de
sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos
créditos adicionais abertos para este fim.
Parágrafo 1 ...

Parágrafo 2 As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão


consignados ao Poder Judiciário, recolhendo-se as importâncias respectivas
à repartição competente, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a
decisão exeqüenda determinar o pagamento, segundo as possibilidades do
depósito, e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para o
caso de preterimento de seu direito de precedência, o seqüestro da quantia
necessária à satisfação do débito."
Tão extrema medida se impõe, o seqüestro da quantia necessária à satisfação do
débito, ante a textual afirmação da Assessoria de Orçamento e Fiscalização Financeira, peça
acostada aos autos, no sentido de que "não foi inserida nenhuma medida ou dotação
orçamentária para cobrir despesa de precatórios para a Justiça Federal, bem como inexistir a
inclusão de outra dotação neste sentido".
Na ordem cronológica de apresentação do precatório, há de se computar da
apresentação perante o Tribunal e jamais da comunicação ao órgão executado, contando-se tal
apresentação a partir dos dias 28 e 29 de julho de 1990.
Data venia, Senhor Presidente, peço-lhe a máxima vênia, mas reformo o despacho
de V.Ex, para, nos termos do parágrafo 2, do artigo 100, da Constituição Federal, deferir ao
agravante o seqüestro do pagamento de seu precatório.
Dou provimento, ressaltando ainda que, recentemente, tive oportunidade de contatar
com o Presidente do Tribunal de Justiça deste Estado e a questão é pacificamente solucionada
no sentido de que a ordem de precedência, ordem cronológica de apresentação dos precatórios
se conta a partir da apresentação de cópia protocolada no Tribunal, jamais a comunicação ao
órgão executado, data venia da lição trazida à colação, de autoria do eminente jurista José
Carlos Barbosa Moreira, como salientado no memorial do Banco Central.
Peço vênia a V.Ex para divergir do seu entendimento e dar provimento ao agravo.

JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargadora Federal

________APELAÇÃO
CÍVEL_________________________________________

(Argüição de Inconstitucionalidade)

REGISTRO N 89.02.08379-9 / RJ

Relatora:Exma. Sra. Desembargadora Federal Julieta Lídia Lunz


Apelante: União Federal
Apelado:Vicente Silveira

________EMENTA________________________________________________
__

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. FNT. LEI N 4.117/62. LEI N 6.093/74.


DESVIO DE FINALIDADE. LEI N 6.127/74. DECRETO-LEI N 1.754/79 e
DECRETO-LEI N 1.859/81.
I - Instituída sobretarifa sobre o serviço de telecomunicações, com fim específico e
por prazo determinado, conforme faz ver a Lei n 4.117/62, especificamente seu
artigo 51, e, cumpridas as determinações, não pode outra norma destinar os recursos
arrebanhados pelo FNT, para outras atividades, sob pena de desvio de finalidade,
pois que inexiste vinculação com sua origem legal ou fonte instituidora.
II - Estampado o desvio de finalidade com a edição da Lei n 6.093, de 1974, as que
se lhe sucedem estão, também, maculadas pelo mesmo vício.
III - A criação de novos tributos necessita, por força de norma constitucional, dos
pressupostos à sua exigibilidade, quais sejam: fato gerador, alíquota e sujeito
passivo. Não podem, por conseguinte, os recursos do FNT ser transformados
abruptamente, em espécie do gênero tributo, como assim o querem os Decretos-leis
ns 1.754/79 e 1.859/81.
IV - Argüição de Inconstitucionalidade que se acolhe para declarar inconstitucional
a exigência da sobretarifa a partir da edição da Lei n 6.093/74, até a vigência do
Decreto-lei n 2.186/84 e para o exercício de 1985, ou seja, 1/1/85, que cria o
Imposto Sobre Serviços de Comunicações.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em sessão Plenária, por maioria
absoluta, na forma do artigo 167 parágrafo 2 do Regimento Interno, declarar a
inconstitucionalidade do item III do artigo 2 da Lei 6.093/74, nos termos do relatório e voto
constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 08 de março de 1990 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Presidente Relatora

________RELATÓRIO____________________________________________
___
arquivo original - set/996 - geração: notlih do valle filho - editoraçào: ramanal pimenta
A EXM SR DESEMBARGADORA FEDERAL JULIETA LÍDIA LUNZ: - Tratam
os autos de argüição de inconstitucionalidade suscitada no âmbito da 2 Turma deste Egrégio
Tribunal, nos autos da Apelação Cível n 89.02.08379-9/RJ, em que são partes a UNIÃO
FEDERAL e VICENTE SILVEIRA, com vistas à reforma da decisão prolatada pelo MM. Dr.
Juiz da 17 Vara Federal neste Estado do Rio de Janeiro, que manifestou-se pela procedência
da ação de repetição de indébito, ante a inconstitucionalidade do artigo 2 da Lei n 6.093/74
em cotejo com a Lei n 6.127/74 e a Lei n 4.117/62, que instituíram o Fundo Nacional de
Telecomunicações e seus meios de fomento.
Decidindo a questão a 2 Turma, por unanimidade, determinou a remessa dos autos a
este Plenário, para que, ouvido o Ministério Público, se pronunciasse quanto à
constitucionalidade ou não dos diplomas legais referidos.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___
A EXM SR DESEMBARGADORA FEDERAL JULIETA LÍDIA LUNZ
(RELATORA): - Cumpre analisar de per si as sustentações da apelante União Federal e neste
sentido há de se fazer uma breve digressão quanto às origens legais da sobretaxa ou
sobretarifa incidente nas quantias pagas pelo serviço de telecomunicação.
Com a Lei n 4.117/62 foi instituído o Código Brasileiro de Telecomunicações, bem
assim o Fundo Nacional respectivo, destinado à incrementação e aperfeiçoamento dos
serviços ali referidos, destinando-se a este a tarifa até trinta por cento, sobre qualquer serviço
de telecomunicação prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pelas
concessionárias ou permissionárias de telecomunicação etc.
A regulamentação da Lei n 4.117/62 se fez através do Decreto n 52. 026/63, que
criou o Sistema Nacional de Telecomunicações, bem assim atribuiu à EMBRATEL a
aplicação dos recursos destinados ao Fundo Nacional de Telecomunicações, cujo regulamento
se deu com o Decreto n 53.352/63, no qual foi fixado o prazo de 10 (dez) anos de
arrecadação da questionada sobretaxa. Com a edição do Código Brasileiro de
Telecomunicações, foram criadas várias modalidades de comunicação, regulamentadas
especificamente, a saber: telefonia, telegrafia, rodiofusão, radioamadorismo, serviços
especiais e serviços limitados.
De sorte que ocorreu um desenvolvimento intenso e oportuno no que diz respeito às
comunicações. Já em 1966 a Resolução n 4 do Conselho Nacional de Telecomunicações
fixou as alíquotas incidentes quanto aos serviços de telecomunicações internacionais e seu
prazo de duração 10 anos.
A Lei n 5.792/72 autorizou a criação da TELEBRÁS, em razão do que os recursos
do Fundo Nacional de Telecomunicações a ela foram destinados.
De certo que o Decreto n 70.913/72 autorizou a transformação da EMBRATEL em
sociedade de economia mista, subsidiária da TELEBRÁS, para a qual foram transferidos os
recursos do FNT - Decreto n 71.306/72.
Com a edição da Lei n 6.093/74 foi criado o Fundo Nacional de Desenvolvimento -
destinado a financiar projetos prioritários - e mais uma vez foram deslocados os recursos do
FNT, na forma do art. 2, inciso III da indigitada lei. Entretanto a mesma Lei n 6.093/74
previu a extinção do Fundo Nacional de Desenvolvimento a partir de 1982, preceituando que
os recursos a ele destinados comporiam a lei orçamentária com recursos ordinários do
Tesouro Nacional, sem qualquer vinculação.

Finalmente o Decreto-lei n 2.186/84, que instituiu o Imposto Sobre Serviços de


Comunicações, revogou o artigo 87 da Lei n 4.117/62 - o indigitado FNT.
Sustenta a União Federal que o prazo de cobrança do Fundo Nacional de
Telecomunicações foi prorrogado com a Lei n 6.127/74, posto que havendo disposição
expressa, possível a repristinação da lei revogada, na forma do artigo 2, parágrafo 3, do
Código Civil.
Pretende a União Federal estar prescrito o direito para reaver as parcelas recolhidas a
partir de 1982, quando ter-se-ia ilegítima a cobrança da sobretarifa, ainda que se tenha
transformado em imposto, isto porque tratava-se desde o início de preço público, mais
precisamente de preço pago por serviço facultativo, à disposição do interessado colocado.
De certo que compete à União a cobrança de preços públicos, não apenas no caso
das telecomunicações, acrescentando o douto Procurador da República a noção que se há de
ter de serviço público, nesta última se comportando aqueles que originam a cobrança das
taxas e das tarifas. De certo que as taxas são devidas em razão de serviços públicos
obrigatórios (ainda que não essenciais) e as segundas são facultativas, posto que se resume a
diferenciação na facultatividade ao pagamento das últimas (tarifas) desde que dispensáveis
aos serviços à disposição do cidadão colocado.
Sustenta ainda a recorrente União Fedral com o fato de ser irrelevante para o
desempenho da questão a argumentação do autor, ora apelado, quanto às distinções cerebrinas
e, por último, no que diz respeito à desvinculação dos recursos das sobretarifas do FNT para o
FND e depois para o Orçamento, posto que "as relações jurídicas que dão origem a tributos ou
a preços públicos se extiguem com o respectivo pagamento" (coerente com a tese de que o
regime jurídico dos serviços é que define se há tributo ou preço público).
A União Federal argumenta que a naturza tributária da sobretarifa surgiu no
momento em que passaram à disposição da TELEBRÁS e após integrar o FND (Lei n
6.093/74) ou compor o Orçamento da União, como recursos ordinários do Tesouro Nacional,
desvinculados de qualquer órgão, entendendo que se equivocam os que sustentam que os
recursos do FNT, deixando de ser atribuídos à TELEBRÁS, não passaram à destinação
estranha ao setor de telecomunicações, concluindo com o pedido de reforma da decisão
recorrida, posto que afastada a natureza tributária esvaem-se as muitas "inconstitucionalidade"
e "ilegalidade" opostas à cobrança da sobretarifa questionada.
Data maxima Venia aos que entendem como tributo a imposição do acréscimo de
30% no pagamento dos serviços de telefonia, telegrafia, radiodifusão, radioamadorismo e
outros serviços especiais, regulamentados pelo Decreto n 53.352/63, nestes se
compreendendo os serviços de telecomunicações em geral - certo é que tais serviços à
disposição dos usuários dos aparelhos telefônicos e similares exigem em contrapartida o
pagamento através de preço público respectivo. A noção de preço público ou, em caráter mais
específico, a taxa e a tarifa, não se compadece com a natureza do tributo, posto que delas se
exige o sinalagma ou a contraprestação respectiva.
Assim, os serviços de telecomunicações, visando a comodidade e o aprimoramento
das relações sociais, se voltam "pro cidadão", e do usuário se exigindo a tarifa
correspondente. Desta forma, despindo-se do carater genérico do tributo, as tarifas pelos
serviços de telecomunicações suportaram um acréscimo destinado, especificamente, ao
aperfeiçoamento do que à disposição dos usuários já existia.
Entendo que divorciada da natureza do tributo a tarifa questionada nestes autos. O
caráter genérico da obrigação tributária exige a tríplice relação, alíquota, sujeito passivo, fato
gerador.

A noção legal e exata de tributo se infere do artigo 3 do Código Tributário Nacional


- "prestação pecuniária compulsória, em moeda, ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitui sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
vinculada."
Não se compadecendo da natureza do tributo, muito menos se comporta como
imposto a questionada sobretarifa, vista a noção daquele na taxativa enumeração do Código
Tributário Nacional.
De certo que o fato de vir instituída em lei, e ser cobrada através de atividade
administrativa, não pode ser suficiente para que se tenha como espécie de tributo o acréscimo
somente exigível dos usuários de serviços específicos e não essenciais - tais circunstâncias
legais se prestam para legitimar a sobretarifa, e não para conceituá-la como tributo.
Assim, considerada a desvirtuada finalidade da indigitada sobretarifa, com o advento
da Lei 6.093/74, não mais se legitima sua cobrança, a qual estabeleceu que o Fundo Nacional
de Desenvolvimento (FND), a contar do exercício financeiro de 1983, ficaria extinto, e os
recursos que o integram continuariam a compor a Lei Orçamentária, como recursos
originários do Tesouro Nacional, sem qualquer vinculação a órgão, fundo ou despesa.
A ilegalidade maior e a inconstitucionalidade gritante, acima vistas, foram coroadas
pelo Fisco Federal, com o Decreto-lei n 1.859, de 17/2/81, que, além de determinar, como já
o fizera seu congênere anterior, no sentido de que o produto da arrecadação do FNT passaria a
compor as leis orçamentárias e constituiria recursos ordinários do Tesouro Nacional, sem
qualquer vinculação a órgão, programa, fundo ou despesa (art. 1), antecipou, ainda, o prazo
de extinção do sobrealudido FND, que ficava extinto, a partir do exercício financeiro de 1982,
inclusive.
Caracterizou-se, aí, o desvio de finalidade dos recursos arrecadados do FNT, agora,
com destinação a fins estranhos à lei que os instituiu (Lei n 4.117/62, art. 51) como
sobretarifa destinada, especificamente, a realizar a expansão e melhoria dos serviços públicos
de telecomunicações. Tornou-se aquela sobretarifa, um acréscimo resultante de exigência
compulsória, visando a carrear recursos necessários à realização de projetos de
desenvolvimento, sem vinculação com sua origem legal, ou fonte instituidora.
Não resta a menor dúvida de que a transferência dos recursos do FNT para o Fundo
Nacional de Desenvolvimento revestiu-se de manifesta inconstitucionalidade. Os Decretos-lei
ns 1.754/79 e 1.859/81 transformaram, abruptamente, a sobretarifa criada pela Lei 4.117/62,
em espécie do gênero tributo, com características de imposto, sem os elementos essenciais,
embora, à sua instituição, tais como, fato gerador, alíquota e sujeito passivo.
Se o fato gerador da obrigação tributária é a situação definida em lei como
necessária e suficiente a sua ocorrência (CNT, art. 114), tanto que essa obrigação tributária
surge, somente, com a ocorrência do fato gerador (CNT, art. 113, parágrafo 1), podemos
afirmar com Aliomar Baleeiro que "não há dívida de imposto sem que a lei estabeleça o fato
gerador. Ele é a condição para que os funcionários do Fisco pratiquem os atos administrativos
que individuam a obrigação fiscal (lançamento), constituindo o crédito tributário". (In
"Direito Tributário Brasileiro" - 9 Edição - Forense - 1980 - pág. 411).
Realmente, a Lei n 6.093/74 descaracterizou a natureza e a destinação da
mencionada tarifa, que, sem dúvida, passou a ser exigida de forma compulsória sob o título de
imposto.
Essa lei é que causou o desvio de finalidade dos recursos arrecadados do FNT, com
destinação diversa da preconizada Lei 4.117/62, art. 51. Fez aquela lei criar um acréscimo à
exigência compulsória, sem, contudo, conter previsão legal de fato gerador, alíquota e sujeito
passivo.
Estes são os fundamentos que me levam a aderir aos fundamentos da r. sentença,
inclusive na parte que julga legítima a exigência do imposto, a partir da edição do Decreto-lei
n 2.186, de 28/12/84, que criou o Imposto Sobre Serviços de Comunicação e sua exigência se
deu a partir do exercício seguinte, em respeito ao princípio da anterioridade.

Acolho a argüição para julgar inconstitucional a cobrança da sobretarifa do FNT a


partir da vigência da Lei n 6.093/74 (instituída no artigo 2, inciso III), dada a exigência
mascarada como imposto e, inclusive quanto ao fato do desvio de finalidade, por estar eivada
de inconstitucionalidade, não sendo, por isso mesmo, devida no interregno compreendido
entre 27 de agosto de 1974 até o início da vigência do Decreto-lei n 2.186, de 28 de
dezembro de 1984.

JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargadora Federal
DESEMBARGADOR FEDERAL
ROMARIO RANGEL
Filho de Alcino de Abreu Rangel e Rosa Selleti, Romario Rangel nasceu em 8 de julho de
1924 na cidade de Castelo, Espírito Santo. Em 1952, com Licenciatura em Filosofia,
graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Espírito Santo.
Ingressou no serviço público na Prefeitura de sua cidade natal, onde, também, iniciou sua vida
jurídica como Procurador da Prefeitura Municipal e Assessor Jurídico da Câmara Municipal.
Aprovado em 1 lugar no Concurso de Provas e Títulos para Juiz Substituto do Poder
Judiciário do Espírito Santo, iniciou em 1956 sua carreira de Magistrado. Em 1957, foi
promovido, por merecimento, a Juiz de Direito da Comarca de Mantenópolis, tendo passado
pelas Comarcas de Conceição da Barra, Muniz Freire e Guaçuí.
Em seguida, também por merecimento, foi promovido a Juiz de Direito de 2 e 3 Entrância.
Nomeado Juiz Federal Titular em 1967, Romario Rangel e como Diretor do Foro e
Corregedor Permanente da Justiça Federal do Espírito Santo, instalou e organizou a Sessão
Judiciária do Espírito Santo. Foi Diretor do Foro até 1979. Membro efetivo do Tribunal
Regional Eleitoral no período de 1967 a 1977, foi reconduzido para os biênios 79/81, 83,/85 e
87/89.
Em março de 1989 chegou ao Tribunal Regional Federal da 2 Região, onde assumiu a
Presidência através de eleição. Instalou o Tribunal e equipou-o com os recursos
técnico-operacionais mais avançados e o dotou do instrumental necessário a dar eficiência á
prestação jurisdicional. Ao fim de seu mandato passou a integrar a 2 Turma, da qual é o
Presidente.
Paralelamente à Magistratura, Romario Rangel é Livre Docente, por aprovação em 1 lugar no
Concurso de Provas e Títulos á Livre Docência em Direito, pela Universidade Federal do
Espírito Santo, com a Tese "Tempo Jurídico
É Professor Titular da Universidade Federal do Espírito Santo, onde ja lecionou Introdução à
Ciência do Direito, Direito Internacional Privado e leciona Direito Processual Civil.
Lecionou Filosofia, Sociologia, Psicologia, Sociologia Educacional, Psicologia Educacional,
Arte Literária, História da Literatura Portuguesa e Brasileira, Língua Portuguesa e Ciências.
Entre suas atividades de Educador, Romario Rangel foi Diretor do Colégio Estadual João
Bley, de Castelo e do Colégio Celso Camon, de Muniz Freire, (tendo sido o fundador do
Curso de Formação de Professor do Colégio Celso Calmon, de Muniz Freire), Delegado de
Ensino da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Espírito Santo, Membro de Bancas
Examinadoras e Julgadoras de Concursos Públicos e promotor de eventos esportivos.
Proferiu inúmeras palestras e conferências sobre temas jurídicos e publicou escritos jurídicos
em jornais, revistas e edições da Universidade Federal do Espírito Santo. Foi fundador e
Diretor do Jornal "O Semeador", redator de "O Brasil Novo" (estudantil) e "O Castelo".
Escreveu o livro "Memórias Líricas do João Bley", publicado em 1988 pela Editora O
Lutador, de Belo Horizonte - Minas Gerais.
É agraciado com a comenda Ordem Militar do Mérito, grau Oficial, com as medalhas "Mérito
Tamandaré", "Medalha do Pacificador" e "Medalha do Amigo da Marinha", além de outros
títulos e agradecimentos.

________AGRAVOS
REGIMENTAIS_________________________________
________SUSPENSÃO DE SEGURANÇA N
0015/89_____________________

PROCESSO N 89.02.14899-8

Agravantes: 1 Ag: CZARNIKOW - RIONDA (FAR-EAST) LTD.


2 Ag: Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA.
Agravado: A r. decisão de fls.: 33/35
Relator: Desembargador Federal Romario Rangel

________EMENTA________________________________________

AGRAVO REGIMENTAL: DESPACHO SUSPENSIVO DE LIMINAR EM


MANDADO DE SEGURANÇA. ILEGITIMIDADE DE PARTE.
A CACEX, sendo uma Diretoria do Banco do Brasil S.A., Sociedade de Economia
Mista, não tem legitimidade para requerer a suspensão de execução de liminar.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos em que são partes a Carteira de Comércio Exterior do
Banco do Brasil S/A e o Juízo Federal da 17 Vara/RJ.
Acordam os membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
conhecer dos Agravos, dando-lhes provimento, para cassar a decisão Agravada,
restabelecendo assim a liminar concedida do Mandado de Segurança n 89.02.0026913-5, na
forma das notas taquigráficas constantes destes autos e que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.
Custas como de lei.

Rio de Janeiro, 01 de fevereiro de 1990 (data do julgamento)

ROMARIO RANGEL
Presidente e Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL, qualificado nos autos, "na condição


de terceiro prejudicado", sente-se agravado com o despacho que a Presidente, em exercício,
Dr JULIETA LÍDIA MACHADO CUNHA LUNZ proferiu na "Suspensão de Segurança"
(Processo 89.02.14899-8), pleiteada pela CARTEIRA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO
BANCO DO BRASIL S/A, cuja decisão foi a seguinte:
"Certo é que a remota e eventual possibilidade de prejuízos para as
impetrantes, bem assim a alegação da possibilidade de perda da quota de
exportação, não constitue requisito para o deferimento de liminar que,
satisfazendo "in totum" o objeto do "writ", exame a prestação jurisdicional,
em total subversão das normas processuais.

A indigitada liminar, posta em resguardo de alegados prejuízos


patrimoniais de terceiros, subverte o controle econômico-financeiro das
exportações, expondo a economia interna do País, seja no que pertine à
conveniência ou não da exportação, ou mesmo seus reflexos financeiros e
irreparáveis e graves danos.
Por tais razões, SUSPENDO A LIMINAR e determino se oficie a
autoridade impetrada, para ciência desta decisão."
Preliminarmente, alega a agravante, com fundamento no artigo 499, caput, do
Código de Processo Civil sua legitimidade para recorrer, como terceiro prejudicado.
Esclarece que "... o interesse recursal da Autarquia é inquestionável porque as
decisões presidenciais, suspendendo liminares concedidas às respectivas impetrantes, que
contrataram com o Instituto do Açúcar e do Álcool, impediram o cumprimento de contratos
em cuja execução tem o suplicante, como todas as autoridades às quais o problema está afeto,
o maior empenho, não só para cumprir a obrigação assumida, dever elementar de qualquer
contratante, como também para se livrar de pesados prejuízos e dos imagináveis
comprometimentos da sua imagem" (fls. 239/240).
Afirma, com respaldo no Decreto 98.054, de 15 de agosto de 1989, que "... sofrerá
os encargos e prejuízos oriundos do descumprimento dos contratos, arcando com os
pesadíssimos ônus da demora no embarque da mercadoria vendida."
O agravante, após essas considerações iniciais relata "a questão em juízo"
observando "... que a matéria é de pleno conhecimento da douta Presidência desse Colendo
Tribunal, que teve a ocasião de examiná-la detalhadamente, e sobre ela emitir substancioso
procunciamento, quando apreciou, em 4 de outubro próximo passado, pedindo a suspensão da
liminar deferida, pela MM. Juíza da 15 Vara Federal desta cidade à TATE & INDUSTRIES
LTD." (fls. 241/242).
Alega que ambas as situações, não diferem "quanto à essência", motivo pelo qual
"ubi eadem ratioibi eadem dispositio", seria de esperar-se que as liminares não fossem
cassadas...
Ressalta que a CACEX "...não aponta vícios nos atos jurídicos celebrados..." a sua
objeção quanto ao cumprimento dos contratos "...que parece ter impressionado a eminente
Prolatora das respeitáveis decisões recorridas, diz respeito, unicamente, ao preço" (fls.
243/244).
Ainda. em prosseguimento, transcreve trechos da comunicação, datada de 5.12.89,
do Presidente do IAA dirigida ao Ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio,
relativo ao Aviso n 1.160, de 18.11.89, na qual explicava a negociação realizada, e alertava
para as graves conseqüências decorrentes dos atrasos na expedição das quais de exportação
pela CACEX.
Conclue a agravante, que não há impedimento para a execução dos contratos, uma
vez que "...constituem atos jurídicos perfeitos e contra cuja validade e eficácia nada se alega,
quando todos os órgãos competentes se encontram empenhados na sua fiel execução,
determinada pelo princípio jurídico e moral de que "pacta sunt servanda" e por superiores
interesses do País" (fls. 245/246).
Finalmente a agravante pede "...depois de admitir este recurso de terceiro
prejudicado, reconsidere, como agora pede, os respeitáveis despachos agravados, mantendo as
liminares indevidamente suspensas, ou que o encaminhe ao julgamento do egrégio Plenário,
como de costume praticado da mais distinta JUSTIÇA" (fls. 246).
Faz-se necessário ressaltar que as empresas estrangeiras, inconformadas com a
decisão da Presidência desta Corte e em razão do recesso forense, ingressaram com o pedido
de Agravo Regimental perante o Superior Tribunal de Justiça, cujo pedido não foi conhecido,
de acordo com o despacho do Presidente, Ministro WASHINGTON BOLÍVAR DE BRITO,
de 29.12.89.
Esta Presidência, em fls. 247, manteve o despacho ao determinar a inclusão do
presente na pauta de julgamento da 1 Sessão ordinária do Pleno.
Esclarece esta Presidência, que não cabe examinar a v. decisão, proferida pela
Presidente, em exercício (é ler despacho de fls. 247 "in limine").

No caso, o Poder Judiciário não tem competência para modificar a política


açucareira adotada pelo Brasil.
Quem celebra os tratados, convenções e atos internacionais é o Presidente da
República (art. 84, VII, da Constituição da República). Porém, sua eficácia depende de
aprovação (ratificação) pelo Congresso Nacional. Por isso, diz-se que são atos "ad
referendum" do Congresso Nacional. Justifica-se a aprovação pelo Congresso, já que, como
representante do povo deve ele pronunciar-se sobre assuntos de seu interesse (art. 49, I, da
Constituição Federal).
É justa a exigência do referendo do Congresso Nacional naqueles atos que
representem encargos ou gravames ao patrimônio nacional (grifei).
Ainda que assim não se possa classificá-los, eles dependerão de aprovação pelo
Poder Legislativo para se tornarem eficazes (art. 84, VIII), já que, de uma forma ou de outra,
são sempre atos sujeitos à apreciação do Congresso.
Os atos internacionais situam-se no âmbito do relacionamento entre Estados e
organismos estrangeiros.
É indispensável a participação do Poder Legislativo após a celebração de quaisquer
tratados ou convenções para que seus termos, que muitas vezes estabelecem direitos e
obrigações, sejam aplicados aos seus destinatários.
Desta forma, apreciando o fato à luz das possíveis conseqüências diante do mercado
internacional, as questões que envolvem a impetração são de molde a aguardar-se a decisão
definitiva do mandado de segurança.
É o Relatório.

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1990.

ROMARIO RANGEL
Desembargador Federal

________APELAÇÃO CÍVEL N
13981-RJ______________________________

(2 Turma)

REGISTRO N 90.02.00647-0

Relator: Desembargador Federal Romario Rangel


Apelante: Companhia Predial de Taubaté
Advogado: Ramon Alonso Filho
Apelado:União Federal

________EMENTA________________________________________________
__

Processual Civil. Execução da sentença. Iniciativa.


1- O impulso processual deve provir do Estado, através do Juiz e de seus
funcionários. Se o Juiz proferiu o despacho impulsionador mas os funcionários da
Vara não lhe deram cumprimento, não há como imputar a responsabilidade pela
paralisação do feito à parte porque não lhe competia praticar os atos nele
determinados.
2- O juiz infringe o princípio da exaustão jurisdicional quando aprecia, mais de uma
vez, matéria sobre a qual já se pronunciou, infringindo o art. 471 do CPC.
3- Incabível punir a parte com a extinção do feito, se não é sua a inércia e não lhe
cabe praticar diligências ou quaisquer atos determinados pelo juízo.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Acordam os membros da Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região,
por unanimidade, dar provimento à Apelação, para que se prossiga na execução, na forma do
Relatório e do Voto, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 08 de outubro de 1991 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL
Presidente e Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Romario Rangel: - Por medida de economia


processual, uma vez que se trata de feito que data de 1959, adotei o Relatório de fls. 213/216,
da lavra do eminente Ministro Lauro Leitão, do Egrégio e extinto Tribunal Federal de
Recursos.
Apreciando a controvérsia, a 2 Turma (do Tribunal Federal de Recursos), à
unanimidade, negou provimento a todos os recursos, conforme o v. acórdão, que tem a
seguinte ementa:

"Pelo inadimplemento contratual responde a União como qualquer


particular, devendo ser condenada ao ressarcimento dos prejuízos a que der
causa."
(Publicado no DJ de 23.11.1964).
Os autos foram sobrestados, em cumprimento ao que foi determinado pelo egrégio
Tribunal Pleno, em sessão de 20.07.64, tendo prosseguimento, posteriormente, isto é, em
24.06.65, de acordo com a Portaria n 37/65 do Exm Sr. Ministro Presidente (daquela)
Egrégia Corte.
A União Federal, todavia, irresignada com o v. acórdão, interpôs recurso
extraordinário, para o Excelso Pretório, mas o eminente Sr. Ministro Presidente negou
seguimento ao recurso.
Irresignada com a r. decisão, a União interpôs agravo de instrumento, mas o egrégio STF lhe
negou provimento.
À vista disso, os autos foram remetidos ao MM. Dr. Juiz Federal da 4 Vara, Seção
Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, o qual mandou cumprir o v. acórdão, em despacho
publicado no DJ de 25.03.68 (fl. 116), onde foi recebido em 04/03/68 (fl. 116).
Conclusos ao MM. Juiz, S. Exa. proferiu o despacho seguinte:
"Cumpra-se o Venerando Acórdão."
Rio, 25 de março de 1968.
Ass.
(fl. 116)
Em 09.06.70, foi datada a petição do Dr. Antonio de Oliveira Pinto, pedindo a
juntada do substabelecimento do advogado da Autora, despachada em 20.07.970 (fl. 117) e
juntada no mesmo dia (cert. de fl. 116v.).
O MM. Dr. Juiz, em 18.08.70, mandou devolver o processo administrativo (fl. 120),
despacho que foi cumprido através do ofício cuja cópia se encontra às fls. 121, tendo sido
lavrado o termo de "desapensação" às fls. 122, em 20/08/70.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos acusou o recebimento do processo
administrativo e solicitou ao Dr. Juiz a remessa do teor da decisão proferida por este egrégio
Tribunal, para complementação administrativa processual, no que foi atendida, em of. datado
de 07/10/70 (fl. 127).
A Cia. Predial Taubaté, em 21.06.77, comunicou a MM Magistrada o falecimento de
seu advogado, ocorrido em 09/07/73, em correspondência datada de 21/06/77, tendo sido
recebida essa comunicação em 04/07/77 (f. 129).
Em face da especialização da 4 Vara, o processo foi redistribuído à 2 Vara da Justiça
Federal do Rio de Janeiro (fl. 131), cujo Juiz Titular determinou a intimação das partes e
mandou que se aguardasse a iniciativa da parte interessada, na execução da r. sentença, em
13/07/77 (fl. 131v.), tendo sido este despacho publicado no "Diário da Justiça" de 20/07/77
(ver cert. de fl. 132).
A Cia. Predial Taubaté, em 14.04.78, requereu vistas dos autos, que lhe foi aberta no
dia 24/04/78 (fl. 135), tendo sido o processo devolvido em 07/07/78.
O MM. Magistrado, atendendo ao requerimento da Autora, datado de 03/07/78 e
despachado em 10/07/78 (fl. 136), mandou oficiar à EBCT, estando o ofício datado de
29/09/78, mas recebido pela EBCT em 03/10/78 (fl. 138), no sentido de que o Juízo fosse
informado sobre as providências adotadas para o cumprimento do v. acórdão.
Os autos do processo foram entregues, em confiança, a Brenno de Andrade em
06/10/78 (v. termo de fl. 140), e devolvidos em 09/03/79 (fl. 140).

A Autora, em 09.03.79, requereu a remessa dos autos ao Contador do Juízo, para os


fins do art. 604 do CPC e "ter início à liquidação da r. sentença." (f. 141), tendo sido
proferido, pelo MM. Juiz, o despacho: "J. Como requer." Em 16/04/79 foi oficiado ao
Presidente da EBCT (v. o of. de fl. 143), onde o MM. Juiz e atual Des. Fed. Ney Valadares,
atendia o pedido da Autora e, mais, "reiterava" "os termos do ofício n 1220-78, de 29 de
setembro do ano passado, no qual solicitei seja informado a este Juízo sobre as providências
adotadas para o cumprimento do julgado na Apelação Cível n 15.715."
A EBCT pediu vista dos a. (fl. 146), em 07/05/79 e, em ofício datado de 31/05/79,
recebido em 01/06/79, esclareceu que se encontrava alheia a qualquer participação na lide e,
em conseqüência, os expedientes referentes à fase executória deveriam ser dirigidos à União
Federal.
Em 25.06.79, foi publicado o despacho do MM. Dr. Juiz, pelo qual foi aberta vista
ao Exeqüente, ocasião em que o advogado da Autora, em petição datada de 04/07/79 (fl. 153),
renunciou ao mandato, que lhe fora conferido.
Atendendo ao despacho do MM. Magistrado, foi regularizada a representação da
Autora, através da juntada da procuração de fl. 156 e petição de fl. 155, a qual, em 14.11.79,
pediu vista dos autos (fl. 159).
Com vista dos a., a União Federal afirmou que não havia o que se executar no feito,
em face da prescrição ocorrida, nos termos do art. 178, par. 10, VI, do Código Civil, e art. 1
do Dec. 20.910/32 (fl. 162).
O MM. Dr. Juiz, em 12.12.79, proferiu despacho (fl. 163) nestes termos:
"Assino à Autora o prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, para promover
o andamento do feito, sob pena das cominações processuais cabíveis.
Em 12.12.79."
A Autora, então, requereu, novamente, a remessa dos autos ao Contador, para
elaboração do cálculo da indenização, especificando, ainda, que incidia, na espécie, a correção
monetária (fls. 165/170).
A União Federal pediu o reconhecimento da prescrição intercorrente do crédito da
Autora (fl.171 v.).
O MM. Magistrado, finalmente, decidindo a espécie, decretou a prescriçao da
execução, declarou extinto o processo e condenou a Exeqüente ao pagamento das custas (fls.
173/175).
A Cia. Predial Taubaté, todavia, não se conformando com a r. sentença, dela apelou
para o egrégio Tribunal Federal de Recursos, juntando, desde logo, suas razões (fls. 178/184),
tendo o recurso sido recebido "nos efeitos legais", em 10/04/80.
A Apelada ofereceu contra-razões (fls. 187/189).
A douta Subprocuradoria Geral da República, oficiando no feito, opina pela
manutenção da r. sentença e, conseqüentemente, pelo improvimento do recurso.
Aqui termina o Relatório da lavra do Ministro Lauro Leitão, com os acréscimos que
julguei oportuno fazer, para melhor situar a controvérsia.
Incluídos os autos na Pauta de Julgamentos de 14/12/82, da 1 Turma do Tribunal
Federal de Recursos, foram os mesmos dela retirados, a pedido da própria Apelante, que
pretendia ver reajustado o valor da causa, face à Lei n 6.825/80.
Ouvida a Subprocuradoria da República, esta opina pelo indeferimento do pedido,
por falta de previsão legal.
O feito fica, então, sem movimentação de fevereiro de 1983 a abril de 1989, quando
foi remetido a este Tribunal, tendo sido aqui recebido em março de 1990, e distribuído à
Desembargadora Federal Julieta Lídia Lunz.
Tendo a eminente Relatora que me antecedeu assumido a
Vice-Presidência-Corregedoria, em 04/04 p.p., foram os autos a mim redistribuídos.
Indeferi o pedido de reajuste do valor da causa, por falta de amparo legal.
A Apelação é tempestiva, foi convenientemente preparada e recebida em seus legais
efeitos.
É o Relatório.
________VOTO__________________________________________________
___

A matéria tratada nos a., é extremamente delicada e complexa. À uma visão


superficial, poderá parecer que, decorrido o prazo, cuja fluência se iniciaria com o trânsito em
julgado da decisão, a prescrição deveria, de pronto, e até de ofício, ser decretada.
Mas, uma primeira questão se apresenta, de logo, à meditação: o processo é o
instrumento mesmo da resolução dos conflitos.
Sabe-se que, a relação jurídico-processual, necessariamente, só se instaura, só nasce,
com, pelo menos, três sujeitos: o autor, o réu e o juiz. Sem estes três sujeitos, não há processo
e nem se estabelece nenhuma relação jurídico-processual, que poderia ser enunciada assim:
Dado um fato temporal deverá ser a prestação pelo sujeito obrigado frente ao sujeito pretensor
ou, dada a não prestação, deverá ser a sanção pelo funcionário obrigado frente ao sujeito
pretensor.
É que a relação jurídico-processual, que visa a proteção do direito subjetivo, é um
"dever" do Estado, que o exerce através de seus "funcionários obrigados" - no caso, os juízes.
Assim, o juiz é parte (imparcial) no processo e tem, por isso mesmo, "poderes e
deveres": poderes administrativos, poderes jurisdicionais, que se desenvolvem no processo, e
deveres, "como instrumento para a prestação de um serviço à comunidade e particularmente
aos litigantes. Não só o dever de sentenciar ele tem, mas ainda o de conduzir o processo
segundo a ordem legal estabelecida (devido processo legal), propiciando às partes todas as
oportunidades de participação a que tem direito e dialogando amplamente com elas mediante
despachos e decisões tão prontas quanto o possível e motivação das decisões em geral
(garantia constitucional do contraditório)." (Araujo Cintra, Grinover, Dinamarco - "Teoria
Geral do Processo", 5 ed. RT, p. 263).
Dialogar é a comunicação através da palavra (diá= através, lógos= palavra). Para
que haja diálogo, o lógos tem que ser claro, límpido, sem subterfúgios - dever da
"transparência" do que se quer expressar sem enganar os que participam da conversação.
O Poder Público é obrigado à conversar com seus súditos com clareza. É uma
garantia individual consagrada no texto da atual Constituição. O lógos obscuro, opaco, é
vedado. Se o "dito" demandar interpretação dos destinatários da palavra, se a "palavra
enviada" ficar ao critério interpretativo dos que a recebem, o "lógos" não cumpre o dialogar.
Na interpretação se embute o amplamente subjetivo, individual e, muitas vezes, irracional:
tenho a opinião que desejo (o que foi dito deve ser isso ou, talvez, aquilo...).
O verdadeiro conhecimento não pode ser relativo a cada sujeito cognoscente. O
conhecimento de cada sujeito cognoscente, é fonte, a mais das vezes, de "opinião" e não de
ciência firme. O que versa sobre o mutável, que é objetivo só da opinião, nunca leva ao
conceito (concebido, parido), que é a essência-objeto da ciência.
E o que se vê nos autos?
Ao receber o processo do extinto Tribunal Federal de Recursos, o MM. Juiz proferiu
o despacho: "Cumpra-se o Venerando Acórdão." (fl. 116). E o V. Acórdão havia negado
"provimento a todos os recursos", fazendo prevalecer a r. sentença monocrática (fls. 70/76),
que dera pela procedência da ação e condenara a União a pagar quantia certa, acrescida de
juros, custas, honorários e valor das despesas que enumerou (fl. 76).
Nisso andou bem o MM. Juiz que cumpriu seu "poder-dever". Determinando o
cumprimento do V. Acórdão, não necessitava a Autora de nada mais fazer, porque o que lhe
competia fazer, já estava determinado que se fizesse. Será que se pretenderia, depois deste r.
despacho, que a Autora reiterasse o pedido de que se cumprisse o V. Acórdão?
A Autora quedou-se, na sua "interpretação" do r. despacho e aguardou, serenamente,
que esse r. despacho fosse cumprido pelos funcionários da Secretaria do Juízo e que,
conseqüentemente, fosse o V. Acórdão, convenientemente, cumprido.

Observe-se, por prudência, que o r. despacho de fl. 116, determinando o


cumprimento do V. Acórdão, foi prolatado em 25 de março de 1968 - antes, portanto, do
advento do Código de Processo Civil atual (de 1973) e quando não se exigia nada mais para
dar-se prosseguimento à execução, nos mesmos autos dos quais se originara o título executivo
judicial.
E como foi cumprido o r. despacho que determinou o cumprimento do R. Acórdão?
- A Secretaria do Juízo quedou-se inerte de 25 de março de 1968 até 20 de julho de
1970 (v. fls. 116 e 116 verso), só certificando que publicou o despacho. Nada mais.
Em 20/07/70 foi a Secretaria do Juízo acionada para juntar o requerimento de fl. 117
e procuração de fl. 118 e, depois, fez os autos conclusos ao MM. Juiz que, então, determinou
que se devolvesse o processo administrativo, por despacho de 18/08/70 (fl. 120), o que a
Secretaria cumpriu, desatenta, entretanto, ao seu mais dever de fazer cumprir o V. Acórdão.
Novamente acionada, desta vez pela Presidência da EBCT, remeteu, por determinação do
MM. Juiz, cópia da "decisão proferida pelo Egrégio Tribunal Federal de Recursos" e só foi
voltar a "olhar" o processo em 4 de julho de 1977, por ter o Juízo recebido correspondência da
Autora de que seu advogado havia morrido (fl. 128 e carta de fl. 129).
Aí, houve redistribuição do Processo, em face da especialização da Vara onde ele
corria, tendo sendo os autos remetidos à 2 Vara (fl. 131 v.).
Nessa Vara, a Autora ingressou com a petição de fl. 133 e, depois, de fl. 136, já em
03 de julho de 1978, tendo este pedido sido convenientemente deferido (v. desp. de fl. 136).
Diante da inércia do Juízo, a Autora ingressou com a petição de fl. 141, requerendo,
expressamente, em 9 de março de 1979, a "remessa dos autos ao Sr. Contador do Juízo, para a
competente conta e nos termos do art. 604 do Código de Processo Civil, ter início a liquidação
da sentença."
Depois deste expresso requerimento, os a. continuaram inertes na Secretaria do Juízo
até 11.10.1979 (fl. 158), quando o MM. Juiz despachou: "Aguarde-se a iniciativa da Autora,
pelo prazo de 30 dias."
Que iniciativa?
Seria a do nobre Procurador da República (fl. 162), que pediu a decretação da
prescrição?
O certo é que, por decorrência desse pedido, o MM. Juiz prolatou o despacho de fls.
163, concedendo à Autora o prazo improrrogável de 30 (trinta) dias, para promover o
andamento do feito, sob pena das cominações cabíveis para depois, e, afinal, decretar a
prescrição.
Onde o diá-lógos entre o Juiz e as partes? Onde restou a sua imparcialidade, como
parte? Onde ficou o poder-dever do magistrado?
O processo é algo vivo. Nele palpita a vida das partes envolvidas -autor, réu, juiz.
Não pode se estratificar. Se o processo se interrompe, retira-se dele algo lhe é consubstancial
e da sua própria condição de ser/existência, porque é um "processus".
Moniz de Aragão escreveu: "Embora decorridos dois milênios e alcançadas
inúmeras conquistas culturais, entre as quais a transformação do Direito Processual em
ciência e em ramo autônomo do Direito, há horas em que o seu desenvolvimento lembra a
encenação teatralizada do primeiro período do Direito Romano, o das ações da lei." (MONIZ
DE ARAGÃO, CCPC, II, n. 440, 7a. ed. Forense).
É incrível como pode este escrito estar tão próximo do que consta destes autos!
Esqueceu-se que,

"Uma vez formado, o processo se desenvolve até alcançar o final e em


vista disso se diz que a relação processual tem, entre outras, a característica
de ser dinâmica, no que vem a contrastar com as relações não-processuais:
estas podem ser estáticas, nascer, viver e morrer sem se prolongarem no
tempo, como se dá com a compra e venda de um calçado, aquela se projeta
no tempo, esta não." (MONIZ DE ARAGÃO, CCPC, v. II, n. 442, 7a. ed.,
Forense).
O dinamismo da relação processual fica por conta da figilância do Juiz, que suporta
o ônus - como parte - de fazer fluir naturalmente o processo, sem "crises" que o possam
comprometer e sacrificar o direito das demais partes. E por que assim?
É Moniz de Aragão quem escreve, comentando o art. 262 do Código de Processo
Civil:
"Escrevendo sobre os princípios informativos do processo civil e
enunciando as máximas que constituem verdadeiros postulados da própria
ciência processual, ROBERT WYNESS MILLAR incluiu entre eles o
princípio da iniciativa da parte, ao lado do princípio da iniciativa do
Estado.
Entre os autores por ele indicados, ENGELMANN refere que não se deve,
contudo, "considerar como contrários os princípios dispositivo e
inquisitivo. Sua compatibilidade é demonstrada pelo exemplo do
procedimento comum alemão e, depois, pelo da Prússia.
Temperando-se, portanto, os dois princípios, alcança-se o máximo de êxito,
estabelecendo-se meio-termo, que hoje é preponderante: vencido o
primeiro impulso, isto é, a propositura da demanda - que é privativa da
parte e, eventualmente, do Ministério Público - o processo se desenvolve
mediante a iniciativa do próprio juiz, proibido de agir de ofício quanto ao
inicial, mas não quanto ao impulso subseqüente.
Essa tese, hoje amplamente vitoriosa, é a consagrada no texto: o impulso
inicial incumbe à parte - ne procedat iudex ex officio - mas o impulso
subseqüente dela prescinde, podendo provir do Estado, através do juiz ou
do escrivão, em geral de ambos, combinadamente." (o. cit., pags. 474/475).
O IMPULSO PROCESSUAL DEVE PROVIR DO ESTADO, ATRAVÉS DO JUIZ
OU DE SEUS FUNCIONÁRIOS...
O que se verificou neste processo foi, justamente, o que não deveria ter ocorrido.
O processo, ao voltar à Vara, vindo do Tribunal Federal de Recursos, recebeu do
Juiz o impulso necessário: cumpra-se o V. Acórdão e "P A R O U", ESTAGNANDO-SE NO
JUÍZO. Nem a Secretaria do Juízo, nem o próprio Juiz, deram vida ao processo. Restou ele
"em sono plácido", à margem da vida, nos escaninhos da Vara. Não só os funcionários da
Vara mas o próprio juiz esquecidos de que ele lá "estava" aguardando que eles cumprissem
com o "dever legal".
Se sua vida foi suspensa ou interrompida a sua marcha, o foi por responsabilidade
direta daqueles que deveriam atentar para o dever de retirá-lo da inércia e lhe injetar vida,
mesmo poque havia um despacho a ser cumprido e este nunca chegou a sê-lo. E para que o
processo re-ganhasse a vida, bastaria que a Secretaria do Juizo remetesse os autos à
Contadoria, ou que o Juiz, no desempenho de seu poder-dever de impulsioná-lo, cobrasse de
seus servidores que atentassem para o cumprimento (e os servidores têm 48 horas para tanto!)
do despacho proferido. E o Processo que é VIDA restou INCAPACITADO DE
REERGUER-SE E ANDAR, porque não lhe deram oportunidade para que assim fugisse de
sua sujeição ao sono circunstancial.
Por outro lado, sobrevindo o atual Código de Processo Civil, e tendo este diploma
estabelecido que "extingue-se o processo, sem julgamento do mérito, quando ficar parado
durante mais de um ano por negligência das partes" (CPC, art. 267, II), deveria o MM. Juiz ter
determinado, ao constatar a paralização do processo por mais de um ano, se entendesse que a
Autora estaria agindo "com negligência", que fosse ela "intimada pessoalmente" para dar-lhe
o devido andamento, "em quarenta e oito horas, sob pena de declarar extinta a ação e
arquivamento dos autos, na forma do disposto no par. 10, do art. 276 do CPC. É que o atual
CPC não quer que processos fiquem, por negligência das partes, paralizado por longo tempo.

Esse é um princípio salutar e se houvesse sido convenientemente exercitado pelo


MM. Juiz, a Autora não teria sofrido o dano que vem sofrendo, por incúria do próprio Poder
Judiciário. Advertida, em tempo (?! mas, pelo que diz o nobre Procurador da República, já em
1973 a prescrição já se dera!), talvez pudesse ter-se livrado de estar ainda procurando a
prestação jurisdicional a que tem direito.
De toda sorte, pelo que se vê dos autos, a Autora não é responsável pela falta da
prática de atos que não lhe competia executar, e nem suprir.
Os servidores da Justiça descumpriram o despacho do juiz que determinou, como
devia, o cumprimento do V. Acórdão e persistiram em não cumprí-lo até que o MM. Juiz
determinou que a Autora fosse intimada para dar prosseguimento ao feito.
Nessa ocasião a Autora pediu o que deveria ter pedido e apesar de ter sido deferido o
seu requerimento (fl. 141), não o viu realizado, por negligência da Secretaria do Juízo - que
não enviou o processo para a Contadoria, porque só atendeu parte do pedido formulado
OFICIANDO À EBCT (fl. 143).
Por só esses motivos, entendo secundários os demais argumentos da Apelante -
apesar de não menos relevantes.
Para mim, não ocorreu a prescrição decretada, pura e simplesmente, porque, DESDE
A BAIXA DOS AUTOS À VARA, o Juiz que recebeu o processo, deu-lhe o impulso devido,
não restando à Autora outra atitude a não ser a de esperar pelo cumprimento do r. despacho
que determinara o cumprimento do Acórdão. E não lhe pode ser "somado", para extinguir seu
direito, o prazo de "sono" imposto ao processo, pelos funcionários subalternos do Juiz. O
percurso do processo, e a "crise" que sofreu, ao não ser dado cumprimento ao r. despacho que
o impulsionou, não é prazo que possa ser considerado como de sua responsabilidade, porque o
seu cumprimento não dependia dela, Autora, pois não estava ou em seu poder fazer que os
funcionários do Juízo cumprissem uma determinação do seu Juiz.
Afigura-se induvidosa a infringência do art. 471 do CPC, pois o MM. Juiz,
concretamente, reapreciou a matéria sobre a qual, antes, já havia se decidido, quando, por
provocação do Procurador da República, determinou que a Autora se manifestasse, no "prazo
improrrogável de 30 (trinta) dias, sob pena das cominações processuais cabíveis (fl. 163).
Esse não foi e nem pode ser considerado um despacho de mero expediente. Por sua natureza e
localização no corpo do processo, por sua temporaneidade e oportunidade, está no rol das
decisões interlocutórias, sendo, por isso mesmo, AGRADÁVEL.
Não vou, nesta altura, descer à considerações que caberiam bem em manuais
acadêmicos. Só se deve ressaltar, como o fez a Apelante, em "Memorial" que me fez chegar
às mãos, que, se o rotulado despacho de mero expediente fosse tal, não teria o MM. Juiz
ordenado que a Autora-Apelante fosse intimada para dar prosseguimento ao feito, "sob pena
das cominações processuais cabíveis", mas, sim, que a Autora-Apelante fosse intimada para
defender-se do postulado pela União.
Não tendo interposto Agravo de Instrumento da r. decisão, a matéria ficou preclusa e
não poderia ser reapreciada, como o foi, a posteriori, pelo mesmo Juiz, por exaurida a sua
função jurisdicional, no particular.
O que vejo dos a. não é justo e nem está de conformidade com as normas de
garantias. A União, através de seus servidores, procrastina um feito e, depois, locupleta-se
com a demora que provocou, para arguir, em detrimento do direito do súdito, a prescrição do
mesmo direito, que não permitiu fosse exercitado, em seu proveito. O Estado não pode agir
dessa forma, sob pena da falência irremediável dos direitos e garantias do povo, e prevalência
do Poder discricionário e arbitrário sobre o Estado de Direito. Servir-se da própria negligência
para imputá-la, mais tarde, à parte, e lucupletar-se da demora que ensejou, não e o caminho
correto e nem o mais digno. O Soberano que não respeita o seu súdito é tirano.

Assim, por entender que de nada aproveitam os direitos se não existir quem os
ampare contra os abusos, dou provimento a apelação para que se prossiga na liquidação e
execução.

ROMARIO RANGEL
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
NEY MAGNO VALADARES
Ney Magno Valadares, filho de Randolfo Valadares e Garibaldina Valadares Versiani, nasceu
no antigo Distrito São Romão, hoje Município de Arinos, no Vale do Rio Urucuia, na região
do grande sertão de Minas Gerais.
Aprendeu as primeiras letras com professor particular, na fazenda de seus pais,
matriculando-se, no ano de 1947, no Curso de Admissão ao Ginásio do Colégio
Arquidiocesano do Planalto, em Formosa, Estado de Goiás.
As opções para fazer um curso regular eram limitadas, pois, na década de 1940, ainda não
havia rodovias na região, de modo que tinha de fazer a cavalo o percurso de 180 quilômetros
entre a fazenda, onde nasceu, e a cidade de Formosa.
Distingüi-se, desde logo, como um dos primeiros alunos de sua turma, tendo concluído o
curso ginasial em 1952.
Estimulado por seus professores e graças ao apoio de seus pais, transferiu-se para Belo
Horizonte, onde fez o Curso Clássico no Colégio Marconi, então dirigido pelo professor
Arthur Velloso Versiani.
Classificado em segundo lugar no Concurso Vestibular em 1956, bacharelou-se em Ciências
Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, no
ano de 1960.
Iniciou sua vida profissional em banca de advocacia própria, na Cidade de Unaí, Estado de
Minas Gerais, em março de 1961.
Nessa cidade, casou-se, em 1963, com Abgail Sady Valadares, natural de Paracatu - MG,
tendo dessa união três filhos: Carlos Magno (Engenheiro Químico e Professor), Marco
Aurélio (universitário) e Ana Carolina (9 anos).
Em 1965, foi aprovado no concurso para Advogado do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico, transferindo-se, então, para a cidade do Rio de Janeiro, onde tomou posse no
referido cargo.
Especializou-se em contratos, tendo sido chefe do Setor de Financiamentos Internos.
Classificado em segundo lugar, no concurso público para Procurador da Fazenda Nacional,
exerceu esse cargo no período de 1972 a 1976, tendo exercido a função de Procurador Geral
Substituto.
Aprovado no segundo concurso público de provas e títulos para Juiz Federal Substituto,
posteriormente transformado em cargo de Juiz Federal, exerceu a judicatura na Segunda Vara
da Seção da Justiça Federal do Rio de Janeiro, no período de fevereiro de 1976 a março de
1989, tendo sido Diretor do Foro.
Nomeado para integrar o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em vaga destinada a
magistrado federal, tomou posse em 30 de março de 1989, exercendo, atualmente, além das
funções de Juiz, as de Presidente da Terceira Turma, membro do Conselho de Administração
e Juiz Eleitoral Substituto.

________REVISÃO
CRIMINAL_______________________________________

REGISTRO N 89.02.09872-9/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Magno Valadares


Revisora: Exma. Sra. Juíza Tania Heine
Requerentes: Anna Maria Lercher
Maria Rosa Santi
Requerido: Justiça Pública

________EMENTA__________________________________________

Revisão Criminal. Lei de Tóxicos. Concurso material entre os crimes de tráfico de


substâncias entorpecentes (art. 12) e o de associação (art. 14). Não se conhece da
revisão criminal que não indica o inciso do art. 621 do CPP em que se funda o
pedido, pretendendo apenas corrigir possível injustiça da condenação.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Acordam os membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, em sessão
plenária, por maioria, não conhecer da revisão, na forma do relatório e voto constantes dos
autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1990 (data do julgamento).

NEY VALADARES
Desembargador Federal
Relator e Presidente do Julgamento

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES:


ANNA MARIA LERCHER e MARIA ROSA SANTI, ambas de nacionalidade
italiana, condenadas, cada uma, à pena de oito anos de reclusão, como incursas nas sanções
dos artigos 12 e 14 da Lei n 6.368/76 (Lei de Tóxicos), com o acréscimo previsto no art. 18,
I, da mesma Lei, por sentença com trânsito em julgado, requerem revisão criminal, alegando
impossibilidade de concurso material entre os crimes de tráfico de substâncias entorpecentes
(art. 12) e o de associação (art. 14).
Sem indicarem o dispositivo da lei processual penal em que se funda o pedido de
revisão, argumentam apenas que as penas que lhes foram impostas foram injustas "pela
acumulação dos crimes do artigo 12 e 14 da Lei n 6.368/76" ...
Esperam que lhes seja feita justiça com o deferimento da revisão.
Dada vista à ilustrada Subprocuradoria Geral da República, requereu esta a
requisição dos autos da ação penal, por envolver a questão o exame de prova.

Apensados os autos da Ação Penal, foi reaberta vista à Subprocuradoria Geral da


República, tendo o Procurador da República, Dr. ONÓRIO JUSTINIANO TEIXEIRA,
emitido parecer favorável às requerentes (fls. 33/35), o qual, entretanto, não mereceu a
aprovação do Subprocurador Geral da República, Dr. CLÁUDIO LEMOS FONTELES, que
opinou em sentido contrário (fls. 30/32).
Em virtude da extinção do Tribunal Federal de Recursos, foram os autos
encaminhados a esta Corte e aqui redistribuídos.
É o relatório.

________VOTO
PRELIMINAR_______________________________________

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES (RELATOR):


As Requerentes não indicam o dispositivo do art. 621 do Código de Processo Penal,
em que se funda o pedido de revisão.
Excluídas, como manifestamente incabíveis, as hipóteses previstas nos incisos II e
III do mencionado art. 621, restaria o inciso I, que admite a revisão "quando a sentença
condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos".
Contrariedade expressa ao texto da lei penal não há, porque o concurso material
entre os crimes capitulados nos arts. 12 e 14 da Lei de Tóxicos resulta de interpretação
sistemática.
A decisão condenatória, ao invés de ser contrária à evidência dos autos, baseou-se
nas provas colhidas durante a instrução criminal, que demonstraram a existência de
associação permanente para a prática do crime de tráfico internacional de entorpecentes.
Para que se convença de tal circunstância, basta ler as declarações prestadas pelas
requerentes, por ocasião de sua prisão em flagrante.
A primeira, ANNA MARIA LERCHER, declarou (fl. 4) que "é a terceira vez que
viaja para o Brasil a fim de efetuar o transporte de substância entorpecente conhecida como
COCAÍNA, recebendo de cada viagem a quantia de 6.000.000 (seis milhões) de liras".
A segunda, MARIA ROSA SANTI, confirmou que "efetuou apenas duas viagens,
efetuando transporte da droga conhecida como COCAÍNA", tendo esclarecido que conheceu,
em Milão, um indivíduo de nome FLÁVIO, que lhe propôs efetuar viagens para o Brasil e
regressar à Itália transportando COCAÍNA, sendo que por viagem receberia a quantia de 7 ou
8.000.000 de liras (fl. 5).
Está, assim, comprovada a existência de uma associação estável de delinqüentes
para o tráfico internacional de substâncias entorpecentes, o que vale dizer, a formação de uma
quadrilha "sui generis", cuja organização constitui crime autônomo.
Daí a conclusão do voto do eminente Ministro FLAQUER SCARTEZZINI, quando
do julgamento da apelação criminal, no sentido de que "provado restou nos autos que as rés,
ora apelantes, conluiaram-se com outros indivíduos, com o intuito de traficarem drogas,
demonstração de que praticaram os dos delitos que se lhes imputou na peça vestibular
acusatória, agravados pela circunstância da internacionalidade".
Não se enquadrando a revisão em nenhum dos inscisos do art. 621 do Código de
Processo Penal, dela não conheço.

NEY MAGNO VALADARES


Desembargador Federal

________REMESSA EX
OFFICIO_____________________________________

REGISTRO N 89.02.03901-3/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Magno Valadares


Parte A: Vinicius Gonçalves Marconi Maia (Representado) e Outros
Parte R: Colégio Militar do Rio de Janeiro
Remetente: Juízo Federal da 8 Vara/RJ

________EMENTA________________________________________________
__

Constitucional e administrativo. Discriminação, para fins de admissão no Colégio


Militar, entre filhos e órfãos de militares e descendentes de civis. A preferência
concedida aos primeiros importa em ofensa ao princípio da isonomia. Além disso, a
execução da sentença gerou situações de fato irreversíveis para os estudantes que se
matricularam amparados pela segurança. Conformismo das partes com a sentença.
Remessa oficial improvida.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Egrégia Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à
unanimidade, confirmar a sentença, na forma do relatório e voto constantes dos autos que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1990 (data do julgamento).

NEY MAGNO VALADARES


Desembargador Federal
Presidente-Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES:


VINICIUS GONÇALVES MARCONI MAIA e OUTROS impetraram MANDADO
DE SEGURANÇA contra ato do COMANDANTE DO COLÉGIO MILITAR DO RIO DE
JANEIRO que indeferiu a inscrição dos Impetrantes no concurso de seleção para ingresso na
5 série do 1 grau daquele estabelecimento de ensino, por não serem os Impetrantes filhos ou
órfãos de militares.
Alegaram os Impetrantes que tal discriminação viola frontalmente o princípio da
isonomia, também chamado de igualdade jurídico-formal de todos perante a lei, insculpido no
art. 153, parágrafo 1, da Constituição Federal de 1967, vigente à data da Impetração.

Indeferida a medida liminar, foi notificada a autoridade apontada como coatora, que
prestou as informações de fls. 54/55, confirmando os fatos e esclarecendo que o ato
impugnado encontra amparo na Lei n 2.625, de 19 de novembro de 1975, e no Decreto n
77.919, de 25 de junho de 1976.
Dirimindo a controvérsia, o eminente Juiz Federal LUIZ NERY CABRAL, então em
exercício na 8 Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, concedeu a segurança
(fls. 108/111), submetendo a sentença ao duplo grau de jurisdição.
A suspensão da execução da referida sentença foi deferida, a requerimento da União
Federal, pelo então Presidente do Egrégio Tribunal Federal de Recursos, Ministro
EVANDRO GUEIROS (fls. 114).
Inconformados com o despacho proferido no incidente de suspensão de segurança,
formularam os Impetrantes pedido de reconsideração, que foi recebido como agravo
regimental, este provido, por maioria, pelo Plenário do antigo Tribunal Federal de Recursos
(fls. 128).
Remetidos os autos com vista à ilustrada Subprocuradoria Geral da República,
opinou esta (fls. 133) pela manutenção da sentença recorrida, presumindo, na ausência de
recurso voluntário, o conformismo das partes com a mesma.
Com a extinção do Tribunal Federal de Recursos, foram os autos encaminhados a
esta Corte, sendo a mim redistribuídos em virtude do impedimento do eminente Juiz
SILVÉRIO CABRAL.
Assinale-se que, oficiando junto à Colenda Primeira Turma, o ilustre Procurador da
República, MAGNUS ALBUQUERQUE, contrariando o entendimento de seu colega do
Ministério Público Federal, opinou pela denegação da segurança (fls. 137/141), citando o
magistério de MANOEL FERREIRA FILHO, no sentido de que "a igualdade perante a lei
não exclui, em resumo, a desigualdade de tratamento indispensável em face da particularidade
de situações."
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES (RELATOR):


O eminente Juiz Federal de primeiro grau concedeu a segurança pelos seguintes fundamentos
(fls. 109/110):
"A Lei n 6.265, de 19 de novembro de 1975, que dispõe sobre o Ensino no Exército
e dá outras providências, estabelece:
Art. 2. O Exército ministrará, também, ensino para preparar candidatos à matrícula
em estabelecimentos de formação de oficiais e para proporcionar assistência educacional a
filhos e órfãos de militares, do sexo masculino.
Art. 28. O ensino Preparatório e Assistencial, ressalvadas as suas peculiaridades,
orientar-se-á pelas diretrizes emanadas da legislação federal de 1 e 2 graus, podendo ser
ministrado com a cooperação de outros Ministérios e dos Governos dos Estados, Terrtórios e
Municípios.
O Decreto n 77.919, de 25 de junho de 1976, que Regulamenta a citada Lei n
6.265, dispõe:
Art. 45. O Ensino Assistencial destina-se a proporcionar assistência educacional a
filhos e órfãos de militares, do sexo masculino, e será ministrado em níveis de 1 e 2 graus,
obedecida a legislação federal própria.
Parágrafo 1. Os Colégios Militares são os estabelecimentos de Ensino encarregados
de ministrar o Ensino Assistencial.

Art. 46. O ingresso nos Colégios Militares fica condicionado à aprovação em


exames de seleção. Em caso de não preenchimento da totalidade das vagas, poderá ser
realizado exame de admissão para candidatos não enquadrados no artigo anterior.
Baseado em tais disposições, o impetrado não permite que filhos de civis se
inscrevam nos exames de admissão, já que este se destina a filhos de órfãos de militares , do
sexo masculino. Somente se as vagas existentes não forem preenchidas, é que será aberto
exame para candidatos outros.
Contudo, essas determinações legais conflitam com a regra maior, insculpida no
parágrafo 1, do artigo 153, da Constituição, que assegura a igualdade de todos perante a lei,
sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas.
A restrição é odiosa. É como se os colégios não militares só permitissem o ingresso
de filhos militares se as vagas não fossem ocupadas, em etapa anterior, por filhos de civis."
Além de parecer-nos correta tal decisão, a sua reforma poderia causar dano
irreparável aos estudantes que, ao abrigo da sentença remetida, se matricularam no Colégio
Militar do Rio de Janeiro.
Confirmo a sentença por seus próprios fundamentos.
Nego provimento à remessa oficial.

NEY MAGNO VALADARES


DesembargadorFederal
________MANDADO DE
SEGURANÇA________________________________

REGISTRO N 89.02.13135-1/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Ney Valadares


Impetrante: Mairiângela Calabrese
Impetrado: Exmo. Sr. Desembargador Federal Presidente do T.R.F. da 2 Região

________EMENTA________________________________________________
__

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. POSSE. PRAZO. CONSTITUI A


PRORROGAÇÃO DO PRAZO PARA A POSSE FACULDADE DA
ADMINISTRAÇÃO, E NÃO UM DIREITO DO FUNCIONÁRIO.
ENTRETANTO, SE A ADMINISTRAÇÃO INVOCA UM DETERMINADO
MOTIVO PARA INDEFERIR O REQUERIMENTO DO SERVIDOR, DEVERÁ
COMPROVAR SUA EFETIVA OCORRÊNCIA. CASO DE INSUBSISTÊNCIA
DO MOTIVO ALEGADO, DE QUE RESULTA PARA O SERVIDOR DIREITO À
PRORROGAÇÃO DO PRAZO.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em sessão plenária, por maioria,
conceder a segurança, para que se designe data para a posse da impetrante, na forma do
relatório e voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 10 de maio de 1990 (data do julgamento).

PAULO BARATA NEY VALADARES


Desembargador Federal Desembargador Federal
Vice- Presidente no exercício da Presidência Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES:


MARIANGELA CALABRESE impetra MANDADO DE SEGURANÇA contra ato
do Exmo. Sr. Presidente desta Egrégia Corte, que indeferiu o requerimento através do qual a
Impetrante solicitou prorrogação do prazo para sua posse no cargo de Auxiliar Judiciário,
classe "A", do quadro do pessoal permanente do Tribunal Regional Federal da 2 Região, para
o qual foi nomeada pelo Ato n 148, de 22 de agosto de 1989.
Alega a Impetrante que, como estava acompanhando seu pai, que se encontrava
hospitalizado, desde que fora acometido de grave enfermidade, no dia 26.09.1989, endereçou
à digna autoridade apontada como coatora Requerimento, fundado no art. 27, parágrafo único,
da Lei n 1.711/52, pedindo prorrogação do prazo para sua posse, que fora marcada para o dia
29.09.1989.

Insensível ao motivo de ordem pessoal invocado pela Impetrante, aquela ilustre


autoridade indeferiu o requerimento, alegando "o interesse da administração que tem
necessidade de preencher o seu quadro com a maior urgência."
Induzido talvez em erro pela Secretaria de Administração do Pessoal, que informou
haver a Impetrante apresentado seu requerimento após o término do prazo para a posse,
indeferiu a nobre autoridade impetrada o pedido de reconsideração da Impetrante,
acompanhado de atestado médico.
Acontece que a tempestividade do requerimento da Impetrante está comprovada pela
informação da própria Secretaria de Administração do Pessoal, datada de 28.09.1989, quando
a posse teria lugar no dia seguinte.
Conclui a Impetrante que, talvez por ter sido induzido em erro quanto à
tempestividade de seu requerimento, o eminente Presidente deste Tribunal, apontado como
coator, "não analisou o mérito do pedido, exarando uma decisão arbitrária, injusta e até
desumana, uma vez que um ser humano correndo risco de vida é um fato que todos nós temos
o dever de considerar."
Requer a concessão da segurança, para que seja cassada a decisão impugnada,
prorrogando-se, liminarmente, o prazo da posse da Impetrante por 60 (sessenta) dias.
Indeferida medida liminar, foi notificada a digna autoridade apontada como coatora,
a qual prestou as informações de fls. 18/19, confirmando os fatos e assim justificando o ato
impugnado:
..............................................................................................................
"5 - Cabe à autoridade administrativa deferir, ou não, pedido de
prorrogação de posse, formulado por candidatos nomeados para o
exercício de cargos públicos, observado os interesses superiores da
Administração. O parágrafo único do art. 27 da Lei 1711/52, não atribui ao
candidato direito à prorrogação; faculta ao administrador concedê-la a seu
critério.
Ora, este Tribunal está em fase de implantação de seus serviços
administrativos e necessitando, com urgência, preencher os cargos de seu
Quadro de Pessoal e o interesse pessoal do candidato não pode sobrepor-se
ao do Tribunal.
6 - Por outro lado, o fato de o indeferimento do pedido de reconsideração
ter-se apoiado nas informações constantes dos autos do Processo
Administrativo n 314/89, que podem ser consideradas como incorretas,
não desfaz o indeferimento inicial, por seu próprio fundamento: interesse
da Administração e urgência no preenchimento do Quadro do Tribunal."
Dada vista ao ilustre representante do Ministério Público Federal junto a esta Corte,
opinou o mesmo pela denegação da segurança, entendendo que, por não ter a Impetrante
indicado o prazo da prorrogação, que pretende ver estendido indefinidamente, teria a
Impetrante usado de expediente protelatório.
Converti o julgamento em diligência, para que fosse esclarecido se já foram
preenchidas todas as vagas correspondentes ao cargo de Auxiliar Judiciário, tendo a digna
autoridade apontada como coatora informado que ainda há sete (7) vagas destinadas a
provimento mediante concurso público, além de uma reservada para a Impetrante, enquanto
se aguarda o julgamento do presente mandado de segurança (fls. 28).
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
__

O Exmo. Sr. Desembargador Federal NEY VALADARES (Relator):


Em seu requerimento inicial e, também, no pedido de reconsideração do despacho,
que o indeferiu, solicitou a Impetrante prorrogação do prazo para sua posse no cargo para o
qual fora nomeada, alegando motivo de força maior, ou seja, grave doença em pessoa de sua
família, mais precisamente, de seu genitor, que se encontrava hospitalizado e necessitava de
sua companhia e assistência.
Esse fato está comprovado pelo atestado de fls. 10, subscrito por médico do
HOSPITAL SÃO VICENTE DE PAULO desta cidade, no qual se lê:
"DECLARO PARA OS DEVIDOS FINS QUE A SR MARIANGELA
CALABRESE ENCONTRA-SE ACOMPANHANDO O SEU PAI
GIUSEPPE CALABRESE, SEU PAI, INTERNADO NESTE HOSPITAL.
O PACIENTE FOI INTERNADO COM QUADRO DE HEMORRAGIA
DIGESTIVA BAIXA E NECESSITA DE ACOMPANHANTE
PERMANENTE DEVIDO AO ESTADO DE SAÚDE E PELA IDADE
AVANÇADA."
Desconsiderando o motivo de força maior alegado pela Impetrante, a digna
autoridade apontada como coatora levou em conta exclusivamente a conveniência
administrativa, indeferindo a prorrogação do prazo para a posse da Impetrante, "em face do
interesse da Administração que tem necessidade de preencher seu quadro com maior
urgência."
Embora se adimita que o ato impugnado se insere no poder discricionário da
Administração, está a digna autoridade impetrada vinculada ao motivo invocado para sua
prática, ou seja, a necessidade do preenchimento imediato e inadiável do quadro do pessoal
deste Tribunal.
Vale citar aqui a lição sempre útil de HELY LOPES MEIRELLES, em seu
conhecido "DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO":
"Quando, porém, o motivo não for exigido para a perfeição do ato, fica o
agente com a faculdade discricionária de praticá-lo sem motivação, mas, se
o fizer, vincula-se aos motivos aduzidos, sujeitando-se à obrigação de
demonstrar a sua efetiva ocorrência. Assim, para a dispensa de um servidor
exonerável ad nutum, não há necessidade de motivação do ato
exoneratório, mas se forem dados os motivos, ficará a autoridade que os
deu sujeita à comprovação de sua real existência."
Não comprovou a digna autoridade apontada como coatora a possibilidade do
preenchimento das vagas ainda existentes na classe inicial de Auxiliar Judiciário, para o qual
a Impetrante fora nomeada , no prazo de 60 (sessenta) dias, que seria o máximo permitido
para a prorrogação da posse. Pelo contrário, passados mais de seis meses, ainda existem sete
vagas remanescentes, além daquela que foi reservada para a própria Impetrante, enquanto se
aguarda o desfecho do presente mandado de segurança (fls. 28).
Não existe possibilidade de prorrogação indefinida do prazo para a posse da
Impetrante, porque tal prazo não poderia exceder o limite máximo fixado no art. 27, parágrafo
único, da Lei n 1711/52. Como a posse da Impetrante havia sido marcada para o dia
29/09/1989, se concedida a segurança, ela seria convocada para tomar posse imediatamente,
sem direito a uma nova prorrogação de prazo, porque esta se considera exaurida pelo tempo
decorrido.
Face a insubsistência do motivo alegado para o indeferimento do pedido da
Impetrante, a esta reconheço o direito líquido e certo de ser empossada no cargo para o qual
foi nomeada, em caráter efetivo.

Concedo, assim, a segurança para que a ilustre autoridade coatora marque nova data
para a posse da Impetrante.
É como voto.

NEY VALADARES
Desembargador Federal

DESEMBARGADORA FEDERAL
TANHIA DE MELO BASTOS HEINE
Tania de Melo Bastos Heine nasceu no Rio de Janeiro aos 28 de abril de 1994. Filha de Paulo
de Mello Bastos e Edelena Albernaz de Mello Bastos, casou-se, em 1965, com o Geólogo e
Engenheiro Urbano Hermann de Rocha Nery Heine.
Começou a estudar na Escola José de Alencar, concluindo o Ensino Básico no Instituto de
Educação, onde cursou o Normal. Bacharelou-se em Direito pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro em 1966 e logo em seguida adentrou no mercado de traba-lho como advogada
no Sindicato dos Bancários.
Freqüentou inúmeros Cursos de Extensão - entre os quais os de Direito do Trabalho, Penal,
Comercial e de Informática Jurídica; participou de seminários sobre os mais variados temas -
destacando-se os realizados na Escola Superior de Guerra e Escola Superior de Magistratura e
tomou parte de banca examinadora de concurso público para Juiz do Trabalho Substituto.
Em 1973 estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde fez o curso de
especialização em Participação em Sociedades. Ainda na capital portuguesa, estagiou no
Tribunal do Trabalho, partindo em seguida para Luanda, em Angola, para estagiar também
num tribunal traba-lhista.
Aprovada em 1 lugar no concurso de âmbito nacional para Inspetor do Trabalho, exerceu o
cargo até 1976, quando obteve aprovação para Juiz do Trabalho Substituto da 1 Região e Juiz
Federal Substituto. Tendo optado por este, tomou posse em 1976 na Seção Judiciária do Rio
de Janeiro, onde, além das atividades inerentes ao cargo, foi Diretora do Foro nos anos de
1986/87/88, Relatora da Comissão para Adequação de Processamento de Dados na Justiça do
Rio e Juíza responsável pelas obras de construção dos Anexos da Seção Judiciária fluminense,
nas férias e eventuais ausências do titular.
Em 1989 foi nomeada pelo Presidente da República para compor o quadro de Juízes do recém
criado Tribunal Regional Federal da 2 Região, no qual ocupa a Presidência da 1 Turma.
Seus conhecimentos jurídicos estão presentes em trabalhos publi-cados em revistas e jornais
especializados, tendo ministrado cursos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista na
Fundação Getúlio Vargas e Direito Civil para concurso de Promotor Público.
Em seu currículum constam ainda participações em Encontros de Juízes, Congressos e
Jornadas de Direito.
Merecedora de inúmeros prê-mios e distinções, possui, entre outros, o Certificado de Serviços
Relevantes da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Guanabara pela participação nos
I, II e III Censo Escolar, Homenagem da Ordem dos Advogados do Brasil pela autonomia do
Poder Judiciário e Diploma e Medalha de Honra ao Mérito, concedidos pela Associação dos
Servidores Civis do Brasil.

________APELAÇÃO
CÍVEL_________________________________________

REGISTRO N 90.02.18377-1/RJ

Relatora:Exma. Sra. Desembargadora Federal Tania Heine


Apelante: Pedro Ricardo Lamego de Camargo
Apelado:União Federal

________EMENTA________________________________________________
__

ADMINISTRATIVO - MILITAR - ANISTIA


I - Militar da Aeronáutica, cassado com base no AI n 05, impedido de exercer a
profissão de aviador, como tripulante de aeronave pública ou privada, por força do
ato que o cassou e pelas Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica ns.
S-50-GM 5, de 19/06/64 e S-285-GM 5, de 01/09/66, tem direito à indenização,
correspondente ao que deixou de perceber, desde aquele ato até a data em que tais
Portarias foram revogadas.
II - Inexiste prescrição, pois a indenização é reparação do dano sofrido, como, aliás,
está previsto no artigo 8, parágrafo 3 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
III - Recurso parcialmente provido.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
vencido o Desembargador Federal Chalu Barbosa, que dava provimento integral ao recurso,
dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator, constante dos autos, que
fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1990 (data do julgamento).


TANIA HEINE
Desembargadora Federal
Presidente e Relatora

________RELATÓRIO____________________________________________
___

DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - No Juízo


Federal da 14 Vara-RJ, Pedro Ricardo Lamego de Camargo, em 28 de maio de 1986, ajuizou
uma ação ordinária contra a União Federal, pleiteando a reparação de danos causados ao seu
patrimônio pelo cerceamento do direito de exercer as suas atividades de Piloto de Aeronaves,
desde 30 de abril de 1969.

Relatou que fazia parte do Corpo de Oficiais Aviadores da Força Aérea Brasileira e,
em 1969, com o Posto de Tenente-Coronel Aviador, quando foi reformado, em 24 de abril do
mesmo ano, com base no Ato Institucional n 5/68, e completando tal ato arbitrário, em 30 de
abril seguinte teve seus direitos políticos cassados e proibido de exercer qualquer atividade
aérea, como tripulante de aeronave pública ou privada, em todo o Território Nacional, por dez
anos, ainda com fundamento no Ato Institucional n 5/68.
Tais Atos vieram interromper sua carreira, prosseguiu, atingindo de forma marcante
seu patrimônio, já que impediu fosse exercida a única profissão que teria condições de exercer
na vida civil, mormente por contar, à época, mais de cincoenta anos de idade, sem condições
de exercer outra atividade senão aquela para a qual estava qualificado.
Finalizou por pleitear a reparação de danos acima referenciada, para ser ressarcido
dos danos sofridos em seu patrimônio, já que os Atos que geraram tal situação feriram
preceitos constitucionais (art. 153, parágrafo 23 da Carta Magna então vigente), bem como o
artigo 75 e seguintes do Código Civil.
A União Federal contestou o pedido reportando-se a informes recebidos do
Ministério da Aeronáutica, onde foi argüida a prescrição qüinqüenal, já que, anistiado em
1979, desde então não subsistia o impedimento de recorrer, administrativamente ou ao Poder
Judiciário.
No mérito sustentava que o artigo 181 da Emenda Constitucional n 1/69 excluia os
Atos Institucionais e Complementares da apreciação judicial e que a cassação e a reforma do
autor foram precedidas de investigações procedidas na Aeronáutica, e não Atos imotivados
como quis fazer crer o autor.
A MM. Juíza Federal a quo, em decisão proferida às fls. 73/75, acolheu a preliminar
de prescrição quanto ao período anterior a 28/05/81, e julgou improcedente, pois que, com a
Lei de Anistia (Lei n 6.693/79), foi-lhe facultado exercer sua profissão e ainda, promovido,
na inatividade, ao Posto de Coronel a partir 20/07/69, com efeitos financeiros a contar de
28/11/85, data da Emenda Constitucional n 26/85.
Inconformado, o autor apelou às fls. 77/80.
Sem contra-razões.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___
DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - O autor era
Tenente-Coronel da FAB quando, em 24/04/69, foi reformado compulsoriamente, por
motivos políticos, com base no parágrafo 1 do art. 6 do Ato Institucional n 5.
Além de ter seus direitos políticos suspensos, pelo prazo de dez anos, foi proibido
expressamente de exercer qualquer atividade aérea, como tripulante de aeronave pública ou
privado em todo Território Nacional, conforme Ato do Sr. Presidente da República, publicado
no Diário Oficial em 30/04/69.
Mesmo que tal não constasse expressamente do Ato, estaria da mesma forma
impedido, inclusive no âmbito internacional, pois o Ministro da Aeronáutica, através de duas
Portarias Secretas datadas de 19/06/64 e 01/09/66, suspendeu as concessões de licença
previstas na Portaria n 869-A-GMS, de 29/08/63, a todos os militares atingidos por atos
institucionais ou complementares. As revalidações e certificados de habilitação, também
previsto na citada Portaria, também foram negados a aeronautas e aeroviários penalizados
pelos atos institucionais. Essas Portarias se tornaram conhecidas quando foram revogadas,
após a Lei de Anistia.
É curial que, sem essa revalidação semestral, o piloto não pode exercer sua
profissão, pois é indispensável o exame de saúde, devido aos riscos da profissão.
Conforme documentos dos autos, o autor é portador de sete medalhas, inclusive pela
Campanha do Atlântico Sul durante a Segunda Guerra Mundial, além de certificados de
inúmeros cursos e elogios em sua folha de alterações.
É incontestável que o direito ao trabalho é garantia constitucional.

Em questão semelhante, cuja cópia se encontra nos autos, o direito do Piloto Militar
cassado continuar a voar, na Aviação Civil, foi apreciado pelo Supremo Tribunal Federal,
assim se manifestando o Ministro Aliomar Baleeiro.
"Para dirigir um avião, um automóvel ou um caminhão alguém tem de
provar a sua capacidade técnica: - que sabe dirigir. Um oficial que fez o
curso completo de navegação aérea, aprendeu não apenas o manejo
dos aparelhos, que hoje é mais simplificado, mas também problemas de
rotas, etc. etc., vai ao posto de tenente-coronel, presume-se, oficialmente,
legalmente, que ele sabe dirigir aviões e sabe comandá-los nas linhas
aéreas. Esse homem, por motivos políticos, foi cassado, e provavelmente
bem cassado. Acredito que, do ponto de vista ideológico, ele não convém à
FAB. Isso depende da autoridade pública que lhe cassou os direitos. Mas
ele sabe dirigir aviões e está sujeito apenas aos exames periódicos que
qualquer aviador ou piloto civil está obrigado a prestar para demonstrar
suas condições de saúde: visão, equilíbrio nervoso de reflexos, etc."
O Ministro Eloy da Rocha votou no seguinte sentido:
"Sr. Presidente, pretende o impetrante, na verdade, que lhe seja concedida,
pelo Poder Judiciário, licença, que se condiciona a requisitos estabelecidos
na lei. Os votos até agora proferidos, com exceção do eminente Ministro
Adaucto Cardoso, não admitem o pedido, tal qual formulado, pela
impossibilidade de reconhecer-se no mandado, o preenchimento, na
totalidade, daqueles requisitos. Deferem, porém, em parte, o pedido. Penso
que só se poderá deferir, parcialmente, o mandado de segurança, com o
reconhecimento de que a perda da patente, por si, não importa em
incapacidade para a pleiteada atividade do piloto, que poderá ser exercida,
cumpridos os requisitos legais. Nesse sentido, nesses termos, estou de
acordo com o voto do eminente Relator e dos eminentes Ministros que o
acompanham."
Esse acórdão, em sessão de 03/12/68, reconheceu o direito daquele autor à licença
de Piloto, consubstanciada no Certificado de Habilitação, devendo se sujeitar ao exame anual
de saúde.
Torna-se evidente que foi causado um dano ao autor, pela União Federal, sendo que se trata
de responsabilidade objetiva.
"Segundo Hely Lopes Meirelles, a fls. 611 do "Direito Administrativo
Brasileiro" (4 Edição), para que se configure a responsabilidade da ré basta
"que se demonstre o nexo causal entre o fato lesivo (comissivo ou
omissivo) e o dano, bem como o seu montante. Comprovados esses dois
elementos, surge, naturalmente, a obrigação de indenizar. Para eximir-se
dessa obrigação, incumbirá à Fazenda Pública comprovar que a vítima
concorreu com culpa ou dolo para o evento danoso. Enquanto não
evidenciar a culpabilidade da vítima, subsiste a responsabilidade objetiva
da administração."
Essa responsabilidade foi reconhecida pelos constituintes de 1988, que inseriram no
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias o parágrafo 3 do artigo 8, do seguinte teor:
"Parágrafo 3 - Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida
civil, atividade profissional específica, em decorrência das Portarias
Reservadas do Ministério da Aeronáutica n S-50-GM5, de 19 de junho de
1964 e n S-285-GM5, será concedida reparação de natureza econômica, na
forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em
vigor no prazo de doze meses a contar da promulgação da Constituição.

Não tendo vindo à luz até hoje essa lei, mas reconhecido o dirieto à indenização, esta
deverá ser calculada com base no que o autor receberia na Aviação Civil, no período de
24/04/69 até a data em que foram revogadas as referidas Portarias, em 1979, como se apurar
em liquidação, através de arbitramento.
Não há que se falar em prescrição, pois a indenização diz respeito ao dano sofrido,
assim configurado pelo que o autor deixou de perceber no período em que ficou impedido de
exercer a profissão, tanto que a matéria foi objeto do atual texto constitucional.
Dou, portanto, parcial provimento ao recurso, para condenar a União Federal a
indenizar o recorrente na forma citada, acrescentando à condenação juros, correção monetária
e honorários advocatícios, que arbitro em 10% do valor da execução.

TANIA HEINE
Desembargadora Federal

________APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA______________

REGISTRO N 90.02.19408-0/RJ

Relatora:Exma. Sra. Desembargadora Federal Tania Heine


Apelantes: Construtora Becman S/A União Federal
Apelados: Janice Araripe do Carmo Braga - Espólio e outros
________EMENTA________________________________________________
__

ADMINISTRATIVO - MAJORAÇÃO DE PAGAMENTO DE FORO - LEI N


7450/85
I - A enfiteuse de bens públicos se rege por Lei especial (D.L. n 9760/46),
aplicando-se o direito comum quando não for incompatível com o disposto na lei
especial.
II - O artigo 88 da Lei n 7450/85 atualizou não o percentual estabelecido no artigo
101 do D.L. n 9760/46 e sim o valor do domínio pleno sobre o qual incide tal
percentual, sendo aplicável a todos os contratos de aforamento, inclusive àqueles
celebrados antes da edição da referida Lei.
III - Recurso do autor improvido.
IV - Recurso da União Federal e remessa necessária providos.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, negar provimento ao recurso do impetrante e dar provimento à remessa
necessária e ao recurso da União Federal, nos termos do voto do Relator, constante dos autos,
que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 06 de maio de 1991 (data do julgamento).

TANIA HEINE
Desembargadora Federal
Presidente e Relatora

________RELATÓRIO____________________________________________
__

DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - Tratam-se de


apelações interpostas pela CONSTRUTORA BECMAN S/A e pela UNIÃO FEDERAL de
decisão proferida em mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado pelo espólio
de JANICE ARARIPE DO CARMO BRAGA E OUTROS contra Ato do DELEGADO DO
SERVIÇO DO PATRIM<210>NIO DA UNIÃO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, no
Juízo da 19 Vara/RJ, objetivando fosse tornada insubsistente a majoração e a exigência do
pagamento dos foros ilegalmente reajustados desde outubro de 1988.

Alegaram que eram titulares do domínio útil dos terrenos de marinha e acrescidos,
adquiridos através de contrato de aforamento celebrado diretamente com a União Federal ou
por transferência de aforamento havida de foreiros anteriores, de acordo com o art. 101 do
Dec.-Lei n 9760/46 e que a autoridade impetrada passou a exigir a majoração dos foros
respectivos, com fundamento na Lei 7450/85 que alterou o artigo supracitado.
Liminar concedida e revogada às fls. 26.
A autoridade impetrada, em suas informações, baseou-se no ofício SPV/DG/n
514/86, acompanhado de parecer emitido pela Procuradoria da Fazenda Nacional,
sustentando a legalidade do ato impugnado (fls. 30/73).
O MPF às fls. 75/76 opinou pela denegação da segurança.
Na sentença de fls. 78/83, o MM. Juiz Federal a quo concedeu, em parte, a
segurança, afastando a incidência da Lei 7450/85 somente sobre os contratos de aforamento
formalizados anteriormente à vigência desse diploma legal, sujeitando sua decisão ao duplo
grau jurisdicional.
Inconformada, a Construtora Becman S/A apelou (fls. 87/89), o mesmo fazendo a
União Federal (fls. 97/106).
Contra-razões às fls. 108/109.
O MPF às fls. 111/112 opinou pela reforma da r. sentença monocrática.
O MPF junto a esta Corte opinou pela manutenção da decisão monocrática.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - Trata-se de


aforamento anterior à promulgação da Lei n 7450/85, pretendendo os impetrantes que a eles
não se aplica a atualização do foro ali previsto.
A sentença de primeiro grau concedeu em parte a segurança para afastar a incidência
da Lei n 7450/85 sobre os contratos de aforamento e transferências formalizados
anteriormente à vigência desse diploma legal, excepcionando o imóvel constante da
averbação de transferência n 19349, de 17/06/86, da Construtora Becman S/A, que apelou;
tendo a União Federal também recorrido.
Efetivamente o cerne da controvérsia, como assinalado na sentença, é determinar se
poderia o artigo 88 da Lei n 7450 dar nova redação ao artigo 101 do D.L. n 9760/46,
atualizando anualmente o valor do foro, em relação aos contratos celebrados antes de sua
vigência.
Entendeu o Juiz que as distinções entre a enfiteuse no direito privado e no direito
público não alteram a natureza jurídica do instituto, afastando o efeito retrooperante da
referida lei.
Podemos analisar que há diferenças efetivamente, quais sejam:
"1. O domínio útil sobre imóveis particulares pode ser adquirido por
usucapião, ao contrário dos bens públicos, que não podem ser adquiridos
por essa forma;
2. O enfiteuse pode adquirir o domínio direto do bem particular, ao
contrário do bem integrante do domínio público, que de regra é inalienável;
3. O enfiteuse do bem particular pode resgatar o aforamento, não ocorrendo
a mesma faculdade com a enfiteuse regulada pelo Direito Administrativo;
4. Na enfiteuse particular o laudênio corresponde a 2,5% sobre o preço da
alienação do domínio útil, enquanto no Direito Público o laudênio
corresponde a 5% sobre o valor do domínio pleno."
À época em que o referido instituto era aplicado aos terrenos de marinha e
acrescidos regulado pelo D.L. n 2490/40, Clóvis Bevilacqua assim se manifestava:
"As diferenças, que se encontram no regime estabelecido pelo Decreto-Lei
n 2490, de 16 de agosto de 1940, em relação ao estabelecido pelo Código
Civil, não alteram este último; porque o referido Decreto-Lei se refere,
exclusivamente, ao aforamento de terrenos, acrescidos e mangues da costa,
bens da União, submetidos assim a lei especial, e que, aliás, gozam de
situação privilegiada. Além disso, as medidas tomadas pelo referido
Decreto-Lei visavam a resguardar interesses da Fazenda Nacional,
comprometidos por irregularidades, indeterminações ou confusões de
limites e outros pontos obscuros das concessões existentes. O Código Civil
regula a enfiteuse de bens particulares, pertencentes a pessoas naturais ou
jurídicas. A enfiteuse dos terrenos de marinha sempre se regeu por lei
especial, ainda que se lhe aplicassem preceitos do direito comum, naquilo
em que não havia provisões próprias desse caso particular de aforamento. E
a essa lei especial remetia o Código Civil, art. 694, a enfiteuse e a
subenfiteuse dos terrenos de marinha e acrescidos." (DIREITO DAS
COISAS, Forense, 1956, pág. 291).
A legislação especial em tela passou a ser a do D.L. n 9760/46.
Há que se considerar que o artigo 678 do Código Civil, editado em 1916, estava
consoante a situação econômico-financeira da época, ao dispor que o foro era certo e
invariável.
O artigo 101 do D.L. n 9760/46 estipulava que o foro seria de 0,6% do valor do
respectivo domínio pleno.
O que passou a ser atualizado, portanto, foi o valor do domínio pleno.
A questão analisada, portanto, sob a ótica do Direito Público há que ser balizada por
outros parâmetros e a atualização do valor do domínio pleno encontra guarida nos princípios
que norteiam esse ramo do Direito, parecendo-me relevante a argumentação de que a não
atualização do foro iria fazer com que, em pouco tempo, a inflação viesse a fazer desaparecer
essa obrigação, em detrimento do Serviço do Patrimônio da União, que, em última análise, é
de toda a coletividade.
Nego, pois, provimento ao recurso do impetrante e dou provimento à remessa
necessária e ao recurso da União Federal para denegar a segurança totalmente.

TANIA HEINE
Desembargadora Federal
arquivo original - set/996 - geração: notlih do valle filho - editoraçào: ramanal pimenta

________APELAÇÃO
CÍVEL_________________________________________

REGISTRO N 91.02.09644-7/RJ

Relatora:Exma. Sra. Desembargadora Federal Tania Heine


Apelante: Luiz Carlos dos Santos Rep/ por Marilene Castro dos Santos
Apelado:União Federal

________EMENTA________________________________________________
__
PROCESSUAL CIVIL - ATUALIZAÇÃO DE CÁLCULO - ÍNDICES
SUPRIMIDOS
I - A correção monetária, nos termos do artigo 1 do Decreto n 86649/81, é feita
com base na ORTN.
II - O D.L. n 2284/86 criou o IPC, transformou a ORTN em OTN e no
parágrafo único do artigo 6 determinou a sua atualização pela variação do
IPC.
III - O D.L. n 2335/87 congelou preços e salários e a Resolução n 1338/87, do
Banco Central do Brasil determinou que, a partir de agosto de 1987, o valor
nominal da OTN seria atualizado, mensalmente, pela variação do IPC, dentro
do critério do artigo 19 do D.L. n 2335/87 (segunda quinzena de um mês até a
primeira quinzena do mês seguinte).
IV - A Lei n 7730/89 extinguiu a OTN, criando-se a BTN a partir de fevereiro
de 1989, no valor de NCz$ 1,00.
V - O artigo 6 dessa Lei, ao determinar que, nos contratos de locação, se
adotasse a variação do INPC no mês de janeiro/89, demonstra claramente que
nenhum índice de correção foi adotado naquele mês.
VI - A Lei n 7777, de 19/06/89, determinou o reajuste mensal da BTN pelo IPC.
VII - A Medida Provisória n 168/90, com a redação dada pela Medida
Provisória n 172/90, no artigo 22, aplica, também, o índice do IPC para
correção da BTN, excepcionando, no parágrafo único, o critério de cálculo para
abril e maio de 1990, afastando o período do dia 16 de um mês ao dia 15 do mês
seguinte.
VIII - A correção monetária, portanto, baseando-se no IPC, não poderia ter
suprimido aquele índice nos períodos de 16/12/88 a 15/01/89 e 16/02/90
a 15/03/90.
IX - Cabível a inclusão desses índices nos cálculos de atualização.
X - Recurso provido.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
vencido o Desembargador Federal Chalu Barbosa, dar provimento ao recurso, nos termos do
voto do Relator, constante dos autos, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 05 de junho de 1991 (data do julgamento).

TANIA HEINE
Desembargadora Federal
Presidente e Relatora
________RELATÓRIO____________________________________________
___

DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - Trata-se de


apelação interposta por LUIZ CARLOS DOS SANTOS rep/ por MARILENE CASTRO DOS
SANTOS de decisão proferida pelo MM. Juiz Federal da 5 Vara-RJ, nos autos da Ação
Ordinária proposta contra a UNIÃO FEDERAL, que rejeitando a impugnação do autor,
homologou os cálculos apurados, por entender que o índice de correção devia ser o das
OTN's/BTN's ante à omissão de indicação de índice específico na decisão liquidanda.
Pretende o autor, ora apelante, a inclusão da correção monetária verificada ao tempo
dos Planos Verão e Collor, correspondente a 70,28% do IPC do mês de abril e a 84,32% em
relação ao mês de março de 1990 em virtude de haver vigorado até a consumação dos
períodos incorporáveis as normas legais que impunham tal correção.
Embasando seu recurso mencionou a Súmula n 562, do Supremo Tribunal Federal,
sobre atualização na indenização de danos materiais e pessoais e anexou Acórdãos do STJ e
do Tribunal Regional Federal da 1 Região reconhecendo a inclusão da inflação verificada
nessas épocas (fls. 389/394).
Contra-razões às fls. 398/399.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA HEINE (RELATORA) - Trata-se de


militar reformado por sentença com direito ao auxílio invalidez.
Recebido o principal, o Contador atualizou os cálculos a fls. 342, de novembro/88 a
outubro/90, que foram homologados a fls. 376.
Pretende, através deste recurso, que a atualização incorpore 70,28% do Plano Verão
e 84,32% do Plano Collor, em obediência aos índices apurados pelo IPC, respectivamente nos
períodos de 16/12/88 a 15/01/89 e 16/02/90 a 15/03/90.
Pelo acórdão é devida a correção monetária, a partir da vigência da Lei n 6.899/81,
cujo artigo 1 dispõe:
"Art. 1 - A correção monetária incide sobre qualquer débito
resultante de decisão judicial, inclusive sobre custas e honorários
advocatícios".
Por sua vez, o art. 1 do Decreto n 86.649/81, que regulamentou aquela lei,
determinou que a correção monetária seria feita com base na ORTN.
A Lei n 4.357/64 autorizou o Poder Executivo a emitir Obrigações do Tesouro
Nacional, cujo valor nominal seria atualizado periodicamente, em função das variações do
poder aquisitivo da moeda nacional.

O Decreto Lei n 2.284/86, instituiu o cruzado, criou o Índice de Preços ao


Consumidor e, no artigo 6, transformou a ORTN em OTN, no valor de Cz$ 106,40 e que, a
partir de 1987 seria reajustada por critério fixado pelo Conselho Monetário Nacional. No seu
parágrafo único determinou que, na atualização de 01/03/87, a OTN obedeceria às variações
do IPC ocorridas até 30/11/86, e de 01/12/86 a 28 de fevereiro de 1987, às variações do IPC
ou rendimentos das Letras do Banco Central, adotando-se o maior índice.
Sobreveio o D.L. n 2.335, de 12/06/87, que congelou preços e salários e instituiu a
URP para sua correção.
A Resolução n 1.338, de 15/06/87, do Banco Central do Brasil determinava que o
valor nominal da OTN, no mês de julho de 1987, seria atualizado pelas Letras do Banco
Central, no período de 1 a 30/06/87, inclusive, e que, a partir de agosto de 1987, o valor
nominal da OTN seria atualizado, mensalmente, pela variação do IPC (Índice de Preços ao
Consumidor), aferido segundo o critério estabelecido pelo artigo 19 do D.L. n 2.335/87, ou
seja, com base na média dos preços apurados entre o início da segunda quinzena do mês
anterior e o término da primeira quinzena do mês de referência.
Com a Lei n 7.730, de 31/01/89, na qual foi convertida a Medida Provisória n 32,
de 15/01/89, extinguiu-se a OTN, que, em 1/01/89 valia Cz$ 6.170,19, criando-se, a partir de
fevereiro, a BTN, no valor de NCz$ 1,00.
Em relação aos contratos de locação de imóveis, o artigo 6 dessa Lei determinou
que, no mês de janeiro de 1989, se adotaria a variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor), antes de se aplicar a variação de BTN, o que veio a demonstrar que,
efetivamente, naquele mês, nenhum outro índice de correção foi adotado.
Tratou-se de medida de caráter econômico, como tantas outras, e que, para segurar a
inflação alterava índices de correção visando suprimir, artificialmente, parte da
desvalorização da moeda.
A Lei n 7.777, de 19/06/89, na qual se converteu a Medida Provisória n 57,
determinava no art. 5 parágrafo 2 que o valor nominal da BTN seria atualizado mensalmente
pelo IPC.
Com a posse do atual Presidente da República veio à luz a Medida Provisória n 168,
de 16/03/90, com a redação dada pela Medida Provisória n 172, de 19/03/90 ("Plano
Collor"), dispondo no artigo 22:
"Art. 22 - O valor nominal do Bônus do Tesouro Nacional - BTN,
será atualizado cada mês por índice calculado com a metodologia
utilizada para o índice referido no artigo 2, parágrafo 5, da MP
n 154, desta data, refletindo a variação de preços entre o dia 16
do segundo mês imediatamente anterior e o dia 15 do mês
anterior.
Parágrafo Único - Excepcionalmente, os valores nominais do BTN nos meses de
abril e maio de 1990 serão iguais respectivamente aos valores do BTN fiscal no dia 1 de abril
de 1990 e no dia 1 de maio de 1990".
Nos meses de abril e maio a BTN ficou estacionada em Cr$ 41,7340.
É evidente, portanto, que tais critérios econômicos e políticos vieram alterar,
substancialmente, a correção da OTN e da BTN, em detrimento daqueles que têm seus
créditos corrigidos por esses índices.
Dou, portanto, provimento ao recurso para que os índices do IPC de 16/12/88 a
15/01/89 e 16/02/90 a 15 de março de 1990 sejam integralmente computados.

TANIA HEINE
Desembargadora Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
ALBERTO NOGUEIRA
Alberto Nogueira, filho de Epaminondas Nogueira e Eponina Vasconcelos Nogueira, nasceu a
29 de julho de 1941 em Palmeira dos <205>ndios, Estado de Alagoas. Bacharel em Ciências
Jurídicas e Sociais pela antiga Faculdade Nacional de Direito - atual UFRJ - (1966), obteve o
grau de Mestre na Universidade Gama Filho, em 1983.
A nível de pós graduação, freqüentou os seguintes cursos: "Política e Administração
Tributária", na Escola Interamericana de Administração Pública; "Tax Administration", USA,
Departamento de Estudo; Introdução à Controladoria, no Instituto Superior de Estudos
Contábeis e "Valoración Aduanera de Mercaderias", na Escuela Nacional de Aduanas em
Buenos Aires, Argentina.
Exerceu vários cargos públicos, todos mediante concurso, dentre os quais os de Fiscal de
Tributos Federais, ocupando, sucessivamente, os cargos de Inspetor, Assessor Chefe e
Delegado Substituto da Delegacia de Receita Federal do Rio de Janeiro. Como Supervisor de
Grupos de Fiscalização, trabalhou nos setores de Importação, Produtos Industrializados e
Imposto de Renda e Proventos de Qualquer natureza. Supervisionou, ainda, o Estágio para
treinamento de Técnicos de Tributação.
Como Procurador da Fazenda Nacional, foi representante deste órgão junto aos Primeiro e
Terceiro Conselhos de Contribuíntes, tornando-se, em seguida, Assessor do Procurador-Geral,
Assessor de Ministro, Assessor da Comissão de Estudos Tributários Internacionais da
Fazenda Nacional e Coordenador de diversos Grupos de Estudo.
Membro de inúmeras Comissões e Coordenador de Atividades pertinentes à Defesa Nacional,
Dr. Alberto Nogueira atuou ainda como Delegado do Brasil junto à Organização das Nações
Unidas entre 1978 e 1979, ano em que interrompeu sua militância na advocacia.
Juiz Federal aprovado em concurso público, assumiu o cargo em outubro de 1979. Lotado na
3 Vara, permaneceu nesta até sua nomeação para o Tribunal Regional Federal da 2 Região,
onde hoje faz parte da 2 Turma do Tribunal.
Participou de Seminários, Congressos e Simpósios, proferiu palestras e conferências em
diversas instituições públicas e particulares, entre as quais, CETREMFA, ESAF, FGV,
SENAC, CEJUR/RJ, PETROBRÁS, FINEP, ECT, SOUZA CRUZ e Universidades. Publicou
Estudos, Pareceres, Sentenças e Teses em Revistas Especializadas e Imprensa Oficial.
No magistério desde 1972, é atualmente Professor de Direito Tributário I e II da Universidade
Gama Filho (graduação e pós-graduação) e de Processo Tributário (pós-graduação). Membro
de Bancas Examinadoras em Concursos, dentre os quais os de Procurador da Fazenda
Nacional e Juiz Federal Substituto.

________APELAÇÃO EM MANDADO DE
SEGURANÇA_______________

REGISTRO N 90.02.19874-4

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Alberto Nogueira


Apelante: Farmitalia Carlo Erba S.A.
Apelada: União Federal (Fazenda Nacional)

_______EMENTA_________________________________________________
__
CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. LIBERAÇÃO DE MERCADORIAS
IMPORTADAS INDEPENDENTEMENTE DE PRÉVIO RECOLHIMENTO DO
ICMS. INSRF N 54/81. CONVÊNIO ICM 66/88. EFICÁCIA DA SÚMULA N
577-STF NO VIGENTE ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL.
1. Através do Convênio ICM 66/88, estabeleceu-se nova hipótese de incidência para
o antigo ICM, atual ICMS, em ofensa ao disposto no artigo 146, III, "a", da
Constituição Federal, que exige Lei Complementar para a fixação de norma sobre
fato gerador, base de cálculo e contribuintes.
2. O convênio a que se refere o art. 34, parágrafo 8, do A.D.C.T./88, por seu turno,
não supre essa exigência, uma vez que nele se prevê, apenas, a possibilidade de, na
hipótese de não editada "a lei complementar necessária à instituição" do ICMS,
regular-se provisoriamente a matéria.
3. Tal não significa instituir impostos, entendendo-se nessa expressão também a
fixação de fato gerador e base de cálculo.
4. De qualquer modo, o Convênio 66/88, ainda que possa ser entendido como
sucedâneo provisório da lei complementar referida no art. 34, parágrafo 8, do
A.D.C.T., não equipara o despacho aduaneiro ao recebimento da mercadoria pelo
importador, como previsto no art. 2, V, da Lei n 1.423/89 do Estado do Rio de
Janeiro.
5. A par de todas essas considerações, a exigência repelida pela Súmula n 577 do
S.T.F. é da competência dos Estados e Distrito Federal, sendo, ainda, no particular,
ilegal a INSRF 54/81, por violar o art. 7 do CTN, no qual se diz que a competência
tributária é indelegável, com ressalva de funções de mera arrecadação ou
fiscalização, dentre as quais não se
contém, de forma alguma, o poder de subordinar a liberação de mercadorias,
regularmente despachadas, à comprovação de obrigações tributárias estaduais.
6. Recurso provido, à unanimidade.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide 2 Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por unanimidade, dar
provimento à apelação, nos termos do Relatório e Voto do Sr. Desembargador Federal
Relator, constantes dos autos e que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 13 de março de 1991 (data do julgamento).

ALBERTO NOGUEIRA JULIETA LÍDIA LUNZ


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Relator Presidente da Sessão

________RELATÓRIO____________________________________________
__
FARMITALIA CARLO ERBA S.A., com sede em Duque de Caxias, neste Estado,
impetrou Mandado de Segurança, com requerimento de liminar, contra ato do Sr. INSPETOR
DA RECEITA FEDERAL NO AEROPORTO INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO,
com o fito de despachar mercadorias importadas, independentemente de comprovação do
recolhimento do Imposto Estadual sobre Circulação de Mercadorias-ICM, como preconizado
na Instrução Normativa/SRF n 54, de 24 de julho de 1981 e Convênio ICM 66/88.
Deferida a liminar (fls. 20) e requisitadas as informações, prestou-as o Impetrado
(fls. 23/31), em defesa do ato impugnado.
Sobreveio a sentença, proferida pela eminente Juíza Federal da 20 Vara-RJ, Dra.
TANYRA VARGAS DE ALMEIDA MAGALHÃES, denegando a segurança, uma vez que,
após a Constituição de 1988, tornara-se legítima a exigência do ICMS no desembaraço
aduaneiro (fls. 34/38).
A Impetrante apelou (fls. 42/50), tempestivamente, e, com as contra-razões da União
Federal (fls. 54/55), subiram os autos a esta Corte, vindo-me por distribuição.
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do apelo (fls. 61/63).
É o Relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

Dispõe o parágrafo 8, do art. 34 do A.D.C.T. à Carta de 1988:


"Parágrafo 8. Se, no prazo de sessenta dias contados da promulgação da
Constituição, não for editada a lei complementar necessária à instituição do
imposto de que trata o art. 155, I, b, os Estados eo Distrito Federal,
mediante convênio celebrado nos termos da Lei Complementar n 24, de 7
de janeiro de 1975, fixarão normas para regular provisoriamente a
matéria".
Com base nesse dispositivo constitucional, Estados e Municípios celebraram o
Convênio ICM 66/88 (D.O.U. de 16/12/88), dispondo no art. 2:
"Ocorre o fato gerador do imposto:
I - na entrada no estabelecimento destinatário ou no recebimento pelo
importador de mercadoria ou bem, importados do exterior".
O Estado do Rio de Janeiro promulgou a Lei n 1.423, de 27/01/89 (D.O.E. de
28/01/89), cujo art. 2 reza:
"Art. 2. O fato gerador do imposto ocorre:
..............................................................................................................
V - no recebimento pelo importador de mercadoria ou bem importados do
exterior.
..............................................................................................................

Parágrafo 6 - O despacho aduaneiro caracteriza o recebimento pelo


importador de mercadoria ou bem importados do exterior, na hipótese do
inciso V".
Vê-se, assim, que o Convênio estabeleceu nova hipótese de incidência para o antigo
ICM, atual ICMS, não prevista no DL. 406/68 (que tem status constitucional por ter sido
baixado com base no AI-5, alterando o próprio C.T.N.).
A Constituição de 1988, em seu artigo 146, III, "a", exige Lei Complementar para a
fixação de norma sobre fato gerador, bases de cálculo e contribuintes.
O Convênio a que se refere o art. 34, parágrafo 8, do A.D.C.T./88 não supre essa
exigência.
Ali se prevê, apenas, a possibilidade de, na hipótese de não editada "a lei
complementar necessária à instituição" do ICMS, regular-se provisoriamente a matéria.
A regulação deve se restringir à legislação existente, ou seja, sobre as normas
relativas aos antigos ICM, ISS e ISTC.
Regular provisoriamente não significa instituir impostos, entendendo-se nessa
expressão também a fixação de fato gerador e base de cálculo.
De qualquer modo, o Convênio 66/88, ainda que possa ser entendido como
sucedâneo provisório da lei complementar referida no art. 34, parágrafo 8, do A.D.C.T., não
equipara o despacho aduaneiro ao recebimento da mercadoria pelo importador, como previsto
no art. 2, V, da Lei n 1.423/89 do Estado do Rio de Janeiro.
Houve, sem dúvida, extrapolação.
Essa equiparação, aliás, contraria a lógica elementar, pois o despacho aduaneiro se
constitui "o procedimento fiscal mediante o qual se processa o desembaraço aduaneiro de
mercadoria procedente do exterior, seja ela importada a título definitivo ou não"
(Regulamento Aduaneiro baixado com o Decreto n 91.030, de 05/03/1985).
Pode haver despacho sem desembaraço, ou seja, sem entrega da mercadoria ao
importador, como sucede nos casos de perdimento ou de apreensão de bens (DLs. 37/66 e
1.455/76).
A par de todas essas considerações, a exigência repelida pela Súmula n 577 do
S.T.F. é da competência dos Estados e Distrito Federal, sendo, ainda, no particular, ilegal a
INSRF 54/81, por violar o art. 7 do C.T.N., no qual se diz que a competência tributária é
indelegável, com ressalva de funções de mera arrecadação ou fiscalização.
Nisso não se contém, de qualquer modo, o poder de subordinar a liberação de
mercadoria regularmente despachada à comprovação de obrigações tributárias estaduais.
A Súmula n 577 do S.T.F. continua eficaz no vigente ordenamento constitucional.
Tal a orientação sufragada, em sucessivos julgados, por esta Eg. Turma.
Dou provimento, pois, à apelação para conceder a segurança.
É como voto.

Rio de Janeiro, 13 de março de 1991.

ALBERTO NOGUEIRA
Desembargador Federal

________EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇÃO


CÍVEL_________

REGISTRO N 89.02.03869-6

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Alberto Nogueira


Embargante: Raimundo Nonato de Abreu
Embargada: União Federal
________EMENTA________________________________________________
__

MILITAR. ANISTIA, COM DIREITO À REINTEGRAÇÃO, NA FORMA DO


ART. 4 DA LEI N 6.683/79. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE EM 1
GRAU. INTERPOSTO APELO AO EXTINTO E EG. TRIBUNAL FEDERAL DE
RECURSOS, IMPROVIDO, POR MAIORIA. EMBARGOS INFRINGENTES.
1. O afastamento do Embargante não se deu com base em atos institucionais ou
complementares, mas na legislação ordinária (Estatuto dos Militares).
2. A Lei n 6.683/79 se reporta apenas à punição por atos institucionais ou
complementares.
3. Contudo, sobrevieram a segunda e a terceira anistias, mais amplas, com o advento
da Emenda Constitucional n 26, de 27 de Novembro de 1985, e art. 8 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias da Carta de 1988, o qual menciona, além
dos atos de exceção, intitucionais e complementares, os de "motivação
exclusivamente política", como, exatamente, o do caso em apreço.
4. Embargos acolhidos em parte, à unanimidade, para o fim de considerar o
Embargante anistiado, condenada a Ré a, nos termos da Emenda Constitucional n
26/85, readmiti-lo ou reformá-lo, a seu critério, com efeitos financeiros a partir da
referida Emenda, e ao pagamento de honorários advocatícios de 5% (cinco por
cento) sobre o valor da condenação, além do reembolso de custas.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Acordam os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, em Sessão
Plenária, à unanimidade, acolher em parte os embargos, nos termos do Relatório e Voto do Sr.
Desembargador Federal Relator, constantes dos autos e que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.

Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1990.

PAULO BARATA ALBERTO NOGUEIRA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente da Sessão Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

RAIMUNDO NONATO DE ABREU propôs Ação Ordinária contra a UNIÃO


FEDERAL, alegando ter sido expulso do serviço da Marinha sob a alegação de ter participado
dos acontecimentos políticos ocorridos no Sindicato dos Metalúrgicos do antigo Estado da
Guanabara, nos dias 25 a 27 de março de 1964. Tendo recebido anistia por decisão transitada
em julgado do Juízo da 1. Auditoria da Marinha, em junho de 1980, requereu os benefícios
previstos no parágrafo primeiro, art. 1, da Lei n 6683/79, o que, entretanto, lhe foi negado,
por falta de amparo legal. Alegando que sua expulsão teve caráter exclusivamente político,
conforme faz prova, e mencionando doutrina e diversas normas legais, requer seja o Autor
declarado anistiado, e que se conceda a ele a percepção dos atrasados a partir da promulgação
da lei, com correção monetária, quinqüênios, contagem de tempo, férias, licença especial e
demais vantagens estatutárias, bem como a condenação da União no pagamento de honorários
advocatícios de 20%. Juntou documentos (fls. 09/26).
Contestou a União Federal, alegando preliminarmente a prescrição do direito
alegado; no mérito, que o Autor foi expulso por Ato Administrativo tendo em vista atos de
indisciplina, não lhe sendo aplicável, assim, o disposto na Lei n 6683/79. Juntou documentos
(fls. 34/83).
Na sentença, decidiu o MM. Juízo a quo que inocorreu a prescrição, por se tratar de
enquadramento na Lei n 6683/79; no mérito, que o autor foi expulso por ato de indisciplina,
conexo com crime político, não lhe sendo aplicável pois o disposto na Lei n 6683/79. Assim,
julgou improcedente a ação, condenando o autor nas custas e honorários de advogado de 15%
do valor da causa corrigido monetariamente.
Apelou o Autor, alegando ter sido exclusivamente por motivo político a sua
expulsão, fazendo pois jus ao disposto na Lei n 6683/79.
Foram os autos remetidos ao E. TFR, onde foi dada vista à Subprocuradoria-Geral
da República, que se manifestou pelo improvimento do recurso (fls. 134/137). Julgada a
Apelação, a 1 Turma do E. TFR, por maioria, negou provimento ao recurso (fls. 155).
Interpôs o Apelante Embargos Infringentes à Apelação Cível, alegando que deve
acolher-se os fundamentos do voto vencido, transcrevendo ainda voto proferido pelo Ministro
Aldir Passarinho, no MS n 91.184, TP, 29.10.81.
Foi dada vista à Subprocuradoria-Geral da República, que se manifestou pelo
improvimento dos embargos (fls. 161/170).
Remetidos os autos a esta Corte, foram-me distribuídos.
É o Relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

Está assim redigido o voto (vencido) do Ministro CARLOS THIBAU:


" O EXM SR. MINISTRO CARLOS THIBAU (RELATOR) :
O apelante, como dezenas de outros marinheiros e graduados, foi expulso
das fileiras da Marinha porque participou dos acontecimentos dos dias 25,
26 e 27 de março de 1964, na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros
Navais do Brasil e no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro , fatos
esses que já são do completo conhecimento dos Srs. Ministros,
dispensando outros comentários.

Essa expulsão não se baseou em Atos Institucionais ou complementares e


sim no Estatuto dos Militares então vigente (Decreto-lei n 9.698/46, art.
91) e no Regulamento para o Corpo do Pessoal Subalterno da Armada (art.
109, parágrafo 2), porque o apelante e seus colegas, no entender da
Administrtação Naval, praticaram apenas atos de indisciplina.
Por isso é que ao apelante e demais interessados foi negado pelo Exm Sr.
Ministro da Marinha o pedido de retorno ao serviço ativo, formulado com
base no art. 3, da Lei n 6.683/79, a chamada "Lei da Anistia".
A mesma sorte mereceram o pedido de reconsideração, endereçado à
mesma autoridade, e o recurso ao Exm Sr. Presidente da República, já
agora transmudados em pedidos declaratórios de anistia e de
transferência para a reserva remunerada, formulados com base no art. 4, da
Lei n 6.683/79.
Embora fale o apelante, neste processo, em reintegração, o que
daria margem a dúvida sobre se deseja a reversão ou retorno ao
serviço ativo, o certo é que o seu objetivo é transferir-se para a
reserva remunerada, ou reformar-se, tanto que fez expressa
menção, no pedido, ao art. 4 da Lei n 6.683/79.
A situação deste apelante, como visto, é idêntica à daqueles tantos
outros expulsos disciplinarmente da Marinha, porque
participaram das ocorrências de março de 1964. Ele, como outros,
foi processado criminalmente na Justiça Militar pelos mesmos
fatos, assim examinados pelo MM. Juiz Auditor à luz da Lei da
Anistia:
"A certeza de que o crime a que responderam os acusados no
presente processo, enquadra-se na posição de crimes conexos a
crimes políticos, como exige a Lei n 6.683, de 1979, está na
próxima denúncia, de fls. 2 a 10, quando, às fls. 9, relatando os
acontecimentos de então, afirma:
"em data de 25 de março de 1964, os denunciados
compareceram a uma reunião promovida pela
Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do
Brasil, que fora tida como ilegal pelas autoridades
militares da Marinha de Guerra, pelo conjunto e
repetição de ações nitidamente subversivas da ordem e
da disciplina. A reunião tinha como pretexto a
comemoração festiva do segundo aniversário da
entidade. No curso da mesma, elementos a ela
pertencentes, principalmente de sua diretoria e civis
destacados do plano de agitação comuno-sindical,
desvirtuaram o andamento dos trabalhos e
transformaram a assembléia em uma reunião de apoio à
diretoria, cuja prisão disciplinar estava iminente".
Na mesma peça, ao relatar a conduta de vinte e seis outros
acusados às fls. 2 a 3, acha-se consignado:
"os denunciados acima arrolados eram integrantes de
uma tropa em formação, que se deslocou para reprimir o
motim em curso no Sindicato dos Metalúrgicos do
Estado da Guanabara, envolvendo em sua prática a
elementos integrantes da Marinha de Guerra e do
Corpo de Fuzileiros Navais. Ao chegarem ao local da
operação, os denunciados debandaram da tropa,
abandonaram armas e munições no chão e ingressaram
na sede daquela entidade, aderindo ao motim que ali se
processava".
A assembléia realizada no Sindicato dos Metalúrgicos teve cunho
político.
Foi ela, com toda a certeza, uma das causas próximas do
desencadeamento da redentora Revolução de 1964, que retornou
o País ao clima de ordem que todos nós almejamos.
Como se vê o pedido dos suplicantes ajusta-se à situação prevista
no art. 1 e seu parágrafo 1 da Lei 6.683/79.
O crime praticado pelos requerentes e co-réus não se encontra
entre aqueles mencionados no parágrafo 2, do art. 1, da Lei
6.683/79, impeditivas da concessão da anistia." (fls. 13/14).
Por esses motivos é que foi, pelo ilustre magistrado castrense, declarada
extinta a punibilidade do apelante e seus colegas.
Tem, pois, o apelante direito à anistia da Lei n 6.683/79, uma vez
estabelecido, como se estabelece, que os atos de indisciplina de que
participou tem motivação política, ao contrário do que sustenta a União
Federal. Essa questão, aliás, já foi objeto de reiteradas decisões de nosso E.
Plenário, em mandados de segurança em que muito se discutiu a respeito,
prevalecendo o entendimento a que me filio.
E não se alegue, como o fez o MM. Juiz Federal a quo, em sua sentença,
que o apelante não teria direito à inatividade militar, por não ter
estabilidade adquirida, podendo eventualmente ser apenas reengajado no
serviço ativo e licenciado de acordo com o Estatuto dos Militares, após o
cumprimento do prazo de serviço Militar (fls. 117).
O art. 4 da Lei n 6.683/79 é expresso ao estipular que:
"Art. 4. Os servidores que, no prazo fixado no art. 2, não
requereram o retorno ou a reversão à atividade ou tiverem seu
pedido indeferido, serão considerados aposentados, transferidos
para a reserva ou reformados, contando-se o tempo de
afastamento do serviço ativo para efeito de cálculo de proventos
da inatividade ou da pensão".
Essa contagem de tempo de serviço ficto é feita segundo o que dispõe o art.
21, parágrafo 1, II, do Decreto n 84.143/79, que regulamentou a Lei da
Anistia, de modo que deve ser considerado o período que vai da data do ato
de afastamento ao do despacho de indeferimento, no caso do apelante, que
é de 29.02.80, muito embora esse despacho não tivesse sido propriamente
de indeferimento e sim de não conhecimento do pedido, porque o apelante
não seria destinatário da Lei da Anistia (fl. 44).
O Estatuto dos Militares então em vigor era a Lei n 5.774/71, cujas
exigências de tempo de serviço mínimo ou idade-limite, para a
transferência para a reserva remunerada, não podem ser consideradas face
ao comando do art. 4 da Lei da Anistia.
Como o apelante foi incorporado em 14.07.58, expulso em 30.09.64 (fls.
50) e obstado de reverter ao serviço ativo em 29.02.80, tem, pois, quase 22
anos para efeito do cálculo de seus proventos, vez que a Administração não
o quer de volta, em atividade, faculdade que lhe foi conferida pela própria
Lei da Anistia.
Ante o exposto, dou provimento à apelação para julgar procedente a ação,
nos termos do pedido.
É como voto."

O Ministro COSTA LEITE assim se pronunciou, no voto condutor:


"O SR. MINISTRO COSTA LEITE: - Sr. Presidente, lamento divergir do
eminente Relator, mas persisto no entendimento, placitado, aliás, pelo
colendo Supremo Tribunal Federal, de que somente os punidos por atos
institucionais ou por atos institucionais ou complementares são
destinatários dos favores da Lei n 6.683/79.
Nego provimento à apelação, data venia".
Segui-o Ministro DIAS TRINDADE:
"O SR. MINISTRO DIAS TRINDADE: Sr. Presidente, acompanho o
Ministro Costa Leite, negando provimento à apelação. Assim tenho votado
no Plenário."
Com a devida vênia, parece-me mais acertada a posição do Ministro CARLOS
THIBAU.
Recentemente, na Segunda Turma, assim me manifestei, no julgamento da Apelação Cível n
89.02.00931-9 versando sobre matéria idêntica:
"O Autor respondeu a IPM instaurado para apurar as ocorrências havidas
na reunião do dia 26 de março de 1964 no Sindicato dos Metalúrgicos, no
Rio de Janeiro.
Prova-o sua folha de alterações, fornecida pela Marinha de Guerra (fls. 52).
Foi licenciado "ex officio" de acordo com o Ato n 424, de 30 de novembro
de 1964, do DGPM, publicado no Boletim do MM. n 50, de 11 de
dezembro de 1964, e com suporte no despacho presidencial que autorizou o
Senhor Ministro da Marinha a fazê-lo, em relação a todas as praças não
atingidas pelas medidas de expulsão, mas que, de alguma forma, se tenham
envolvido nos acontecimentos dos dias 25, 26 e 27 de março de 1964 (fls.
38/39).
O licenciamento não se deu com base em atos institucionais ou
complementares, mas na legislação ordinária.
A motivação do ato, todavia, inquestionavelmente foi política, como se
infere dos elementos acima referidos.
A Lei n 6.683/79 se reporta apenas a punições por atos institucionais ou
complementares.
Contudo, a Emenda Constitucional n 26, de 27 de novembro de 1985, em
seu artigo 4, concede "anistia a todos os servidores públicos civis da
Administração direta e indireta e militares, punidos por atos de exceção,
institucionais ou complementares".
Como se vê, a anistia concedida pela EC 26/85 foi mais ampla, ao inserir a
expressão "atos de exceção".
Mais abrangente ainda foi a anistia concedida pelo art. 8 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, porquanto menciona, além dos
atos de exceção, institucionais e complementares, os que tenham sido
atingidos por "motivação exclusivamente política".
A motivação do ato de licenciamento do Autor, sem dúvida, foi política,
como ressuma dos documentos já analisados em tópico anterior.
Em hipótese semelhante, assim examinei essa motivação, no julgamento da
ação ajuizada por RAYMUNDO CARDOSO DE GÓES (Proc. n
4130952).
"A preliminar de prescrição envolve necessariamente o exame de
mérito da causa, na medida em que o Autor pretende ter sido
punido por ato político e, em decorrência, beneficiado pela anistia
concedida pela Lei n 6.683, de 28 de agosto de 1979.

Confirmada a premissa, o fluxo prescricional somente teria seu


termo inicial a partir da vigência da referida Lei, segundo o
princípio da actio nata.
É o que passo a analisar, à vista do material probante constante
dos autos.
Que o Autor "foi licenciado por motivos disciplinares" é fato
incontroverso, confirmado pela própria Ré no ofício de fls. 82.
Segundo o mesmo expediente, sua exclusão das fileiras da
Armada não decorreu do processo administrativo, mas de ato
simplesmente publicado.
Nas palavras da Ré: "A publicação do Ato per si justifica as
providências para o desligamento do militar do Serviço Ativo"
(fls. 82).
Dúvida inexiste quanto à causa de licenciamento do Autor:
punição por ter se envolvido nos acontecimentos dos dias 25, 26 e
27 de março de 1964 (cf. Exposição de motivos n 138, de 21 de
agosto de 1964, fls. 16).
No despacho proferido pelo Senhor Ministro da Marinha ao
indeferir o requerimento de fls. 33, lê-se: "o requerente não foi
punido com fundamento em Atos Institucionais e
Complementares".
Sendo o Autor, então, praça estável, não poderia ser punido com o
licenciamento ex-officio, ou expulsão, sem prévia defesa, ainda
que sumária.
Mesmo sob a égide do Ato Institucional n 1, de 9 de abril de
1964, havia necessidade, para tanto, de pelo menos "investigação
sumária" (art. 7, parágrafo 1).
Por isso mesmo é que o Senhor Ministro da Marinha solicitou
autorização à Presidência da República (E.M. n 138/64) para
licenciar o Autor e outros estabilitários (fls. 16).
Preterido restou, contudo, o direito de defesa, assegurado pela
Constituição em vigor à época dos fatos, pois sequer se
instaurou processo administrativo para o apenamento do militar.
Descabe, entretanto, apreciar os motivos e conveniência do ato
expulsório, em face da demonstrada motivação política da
punição, ut art. 19, I, do Ato Institucional n 2, de 27 de outubro
de 1965.
Corolário desse enquadramento jurídico, insta aplicar o benefício
da anistia, como previsto na Lei n 6.683, de 28 de agosto de
1979, na amplitude de seu art. 1, pois o Autor sofreu punição
respaldada em ato político, consubstanciado na autorização
conferida pelo Senhor Presidente da República ante os termos da
mencionada Exposição de Motivos n 138/64 (fls. 11).
O ato n 424, de 30 de novembro de 1964, limitou-se a dar
execução ao procedimento punitivo iniciado com a E.M. n
138/64 e autorização presidencial.
Não se trata, como visto, de simples ato administrativo, mas de
punição política, motivada exclusivamente em razão de ter o
Autor tomado parte em uma assembléia de metalúrgicos.

A teor do art. 3 da Lei n 6.683/79 o Autor tem direito a retornar


às fileiras da Armada, na mesma graduação ou, não havendo
interesse da Administração em recebê-lo de volta, ser reformado,
isso a partir de 25 de fevereiro de 1980, data do indeferimento de
seu pedido administrativo (fls. 33).
Dessa data em diante é que se iniciou a fluência do lapso
prescricional."
Demonstrada a natureza exclusivamente política do ato de licenciamento,
em face de sua motivação, resta superada a questão prescricional, uma vez
que o Autor requereu o benefício da anistia em 09 de novembro de 1979,
com base na Lei n 6.683, de 25 de agosto desse ano (fls. 36), tendo sido o
pleito indeferido em 02 de maio de 1980 (fls. 45).
A ação foi distribuída no dia 07 de janeiro de 1982, não tendo se
consumado, portanto, a prescrição qüinqüenal.
Afora essa circunstância, sobrevieram as segunda e terceira anistias, mais
amplas, com o advento da Emenda Constitucional n 26, de 27 de
novembro de 1985, e art. 8 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Carta de 1988.
No tocante à reintegração militar, não foi objeto de impugnação expressa,
pela Ré, talvez por confiar, exageradamente, na tese da dispensa do
licenciamento com base na lei ordinária.
Sentenciando, quando na primeira instância, na ação ordinária intentada
por GERALDO LUIZ DE PAULA MUSSI (Processo n 9267832), assim
analisei o tema da reversão;
"Para melhor compreensão metodológica da sentença, apreciarei primeiro a
questão específica da reversão ao serviço ativo, deixando o restante do
pedido, conseqüente daquela, para o final.
O cerne da controvérsia consiste em saber se a Ré, a seu líbito, tem o
direito de conceder, ou não, a desejada reversão do Autor ao serviço ativo
do Exército.
À luz da Lei n 6.680, de 9 de dezembro de 1980, e sem levar em conta a
regulamentação contida no Decreto n 84.143, de 31 de outubro de 1979, a
resposta seria afirmativa.
A anistia, naquela quadratura, não foi concedida em termos amplos, gerais
e irrestritos, consoante notório reclamo de expressivo segmento da
sociedade.
Transcrevo, para melhor ilustração, tópico da Emenda n 8
(SUBSTITUTIVO), apresentada ao Projeto de Lei enviado ao Congresso
Nacional pelo Poder Executivo, em 10 de agosto de 1979, subscrita pelo
Deputado J.G. de Araújo Jorge e outros 18 parlamentares:
"A proposta governamental, portanto, pretende submeter as
decisões a critérios pessoais e à influência inevitável dos que
durante mais de quinze anos governam discricionariamente o
País, a velhos ressentimentos, em muitos casos às pressões
insidiosas dos torturadores que sobrevivem em liberdade.
Nada de requerimentos e comissões especiais. Anistiado, passada
a esponja nos chamados delitos políticos, o servidor, o militar, o
empregado, o trabalhador, o professor, o estudante retornarão
automaticamente às suas funções, independente de quaisquer
formalidades.

Observe-se o que é mais grave e suspeito: segundo a mensagem


do Governo "os requerimentos serão processados e instruídos por
comissões especialmente designadas pela autoridade a qual caiba
apreciá-los, (art. 3, parágrafo 1) e no prazo de 180 dias (art. 3,
parágrafo 2)".
Além do mais a reversão e o retorno ainda são condicionados à
existência de vagas e ao interesse da administração.
Como se acreditar numa anistia dessa? Com tais comissões, tais
requerimentos, com esses critérios suspeitos e ilegítimos? Quem
dirá que a autoridade que vai decidir, em muitos casos, não será
exatamente aquela que deveria estar sendo julgada?
O atual Presidente da República, que jurou encaminhar o País
para a paz e a democracia conheceu o problema dentro da sua
própria casa, já que seu pai, o então Coronel Euclides Figueiredo,
foi vítima de projeto como esse que o Governo agora patrocina.
Era, então, um militar que lutou na Revolução Contitucionalista
de 1932, e ingressando na política afirmou certa vez, como
deputado federal, em pronunciamento na tribuna parlamentar:
"Anistia ou é completa, total ou não existirá. Tudo quanto possa
restringi-la lembra crime, é penalidade".
Esperamos, agora, que reformulado o projeto de anistia, mereça
aprovação do Congresso Nacional o presente substitutivo e
acolhida do Sr. Presidente da República, que há de se manter fiel
à inspiração paterna.
Sala das Comissões, em 10 de agosto de 1979. - Deputados: J.G
de Araújo Jorge - Sérgio Murilo - Murilo Mendes - José Maurício
- Magnus Guimarães - Hildérico de Oliveira - Getúlio Dias -
Genival Tourinho - Olivir Gabardo - Benedito Marcílio - Harry
Sauer - José Frejat - Edson Khair - Modesto da Silveira - Antonio
Morais - Walter Guimarães - Arnaldo Lafayette - Celso Peçanha -
Aluízio Paraguaçu ".
Daí o texto da Lei n 6.683, de 28 de agosto de 1979 que, em seu
art. 3, condiciona o retorno ou a reversão à existência de vaga e
ao interesse da Administração.
Como visto, a anistia foi restrita, contrariando longa tradição de nosso
direito político.
Sobreveio, contudo, a Emenda Constitucional n 26, de 27 de novembro de
1985, novamente dispondo sobre a anistia e, dessa feita, em maior
amplitude, concedendo aos "servidores civis e militares" as "promoções, na
aposentadoria ou na reserva, ao cargo, posto ou graduação a que teriam
direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de
permanência em atividade, previstos nas leis e regulamentos vigentes" (art.
4, parágrafo 3).
Como a anterior, no ponto condicionou a readmissão ou a reversão do
servidor público anistiado "à exclusiva iniciativa, competência e critério"
da "Administração Pública" (art. 4, parágrafo 4).
O texto do parágrafo 4, acima, usa da expressão: "poderá readmitir ou
reverter", referindo-se ao anistiado.
Não se trata, todavia, de mera faculdade.

O parágrafo 8 do mesmo artigo completa o sentido daquela regra, ao


dispor que "A Administração Pública aplicará as disposições deste artigo,
respeitadas as características e peculiaridades próprias das carreiras dos
servidores públicos civis e militares, e observados os respectivos regimes
jurídicos".
A chamada Administração Ativa, integrada ao Poder Executivo, em razão
de sua razão de ser e de suas finalidades institucionais, tem o dever de agir
em face dos comandos normativos.
As condicionantes da anistia prevista na Lei n 6.683/79 diferem das
estabelecidas na referida Emenda Constitucional n 26/85.
Na primeira, alude o legislador à existência de vaga e interesse da
Administração.
Na outra, à iniciativa, competência e critério da Administração, quanto à
readmissão ou reversão de servidor civil ou militar.
A distinção afigura-se relevante.
No sistema da Lei n 6.683/79, a atividade normativa-volitiva se
circunscreve ao fluídico conceito de "interesse".
A existência de vaga se constitui mero pressuposto objetivo.
Na Emenda Constitucional, já não se fala em "interesse", mas em
"critério".
O conceito de critério é de natureza objetiva.
Uma vez explicitado, passa a atuar objetivamente, à semelhança de uma
norma ou padrão.
Torna-se pressuposto.
O destinatário que se encontre na situação nele descrita há de ser
infalivelmente atingido.
Tal seu efeito de subsunção, em tudo idêntico ao da norma jurídica, em
contraste com o fato do mundo fenomenológico.
Houve, inquestionavelmente, essencial modificação no trato da matéria,
que evoluiu de seus páramos objetivos, vagos e indeterminados ("interesse
da Administração") para o plano objetivo das situações concretas.
Quem atender ao critério estabelecido pela Administração terá de ser
beneficiado pela anistia.
A objetivação, pelo aplicador da norma de conceitos indeterminados pode
ser compreendida no sentido exposto por KARL LARENZ:

"Mas, por outro lado, este acto de tomada de posição pessoal, ao


menos na medida em que se encontra reconhecimento no foro da
"consciência jurídica geral" e é seguido em julgamentos ulteriores
de casos futuros (actuando como paradigma), determina mais
pormenorizadamente o critério de valoração "indeterminado", não
apenas para esse caso, mas em geral, "objectivando-o" assim para
o futuro. "Por isso", como WIACKER nota acertadamente, "a
aplicação da cláusula geral, ou seja, cada decisão segundo o
parágrafo 242, coopera na criação do Direito que se está fazendo
e na do Direito futuro, como cada passagem da agulha do tecido".
HANS SCHIMA fala acertadamente de uma espécie de case law
"no sistema jurídico continental. Neste ponto manifesta-se
nitidamente de novo a fundamental dialética da aplicação do
Direito, posta em relevo no fim do capítulo anterior. Toma aqui a
forma de que o critério geral dado na lei só pode determinar a
partir de si decisão concreta na medida em que já é objectivável,
mas só pode, por sua vez, tornar-se objectivável através duma
série de decisões, cada uma das quais, dentro do âmbito da
margem de juízo ainda aberta em cada caso, tem o seu
fundamento último na consciência axiológica pessoal do julgador.
Considero portanto acertado quando JESCH vê uma diferença decisiva
entre a "discricionaridade do juízo" por parte do juiz (ou também do
funcionário administrativo na medida em que este deve apenas dizer o que
é "de direito") e a discricionaridade de actuação", que as leis concedem
numa larga extensão aos órgãos da administração, que se traduz em que a
decisão dentro da margem de juízo do juiz "tem eficácia interpretativa",
isto é, passa preencher o conceito também para casos futuros, ao passo que,
ao invés, a decisão dentro da margem de actuação não a tem. A razão por
que o legislador concede aos serviços administrativos uma "esfera de
discricionaridade", no sentido duma margem de actuação, é dever tomar-se
aqui, de acordo com a situação em causa, uma decisão não apenas por
considerações jurídicas, mas também por conveniência e "oportunidade". A
escolha do meio conveniente ou a combinação dos diversos meios devem
ficar confiados à autoridade da qual se espera uma iniciativa de
responsabilidade própria. Portanto, toda a actuação que ela decide dentro
do âmbito de sua discricionaridade é "conforme ao Direito", a não ser que a
autoridade vá ao ponto de "abusar" da sua discricionaridade. Ter feito num
caso determinado uso da sua discricionaridade não exclui que noutro caso,
apesar de semelhante, possa fazer outro uso, se entretanto modificou a sua
opinião sobre o que é conveniente em tal situação. Aliás, mesmo no âmbito
da sua discricionaridade de actuação não pode proceder "arbitrariamente",
mas tem de poder apoiar-se em razões materialmente relevantes"(in
Metodologia da Ciência do Direito, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2. ed., 1969, p. 330-1).
Qual o critério fixado pela Administração?
Não houve necessidade de estabelecê-lo.
Com o Decreto n 84.143, de 31 de outubro de 1979, a Administração já o
explicitara de forma precisa, atendendo à objetividade ínsita da Emenda
Constitucional n 26/85, lúcida antecipação à lógica e evolução dos fatos
políticos e legislativos.
Ei-lo formulado, no art. 17, parágrafo 1, desse Decreto:
"Parágrafo 1. No caso de militar, observar-se-á o seguinte:
1. no interesse da Administração, exigir-se-á que o
requerente atenda aos requisitos essenciais de aptidão
física, conceito profissional e moral, levando-se em
conta os registros anteriores à saída da Força, e não
tenha atingido as idades-limite ou tempo de permanência
no serviço ativo, previstas no artigo 102, itens I, II, III,
IV e V da Lei n 5.774, de 23-12-1971".
Por mera recepção esse conceito serviu para a aplicação da anistia
concedida pela citada Emenda n 26/85, não cabendo, aqui, como
pretendido pela Ré, a alegação de que o Decreto n 84.143/79, "na
condição de norma regulamentar, não pode extrapolar o mandamento
legal" (fls. 123, item 15).
O Decreto, como salientado, não exorbitou da lei.
Deu-lhe correta aplicação.

Se alguma dúvida houvesse, quanto à validade desse Decreto, estaria ela


superada com o advento da Emenda Constitucional n 26/85, a qual, como
salientado, determinou à Administração a adoção de um critério para a
readmissão ou reversão de servidores civis e militares.
Assim sendo, o pedido de reversão é de ser considerado exclusivamente à
luz dos pressupostos fixados pelo Decreto n 84.143, de 1979, pelo menos
em face da norma imperativa contida na Emenda Constitucional n 26/85.
Nessa perspectiva, induvidoso afigura-se o direito à reversão do Autor ao
serviço ativo do Exército.
Não questionou a Ré a existência de vaga e, quanto ao comportamento e
fé-de-ofício do Autor, anteriormente à sua cassação, por ato de
institucional exceção, a documentação oficial, constante da inicial,
comprova a satisfação dos requisitos fixados pelo art. 17, parágrafo 1, I,
do referido Decreto n 84.143, de 31 de outubro de 1979.
Os registros anteriores, portanto, relativos ao Autor, confirmam excelente
conceito profissional e moral, pressupondo-se ainda satisfatória a "aptidão
física".
Sobre esse último ponto, aliás não infirmado pela Ré, nunca é demais
observar que a qualquer momento o militar, constatada sua incapacidade
ou inaptidão física, será reformado.
Estará o Autor, de conseguinte, sujeito ao crivo da aptidão física, como os
demais militares, requisito indispensável e permanente para continuar nas
fileiras do Exército.
Assim sendo, faz jus o Autor a ser reintegrado à Marinha de Guerra, com
as vantagens postuladas na inicial, desde que revele aptidão física, como
qualquer militar em serviço, ou, em caso contrário, à reforma, com os
mesmos direitos, retroagindo os efeitos financeiros, em qualquer hipótese,
a vigência da Emenda Constitucional n 26/85 (art. 4, parágrafo 5, in
fine).
Restrinjo-lhe a retroatividade à data posterior ao ajuizamento (07 de janeiro
de 1982) porque, em última análise, esta sentença também tomou como
fundamento de decidir a anistia concedida pela referida Emenda.
Parece-me eqüitativa - além de jurídica - a solução ora adotada.
É o meu voto. "
O recurso foi provido por unanimidade, com o beneplácito dos Desembargadores
Federais D'ANDRÉA FERREIRA e SILVÉRIO CABRAL, que me acompanharam.
O Plenário deste Egrégio Tribunal Regional Federal, em hipótese semelhante, pela
maioria de seus membros, sufragou idêntica orientação (Embargos Infringentes n
89.02.03868-8).
Assim sendo, e considerando os precedentes acima, acolho os Embargos para julgar
procedente o pedido, reduzindo a verba honorária, por excessiva, a 5% sobre o valor da
condenação, segundo o critério preconizado pelo parágrafo 4 do art. 20 do Código de
Processo Civil, já que não se configura, propriamente, um ilícito administrativo, a recusa do
benefício, na medida em que a Ré deu à espécie razoável interpretação.
É como voto.

Rio de Janeiro, 10 de maio de 1990.

ALBERTO NOGUEIRA
Desembargador Federal

________MANDADO DE
SEGURANÇA_______________________________

REGISTRO N 90.02.24495-9

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Alberto Nogueira


Impetrante: Banco Central do Brasil
Impetrado: Juízo Federal da 19 Vara- RJ
Lit. Passivo: Antonio Soares Filho

________EMENTA________________________________________________
__
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA
OBJETIVANDO A CONFERIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE
INSTRUMENTO. LIBERAÇÃO DE CRUZADOS NOVOS DETERMINADA
POR LIMINAR CONCEDIDA EM MEDIDA CAUTELAR INOMINADA
PREPARATÓRIA. ALEGADA OFENSA AO DISPOSTO NAS LEIS Ns 8.024/90
E 8.076/90, ESTA VEDANTE DA CONCESSÃO DE LIMINARES EM
DEMANDAS QUE VERSEM SOBRE MATÉRIAS REGULADAS POR
AQUELA. INCONSTITUCIONALIDADE.
1. A liminar faz parte da própria natureza das ações protetivas de direitos ameaçados
por lesão irreparável, as quais, dela despidas, sofrem mortal amputação, que as
tornam inócuas.
2. No sistema atual, a proteção judicial se tornou mais efetiva, porquanto impede que
a lei exclua da apreciação judicial não apenas lesão a direito, mas também ameaça a
direito (CF, art. 5, XXXV).
3. Não pode, portanto, o legislador impedir que o juiz, quando provocado por quem
se sinta lesado ou ameaçado de lesão, conceda o remédio necessário à proteção do
correspondente direito, mediante liminar.
4. Duplamente fere a Constituição o legislador ao converter em lei medida
provisória, como o fez, com as Leis ns 8.024/90 e 8.076/90, por permitir a invasão
de sua competência constitucional por parte do Poder Executivo e por acobertar
infrações à Carta Magna cometidas por esse Poder.
5. Diante da afronta daqueles Poderes, só resta ao cidadão o socorro do Judiciário,
que virá da pronta atuação dos magistrados para resguardo dos direitos e garantias
fundamentais previstos na Constituição, dentre os quais figura o de propriedade (art.
5, XXIV e XXV), que, como a vida e a liberdade, é inviolável (art. 5, caput).
6. Denegada a segurança, à unanimidade.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a 2 Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por unanimidade,
denegar a segurança, nos termos do Relatório e Voto do Sr. Desembargador Federal Relator,
constantes dos autos e que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 17 de abril de 1991 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL ALBERTO NOGUEIRA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente da Sessão Relator

________RELATÓRIO______________________________________

BANCO CENTRAL DO BRASIL, autarquia federal, impetra Mandado de


Segurança contra ato do MM. Juiz Federal da 19 Vara da Seção Judiciária deste Estado, que
liberou cruzados, a favor do litisconsorte passivo ANTONIO SOARES FILHO, portador de
AIDS, sendo os correspondentes cruzeiros depositados à ordem daquele Juízo para
levantamento de acordo com as comprovadas despesas de tratamento médico.
O writ é para conferir efeito suspensivo ao agravo interposto em face da referida
decisão judicial, invocando, como fundamento, a vedação contida no art. 1 da Lei n 8.076,
de 23 de agosto de 1990 e 8.024, de 12 de abril de 1990, por se cuidar, no caso, de medida
cautelar.
Requisitadas as informações e citado o litisconsorte (fls. 22, 24, e 25), encontram-se
às fls. 27/29, em defesa do ato impugnado, estando a contestação, às fls. 32/34, sustentando a
tríplice inconstitucionalidade da vedação legal à concessão de liminar por ferir a
independência dos poderes, excluir do Judiciário a apreciação a lesão de direito e
impropriedade instrumental de medidas provisórias para regular matéria processual.
Em circunstanciado parecer subscrito pela Dra. LINDORA MARIA ARAUJO, o
Ministério Público Federal opina pela denegação da segurança (fls. 38/40).
É o Relatório.
________VOTO_____________________________________________

Em inúmeras oportunidades, neste Tribunal, venho sustentando não apenas a


inconstitucionalidade de medidas provisórias ou de leis que vedem a concessão de liminares,
mas também o bloqueio de moeda, como sucedeu com o chamado "Plano Brasil Novo".
Em voto proferido no Agravo Regimental n 90.02.18285-6, julgado em Sessão
Plenária de 6 de dezembro de 1990, provido, assim me manifestei:
"Sr. Presidente, Eg. Tribunal, também me reporto a manifestação anterior,
mas pediria vênia para um pequeno acréscimo.

Além de todas as inconstitucionalidades aqui já apontadas e que da mesma


forma acompanhando o eminente DF. D'ANDRÉA FERREIRA,
considerada de maior relevância, que essas questões sejam bem
explicitadas, porque em última análise elas representam a posição, ora do
Tribunal como um todo, ora de parcela de seus eminentes membros. Na
verdade estamos nos deparando a essa altura com um novo entulho. Nem
nos livramos do entulho antigo e agora já estamos diante desse arrogante
plano qualificado de "BRASIL NOVO". Foram violentados os interesses
pessoais, patrimoniais e personalíssimos de uma forma tão violenta que não
se tem precedente no Estado Novo. Portanto é um entulho dos mais graves
e deve ser analisado dentro dessa gravidade. Não é uma questão de ênfase,
nem é uma questão política, é uma questão de afirmação de direito e
entendo com a devida vênia que é dever do magistrado dizer o direito e
deve fazê-lo na amplitude e na intensidade que o caso recomenda, o que
não significa que ele esteja com isso questionando a política de outros
poderes. O art. 174 da Constituição de 88 diz o seguinte:
"Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização,
incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor
público e indicativo para o setor privado.
Parágrafo 1 A lei estabelecerá as diretrizes e bases do
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o
qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais
de desenvolvimento.
Parágrafo 2 A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras
formas de associativismo.
Parágrafo 3 O Estado favorecerá a organização da atividade
garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio
ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros.
Parágrafo 4 As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior
terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e
lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas
onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o artigo
21, XXV, na forma da lei."
Portanto é da essência da Constituição atual que o planejamento
só cogente, e, para o próprio Estado, não tendo este autoridade
para interferir nos negócios privados. Com esse acréscimo Sr.
Presidente, Eg. Tribunal, eu peço vênia, para também nesse caso
dar provimento ao Agravo".
Em outro agravo (Processo n 90.02.20639-9), repeli com veemência a proibição de
o juiz conceder liminar, porque esta é a própria alma do mandado de segurança e de outras
ações protetivas de direitos ameaçados por lesão irreparável.
A liminar é parte integrante e faz parte da própria natureza do mandado de
segurança, que, dela despido, sofre mortal amputação, que o torna inócuo.
Diga-se o mesmo em relação às ações cautelares.
No sistema atual, a proteção judicial se tornou mais efetiva, porquanto impede que a
lei exclua da apreciação judicial não apenas lesão a direito mas também a ameaça a direito
(art. 5, XXXV).
Não pode, portanto, o legislador impedir que o juiz, quando provocado por quem se
sinta lesado ou ameaçado de lesão, conceda o remédio necessário à proteção do
correspondente direito, mediante liminar.
Se não pode o legislador fazê-lo, com maior razão o Presidente da República, que
não é legislador, por intermédio de madidas provisórias.
Duplamente fere a Constituição o legislador ao converter em lei medida provisória,
como o fez, com as leis ns 8.024/90 e 8.076/90, por permitir a invasão de sua competência
constitucional e por acobertar infrações à Carta Magna cometidas pelo Poder Executivo.
Diante da afronta daqueles Poderes, só resta ao cidadão o socorro do Judiciário, que
virá da pronta atuação dos magistrados para resguardo dos direitos e garantias fundamentais
previstos no art. 5 da Constituição de 1988.
Dentre tais direitos figura o de propriedade (art. 5, XXIV e XXV), que, como a vida
e a liberdade, é inviolável (Constituição, art. 5, caput).
Sem o devido processo legal, ninguém pode ser privado de seus bens (idem, art. 5,
LIV).

Ora, o bloqueio de dinheiro se consubstancia a modalidade mais violenta de


privação da propriedade, ferindo direito fundamental do cidadão.
Está correta, pois, a decisão da autoridade judicial impetrada, que, de resto, foi até
restritiva, em relação ao direito reclamado, já que não liberou, de pronto, o dinheiro
indevidamente retido em poder do ora Impetrante.
Acresce que, na hipótese dos autos, o dinheiro pertence a portador de AIDS, ficando
este não apenas às voltas com sua triste enfermidade, mas bloqueado em seus direitos
fundamentais com a privação de seus bens.
Esta Egrégia Segunda Turma já teve oportunidade de apreciar matéria semelhante.
Em suas lúcidas e bem lançadas informações, a autoridade impetrada faz referência
a um dos julgados desta Turma:
"No que concerne à Lei n 8.076/90 - em que se converteu a MP
n 198/90 - impeditiva, em tese, da concessão de liminar, é
preciso também ressaltar que existe precedente desse eg. Tribunal
de que, versando a medida provisória matéria de competência
exclusiva (ou privativa) do Congresso Nacional, ela é
inconstitucional, não se convalidando pela sua ulterior conversão
em lei (cf. AMS n 90.03.07433-6, 2 T., un., DJ 14/8/90, pág.
17.654)."
Não tem, portanto, o menor cabimento a pretensão do Impetrante.
Assim sendo, denego a segurança.
Sem honorários, a teor da Súmula n 512 do Supremo Tribunal Federal.
É como voto.
Rio de Janeiro, 17 de abril de 1991

ALBERTO NOGUEIRA
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
CLÉLIO ERTHAL
Natural de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro, aí realizou os cursos Primário e Ginasial, no
Colégio Euclides da Cunha. Em Niterói, cursou o Científico no Colégio Bittencourt Silva, e a
Faculdade de Direito, bacharelando-se em 1957.
Recém formado, iniciou sua vida pública como vereador, em Itaocara, RJ, cumprindo
mandato legislativo de 1959 a 1962. Em seguida, foi eleito vice-prefeito do município para o
quatriênio de 1963/1966.
Em 1966, no exercício da Chefia do Departamento Jurídico do Instituto Fluminense de
Contabilidade, prestou concurso para o cargo de advogado do Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico (BNDE), classificando-se em 3 lugar. Nessa instituição,
exerceu os cargos de Assessor do Departamento Jurídico e Chefe da Divisão de Contratos,
dela se afastando em janeiro de 1973, para ocupar o Cargo de Procurador da República, em
Niterói, após concurso de âmbito nacional, no qual classificou-se em 4 lugar.
Como Procurador da República - cargo que exerceu até outubro de 1979 - representou o órgão
na Comissão Especial de Fiscalização de Entorpecentes e no Conselho Penitenciário, tendo
sido o último Chefe da Procuradoria da República no antigo Estado do Rio de Janeiro, extinta
com a fusão deste com o Estado da Guanabara.
Em outubro de 1979, ingressou na magistratura federal, mediante concurso patrocinado pelo
então Tribunal Federal de Recursos, no qual classificou-se em 5 lugar. Como juiz federal, foi
Diretor de Foro da Seção Judiciária do Rio de Janeiro por duas vezes: a primeira durante o
biênio de 1982-1983; e a segunda em 1989, quando foi nomeado para integrar o Tribunal
Regional Federal da 2 Região, recém-criado. Durante esse período, coordenou as obras de
construção do moderno edifício da Justiça Federal de 1 Instância no Rio de Janeiro (anexos I
e II na Avenida Rio Branco 241), e realizou as obras preparatórias para a instalação do
Tribunal, na rua Acre n 80.
Atualmente, integra a Primeira Turma, juntamente com os Desembargadores TANIA HEINE,
FREDERICO GUEIROS e CHALU BARBOSA, bem como o Conselho de Administração, ao
lado do Presidente do Tribunal, da Vice-Presidente Corregedora e dos Presidentes das
Turmas, além da Comissão do concurso para a escolha dos juízes federais substitutos, na
condição de suplente.

________APELAÇÃO
CÍVEL_________________________________________

REGISTRO N 89.02.10905-4/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Clélio Erthal


Apelante: Maria da Glória Mallet de Souza Aguiar Nina Ribeiro
Apelante: União Federal
Apelante: Emilio Antonio Souza Aguiar Nina Ribeiro
Apelados: Os mesmos

________EMENTA________________________________________________
__

ADMINISTRATIVO. TOMBAMENTO. ALEGAÇÃO DE IRREGULARIDADES


PROCEDIMENTAIS. INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE COMPENSAÇÃO.
- Se no processo civil, que é mais formal, o comparecimento do réu supre a falta de
citação (art. 214, paragráfo 1 do CPC), com mais razão no processo administrativo.
- O registro do tombamento se faz no Livro Tombo e não no registro de imóveis. A
ausência deste não constitui motivo de nulidade.
- O ato administrativo do tombamento não é uma agressão ao direito de propriedade,
mas uma limitação a esta imposta pelo Poder Público, com vistas à preservação de
interesses sociais relevantes.
- O Poder Judiciário não pode substituir-se à autoridade competente para dizer da
importância histórica ou artística de bens tombados.
- Ao apreciar pedido de anulação de tombamento, o juiz não pode substituí-lo pela
desapropriação, condenando a entidade pública a desapropriar o imóvel ou
condicionar a eficácia do ato à indenização reparatória do ônus.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos, e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
dar provimento ao recurso da União Federal e a remessa necessária, negando provimento ao
recurso dos autores, conforme Relatório e Voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1990 (data do julgamento).

TANIA HEINE CLÉLIO ERTHAL


Desembargadora Federal Desembargador Federal

________RELATÓRIO____________________________________________
__

Trata-se de recursos de ofício e voluntários contra a sentença proferida pelo Juiz da


14 Vara Federal do Rio de Janeiro, nos autos da Ação Ordinária proposta por MARIA DA
GLÓRIA MALLET DE SOUZA AGUIAR NINA RIBEIRO E OUTRO contra a UNIÃO
FEDERAL.

Na inicial, os Autores alegaram, em síntese, o seguinte:


1. Que, em 06.07.81, o 2 Autor recebeu intimação da Secretaria de Cultura
para tomar ciência do tombamento do imóvel sito na cidade de
Petropólis/RJ, na Rua Roberto Silveira, n 75.
Sucede que dita citação é ineficaz e, por conseqüência, nulo o tombamento,
de pleno direito, uma vez que se dirige ao Deputado Nina Ribeiro, que
nada tinha a ver com o referido imóvel, já que somente após o óbito de seu
tio, ocorrido em 06.10.81, é que passou a ser herdeiro da metade do
mesmo.
2. Que a primeira Autora também não foi citada em qualquer ocasião,
sendo ela a detentora da outra metade, portanto nulo e sem qualquer efeito
o passo inicial do aludido tombamento.
3. Que a casa, em si, não é marcada por nenhum fato histórico, como
reconheceu o SPHN; tem cerca de 60 anos e é de estilo normando
heterodoxo, nada tendo de clássico, ortodoxo, ou que mereça preservação
pelo Patrimônio Histórico.
Em conseqüência, ajuizaram a presente ação, objetivando:
1) a declaração de nulidade do tombamento;
2) a insubsistência do mesmo, que não pode se basear apenas no critério
de visão muito agradável;
3) o reconhecimento da inexistência dos requisitos essenciais ao
tombamento, inclusive no Registro de Imóveis;
4) a indenização de perdas e danos, em quantum a ser devidamente
apurado, tendo em vista a permissibilidade do local para construir prédios
de dez pavimentos ou uma proposta concreta para incorporar e construir,
além da condenação da Ré nas custas e honorários advocatícios e demais
cominações de lei.
Apreciando o pedido, a Dr MARIA HELENA CISNE CID julgou procedente em
parte a ação, para condenar a UNIÃO a, alternativamente:
1. restaurar o imóvel às suas expensas, cujas obras deverão ser inicidas no
prazo de seis meses, ou
2. dentro de igual prazo, iniciar o processo judicial de desapropriação. Não
tomadas quaisquer das providências no prazo ali estipulado, ficará
cancelado, ipso facto, o ato de tombamento(fls. 514/529).
Dessa sentença foram interpostos: a remessa de ofício e os recursos de fls. 531/557 e
562/564, devidamente contra-arrazoados às fls. 567/572 e 576/577, além do agravo retido de
fls. 376/378, interposto contra o saneador.
Remetidos os autos a este Tribunal, deles teve vista o Ministério Público Federal,
que opinou pelo não provimento da apelação dos Autores, face aos motivos de fato e de
direito expostos na manifestação de fls. 567/572.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O EXM SR. DESEMBARGADOR FEDERAL CLÉLIO ERTHAL (RELATOR):


Versa o presente recurso, como já relatado, sobre a legitimidade do tombamento do imóvel
situado na rua Roberto Silveira, n 75, em Petropólis.
Quando da propositura da ação, MARIA DA GLÓRIA MALLET DE SOUZA
AGUIAR NINA RIBEIRO e seu sobrinho EMÍLIO ANT<210>NIO SOUZA AGUIAR
NINA RIBEIRO alegaram, em síntese, o seguinte:
a) - que o tombamento é nulo, porque a Primeira Autora, viúva de Álvaro
Martinho Nina Ribeiro (antigo proprietário), não foi intimada para o
respectivo processo;
b) - que o Segundo Autor, que à época ainda não tinha nada a ver com o
imóvel, é que foi intimado, mas simplesmente como "Deputado Nina
Ribeiro", sem qualquer outra identificação pessoal;
c) - que o tombamento também se ressente de nulidade, por falta de outro
requisito essencial: a averbação no Registro de Imóveis;
d) - que o ato é ilegal, ainda, por falta de motivação, visto que não se pode
basear apenas no critério de "visão muito agradável";
e) - que o tombamento, no caso, só poderia se justificar mediante
indenização de perdas e danos, para compensar os prejuízos sofridos com a
impossibilidade de demolição do prédio para que outro se edifique, no
local, com maiores possibilidades de aproveitamento e comercialização.
Inicialmente, cumpre examinar o agravo retido, interposto contra a decisão de fls.
374 que rejeitou a nulidade da intimação no processo de tombamento. Alegam os Agravantes
que a falta de citação da primeira e a deficiente citação do segundo inquinam de nulidade
absoluta e insanável todo o procedimento administrativo, devendo por isso ser declarada a
ineficácia do ato.
Não obstante, verifico que ambos tiveram participação no processo, com
possibilidade de acompanhá-lo e oferecer a defesa que tivessem, sendo que o recurso do
Autor foi rejeitado pelo Conselho Consultivo. Se no processo civil, que é mais formalista, o
comparecimento do réu supre a falta de citação (artigo 214, parágrafo 1, do CPC), com mais
razão no procedimento administrativo, que é mais simples e não tem forma e nem figura de
juízo.
Quanto à falta de averbação do ato no Registro de Imóveis, constitui irregularidade
sanável e não nulidade, já que não se trata de direito real e sim de simples restrição
administrativa, que deve ser levada a registro apenas para efeitos erga omnes. Ao contrário
dos direitos reais, o tombamento não nasce com o registro, que no caso tem apenas efeito
publicitário, mas com o próprio ato administrativo que o declara, tal como a declaração de
utilidade pública para fins de desapropriação, formalizando-se com a simples inscrição no
Livro de Tombo.
Por tais razões, deixo de acolher o agravo retido, para confirmar a decisão
impugnada.
Quanto à apelação dos Autores, também não merece acolhida, pois o tombamento
não constitui agressão ao direito de propriedade, senão apenas uma limitação imposta pelo
Poder Público, no interesse social, particularmente no que tange à preservação da cultura
artística e histórica da comunidade.
É certo que a rua Roberto Silveira, em Petrópolis, já está desfigurada quanto à sua
fisionomia histórica, quase tomada por edifícios de apartamentos, assim como também é
verdade que a casa tombada encontra-se espremida contra dois desses edifícios. Mas,
consoante os órgãos encarregados da preservação artística e histórica do nosso patrimônio -
no que foram secundados pelo substancioso e bem fundamentado laudo da Perita - o prédio
em questão integra a paisagem urbana da Cidade Imperial. Não tanto pela sua riqueza
arquitetônica, já muito deteriorada pela ação do tempo e, sobretudo, pelo abandono em que se
encontra, mas pelo conjunto, que guarda sintonia com a formação histórica da urbs, e
sobretudo pelo "entorno" da construção.
Depois de salientar que o imóvel em questão, embora date do início deste século,
encontra-se no plano original da cidade e se caracteriza pelo estilo norte-europeu, com
telhados em ardósia fortemente inclinados e empena frontal emoldurada por redilhados de
madeira, tipo chalé, a Perita acrescenta:

"A atribuição do valor histórico ao imóvel em questão seguiu o conceito de


patrimônio histórico no seu sentido mais amplo - histórico-cultural e
etnográfico - e não a uma relação do mesmo com um fato ou personagem
memorável da história oficial do país como é comumente interpretada a
palavra "histórico". Tal abordagem pretende descrever através das
tipologias arquitetônicas, como é o caso, a cultura material de um
determinado grupo social numa determinada época, ou seja, um jeito e
gosto de "fazer arquitetura" dentro de um momento de nossa produção
cultural.
Incide ainda sobre o imóvel uma justificativa paisagística para seu
tombamento, por ser um exemplo da maneira de pensar e efetivamente
ocupar o espaço como imaginou e propôs Koeller, onde as obras de
engenharia do homem respeitavam a natureza e a ela se integravam."
Como se vê, não foi apenas por ter "vista muito agradável" que o imóvel foi
tombado; mas por integrar o patrimônio artístico, histórico e cultural de uma cidade que, por
si, constitui um patrimônio histórico do País. Ao Poder Judiciário, como se sabe, não é dada a
faculdade de substituir a autoridade competente na emissão de juízos de valor sobre os
motivos que ensejam os tombamentos. Os seus parâmetros são apenas os legais. Se no caso
vertente houvesse indício, ainda que leve, de desvio de finalidade ou abuso de poder, o juiz
poderia dele conhecer e declarar a nulidade do ato com base nesses vícios, porque ambos
dizem respeito à sua legalidade; mas não sob o fundamento de ser o mesmo desnecessário ou
inconveniente, por ser o prédio de pouco peso para a preservação histórica ou artística da
cidade. Trata-se, sem dúvida, de mérito administrativo, para cujo exame falta-lhe
competência.
Como no caso houve um procedimento administrativo, no qual os proprietários
tiveram oportunidade de se manifestar, e as autoridades da área própria proclamaram a
conveniência do tombamento, não vejo como acolher o recurso dos Autores para desconstituir
o ato ou condenar a UNIÃO FEDERAL a pagar-lhes perdas e danos, a título de indenização,
como se de ato ilícito se tratasse.
Nesse particular, portanto, a sentença não merece reforma. Está a merecê-la, todavia,
quanto à condenação que impôs à UNIÃO FEDERAL de restaurar o imóvel, às suas
expensas, ou de desapropriá-lo, no prazo de seis meses. Afinal, a conveniência e a
oportunidade da desapropriação são faculdades que se inserem no poder discricionário da
Administração, não podendo o Judiciário impor-lhe tal obrigatoriedade como condição para
exigir do proprietário a preservação de um bem considerado histórico e artisticamente
importante para a cultura nacional.
A prevalecer a tese sufragada pela sentença, para preservar cidades históricas como
Ouro Preto e Parati, o Governo teria que desapropriar todos os imóveis nelas existentes, como
único meio capaz de impedir que a sanha progressista ou a especulação imobiliária
destruíssem ou adulterassem o seu patrimônio arquitetônico. O que caracteriza o tombamento
é precisamente o fato de não importar em transferência de domínio, devendo o bem
permanecer com o particular, que fica obrigado a conservá-lo dentro dos padrões originais,
não podendo demolí-lo, alterá-lo ou repará-lo sem prévia autorização do IPHAN. A
desapropriação somente se justifica quando impede ou limita o uso do imóvel pelo
proprietário - o que, no caso, não ocorre.

A alternativa da condenação, isto é, a obrigatoriedade imposta à UNIÃO FEDERAL


de custear, ela própria, a recuperação do imóvel dos Autores, caso não prefira desapropriá-lo,
também não merece aplauso. Assim como o tombamento de ordinário é gratuito, não impondo
ao Poder Público nenhum dever de indenizar, salvo nos casos de desvalorização do imóvel ou
de cerceamento do direito de uso, da mesma forma não lhe impõe o dever de restaurar o bem
tombado ou conservá-lo com dinheiro público, exceto no caso de comprovada insuficiência
econômica do proprietário, na forma do artigo 19 e parágrafos do Decreto-Lei n 25/37. Mas,
tendo o proprietário recursos para restaurar e conservar o seu próprio bem, não deve a
UNIÃO ser condenada a fazê-lo, em detrimento de tantas obras prioritárias, sobretudo no
terreno social.
Assim, considerando que o tombamento é um instituto jurídico, com base
constitucional, e que, embora limite o direito de propriedade, não o agride; considerando que
por isso mesmo ele não acarreta para o Poder Público o dever de indenizar, salvo no caso de
restrição de uso e de desvalorização do bem tombado; considerando que o Poder Judiciário
não pode obrigar o Executivo a desapropriar imóvel cuja preservação seja de interesse da
comunidade; e considerando, por fim, que o custeio da restauração só é cabível no caso de
insuficiência econômica do proprietário - que no caso não restou provada.
Nego provimento ao recurso dos Autores e acolho a remessa de ofício e o recurso da
UNIÃO FEDERAL, para reformar a sentença quanto à sua condenação em restaurar o imóvel
ou desapropriá-lo no prazo de seis meses, julgando improcedente a ação in totum e
condenando os Autores nas custas e em honorários de advogado, que fixo em 10% sobre o
valor da causa.
É como voto.

CLÉLIO ERTHAL
Desembargador Federal

________ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE EM
AMS________

REGISTRO N 90.02.07522-7/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Clélio Erthal


Apelante: União Federal
Apelada: Sufer Equipamentos e Fundição S/A
Remetente: Juízo Federal da 7 Vara/RJ

________EMENTA________________________________________________
__
MEDIDA PROVISÓRIA N 22/88, CONVERTIDA NA LEI N 7.689/88.
CONSTITUCIONALIDADE.
- A Medida Provisória, desde que convertida em lei, pelo Congresso Nacional, é
instumento hábil para criar ou extinguir tributo;
- A instituição da contribuição social de que trata o art. 195 da Constituição Federal
independe de lei complementar, porque a norma constitucional definiu o fato
gerador, o sujeito passivo e a base de cálculo da exação;
- O fato de ter a contribuição social idêntico fato gerador e base de cálculo igual ao
do imposto de renda não viola o disposto no art. 154, I da Constituição;
- Foi observado o princípio da anterioridade, porque a Medida Provisória foi editada
em 06/12/88 e convertida em Lei em 15/12/88, incidindo sobre fato gerador
pendente e tornando-se operante após o interregno de 90 dias.
- Argüição de inconstitucionalidade rejeitada.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
em rejeitar a argüição de inconstitucionalidade e proclamar a constitucionalidade dos artigos
1 a 8 da Lei n 7.689/88, na forma do Voto do Relator, que fica fazendo parte do presente
julgado. Vencidos os Desembargadores Federais D'Andréa Ferreira e Frederico Gueiros, que
davam pela incostitucionalidade total da Lei n 7.689/88, no que tange à contribuição social.

Rio de Janeiro, 11 de abril de 1991 (data do julgamento).

PAULO FREITAS BARATA CLÉLIO ERTHAL


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

Trata-se de argüição de inconstitucionalidade da Medida Provisória n 22, de 6 de


dezembro de 1988 (convertida na Lei n 7.689/88), apresentada pelo Ministério Público
Federal, por ocasião do julgamento da Apelação em Mandado de Segurança interposta pela
UNIÃO FEDERAL contra sentença proferida pelo Juiz Federal da 7 Vara/RJ.
Quando da impetração da Segurança, SUFER EQUIPAMENTOS E FUNDIÇÃO
S/A arrolou os seguintes argumentos, afinal acolhidos pela sentença recorrida:
1. Que a Lei n 7.689, de 15/12/88, decorrente de conversão da
Medida Provisória n 22, ao instituir a contribuição social sobre o lucro das
pessoa jurídicas, objetivando o financiamento da seguridade social, violou
vários dispositivos da Constituição Federal de 1988.
2. Que, entre os dispositivos constitucionais feridos pela Lei em questão
incluem-se: os artigos 146, III, letra a, 150, I e III, letras a e b, 154, I e 195,
parágrafos 4 e 6.
3. Que, de acordo com o 1 dispositivo apontado (artigo 146, III, a),
somente a Lei Complementar pode definir os tributos, assim como seus
fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes, não podendo ser utilizada
para esse fim simples lei ordinária, e menos ainda Medida Provisória.
4. Que, segundo o outro dispositivo (artigo 150, I e III, letras a e b), a
União não pode instituir, nem aumentar tributo sem lei, bem como cobrá-lo
relativamente a fatos geradores ocorridos antes de sua vigência ou no curso
do exercício financeiro em que ela tenha sido publicada.
5. Que, consoante o terceiro dispositivo (art. 154, I), na criação de novo
imposto o Estado não pode utilizar fato gerador ou base de cálculo já
utilizados para outro tributo, como ocorreu na criação da contribuição de
seguridade social pela Lei n 7.689/88, que utilizou base de cálculo e fato
gerador já utilizados para o Imposto de Renda.
Suspenso o julgamento, na forma do artigo 167 do Regimento Interno deste
Tribunal, foi ouvida a Procuradoria da República, que se manifestou às fls. 90/92.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL CLÉLIO ERTHAL (RELATOR):


Segundo a Impetrante, (nesse particular secundada pelo Representante do Ministério
Público Federal com assento na Primeira Turma deste Tribunal) a Medida Provisória n 22, de
6 de dezembro de 1988, convertida na Lei n 7.689/88, é inconstitucional, pelos seguintes
motivos:
a) Primeiro - por ter tratado de matéria que só por Lei Complementar pode
ser disciplinada. Ao definir o fato gerador e a base de cálculo da
contribuição denominada de Seguridade Social, a Lei em questão teria
violado - segundo o Suscitante - o artigo 146, item III, letra a, da
Constituição Federal, que dispõe:
"Art. 146 - cabe a Lei Complementar:
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como em relação
aos impostos discriminados nesta Contribuição, a dos respectivos
fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes."

b) Segundo - por ter a referida Medida Provisória vulnerado os princípios


da legalidade e da anualidade, alcançando fatos geradores pretéritos,
relativamente ao ano de 1988, quando foi editada, violando assim o artigo
150, itens I e III da Carta Magna, que dispõem:
"Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
...................................................................................................
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei
que os instituiu ou aumentou."
c) Terceiro - por ter utilizado como fato gerador e base de cálculo os
mesmos já definidos em lei anterior para caracterização do imposto de
renda, quais sejam: o lucro apurado durante o ano-base e a disponibilidade
econômica da importância auferida, violando o disposto no artigo 154, item
I da Constituição, verbis:
"Art. 154 - A União Federal poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo
anterior, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato
gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta
Constituição."
d) Quarto - porque também violou o disposto no artigo 149 da Carta
Magna, que condicionou a instituição de contribuições, sejam de
intervenção no domínio econômico, seja de interesse das categorias
profissionais ou econônicas, à observância das regras contidas nos artigos
146, III e 150, I e III, já referidos, ou seja dos dispositivos que tratam da
necessidade de lei complementar para definir os tributos e seus elementos
básicos, assim como a anterioridade da lei.
e) Quinto - porque a Medida Provisória também violou o disposto nos
parágrafos 4 e 6 do art. 195 da Constituição, segundo os quais, ao instituir
a contribuição de Seguridade Social a União Federal deve observer os
seguintes princípios, que no caso foram olvidados:
"Parágrafo 4 - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a
garantir a manutenção ou expansão da Seguridade Social,
obedecido o disposto no artigo 154, I (Lei Complementar);
Parágrafo 5 - As contribuição sociais de que trata este artigo só
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da
publicação da lei que houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no artigo 150, III, b (anualidade)."
Alega-se, em suma, que a Medida Provisória n 22/88, convertida na Lei n 7.689/88,
é inconstitucional, porque:
a) - invadiu área privativa de Lei Complementar;
b) - não observou os princípios da legalidade e da anualidade, alcançando
fatos geradores ocorridos antes da sua vigência;
c) - utilizou base de cálculo e fato gerador próprios de outro tributo - no
caso, do imposto de renda; e
d) - não foi instituída fonte diversa para manter o novo tributo, nem
observado o prazo de 90 dias entre a publicação da lei e o início da sua
vigência.
Examinandos esses aspectos, verifico que as inconstitucionalidades apontadas
decorrem de uma interpretação, data venia, apresentada e pouco sistemática dos dispositivos
legais invocados. É certo que a contribuição de Seguridade Social, prevista no artigo 195 da
Constituição Federal, está sujeita a certos princípios de Direito Tributário, entre eles o da
legalidade e o da anterioridade, mas sem o rigor exigido para a criação e a cobrança dos
impostos, como veremos a seguir.
A primeira inconstitucionalidade apontada, ou seja, a não instituição da mesma por
Lei Complementar, carece de fundamento. De fato, o artigo 195 da Constituição Federal, ao
autorizar a instituição dessa figura parafiscal, não diz que ela deve ser criada por lei
complementar e sim "nos termos da lei" - o que induz a presunção de se tratar de lei ordinária
e não complementar. A única referência à Lei Complementar encontra-se no parágrafo 4, que
faz remissão ao artigo 154, I, referindo-se a outras fontes de suprimento ou manutenção, além
das previstas no caput, itens I, II, e III. Nesse caso sim: se houver necessidade de instituição
de outras fontes, além das contribuições dos empregadores, dos trabalhadores e dos concursos
de prognósticos, haverá necessidade de Lei Complementar, por força da remissão constante,
do parágrafo 4.
Ocorre que a Lei n 7.689/88, ao dispor sobre as fontes dos recursos destinados à
formação do fundo social não se referiu a outras fontes, ficando nos limites traçados pelo
caput do art. 195 da Constituição ao eleger, como fonte exclusiva, o lucro das pessoas
jurídicas (art. 1). Assim, dispensável se torna a utilização de Lei Complementar, bastando a
lei ordinária, tal como previsto no dispositivo constitucional referido.
Aliás, ao estabelecer o campo de aplicação da Lei Complementar em matéria
tributária, o artigo 146, III, a da Constituição Federal não lhe deu o elastério que normalmente
se pretende. Segundo esse dispositivo, a Lei Complementar é o instrumento próprio e
indispensável, para:
a) - estabelecer normas gerais em matéria tributária, bem como definir os
tributos e suas espécies;
b) definir os fatos geradores, as bases de cálculo e os contribuintes.
Para definir os tributos e suas espécies, assim como as normas gerais de direito
tributário, já temos uma Lei Complementar que é o CTN, não havendo necessidade de outras
para definir os princípios gerais de cada modalidade tributária. E para definir o fato gerador, a
base de cálculo e os contribuintes da Contribuição de Seguridade Social, não há necessidade
de Lei Complementar, porque a exigência é restrita ao caso de impostos e o próprio texto
constitucional já o faz.
Quanto à segunda inconstitucionalidade apontada, ou seja a inobservância do
princípio da legalidade, entendo que também carece de fundamento. É certo que o encargo
tributário não foi instituído por lei; mas a Medida Provisória que, tanto quanto a lei, tem
assento na Constituição - depois de aprovada pelo Congresso tem a mesma força e
legitimidade que ela. Dizer-se que a Medida Provisória não é norma adequada para instituir
ou aumentar tributos, parece-me, data venia uma posição hermenêutica pouco compatível
com a própria orientação adotada pela Constituição Federal, que conferiu ao Presidente da
República competência para baixar normas dessa espécie, sem delimitar o campo de sua
aplicação. As únicas restrições impostas pelo art. 62 da CF à edição da norma são a relevância
e a urgência, que se inserem na sua competência discricionária e não podem mais ser postas
em discussão depois de transformada em lei a medida.
Afasto, conseqüentemente, a argüição de inconstitucionalidade da contribuição de
Seguridade Social, por inobservância do princípio da legalidade.
Quanto à argüição de inconstitucionalidade por violação do artigo 154 da Carta
Magna, que proíbe a utilização da base de cálculo de outro imposto, também não merece
guarida, já que a proibição diz respeito a dois impostos e não a um imposto e a uma
contribuição. Aliás, se é a própria Constituição Federal que determina, no seu artigo 195, I,
que a Seguridade Social, no caso dos empregadores, incide sobre o lucro, não vejo como se
averbar de inconstitucional um dispositivo inserido no próprio corpo da Carta. É verdade que
o parágrafo 4 desse mesmo artigo fala na necessidade de se observar o disposto no art. 154, I,
que trata precisamente da impossibilidade de dupla utilização de fatos geradores e bases de
cálculo. Mas a aparente contradição tem de ser eliminada através de uma das três alternativas
seguintes:
a) - necessidade de alteração da legislação do imposto de renda para que
este tributo não tenha mais como base de cálculo o lucro, real, presumido
ou arbitrado das empresas, para não haver indentidade de base de cálculo
com a contribuição de Seguridade Social, já que esta é que tem a sua
definição na própria Constituição, e por isso deve prevalecer;
b) - interpretação restrita do dispositivo em questão, entendendo-se que a
impossibilidade de dupla utilização ali prevista é para duas contribuições
sociais, já que a proibição prevista no artigo 154, I, como já referido, é para
dois impostos;
c) - interpretação sistemática do caput do artigo 195 e do parágrafo 4, de
modo a compatibilizar a exceção neste prevista com a regra estampada
naquele. Vale dizer: caso a contribuição da Seguridade Social tenha por
fonte qualquer das indicadas no caput, inclusive o lucro, que também é
base de cálculo do Imposto de Renda, nenhum impedimento existe quanto
à dupla utilização, por se tratarem de tributos de natureza diversa. Mas se a
lei vier a instituir outras fontes de Suprimento, além das especificadas no
caput - e aí é que vem a exceção do parágrafo 4 - terá então de buscar
outro fato gerador ou outra base de cálculo, como recomenda o artigo 154,
I.
Resta examinar a argüição de inconstitucionalidade da Medida Provisória 22 - e
conseqüentemente da Lei n 7.689/88 - por inobservância dos princípios da anualidade e
anterioridade, relativamente aos fatos geradores. Quanto à anualidade, é a própria
Constituição que a dispensa, no caso da Contribuição de Seguridade Social, ao dispor, no
parágrafo 6 do artigo 195:
"As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas
após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver
instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III,
b" (isto é, o princípio de anualidade).
Trata-se, como se vê, de contribuição para-fiscal que pode ser exigida no próprio
exercício financeiro em que foi instituída, desde que observado o lapso de noventa dias. E
como o seu fato gerador, de acordo com a norma impugnada, é o lucro obtido pelas empresas
durante o exercício, nada impede que ela incida sobre os lucros apurados em 31 de dezembro
de 1988, tal como ocorre com o Imposto de Renda, mas com exigibilidade apenas a partir de
6 de março de 1990, face à necessidade de observância do prazo acima referido.
Sabe-se que o fato gerador do Imposto de Renda é complexivo e somente se
completa no último dia do ano. E assim, a lei que introduz alterações em sua sistemática até
essa data, embora só adquira eficácia no dia 1 de janeiro do exercício imediato, a ele se
aplica, ante o disposto no artigo 105 do Código Tributário Nacional, segundo o qual a
legislação tributária se aplica imediatamente não só aos fatos geradores pretéritos, como
também aos pendentes.
Considerando, pois, que o fato gerador da Contribuição de Seguridade Social é o
mesmo do Imposto de Renda, e que este pode ser exigido com base em lei publicada no final
do ano-base, isto é, enquanto não completado o fato gerador, nada impede, a meu ver, que a
referida contribuição também incida sobre o mesmo fato, desde que instituída antes de haver o
mesmo se completado, como realmente se deu com a Medida Provisória n 22, que foi editada
em 6 de dezembro de 1988. Pouco importa que a primeira opere efeitos a partir do primeiro
dia do exercício financeiro imediato, e a segunda a partir de 6 de março.

É certo que a Constituição Federal, em seu artigo 150, item III, letra a, veda a
cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei
que os houver instituído ou aumentado. Mas, como já referido, tanto a Medida Provisória n
22 como a Lei n 7.689, em que foi transformada, entraram em vigor ainda em dezembro de
1988, quando o fato gerador da Contribuição, ou seja o lucro das empresas no decorrer desse
mesmo ano, não havia se completado, estando ainda pendente. E nesse caso, podia ser
alcançado pela norma, tal como pela legislação referente ao Imposto de Renda, embora com a
sua eficácia postergada para 6 de março de 1989.
Por todas essas considerações, voto no sentido da rejeição da argüição de
inconstitucionalidade da Medida Provisória n 22, de 06/12/88 e da Lei n 7.689 de 15/12/88.

CLÉLIO ERTHAL
Desembargador Federal

________APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA


_______________

REGISTRO N 91.02.07503-2/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Clélio Erthal


Apelante: União Federal - Fazenda Nacional
Apelada: Casas Sendas Comércio e Indústria S/A

________EMENTA________________________________________________
__

TRIBUTÁRIO EXIGIBILIDADE ANTECIPADA DO ICMS. IMPORTAÇÃO


POSTERIOR AO CONVÊNIO ICM 66/88
- Por força do artigo 34, paragráfo 8 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, a institução e a cobrança do ICMS não são mais reguladas pelo DL
406/68, e sim por Covênio celebrado pelos Estados e o Distrito Federal, até que a
própria União o faça por Lei Complementar.
- Celebrado o Convênio em questão, e promulgada pelo Estado do Rio de Janeiro a
Lei n 1423 de 27.01.89, com base nele fixando como fato gerador do imposto o
recebimento, pelo importador, da mercadoria importada, assim considerando o
despacho aduaneiro, é nessa oportunidade que ele é devido, e não mais na entrada no
estabelecimento.
________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, dar provimento à apelação e à remessa de ofício necessária, na forma do
Relatório e do Voto constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente
julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 22 de maio de 1991 (data do julgamento).

TANIA HEINE CLÉLIO ERTHAL


Desembargadora Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

Trata-se de Apelação da sentença exarada nos autos do mandado de segurança


impetrado por CASAS SENDAS COMÉRCIO E INDÚSTRIA S/A contra ato do INSPETOR
CHEFE DA INSPETORIA DA RECEITA FEDERAL NO PORTO DO RIO DE JANEIRO,
que concedeu o writ para determinar a liberação de mercadoria importada através de guias
expedidas em 09.02.90 e 12.02.90, sem a comprovação do prévio recolhimento do ICMS
exigido por força da Instrução Normativa n 54/81, da Secretaria da Receita Federal.

Julgando o mandamus (fls. 36/38), a Dr. SALETE MARIA POLITA MACCALÓZ,


Juíza da 7 Vara Federal do Rio de Janeiro, concedeu a segurança, ratificando a liminar, para
que a impetrante tivesse liberadas as mercadorias importadas sem a comprovação do
recolhimentodo ICMS.
Dessa sentença recorreu a UNIÃO FEDERAL (fls. 41/46), alegando que em
decorrência da nova Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, os Estados
deram cumprimento ao disposto no parágrafo 8 do artigo 34 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, celebrando o Convênio ICM-66/88, com força de Lei
Complementar, inciso I do Art. 2.
Ouvido o Representante do Ministério Público Federal, manifestou-se às fls. 51/52,
no sentido da denegação da segurança.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL CLÉLIO ERTHAL (RELATOR) :


A questão ventilada no presente recurso versa, como já visto, sobre a legitimidade da
antecipação do fato gerador do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
incidente sobre mercadoria importada do Exterior. Durante a vigência da Constituição Federal
anterior, quando o referido tributo, ainda sob a antiga feição, não alcançava a prestação de
serviços e era regulado pelo Código Tributário nacional e depois pelo Decreto-Lei n 406, de
31 de dezembro de 1968, nunca se pôs em dúvida que o seu fato gerador, em tais
circunstâncias, era a entrada material da mercadoria no estabelecimento comercial, industrial
ou produtor, da empresa importadora.
É certo que agentes da Receita Federal tentaram cobrá-lo antecipadamente, como
requisito para desembaraço aduaneiro da mercadoria importada, com base na Instrução
Normativa da SRF n 54, de 24/07/81; mas a iterativa jurisprudência dos nossos Tribunais
jamais se conformou com tal orientação. O Supremo Tribunal Federal chegou a editar a
Súmula n 577, pondo uma pá de cal sobre o assunto, dispondo:
"Na importação de mercadorias do Exterior, o fato gerador do imposto de
circulação de mercadorias ocorre no momento de sua entrada no
estabelecimento do importador".
E nem poderia ser outra a orientação do Judiciário, pois havendo lei (inicialmente o
CTN e depois o Decreto-Lei n 406/68) dispondo nesse sentido não se concebia que a
Secretaria da Receita Federal, através de simples Instrução Normativa, dispusesse
contrariamente, antecipando para o despacho aduaneiro o fato gerador do tributo.
Ocorre que, com o advento de nova ordem constitucional, que ampliou o campo de
incidência do antigo ICM para alcançar também prestação de serviços, a própria Carta prevê a
sua reformulação através de Lei Complementar, que por certo derrogará toda a legislação
ordinária pertinente ao assunto. E enquanto tal Lei não for promulgada, compete às próprias
Unidades da Federação, através de convênio, baixar normas provisórias regulando a matéria,
conforme dispõe expressamente o artigo 34, parágrafo 8 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, verbis:
"Se no prazo de sessenta dias contados da promulgação da Constituição,
não for editada a lei complementar necessária à instituição do imposto que
trata o art. 155, I, b , os Estados e o Distrito Federal, mediante convênio
celebrado nos termos da Lei Complementar n 24, de 7 de janeiro de 1975,
fixarão normas para regular provisoriamente a matéria".

À vista desse dispositivo constitucional, outra tem que ser a orientação do aplicador
da lei. Afinal, foi o próprio legislador constituinte que afastou a aplicação do Decreto-Lei n
406/68, que vinha regulando o ICM, para cometer aos Estados competência legislativa, ainda
que provisória, para disciplinar a matéria.
Dir-se-ia que a Lei Complementar n 24/75, referida no texto constitucional acima
transcrito, só autorizou os Estados a celebrarem convênios para concessão de isenção, anistia,
remissão, transação, moratória, parcelamento de débitos fiscais e ampliação do prazo de
recolhimento do ICM, sem tocar no fato gerador. E é verdade. Mas, pela forma com que o
novo texto se apresenta, parece que a delegação concedida aos Estados e ao Distrito Federal
para regularem provisoriamente o imposto em sua nova feição, tem sentido mais amplo.
Inclusive para regular o ICMS em toda a sua complexidade, compreendendo a definição do
fato gerador, sujeição passiva, forma de recolhimento e os conhecidos casos de suspensão,
extinção e exclusão do crédito tributário.
Se fosse propósito do legislador limitar a delegação aos casos já tratados na Lei
Complementar n 24/75, não precisaria dizê-lo, sobretudo no contexto das Disposições
Contitucionais Transitórias, já que o diploma em questão, por si, atenderia, como de fato já
atende, a esse objetivo. Donde se conclui que, a partir da Constituição de 1988, segundo a
dicção do dispositivo transitório, os Estados podem, mediante convênio porteriormente
adotado por suas próprias leis, reformular provisoriamente toda a sistemática do antigo ICM,
inclusive quanto à materialidade do fato gerador e ao momento da exigibilidade do tributo.
Como os Estados já celebraram o Convênio previsto no artigo 8 do ADCT
(Convênio ICM 66/88), autorizando a exigibilidade antecipada do imposto, tenho, pois, como
legítima a disposição contida no artigo 2, inciso V, parágrafo 6 da Lei Estadual n 1423, de
27 de janeiro de 1989, promulgada com base no referido Convênio, segundo a qual
Art. 2 - O fato gerador do imposto ocorre:
..............................................................................................................
V - No recebimento pelo importador de mercadoria ou bem importado do
exterior.
.............................................................................................................
Paragráfo 6 - O despacho aduaneiro caracteriza o recebimento, pelo
importador, de mercadoria ou bem importados do exterior, na hipótese do
inciso V".
Assim, entendendo que até que seja editada a Lei Complementar que há de regular
definitivamente a matéria, o fato gerador não mais se corporifica com a entrada material da
mercadoria no estabelecimento do importador, mas com o recebimento dela por este, e que o
legislador pode considerar como recebimento o despacho aduaneiro que o autoriza, tenho na
conta de legítima a exigência da autoridade fiscal, no caso vertente, já que as guias de
importação datam de fevereiro de 1990, quando já vigente as normas acima referidas.
Pelo que, dou provimento à apelação para reformar a sentença impugnada.
É como voto.

CLÉLIO ERTHAL
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
ARNALDO ESTEVES LIMA
Filho de Odilon Esteves Lima e Maria Salvino Otoni, nasceu aos 7 de julho de 1944, em
Novo Cruzeiro, Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha-MG). Casado com Maria José Perpétuo
Lima, tem um filho, João Paulo.
Bacharelou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1972, ocasião em
que lhe foram conferidos os Prêmios Professores "RAFAEL MAGALHÃES" e "CÃNDIDO
NAVES", tendo se destacado como melhor da Turma em Direito Processual Civil.
Estagiando, durante um ano e oito meses, no Departamento de Assistência Jurídica, daquela
Faculdade, foi homenageado com o diploma de "Honra ao Mérito".
Em 1972, foi um dos representantes do corpo discente da Faculdade de Direito da U.F.M.G.,
em congresso sobre Direito do Trabalho e Previdência Social, realizado pela Faculdade de
Direito da U.F.R.N., em Natal/RN, oportunidade em que foi relator da tese: "O FGTS como
Direito Econômico".
Aprovado nos diversos concursos dos quais participou: 18 lugar, para o cargo de Inspetor do
Trabalho, do MTB (1975); 13 lugar, para Procurador Autárquico/Assistente Jurídico - DASP
-; 2 lugar, para Defensor Público do Ministério Público do D.F.T.; 18 lugar, para ingresso na
carreira do Ministério Público de São Paulo; 2 lugar, Juiz de Direito Substituto da Justiça do
Distrito Federal (1979); 4 lugar, para Procuradoria da República, do Ministério Público
Federal (1979); 9 lugar, no 1 concurso para Juiz Federal, realizado pelo eg. Conselho da
Justiça Federal (1979).
Optando pela Magistratura Federal, iniciou sua carreira na 2 Vara da Seção Judiciária do
Paraná, em 1979. No ano seguinte, requereu remoção para a Seção Judiciária de Minas
Gerais, sendo lotado na 1 Vara, assumindo, em 1984, a titularidade da 6 Vara.
Participou de inúmeros Congressos, Ciclos de Estudo, e Simpósios, sempre em busca do
aprimoramento profissional.
Dentre suas atividades docentes, lecionou: em Brasília, por indicação do CETREMEC/MEC,
em curso preparatório às provas visando a inclusão de servidores no novo Plano de
Classificação de Cargos (1975/76); na Faculdade de Direito da UDF, também em Brasília,
Teoria Geral do Processo (1 semestre de 1979); em Belo Horizonte, as cadeiras de Direito
Civil e Direito Processual Civil, na Faculdade de Direito Milton Campos (a partir de agosto
de 1981).
Prosseguindo na Magistratura Federal, foi nomeado, após indicação unânime dos Ministros do
então e eg. Tribunal Federal de Recursos, pelo Sr. Presidente da República, para compor o
Tribunal Regional Federal da 2 Região, empossando-se em março de 1989, vindo integrar a 3
Turma.
Eleito, em 11/04/1991, pelo Plenário, desta col. Corte, para presidir a Comissão de
Jurisprudência, e exercer a Direção da sua Revista de Jurisprudência, no biênio em curso.

________EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇÃO


CÍVEL_________

REGISTRO N 89.02.14237-0/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Arnaldo Lima


Embargante: Antonio Jose Prieto Lloret
Embargada: União Federal

________EMENTA________________________________________________
__

ADMINISTRATIVO: DIFERENÇAS PRETÉRITAS DE PROVENTOS.


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA.
I - As diferenças de estipêndios decorrentes de decisão judicial, devem ser pagas
corrigidamente, com aplicações sucessivas dos critérios fixados pela Súmula n
71-TFR e Lei n 6.899/81.
II - A natureza da correção monetária, que objetiva, apenas, restaurar o poder
aquisitivo da moeda, corroído pela inflação, aliada à característica de verdadeira
dívida de valor, por se tratar de crédito alimentar, qual seja, os vencimentos, estão a
impor a incidência da atualização, desde quando ocorreu a mora solvendi.
III - Jurisprudência específica deste Eg. Tribunal.
IV - Recurso de Embargos Infringentes conhecido e recebido, nos termos do voto
condutor.
________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide o Tribunal Regional Federal da 2 Região, em sessão Plenária, por maioria,
acolher os Embargos Infringentes, nos termos do voto do Relator. Vencidos os Des. Federais
VALMIR PEÇANHA e CLÉLIO ERTHAL.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 08 de novembro de 1990 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL ARNALDO LIMA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO______________________________________

ANTÔNIO JOSÉ PRIETO LLORET, às fls. 70/2, opôs Embargos Infringentes ao v.


acórdão de fl. 74, da lavra da DES. FED. TANIA HEINE, que, por unanimidade, deu
provimento ao Recurso, ficando vencida a il. Relatora, no que tange à aplicação da Súmula n
71 às parcelas anteriores ao ajuizamento da ação.

Sustentou o Embargante haver pleiteado a retificação de sua aposentadoria, desde a


data em que foi concedida, assegurando-se-lhe a percepção de proventos mensais
correspondentes ao vencimento do cargo de Secretário de Orçamento e Finanças, código
LT-DAS-101.3, e as diferenças dela decorrentes, devidamente corrigidas.
Aduziu que o v. acórdão embargado, unanimemente, deu provimento à Apelação por
ele interposta, e, por maioria, concedeu a correção monetária a partir do ajuizamento da ação,
ficando, assim, excluídas, as parcelas compreendidas entre a data de sua aposentadoria e o
mencionado ajuizamento.
Alegou que tendo os proventos de aposentadoria natureza alimentar, todas as
diferenças reconhecidas como devidas devem ser atualizadas, ainda que sob a forma
preconizada pela Súmula n 71-TFR.
Argumentou, a seguir, constituir a correção monetária "simples mecanismo de
atualização do valor nominal da moeda", sendo, pois, imperativa, formando, juntamente com
o débito primitivo, a expressão atual do principal original.
Pugnou, afinal, pelo provimento dos Embargos.
A Embargada, às fls. 78/9, apresentou sua impugnação, sustentando, em síntese, a
manutenção do v. acórdão.
Abstive-me, forte no art. 38, IX, do RI, de remeter os autos à ilustrada revisão, tendo
em vista a natureza predominantemente jurídica da matéria.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___
1. Conheço do recurso, porque presentes se fazem os seus requisitos de
admissibilidade.
2. O v. acórdão (fl. 74), parcialmente embargado, da lavra da il. DES. FED. TANIA
HEINE, contém a seguinte
"EMENTA
ADMINISTRATIVO - APOSENTADORIA - ART. 180 DA LEI N
1711/52.
I - Funcionário público que exerceu por mais de vinte anos funções
comissionadas, mesmo que não se encontrasse no exercício do cargo em
comissão da função gratificada ao se aposentar, faz jus ao disposto no art.
180, letra b da Lei n 1.711/52.
II - Direito a incorporação da gratificação de maior padrão
(LT-DAS-101.3), já que percebida por mais de dois anos (parágrafo 1 do
artigo 180 da Lei n 1.711/52).
III - Correção monetária calculada a partir da data do ajuizamento da ação,
na forma da Lei n 6.899/81.
IV - Recurso provido."
3. O dissenso que ensejou a interposição, forte no art. 530, do CPC, deste Recurso,
ocorreu apenas no tocante ao termo a quo de incidência da correção monetária. Para a
Relatora, dever-se-ia aplicar a orientação cristalizada na Súmula n 71, do então e Eg. TFR;
enquanto que, para os votos vencedores, no particular, a mesma deverá ser calculada "...a
partir da data do ajuizamento da ação, na forma da Lei n 6.899/81".
4. Há precedente específico, deste Eg. Plenário, a confortar a pretensão.
4.1 - Refiro-me, com efeito, ao v. acórdão que resultou do julgamento dos Emb. Inf.
em AC n 89.02.03878-5, relatado pelo em. Des. Fed. D'ANDRÉA FERREIRA, sendo
Embargante WELLINGTON MOREIRA PIMENTEL e Embargada a UFRJ, com a seguinte

"EMENTA
Liquidação de sentença de revisão de enquadramento de funcionário
autárquico. Apelação. Início da fluência da correção monetária a contar das
datas de pagamento, com erro, do estipêndio do Embargante, a partir
daquela revisão. Utilização, como índice, da variação do salário mínimo,
até o ajuizamento da ação; incidindo, desde então, o disposto na Lei n
6.899, de 8/04/81." (DJU-II, de 24/04/90, p. 7656).
4.2 - É certo que em tal caso houve ponderáveis votos vencidos. Aderi, na
oportunidade, com toda a venia, à corrente majoritária porque, efetivamente, tendo em vista a
natureza tipicamente alimentar dos vencimentos e, levando em conta, por outro lado, que a
correção monetária objetiva, tão-só, restaurar o poder aquisitivo da moeda, subtraído pela
inflação, não seria justo e nem jurídico deixar de aplicá-la em casos tais. A rigor, por sua
finalidade, que é proporcionar a subsistência do alimentando e sua família, tal verba tem
nítida conotação de dívida de valor, à qual a jurisprudência, muito antes do advento da Lei n
6.899/81, determinava a incidência da atualização monetária.
4.3 - A propósito, eis o seguinte e v. acórdão do Eg. STF (RE n 97.264-1/RJ, Rel.
Min. MOREIRA ALVES, 2 T.,unânime, in DJU de 03/09/82, pág. 8503), com a seguinte
"EMENTA: Correção monetária
Tendo o aresto recorrido concedido correção monetária com base na teoria
da dívida de valor, em conformidade com a jurisprudência do STF, não
aplicou ele retroativamente a Lei n 6.899-81 - Essa lei não veio impedir a
fluência da correção monetária nos casos em que, anteriormente, já era
admitida, mas, sim, estendê-la a hipóteses a que essa correção não se
aplicava - Dissídio de jurisprudência não demonstrado. Recurso
extraordinário não conhecido."
5. CONCLUSÃO
Por tais razões, recebo os Embargos para, com a devida venia, reformar, na parte
recorrida, o v. acórdão embargado, para que prevaleça, também no tocante à correção
monetária, o r. voto vencido, com sua incidência, sobre as diferenças atrasadas, na forma da
Súmula n 71-TFR, até a data do ajuizamento da ação, a partir daí, segundo critério
preconizado pela Lei 6.899/81 (fl. 63).
É o meu voto.

ARNALDO LIMA
Desembargador Federal

________REMESSA "EX
OFFICIO"___________________________________

REGISTRO N 90.02.21767-6/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Arnaldo Lima


Parte A: Adeir Polessa
Parte R: União Federal
Remetente: Juízo Federal da 30 Vara/RJ

________EMENTA________________________________________________
__

CONSTITUCIONAL - PRECATÓRIO: Direito à inobservância da ordem de sua


apresentação, quando se tratar de crédito alimentício - art. 100, da CF.
I - Embora não fixado o exato alcance da exceção contemplada no início de tal
preceito, relativamente aos créditos alimentares, a exegese mais convincente é no
sentido de não se sujeitarem os respectivos precatórios, à observância da ordem de
sua apresentação. Têm o direito constitucionalmente assegurado de "furar a fila" dos
requisitórios alusivos a créditos de outra natureza. Jurisprudência.
II - Remessa Oficial conhecida, e, em parte, provida, nos termos do voto condutor.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à unanimidade,
dar parcial provimento à Remessa Oficial, nos termos do voto do Relator, que foi
acompanhado pelos Exmos. Srs. Des. Federais VALMIR PEÇANHA e CELSO PASSOS.
Custas, como de lei.
Rio de Janeiro, 24 de abril de 1991 (data do julgamento).

NEY VALADARES ARNALDO LIMA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO______________________________________

Trata-se de Ação Ordinária ajuizada por ADEIR POLESSA contra a UNIÃO


FEDERAL, objetivando a anulação do ato que o desligou da Armada, sua conseqüente
reincorporação, sendo reformado no Posto ou Graduação que ocupava, com os proventos da
graduação imediatamente superior, a percepção de auxílio-invalidez, e das diferenças devidas,
com juros e correção monetária, a partir de 31/10/79, data de seu desligamento. Sustentou ter
sido admitido pela Marinha, em 02/02/70, quando foi considerado apto em inspeção de saúde
realizada. Aduziu que, em 1979, foi julgado definitivamente incapaz para o serviço ativo,
tendo contraído doença decorrente dos esforços físicos exigidos pela tarefa que executava,
que culminou com a cirurgia de extirpação de uma vértebra. Alegou que, em 31/10/79, foi
desincorporado, "sob o título de ISENÇÃO DO SERVIÇO MILITAR", em violação ao
disposto pela Lei n 5.774, de 23/12/71.
Anulada a sentença de fls. 64/6, pelo v. Acórdão de fl. 100, que determinou a
realização da perícia anteriormente requerida.
Pela r. sentença de fls. 177/80, o MM. Juiz Federal, "extinguindo o processo com
julgamento de mérito (CPC art. 269, inciso I)", julgou procedente o pedido para reincorporar
o Autor na Marinha de Guerra, decretando sua reforma, com os proventos calculados com
base no soldo de 3 Sargento, a partir de 31/10/79. Condenou a Ré a pagar ao mesmo as
parcelas atrasadas, a contar daquela data, com juros e correção monetária. Por fim,
entendendo tratar-se de dívida de natureza alimentar, determinou que o pagamento se desse
mediante depósito judicial, e não por precatório, submetendo o decisum ao reexame
obrigatório.
O prazo para interposição de recurso voluntário decorreu in albis.
Encaminhados os autos a este Tribunal, a douta Procuradoria da República exarou o
Parecer de fls. 185/86, opinando, conclusivamente, pela parcial reforma da sentença, "para
anular a exclusão do precatório no que respeita a execução do Julgado".
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

1. Conheço da Remessa ex oficcio, porque imperativa, na espécie --CPC, 475, II c.c.


art. 1, da Lei 6.825/80--.
2. Na questão nuclear, merece total confirmação a r. sentença da lavra do il. Juiz
Federal, DR. ALFREDO FRANÇA NETO, que dirimiu a questão à luz do quadro fático
retratado nos autos.
3. Em seu Parecer, o il. Procurador da República que oficia perante esta Turma,
propugna, no entanto, pela reforma do decisum no seguinte tópico: "Por se tratar de dívida de
natureza alimentícia, excluo a execução de quantia certa contra a Fazenda Pública do regime
dos precatórios judiciais (CF, art. 100) e determino-a mediante guia de depósito judicial".
4. Pelo Decreto n 91.450, de 18/07/85, o então Sr. Presidente da República houve
por bem em instituir a "Comissão Provisória de Estudos Constitucionais", cuja Presidência foi
confiada ao ilustre e saudoso Prof. AFONSO ARINOS. Tendo em vista os consideranda de tal
decreto que exortava aos brasileiros em geral a colaborar com os "...trabalhos da Assembléia
Nacional Constituinte...", não só como cidadão, mas, por sentir, como Magistrado, as
dificuldades que resultavam do art. 117, da CF/67, escrevi pequeno trabalho sob o título "O
ANGUSTIANTE PROBLEMA DOS PRECATÓRIOS", o qual encaminhei, como sugestão,
àquela Comissão. O mesmo foi publicado na Revista da AJUFE, n 15, págs. 25/6 e, dentre as
opções sugeridas constou, sob item 5,
"b) a exclusão, sumariamente, de dívidas de cunho alimentar (benefícios
previdenciaários, vencimentos, salários, soldos, proventos etc...), de tal
forma de pagamento, as quais seriam quitadas na forma comum, perante o
próprio Juízo da execução."
5. Foi promulgada a vigente CF, cujo art. 100 prevê:
"À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos
pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença
judiciária, far-se-ão exlusivamente na ordem cronológica de apresentação
dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de
casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais
abertos para este fim."

5.1. Comparativamente com a CF/67, art. 117, a inovação -- tímida, aliás -- consistiu
na exceção dos créditos alimentares que, para determinada corrente exegética, não se
sujeitariam ao rito do precatório para o seu pagamento; enquanto que, para outra corrente,
submeter-se-iam a tal procedimento, não se sujeitando apenas à observância da ordem
cronológica de sua apresentação. Numa linguagem popular, se me permitem, teriam o direito
constitucional de "furar a fila" dos demais precatórios. Não há, ainda, consenso no exato
alcance de tal exceção. Por se tratar de preceito constitucional, a inteligência última e
definitiva tocará à Excelsa Corte, guardiã-mor da Carta Magna, ut art. 102, da mesma.
6. Em princípio -- e lamentando fazê-lo, diga-se de passagem, pois em desarmonia
com a sugestão que fizemos nos albores, ainda, da nova Lei Máxima -- em face de tal
preceito, a exegese que nos parece mais consentânea é a segunda, qual seja, que a garantia
assegurada aos créditos alimentícios consiste, apenas, no direito de inobservarem a ordem de
apresentação dos respectivos precatórios; em suma, podem "furar a fila", nada mais. É claro
que a Fazenda Pública, espontaneamente, poderá pagá-los diretamente, observada a legislação
aplicável. Não é obrigada a fazê-lo, ex vi legis.
6.1. A propósito, elucidativo se apresenta o seguinte e v. acórdão da 1 Turma do Eg.
TRF-5 Região, cujo relator designado foi o Exmo. Sr. Juiz ORLANDO REBOUÇAS, vencido
o originário, Exmo. Sr. Juiz CASTRO MEIRA, quando do julgamento do AI n 655 - PE, com
a seguinte
"EMENTA
CONSTITUCIONAL. PRECATÓRIO. CRÉDITOS DE NATUREZA
ALIMENTÍCIA. PRIORIDADE NOS PAGAMENTOS. ART. 100 DA
CF/88.
- Tratando-se de créditos alimentícios devidos pela Fazenda Pública, a
exceção que o art. 100 da Constituição de 1988 preconiza não é a da
dispensa da requisição dos respectivos pagamentos através de precatórios,
e sim que eles sejam excluídos da regra geral ali prevista, dos pagamentos
de todos os créditos pela ordem cronológica de apresentação dos
precatórios. Tanto é que os parágrafos 1 e 2 do citado artigo obrigam as
entidades de direito público a incluírem em seus orçamentos as verbas
necessárias ao pagamento de seus débitos "constantes de precatórios
judiciários", cujas dotações serão consignadas ao Poder Judiciário.
Nenhuma previsão, portanto, existe acerca de dotações para pagamentos de
créditos alimentícios diretamente aos interessados. Por isto, há de
concluir-se que a regra geral não comporta outra exceção, a não ser de
priorizar os créditos de natureza alimentícia, que deverão ser satisfeitos por
precatórios, antes de quaisquer outros.
- Agravo a que se nega provimento." (DJU - II de 28/09/90, p. 22732).
6.2. Observe-se que o il. Consultor da República, DR. ALEXANDRE CAMANHO
DE ASSIS, emitiu bem elaborado Parecer CS-10, aprovado pelo titular daquele órgão,
publicado no DOU de 22/05/90, pág. 9752/3, no qual sustenta a mesma tese, abroquelado,
inclusive, na sistemática imposta pelo princípio republicano, em que "... não se faz gasto
estranho a quanto tenha sido previsto na lei orçamentária, anualmente elaborada (artigo
165-III e parágrafos 5 a 8 da Constituição de 1988),...". Princípio que ficaria postergado se
adotada interpretação diversa.
7. Como se vê, a matéria ressente-se, ainda, de interpretação definitiva. Em
princípio, reitere-se, filio-me à segunda corrente, como já salientado, embora a contragosto,
mas fiel a meu dever de Magistrado.

8. CONCLUSÃO:
Ante o exposto, provejo, parcialmente, a REO para reformar a r. sentença, na parte
enfocada.
É o meu voto.

ARNALDO LIMA
Desembargador Federal

________AGRAVO DE
INSTRUMENTO_______________________________

REGISTRO N 90.02.24586-6/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Arnaldo Lima


Agravante: Ituberaba Engenharia Ltda
Agravados: Osni Duarte Pereira e outro

________EMENTA________________________________________________
__

CONSTITUCIONAL: AÇÃO POPULAR. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL


CIVIL.
I - Da decisão que defere liminar em ação popular, cabe agravo de instrumento, por
expressa previsão ínsita no parágrafo 1, do art. 19, da Lei n 4.717/65, o que afasta a
aplicação, por analogia, da regra emanada do art. 4, da Lei n 4.348/64, específica
para se pleitear suspensão de liminar em mandado de segurança.
II - A liminar prevista no parágrafo 4, do art. 5, da Lei n 4.717, pressupõe a
coexistência dos requisitos constantes do inciso II, do art. 7, da Lei n 1533/51,
aplicável, no caso, por analogia, em face da similitude de situações e da omissão, no
particular, daquele diploma legal.
III - Indemonstrado o perigo na demora, não há como subsistir decisão concessiva de
liminar.
IV - Doutrina e jurisprudência.
V - Agravo de Instrumento conhecido e provido, nos termos do voto condutor.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria, dar
provimento ao Agravo para reformar a decisão agravada, nos termos do voto do Relator, que
foi acompanhado pelo Exmo. Sr. Des. Federal VALMIR PEÇANHA. Ficou vencido o Exmo.
Sr. Des. Federal NEY VALADARES. Ausente, por motivo justificado, o Exmo Sr. Des.
Federal CELSO PASSOS.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 18 de março de 1991 (data do julgamento).

NEY VALADARES ARNALDO LIMA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
_

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto, oportunamente, por ITUBERABA


ENGENHARIA LTDA., contra a r. decisão de fl. 89, pela qual o MM. Juiz Federal deferiu
medida liminar initio litis, em Ação Popular ajuizada por OSNI DUARTE PEREIRA e
OUTRO.

A Agravante argüiu, preliminarmente, carência de ação, não sendo a Ação Popular


sucedâneo do Mandado de Segurança ou de qualquer outro procedimento; falta de interesse de
agir, pois inexiste o patrocínio de interesse público, destinação constitucional da Ação
Popular; e impossibilidade jurídica do pedido, não demonstrada a lesividade ao patrimônio
público.
No mérito, aduziu ser imperiosa a reconsideração da medida liminar, inexistindo a
irreparabilidade de dano ao patrimônio público, não se prestando a Ação Popular à tutela de
interesses privados, como disposto pelo parágrafo 4, art. 5, da Lei n 4.717/65, com a
redação dada pela Lei n 6.513, de 20/12/77. Juntou os documentos de fls. 41/9.
Formado o instrumento, e efetuados os traslados - fls. 55/380 -, foi oferecida a
resposta de fls. 384/405, via da qual os Agravados pugnaram pela prevalência do decism.
Preparado o Agravo - fl. 406v. -, e trasladadas as peças de fls. 408/10, foi mantida a
decisão agravada - fl. 411 -, após o que foram os autos encaminhados a este Tribunal.
Em cumprimento ao despacho de fl. 413, a il. Procuradora da República, Dra.
THAÍS GRAEFF, exarou o fundamentado Parecer de fls. 415/24, opinando, preliminarmente,
pelo não conhecimento do Agravo, em apenso, interposto por ENGELHARD
CORPORATION, porque "ausente o pressuposto da tempestividade". No mérito,
manifestou-se pelo improvimento dos Agravos.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

1. A r. decisão agravada - fl. 89 - tem o seguinte conteúdo:


"Entendendo presentes os pressupostos insertos no parágrafo 4 do art. 5
da Lei n 4717/65, sobretudo pela expressa determinação ministerial quanto
à suspensão da adjudicação relativa à licitação, ora objeto da presente ação,
conforme se estampa às fls. 91/95, defiro a medida liminar initio litis para
determinar a suspensão, até segunda ordem, do ato inquinado de ilegal e
lesivo ao patrimônio da CPRM e da União Federal, consubstanciado na
habilitação de empresa estrangeira ao exercício de atividade mineradora no
subsolo nacional, compreendendo ato ou decisão relativa à licitação de
direitos minerários relativos às jazidas de Caulim do Rio Capim (Licitação
n 01/89).
Oficiem-se à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e à
União Federal, citando-se todos os réus (fls. 03/05) e intimando-se o
Ministério Público Federal".
2. Contra tal decisum foi interposto Agravo de Instrumento, recurso adequado,
conforme jurisprudência, a saber:
"Tendo caráter de despacho interlocutório, é agravável de instrumento a
decisão que suspende liminarmente o ato impugnado em ação popular".
(TJ/SP - RT 549/56).
2.1. Aliás, no parágrafo 1, do seu art. 19, a Lei n 4717 preceitua que:
"Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento".

2.2. Induvidoso que, ao conceder ou indeferir o requerimento de liminar (parágrafo


4, art. 5, de tal diploma), o Juiz exara decisão tipicamente interlocutória, daí porque, com a
máxima venia, não há como prevalecer, de lege lata, a fundamentada lição do saudoso e
eminente Prof. HELY LOPES MEIRELLES (in "Mandado de Segurança e Ação Popular..." -
RT, 13 ed., pág. 107), encampada pela minoria dos ilustres Desembargadores do Eg. TJ/SP,
quando do julgamento do recurso mencionado, no sentido do cabimento de pedido de
suspensão da liminar ao Presidente do Tribunal competente (Art. 4, da Lei n 4.348/64), isto,
em virtude da existência de norma expressa, excludente da aplicação de preceito específico do
mandado de segurança, por analogia.
2.3. Como nos ensina o il. e saudoso Prof. CARLOS MAXIMILIANO, na sua
consagrada obra "HERMENÊUTICA E APLICAÇÃO DO DIREITO", Forense, 10 edição,
pág. 208:
"A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a
disposição relativa a um caso semelhante".
Destarte, previsto, expressamente, o AI como recurso a ser interposto contra as
decisões interlocutórias no curso do procedimento da ação popular, fica excluída a aplicação
de medida própria para se insurgir contra liminar concedida em mandado de segurança, por
mais afins que sejam tais institutos.
3. Os demais requisitos formais foram observados, daí porque conheço do recurso.
4. Como se sabe, a Lei n 6.513/77, acrescentou o parágrafo 4, ao art. 5, da Lei n
4.717, o qual contém a seguinte redação:
"Na defesa do patrimônio público caberá suspensão liminar do ato lesivo
impugnado".
4.1. O legislador não previu os requisitos a serem observados para se deferir tal
liminar. Embora subsista forte dose de discricionarismo no seu exame, como ocorre, em regra,
na apreciação das liminares em geral, a conduta do Magistrado, na espécie, há de encontrar
seu balisamento nas regras que informam, no pertinente, a ação de pedir segurança. Aqui, sim,
é perfeitamente invocável, data venia, a analogia, e, conseqüentemente, a lição do Prof.
HELY LOPES MEIRELLES, na obra citada, a saber:
"Assim sendo, não se pode conceber um despacho de tal gravidade e com
tal repercussão na vida administrativa do País, sem limites, sem prazo e
sem recurso algum. São de aplicar, portanto, por analogia nos seus efeitos
cautelares, as mesmas regras processuais que regem a concessão da liminar
em mandado de segurança, os mesmos fundamentos justificadores da
medida, o mesmo prazo de vigência e os mesmos recursos..." (Pág. 107).
(Grifamos).
4.2. Registre-se que, ao julgar o RMS n 190-SP, recentemente, a 1 Turma do Eg.
STJ sufragou, unanimemente, o voto do em. Relator, Ministro ARMANDO ROLEMBERG,
que encampa tal entendimento, conforme se colhe da seguinte
"EMENTA
Processo civil - Ação popular - Suspensão liminar.
O enunciado da Súmula n 405 do STF deve ser aplicado à suspensão
liminar concedida em ação popular, porque idênticos os pressupostos de tal
concessão com os da medida em mandado de segurança. Recurso
provido". (Grifei). (DJU de 20/08/90, p. 7956).
4.3. Logo, a aplicação do parágrafo 4, do art. 5, da Lei n 4.717, pressupõe a
presença dos requisitos subjacentes ao inciso II, do art. 7, da Lei n 1.533/51. Vale dizer:
relevância jurídica dos fundamentos em que se apóia a pretensão popular e ineficácia da
provisão jurisdicional, acaso deferida.

5. A r. decisão agravada, como vimos de sua leitura, considerou relevantes os


fundamentos embasadores do pleito, de modo a justificar, sob tal prisma, a liminar; o segundo
requisito, todavia -- ineficácia da decisão final, se favorável -- não se faz presente, data venia,
mesmo porque, concretamente, ainda que a CPRM venha a formalizar o "...contrato de Cessão
e Transferência dos Direitos Minerários objeto deste Edital..." (fl. 112, 12.2.), com a
concorrente cuja proposta considere mais vantajosa, em absoluto não ocorrerá ineficácia da
decisão, caso procedente o pedido popular, hipótese em que a contratação ficaria sem efeito,
retornando-se as partes ao statu quo ante. Observe-se que a natureza da exploração mineral,
no caso, está a revelar que o contrato é de longa duração, conforme se colhe dos elementos de
fato acostados à fl. 117 e seguintes, o que exclui o aludido risco.
5.1. Ausente, assim o periculum in mora, não há como prevalecer, a meu Juízo, a
decisão concessiva da liminar, vez que, tolhidas em seus eventuais direitos ficariam a
Administração e a própria Agravante, sem a subsistência da necessária e imprescindível
motivação legal a justificá-lo.
6. Pondere-se, ademais, que o primeiro fundamento no qual se lastreou a r. decisão
agravada, qual seja, a existência de "...expressa determinação ministerial quanto à suspensão
da adjudicação relativa à licitação, ora objeto da presente ação, conforme se estampa às fls.
91/95...", é de somenos importância, uma vez que, prudentemente, diga-se de passagem, o
então Consultor Jurídico do Ministério das Minas e Energia emitiu o bem lançado Parecer de
fls. 147/151, sugerindo ao então Sr. Ministro da Pasta "...recomendar à Direção da CPRM
suspender a adjudicação de que se trata para que a futura administração, sopesando o interesse
nacional e os aspectos de conveniência do setor, possa decidir sobre o assunto". Isto, em
03/01/90, quando o novo Presidente da República já havia sido eleito e, inclusive, diplomado
pelo Eg. TSE. Destarte, em face da decisão ministerial - fl. 151 -, aprovando tal Parecer,
ficou suspensa a ação administrativa, aguardando-se a nova Administração do País, à qual
transferiu-se a responsabilidade de decidir sobre a matéria. E a decisão, no caso, lhe é própria,
mormente no tocante ao juízo de oportunidade e conveniência da adjudicação, tal como
estampado no Parecer.
6.1. Quanto ao segundo fundamento em que se espeça a mesma decisão
--"habilitação de empresa estrangeira ao exercício de atividade mineradora no subsolo
nacional"--, ainda, que relevante, pelas normas do edital, no entanto, (fl. 100 e segs.), tal
questão há de merecer exame mais detido, o que só será possível quando do exame do mérito,
propriamente, pois a decisão liminar, por sua natureza, não permite maior aprofundamento no
thema decidendum.
7. CONCLUSÃO
Ante o exposto, tudo bem visto e examinado, dou provimento ao Agravo para
reformar a r. decisão de fl. 89.
É meu voto.

ARNALDO LIMA
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
HENRY BIANOR CHALU BARBOSA
Nascido na cidade de Paris, França, em 3 de setembro de 1934, filho de Enéas Barbosa e de
Jeanne Marie Andrée Chalu Barbosa, Henry Bianor Chalu Barbosa chegou ao Brasil antes de
atingir a maioridade e optou pela nacionalidade brasileira.
Cursou o Primário no Instituto "St. Joseph de Cluny", Caiena, Guiana Francesa e o Ginasial e
Colegial no "Lycée Félix Eboué" na mesma cidade. Prestou "Baccalauréat" perante banca da
"Université de Bordeaux"; diploma revalidado no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro.
Bacharelou-se em Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Gama Filho,
formando-se também em Gerência Financeira, através do XVIII Curso do Instituto de
Administração e Gerência da PUC-Rio.
Possui diversos cursos de Especialização nas Faculdades Integradas Estácio de Sá (Direito do
Trabalho e Processual do Trabalho, Comercial, Penal, Processual Civil e Direito
Previdenciário).
Iniciou na Administração Pública como Oficial de Chacelaria do Itamaraty, em 1968, para o
qual logrou aprovação em concurso. Em 1975 passou, em 6 lugar, na prova de Inspetor do
Trabalho, função que exerceu na Delegacia do Trabalho Marítimo do Rio de Janeiro.
Em 1979 prestou concurso para Procurador da República e Juiz Federal. Aprovado em ambos,
optou pelo último, assumindo o cargo de Juiz Federal na Seção Judiciária de Pernambuco,
com posterior remoção para o Rio de Janeiro.
Entre outras atividades, foi Diretor-Superintendente da Mineração da Amazônia Comércio e
Indústria S.A. e da Eletrometais Parecis S.A., jornalista e escritor; tendo ainda exercido a
advocacia cívil, comercial, trabalhista e criminal com militãncia no Rio de Janeiro.
No Magistério, além de ter sido Professor da Alliance Francaise é docente da Faculdade de
Direito da Universidade Federal Fluminense desde julho de 1974, onde leciona Direito
Processual Civil como Professor Adjunto do Departamento de Direito Processual e Prática
Forense. Nesta instituição foi Membro de inúmeras Bancas Examinadoras, Paraninfo, Patrono
e Homenageado de várias turmas de formandos.
Teve efetiva participação em Congressos Jurídicos, cujos temas vão desde o direito trabalhista
a outros de interesse da classe de Magistrado e, como escritor, publicou o livro: "Primeiro
Semestre de Direito Processual Civil", e o trabalho "Natureza jurídica do contrato entre
Armadores e Pescadores" bem como diversas obras de ficção pela Rio Gráfica Editora e
Artenova. Ademais, possui vários trabalhos publicados na Revista da Associação dos Juízes
Federais.

________HABEAS CORPUS N
91.02.15921-0/RJ________________________

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Henry Bianor Chalu Barbosa


Impetrant: Eduardo Augusto Aragão de Oliveira e outro
Impetrado: Juízos Federais das 8 e 18 Varas/RJ
Pacientes: Dilmar Aquino dos Santos Filho e outros

________EMENTA________________________________________________
__

HABEAS CORPUS PREVENTIVO - CUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL -


DELITO PREVISTO NO ARTIGO 330 DO CÓDIGO PENAL
(DESOBEDIÊNCIA).
I - A única força executória do writ of mandamus, o único meio de se obter o
imediato cumprimento da ordem contida no mandado é exatamente a cominação
implícita das penas cominadas ao crime de desobediência.
II - Não há constrangimento ilegal a ser reparado por esta via processual. A ordem
determinando a liberação de cruzados novos não é ilegal, pois emana de autoridade
judicial com base em fundamentos jurídicos, quais seja, o cumprimento pelo Banco
de um contrato de conta-corrente, com a entrega de numerário (cuja retenção foi
julgada ilegal) aos correntistas. Entendeu o MM. Juiz a quo que a entrega da quantia
cabia ao Banco e não ao Banco Central que não era parte na relação contratual. Se
este não for o melhor entendimento, deve a Instituição buscar a cassação da liminar
pela via própria. Do contrário, deve a ordem ser cumprida pelo seu destinatário sob
pena de desobediência. Não se pode desarmar o Poder Judiciário do único
instrumento que possui para forçar o cumprimento de suas decisões em madado de
segurança.
III - Ordem de habeas corpus denegada.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da Segunda Região, por
unanimidade, denegar o pedido de habeas corpus, nos termos do relatório e voto constantes
dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1991 (data de julgamento).

TANIA HEINE CHALU BARBOSA


Desembargadora Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO___________________________________________

O DESEMBARGADOR FEDERAL CHALU BARBOSA: Trata-se de habeas


corpus preventivo impetrado pelos Drs. EDUARDO AUGUSTO ARAGÃO DE OLIVEIRA
e IVETE DINIZ ELIAS em favor de DILMAR AQUINO DOS SANTOS FILHO e outros,
todos funcionários do BANCO CHASE MANHATTAN S/A, onde exercem as funções de
Diretor Vice-Presidente e de Gerente, contra ato dos MM. Juízes da 8 e 18 Varas Federais,
pelos motivos a seguir expostos: os pacientes vêm freqüentemente sofrendo ameaças de
prisão, emanadas de ordens judiciais dos referidos Juízos, através de mandados de busca e
apreensão, mandados de intimação e mandados para cumprimento de ordem judicial,
determinando a conversão imediata de cruzados novos para cruzeiros, sob pena de
configurar-se o delito previsto no artigo 330 do Código Penal (desobediência).
O artigo 9 da Lei n 8024/90 determinou a indisponibilidade dos cruzados novos
não convertidos para cruzeiros e a sua transferência imediata ao BANCO CENTRAL DO
BRASIL, passando, desde então, este órgão a constituir-se no real depositário dos ativos
bloqueados, permanecendo nas instituições financeiras, tão-somente o cadastro dos referidos
ativos financeiros, individualizados, em nome do titular de cada operação.
Os MMs. Juízes Federais, em total afronta aos princípios basilares do Direito,
atendendo aos pedidos dos vários clientes, dirigiram e continuam dirigindo, arbitrariamente,
as ordens de conversão e liberação dos ativos retidos, aos funcionários do Banco Chase, ora
pacientes, para cumprimento imediato, sob pena de prisão. Neste contexto, outra alternativa
não se lhes resta, senão a de pagarem as importâncias pleiteadas, utilizando, para tal fim, os
recursos do Banco Chase, causando com isto, irreparável prejuízo ao patrimônio do mesmo,
considerando, ainda, que, em determinados casos, o aporte dos recursos em cruzeiros
oriundos do Banco Central só se perfez cerca de vinte a trinta dias após o início do
procedimento administrativo previsto na Circular BACEN n 1868/90.
Ressalte-se que os pacientes, vêem-se em situação difícil e vexatória, porquanto se
acham às portas do constrangimento, sumamente injusto e arbitrário, encontrando-se na
iminência de sofrer danos morais, haja vista a repercussão negativa na comunidade e no
ambiente profissional que sua prisão injusta haveria de provocar.
Cumpre relembrar, ainda, que a Constituição da República, de 1988, teve por
finalidade precípua implantar no País um Estado democrático de direito, ou seja, um Estado
onde acima de tudo as leis prevaleçam sobre as arbitrariedades. Nessas condições, esperam os
impetrantes seja o writ liminarmente concedido, a fim de que cesse, incontinenti, a grave
ameaça de constrangimento ilegal a que serão afligidos os pacientes, injustamente ameaçados
de serem presos e autuados em flagrante delito, por crime de desobediência, abstendo-se, pois,
as autoridades coatoras da prática dos referidos atos, com a conseqüente expedição de salvo
conduto em benefício dos pacientes, como providência necessária para garantir-lhes o
exercício pleno de liberdade e do exercício de suas funções junto ao seu empregador.
Indeferida a liminar e solicitadas as informações, vieram às fls. 73/76, da autoridade
apontada como coatora da 18 Vara Federal, nos seguintes termos: procuram sempre os bancos
requeridos nas ações cautelares propostas, em suas contestações, argüir preliminares de
ilegitimidade passiva, com fundamento na alegação de que somente cabe, por força de lei, ao
Banco Central a guarda e a conversão dos ativos retidos.
Não podem, porém, os bancos depositários, por essa mesma qualidade, recusarem-se
a entregar aos seus correntistas valores em conta, não importando, no caso, aonde se
encontram os mesmos.
Resta, desta feita, descaracterizada a ilegalidade do ato impugnado, sendo que a
coação reclamada. na verdade é própria de qualquer decisão judicial, por sua inerente força
coercitiva.
Cabe ressaltar ainda que o Poder Judiciário não pode se adequar às normas
administrativas, como pretendem os impetrantes, pois assim agindo estaria se equiparando a
um mero departamento administrativo estatal, e se despindo de sua posição constitucional de
Poder do Estado Democrático, e, por outro lado, estaria negando vigência ao artigo 5, inciso
XXXV, da Carta Magna, não prestando a atividade jurisdicional reclamada.

Por derradeiro, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 2 Região, através de seu


Plenário, no processo n 90.02.19901-5, acolheu, implicitamente, que há incidência do aludido
dispositivo processual, e que o Poder Judiciário não pode se curvar aos atos administrativos
consubstanciados em Resoluções do Banco Central, exaradas de pessoa jurídica integrante da
Administração Federal indireta.
Sublinhe-se, como fecho, que o writ não pode ter o caráter genérico, como
pretendem os impetrantes, diante da norma do artigo 654, parágrafo 1, letra b, do Código de
Processo Penal, somente podendo impugnar ato específico, e concreto.
A autoridade apontada como coatora, da 8 Vara Federal, às fls. 78/79, assim
informou:
"As liminares para desbloqueio de dinheiro em autos de Medidas Cautelares de
Busca e Apreensão são concedidas em alguns casos e quando provados os requisitos do
fumus boni iuris e do periculum in mora, quando plausível o direito invocado, denotando o
fumus boni iuris, à luz dos princípios constitucionais vigentes (art. 5, caput, incisos I, XXI,
XXXV, XXXVI, LIV e LXIX da Constituição Federal).
No tocante ao HABEAS CORPUS em tela, impetrado em face dos juízes federais,
entendo que não demonstrado requisito fundamental da violência ou coaçao da liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, uma vez que nos mandados de busca e
apreensão, expedidos pela 8 Vara Federal não existe ordem e constrição da liberdade de
locomoção ou constrangimento a pessoa física nenhuma, como pode ser verificado pela cópia
da liminar que segue anexa.
Quanto à alegação de que o Impetrante usa seus próprios recursos para o
desbloqueio, este é um problema entre ele e o Banco Central do Brasil, mas é público e
notório que existem Circulares do Banco Central do Brasil autorizando o desbloqueio de
cruzados novos por ordem judicial.
Quanto à argumentação contida da inicial do presente HABEAS CORPUS,
improcedentes são as mesmas, uma vez que o contrato de conta corrente ou poupança, de
numerários que foram bloqueados, foram celebrados entre o Banco, na presente hipótese, o
BANCO CHASE MANHATTAN, e o correntista."
O Ministério Público Federal, em seu parecer, de fl. 81, assim se manifestou:
"Pela não concessão da presente ordem de HABEAS CORPUS preventivo.
Com efeito, as liminares concedidas atendem aos requisitos legais, fumus bonis
iuris e periculum in mora, considerando-se inclusive a manifesta e já argüída, perante esta
Corte, inconstitucionalidade da lei n 8024/90.
Demais disso, de ressaltar e como salientado pelos supostos Juízes Federais coatores
e pelo próprio Pleno desde E. Tribunal, e referentemente à ilegitimidade passiva da entidade
bancária, depositária, mediante contrato, dos valores reclamados, que o Poder Judiciário não
pode se curvar a cadeia de ilegalidade patrocinada pelas autoridades monetárias desde País,
sobretudo, em se considerando, in casu, existência de Resolução do Banco Central regulando
o ressacirmento dos bancos, em casos de desbloqueio judicial, por aquela autarquia federal."
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

A única força executória do writ of mandamus, o único meio de se obter o imediato


cumprimento da ordem contida no Mandado é exatamente a cominação implícita das penas
cominadas ao crime de desobediência.

A pretensão dos Impetrantes, inicialmente, era de se ver imunes a quaisquer ordens


judiciais versando sobre liberação de cruzados novos, emanadas de todos os Juízes Federais
da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Indeferida liminarmente a pretensão pelo despacho de
fls. 55, emendaram os Impetrantes suas iniciais para apontar apenas os Juízes das 8 e 18 Varas
Federais como coatores.
Não vejo constrangimento ilegal a ser reparado por esta via processual. A ordem não
é ilegal, pois emanada de Autoridade Judicial com fundamentos jurídicos, quais sejam, o
cumprimento pelo Banco de um contrato de conta-corrente, como a entrega de numerário
(cuja retenção foi julgada ilegal) aos correntistas. Entendeu o MM. Juiz a quo que a entrega
de numerário cabia ao Banco, e não ao Banco Central que não era parte na relação contratual.
Se este não for o melhor entendimento, cabe recurso(agravo de instrumento, em se
tratando de liminar), podendo-se buscar a atribuição de efeito suspensivo ao mesmo por via
mandamental.
Não sendo suspensa ou reformada a decisão, deve ser cumprida pelo destinatário da
ordem sob pena de desobediência. Não se pode desarmar o Poder Judiciário do único
instrumento que possui para forçar o cumprimento de sua decisões em Mandado de
Segurança.
Isto posto, denego a ordem.
É como voto.

Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1991.

CHALU BARBOSA
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
VALMIRMARTINS PEÇANHA
O Juiz Valmir Martins Peçanha nasceu na cidade de Três Rios, Estado do Rio de Janeiro, aos
22 de abril de 1935, filho de Valmir de Almeida Peçanha e Perpétua Martins Peçanha. Cursou
o primário em sua cidade natal, tendo concluído o 1 e 2 graus no Colégio São José, nesta
cidade, bacharelando-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
em 1961.
Enquanto estudante, trabalhou na Administração Pública, no Departamento de Patrimônio do
antigo Estado do Rio de Janeiro, estagiando, também durante sua vida universitária, no Centro
de Assistência Judiciária da PUC-RIO. Freqüentou cursos extra-curriculares ministrados no
Instituto dos Advogados do Brasil e no Tribunal Regional Eleitoral. Exerceu durante vinte
anos intensa atividade advocatícia, inclusive como advogado de instituições financeiras.
Foi membro da Comissão Jurídica Bancária do Sindicato de Bancos do Rio de Janeiro entre
1978 e 1982. Ingressou na Magistratura Federal em 1 de abril de 1982, indo ocupar a
titularidade da 4 Vara Federal II da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul, sendo removido, a
pedido, em 1983 para a 2 Vara II da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, de cujo
desdobramento resultou a atual 11 Vara da Seção Judiciária desta Capital. Foi designado Juiz
em Auxílio à Direção do Foro da Seção Judiciária deste Estado a partir de julho de 1988.
Designado Vice-Diretor do Foro da mesma Seção Judiciária a partir de janeiro de 1989.
Designado, ainda, como Membro da Comissão de Instalação do Tribunal Regional Federal da
2 Região, com sede nesta Capital, por ato do então Exmo. Sr. Ministro Vice-Presidente do
Conse-lho da Justiça Federal, em dezembro de 1988. Nomeado como Membro desta Colenda
Corte por ato do Exmo. Sr. Presidente da República em 22 de março de 1989, compondo a
sua Terceira Turma.
_______APELAÇÃO CRIMINAL ___________________________________

REGISTRO N 89.02.02115-7 - RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Valmir Peçanha


Revisor: Juiz Celso Passos
Apelantes: Cleodir Rohen Bastos
Luiz Carlos Buarque
Apelada: Justiça Pública

_______EMENTA___________________________________________

PROCESSO PENAL - INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL - AUSÊNCIA DE


MOTIVAÇÃO NA APLICAÇÃO DA PENA - DESCAMINHO - DISTINÇÃO
DAS PENAS APLICADAS - REDUÇÃO DAS PENAS - SURSIS.
I - O princípio da indivisibilidade da ação penal não pode retirar a independência do
titular da Ação Penal. Faculdade do órgão defensor da sociedade de requerer
arquivamento em relação a alguns dos indiciados, se achar que inexistem elementos
suficientes para a denúncia, que será submetido ao crivo do Judiciário.
II - Não se pode inquinar de nula a decisão que, embora não se prenda ao rigorismo
didático, expõe de forma clara e racional o caminho percorrido para chegar ao
cálculo final da pena.
III - Existindo diferença entre as condutas dos apelantes - um, de comerciante e
outro, mero auxiliar - deve existir distinção entre as penas aplicadas.
IV - Apelações parcialmente providas para reduzir as penas dos apelantes e
conceder-lhes o benefício da suspensão condicional da pena.

_______ACÓRDÃO_______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, dar parcial provimento às apelações, na forma do relatório e voto constantes dos
autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 1990 (data do julgamento).

NEY VALADARES VALMIR PEÇANHA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator
_______RELATÓRIO_____________________________________________
___

Trata-se de recursos de apelação criminal interpostos por CLEODIR ROHEN


BASTOS e LUIZ CARLOS BUARQUE contra sentença que julgou procedente a denúncia e
condenou-os às penas de três e dois anos de reclusão, nos regimes fechado e semi-fechado,
respectivamente, por infração do art. 334 do C.P., facultando ao segundo a suspensão
condicional da pena pelo período de três anos, desde que cumpridas as "obrigações
econômicas decorrentes do julgado"
O primeiro apelante, em suas razões acostadas às fls. 308/315, argúi, de início, as
seguintes nulidades:
1 - Inobservância do princípio da indivisibilidade da ação penal, porquanto não fora
oferecida denúncia contra dois dos indiciados, sendo deferido o arquivamento quanto a um
deles, no decorrer do recesso forense;
2 - Inobservância dos incisos II e III do art. 387 do C.P.P. à época da prolação da
sentença.
No mérito, pugna o apelante pela absolvição ante falta de provas quanto à autoria.
O segundo apelante, às fls. 320/322 requer, também, a anulação da sentença, por
ausência de motivação na aplicação da pena.
A Apelada, em contra-razões acostadas às fls. 324/325, requer a confirmação da
sentença recorrida, alegando, em resumo, a intempestividade da insurgência contra atos
relativos à denúncia bem como a ausência de nulidade da sentença.
Parecer da Subprocuradoria-Geral da República, opinando pela reforma parcial da
sentença a fim de diminuir as penas ao mínimo legal e a sua suspensão pelo período de dois
anos.
É o relatório.

_______VOTO___________________________________________________
___

Estão presentes os requisitos de admissibilidade dos recursos.


Ambos os apelantes argúem a nulidade da sentença recorrida. O primeiro deles,
como foi dito no relatório, ataca o julgado, inicialmente, sob o ângulo do princípio da
indivisibilidade da ação penal, eis que, não oferecida a denúncia contra dois dos indiciados e
deferido o arquivamento do inquérito quanto a um deles.
A respeito desta primeira abordagem, diversas ponderações se impõem. Com efeito,
conforme se depreende do relatório da autoridade policial (fls. 82/84), foram indiciados
CLEODIR ROHEN BASTOS, LUIZ CARLOS BUARQUE, MAURÍCIO CHUEKE E
JOSUÉ FERREIRA. Remetidos os autos ao Ministério Público Federal, conforme despacho
de fls. 85, o Sr. Procurador da República entendeu por bem, em 03.01.85, de oferecer
denúncia apenas quanto aos dois primeiros indiciados (fls. 01), e deixar de fazê-lo contra
MAURÍCIO CHUEKE pelas razões expostas naquela mesma data às fls. 85-vso., bem como
quanto a JOSUÉ FERREIRA, não adentrando no exame da conduta deste a justificar a sua
exclusão da peça acusatória. O MM. Juiz em exercício na 13 Vara Federal desta Cidade,
deferiu o arquivamento quanto a MAURÍCIO CHUEKE, não se manifestando quanto a
JOSUÉ (fls. 91). Pode-se dizer que JOSUÉ, não tendo sido denunciado, nem havendo sido
determinado o arquivamento do inquérito, permaneceu no "limbo" do procedimento.
Esta última circunstância pertinente a JOSUÉ não foi abordada pelas defesas dos
condenados e tal detalhe na verdade em nada poderia, como efetivamente não pode,
prejudicar suas defesas, tendo, pois, no particular, total aplicação o art. 563 do Código de
Processo Penal, não tendo cabimento cogitar-se, pois, de nulidade ante a omissão agora
apontada, sendo de notar-se que, com o retorno dos autos à Vara de origem, cumprirá ao Juízo
de Primeiro Grau decidir quanto à situação de JOSUÉ FERREIRA.
No particular da indivisibilidade da ação penal, a alegação não aproveita a defesa do
réu CLEODIR, eis que, como observa Damázio E. de Jesus (Código de Processo Penal
Anotado - SARAIVA - 1984 - pág. 45):

"Não obstante inderrogável a ação penal pública, como disse o Min.


Cordeiro Guerra, nada impede que o Promotor de Justiça, diante das provas
do inquérito policial, ofereça denúncia somente contra um dos indiciados,
considerando que os outros não cometeram crime (RTJ 94/141)".
Sem dúvida, o princípio da indivisibilidade da ação penal não pode impo-se de tal
forma que venha necessariamente a obrigar o Ministério Público a denunciar a todos quantos
venham a ser indiciados, pois afirmar o contrário implicaria em tirar totalmente a
independência do titular da ação penal. Demais disso, é de conhecimento comezinho que a
atuação do Ministério Público que implique no arquivamento de inquérito está sob o crivo do
Judiciário e, conforme as circunstâncias, também sob o crivo do Procurador-Geral, caso o
magistrado entenda que a matéria deva ser, quanto àquele aspecto, melhor examinada.
A outra argüição pertinente à nulidade da sentença recorrida é encontrada em ambos
os recursos e diz respeito a uma suposta ausência de motivação na aplicação da pena,
remetendo-se o primeiro dos recorrentes ao art. 387, incisos II e III do Código de Processo
Penal, cuja redação é a seguinte:
"O juiz, ao proferir a sentença condenatória:
..............................................................................................................
II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva
ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos
artigos 42 (atual 59) e 43 (atual 60) do Código Penal;
III - aplicará as penas de acordo com estas conclusões, fixando a
quantidade das principais e, se for o caso, a duração das acessórias;
...........................................................................................................".
No exame desse aspecto dos recursos, considere-se, inicialmente, a regra do art. 68
do Código Penal, que estabelece:
"A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código;
em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes;
por último, as causas de diminuição e de aumento.
Parágrafo único. No concurso de causas de aumento ou de diminuição
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a
uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou
diminua."
O renomado Celso Delmanto, em seu Código Penal Comentado (2 edição -
RENOVAR - pág. 121), referindo-se ao cálculo final da pena, afirma que:
"Como determina este art. 68 do CP, ele deve ser feito em três fases, no
também chamado método de Nélson Hungria (em oposição ao método das
duas fases, de Roberto Lyra). 1 Fase: numa primeira etapa, fixa-se a
pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais
do art. 59, ela se tornará definitiva, caso não existam circunstâncias legais
(agravantes ou atenuantes), ou causas de aumento ou de diminuição
aplicáveis. Se elas incidem, passa-se às fases seguintes. 2 Fase: sobre a
pena-base apurada na 1 fase, recaem as circunstâncias legais (agravantes ou
atenuantes) dos arts. 61, 62, 65, e 66. 3 Fase: sobre a pena apurada na 2
fase (e não sobre a pena-base) incidirão as eventuais causas de aumento ou
de diminuição da parte geral ou especial do CP."

Analisando-se à luz destes doutos ensinamentos a decisão recorrida, constata-se que


a mesma não contém uma infringência às normas legais pertinentes, que pudesse inquiná-la
de nula. Obviamente não se apresenta tal sentença em forma didática, o que só seria, na
verdade, apropriado, se intenção houvesse de, ao mesmo tempo, se ministrar ensinamentos;
porém, depreende-se de sua fundamentação e de seu dispositivo, que a digna sentenciante
percorreu, ainda que não minuciando, um caminho racional para chegar ao cálculo final da
pena.
Assim é que expressou-se a Meritíssima Juíza de 1 grau:
"Os autos de apreenssão de fls. 08/10 e os laudos periciais de fls. 164/167 e
173/177 estão a comprovar a materialidade do fato, cuja autoria é
reiteradamente confessada pelo segundo acusado e confessada foi também
pelo primeiro - que em juízo veio a desdizer, sem indicar fatos
depreciadores daquela versão, que se vê corroborada pelos demais
elementos constantes dos autos, nada havendo a infirmá-la.
E os autos estão a indicar o primeiro como o "empresário do contrabando",
proprietário das mercadorias - avaliadas em Cr$ 140.837.000 já nos idos
de dezembro de 1984 - e o segundo como seu agente e colaborador, na
guarda e distribuição das mesmas.
Já quanto à culpabilidade, ilidida ela não foi. E ainda nos autos se
apresentem os acusados como pessoas bem referidas - sendo que o
primeiro nisso tanto se empenhou - condições não vejo de lhes negar o
conhecimento de que agiam na ilegalidade.
Aliás, a quantidade de mercadorias apreendidas basta para caracterizar os
acusados como verdadeiros comerciantes (de contrabando), cuja
inteligência não se pode desmerecer - fazendo com que sua condenação se
preste para afastá-los do tentador comércio de produtos contrabandeados,
ainda que continuem no exercício daquela atividade.
E não há como se negar que é através dos comerciantes - e o primeiro
acusado não é dos pequenos - que se distribui grande parte do contrabando
que ingressa no País, cujo comércio já está a adquirir aparência de
regularidade."
Ao final, conclui por lançar o seguinte dispositivo:
"JULGO PROCEDENTE A AÇÃO e condeno os acusados nos precisos
termos da denúncia. Assim, atendendo às diretrizes do artigo 59 e seguintes
do Código Penal, e atendendo as circunstâncias indicativas de ser o
primeiro acusado um empresário do contrabando, de considerável poder
econômico - como o valor das mercadorias está a evidenciar - aplico-lhe a
pena base de três anos de reclusão, que inalterada fica nesse quantum, a ser
cumprida em regime fechado. Outrossim, tendo em conta as considerações
primeiras e às circunstâncias indicativas de ser o segundo acusado agente
auxiliar do primeiro, aplico-lhe a pena base de dois anos de reclusão - que
inalterada nesse quantum também fica - a ser cumprida em regime
semi-fechado e paguem ambos os condenados as custas do feito.
P.R.I., lançando-se os nomes dos réus no rol dos culpados e designando-se
audiência adminitória para o segundo - eis que lhe concedo o benefício da
suspensão condicional por três anos, desde que cumpra as obrigações
econômicas decorrentes do julgado."
Considero, pois, destituídas de amparo legal todas as matérias preambulares trazidas
pelos recorrentes.
No que diz respeito ao mérito, com propriedade o representante da digna
Subprocuradoria-Geral da República, que atuava junto ao extinto Tribunal Federal de
Recursos, observou às fls. 329/330:
"Cleodir confessa ser de sua propriedade a mercadoria apreendida (fls. 04 e
34)."

"A defesa alega ser extra-judicial a confissão do acusado. Vejamos o que


diz a Jurisprudência, verbis:
CRIMINAL. DESCAMINHO (CP, art. 334, PAR.1, Letra "c").
Exame de Prova
..............................................................................................................
..............................................................................................................
É irrecusável que a prova reunida no inquérito tem bom valor probante
tanto mais se não encontra oposição de prova formada, ou mesmo
inexistente em Juízo. Assim, subsiste a prova do flagrante, se não fornecida
outra que a substitua. A livre apreciação da prova pelo Juiz, na análise do
que existir nos autos, não legitima decisão apenas em face de dúvidas
acusada pelas declarações do réu ou de divergências nos mais poucos e
inevitáveis, entre os depoimentos no sumário, sem razão para
caracterizar-se falsa acusação. Sentença reformada; Procedência da
denúncia." (grifamos) (Acr. N 4699-MT, Min. Rel. Gueiros Leite; Jul.
15/10/81, Publ. DJ. 22/10/81).
"Por outro lado, Luiz Carlos afirma na polícia (fls. 05) e em Juízo (fls. 211)
que "guardava os uísques para o acusado CLEODIR, num total de oitenta a
cem caixas:..."
"O laudo de Exame constata a Procedência estrangeira da mercadoria
apreendida, bem como a grande quantidade da mercadoria alienígena
descaminhada."
Inexiste, pois, dúvida quanto a autoria.
Finalmente, resta a apreciar a observação feita por aquele órgão do Ministério
Público no sentido de que a Meritíssima Juíza a quo teria sido bastante severa ao apenar os
denunciados, o que levou-o a terminar seu pronunciamento opinando pela diminuição das
penas para o mínimo legal (1 ano de reclusão), tendo em vista a primariedade e os
antecedentes dos réus, concedendo-lhes o benefício do sursis por dois anos.
Pelos elementos constantes nos autos, depreende-se que existe uma diferença entre
as condutas dos dois apenados, porquanto CLEODIR é que era o proprietário das
mercadorias, podendo portanto ser caracterizado como "comerciante", decorrendo daí, uma
conduta mais acentuada ou expressiva no cometimento do delito; aparecendo LUIZ CARLOS
como agente auxiliar, circunstância esta, aliás, observada na sentença recorrida.
Destarte, considero inadequado igualar as duas condutas para fixação de uma mesma
pena.
Não obstante, acolho parcialmente as ponderações da Subprocuradoria- Geral da
República, no particular das penas, para reduzí-las.
Isto posto, dou provimento parcial às apelações para, de acordo com as
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, aplicar a CLEODIR ROHEN BASTOS a
pena-base de 1(um) ano de reclusão que, face à agravante do item I, do art. 62, do CP, fixo em
definitivo em 1(um) ano e quatro meses de reclusão; e aplicar a LUIZ CARLOS BUARQUE
a pena-base de 1(um) ano de reclusão que, na ausência de circunstâncias legais (agravantes ou
atenuantes) ou causas de aumento ou diminuição, se torna definitiva, devendo ambas as penas
serem cumpridas em regime aberto.
Atendendo ambos os apenados aos requisitos do art. 77 do CP, concedo-lhes o
benefício da suspensão condicional da pena: ao primeiro por 3(três) anos e ao segundo por
2(dois) anos, independentemente do cumprimento das obrigações econômicas decorrentes do
julgado, eis que, para tanto, existe o devido processo legal, não se podendo, consoante
jurisprudência já pacificada, subordinar a obtenção do sursis a ressarcimento do dano.

A audiência admonitória será designada e realizada perante o Juízo competente.


É como voto.

VALMIR PEÇANHA
Desembargador Federal

_______APELAÇÃO
CÍVEL__________________________________________

REGISTRO N 89.02.00349-3

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Valmir Peçanha


Apelantes: Elio Cezar de Souza e outros
Apelada: União Federal

_______EMENTA_________________________________________________
__

MILITAR - ANISTIA (ART.11 DA LEI 6683/79 E EMENDAS


CONSTITUCIONAIS Ns. 11/78 e 26/85) - PROMOÇÃO EM RESSARCIMENTO
DE PRETERIÇÃO - PROMOÇÃO POSTERIOR NA VIA ADMINISTRATIVA.
- Inexistência de preterição.
- Concessão da promoção na via administrativa, após o advento da E.C. 26/85.
- Impossibilidade da retroação dos efeitos patrimoniais.
- Apelação desprovida.
_______ACÓRDÃO_______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, negar provimento à apelação, na forma do relatório e voto constantes dos autos,
que fazem parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1989.

NEY VALADARES VALMIR PEÇANHA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

_______RELATÓRIO_____________________________________________
__

Cuida-se de recurso de apelação interposto por ELIO CEZAR DE SOUZA e


BELARMINO ALFREDO DOS SANTOS contra sentença que julgou improcedentes seus
pedidos de promoção em ressarcimento de preterição, previsto no parágrafo 2 do art. 65, da
Lei n 5774/71.
Insurgem-se os recorrentes contra decisão proferida pelo MM. Juiz da 8 Vara
Federal desta Capital, que diz não ter havido, no caso, preterição de direito dos apelantes,
mas, tão somente, a aplicação do art. 11 da Lei n 6683/76.
Asseveram, no mérito, que o douto prolator da sentença de 1 grau se restringiu às
informações fornecidas pelo Ministério da Marinha, decidindo de forma diversa ao que lhes é
garantido pela Lei de Anistia.

A apelada requer, em contra-razões acostadas às fls. 74, a manutenção da sentença


recorrida.
O digno representante da Subprocuradoria-Geral da República, que funcionava junto
ao extinto Tribunal Federal de Recursos, junta aos autos Portarias expedidas depois da
Emenda Constitucional n 26/85 e que alteraram a situação de inativos dos apelantes,
promovendo-os para o posto pleiteado. Por fim, aquele representante do Ministério Público
Federal opina pela extinção do processo, após prévia vista aos recorrentes, dos documentos
acostados.
Em petição de fls. 83, os apelantes afirmam que tais documentos não afetam seus
pedidos e requerem o provimento do recurso.
Encaminhados os autos a este Tribunal, foram a mim distribuídos.
Em virtude de versar, a presente apelação, de matéria predominantemente de direito,
dispensei a revisão, com base no permissivo contido no inciso IX do art. 38 do Regimento
Interno deste Tribunal.
É o relatório.
_______VOTO___________________________________________________
___

Estão presentes os requisitos de admissibilidade do recurso.


A r. sentença recorrida decidiu, adequadamente, a controvérsia, observando que a
Administração, ao aplicar a Lei n 6.683/79, nenhum direito aos recorrentes subtraiu, uma vez
que o art. 11 da mencionada lei dispõe:
"Art.11 - Esta Lei, além dos direitos nela expressos, não gera quaisquer
outros, inclusive aqueles relativos a vencimentos, soldos, salários,
proventos, restituições, atrasados, indenizações, promoções ou
ressarcimentos".
Com efeito, face aos termos expressos da lei, não pôde ser acolhido o pedido de
promoção da peça inicial.
Observou, ainda, a sentença recorrida, que não cabe alegação da preterição, por isso
que antes de serem atingidos pelos atos institucionais, não sofreram os autores qualquer
preterição, e tal também não ocorreu quando de sua passagem para reserva remunerada.
Pondere-se mais que, se a administração veio a conceder, em casos semelhantes, a
passagem para a reserva tal como pleiteada, essa circunstância, por si só, não autoriza o
acolhimento da pretensão ajuizada. Em outras palavras: se a administração, por vezes,
coloca-se além da lei, entendo que, nesses casos, o remédio seria rever esses atos para
adequá-los à lei e não generalizar-se uma situação ao desamparo legal. O administrador há
que se ater aos exatos termos da lei. No caso dos apelantes isto ocorreu.
Além disso, sobreveio à douta sentença de fls. 64/65 a Emenda Constitucional n
26, de 27/11/85, cujo art. 4 e seus parágrafos 3 e 5 estabeleceram:
"Art. 4 - É concedida anistia a todos os servidores públicos civis da
Administraço direta e indireta e militares, punidos por atos de exceção,
institucionais ou complementares".
"Parágrafo 3 - Aos servidores civis e militares serão concedidas as
promoções, na aposentadoria ou na reserva, ao cargo, posto ou graduação a
que teriam direito se estivessem em serviço ativo, obedecidos os prazos de
permanência em atividade, previstos nas leis e regulamentos vigentes".
"Parágrafo 5 - O disposto no "caput" deste artigo somente gera efeitos
financeiros a partir da promulgação da presente Emenda, vedada a
remuneração de qualquer espécie, em caráter retroativo".

Com base nesta Emenda Constitucional, foram expedidas as Portarias, cujas cópias
estão às fls. 80/81, promovendo os autores para a graduação de suboficial e, nesta graduação,
transferindo-os para a reserva, com a remuneração correspondente, a partir de 28/11/85.
Dizem, entretanto, os apelantes, às fls. 83, que essas Portarias nada acrescentam,
nem modificam seus direitos.
Ora, tal não é exato. Com elas tiveram os apelantes atendida sua pretensão e este
atendimento viabilizou-se mercê da promulgação da Emenda Constitucional acima
mencionada.
No meu entender, agora, resta apenas examinar o pedido no que concerne à data da
transferência para a reserva remunerada, eis que as mencionadas Portarias de fls. 80/81
surtiram efeito a partir de 28/11/85, e a pretensão dos apelantes remonta à data anterior.
Acontece, porém, que o parágrafo 5 do art. 4 da aludida Emenda Constitucional n
26, antes transcrito, estabeleceu como termo inicial para produção de efeitos financeiros a
promulgação da Emenda, o que ocorreu em 28/11/85 (D.O.U. de 28/11/85).
Impossível, pois, cogitar-se de outra data para a transferência para a reserva
remunerada na graduação de suboficial.
Face ao exposto, voto no sentido de se conhecer e negar provimento à apelação.

VALMIR PEÇANHA
Desembargador Federal

_______AGRAVO DE
INSTRUMENTO________________________________

REGISTRO N 90.02.15063-6 - RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Valmir Peçanha


Agravantes: Maurício Octávio Malta Santos e outro
Agravada: Caixa Econômica Federal - CEF

_______EMENTA_________________________________________________
__

AGRAVO DE INSTRUMENTO - TERCEIROS INTERESSADOS -


ADVOGADOS QUE ATUARAM ATÉ O OFERECIMENTO DE
CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO - HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA -
LEVANTAMENTO DE SUA ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA - CABIMENTO -
QUESTIONAMENTO NOS AUTOS PRINCIPAIS.
I - O advogado tem direito autônomo para executar a sentença quanto aos honorários
fixados na condenação, salvo avença em contrário entre ele e cliente (Interpretação
do art. 99, parágrafo 1 da Lei n 4.215/63, com a redação dada pela Lei n 7.346/85).
II - Levantada quantia relativa a honorários advocatícios por um dos agravantes,
torna-se inafastável o direito ao recebimento da atualização remanescente.
III - Ausência de comprovação quanto a acordo para repartição da verba entre os
agravantes e advogados que atuaram em 2 Instância, ou que aqueles tenham retirado,
indevidamente, importância pertencente ao antigo cliente.
IV - Agravo provido.

_______ACÓRDÃO_______________________________________________
__

Vistos e relatados os autos, que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, conhecer do Agravo e lhe dar provimento, na forma do relatório e voto
constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1990 (data do julgamento).

NEY VALADARES VALMIR PEÇANHA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

_______RELATÓRIO_____________________________________________
___

Trata-se de agravo de instrumento interposto por MAURÍCIO OCTÁVIO MALTA


SANTOS E OUTRO de decisão proferida pelo MM. Juiz da 12 Vara Federal desta Cidade
que, nos autos da ação ordinária movida pelo Espólio de Oscar Bertino de Almeida Oliveira
contra a Caixa Econômica Federal, não deferiu o pedido de levantamento, pelos advogados
que promoveram a ação até as contra-razões do recurso, da atualização monetária do
quantum relativos aos seus honorários de sucumbência, por eles já recebido o principal.
Tendo em vista que os advogados que acompanharam o feito na fase recursal
contestaram a validade de tal recebimento, o MM. Juiz singular entendeu que, havendo
controvérsia a respeito da divisão, seria aplicável a regra do artigo 101, parágrafo único da Lei
n 4.215/63, e, sendo a causa estranha à lide dos autos, os interessados deveriam pleitear seus
honorários em ação própria (fls. 85).
Alegaram os Agravantes, em síntese, que sua reivindicação é legítima e legal, pois,
já tendo recebido o principal, o que pleitearam foi simplesmente o recebimento da atualização
monetária do que lhes foi pago. Entenderam que a correção monetária integra o acessório que
segue o principal, a teor do artigo 59 do Código Civil.
O que pleitearam, em suma, não é o reconhecimento de seu direito aos honorários da
sucumbência, pois estes, já receberam, mas, simplesmente, a atualização desse direito.
Sustentam, ainda, que o parágrafo único do artigo 101, da Lei n 4.215/63 citada,
como embasamento do despacho agravado, não tem o suporte legal que lhe emprestou seu
ilustre prolator, vez que os ora agravantes não eram substabelecidos, mas substabelecentes
com reservas de poderes, inexistindo contrato escrito.
Outro ponto abordado é o de que não podia o magistrado acolher petição dos
advogados que atuaram na segunda instância na presente lide, pleiteando rateio da atualização
monetária dos honorários advocatícios, pois criou uma outra lide, onde as partes litigantes
seriam advogados, o que escapa à sua competência, conforme o artigo 109, inciso I, da
Constituição Federal.
Finalizam por afirmar que, na forma do artigo 584, inciso I, do C.P.C., são
possuidores de um Título Executivo Judicial, que já receberam o principal, e que a atualização
monetária lhes pertence, restando à outra parte, se se sentir prejudicada, promover, no Juízo
competente a ação própria para cobrar o que entender de direito.
A Caixa Econômica Federal não apresentou resposta e, formado o instrumento, o
MM. Juiz manteve sua decisão, remetendo os autos a esta Corte.
Determinei, às fls. 113, a baixa dos autos ao Juízo de origem para que ali fosse
trasladada a certidão de publicação da decisão agravada, bem como fosse aberta vista ao
Espólio de Oscar Bertino de Almeida Oliveira, autor da ação ordinária, a quem mais
interessava o presente recurso.
Foi cumprido o traslado e o espólio quedou-se silente, apesar de publicada a vista
por esta Corte e pela Vara de origem.
É o relatório.
_______VOTO___________________________________________________
___

O presente agravo de instrumento foi tempestivamente interposto por advogados, e


trata de honorários fixados na condenação na ação movida pelo Espólio de Oscar Bertino de
Almeida Oliveira contra a Caixa Econômica Federal.
Inobstante não serem mais os agravantes advogados do mencionado espólio,
exeqüente na ação referida, entendo terem os mesmos legitimidade como terceiros
prejudicados, para interposição do presente recurso, tendo em vista o estatuído no parágrafo 1
do art. 99 da Lei n 4.215/63, a saber:
"Tratando-se de honorários fixados na condenação, tem o advogado ou
provisionado direito autônomo para executar a sentença nessa parte,
podendo requerer que o precatório, quando este for necessário, seja
expedido em seu favor."
Assim sendo, conheço do presente recurso, passando ao exame do mérito.

A decisão agravada tem o seguinte teor:


"Dos honorários advocatícios, havendo controvérsia a respeito de sua
divisão, entendo aplicável a regra prevista no parágrafo único do art. 101
da Lei n 4.215/63.
No caso, conforme a conveniência dos interessados, estes deverão
pleiteá-los através de ação própria em sendo causa estranha a lide destes
autos."
O art. 101 e seu parágrafo único da Lei n 4.215/63, mencionados na decisão
recorrida, estabelecem:
"O advogado ou o provisionado, substabelecido com reserva de poderes,
não pode cobrar honorários sem a intervenção daquele que lhe conferiu o
substabelecimento."
"Os substabelecente e substabelecido devem acordar-se previamente
quanto à remuneração que lhes toca, com a intervenção do outorgante."
Acontece que, como esclarecem os agravantes, tais dispositivos legais não
aproveitam ao seu antigo cliente. Com efeito, não se está a cuidar de questão entre
substabelecido substabelecente.
Conforme se colhe dos elementos constantes dos autos, e não contrariados pelo
interessado, os agravantes funcionaram na aludida ação; primeiramente um deles, desde da
sua propositura, e depois ambos, até serem destituídos após a elaboração de contra-razões da
apelação interposta pela CEF, na fase de liquidação de sentença, quando se discutiu a forma
de incidência da correção monetária.
Colhe-se, também, agora de peças trasladadas, que os alvarás para levantamento da
parte incontroversa da condenação (tanto no que se relaciona a atrasados, como a honorários)
foram expedidos para entrega ao Espólio de Oscar Bertino de Almeida Oliveira, na pessoa de
seu advogado, inscrito na OAB/RJ, sob o n 19.280 (fls. 48,49 e 50), ou seja, um dos
agravantes, que deles passou recibo, como se vê às aludidas fls. 49 e 50, em 04/06/86.
Vencida a CEF em todas as fases e instâncias e já destituídos os agravantes, opõe-se
o Espólio de Oscar Bertino de Almeida Oliveira ao levantamento do remanescente (correção
monetária) dos honorários da sucumbência pleiteado pelos agravantes, nos termos da petição
cuja cópia está às fls. 73 a 76 e na qual diz, em síntese, o seguinte:
1) A procuração e conseqüentes substabelecimentos recebidos pelos mencionados
advogados ficaram revogados, desde 19/09/86, por notificação a eles enviada.
2) Após o levantamento do valor depositado, ditos advogados não mais prestaram
qualquer esclarecimento à inventariante do espólio.
3) Limitaram-se a enviar prestações de contas, com as quais não concordaram a
viúva meeira e os herdeiros.
4) Houve indevida retenção de valores, em montantes que especifica.
5) Os trabalhos profissionais deixaram a desejar, havendo os beneficiários da ação
sofrido prejuízos pela incúria de seus então advogados.
6) Firmaram eles acordo com a CEF, usando dos poderes que detinham, acordo esse
formalizado de forma tão singela, que ensejou a executada a reabrir a discussão, apelando da
sentença homologatória dos cálculos.
7) Por ocasião da interposição de outro agravo de instrumento, tais advogados
cometeram engano, criando impasse, só solucionado com a intervenção dos advogados de
escritórios de Brasília, contratados para acompanhar a causa na instância superior.
8) Fora combinado que os honorários advindos da sucumbência seriam divididos,
em partes iguais, entre os escritórios do Rio de Janeiro e de Brasília, o que não foi cumprido
pelos advogados do Rio.

9) Após a destituição dos advogados do Rio de Janeiro, apenas os de Brasília e o


subscritor da petição acompanharam o feito, sendo, pois, justo que a sucumbência lhes seja
destinada.
Ainda, na mesma petição (cópia de fls. 73/76), noticia a existência de Embargos
Infringentes não mencionados pelos agravantes e volta-se a falar em retenção indevida de
numerário, inclusive devido aos advogados de Brasília, chegando-se, por fim, a requerer que,
na hipótese de não acolhimento de sua pretensão, que, ao menos, seja a metade dos honorários
destinada ao escritório de Brasília, ficando a outra metade com o escritório dos Agravantes,
descontando-se a parte que os advogados (os Agravantes) se apropriaram indevidamente.
Fiz esta remissão à referida petição do Espólio de Oscar Bertino de Almeida
Oliveira, por não haver este se manifestado quanto ao agravo, nem mesmo quando da baixa
dos presentes autos em diligência, que, além de outra providência, teve por objetivo abrir
oportunidade à manifestação do dito espólio (fls. 113 e fls. 118).
Posta a questão nos termos acima, considero que o primeiro ponto a abordar diz
respeito à subsistência do parágrafo 1 do art. 99 da mencionada Lei n 4.215/63, que diz ter o
advogado o direito autônomo para executar a sentença, na parte relativa aos honorários
fixados na condenação - face a regra do art. 20 do C.P.C., que diz que o vencido pagará ao
vencedor os honorários advocatícios.
Entendo que esta norma do C.P.C., malgrado os seus termos, em tempo algum
revogou aquele parágrafo 1 do art. 99 da Lei n 4.215/63. Tal entendimento se robustece ao
se verificar que a Lei 7.346, de 22/07/85, que dá nova redação a vários dispositivos da
4.215/63, inclui dentre aqueles dispositivos o citado art. 99, com a seguinte nova redação:
"Se o advogado ou o provisionado fizer juntar aos autos, até antes de
cumprir-se o mandato de levantamento ou precatório, o seu contrato de
honorários, o Juiz determinará lhe sejam estes pagos diretamente, por
dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar
que já os pagou.
Parágrafo 1 Tratando-se de honorários fixados na condenação, tem o
advogado ou o provisionado direito autônomo para executar a sentença
nessa parte, podendo requerer que o precatório, quando este for necessário,
seja expedido em seu favor.
Parágrafo 2 Salvo aquiescência do advogado ou provisionado, o acordo
feito pelo seu cliente e a parte contrária não lhe prejudica os honorários,
quer os convencionais, quer os concedidos pela sentença."
Ora, ainda que se admitisse haver o art. 20 do C.P.C. de 1973 revogado o várias
vezes referido parágrafo 1 do art. 99 da Lei n 4.215/63, é forçoso convir que através da
acima aludida Lei n 7.346/85, foi ele revigorado. Se, por mera hipótese, algum dia deixou
aquele de viger, voltou ele a vigorar com a edição da já duas vezes mencionada Lei n
7.346/85.
Daí, como primeiro ponto, tenho por certo que tem o advogado o direito autônomo
para executar a sentença quanto aos honorários fixados na condenação, salvo avença em
contrário entre o advogado e cliente.
Outro aspecto que se me afigura de relevância é aquele já esclarecido antes e que
concerne ao levantamento por um dos agravantes do principal dos honorários.
Alegam eles que o acessório acompanha o principal. Ora, na espécie há que se
sinalar que a correção não é acessório, mas o próprio principal traduzido em moeda atual. O
acessório restringe-se ao juro. Uma vez levantado por um dos agravantes a parcela de
honorários de sucumbência, que diz respeito ao débito originário, acrescido de parte da
correção e dos juros, torna-se inafastável o direito deles ao levantamento da atualização
remanescente sobre a qual pendia a controvérsia.

A propósito, observe-se, ainda, que não existe, nos autos, alegação de que os
honorários da sucumbência tocariam, por força de acordo ao cliente. O que se diz é que tais
honorários seriam partilhados pelos agravantes com advogados que teriam funcionado na
Instância Superior. Se entendimento existiu a tal respeito, é matéria estranha a estes autos.
Por fim, noto que, pelos elementos integrantes deste recurso, os agravantes atuaram
nos autos da ação principal até a apresentação, inclusive, das razões de apelado, no derradeiro
recurso interposto pela CEF, em que se discutiu a forma de correção monetária (fls. 52 a 61).
Por último, cumpre ainda observar que não há suficiente demonstração de que os
agravantes tenham retido, indevidamente, importância pertencente ao seu antigo cliente.
Se, acaso tal fato houver ocorrido, sem dúvida poderá o espólio de Oscar Bertino de
Almeida Oliveira acionar os agravantes, bem como contra os mesmos representar perante o
órgão de classe.
Porém, sem uma comprovação de tal conduta irregular, outra alternativa não se
apresenta senão a de dar provimento ao presente agravo, para cassar a decisão agravada e
autorizar o levantamento pleiteado pelos agravantes, através do competente alvará, que deverá
ser, oportunamente, expedido pelo MM. Juízo de 1 Grau, nos autos principais.
É como voto.

VALMIR PEÇANHA
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
CELSO GABRIEL REZENDE PASSOS
Celso Gabriel de Resende Passos nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, a 28 de março de
1927. Filho de Gabriel de Resende Passos e Amélia Gomes de Resende Passos, casado com
Marilda Mello de Rezende Passos. Fez o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena, em
Belo Horizonte, o curso ginasial no Colégio São José (Internato), no Rio de Janeiro, e
concluiu o Clássico no Colégio Andrews no Rio de Janeiro, cidade onde graduou-se em
Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, em 1950, sendo eleito
orador da Turma. Em 1952, doutorou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Paris
como bolsista do Governo Francês.
Advogado militante desde 1950, membro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil (1979 a 1987) e do Instituto dos Advogados Brasileiros, Celso Passos foi Vice-
Presidente da Union Internationale des Avocats e membro da Comissão da Terra do
Conselho Federal da OAB para visitas às áreas de conflito relativo à Reforma Agrária.
Como correspondente estrangeiro do jornal "Vanguarda" do Rio de Janeiro, cobriu os
trabalhos da primeira Assembléia Geral da O.N.U., realizada em Paris, e durante os dois anos
seguintes manteve coluna sobre fatos diversos, a partir da capital francesa, onde residiu até
sua volta ao Brasil, em 1953.
Em 1955 ingressou no serviço público federal como Assistente de Procurador Geral da
República e, sucessivamente, Procurador-Adjunto, Procurador da República de 3, 2 e 1
Categoria. Promovido a Subprocurador-Geral, exerceu as funções de Procurador-Chefe da
Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro.
No Poder Executivo, foi Chefe do Gabinete do Ministro das Minas e Energia, pasta em que
atuou posteriormente como Secretário de Estado e Ministro.
No Legislativo, elegeu-se Deputado Federal em Minas, em 1962, reelegendo-se em 1966. No
exercício parlamentar ocupou a Vice-Presidência da Comissão das Minas e Energia e da
Comissão de Inquérito que investigou a compra da American Foreign Power. Em outras
Comissões Parlamentares, na condição de Relator, estudou e examinou o problema da
siderurgia e energia atômica no Brasil, assim como a instalação de centrais nucleares.
Em março de 1989, foi nomeado na vaga do Ministério Público para integrar o Tribunal
Regional Federal da 2 Região, onde hoje é membro da 3 Turma e da Comissão do Regimento
Interno.
Entre seus trabalhos publicados destacam-se "Liberdade Valor Perene" (1950), "O
Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais" e "A Política do Minério de Ferro", ambos editados,
em 1964 e 1965 respectivamente, pela Câmara dos Deputados e "Comentários à Constituição
Federal, editado em 1989 pelas Edições Trabalhistas, além de vários trabalhos publicados na
Revista da Ordem dos Advogados do Brasil (Conselho Federal).
Como Procurador da República seus trabalhos de maior ressonância estão entre os Pareceres
em Mandado de Segurança (Intervenção e Liquidação de empresa do Grupo Delfin - 1984;
Área de Preservação Ecológica, duna de Cabo Frio - 1984; Incompetência da Justiça Federal
para julgar mandado de segurança de servidores do TRT contra seu Presidente - 1984 e
Sistema Financeiro da Habitação - 1985) Ressaltam-se ainda : Promoção em Ação de
Nunciação de Obra Nova (cabimento de ação, quando interposto pela União Federal - 1984;
Razões de Apelação (Pensão Militar - 1984) e Contestação à ação ordinária (Lei do Selo -
1960).

________EMBARGOS INFRINGENTES EM APELAÇÃO


CÍVEL_________

REGISTRO N 89.02.01725/7

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Celso Gabriel de Rezende Passos


Embargante: União Federal
Embargado: José Rubem Fonseca

________EMENTA__________________________________________

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - CENSURA A OBRA LITERÁRIA


COM PROIBIÇÃO DE NOVAS EDIÇÕES, CIRCULAÇÃO E VENDA DO
LIVRO - INDENIZAÇÃO POR DANOS PATRIMONIAIS E PESSOAIS.
- José Rubem Fonseca, renomado escritor, por determinação do Ministro da Justiça,
teve apreendidos os numerosos exemplares de seu livro "Feliz Ano Novo" postos à
venda, com impedimento de novas edições, circulação e venda de sua obra.
- A Carta Constitucional de 1969, em seu art. 153. parágrafo 8, já assegurava a livre
expressão de pensamento sem censura prévia.
- A alegação de que o livro questionado atentava contra a moral e os bons costumes
não prevaleceu na sentença de primeiro grau, entendendo seu prolator que o ato
administrativo era vinculado e assim estaria sujeito ao reexame judicial, concluindo
que o livro constituía incitamento à violência.
- O ato administrativo procurou fundamento no Decreto-Lei n 1077, de 21/01/70, e
sua aplicação ao caso constituiu verdadeira consura prévia, agredindo a própria carta
constitucional vigente ao tempo do regime discricionário.
- A censura prévia só era aplicável a espetáculos e diversões públicas e nunca sobre
livros, revistas e jornais.
- Segundo a melhor doutrina (Pontes de Miranda, Ruy Barbosa e Josaphat Marinho,
entre outros), o Decreto-Lei 1077 é a afirmação da censura do Estado, contra a
liberdade de pensamento, proclamada na Constituição.
- Inequívoco que o autor da obra em questão sofreu dano moral e material, sem falar
na sua imagem, distorcida perante a opinião pública, cabendo-lhe reparação
mediante indenização, como apurado na liquidação do julgado.
- Embargos conhecidos, porém rejeitados, em decisão por maioria.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e Relatados os presentes autos em que são partes as acima mencionadas:


Acordam os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
rejeitar os Embargos, nos termos do voto do relator.
Vencida a Desembargadora Federal Julieta Lídia Lunz.
Ausente o Desembargador Federal Chalu Barbosa.

Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1990 (data do julgamento).

ROMARIO RANGEL CELSO PASSOS


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator
________RELATÓRIO____________________________________________
__

O Exmo. Sr. Desembargador Federal CELSO GABRIEL DE REZENDE PASSOS


(Relator): Cuida-se de embargos infringentes opostos pela União Federal contra o v. acórdão
da 2 Turma deste Tribunal, da lavra do Em. Desembargador ALBERTO NOGUEIRA, que
assim se acha ementado:
"CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CENSURA À OBRA
LITERÁRIA. PEDIDO PARA QUE SE DECLARE A
INSUBSISTÊNCIA DE DESPACHO QUE PROÍBE A EDIÇÃO,
CIRCULAÇÃO E VENDA DO LIVRO "FELIZ ANO NOVO" NO
TERRITÓRIO NACIONAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS
PATRIMONIAIS E PESSOAIS.
I - No regime da Carta de 1967, a liberdade de edição de livros, jornais e
periódicos já era total, devendo a censura se ater ao exame e restrição de
circulação de publicações clandestinas, marginais e
apócrifas, que possam estar aptas a chegar a leitores que, em razão de sua
idade, principalmente, não estejam preparados e nem procuram aquela
leitura, sem que isso se deturpe no impedimento do acesso da população ao
meio de cultura intelectual-literária.
II - A não liberação da obra, com base no Decreto-lei n 1.077/70,
constituiu-se em verdadeira censura prévia, mera manifestação do poder
arbitrário e presunçoso de custodiar a sociedade brasileira, o que agride por
inteiro o parágrafo 8, do artigo 153, da Constituição de 1967, então
vigente.
III - Ocorrido dano moral, com reflexo patrimonial, a ensejar reparação
pela via indenizatória.
IV - Recurso provido, fixados os honorários advocatícios em 10% (dez por
cento) do valor da condenação."
Inconformado com o r. decisum do v. aresto, interpôs a União Federal, através do
insigne Procurador da República, Dr. EDUARDO WEAVER DE VASCONCELLOS
BARROS, embargos infringentes, sustentando a juridicidade do Voto vencido proferido pela
digna Desembargadora Federal JULIETA LÍDIA LUNZ que, relativamente à espécie, assim
se manifestou à fl. 416:
"...certo é que inobstante o ato contra o qual se insurge o recorrente, está
editado o indigitado livro, há mais de dez anos, por conseguinte não teria
sido vulnerado seu pretenso direito, e considerado ainda que tal edição se
efetivou no curso da lide, a lhe alterar substancialmente o pedido inicial."
Os embargos foram regularmente deferidos, em decorrência do despacho de fls. 435.
Dada vista ao embargado, opôs o mesmo contra-razões, que se acham acostadas às
fls. 441/454 dos presentes autos.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___
O Exmo. Sr. Desembargador Federal CELSO GABRIEL DE REZENDE PASSOS
(Relator): Cumpre notar que já a Carta Magna de 1969, em seu artigo 153, parágrafo 8,
assegurava a livre manifestação do pensamento independentemente de censura prévia,
despontando de forma cristalina do mencionado diploma legal, que não careceria de licença
da autoridade a publicação de livros, jornais e periódicos, somente exigível relativamente a
diversões e espetáculos públicos.
Como se verifica, em relação às manifestações do pensamento em geral, não foi o
Poder Público autorizado a violar ou constranger consciências para ditar-lhes os parâmetros
de sua divulgação, antes de tornadas do conhecimento público as idéias que teriam inspirado a
edição do texto publicado pelo autor.
A admitir-se tal interferência, sobremaneira ilógica, irracional mesmo, seria o tão
anômalo procedimento que, inclusive, implicaria em cerceamento da liberdade de expressão,
com a evidente e inconcebível quebra do ineditismo de que, necessariamente, há de se revestir
toda e qualquer obra literária.
Para prevenir eventuais abusos, é que nos termos da Lei foi prevista a apuração de
responsabilidade; logo, impossível antecipar-se tal responsabilidade antecedentemente à
constatação ou não do abuso praticado. Não dependendo a edição da obra de qualquer licença
para tanto, não há como se entender e admitir "censura prévia"...
Vale referir, em abono a esse entendimento, o que ensina o insigne PONTES DE
MIRANDA, in "Comentários sobre a Constituição Federal", tomo V, 1968, págs. 141, 151 e
153, verbis:
"A cesura prévia (pré-censura) só se permite em se tratando de espetáculos
e diversões públicas, isto é, não se conhece censura de livros, revistas e
periódicos."
Também RUY BARBOSA, em ensinamento sobremodo oportuno, não deixou
dúvidas quanto à liberdade do exercício do direito, senão prevendo sua sanção tão-somente
quando efetivamente transgredido o mesmo, quando aduz que:
"Não se pode obstar ao uso do direito: - Pune-se a infração cometida." (In
"Campanhas Jornalísticas - Obras Seletas" - N VII - República - 2 Vol.
1956 - pág. 79.)
Por todo o exposto, conclui-se que o ato praticado pelo Exmo. Sr. Ministro da
Justiça, com fulcro no Decreto-Lei n 1.077, de 26/01/70, agride frontalmente a Constituição
Federal revogada, ao tempo em que não encontra respaldo sequer na vigente Carta Magna. O
Decreto-Lei baixado exorbita, de modo indelével, dos limites estabelecidos pela Constituição.
Não a executa; em verdade, a desrespeita.
Convém, por derradeiro, lembrar a lição do Mestre JOSAPHAT MARINHO,
professor catedrático de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade da
Bahia, que discorrendo sobre o assunto, assim se manifesta, através de parecer publicado na
"Revista de Direito Público", vol. XIII, págs. 109/113:

"O decreto-lei n. 1.077 é a afirmação descompassada da censura do Estado,


contra a liberdade de pensamento proclamada na Constituição. O texto
explícito do ato abusivo não permite as atenuações com que pretendem
alguns explicar-lhe o alcance. Realmente coage a inteligência, devassa-lhe
a força criadora e informativa, no livro, nas revistas, nos jornais, sem
exceção. A título de perseguir publicações e exteriorizações imorais, já
atingidas por leis penais e pela lei de imprensa, submete todas as formas de
expressão das idéias à verificação prévia e ao arbítrio de autoridades
policiais e administrativas. Irrestritamente, a Polícia é investida da tarefa de
censurar e o Ministro da Justiça da competência de punir, à revelia do
Poder Judiciário. Eis o que está nos dispositivos inquisitoriais.
Por isso mesmo, a verdade escrita, e não a presumida ou disfarçada, é que
há de servir de suporte ao exame do instrumento editado, que ofende,
tiranicamente, a Constituição e as tradições liberais do pensamento jurídico
nacional."
Deve ser salientado que o Embargado sofreu dano moral e material, com a apreensão
de edições de seu livro, já postos a venda, além da proibição de novas edições, circulação e
venda de sua obra, por largo espaço de tempo, sem falar na sua imagem distorcida perante a
opinião pública. Parece-me inequívoco que cabe ao Embargado reparação mediante
indenização, como apurado for na liquidação do julgado. Até mesmo a vigente Constituição
Federal prevê tal indenização, como se lê no art. 5, V:
"V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;"
Assim é que, sufragando o Voto do eminente Desembargador Relator ALBERTO
NOGUEIRA, que considerei com as lúcidas manifestações do Des. D'ANDRÉA FERREIRA
e do eminente Procurador da República que atuou na sessão de julgamento, Dr. JUAREZ
TAVARES, conheço dos embargos, porém, no mérito, os rejeito.
É como voto.

CELSO PASSOS
Desembargador Federal

________APELAÇÃO
CÍVEL________________________________________
arquivo original - set/996 - geração: notlih do valle filho - editoraçào: ramanal pimenta
REGISTRO N 90.02.23127-0/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Celso Gabriel de Rezende Passos


Apelante: Instituto de Administração Financeira da Prev. e Assist. Social - IAPAS
Apelado:Empresa Gráfica O Cruzeiro S/A

________EMENTA________________________________________________
__

EXECUÇÃO FISCAL - PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE -


INAPLICABILIDADE DO ART. 29 DO DECRETO-LEI 2.303/86 AOS
CRÉDITOS PREVIDENCIÁRIOS (SÚMULA 01/TRF/2 REGIÃO) - O
DECRETO-LEI N 1793/80 NÃO VEDA O PROSSEGUIMENTO DAS
EXECUÇÕES FISCAIS.
- Neste julgado, com voto preliminar, foi rejeitado alegação de prescrição
intercorrente.
- No mérito, a Súmula 01 deste Tribunal estabeleceu ser inaplicável aos créditos
previdenciários o art. 29 do Decreto-Lei n 2.303 e quanto ao Decreto-Lei n
1793/80, entende a jurisprudência desta Egrégia Turma, que o mesmo não
determinou o arquivamento das execuções fiscais ajuizadas antes de sua vigência.
- Rejeitada, por unanimidade, a argüição de prescrição intercorrente e quanto ao
mérito, deu provimento ao recurso para que se prossiga na execução.
________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à unanimidade,
rejeitar a argüição de prescrição intercorrente levantada em contra-razões de apelação e,
apreciando o mérito, dar provimento ao recurso do IAPAS para que se prossiga na execução,
nos termos do voto do Relator, que foi acompanhado pelos Exmos. Srs. Des. Federais
ARNALDO LIMA e VALMIR PEÇANHA.

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1991 (data do julgamento).

NEY VALADARES CELSO PASSOS


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

O Exmo. Sr. Juiz CELSO GABRIEL DE REZENDE PASSOS (Relator): Trata-se de


Apelação Cível em Execução Fiscal promovida pelo INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL contra EMPRESA
GRÁFICA O CRUZEIRO S/A.

O MM. Dr. Juiz de primeira instância julgou extinta a execução, tendo em vista o
cancelamento dos débitos fiscais de valor originário igual ou inferior a Cz$ 500,00
(quinhentos cruzados), ou consolidado igual ou inferior a Cz$ 10.000,00 (dez mil cruzados),
em consonância com o estabelecido no art. 29, itens I e II, do Decreto-Lei n 2.303/86. E,
também, por entender que o Decreto-Lei n 1.793/80 "declarou FALTAR INTERESSE DE
AGIR ao Estado nessas ações de pequeno valor, na medida em que determinou o não
ajuizamento de ações pelos Entes Públicos que enumera." (sic - fls. 48).
Irresignado, apelou o IAPAS, às fls. 52/55.
Contra-razões às fls. 60/66, arguindo, em preliminar, prescrição qüinqüenal
intercorrente que afetaria a exigência e cobrança do crédito previdenciário.
É o relatório.

________VOTO
PRELIMINAR_______________________________________

O Exmo. Sr. Desembargador Federal CELSO GABRIEL DE REZENDE


PASSOS (Relator): Em suas razões de Apelada, a Empresa Gráfica O Cruzeiro S/A suscita
preliminar de prescrição com alegado suporte no art. 174 do Código Tributário Nacional.
Sabedora de que, no mérito, sua pretensão de não satisfazer seu débito
previdenciário estaria fulminada pela Súmula n 01 deste Egrégio Tribunal, procura a extinção
do processo, por via de preliminar inteiramente fora de propósito.
Com efeito, ao longo deste processo de execução ajuizada em 01/10/80, procurou a
Apelada delongar seu desfecho através de tortuosa conduta.
Com efeito, desde o início do processo a Apelada fugiu à citação, como se vê às fls.
8, compelida a MM. Dr Juíza a requisitar os serviços da Polícia Federal (fls. 21), além de
expedir mandados de citação pelo Correio, com AR e diligências do Sr. Oficial de Justiça (fls.
9). Somente em 22/07/81, veio a Apelada aos autos, ou seja, retardou por 9 (nove) meses o
andamento regular do processo. Ao vir aos autos, a Apelada afirma que solicitara o
sobrestamento de todas as execuções contra ela movidas, até final liquidação judicial de
Dação em Pagamento do prédio da Rua do Livramento 109/191 (fls. 14 e 16). Da penhora foi
intimada a Apelada em 07/12/82 (fls. 28 e 29), não oferecendo embargos, informando a Seção
de Registro Geral e Controle de Avaliações que o mesmo imóvel da Rua do Livramento,
oferecido como Dação em Pagamento, fora penhorado em 8 (oito) Execuções (fls. 31 e 31v.).
O MM. Dr. Juiz, em despacho de fls. 32, considerando a não apresentação de
embargos, determinou o prosseguimento da execução, fixando honorários de 10% do valor
atualizado da dívida. Permaneceu inerte a Apelada, alheia a todos os despachos que implicaria
em manifestações suas, prosseguindo, extra-autos, em sua manobra de composição com o
IAPAS, levando este a pedir suspensão do curso da execução (fls. 36/37, 39/41).
Apresentando o esboço de conta atualizado para o prometido acordo, o IAPAS pediu em
12/09/89, o prosseguimento do processo "tendo em vista o desinteresse da Executada em
usufruir do parcelamento" (fls. 43/44). Com tal expediente, ou seja, comprometeu-se a dar em
pagamento o imóvel já referido, a Apelada deu causa a um retardamento de 8 anos, 11 meses
e 16 dias, desde 28/07/81 (fls. 14), data de seu primeiro pronunciamento nos autos, até
06/07/90, quando voltou aos autos pela segunda e última vez, ainda na primeira instância (fls.
57).
Atrasou pois a Apelada o andamento do feito, pela sua maliciosa inércia, pelo não
atendimento aos despachos e pelo engodo de uma dação em pagamento de imóvel, objeto de 8
(oito) penhoras. Representa tal retardamento, como acima ficou esclarecido, ou seja, uma
delonga de 8 anos, 11 meses e 16 dias, muitas vezes superior aos 5 anos e 5 meses que a
Apelada, em contagem obliterada, pretende em suas razões para obter a extinção do feito.

Tornado claro e iniludível que toda a demora na tramitação do processo resultou do


procedimento da ora Apelada, nitidamente protelatório, chega-se a conclusão de que a
invocação do art. 174 do C.T.N. não lhe aproveita. Com efeito, o Parágrafo Único do citado
dispositivo legal, em seu inciso IV, prevê a hipótese de interrupção da prescrição - se
prescrição houvesse, o que se nega - quando
"por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor".
Desde que, pela primeira vez, em 22/07/81 (fls. 14) falou nos autos, a Apelada
reconheceu seu débito, tanto que estava "ultimando composição com o IAPAS, que visa à
satisfação de todos seus débitos com a Previdência Social" (sic-fls. 14, item "a"). Ainda mais,
embora intimada para ciência da penhora e depósito em 07/12/82, não apresentou embargos
nem manifestou-se sobre a avaliação constante do laudo de fls. 29. De igual forma,
permaneceu silente quando do despacho que determinou o prosseguimento da execução e
fixou honorários de advogado em 10% do valor atualizado da dívida, por não ter apresentado
embargos a penhora (fls. 32) tal despacho foi publicado em 14/4/1983, ignorando-o a
Apelada, como a todos os demais, só voltando a falar, pela segunda e última vez, em primeira
instância, às fls. 57, em 06/07/90, pedindo juntada de procuração.
Em última análise, as razões e os dados abordados pela Apelada, como se
demonstrou e o comprovam as peças do processo, são inconsistentes e apenas demonstram
que, por atos e manobras, desenvolvidos extra-autos, e inerte - "et pour cause" - no processo
judicial, o propósito único da devedora foi o de, delongando o curso processual, fugir ao
pagamento de seu débito, através preliminar de prescrição absolutamente incabível.
Por todo o exposto, rejeito a preliminar de prescrição.
NO MÉRITO
A matéria em discussão nestes autos não merece maiores considerações, tendo em
vista a edição da Súmula n 01, deste Egrégio TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL - 2
Região, que assim dispõe:
"O art. 29 do Decreto-Lei n 2.303 de 1986, não se aplica aos créditos
previdenciários".
Quanto à aplicação do Decreto-Lei n 1793/80, é entendimento desta Corte que o
disposto neste diploma legal não retira da autarquia o seu interesse de agir nas execuções
fiscais já propostas, tratando-se, tão-somente, de faculdade ao Poder Executivo com relação
ao seu ajuizamento, não podendo o Juiz, decretar a extinção do feito.
Pelo exposto, dou provimento à Apelação do IAPAS, para que prossiga a execução.
É como voto.

CELSO PASSOS
Desembargador Federal

________HABEAS
CORPUS__________________________________________

REGISTRO N 89.02.13136-0/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Celso Gabriel de Rezende Passos


Impetrante: Arnaldo Malheiros Filho
Impetrado: Juiz Federal da 13 Vara/RJ
Paciente:Eduardo da Rocha Azevedo

________EMENTA________________________________________________
__

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE AÇÃO


PENAL. ART. 3, VI, LEI N 1521/51.
- Alegações de inépcia da denúncia e falta de justa causa rejeitadas.
- Impossibilidade de discutir matéria de tipicidade que exige dilação probatória, em
habeas-corpus.
- A doutrina, bem como a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do próprio
Tribunal Regional Federal da 2 Região (Proc. n 89.02.10201-6 - D.J. de 07/11/89)
impedem o exame de provas em processo de Habeas Corpus, visando trancamento
da ação penal em curso no Juízo de 1 Grau.
- Ordem que se denega em decisão unânime.
________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à unanimidade,
denegar a ordem. Os Exmos. Srs. Juízes ARNALDO LIMA e VALMIR PEÇANHA
acompanharam o voto do Relator.

Rio de Janeiro, 18 de abril de 1990.

NEY VALADARES CELSO PASSOS


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

O Exmo. Sr. Desembargador Federal CELSO GABRIEL DE REZENDE PASSOS


(Relator): O advogado ARNALDO MALHEIROS FILHO impetra nesta Corte ordem de
HABEAS CORPUS em favor de EDUARDO ROCHA AZEVEDO, indicando como
autoridade coatora o MM. Dr. Juiz da 13 Vara Federal desta Seção Judiciária, que recebeu a
denúncia contra o Paciente, imputando-lhe a prática de delito previsto no art. 3, VI, da Lei n
1.521/51.

O presente habeas corpus teve distribuição automática à E. 2 Turma, a qual, por


maioria, deu-se por incompetente à luz do art. 10, do Regimento Interno deste Tribunal,
remetendo os autos a esta 3 Turma, cuja redistribuição efetivou-se (fls. 239v.), em seguida a
mim conclusos (fls. 240).
Os fundamentos da presente impetração lastreiam-se no seguinte:
1) Inépcia da denúncia, por descrever condutas contraditórias, e;
2) Falta de justa causa, por inexistir prova de que tenha o paciente
realizado a ação tida como criminosa e porque a conduta a ele imputada
não se adequa a figura típica apontada no art. 3, VI, da Lei n 1521/51,
pelo que espera o trancamento da Ação Penal.
Solicitadas as informações, prestou-as o digno magistrado às fls. 192/194, dos autos.
Os autos foram ao MPF, que, em judicioso parecer de fls. 200/211, sustentou a
legalidade da denúncia recebida, pugnando, ainda, no mérito, pela denegação da ordem
impetrada.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O Exmo. Sr. Juiz Dr. CELSO GABRIEL DE REZENDE PASSOS (Relator): Os


bem lançados fundamentos contidos no douto parecer emitido pelo Ilustre membro do MPF,
Dr. JUAREZ TAVARES (fls. 200/211) e que ora incorporo ao meu voto, são por demais
elucidativos no que concerne ao descabimento do pedido. Em última análise, visa o
Impetrante o trancamento da Ação Penal em curso na 13 Vara Federal da Seção Judiciária
deste Estado.
QUANTO À ALEGADA INÉPCIA
Pretende o Impetrante ser inepta a denúncia, visto que o Paciente agira no sentido de
evitar a continuidade dos financiamentos D-O, em desacordo com as imputações cometidas
pelo MPF aos co-Réus NAGI ROBERT NAHAS e ELMO CAMÕES FILHO,
respectivamente, cujas condutas foram no sentido de se utilizarem dos mencionados
financiamentos sem as devidas garantias.
Com isso, o Impetrante considera lícita a conduta do Paciente, porque destinava-se a
evitar a concentração de ações no mercado da Bolsa de Valores, responsabilidade que,
segundo a lei, é da C.V.M.
Porém, a imputação real ao Paciente é um atuar por meios enganosos, no sentido de
promover a baixa das ações, acarretando prejuízos ao seu concorrente na Bolsa de Valores do
Rio de Janeiro, com o cancelamento efetivo dos financiamentos D-O concedidos a NAGI
NAHAS, com a paralisação de compra e venda de ações na Bovespa e disto nos dão prova os
autos.
Assim, o que se atribui ao Paciente não é incompatível com o que se lançou aos
co-Réus, visto tratar-se de comportamentos delituosos diversos.
E, para se aferir dito comportamento, há que existir um juízo de valor, o que
demanda um exame aprofundado da prova, incabível em sede de Habeas Corpus.
É, como ensina TOURINHO FILHO, em seu fetejado "Processo Penal" (págs.
476/477 - Vol. 1, 9 Edição):

"No despacho de recebimento da denúncia ou queixa, além de dever o Juiz


analisar a peça acusatória sob o aspecto formal e sob o prisma da
viabilidade do direito de ação, cumpre-lhe investigar a existência dos
pressupostos da relação processual. Devendo ele, nos termos do art. 251,
do CPP, "prover a regularidade do processo", e, se a falta de um
pressuposto da relação processual traz consigo a inexistência ou a nulidade
de todo o processo, ab initio, pela irrelevância jurídica ou pela invalidade
de origem, da própria relação, como bem diz Tornaghi (A relação, cit., p.
50), cumpre-lhe, nesse despacho de recebimento da peça acusatória, que
envolve um juízo de admissibilidade da demanda, reparar se a relação
jurídico-processual, que tende a ser instaurada, é ou não viável. Spiezia
observa que os pressupostos processuais são os antecedentes necessários à
existência e validez do processo e, daí, as duas espécies de pressupostos: de
existência e de validade (cf. Teoria, p. 354)".
Ressalte-se, por oportuno, que, ao receber a denúncia (fls. 41/42), observou o digno
magistrado, tido como coator, os pressupostos de admissibilidade.
Acresce, como bem salientou o ilustre Desembargador Federal D'ANDRÉA
FERREIRA, ao se pronunciar às fls. 233:
"Por outro lado, as informações sustentam que o habeas corpus não deve
ser condedido porque, se reconhecêssemos a inépcia da denúncia, pelo fato
de não constituir crime a ação do paciente, pela imcompossibilidade das
duas situações, uma antinômica em relação à outra; se nós
reconhecêssemos a procedência do habeas corpus, e concedêssemos a
ordem, estaríamos retirando do processo originário alguém que, tendo em
vista a sua atuação, poderia vir a ser, efetivamente, declarado culpado, se
os outros réus viessem a ser absolvidos."
Logo, não há como se aceitar a argumentação do Impetrante, pois lhe falta o direito,
desvanecendo a decantada inépcia.
QUANTO À AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
O outro e último pretendido suporte do pedido, consiste na alegação da ausência de
justa causa para responder aos termos da ação penal perante o Juízo da 13 Vara Federal desta
Seção Judiciária.
A falta de justa causa ocorreria por inexistir prova de que haja o Paciente realizado
ação criminosa e, também, porque o fato a ele imputado não se amolda à figura típica
invocada, ou seja, o inciso VI, do art. 3, da Lei n 1.521/51.
Mais uma vez, incorre o Impetrante em equívoco, porquanto, como esclarecido no
douto parecer do MPF, a matéria carece de juízo de análise, ponderação e valoração da prova,
incabível no procedimento especial de habeas corpus.
Não é de se discutir matéria de tipicidade penal, que exige dilação probatória,
tornando o pedido de habeas corpus inviável nos estreitos limites do remédio intentado.
Neste passo, permito-me tomar por empréstimo, palavras do ilustre e lúcido Juiz
VALMIR PEÇANHA, em voto proferido no julgamento do Habeas Corpus n
89.02.10207-6, impetrado em favor de JOSÉ CARLOS CORRÊA KANAN. Esta E. Turma,
ao julgar tal caso, decidiu, por unanimidade, com o voto deste Relator e dos eminentes Juízes
ARNALDO LIMA e VALMIR PEÇANHA denegar o pedido que visava o trancamento da
Ação Penal, no mesmo processo a que responde o Paciente. O acórdão respectivo está
publicado no DJ de 07/11/89 e reproduzido no Ementário deste Tribunal, pág. 4, relativo ao
mês de novembro de 1989, destacando-se o voto do emérito Juiz VALMIR PEÇANHA:
"Os fatos da Ação Penal instaurada a respeito do chamado caso NAGI
NAHAS são, sem dúvida, de grande complexidade, não permitindo um
exame antecipado a isentar o paciente de qualquer culpabilidade,
propiciando-lhe o trancamento da Ação Penal. A prudência recomenda
exatamente o contrário, ou seja, que se proceda a mais ampla apuração dos
fatos e dos envolvimentos dos acusados das ações delituosas. E, tal
apuração implicará numa ampla dilação probatória e só, a final,
possibilitará uma conclusão acerca das alegações feitas pelo impetrante."

A hipótese do habeas corpus, requerido a favor de JOSÉ CARLOS CORRÊA


KANAN é análoga, senão idêntica a do presente pedido, pois num e noutro o objetivo era e é
um só - o trancamento da Ação Penal. Em conseqüência, ao denegar este habeas corpus a E.
Turma estará confirmando entendimento por ela já firmado.
Por outro lado, verifica-se dos autos que o crime imputado ao Paciente configura-se
em lesões ao patrimônio individual, bem como aos interesses supra-individuais, os quais
atingem a atividade interventora e reguladora do Estado na Economia, conforme de há muito
ensinado por DIETEMANN.
Em verdade, os efeitos causados pelo chamado caso NAGI NAHAS verificaram-se
em cadeia e, no arrastão do fechamento de empresas, ocorreram demissões de empregados e
prejuízos tanto às Corretoras e Distribuidoras como, também, e, principalmente, à própria
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Pretender eximir-se da ação, considerando tal procedimento como não passível de
investigação penal, é fazer pouco do Poder Judiciário ou situar-se acima dele.
Vale, a propósito, salientar o depoimento prestado por LUIZ CARLOS DE
VESCOVI PLASTER, Diretor e Vice-Presidente do Grupo Planibank, noticiado às fls. 51,
demonstrando que o Paciente
"no dia 7 de junho esteve na Planibank e em conversa com a diretoria do
grupo disse que a Bovespa havia detectado concentração na ponta
compradora e que ele solicitava ao Planibank que não realizasse operações
de financiamento na Bolsa de São Paulo'".
Tanto basta para demonstrar o envolvimento direto e inequívoco do Paciente
justificando o procedimento penal a que responde.
Outrossim, o pedido de trancamento não resiste ao mais perfuntório exame,
consoante jurisprudência mansa e pacífica de nossos Tribunais, salientando-se, in casu, a do
Colendo Supremo Tribunal Federal:
"Se o fato narrado na denúncia constituiu crime, em tese, não há que falar
em falta de justa causa para o processo." (Rev. Forense, vol 162, pág. 352;
vol. 175, pág. 390).
E mais:
"Se o fato imputado constituir crime em tese, inalegável é a falta de justa
causa, autorizando a circunstância o indeferimento do pedido." (Rev.
Forense, vol 134, pág. 537).
Por derradeiro:
"Só ocorre falta de justa causa quando o ato denunciado é indiferente à
ordem jurídica." (Rev. Forense, vol. 178, pág. 35).
Em última análise, deve ser assinalado que o Paciente está em liberdade, em tal
condição podendo se defender nos autos da Ação Penal, sem qualquer constrangimento. O
que não é possível, nem legítimo, é excluir-se, ele, do processo a que responde, consideradas
as circunstâncias que caracterizam seu procedimento, passível de sanção penal.
Assim, reportando-me ao esclarecido parecer do Ministério Público Federal, que
adoto como parte das razões de decidir, invocando a prova dos autos, a doutrina e a
jurisprudência da mais alta Corte de Justiça deste País, com fundamento no art. 3, VI, da Lei
n 1521/51, denego a ordem, não concedendo o Habeas Corpus.
É como voto.

CELSO PASSOS
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
SÉRGIO D'ANDRÉA FERREIRA
Filho de LAURO BARBOSA FERREIRA e de HAYDÉE DE ANDRÉA FERREIRA, nasceu
em Copacabana, no Rio de Janeiro, sendo casado com LÚCIA GALVÃO DE ANDRÉA
FERREIRA e tendo 3 filhos: EDUARDO, CRISTINA E FERNANDO; e uma neta, LAURA.
Sua formação escolar deu-se nos Colégios Anglo Americano e Mello e Souza, tendo-se
bacharelado pela Faculdade de Direito da então Universidade do Estado da Guanabara, na
qual obteve prêmio por ter sido o 1 colocado em todas as séries do curso, com a maior média
final já alcançada naquela academia, assim como os títulos de Doutor em Direito e de
Livre-Docente.
Tem lecionado Direito Administrativo (na UERJ, USU, FGV), sendo Professor Titular.
Advogado militante até sua posse no Tribunal Regional Federal da 2 Região, em sua
composição originária e em vaga destinada à classe; membro do Instituto dos Advogados
Brasileiros e de outras associações culturais; foi integrante do corpo jurídico da LIGTH -
Serviços de Eletricidade S.A., e parecerista, tendo, como inscrito na OAB - RJ, sido laureado
nos Concursos Jurídicos "Targino Ribeiro" e "Cândido de Oliveira Neto".
No Ministério Público Estadual, em que ingressou por concurso público de provas e títulos (1
colocado), exerceu os cargos de Defensor Público, Promotor, Curador, Subprocurador-Geral e
Procurador-Geral de Justiça.
É autor, dentre outros, dos livros Comentários à Constituição Federal de 1988, As Fundações
de Direito Privado Instituídas pelo Estado, Direito Administrativo Didático, O Direito de
Propriedade e as Limitações e Ingerências Administrativas, A Técnica da Aplicação da Pena
como Instrumento de sua Individualização, Pricípios Institucionais do Ministério Público e
Lições de Direito Administrativo; bem como de cerca de 90 artigos e pareceres publicados em
diferentes revistas jurídicas, entre as quais a Revista Forense, de Direito Administrativo e de
Direito Público.
Participante de mais de 100 cursos, congressos, seminários, encontros e bancas de concurso
(inclusive para o cargo de Juiz Federal), tem proferido palestras e conferências, no País e no
Exterior.
Foi agraciado com o "Colar do Mérito Judiciário", outorgado pelo Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro.
No Tribunal Regional Federal da 2 Região, é membro de sua 2 Turma e da Comissão de
Regimento.

________APELAÇÃO
CRIMINAL____________________________________

REGISTRO N 89.02.02072-0

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal D'Andréa Ferreira


Apelante: Adilson Ferreira Glória
Apelado:Ministério Público

________EMENTA________________________________________________
__

Inexistência de crime continuado. Caracterização do crime do art. 334, parágrafo 1,


c, do CP. "Camelô" que recebe e vende, com habitualidade, mercadorias de
procedência estrangeira, tendo ciência de que se trata de produto de introdução
clandestina no território nacional. Ressalvado o exagero legal na equiparação de fato
da espécie ao próprio crime de contrabando ou descaminho, é de ser mantida a
condenação, mas a pena diminuída, por incidência de atenuantes do art. 65 do CP,
sobre a pena-base, transformada, no primeiro grau, em definitiva (arts. 61 e 68 do
CP). Considerando que os limites máximo e mínimo da cominação legal somente
balizam a fixação da pena-base (arts. 59, II, e 68 do CP), e que a influência das
circunstâncias atenuantes legais é obrigatória (sempre atenuam, quando não
constituem ou qualificam o crime), o reconhecimento, no regime da atual Parte
Geral do Código Penal, da existência dessas atenuantes pode, tal como sempre
ocorreu com as causas de aumento e diminuição da pena, fazer com que o resultado
final extrapole tais limites. A aplicação da pena é hoje feita em três etapas, com duas
penas-bases sucessivas, a primeira das quais recebe a influência das atenuantes e
agravantes legais, que têm de ser quantificadas.
Em decorrência, fixada a pena-base em 1 ano de reclusão, diminui-se a mesma de
1/3, o que a reduz a 8 meses, mantidas as demais partes do dispositivo da sentença
apelada. Daí, é de declarar-se a prescrição retroativa da pretensão punitiva e da ação
penal de direito material.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos, relatados e discutidos, acordam os Desembargadores Federais da 2 Turma


em, por unanimidade, rejeitar a preliminar de crime continuado, e no mérito, também, por
unanimidade, reduzir-se a condenação para 8 meses de reclusão; decretada, em decorrência, a
prescrição da pretensão punitiva.

Rio de Janeiro, 29 de novembro de 1989.

ALBERTO NOGUEIRA D'ANDRÉA FERREIRA


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente da Sessão Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___
Apelação (fls. 98), tempestiva (fls. 96 e 98), devidamente recebida (fls. 98), contra
sentença (91/93) que condenou o Apelante pela prática do crime previsto no art. 334,
parágrafo 1, letra c, do Código Penal.
A denúncia, regular, de fls. 2/2-A (sic) foi recebida em 19.02.86 e narra que, em
01.02.84, policiais militares apreenderam na confluência das Ruas Ouvidor e Gonçalves Dias,
relógios e outras mercadorias de procedência estrangeira, sem documentação legal, e que se
encontravam em poder do Apelante e eram por ele expostos à venda.
Acompanha a denúncia o inquérito policial n 414/84, em cujo bojo se encontram as
peças da investigação preliminar n 26/84.
Como se verifica, não houve flagrante.
Auto de apresentação e apreensão às fls. 4 e v., onde se relacionam 37 relógios e 3
óculos.
Termo de declarações de MAURÍCIO VIEIRA BEZERRA, comandante da
PATAMO que realizou a diligência, às fls. 5/6, e que se refere a 23 relógios e 3 óculos,
ratificadas às fls. 29.
Declarações de SILVANO BITENCOURT DE FREITAS, às fls. 7 e v., também
integrante da PATAMO, no mesmo sentido, declarações essas confirmadas às fls. 47.
Declarações do Apelante, às fls. 8/9, afirmando-se ambulante devidamente
credenciado pela Secretaria Municipal de Fazenda, no ramo de artesanato e bijuterias;
confirmou ter em seu poder os 23 relógios e os 3 óculos, não sabendo qual a sua procedência,
estando efetivamente as mercadorias desacompanhadas de documentação legal; indicou, sem
precisão, os locais em que havia adquirido os bens apreendidos. Esclereceu que esses estavam
dentro de sua bolsa-tiracolo, sendo que os óculos haviam sido adquiridos por encomenda de
uma parente moradora em Maceió; e que os óculos eram destinados a seus três filhos.
Laudo de exame de avaliação direta às fls. 16/18, relacionando 22 relógios e 3
óculos, num total de Cr$ 111.500,00 (cento e onze mil e quinhentos cruzeiros). Aduz-se que
"os relógios estão em estado de novo e os óculos com as lentes arranhadas". Algumas peças
teriam a indicação de sua procedência estrangeira, outras não.
Auto de qualificação e interrogatório às fls. 41 e v., com confirmação das
anteriormente prestadas, acrescentando o Apelante que já fora indiciado, pela Polícia Federal,
por fato igual, pois foi encontrado em Copacabana, com seu tabuleiro, na esquina da Av.
Nossa Senhora de Copacabana com Figueiredo Magalhães, em novembro de 1983, com
relógios estrangeiros sem documentação legal.
Elementos de identificação às fls. 42/45, que referem ter o Recorrente nascido em
1939, ser de cor preta, camelô há cerca de 5 anos, ter residência certa e família constituída
pela companheira, 3 filhos menores, e mãe da primeira.
Cópia do Relatório às fls. 48/49 do caso anterior citado pelo próprio indiciado.
Relatório do presente caso, às fls. 53/54.
Novas folhas de antecedentes do indiciado, às fls. 57 e 58, em que se consignam, na
primeira, os dois inquéritos; e, na segunda, o anterior.
Citação às fls. 62 v. .
Interrogatório às fls. 63 e v., com declarações iguais às da fase policial, em que
destaca que, tendo banca de artesanato e bijuteria em Copacabana, foi ao Centro comprar
mercadoria para vender, e comprou para seus filhos 3 óculos e alguns relógios para
conhecidos seus, tendo a mercadoria sido apreendida dentro da bolsa do Apelante, quando ele
se encontrava nas imediações das Ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias.

Defesa prévia, pelo advogado constituído no interrogatório, às fls. 66, tempestiva


(fls. 65/66), com rol de testemunhas às fls.67. Realça a condição de primário e de trabalhador
do Apelante, que tem domicílio certo.
Oitiva das testemunhas de acusação - os dois Policiais Militares - às fls. 73/75, que
salientam que, no local indicado na denúncia, o Apelante expunha à venda os bens
apreendidos, não cogitando o patrulhamento, então desenvolvido, de pessoas que levavam, ou
não, sacolas. O Apelante dissera, na ocasião, segundo a testemunha SILVANO, ignorar a
procedência da mercadoria, dizendo acreditar que fosse da Zona Franca de Manaus, não tendo
havido reação à prisão. A testemunha não pôde precisar se o recorrente expunha a mercadoria
em bancas.
Substituição do rol de testemunhas de defesa, às fls. 77.
Ouvida uma delas, às fls. 79, disse trabalhar com o Apelante, como camelô, há cerca
de 10 anos, em Copacabana, sendo aquele homem honesto e trabalhador, ignorando
dedicar-se ele ao contrabando. Aduziu que o material apreendido estava no interior de uma
bolsa portada pelo Recorrente.
Desistência da outra testemunha arrolada, às fls. 79.
Fase de diligências às fls. 80 e v., dispensando-as o Ministério Público e tendo sido
omissa a defesa.
Alegações finais do M.P., às fls. 81 v., pela condenação.
A defesa, às fls. 87, argüi preliminar de caracterização de crime continuado no
iter-relacionamento entre o fato objeto do presente processo e o outro citado nos autos, já
então ajuizado, o que imporia a reunião de processos. No mérito, a sustentação é de
não-tipificação da conduta imputada ao Apelante, em termos do crime capitulado no art. 334,
parágrafo 1, c, do C.P., pela ausência dos elementos constitutivos, inclusive no tocante à
ciência de que as mercadorias fossem provenientes de introdução clandestina ou de
importação fraudulenta por parte de outrem; com ausência, igualmente, do dolo de fraudar o
Fisco. Teria o Apelante a certeza de que tinha a mercadoria procedência lícita, vinda da Zona
Franca de Manaus, onde são falsificados muitos similares dos objetos apreendidos. Sublinha
as virtudes pessoais e familiares do Apelante, que não se entrega à criminalidade violenta.
Estaria, agora, com emprego certo. Pede-se a improcedência da ação.
Sentença condenatória às fls. 91/93, datada de 22.05.87. Giza-se a comprovação da
autoria e da materialidade do fato. Grifa-se, quanto à culpabilidade, a esperteza dos camelôs,
responsáveis pela distribuição de bens contrabandeados, com expressivos males à economia
nacional. Segue-se a condenação à pena mínima de um ano de reclusão, custas e honorários
do defensor dativo, arbitrada em NCZ$ 0,50 (cinqüenta centavos de cruzado novo). Foi
concedido o benefício do "sursis", com suspensão da pena por 2 anos, desde que cumpridas as
obrigações econômicas decorrentes do julgado.
Incide o disposto no art. 594 do CPP.
Ciência do MP, às fls. 94 v., com operação do trânsito em julgado para a acusação
(fls. 95).
Apelante intimado da sentença às fls. 96 v. .
Razões de apelação às fls. 100/104, tempestivas (fls. 99 e 100).
Repetem-se a preliminar e as razões de mérito das alegações finais, juntando-se
cópia de sentença de conteúdo idêntico, de mesma autoria, prolatada, no outro processo contra
o Apelante (fls. 83/85). Pede-se sua absolvição.
Contra-razões do MP tempestivas (fls. 108 e v.), às fls. 109/110, pela confirmação
do julgado, com repulsa da preliminar e afirmação de inquestionável responsabilidade do
Apelante.
Remessa ao antigo TFR, às fls. 111.

Parecer da ilustrada Subprocuradoria da República, às fls. 113/115, pelo


improvimento do recurso, sustentando-se a não-caracterização da continuidade criminosa,
dado, inclusive, o "lapso de tempo considerável entre os dois crimes"; e, no mérito, a reunião
perfeita dos elementos objetivo e subjetivo.
Despacho de remessa a este Tribunal, às fls. 117.
É o relatório.
Observo ter funcionado, na fase de primeiro grau de jurisdição, o Dr. JUAREZ
TAVARES.
Impedida a Exm Sr Desembargadora Federal JULIETA LÍDIA LUNZ, à revisão da eminente
colega Desembargadora Federal TANIA HEINE.

________VOTO__________________________________________________
___

O DESEMBARGADOR FEDERAL D'ANDRÉA FERREIRA - Rejeito a argüição


de existência de crime continuado, dado que as condições de local e tempo decorrido não se
ajustam à definição do art. 71 do Código Penal.
Os lugares em que foram praticadas as duas infrações invocadas são distintos
(Copacabana e Centro da Cidade) e medeou entre elas um período de cerca de 3 meses (20 de
novembro de 1983 e 1 de fevereiro de 1984).
Ademais, quando da prática do segundo delito, já se iniciara a atividade repressiva
policial formal ao primeiro (cf. fls. 105).
No mérito, realço, desde logo, a estranheza de não ter ocorrido a prisão em flagrante.
É certo que, não obstante a dissonância entre o número de bens apreendidos (fls. 4 e
v.) e dos periciados (fls. 16/18), o próprio Apelante reconhece certo número de peças como
tendo sido com ele arrecadadas.
É indubitável, pelo que diz o próprio Apelante e pela ocorrência do ato anterior, ser
ele camelô que recebe e vende, com habitualidade, mercadorias de procedências várias,
inclusive estrangeira, tendo ciência desse fato, ou seja, de que é produto de introdução
clandestina no território nacional.
E o fato em tela se enquadra nesse seu comportamento, que, hoje se inclui na porção
ilícita da chamada "economia informal". Aliás, o parágrafo 2 do art. 334 equipara "às
atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências."
Não ficou evidenciado que os bens estivessem no interior da bolsa do Recorrente, e
não, sendo colocados à venda na via pública.
Creio ser exagerada a equiparação ao próprio crime de contrabando ou descaminho,
inclusive quanto à cominação da pena, da hipótese em tela, subsumida na tipificação da alínea
c do parágrafo 1 e no parágrafo 2 do art. 334 do CP. Mormente, em se tratando do comércio
de rua, no tocante a vendedor que atua no final da linha delituosa.
Não se pode, porém, absolvê-lo, não só pela caracterização do delito, como pela
injustiça que isso representaria no tocante aos que, ainda na prática do chamado "comércio
das ruas", não praticam delitos.
É lamentável que não possam ter estado presentes neste processo os que
introduziram clandestinamente a mercadoria e os repassadores e agenciadores dos camelôs.
Dentro dessa linha, considero que a condenação deva ser mantida, mas a pena
diminuída.
Tendo, pela própria sentença, sido a pena-base, transformada em definitiva, fixada
em um ano, cabe, por aplicação do art. 68 do CP, considerar a existência de circunstâncias
legais agravantes e atenuantes (arts. 61 e 65 do CP).

As primeiras estão ausentes, mas, dentre as últimas, incidem, em certa medida, as do


art. 65, II (o desconhecimento formal da lei); III, a (motivo de relevante valor social: sustento
da família) e d (admissão da autoria dos fatos), o que conduz a uma diminuição da pena-base,
que, em conseqüência, baixará aquém do mínimo, o que é absolutamente legítimo no sistema
da Nova Parte Geral.
Os limites máximo e mínimo somente balizam a fixação da pena-base: art. 59, II, e
68 do CP.
Hoje, o reconhecimento de atenuantes e agravantes, tal como, anteriormente, de
causas de diminuição e de aumento, podem fazer com que o cálculo final da pena extrapole
tais limites.
Há de grifar-se que a influência das circuntâncias legais é obrigatória: sempre
agravam (quando não constituem ou qualificam) ou atenuam.
No regime passado, de duas fases, no cálculo da pena, em que as circunstâncias
judiciais e legais atuavam conjuntamente, a extrapolação dos limites da pena só poderia
ocorrer, em função das causas de aumento ou diminuição, pois que, somente neste caso,
haveria pena-base prestabelecida:
"O disposto nos incisos I e II do art. 42 do vigente Código Penal (versão
original) evidencia, conforme antes acentuamos, que as circunstâncias
legais atuam, juntamente com as judiciais, na determinação e na fixação da
pena, quando esta ainda se encontra em gestação e sem expressões
numéricas ainda definidas.": nosso. A Técnica da Aplicação da Pena como
Instrumento de sua Individualização nos Códigos de 1940 e 1969, Rio,
Forense, 1977, p. 89.
É de sublinhar-se que, no Código Penal de 1969 (art. 59) além da quantificação da
atenuação ou da agravação (1/3 a 1/5), se expressava que seriam, mesmo assim, "guardados
os limites da pena cominada ao crime", o que levava a que se a pena-base fosse estabelecida
no máximo ou no mínimo, agravantes e atenuantes não teriam respectivamente vez, podendo
ocorrer a hipótese, igualmente, de excessos em relação aos limites extremos da pena
cominada terem de ser desprezados.
Tal limitação inexiste no Código vigente, razão pela qual pode ser considerado
haverem os excessos referidos (cf. JAMES TUBENCHLALK, Atenuantes - Pena abaixo do
mínimo, Suplemento jurídico de setembro de 1988, do D.O.R.J., p. 44).
Em conseqüência, fixo a pena-base em um ano de reclusão, diminuindo-a de 1/3, o
que a reduz a 8 (oito) meses, mantidas as demais partes do dispositivo da sentença apelada.
Daí, declarar a prescrição retroativa da pretensão punitiva, já que, entre a data da
sentença condenatória - 22.05.87 - e hoje, transcorreram mais de dois anos: arts. 109, caput, e
VI; e 110, parágrafo 1, do CP.

D'ANDRÉA FERREIRA
Desembargador Federal

________REMESSA EX OFFÍCIO EM
MS______________________________

REGISTRO N 90.02.16291-0

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal D'Andréa Ferreira


Remte: Juízo Federal da 20 Vara/Rio
Parte A: Maria Helena Martins e outros
Parte R: União Federal

________EMENTA________________________________________________
__

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. Concurso Público. Limite de idade.


Carreira "Auditoria do Tesouro Nacional" e de Técnico do Tesouro Nacional. Art. 3
da Lei n 6.334, de 31 de maio de 1976, e art. 7 Decreto n 92.360, de 4 de fevereiro
de 1986. Impossibilidade de a lei ordinária fixar limite máximo de idade nos casos
em que a própria Constituição não o fez. Inteligência dos arts. 5, I; 7, XXX; e 37, I,
da Constituição Federal.
_________ACÓRDÃO_____________________________________________
__

Vistos, relatados e discutidos, acordam os Desembargadores Federais da 2 Turma do


Tribunal Regional Federal da 2 Região em, por unanimidade, na forma do voto do Relator,
negar provimento à remessa.

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 1991 (data do julgamento).

JULIETA LÍDIA LUNZ D'ANDRÉA FERREIRA


Desembargadora Federal Desembargador Federal
Presidente da Turma Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

Trata-se de remessa ex officio, em mandado de segurança (fls. 2/6) oportuno (fls. 2 e


35) impetrado por MARIA HELENA MARTINS E OUTROS contra ato do Sr.
Diretor-Geral-Substituto da Escola de Administração Fazendária - ESAF - e contra ato do Sr.
Secretário de Recursos Humanos da Secretaria de Planejamento e Coordenação do Ministério
da Fazenda, a fim de que os Impetrantes pudessem inscrever-se conforme a respectiva
situação, nos concursos públicos para AUDITOR DO TESOURO NACIONAL (3 grau
completo) e para TÉCNICO DO TESOURO NACIONAL (2 grau completo), bem como para
submeterem-se às provas em igualdade com todos os demais inscritos de qualquer idade, já
que os editais fixaram, no particular, o máximo de 35 anos, reportando-se os impetrantes, à
Lei n 6.334, de 31/5/76 (art. 3), e ao Decreto n 92.360, de 04/02/86 (art. 7, III).
A sentença apelada (fls. 47/49) concedeu o writ nos termos do pedido.
Informações às fls. 39/43.
Promoção do Ministério Público Federal, em primeira instância, às fls. 45, pela
denegação da segurança.
Representação regular (fls. 7/28).

Às fls. 53, foram os autos remetidos a esta EGRÉGIA CORTE DE JUSTIÇA.


Parecer da Procuradoria Regional da República, às fls. 58/61, pela concessão da segurança.
É o relatório.
Sem revisão.

_________VOTO_________________________________________________
___

O DESEMBARGADOR FEDERAL D'ANDRÉA FERREIRA: - A Lei n 6.334, de


31 de maio de 1976, em seu artigo 3 e o Decreto n 92.360, de 4 de fevereiro de 1986,
disciplinam, respectivamente, o primeiro, de modo geral, o ingresso no Serviço Público
Federal, e o segundo, o acesso aos cargos da Carreira "Auditoria do Tesouro Nacional",
dispondo a primeira:
Lei n 6.334:
"Art. 3 - Em relação ao Grupo Tributação, Arrecadação e Fiscalização, a
idade máxima para inscrição em concurso público destinado a ingresso nas
respectivas Categorias Funcionais é de 35 (trinta e cinco) anos."
A Lei, na sua generalidade, fixa em 50 anos, mas para esse grupo, especificamente,
em 35.
O art. 7 do referido Decreto estatui:
Decreto n 92.360:
"Art. 7 - Somente poderão inscrever-se no concurso para ingresso nas
classes iniciais dos cargos integrantes da Carreira Auditoria do Tesouro
Nacional, candidatos que:
II - Tenham idade máxima de 35 (trinta e cinco) anos na data de abertura
das inscrições, ressalvado o disposto no art. 4 da Lei n 6.334, de 31 de
maio de 1976;
III - Tenham concluído curso superior ou possuam habilitação legal
equivalente, para ingresso no cargo de Auditor-Fiscal do Tesouro Nacional
e curso de 2 grau ou habilitação legal equivalente, para cargo de técnico
do Tesouro Nacional, até a data do encerramento das inscrições para o
concurso; e preencham os demais requisitos exigidos no edital do
concurso".
Na Constituição Federal tratam do ingresso no Serviço Público os arts. 7, XXX, por
força da extensão estabelecida no art. 39, parágrafo 2, e 37, I e II, através de regras que são o
desdobramento do princípio da isonomia, art. 5, caput, I, estabelecendo a acessibilidade aos
cargos, empregos e funções públicas mediante aprovação prévia em concurso público,
ressalvado o provimento de cargos em comissão de livre nomeação e exoneração.
O antigo Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União - Lei n 1.711, de
28/10/52 -, em seu art. 19, parágrafo 8, determinava que o prazo de validade (rectius,
eficácia) nos concursos e os limites de idade seriam fixados nos regulamentos ou instruções.
A fixação de idade máxima para ingresso no Serviço Público esteve sempre ligada à
questão da aposentadoria voluntária.
Considerava-se impróprio para o Serviço Público, quem nele não pudesse
permanecer o tempo necessário para a aposentadoria por tempo de serviço.
Por isso, não havia limitação de idade para os que já trabalhassem no Serviço
Público (art. 19, parágrafo 2, do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União - Lei n
1.711, de 28/10/52):
"Art. 2 - Independerá de limite de idade a inscrição, em concurso, de ocupante de
cargo ou função pública."

A Lei n 6.334, de 31 de maio de 1976 representou um certo avanço ao fixar, em seu


artigo 1, em 50 anos a idade máxima para concurso, ressalvados os cargos, do Grupo Polícia
Federal, Auditor e Técnico do Tesouro Nacional.
Isso, porque a Constituição de 1967, com a Emenda Constitucional de 1969,
estabelecia, tal como as anteriores, tão-somente uma isonomia genérica (art. 141, parágrafo 1
da CF/46 art. 153, parágrafo 1 da CF/67-69), não se referindo à isonomia em razão da idade.
A Constituição Federal de 1988 ao estabelecer o princípio isonômico, o fez com
maior amplitude, prescrevendo que "todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer
natureza" (art. 5, caput e I, grifos nossos).
Dispondo sobre a necessidade da habilitação em certame aberto, fixou a
Constituição certos parâmetros, proibindo, no art. 7, XXX, por força do disposto no art. 39,
parágrafo 2, seja o acesso às funções públicas obstado em razão de discriminação por motivo
de sexo, idade, cor ou estado civil, diferentemente do que havia na Constituição de 67/69,
onde os limites para o ingresso no Serviço Público eram todos estabelecidos em lei (art. 97).
É a especificação do princípio da isonomia (art. 5, caput, I, da C.F.):
"Art. 5. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;"
Assim, quando o inciso I do art. 37 remete à legislação infraconstitucional, a fixação
de requisitos para o acesso ao Serviço Público está a mesma limitada pelo disposto no art. 7,
XXX, que proíbe, no tocante à idade, distinção no critério de admissão.
"Do mesmo modo impera, como no serviço público, o princípio da
igualdade de todos perante a admissão ao emprego. A priori, in abstracto,
sem se saber ainda da perfeição ou não do trabalho, a seleção tem de ser
baseada em critério objetivo, no qual se coloquem de lado conotações
pessoais como idade, estado civil, sexo, cor e deficiência...
A regra jurídica constitucional de 1969, art. 165, III (proibição de diferença
de salários e de critérios de admissões por motivo de sexo, cor e estado
civil) foi estendida, em 1988, à "idade": é proibida a diferença de salários
por motivo de idade, bem como é vedada diferença de exercício de funções
e de critério de admissão, em razão de idade.
. ..........................................................................................................."
(J.CRETELLA JÚNIOR, Comentários à Constituição 1988, artigos 5
(LXVIII a LXXVII) a 17, Forense Universitária, 1 ed., 1989).
Alguns autores admitem, contudo, exceções.
É o caso de Adilson Abreu Dallari (Regime Constitucional dos Servidores
Públicos, RT, 2 edição, 1990, fls. 33), citando conclusão do 2 Congresso
de Especialização em Direito Administrativo, realizado ainda na década de
60:
"Pode ser estabelecida limitação para inscrição em concurso público, em
razão de sexo, idade, por lei, desde que atendido o princípio da correlação
lógica entre o elemento discriminador e o descrímen estabelecido".
Estou com Cretella Junior.
As normas, cogentes, de fixação de limites de idade estão expressas na Constituição:
a) somente para alguns cargos da Magistratura e do Tribunal de Contas há fixação de
limite de idade máxima para investidura: arts. 101; 104, parágrafo único; 107; 111, parágrafo
1 e 73, parágrafo 1, I da C.F.);

b) existe o estabelecimento, para o desempenho de algumas funções públicas, de


limites de idade mínima, como por exemplo, para o exercício do mandato governamental art.
14, parágrafo 3, a,b,c,d, da C.F.;
c) não existe um limite mínimo de permanência na função pública, salvo para a
Magistratura (art. 93, VI da C.F.) e para o Tribunal de Contas: art. 73, parágrafo 3, da C.F.;
d) o que se tem, e para todas as funções públicas, são limites de tempo de serviço
mínimo para a aposentadoria voluntária e idade máxima para a aposentadoria compulsória;
e) a aposentadoria, inclusive no caso dos Apelados, uma vez aprovados no concurso
público, será sempre proporcional ao tempo de serviço; e isso evitará qualquer prejuízo ao
erário público: é a regra do art. 40, II, da Constituição Federal.
É interessante notar que diversa é a situação dos servidores militares para os quais a
lei é que disporá sobre os limites de idade (art. 42, parágrafo 9, da C.F.), e aos quais não é
estendido o comando do art. 7, XXX da C.F., por força do disposto no art. 42, parágrafo 1,
também da C.F.
Essas disposições vinculam-se ao fato de ao servidor militar ser fixado tempo de
permanência na função (cf. art. 98, I da Lei n 6.880, de 09/12/80).
Frise-se que a aferição da capacidade intelectual, assim como da aptidão física, se
dará sempre in concreto, através das provas específicas.
Dessa aferição é que resultará a verificação das condições concretas de
admissibilidade do candidato, não cabendo uma presunção absoluta de incapacidade ou
inaptidão somente pela idade, memso porque aquele que conta menos de 70 (setenta) anos
poderá, se já funcionário público, até que atinja essa idade, continuar exercendo as mesmas
funções.
In casu, o que se pretende é o acesso aos cargos de Auditor Fiscal e de Técnico do
Tesouro Nacional.
Ora, nem mesmo considerando esses outros fatores, agora já sepultados pela
Constituição, não há porque se limitar este acesso em razão de idade, já que os cargos que os
Apelados almejam, todos com mais de 18 anos e menos de 35, podem ser exercidos por
maiores de 35 anos, limite máximo que foi estabelecido em lei, em discrepância até mesmo
com o máximo de 50, que ela própria fixou (art. 3 da Lei n 6.334, de 31 de maio de 1976 e
art. 7 do Decreto n 92.360, de 04 de fevereiro de 1986), uma vez que não se configuram
cargos que exijam uma condição física especialíssima.
Assim, impróprio e discriminatório é o limite máximo de idade fixado nos editais
dos concursos a que se submeteram os Apelados.
Neste sentido, inclusive, já decidiu, à unanimidade, a 1 Turma do Tribunal Regional
Federal da 1 Região, no julgamento da remessa "ex officio" n 90.01.04640-1/PI, em que foi
Relator o Exmo. Sr. Juiz Eustáquio Silveira, cuja ementa, abaixo se transcreve:
"Administrativo. Concurso Público. Limite de idade. Edital. Carreira de
Auditor Fiscal do Tesouro Nacional.
I - Não há que prevalecer, por ofensiva a ditames constitucionais vigentes,
a limitação de idade em trinta e cinco anos, para candidato ao concurso de
Auditor Fiscal do Tesouro Nacional.
II - Sentença concessiva da Segurança.
III - Remessa desprovida.
No caso acima, como no presente, não houve sequer apelação da União.
Assim, a Lei n 6.334, de 31 de maio de 1976 em seu art. 3, e o Decreto n 92.360,
de 4 de fevereiro de 1986, em seu art. 7, nos termos do art. 2, parágrafo 1, da Lei de
Introdução ao Código Civil, estão com sua eficácia suspensa, diante do advento da nova
Constituição, no que se refere à limitação da idade máxima para acesso aos cargos de Auditor
Fiscal do Tesouro Nacional e Técnico do Tesouro Nacional.

Diante do exposto, em segundo grau obrigatório de jurisdição, mantenho a sentença,


negando provimento ao recurso oficial.

D'ANDRÉA FERREIRA
Desembargador Federal
________RECURSO ORDINÁRIO
TRABALHISTA____________________

REGISTRO N 89.02.03422-4

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal D'Andréa Ferreira


Recorrente: Carlos Alberto de Mattos Crocamo
Recorrido: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT

________EMENTA________________________________________________
__

Trabalhista e Administrativo. Anulação de ato de dispensa, sem justa causa, de


servidor celetista, concursado da ECT. Reintegração. Incidência do direito
administrativo nas relações de emprego. O concursado tem situação jurídica
subjetivada com conteúdo de direito adquirido, em razão da habilitação que obtém,
não sendo dispensável ad nutum. Prevalência da cláusula enquanto bem servir
("during good behaviour"). Ademais, trata-se de Empresa Pública que presta
serviço público monopolizado. Aplicação do disposto no art. 31, e parágrafo 9, do
Estatuto da ECT, que distingue entre o pessoal permanente, concursado, e o
contratado para serviços eventuais e temporários.

_________ACÓRDÃO_____________________________________________
__

Vistos, relatados e discutidos, acordam os Desembargadores Federais da 2 Turma


deste Tribunal Regional Federal da 2 Região em, por unanimidade, na forma do voto Relator,
dar provimento ao recurso, conforme a certidão de fls. 146.

Rio de Janeiro, 08 de agosto de 1990 (data do julgamento).

JULIETA LÍDIA LUNZ D'ANDRÉA FERREIRA


Desembargadora Federal Desembargador Federal
Presidente da Turma Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

Recurso ordinário trabalhista (fls. 110/123) contra sentença (fls. 106/108) que julgou
improcedente reclamatória de reintegração.
Não há, nos autos, elementos de aferição da tempestividade, ou não, do recurso (fls.
108v e 109).
Preparo oportuno, segundo os termos do disposto no art. 10, II, da Lei n 6.032, de
30/04/74 (fls. 126).
Recebimento, implícito, do recurso às fls. 124.
Omissa a Recorrida no prazo de resposta (fls. 127).
No mais, reporto-me ao relatado na sentença apelada, às fls. 106/107.
É o relatório.
Sem revisão.
Peço dia.

________VOTO__________________________________________________
___
arquivo original - set/996 - geração: notlih do valle filho - editoraçào: ramanal pimenta
O DESEMBARGADOR FEDERAL D'ANDRÉA FERREIRA: - O Reclamante era
empregado da ECT, empresa pública federal, em cujos quadros ingressara, em 16/07/74,
através de concurso, sendo seu contrato de trabalho por prazo indeterminado.
Pede o Recorrente a "anulação do ato administrativo pertinente à demissão do autor,
vez que nulo, devendo ser ele reintegrado na mesma função, com todos os direitos e
vantagens inerentes à mesma, parcelas vencidas e vincendas, com juros e correção
monetária".
A nulidade decorreria de que, sendo o Recorrente concursado, não poderia ter sido,
como o foi, dispensado sem justa causa, sem o atendimento do pressuposto da realização do
inquérito administrativo prévio.
A sentença apelada, aderindo à tese da Recorrida, sustentou (fls. 107/108):
"7 - Empregados de Empresa Pública. Desnecessidade de Inquérito para a
demissão.
A Administração Federal compreende a Administração Direta e Indireta
segundo o disposto no art. 4 ítens I e II do DL 200 de 25/02/67, sendo que
esta última - a Indireta, subdivide-se em Autarquias, Empresas Públicas e
Sociedades de Economia Mista.
A Administração Federal Direta - bem como as Autarquias - são regidas
por normas Administrativas, enquanto que as Empresas Públicas e
Sociedades de Economia Mista, por preceito constitucional, regem-se
pelas normas aplicáveis às empresas privadas, inclusive quanto ao
direito do trabalho e ao das obrigações - CF/69, art. 170, parágrafo 2.
A Reclamada, que se constitui em Empresa Pública, subsume-se, portanto,
às normas do direito privado, inclusive à CLT. Neste contexto, o
Reclamante somente teria direito à reintegração, cumprindo o disposto no
art. 492 da CLT. Haveria de ser estável - com mais de 10 anos de serviço
na mesma empresa e não optante do FGTS. Mas, ao contrário, o
Reclamante não trabalhou 10 anos na Reclamada, e além do mais era
optante do FGTS.
A Reclamada é uma empresa privada. Inaplicável a seus servidores o
Estatuto dos Funcionários Públicos. Fica desobrigada, neste caso, de
proceder a Processo ou Inquérito Administrativo, para despedir seus
empregados. A legislação trabalhista atual outorga ao empregador o direito
de despedir, imotivadamente, o empregado."
Divirjo desse entendimento.
Os empregados das denominadas entidades paraestatais, inclusive das empresas
governamentais da Administração Pública Indireta, empresas públicas e mistas, pessoas
jurídicas de direito privado, são agentes públicos "lato sensu", agentes da Administração
Pública; são, portanto, servidores públicos em sentido largo.
Daí, a conseqüência de, embora titulares de empregos no regime do direito do
trabalho, serem destinatários, dentro desse, de normas especiais - não excepcionais, dada a
individualidade do conjunto a que pertencem -, bem como de regras de direito administrativo,
na medida em que são pessoas físicas, profissionais da função pública-gênero em que se
integra a espécie de emprego que ocupam e exercem -, componentes dos quadros da Pública
Administração.
Assim, a cláusula constitucional da Carta de 67/69, contida em seu art. 170,
parágrafo 2, de que essas empresas governamentais, "na exploração da atividade econômica",
se regeriam "pelas normas aplicáveis às empresas privadas, inclusive quanto ao direito do
trabalho e ao das obrigações", tem de ser entendido convenientemente.

Em primeiro lugar, é preciso que se trate de "exploração de atividade econômica"


tout court, de mercado, visando ao lucro, na base da concorrência, consoante o balizamento
dado pelo art. 160, V, daquela Constituição Federal.
É diversa a posição daquelas empresas, que executam serviço público.
A Recorrida executa o serviço postal, mantido, obrigatoriamente, pela União
Federal, conforme prescrição do art. 8, XII, da Carta de 67/69, e do art. 21, X, da
Constituição Federal de 88.
De qualquer modo, a cláusula tem o conteúdo tal qual traduzido no art. 173,
parágrafo 1, da atual Constituição Federal, isto é, correspondendo à sujeição às "obrigações
trabalhistas", e não ao direito do trabalho no seu todo.
A existência de um conjunto de normas especiais dentro do direito do trabalho, e de
normas específicas jus-administrativas para essa espécie de empregados sempre foi uma
realidade inarredável. Assim, por exemplo, as referentes às limitações remuneratórias, de
sindicalização, de greve; a obrigatoriedade de inclusão no regime do FGTS; a incidência da
vedação de acumulação de cargos, empregos e funções.
Aliás, também no que diz respeito ao direito das obrigações e à realização das
respectivas pretensões, havia a ressalva de que não estavam sujeitas à falência.
É certo que várias categorias de empregados estão sujeitos a regras especiais, como
as mulheres, os menores, os aeroviários, os ferroviários, etc.
Nesse campo de especificidade e especialidade, têm particular relevo os direitos
subjetivados dos empregados admitidos por concurso.
O art. 31, e parágrafo 9, do Estatuto da ECT, aprovado pelo Decreto n 83.726, de
17/07/79, estatui (fls. 80):
"Art. 31. O pessoal da Empresa será regido pela legislação trabalhista.
Parágrafo 1. Para funções permanentes, o pessoal da Empresa será
admitido mediante processo de seleção de prova e de títulos.
Parágrafo 2. A Empresa poderá contratar pessoal para serviços eventuais e
temporários, nas modalidades previstas em lei."
O concurso, ou, o que é o mesmo, o processo seletivo de provas e títulos, não é,
apenas, uma competição, mas, como até melhor diz a segunda expressão - processo seletivo -,
é um processo de aferição de aptidão, vinculado, que atribui ao selecionado o direito subjetivo
de habilitação, que , por seu turno, é geradora de outro direito adquirido, como se lê em
célebre lição do saudoso Professor OSWALDO BANDEIRA DE MELLO:
"Habilitação é o ato administrativo unilateral, vinculado, pelo qual se
declara estado de pessoa ou coisa, mediante juízo de valor objetivo, a
respeito de qualidades de fato, e em conseqüência, lhe assegura o direito
de desfrutar de certa situação jurídica" (os grifos são nossos) - Princípios
de Direito Administrativo, Forense, Rio - 1969, I: 512)."
A habilitação gera para o habilitado o direito subjetivo adquirido de titulação, de
investidura e permanência, enquanto bem servir - during good behaviour -, em determinada
situação jurídica, em razão da qualificação que obteve.
Não é, pois, dispensável ad nutum; a denúncia de seu contrato de trabalho não pode
ser imotivada, eis que isso lesa seu direito e afronta o interesse público.
Com efeito, a garantia de preservação no emprego de provimento permanente tem
especial importância para o serviço público, pois que:
(a) protegendo o empregado em relação à denúncia vazia, dá-lhe condições de se
opor a pressões ilegítimas, o que constitui fator fundamental para a preservação da licitude e
da moralidade administrativas, princípios tradicionais, e hoje, guindados à matriz
constitucional (art. 37, caput);

(b) evita o apadrinhamento, a substituição de quem está servindo bem à


Administração Pública, por protegidos, e, por outro lado, a perseguição pessoal ou sectária.
A cláusula during good behaviour, ínsita a essa situação, é de índole vinculada, e
não discricionária, exigindo motivação cheia, comprovada mediante processo administrativo
em que seja assegurada ampla defesa.
Incidem os princípios - já agora também com assento constitucional - de que
ninguém será privado de seu bem (e o direito em tela tem por objeto, como não poderia deixar
de ser, um bem jurídico) sem o devido processo legal; e de que o contraditório e os recursos
pertinentes são garantia inafastável do processo administrativo (art. 5, LVI e LV, da
Constituição de 88).
Verifica-se que este caso, embora dizendo respeito a uma hipótese passada, pretérita,
apresenta a maior atualidade, dada a atual política governamental, de dispensas imotivadas de
servidores.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para reintegrar o Recorrente,
assegurando-lhe o pagamento dos atrasados a partir da dispensa ilícita, com juros de mora e
correção monetária, a partir do vencimento de cada parcela, dado o caráter alimentar das
verbas e a índole de ilicitude da dispensa.
Custas pela Recorrida, a que condeno ao pagamento de honorários de 10% (dez por
cento) sobre o valor da condenação.
É como voto.

D'ANDRÉA FERREIRA
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
FREDERICO JOSÉ LEITE GUEIROS
I - DADOS PESSOAIS
Nome - Frederico José Leite Gueiros
Filiação - Nehemias da Silva Gueiros e Edna Leite Gueiros
Nacionalidade - Brasileiro
Profissão - Desembargador Federal
Estado Civil: Casado
Data do nascimento: 10 de agosto de 1942
Endereço residencial: Av. Lineu de Paula Machado n 851 apt 301, Lagoa - Rio de Janeiro RJ
- CEP 22470

II - DOCUMENTAÇÃO
Carteira de Identidade do I.F.P. n 1.662.945
CPF/MF n 006.997.647-34
Título de Eleitor n 177.588.903/02 (17 Zona)

III - FORMAÇÃO
Curso primário realizado no Colégio Baptista do Rio de Janeiro até o 3 ano de onde se
transferiu para o Colégio Mello e Souza, estabelecimento de ensino no qual concluiu sua
formação colegial.
Curso de Direito efetuado na Faculdade de Direito da Universidade do extinto Estado da
Guanabara, iniciado em 1962 e concluído em 1966.

IV - Bacharel em Direito pela Universidade do extinto Estado da Guanabara.


- Curso de Extensão sobre Direito Fiscal nas Sociedades Anônimas realizado na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
- Curso de Criminologia Aplicada sobre Sistemas Penais, realizado na Universidade do
Estado da Guanabara (Instituto de Criminologia).
- Monitor, em 1963, da Turma do Professor Roberto Lyra, catedrático de Direito Penal da
Faculdade deDireito da U.E.G.
- Solicitador por carta expedida em 20.04.1965 pelo Presidente do Tribunal de Justiça do
extinto Estado da Guanabara.
- Suplente do Professor Nehemias Gueiros na Comissão de Direito Comercial Internacional
das Nações Unidas no período de janeiro de 1975 a setembro de 1978, tendo participado de
reuniões de grupos de trabalho sobre compra e venda e frete internacionais, havidas em Nova
Iorque e Genebra.
- Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros.
- Representante da Ordem dos Advogados do Brasil na 30 Comissão de Correição Geral do
Foro da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
- Diretor do Instituto dos Advogados Brasileiros para o biênio 1980/1982.
- Representante da Ordem dos Advogados do Brasil no Ciclo de Debates sobre "O Direito, a
Ciência ea Tecnologia nos Anos 80" realizado de 8 a 10 de outubro de 1981, em consequência
de Convênio entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. Integrou, na oportunidade, o Grupo III de
Trabalho, que cuidou da Formação de Recursos Humanos em Direito e Setores Prioritários do
3 PBCDT.
- Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Rio de Janeiro, biênio
1981/1983.
- Membro da 3 Comissão de <144>tica e Disciplina da OAB?RJ, Biênio 1981/1983.
- Participou, como Conselheiro, da II Conferência Regional dos Advogados do Estado do Rio
de Janeiro.
- Membro da Comissão Permanente de Admissão ao Instituto dos Advogados Brasileiros para
o biênio 1982/1984.
- Parecer sobre Projeto de Lei n 14 de 1981 (alteração do Agravo no CPC) publicado na
Revista n 57 do Instituto dos Advogados Brasileiros.
- Participou da IX Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, integrando,
como Conselheiro, a Delegação do Estado do Rio de Janeiro.
- Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Rio de Janeiro, biênio
1983/1985.
- Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB?RJ no
biênio 1983/1985.

- Participou, como Conselheiro, do Congresso Nehemias Gueiros (III Conferência Regional


dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro), tendo sido o Presidente da Comissão da OAB e
os Direitos Humanos.
- Participou da X Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, integrando,
como Conselheiro, a Delegação do Estado do Rio de Janeiro, tendo sido Vice-Presidente da
Comissão Especial de Direitos Humanos naquele conclave.
- Participou do V Congresso Brasileiro de Direito Constitucional, compondo, como
Secretário, a Comissão sobre Parlamentarismo e Presidencialismo.
- Participou da IV Conferência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro, tendo presidido a
mesa de um dos Painéis.
- Participou da V Conferência dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro, tendo presidido a
mesa de um dos Painéis.
- Integrou, como representante da OAB, a Comissão Organizadora do 5 Concurso Público
para Ingresso na Carreira de Procurador do Estado do Rio de Janeiro.
- Integrante, desde o ano de 1983, do Corpo Docente do Instituto de Direito Público e Ciência
Política da Fundação Getúlio Vargas, sob a Presidência do Prof. Afonso Arinos.
- Integrante da Comissão Julgadora do Concurso de Direitos Humanos realizado pela OAB?
RJ em 1988.
- Diretor Tesoureiro da Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro para o biênio
85/87, 87/89 e 89/91.
- Orador Oficial do Instituto dos Advogados Brasileiros, eleito para o biênio 88/90.
Juiz, na vaga de Jurista, do Tribunal Regional Federal da 2 Região.

Rio de Janeiro, 25 de junho de 1991.

FREDERICO JOSÉ LEITE GUEIROS.


________APELAÇÃO EM MANDADO DE
SEGURANÇA________________

REGISTRO N 89.02.11927-0/TRF

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Frederico Gueiros


Remetente: Juízo Federal da 17 Vara/RJ
Apelante: União Federal
Apelado:Bulhões Pedreira, Bulhões Carvalho e Advogados Associados

________EMENTA________________________________________________
__

TRIBUTÁRIO - PENA DE PERDIMENTO PREVISTA NO ART. 514, X, DO


REGULAMENTO ADUANEIRO, APROVADO PELO DECRETO N 91.030/80 -
EQUIPAMENTOS OBJETO DA AUTUAÇÃO MONTADOS NO PAÍS, COM
COMPONENTES POSSIVELMENTE ESTRANGEIROS - MESMO
INTRODUZIDOS ILEGALMENTE NO TERRITÓRIO NACIONAL,
RECONHECE-SE QUE O ADQUIRENTE DE BOA-FÉ NÃO PODE SER
RESPONSABILIZADO PELA EVENTUAL SONEGAÇÃO DO IMPORTADOR,
MORMENTE QUANDO SE TRATA DE EQUIPAMENTOS DESTINADOS AO
USO PRÓPRIO E NÃO À COMERCIALIZAÇÃO - BENS ADQUIRIDOS DE
SOCIEDADE REGULARMENTE ESTABELECIDA, DE FÁCIL
IDENTIFICAÇÃO, QUE EMITIU NOTA FISCAL DE ACORDO COM A
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL - APELAÇÃO IMPROVIDA.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por
unanimidade, negar provimento à apelação, para manter, na íntegra, a sentença de primeiro
grau, na forma do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 20 de junho de 1990 (data do julgamento).

FREDERICO GUEIROS TANIA HEINE


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Relator Presidente

________RELATÓRIO____________________________________________
__
Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por BULHÕES PEDREIRA,
BULHÕES CARVALHO E ADVOGADOS ASSOCIADOS contra atos do SR.
SUPERINTENDENTE DA RECEITA NA 7 REGIÃO FISCAL e do COORDENADOR DE
ATIVIDADES ESPECIAIS DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, visando evitar o
perdimento de dois microcomputadores, adquiridos em fevereiro de 1987, da empresa BIT'S
SHOP INFORMÁTICA LTDA., que foram apreendidos por dois agentes do Fisco, lotados na
Delegacia da Receita Federal do Estado do Rio de Janeiro, sob a alegação de que os
módulos-base e os respectivos teclados seriam "mercadorias importadas ilegalmente",
procedendo, em seguida, à autuação da empresa, com a consequente aplicação da pena de
perdimento.
Alega, a Impetrante, em síntese, que o fundamento da autuação foi a posse das
referidas mercadorias sem a prova de sua importação ou regular aquisição no mercado
interno, ficando, assim, sujeitas ao disposto no artigo 514, inciso X, do Regulamento
Aduaneiro aprovado pelo Dec.-lei n 91030/85. Diz, ainda, que tal dispositivo, somente se
aplica a mercadoria estrangeira exposta à venda, depositada ou em circulação comercial, o
que não foi o caso, pois os microcomputadores em questão não são mercadorias e sim bens do
ativo permanente da Impetrante e não se destinam à comercialização, tendo sido adquiridos
mediante cheque nominativo e contra nota fiscal de venda.
A liminar foi deferida às fls. 69, somente para sustar os efeitos da pena de
perdimento até julgamento do mérito, sendo requisitadas as informações, que foram prestadas
às fls. 82/90, pela Primeira Autoridade Impetrada, que justificou o ato impugnado, alegando o
seguinte:
"Esta Delegacia da Receita Federal ao informar o processo administrativo
respectivo observou que nos termos do art. 136, do C.T.N. a
responsabilidade por infrações da legislação tributária independe do agente,
nem admite a legislação de regência a defesa fiscal com apoio na boa-fé; e
é obrigação do adquirente exigir documentos comprobatórios da
procedência da mercadoria, sob pena de ficar responsável pelo pagamento
do imposto se exigível e sujeitar-se às sanções cabíveis (parágrafo 1 do art.
173 do RIPI).
Nestas condições configurada a falta de documentos hábeis, não vemos
como possa eximir-se a Impetrante de responder, nos termos do art. 501, do
Decreto n 91.030, de 05/03/85, pelo dano ao Erário Público."
O M.P. Federal em primeira instância, opinou pela denegação da segurança às fls.
91-verso.
O MM. Juiz da 17 Vara Federal da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro,
sumariou seu entendimento desta forma (fls. 98):
"Em suma, tendo a Impetrante comprovado a aquisição dos equipamentos
no mercado interno, comprando-os de empresa perfeitamente identificada
(que seria a responsável pela importação irregular), através de
documentação fiscal hábil, para uso próprio e não para fins de
comercialização, entendo incabível a aplicação da pena de perdimento.
Pelo que, confirmo a liminar e CONCEDO a Segurança para que os
Impetrados se abstenham de declarar perdidos os dois minicomputadores
da Impetrante, constantes da autuação de fls. 56/58."
Apelou da decisão a União Federal às fls. 102/103, sustentando: a) que as
mercadorias estavam desacompanhadas de documentação hábil comprobatória de sua regular
entrada no País; b) que sua propriedade e uso não poderia ter sido transferida a outrem sem o
prévio pagamento dos tributos devidos; c) que não é a autoridade fiscal que cabe provar a
irregularidade da importação, mas ao importador cabe demonstrar regularidade da
importação.
Contra-razões apresentadas às fls. 105/110, na qual a Impetrante argüi,
preliminarmente, a intempestividade do recurso; e, no mérito, postula a manutenção da
decisão de primeiro grau, que reconheceu a ilegitimidade dos atos praticados pelos
Impetrados.
Os autos foram distribuídos nesta Egrégia Corte, e a mim conclusos como Relator,
que os encaminhei ao M.P.F.
Às fls. 114, parecer do Ministério Público Federal, que opinou pela confirmação da
decisão recorrida, finalizando por dizer:

"A impetrante, sem dúvida, é terceiro de boa-fé, que já incorporara tais


bens ao seu patrimônio, que a partir de então deixaram de se conceituar
como mercadorias, não podendo sofrer sanções administrativas por parte
da autoridade fiscal e pelo simples fato daqueles conterem componentes
estrangeiros irregulares."
Este o relatório, peço dia para julgamento.
Rio de Janeiro, 26/06/90.

________VOTO__________________________________________________
__

A hipótese é de Mandado de Segurança impetrado por BULHõES PEDREIRA,


BULHÕES CARVALHO e ADVOGADOS ASSOCIADOS contra atos do
SUPERINTENDENTE REGIONAL DA RECEITA FEDERAL DA 7 REGIÃO FISCAL e do
COORDENADOR DE ATIVIDADES ESPECIAIS DA SECRETARIA DA RECEITA
FEDERAL. A ordem foi concedida em primeira instância por sentença da lavra do então MM.
Juiz da 17 Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, Dr. Clélio Erthal, hoje
Desembargador Federal com assento nesta E. Turma.
Os lindes da controvérsia podem ser bem fixados a partir de uma síntese do que foi
alegado pela sociedade Impetrante, ora Apelada:
1. Que é um sociedade civil de advogados, e que, querendo modernizar os
seus serviços adquiriu dois conjuntos de microcomputadores da empresa
BIT'S SHOP INFORMÁTICA LTDA, em 11/03/87, mediante cheque
nominativo e contra nota fiscal de venda.
2. Que os dois módulos-base foram oferecidos com a marca comercial da
vendedora e não apresentavam, externamente, qualquer informação sobre o
local da produção, tendo a autoridade tributária atribuído aos mesmos
origem estrangeira, em razão de suas características internas.
3. Que em 05/10/87 a Impetrante foi visitada por dois agentes do Fisco,
lotados na Delegacia da Receita Federal no Estado do Rio de Janeiro, os
quais, sob alegação de que os módulos-base e os respectivos teclados
seriam "mercadorias importadas ilegalmente", os apreenderam, procedendo
à autuação da empresa, com a conseqüente aplicação da perda de
perdimento.
4. Que o fundamento da autuação foi a posse das referidas mercadorias sem
prova de sua importação ou regular aquisição no mercado interno, ficando,
assim, sujeitas ao disposto no artigo 514, inciso X do Regulamento
Aduaneiro aprovado pelo Dec. Lei n 91030/85.
5. Que tal dispositivo, entretanto, somente se aplica a mercadoria
estrangeira exposta à venda, depositada ou em circulação comercial - o que
não foi o caso, pois os minicomputadores em questão não são mercadorias
e sim bens do ativo permanente da Impetrante e não se destinam à
comercialização.
6. Que os equipamentos em causa foram regularmente adquiridos de
empresa estabelecida, através de anúncios em jornais de grande circulação,
com marca da própria vendedora, sem qualquer sinal de importação
estrangeira.

E acrescenta, ainda, a Impetrante, que, ao adquirir os equipamentos nessas


circunstâncias, pagando-os em cheque nominativo, agiu como qualquer outro consumidor de
boa-fé, e ainda que venha a ser verificado que algum dos equipamentos adquiridos continha
componentes importados, o ato de comprar não constitui infração a qualquer norma da
legislação tributária, posto que essa legislação não cria para os compradores finais de
mercadorias expostas à venda em estabelecimentos abertos ao público o dever de verificar se
o bem que pretendem adquirir contém componente de origem estrangeira e - se o contiver - de
exigir do comerciante a prova de regularidade da sua situação fiscal.
A questão pois limita-se em saber-se se tais bens não constituem mercadorias
destinadas à comercialização e sim ao uso da própria Impetrante, ora Apelada, e se as mesmas
foram adquiridas de empresa estabelecida e através de nota fiscal revestida das formalidades
legais.
Do que se pode verificar dos autos a Apelada foi autuada em 05/10/87 por
conservar, em seus escritórios, dois microcomputadores PC-XT, adquiridos da empresa BIT'S
SHOP INFORMÁTICA LTDA, havidas como de procedência estrangeira, sem os
comprovantes da regular importação. Alega o primeiro Impetrado e ora Apelante que a posse
desses equipamentos só seria legítima se a Impetrante-Apelada exibisse a documentação fiscal
pertinente, a saber: a Declaração de Importação, a Declaração de Leilão ou a Nota Fiscal
idônea, com o recolhimento dos tributos devidos, pouco importando a sua boa-fé no ato da
aquisição.
Como bem salientou o Eminente Des. Federal, Clélio Erthal, na sua sentença, ora
sob censura, embora nada conste dos autos quanto à origem dos dois microcomputadores, o
certo é que tudo indica que ambos foram montados no País, com componentes importados por
empresas outras que não a Impetrante-Apelada. A nota fiscal de fls. 38 prova de forma
iniludível que a Apelada os adquiriu de forma regular, no mercado interno, comprando-os de
empresa estabelecida na praça e especializada no ramo.
Nesse passo impõe-se um registro que merece realce no desate desta controvérsia. A
Impetrante-Apelada é uma sociedade de advogados de renome não apenas no Rio de Janeiro,
mas em todo o País, e também alhures, no estrangeiro, constituída de profissionais da mais
alta idoneidade e habilitação técnica, todos vivendo, exclusivamente, da profissão de
advogados e consultores que são.
Em hipóteses, como a de que agora se cuida, mesmo em se tratando de
equipamentos introduzidos ilegalmente no território nacional, reconhece-se,
desenganadamente, que o adquirente de boa-fé não pode ser responsabilizado pela eventual
sonegação do importador, sobretudo quando se trata de equipamentos destinados ao uso
próprio e não à comercialização. E, no caso dos autos, dúvidas não existem a respeito da
destinação destes microcomputadores.
A sentença recorrida, que em boa hora concedeu a segurança, arrola uma série de
julgados do 2 Conselho de Contribuintes e do E. extinto Tribunal Federal de Recursos em
prol de sua conclusão, que me dispenso de refrisar em homenagem à brevidade.
A autuação alvo do Mandado de Segurança é, a meu ver, arbitrária e ilegal. Tal
postura da Administração Federal somente se compadeceria com a lei na hipótese de
aquisição dos microcomputadores sem documentação legal, de sociedade inidônea ou
inexistente, ou ainda que sem essas irregularidades, mas com fito comercial. Aí sim seria de
se aplicar a pena de perdimento prevista no artigo 514, X, do Regulamento Aduaneiro,
aprovado pelo Decreto n 91.030/80.
Dúvidas não há que, na hipótese em julgamento, os equipamentos objeto da
autuação foram montados no País, com componentes possivelmente estrangeiros. Foram
adquiridos de empresa regularmente estabelecida, de fácil identificação, que emitiu nota fiscal
de acordo com a legislação aplicável. A pena de perdimento prevista no item X, do artigo 514
antes referido só teria procedência no caso dos aparelhos estarem expostos à venda, em
depósito ou em circulação comercial, o que, à toda evidência não é o caso dos autos. Os dois
microcomputadores acham-se instalados no escritório de advocacia da Impetrante, e como
disse antes, sociedade da maior idoneidade e habilitação profissional para serem utilizados na
modernização e aprimoramento do seu trabalho, jamais com fins de disponibilidade mercantil.
Há que se observar, também, que em matéria de infração fiscal impõe-se, de forma
desenganada, a observância da tipicidade. Assim, neste particular, reputo inatacável a
sentença recorrida que conclui, a meu ver, de forma irrepreensível, assim, verbis:

"Art n 514 - Aplica-se a pena de perdimento da mercadoria


.............................................................................................................
X - estrangeira exposta à venda depositada ou em circulação comercial no
País, se não foi feita prova de sua importação regular."
"Como em matéria de infração fiscal impõe-se a observância da tipicidade,
entendo que a aplicação da pena de perdimento de mercadoria importada só
pode ser feita nos casos expressamente previstos em lei, inclusive com o
dolo específico, isto é, com a finalidade nela prevista, que integra o tipo ou
descrição da infração.
Em suma, tendo a Impetrante comprovado a aquisição dos equipamentos
no mercado interno, comprando-os de empresa perfeitamente identificada
(que seria responsável pela importação irregular), através de documentação
fiscal hábil, para uso próprio e não para fins de comercialização, entendo
incabível a aplicação da pena de perdimento.
Pelo que, confirmo a liminar e CONCEDO a Segurança para que os
Impetrados se abstenham de declarar perdidos os dois minicomputadores
da Impetrante, constantes da autuação de fls. 56/58."
Por todo o exposto, nego provimento à Apelação para manter, na íntegra, a sentença
de primeiro grau, que, com todo acerto, concedeu a segurança.
É como voto.

Rio de Janeiro, 20 de junho de 1990.

FREDERICO GUEIROS
Desembargador Federal
________EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CÍVEL__
Registro n 89.02.01565-3/RJ
Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Frederico Gueiros
Remetente: Juízo Federal da 9 Vara/RJ
Embargante: L S A Empreendimentos e Participações S/A e outros
Embargado: União Federal
________EMENTA__________________________________________
I - COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL - CISÃO PARCIAL DE SOCIEDADE -
NATUREZA PATRIMONIAL DA OPERAÇÃO DE CISÃO - NOTIFICAÇÃO DO
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 233, DA LEI 6.404, DE 15/12/76 APERFEIÇOADA
JUDICIALMENTE (CPC ARTS. 219 E 220) - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
SIMETRIA.
II - O CREDOR PODE SE OPOR À NÃO SOLIDARIEDADE ENTRE AS SOCIEDADES
FRUTOS DA CISÃO.
________ACÓRDÃO________________________________________
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria, negar
provimento aos Embargos, nos termos do relatório e voto constante dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.

Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1990 (Data do Julgamento).

ROMARIO RANGEL FREDERICO GUEIROS


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

L.S.A. - Empreendimentos e Participações S/A e Outros, ofereceu os presentes


Embargos Infringentes contra o aresto de fls. 144, cuja relatora, na Turma, foi a Exm Sr
Desembargadora Federal Tania Heine. O acórdão está assim ementado:
EMENTA
"COMERCIAL - CISÃO PARCIAL DE SOCIEDADE
I - Notificação Judicial da SUNAMAN, no prazo do parágrafo único do art. 223 da
Lei n 6404/76, eis que deferida prorrogação do prazo para intimação.
II - Hipoteca não é garantia suficiente do débito, podendo o credor se opor à não
solidariedade entre as empresas frutos da cisão.
III - Apelação improvida."
A Embargante fundamenta o recurso no voto vencido do Exm Sr. Desembargador
D'Andréa Ferreira de fls. 137/142, salientando, entretanto, às fls. 154 que:
"Conquanto o autor do voto vencido e as Embtes. tenham chegado à
mesmíssima conclusão (A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DO
CREDOR TEM DE CHEGAR AO CONHECIMENTO DA
SOCIEDADE DENTRO DOS 90 DIAS PREVISTOS NA LEI),
diversos foram os caminhos trilhados. É que os Embtes. sustentaram que o
parágrafo único do art. 233 da Lei n 6404/76 contempla um direito
potestativo do credor anterior à cisão, ao passo que o Desembargador
D'Andréa Ferreira vislumbrou na hipótese uma exceção material, no
sentido doutrinariamente sustentado por PONTES DE MIRANDA."
O voto vencido, no qual se estribam os Embargos diz, em síntese, que:
"Afasto completamente a questão processual. O problema não é de direito
processual, mas sim de direito material.
Pareceu-me, pelo estudo que tive oportunidade de fazer, diante do memorial, como
sempre brilhante, que me foi fornecido pelo Dr. LUIZ FERNANDO FREITAS SANTOS, que
o instituto jurídico constante do parágrafo único, in fine do artigo 233, da Lei das Sociedades
por Ações é, tecnicamente, uma exceção. Dentro da linha de que existe o direito, existe a
faculdade, existe o poder, existe o dever, existe a obrigação, existe a pretensão, existe a ação,
há a exceção. Conseqüentemente, não se trata de direito potestativo, ou formativo, nem de
direito subjetivo, ou de direito formado ou constituído. Assim, não está em linha de
consideração nem o problema da prescrição, nem o problema da decadência, porque a
exceção não prescreve, nem decai.

A exceção corresponde ao encobrimento da eficácia de um ato jurídico -


ato jurídico, aqui, tomado em sentido amplo. E o verbo que se usa, que a
legislação usa, que a doutrina usa, para ter como objeto direito a exceção,
é, justamente, o verbo OPOR. E é isso que está caracterizado no parágrafo
único do art. 233. O credor anterior à cisão poderá opor-se à estipulação em
relação ao seu crédito. Significa que a cisão, e o seu consectário, no caso, a
estipulação da não-solidariedade, podem ser, e presume-se que o sejam,
perfeitamente válidas, eis que não está em jogo o problema de validade,
não está em jogo o problema de existência, mas, tão-somente, o problema
da eficácia: através dessa expressão de vontade, o credor encobre, ou
neutraliza, ou esteriliza, com relação ao seu crédito, a eficácia daquele ato
jurídico."
Às fls. 195-verso, os autos vieram-me conclusos em atendimento ao respeitável
despacho de fls. 150, pelo que determinei fosse dada vista ao Embargado para resposta.
A Embargada ofereceu sua resposta às fls. 198/200, pedindo a rejeição dos
Embargos, sustentando, em conclusão, o seguinte:
"Muito mais segura, até porque consentânea com a forma usualmente
adotada na espécie é a orientação adotada pela corrente vencedora,
consagrando a tese da sentença de primeiro grau, no sentido de rejeitar a
pretensão das ora Embargantes, ao lembrar a lição indiscutível do
magnífico mestre José Carlos BARBOSA MOREIRA à qual se alia a não
menos seguríssima autoridade de PONTES DE MIRANDA fixando a
melhor doutrina no sentido de que as intimações se submetem às mesmas
regras jurídicas da citação e de que a interrupção do prazo extintivo
remonta ao próprio instante do despacho liminar, valendo, a propósito,
observar que a própria lei processual parece assemelhar os atos de
comunicação ao próprio procedimento cautelar específico da notificação,
haja vista o inciso II do artigo 870."
Este é o relatório, peço dia para julgamento, sem revisão, a teor do disposto no art.
38, inciso IX, do R.I.

Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1990.

FREDERICO GUEIROS
Desembargador Federal

________VOTO__________________________________________________
___

Tratam-se de Embargos Infringentes opostos contra acórdão da lavra da Des. Federal


Tania Heine na Apelação Cível n 89.02.01565-3, quando ainda integrante da 2 Turma desta
E. Corte.
O aresto embargado denegou a pretensão deduzida na ação ordinária promovida
pelas Embargantes contra a União Federal com o fito de ver declarada a ineficácia da
notificação intentada pela Superintendência da Marinha Mercante - SUNAMAM, quanto à
criação de qualquer relação jurídica de solidariedade entre a Ré da ação e as duas primeiras
Autoras, com referência ao crédito contra a Autora Libra - Linhas Brasileiras de Navegação
S.A.
A Ação foi dirigida contra a União Federal tendo em vista as disposições do Dec.-lei
n 2.035, de 21/06/83, que transferiu a administração do Fundo de Marinha Mercante para o
Ministério dos Transportes, e investiu o BNDES nas funções de agente financeiro, atribuindo
à União a condição de sucessora da SUNAMAM nos direitos e obrigações desta (Dec.-lei n
2.055, de 17/08/83).
A controvérsia gira em torno da operação de cisão parcial da empresa Embargante
Libra - Linhas Brasileiras de Navegação, que resultou na constituição das outras duas
Recorrentes L.S.A. Empreendimentos e Participações e CMN - Empreendimentos e
Participações.

Com base no estabelecido no Parágrafo Único do art. 233, da Lei das Sociedades
Anônimas (Lei n 6.404, de 15/12/76), a SUNAMAM notificou judicialmente, as três Autoras
da ação e ora Embargantes, objetivando o seguinte, verbis:
"I) Em resumo: a Notificação requerida é para tornar expresso
irreversivelmente que a notificante opõe-se à aplicação dos termos da cisão
em relação ao seu crédito, que continuará garantido em sua integralidade e
por todo o patrimônio do 1 notificante (sic) como se não houvera
acontecido a cisão, ou seja, por ele responderá tudo o que pertencer à 1
notificante onde existir, como se não tivesse havido a transferência parcial
consagrada na A.G.E."
Os Embargos Infringentes vieram estribados no voto vencido do Eminente Des.
Federal D'Andréa Ferreira, que, em síntese, reconheceu tratar-se a faculdade insculpida no
Parágrafo Único do art. 233, da Lei n 6.404/76, uma exceção material não contemplando um
direito potestativo do credor anterior à cisão. Observe-se que as Embargantes pediram na ação
e na Apelação a ineficácia da notificação que teria se operado fora de prazo e o voto vencido
reconheceu tratar-se o problema não de direito processual, mas sim de direito material,
reconhecendo não estar em linha de consideração nem o problema de prescrição, nem o
problema de decadência, porque a exceção não prescreve, nem decai. Assim, o voto vencido
agasalhou a pretensão das Autoras da ação por fundamento outro que não aquele por elas
expendido no seu pedido.
Discordo do fundamento do voto vencido de que a norma do Parágrafo Único do art.
233, da Lei n 6404/76 se constitui numa exceção material. A natureza patrimonial da cisão
afirmada na lei de modo direto e incisivo, afastando-se, inclusive, em parte, da linha que
adotou nas operações de fusão e incorporação, não permite reconhecer-se exceção material na
regra constante do citado Parágrafo Único do art. 233, mas sim direito de credor anterior à
cisão.
Mauro Brandão Lopes tratando da cisão no Direito brasileiro preleciona que:
"No definir tanto a incorporação como a fusão, deu às duas operações
aparente caráter societário, no sentido que as considerou como tendo por
agentes as próprias sociedades, e não societário no sentido que com elas
novas sociedades se formam. Tratou o primeiro caso como "absorção" de
uma ou mais sociedades por outra, e o segundo como "união" de
sociedades na formação de nova; e nas duas apontou a veradeira natureza
como sendo simples efeito - a atribuição patrimonial contida na sucessão
em direitos e obrigações. Em tudo isso a lei brasileira se aproxima do
modelo francês, mas teve também o provável intuito de preservar a
formulação já existente no Decreto-lei n 2.627/40. No novo instituto da
cisão, todavia, em que não tinha fórmula tradicional a preservar, a lei nova
mudou de critério, afirmando diretamente a natureza patrimonial da
operação,............................................................................................."
(in A CISÃO NO DIREITO SOCIETÁRIO)
Tenho, portanto, data venia, como equivocado para a espécie o erudito voto vencido
do Eminente Des. D'Andréa Ferreira.
Insistem porém os Embargantes na tese da intempestividade da notificação, já
repelida pelo acórdão a meu ver de forma absolutamente correta. Com efeito, não se discute
que as mesmas regras que regem a citação são válidas não só para a intimação, como também
para o protesto, a interpelação e a notificação. Reconheça-se que são eles atos que se
distinguem entre si, mas as diferenças não são de tal ordem a ponto de afastar a aplicação do
princípio da simetria.
Convém, nesse passo, referir o voto condutor do acórdão embargado que assim se
pronunciou:

"Publicada a ata da AGE no "Jornal do Comércio" e no "Diário Oficial" de


01/02/83, o prazo se encerraria em 02/05/83.
A notificação judicial da SUNAMAM, foi distribuída em 21/04/83 e
despachada em 29/04/83, quando o MM. Juiz determinou a citação através
de Carta Precatória. Alegam as apelantes que só foram notificadas em
18/05/83, e que, sendo o prazo decadencial, não se produziram os efeitos
legais.
Sustenta, entretanto, José Carlos Barbosa Moreira, em "O Novo Processo
Civil Brasileiro", que "a interrupção do prazo prescricional ou extintivo
porém, remonta ao próprio instante do despacho liminar, desde que o autor
promova a citação nos dez dias subseqüentes; admite-se a prorrogação até
o máximo de 90 dias, contanto que o autor a requeira nos 5 dias seguintes
ao termo final do decêndio. Caso não se efetue a citação com observância
desses prazos, a prescrição não se terá por interrompida (ou a extinção do
direito)"...
E não se diga que tal regra não se aplica às intimações, pois Pontes de
Miranda, comentando o art. 219 do CPC, já salientava que as intimações se
submetem às regras jurídicas da citação.
Acrescente-se, ainda, que na própria notificação a SUNAMAM já
requerera a prorrogação do prazo por 90 dias para intimação, o que foi
deferido pelo Juiz (fls. 77).
Não se pode, portanto, afirmar que a oposição feita pela SUNAMAM tenha
sido extemporânea.
E tal oposição era primordial, haja vista que o débito da LIBRA com o
Fundo Nacional da Marinha Mercante era, à época, no valor de Cr$
1.508.854.576,03 (Hum bilhão, quinhentos e oito milhões, oitocentos e
cinqüenta e quatro mil, quinhentos e setenta e seis cruzeiros e três
centavos). Na ocasião, transferiu para as sociedades oriundas da cisão as
parcelas de capital social de Cr$ 535.991.480,70 e Cr$ 671.221.814,90,
reduzindo o seu capital social de Cr$ 2.151.265.034,81 para Cr$
944.051.739,21.
Não se pode dizer que o fato de o débito estar garantido pela hipoteca dos
navios seja suficiente, considerando-se que os navios tendem a diminuir o
seu valor real, com o correr dos anos. Em conseqüência, o fato desses
navios continuarem no patrimônio da Libra não é o bastante para garantir o
crédito do Fundo de Marinha Mercante.
Quanto ao argumento das apelantes de que o pedido constante na
notificação (no sentido de que o crédito ficasse garantido pelo patrimônio
das empresas oriundas da cisão, como se esta não tivesse ocorrido) está em
desacordo com o art. 233 da Lei das S.A., não pode prosperar. Poder-se-ia
até criticar a forma de redação, mas jamais negar que o pedido real é a
solidariedade entre as empresas, para garantir o cumprimento da
obrigação."
Assim, reconhecida a natureza patrimonial da operação de cisão que gera a
solidariedade entre as empresas para que, através da cisão, não sejam prejudicados os credores
com a diminuição do patrimônio da empresa que se vai cindir e também a eficácia da
notificação, não vejo como possam prosperar os presentes embargos.

Por todas estas razões, conheço dos Embargos Infringentes por tempestivo, mas lhes
nego provimento.
É como voto.

Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1990.

FREDERICO GUEIROS
Desembargador Federal
________HABEAS
CORPUS__________________________________________

REGISTRO N 90.02.14635-3/TRF

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Frederico Gueiros


Impetrante: Arthur Lavigne e outro
Impetrado: Juízo Federal da 3 Vara/RJ
Paciente:Maria Alice Temporal (Réu Preso)
Paciente:Átila Temporal Junior (Réu Preso)
Paciente:Amaury Temporal (Réu Preso)

________EMENTA________________________________________________
__

PRISÃO ADMINISTRATIVA DO DEC. LEI N 1.060, de 21/10/69 - SUA


REVOGAÇÃO PELO NOVO ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL -
RECEPÇÃO INCOMPATÍVEL DA NORMA ANTERIOR - A PRISÃO CIVIL DO
DEPOSITÁRIO INFIEL EXIGE A OBSERVÃNCIA DO DUE PROCESS OF
LAW - O HABEAS CORPUS TUTELA EXCLUSIVAMENTE A LIBERDADE
DO CIDADÃO NÃO SE CONSTITUINDO EM INSTRUMENTO HÁBIL PARA
A LIBERAÇÃO DE BENS, COISAS OU DEPÓSITOS - ORDEM QUE SE
CONCEDE PARCIALMENTE PARA DETERMINAR O RELAXAMENTO DAS
PRISÕES.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à
unanimidade, conceder em parte a ordem de "Habeas Corpus" nos termos do relatório e voto
do Exm Sr. Relator, que passam a fazer parte integrante deste.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 14 de maio de 1990 (data do julgamento).

FREDERICO GUEIROS TANIA HEINE


Desembargador Federal Desembargadora Federal
Relator Presidente
________RELATÓRIO____________________________________________
__

MARIA ALICE TEMPORAL, ÁTILA TEMPORAL JUNIOR E AMAURY


TEMPORAL, por seus advogados, Ruy Meirelles e Arthur Lavigne, impetram ordem de
Habeas Corpus em seu favor, apontando, como autoridade coatora, o Exmo. Juiz da 3 Vara
Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.
Os Pacientes encontravam-se presos em regime celular, pelo prazo de noventa dias,
por ordem do MM. Juiz da 3 Vara, decretada a prisão em 25 de abril de 1990.

As prisões foram determinadas em razão da Representação do Procurador Geral


Adjunto da Fazenda Nacional, com fulcro no art. 2, parágrafo 2, art. 3, "caput" e parágrafo
4, todos do Decreto-Lei n 1.060, de 21/10/69.
A decisão do MM. Juiz, que determinou a prisão dos pacientes é do seguinte teor,
verbis:
"Presentes os pressupostos legais, determino a prisão civil de Maria Alice
Temporal, Átila Temporal Junior e Amaury Temporal, pelo prazo de
noventa dias.
Diante desta decisão, determino ao Superintendente Regional do DPF,
neste Estado, tome todas as medidas cabíveis para a efetivação da prisão
decretada.
Oficie-se à SR/DPF/RJ, com cópia desta decisão, com ressalva de
URGÊNCIA.
Oficie-se ao Banco Central do Brasil e à Comissão de Valores Mobiliários
para cumprir o pedido de fls. 05, item 17.
Todos os ofícios devem ser instruídos com o pedido de fls. 02/05.
Cumpra-se."
Efetivada a prisão dos Pacientes no dia seguinte seus advogados encaminharam
petição ao Exmo. Juiz da 3 Vara Federal, pedindo o relaxamento da prisão, após fazerem
considerações em prol do pleito que apresentavam. A petição foi despachada pelo MM. Juiz
da 5 Vara Federal, Dr. André Kozlowski, em substituição ao Dr. Benedito Gonçalves. O teor
deste despacho é o seguinte, verbis:
"Recebi hoje, sexta-feira, 27 de abril de 1990, às dezesseis horas e trinta
minutos, a petição retro de autoria de Maria Alice Temporal, Amaury
Temporal e Átila Temporal Jr. que apresentam relevantes motivos para
a revogação de sua prisão decretada pelo ilustre titular desta 3 Vara
Federal. Estando eu substituindo o ilustre titular apenas no dia de hoje
entendo não ser prudente proceder ao exame superficial para decidir e, por
outro lado, o avançado da hora não permite um exame mais profundo.
Concedo aos requerente o benefício da dúvida, e ante a declaração de
responsabilidade pessoal declarada pelo ilustre subscritor da inicial, Dr.
Rui Meirelles Magalhães em se responsabilizar pessoalmente pelos
requerentes, TRANSFORMO a prisão celular decretada em PRISÃO
DOMICILIAR e nomeio guardião o ilustre causídico acima referido.
Expeça-se mandado de soltura aos requerentes.
Rio de Janeiro, 27 de abril de 1990."
Em face deste despacho, os advogados do paciente, mais uma vez se dirigiram ao
MM. Juiz da 3 Vara Federal e, aduzindo novos argumentos, pediram o relaxamento da prisão
civil, como também a liberação das contas bancárias bloqueadas. Submetido o pedido à
Fazenda Nacional no mesmo dia, foi mantida a prisão civil, na forma domiciliar.
Estas as razões da impetração do Habeas Corpus, que se fundamenta, basilarmente,
na revogação dos dispositivos do Decreto-Lei n 1.060/69, que serviu de fundamento para a
representação e a decretação da prisão. Pedem o deferimento da ordem, por manifesta
ilegalidade da prisão civil decretada e do bloqueio das contas da empresa de que são sócios,
com liminar. Na inicial acostam os documentos de fls. 35/235.
O processo me foi distribuído, como Relator, em 02/05/90 e, nesta mesma data, às
fls. 237 proferi o seguinte despacho:
"1. Requisito informações ao MM. Juiz apontado como coator, no prazo de
dois dias.

2. Em seguida, ouça-se o Exmo. Sr. Procurador da República, também em


dois dias.
3. Após, conclusos.
Rio de Janeiro, 02 de maio de 1990."
As informações vieram no prazo assinado e se encontram acostadas às fls. 240/243,
defendendo a legalidade das prisões decretadas.
Às fls. 243/245 encontra-se o parecer do Eminente Procurador da República,
opinando pela concessão integral da ordem, inclusive com a liberação das contas bancárias da
empresa.
Os autos vieram-me conclusos, conforme certidão de fls. 246.
Este é o relatório, ponho o feito em mesa.
Rio de Janeiro, 14 de maio de 1990.

________VOTO__________________________________________________
__

Deixo de argüir preliminar de cabimento do habeas corpus em matéria de prisão


civil, por se tratar, a meu ver, de questão já pacificada, uma vez que a garantia constitucional
refere-se à liberdade de locomoção, do ir e vir, seja no âmbito do direito penal, ou na área
cível. É sabido que, da mesma maneira que é cabível mandado de segurança em matéria
penal, substantiva ou adjetiva, em matéria cível também é possível o habeas corpus,
observados, por óbvio, os requisitos de admissibilidade, como, a meu ver, se passa na hipótese
vertente. Os pacientes estão presos, em regime domiciliar, reputam ilegal esta custódia e, por
esta razão, pedem a ordem. Assim, conheço do pedido de habeas corpus, para, em seguida,
apreciá-lo, como faço agora.
A questão submetida ao crivo desta Egrégia Turma está claramente centrada a
balizada. Cuida-se de saber-se se a prisão administrativa preconizada no Dec. Lei n 1.060/69,
com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Dec. Lei n 1.104/70, ambos editados sob o
pálio do Ato Institucional n 5, tem compatibilidade com a nova ordem constitucional, que
vigora desde 05/10/88.
Sabe-se, em sede de Direito Constitucional, e de outra forma não poderia deixar de
ser, que a ordem jurídica nova recebe, quando com ela compatível, a legislação anterior, sob
pena de se estabelecer um verdadeiro buraco negro entre o que antes existia e o novo
ordenamento constitucional. Assim, há que se reconhecer, como de importância vital para a
segurança jurídica, a teroria da recepção da norma anterior, quando compatível.
O Dec. Lei n 1.060, de 21/10/1969 dispõe sobre a declaração de bens, dinheiros ou
valores existentes no estrangeiro, a prisão administrativa e o seqüestro de bens por infrações
fiscais e dá outras providências. As prisões civis contra o paciente foram determinadas em
razão de Representação do Procurador Geral Adjunto da Fazenda Nacional, com fundamento
nos artigos 2, parágrafos 2, 3 e parágrafo 4 do citado Dec. Lei, que estabelecem, verbis:
"Art 2 - Incluem-se entre as relações de qualquer natureza, de que trata o
artigo 1 do Ato Complementar n 42, de 27 de janeiro de 1969, as
obrigações de caráter tributário, e as consistentes no recolhimento à
Fazenda Pública de valores arrecadados de terceiros, para esse fim, e na
declaração ao Banco Central do Brasil de bens, dinheiros ou valores a que
se refere o artigo anterior."
.............................................................................................................
"Parágrafo 2 - Considera-se depositário, para todos os efeitos, aquele que
detenha por força da lei, valor correspondente a tributos descontados ou
recebidos de terceiros, com a obrigação de recolher aos cofres da Fazenda
Nacional.

Art. 3 - O Ministro da Fazenda, em decisão fundamentada, poderá


determinar a prisão administrativa, por prazo não superior a noventa dias,
do contribuinte que deixar de recolher aos cofres da Fazenda Pública o
valor dos tributos de que é simples detentor, nos termos do parágrafo 2 do
artigo anterior."
..............................................................................................................
"Parágrafo 4 - Na decisão que decretar a prisão administrativa, poderá o
Ministro da Fazenda determinar o seqüestro dos bens dos responsáveis pelo
não recolhimento dos tributos, e, se se tratar de pessoa jurídica, também de
bens particulares de seus diretores, administradores, gerentes, prepostos ou
sócios, suficientes para garantir o ressarcimento da lesão causada aos
cofres públicos."
A Constituição Federal de 05/10/1988, no seu Título II, que dispõe sobre os Direitos
e Garantias Fundamentais, estabelece no Capítulo I, dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos, em seu artigo 5 que:
"Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, á liberdade, á segurança e á propriedade,
nos termos seguintes:
"omissis"
"LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal."
..............................................................................................................
"LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crimes propriamente militar, definidos em lei."
"LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel."
Antes, o parágrafo 12, do artigo 153 da Constituição de 1967, com a emenda n 1 de
1969, estabelecia:
"Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita de
autoridade competente..."
Na época, a autoridade competente, discutiu-se muito isto, fosse judiciária ou não,
poderia determinar a prisão.
E por tal razão, foi editado o Dec. Lei n 1.060, que fundamenta hoje o pedido de
prisão dos pacientes.
Há que se verificar, agora, a compatibilidade da regra contida no citado Dec. Lei n
1.060, com os termos da nova norma constitucional.

Com efeito, verifica-se impossível a recepção da norma anterior, consubstanciada no


Dec. Lei n 1.060, pelo novo ordenamento constitucional. O inciso LIV do art. 5 da Carta de
1988 dispõe de forma categórica que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal. Ora, é impossível fazer-se a substituição da autoridade administrativa
pela judiciária, para, ladeando o óbice do inciso LXI da Constituição, obter-se a prisão ou o
seqüestro de bens, sem o due process of law. De acordo com a nova ordem constitucional a
prisão deverá sempre ser decretada por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente. No caso, a lei anterior que se pretende aplicar dá competência à autoridade
administrativa. Sua aplicação no âmbito do judiciário carece de específica reserva sobre a
competência do Juiz que deve apreciar o pedido da administração. A se admitir tal
substituição, como quer a Fazenda Nacional, se permitiria a qualquer Juiz decretar a prisão de
devedor, o que não se compadece com o princípio da segurança jurídica, preconizado de
forma claríssima e expressa no inciso LIV citado da Constituição de 1988. Por outro lado, há
que se reconhecer que a prisão administrativa preconiza no citado Dec. Lei n 1.060, não mais
existe em face do novo ordenamento constitucional. É certo, também, que a prisão civil do
depositário infiel subsiste na nova Constituição, mas observado o devido processo legal,
assegurado à parte amplo direito de defesa, o que não se passou na hipótese.
Nesse sentido manifestou-se o Eminente Procurador da República, às fls. 243/244,
quando expressamente reconheceu que, verbis:
"Poder-se-ia argumentar, no entanto, que tal tipo de prisão ainda sobrevive
em nosso ordenamento jurídico face ao dispositivo do item LXVIII do já
citado artigo 5 da Constituição Federal, verbis:
"LXVII - não haverá prisão civil por dívida salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel." (o grifo é nosso).
Ledo engano. A possibilidade da prisão a que se refere tal dispositivo
constitucional, sem sombra de dúvida, e até porque deve ser interpretado
sistematicamente, é a da prisão na ação de depósito e após a prolação de
sentença fundamentada.
Há que se garantir sempre, e só o devido processo legal o permite, o
contraditório e a ampla defesa aos cidadãos passíveis de punição
segregatória porque a regra é a liberdade e a excessão o confinamento, ex
vi inclusive do item LV do artigo 5 do nosso Diploma Político, que reza:
"LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e nos acusados
em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes."
Assim, por contrariar expressamente tais imperiosos dispositivos
constitucionais, e ainda, por contrariar frontalmente todo o espírito da atual
Constituição, e que tem como valores fundamentais, amparadores mesmo
do Estado Democrático de Direito, o respeito absoluto à cidadania e a
dignidade da pessoa humana, a prisão prevista no Dec. Lei n 1.060/69 não
foi acolhida ou recepcionada pelo nosso novo ordenamento jurídico,
carecendo portanto de aplicabilidade."
Há que se reconhecer, portanto, que a legislação invocada pela Fazenda Nacional
para pedir a prisão dos pacientes acha-se revogada pela nova ordem constitucional, o que
vicia de maneira desenganada as prisões decretadas.
Por fim, cumpre também reconhecer-se que, tutelando exclusivamente a liberdade, o
direito de ir e vir do cidadão, o habeas corpus não é instrumento hábil para a liberação de
bens, coisas ou depósitos, razão pela qual, neste particular, discordo do parecer do Eminente
Procurador da República.
Face a todo exposto, concedo em parte a ordem requerida, para determinar o
relaxamento das prisões decretadas com fundamento em Dec. Lei revogado pelo novo
ordenamento constitucional.
É como voto.

Rio de Janeiro, 14 de maio de 1990.

FREDERICO GUEIROS
Desembargador Federal

DESEMBARGADOR FEDERAL
SILVÉRIO LUIZ NERY CABRAL
Silvério Luiz Nery Cabral nasceu em 25 de outubro de 1927 em Manaus, Amazonas. Filho de
Luiz Caetano de Oliveira Cabral e Lydia da Silva Néry Cabral, graduou-se em Ciências
Jurídicas na Faculdade de Direito de seu Estado natal.
Começou a trabalhar no então Banco de Crédito da Borracha S/A em 1946, como diarista
avulso, sendo posteriormente admitido como Auxiliar de Escritório e Escriturário mediante
concurso. Em 1956 foi transferido para o Quadro de Advogados daquele estabelecimento de
Crédito, permanecendo como funcionário do Banco até 1967, quando solicitou exoneração
por ter sido nomeado Juiz Federal Substituto.
Antes de chegar à Magistratura, porém, ocupou cargos no Executivo e Legislativo. Como
funcionário requisitado, foi Secretário Geral de Administração da Prefeitura de Manaus, em
1951, e Vereador à Câmara Municipal na legislatura 1952/1956, se destacando como um dos
autores da Lei Orgânica do Município.
Lecionou Direito do Trabalho na Escola de Serviço Social da capital amazonense e foi
professor concursado de Direito do Colégio Comercial Solon de Lucena.
Posto à disposição do Gabinete do Ministro Extraordinário para a Coordenação de
Organismos Regionais, General Cordeiro de Farias, passou a servir como Assistente Jurídico
do Governador do Território Federal de Roraima. No ano seguinte, em 1966, foi nomeado
pelo Presidente da República, Humberto Castelo Branco, para compor o Conselho
Penitenciário de Roraima, tendo, também, representado o Governo daquela unidade da
federação no Conselho Consultivo do Banco de Crédito da Amazônia S/A.
Em 1967 tomou posse como Juiz Federal Substituto de Roraima, onde permaneceu até ser
removido para a 3 Vara da Seção Judiciária de Brasília, em 1972. Neste período subs-tituiu os
Juízes Federais do Amapá, Amazonas e Acre, em férias e impedimentos.
Promovido, por merecimento, a Juiz Federal da 3 Vara do Rio Grande do Sul, foi removido,
por permuta, para a 4 Vara daquela Seção Judiciária. Em 1975, através de eleição, tornou-se
Juiz Substituto do Tribunal Regional Eleitoral Gaúcho.
Novamente removido, por força de permuta, chegou à Seção Judiciária do Rio de Janeiro, em
1976, sendo lotado na 9 Vara.
Designado pelo Tribunal Federal de Recursos, teve assento no Tribunal Regional Eleitoral do
Rio de Janeiro, inicialmente como Juiz Subs-tituto e após como Juiz Efetivo da Corte
Eleitoral no biênio 81/83.
Em abril de 1990 tomou posse no Tribunal Regional Federal da 2 Região, onde integra hoje a
2 Turma de Juízes.

________INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
_____________________

________JURISPRUDÊNCIA EM REO/MAND. DE
SEG.________________
REGISTRO N 90.02.16057-7/RJ

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Silvério Cabral


Susct: Ministério Público Federal
Parte A: Mercantil Itália Ltda. e Outro
Parte R: União Federal/Fazenda Nacional

________EMENTA________________________________________________
__

TRIBUTÁRIO. DESEMBARAÇO DE MERCADORIA IMPORTADA DO


EXTERIOR. ICMS.
- Nos termos do Art. 146, item III, letra a da Constituição Federal, somente Lei
Complementar pode estabelecer normas sobre fato gerador, base de cálculo e
contribuintes, não sendo suficientes para tal, lei estadual ou convênio celebrado
entre Estados.
- Inexistindo Lei Complementar específica, o fato gerador do ICMS, antigo ICM, na
hipótese prevista no Art. 155, paragráfo 2, item IX, letra a da Carta de 1988,
continua a ser a entrada da mercadoria no estabelecimento destinatário.
REFERÊNCIAS:
Art. 34, paragráfo 8, do ADCT à CF de 1988.
Art. 146, III, a, da CF de 1988.
Art. 155, paragráfo 2, item IX, letra a, da CF de 1988.
I.U.J. na REO/MS N 90.02.16057-7.
Súmula STF n 577.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:
Acordam os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por maioria,
uniformizar a jurisprudência nos termos do voto do Relator, constante dos autos e que fica
fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 06 de junho de 1991 (data de julgamento).

PAULO FREITAS BARATA SILVÉRIO CABRAL


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
__

Quando do julgamento do Agravo Regimental nos autos do presente Mandado de


Segurança, lancei a seguinte decisão:
"MERCANTIL ITÁLIA LTDA E OUTROS impetraram Mandado de
Segurança contra INSPETOR DA RECEITA FEDERAL NO PORTO DO
RIO DE JANEIRO, objetivando, em síntese, eximirem-se da comprovação
do pagamento do IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE
MERCADORIAS-ICM, para a liberação de mercadoria importada,
exigência que entendem ilegal e arbitária.
Deferida a liminar e posteriormente a segurança - despacho de fls. 54 e
sentença de fls. 68/71, a União Federal apelou da decisão concessiva, tendo
o recurso processamento regular no Juízo de Primeiro Grau, subindo em
seguida para a Segunda Instância, onde como Relator, através do despacho
de fls. 80, com base no art. 90, paragráfo 2 da Lei Complementar n 35/79,
e nos artigos 38, paragráfo 1, iniciso II e 363, com a redação que lhe foi
dada pela Emenda Regimental n 1/89, do Regimento Interno desta Corte,
tendo em vista a Súmula n 577 do Supremo Tribunal Federal , negou
seguimento à Apelação e determinou a baixa dos autos à Vara de origem.
Inconformada, a UNIÃO FEDERAL impugnou, tempestivamente, com
AGRAVO REGIMENTAL, de fls. 82/86, onde alega que a Súmula
transcrita aplica-se, apenas, aos casos regidos pela legislação anterior à
vigência do <MIU>Convênio ICM n 66/88, publicado no Diário Oficial da
União de 16 de dezembro de 1988.
Assevera, que de acordo com o artigo 34, parágrafo 8 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, aquele Convênio veio reger
provisoriamente a matéria até edição de lei complementar.
Salienta, que o art. 2 do Convênio ICM 66/88, que transcreve, deixa claro
que o simples recebimento, pelo importador, de mercadorias provenientes
do exterior já configura a ocorrência do fato gerador, do ICM, não
podendo, por isso, a Súmula n 577 ser invocada.
Ressalta, por outro lado, que o art. 475, II, do Cógigo de Processo Civil,
determina que está sujeita ao duplo grau de jurisdição a sentença proferida
contra a União, o ESTADO e o MUNICÍPIO, estabelece, ainda, o
mencionado artigo que a sentença não produzirá efeito senão depois de
confirmada pelo Tribunal.
Diz que a UNIÃO FEDERAL, assim como os ESTADOS e MUNICÍPIOS
são privilegiados por lei, quanto ao reexame da matéria, porque, se não for
apreciado o recurso voluntário ou necessário, a sentença não transitará em
julgado.
Conclui dizendo que espera seja dado provimento ao presente Agravo, a
fim de que venha a ser reexaminada a sentença que concedeu a segurança.
Estabelece o Regimento Interno, em seu art. 242, que o prolator do
despacho agravado, pode reconsiderar o despacho ou submeter o agravo ao
julgamento do Plenário ou da Turma, conforme o caso.
Não procedem os argumentos da UNIÃO FEDERAL, constantes da
petição que interpôs o Agravo Regimental.

A Carta de 1988, em seu art. 146, III, letra <MIU>a, exige LEI
COMPLEMENTAR para a fixação de norma sobre fato gerador, bases de
cálculo e contribuintes, mas essa Lei Complementar não existe ainda.
Assim, de nenhuma valia é o Convênio que estabeleceu a nova hipótese de
incidência do ICM.
Por tudo isso, entendo que continua prevalecendo o enunciado da
SÚMULA n 577 do Pretório Excelso, razão pela qual mantenho o
despacho agravado".
Na oportunidade o Professor Juarez Tavares, ilustre Representante do Ministério
Público Federal suscitou o incidente de uniformização de jurisprudência em face de decisão
unânime da 1 Turma deste Tribunal, com relação à mesma matéria, em sentido
diametralmente oposto ao que vem decidindo a 2 Turma.
Submetida a proposição à Turma, esta, por unanimidade, acordou na remessa do
feito ao Plenário na forma do art. 106, do Regimento Interno.
Às fls. 102/3, oficiou o Ministério Público Federal.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL SILVÉRIO CABRAL


(RELATOR): - Cuidam os autos de Uniformização de Jurisprudência desta Corte, acerca da
matéria tratada no Convênio ICM 66/88, e que diz respeito à exigibilidade antecipada do
Imposto Sobre Circulação de Mercadorias.
A Primeira Turma desta Egrégia Corte, assim tem decidido:
"- Por força do artigo 34, parágrafo 8 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, a instituição e a cobrança do ICMS não são
mais reguladas pelo DL 406/68, e sim por Convênio celebrado pelos
Estados e o Distrito Federal, até que a própria União o faça por Lei
Complementar.
- Celebrado o Convênio em questão, e promulgada pelo Estado do Rio de
Janeiro a Lei n 1.423, de 27/01/89, com base nele, fixando como fato
gerador do imposto o recebimento, pelo importador, da mercadoria
importada, assim considerado o despacho aduaneiro, é nessa oportunidade
que ele é devido, e não mais na entrada no estabelecimento."
Entretanto, a Terceira Turma tem entendido:
"DIREITO TRIBUTÁRIO. DESEMBARAÇO DE MERCADORIA
IMPORTADA DO EXTERIOR. DESCABIMENTO DA
COMPROVAÇÃO DA EXIGÊNCIA DO PAGAMENTO DO ICM, CUJO
FATO GERADOR É A ENTRADA DA MERCADORIA NO
ESTABELECIMENTO DO IMPORTADOR. NÃO COMPETE AO
FISCO FEDERAL EXIGIR A ANTECIPAÇÃO DO PAGAMENTO DO
TRIBUTO ESTADUAL, ALEGANDO A EXISTÊNCIA DE CONVÊNIO
ENTRE A UNIÃO E O ESTADO MEMBRO, POIS TAL CONVÊNIO
NÃO SE SOBREPÕE À LEI".
Tal entendimento também tem sido adotado pela Segunda Turma:
"I - O fato gerador do ICM, relativamente às mercadorias estrangeiras é o
momento da entrada dessas mercadorias no estabelecimento do importador
(art. 1, inciso II, do Decreto-Lei n 406/68 e Súmula n 577 do STF).
II - Ilegitimidade da exigência do prévio recolhimento do ICM, para que a
autoridade fiscal libere mercadoria importada.

III - Continua prevalecendo o enunciado da Súmula n 577 do Pretório


Excelso".
Em face do exposto, por entender que continua prevalecendo o enunciado da Súmula
577 do Pretório Excelso, voto pela uniformização da jurisprudência de conformidade com os
acórdãos das 2 e 3 Turmas.
É como voto.

SILVÉRIO CABRAL
Desembargador Federal

________APELAÇÃO EM MANDADO DE
SEGURANÇA________________

________UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA___________________

REGISTRO N 90.02.12184-9

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Silvério Cabral


Apelante: Minerações Brasileiras Reunidas S/A - MBR
Apelado:União Federal / Fazenda Nacional
________EMENTA________________________________________________
__

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS. ISENÇÃO.


DECRETO-LEI N 2434/88.
- A isenção do IOF, prevista no art. 6 do Decreto-Lei n 2434/88, somente se aplica
às importações realizadas ao amparo de guias emitidas a partir de 01 de junho de
1988.
- Jurisprudência uniformizada com a edição da Súmula 03 do Tribunal Regional
Federal da 2 Região.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas:


Acordam os Membros do Tribunal Regional Federal da 2 Região, à unanimidade, no
incidente de uniformização de jurisprudência suscitado nos termos do art. 113 do R.I., na
Apelação em Mandado de Segurança n 90.02.12184-9, editar a Súmula N 03 com o seguinte
enunciado: A isenção do IOF, prevista no art. 6 do Decreto-Lei n 2434/88, somente se aplica
às importações realizadas ao amparo de guias emitidas a partir de 1 de julho de 1988, na
forma do voto do Relator, constante dos autos e que fica fazendo parte integrante do presente
julgado.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 1990 (data do julgamento)

ROMARIO RANGEL SILVÉRIO CABRAL


Desembargador Federal Desembargador Federal
Presidente Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

Quando do julgamento da Apelação em Mandado de Segurança de n 90.02.12184-9,


lancei o seguinte relatório:
"Trata-se de Remessa Necessária e de Apelação interposta por Minerações
Brasileiras Reunidas S.A. - MBR de sentença do MM. Juiz Federal da 6
Vara/RJ, em Mandado de Segurança impetrado contra ato do Delegado da
Receita Federal no Rio de Janeiro, com o objetivo de eximir-se do
pagamento do IOF-Imposto Sobre Operações Financeiras, por ocasião do
fechamento do câmbio decorrente de importações.

Inconformada com a decisão de Primeira Instância, recorre a Impetrante


alegando que a sentença não apreciou a questão dentro dos melhores
ensinamentos do nosso direito.
Salienta, que o art. 6 do Decreto-lei n 2.434/88 isenta o pagamento do
IOF, as operações de câmbio realizadas sobre o amparo de Guias de
Importação emitidas a partir de 1.7.88.
Esclarece que essa medida que veio abolir o IOF, a partir de 01.07.88,
constitui uma violação flagrante aos princípios gerais do Direito Tributário,
constituindo uma injustiça a todos os importadores que tiverem guias
emitidas em datas anteriores.
Observa, que a emissão de Guias de Importação é circunstância alheia ao
fato gerador do IOF, que ocorre no fechamento da operação cambial.
Alega que está configurada a violação do art. 63 do CTN, e violentado o
princípio constitucional da Isonomia.
Recebido o recurso e devidamente contra-arrazoado, subiram os autos a
esta Eg. Corte, oportunidade em que o Procurador da República oficiou às
fls. 131/132, manifestando-se pelo improvimento do recurso."
Na oportunidade o Professor Juarez Tavares, ilustre Representante do Ministério
Público Federal, ponderou que a matéria já se encontra pacificada, consoante torrencial
jurisprudência desta Corte, tendo a seguir, o eminente Desembargador ALBERTO
NOGUEIRA, sugerido que a matéria fosse apreciada pelo Plenário deste Tribunal Regional
Federal, a fim de ser sumulada.
Submetida a proposição à Turma, esta, por unanimidade, acordou na remessa do
feito ao Plenário, na forma do art. 113 do Regimento Interno.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

EXMO. SR. DR. SILVÉRIO CABRAL (RELATOR) - Cuidam os autos de


uniformização de Jurisprudência desta Corte, acerca da matéria de que trata o Decreto-lei n
2.434/88, e que diz respeito a isenção do pagamento do I.O.F., nas importações por ocasião do
fechamento do Câmbio.
Votei, em diversas oportunidades, neste sentido:
"O Decreto-lei n 2.434/88 estabeleceu isenção para as operações de
câmbio realizadas para pagamento de bens importados, cujas guias de
importação fossem emitidas a partir de 1 de julho de 1988.
O novo diploma legal não alterou o fato gerador do tributo, determinando,
isso sim, um marco temporal, a partir do qual seria concedido a todos,
isenção do IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS.
Não ocorreu, na hipótese, a violação do princípio constitucional da
isonomia, o que teria ocorrido se fossem criadas discriminações, o que não
aconteceu, pois como já dissemos, todos os que estiverem alcançados pelo
disposto no art. 6 podem usufruir igualmente do benefício.
O legislador pode determinar critérios para a concessão de isenção fiscal,
sem que, necessariamente, tenha que se arrimar somente no fato gerador do
imposto.
Concluindo, apenas os bens importados, cujas guias de importação tenham
sido emitidas após 1 de julho de 1988, estão alcançadas pela isenção do
art. 6 do Decreto-lei n 2.434.

Não existe afronta a qualquer disposição legal. Foi apenas cumprido o


estabelecido no Decreto-lei.
É esse o entendimento pacífico deste Tribunal, consubstanciado em
inúmeras decisões, algumas das quais transcrevemos:
TRIBUTÁRIO. IOF. ISENÇÃO. DECRETO-LEI N 2.434/88.
- Não sendo o fato gerador o elemento escolhido para isenção do IOF, mas sim a
data da
expedição da guia de importação, não importa lesão ao princípio de
isonomia a não extensão do benefício às importações operadas já na
vigência do Decreto-lei 2.434/88, se a guia foi emitida antes de 01.07.88.
- A situação do importador que obtém autorização para importar, sabendo
que está sujeito ao IOF, não é idêntica à daquela que o faz sabendo da
isenção.
(Decisão unânime - Rel. Des. Fed. Clélio Erthal - 1 Turma)
TRIBUTÁRIO. DECRETO-LEI N 2.434/88.
Imposto Sobre Operações Financeiras, na modalidade de IOC (Imposto
Sobre Operação de Câmbio), relativamente à importação coberta por guia
emitida anteriormente a 1 de julho de 1988, porém com fechamento de
câmbio a efetivar-se em data posterior.
I - O art. 6 do Decreto-lei n 2.434/88 isentou do pagamento do IOF
apenas as operações de câmbio amparadas por guia de importação emitidas
a partir de 1 de julho de 1988, não atingindo aquelas lastreadas por guias
emitidas antes dessa data.
II - Inexistente a necessária norma isentiva (CTN, art. 176), não há como,
por mera eqüidade, eximir-se do pagamento do tributo (CTN, art. 108,
parágrafo 2).
III - Apelação improvida. Decisão unânime.
(Relator - Desembargador Federal Alberto Nogueira - 2 Turma).
IOF. ART. 6 DO DECRETO-LEI 2434/88.
- ISENÇÃO CONCEDIDA ÀS OPERAÇÕES DE CÃMBIO DESTINADAS AO
PAGAMENTO DE BENS IMPORTADOS AO AMPARO DE GUIA DE IMPORTAÇÃO
EMITIDA A PARTIR DE 01/07/1988 - IMPOSSIBILIDADE DA EXTENSÃO DESSE
BENEFÍCIO ÀS IMPORTAÇÕES REALIZADAS AO AMPARO DE GUIAS EXPEDIDAS
EM DATA ANTERIOR ÀQUELA - INTERPRETAÇÃO LITERAL DA LEGISLAÇÃO
QUE CONCEDE A ISENÇÃO FISCAL (ART. 111, II, DO CTN).
(Decisão unânime - Relator Desembargador Federal Ney Valadares - 3 Turma).
Assim, aqui e agora, entendo que a matéria deva ser sumulada, para orientação da
Justiça Federal nos termos da legislação pertinente.
É como voto.

SILVÉRIO CABRAL
Desembargador Federal

________RELATÓRIO____________________________________________
__
Trata-se de apelação interposta por Minerações Brasileiras Reunidas S/A-MBR de
sentença do MM. Juiz Federal da 6 Vara/RJ, em Mandado de Segurança impetrado contra ato
do Delegado da Receita Federal no Rio de Janeiro, com o objetivo de eximir-se do pagamento
de IOF-Imposto Sobre Operações Financeiras, por ocasião do fechamento do câmbio
decorrente de importações.
Inconformada com a decisão de Primeira Instância, recorre a Impetrante alegando
que a sentença não apreciou a questão dentro dos melhores ensinamentos do nosso direito.
Salienta, que o art. 6 do Decreto-lei n 2434/88 isenta do pagamento do IOF, as
operações de câmbio realizadas sobre o amparo de Guias de Importação emitidas a partir de
01/07/88.
Esclarece que essa medida que veio abolir o IOF, a partir de 01/07/88, constitui uma
violação flagrante aos princípios gerais do Direito Tributário, constituindo uma injustiça a
todos os importadores que tiverem guias emitidas em datas anteriores.
Observa, que a emissão de Guias de Importação é circunstância alheia ao fato
gerador do IOF, que ocorre no fechamento da operação cambial.
Alega que está configurada a violação do art. 63 do CTN, e violentado o princípio
constitucional da Isonomia.
Recebido o recurso e devidamente contra-arrazoado, subiram os autos a esta Eg.
Corte, oportunidade em que o Procurador da República oficiou às fls. 131/132,
manifestando-se pelo improvimento do recurso.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

EXMO. SR. DR. SILVÉRIO CABRAL (RELATOR): O Decreto-lei estabeleceu


isenção para as operações de câmbio realizadas para pagamento de bens importados, cujas
guias de importação fossem emitidas a partir de 1 de julho de 1988.
O novo diploma legal não alterou o fato gerador do tributo, determinando, isso sim,
um marco temporal, a partir do qual seria concedido a todos, isenção do IMPOSTO SOBRE
OPERAÇÕES FINANCEIRAS.
Não ocorreu, na hipótese, a violação do princípio constitucional da isonomia, o que
teria ocorrido se fossem criadas discriminações, o que não aconteceu, pois como já dissemos,
todos os que estiverem alcançados pelo disposto no art. 6 podem usufruir igualmente do
benefício.
O legislador pode determinar critérios para a concessão de isenção fiscal, sem que,
necessariamente, tenha que se arrimar somente no fato gerador do imposto.
Concluindo, apenas os bens importados, cujas guias de importação tenham sido
emitidas após 1 de julho de 1988, estão alcançados pela isenção do art. 6 do Decreto-lei n
2434.
Não existe afronta a qualquer disposição legal. Foi apenas cumprido o estabelecido
no Decreto-lei.
É esse o entendimento pacífico deste Tribunal.
Meu voto é pela manutenção da sentença e improvimento da apelação.
É como voto.

SILVÉRIO CABRAL
Desembargador Federal
DESEMBARGADOR FEDERAL
AGUSTINHO FERNANDES DIAS DA SILVA
Agustinho Fernandes Dias da Silva, filho de Agustinho Alves da Silva e Maria Fernades do
Nascimento Silva, nasceu em 21 de setembro de 1929 na cidade de São Francisco do Sul,
Santa Catarina. É casado com Elizabeth Bastos da Silva, tendo desta união três filhos,
Cristina, Eduardo e Alfredo Bastos da Silva.
Iniciou os estudos no Colégio Stella Matutina em sua cidade natal, vindo a concluir o Curso
Clássico no Educandário Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Graduou-se em Direito pela UFRJ
em 1956, onde também cursou Doutorado e obteve a Livre Docência. Possui ainda, na mesma
instituição, cursos de Atualização (Estudos de Problemas Brasileiros), Aperfeiçoamento
(Direito Privado Romano), Extensão (Os Grandes Problemas do Direito Comercial
Contemporâneo) e Especilalização (Direito Penal). Na Universidade de Cambridge,
Inglaterra, diplomou-se Proficiente em Inglês.
Exerceu a advocacia entre 1957 e 1974, tendo neste ínterim trabalhado como Tradutor
Público e Intérprete Comercial e Juiz Civil no Tribunal Marítimo, no qual depois de nove
anos foi eleito vice-presidente.
Em 1974 ingressou, através de concurso público, na Magistratura Federal como Juiz
Substituto. Promovido a Juiz Titular em 1977, ocupou três anos mais tarde a Direção do Foro
da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.
Indicado Membro Suplente do Tribunal Regional Eleitoral para o biênio 83/84, retornou a
esta Corte no período seguinte como Membro Efetivo. Em 1989 foi nomeado por ato do
Presidente da República para fazer parte do Tribunal Regional Federal da 2 Região, onde
assumiu a função de Presidente da 1 Turma de Juízes.
Professor Titular da UFRJ, lecionou também na Faculdade de Ciências Jurídicas da SUESC,
Universidade Gama Filho e na Fundação dos Estudos do Mar (FEMAR). Foi membro, entre
outros, dos Conselhos de Ensino, Universitário, de Coordenação de Pós-Graduação;
participou de Bancas Examinadoras de concursos de Livre Docência, Mestrado e Doutorado e
contribui periodicamente como correspondente da revista "Lawyer of the Americas" da
Universidadea de Miami, Estados Unidos.
Entre seus trabalhos publicados destacam-se artigos para jornais e revistas especializadas bem
como os seguintes livros: Direito Internacional Privado (Parte Geral e Especial), Estudo
Programado de Direito Internacional e A imunidade internacional de jurisdição perante o
direito constitucional brasileiro.
Condecorado com inúmeros diplomas e medalha, entre as quais a do "Mérito do Tamandaré",
concedida pelo Ministro da Marinha, possui o título de Comendador da Legião do Mérito
Presidente Antônio Carlos e é membro das seguintes instituições: American Society of
International Law, Instituto dos Advogados do Brasil, American Chamber of Commerce of
Brazil, Federación Inter-Americana de Abogados e da Sociedade Brasileira de Direito
Internacional.
Havendo se aposentado deste Tribunal em 23 de outubro de 1989, o Desembargador
reassumiu suas atividades como advogado, prosseguindo em suas funções de Professor Titular
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em março de 1991, assumiu também as de
Professor Titular da Universidade Católica de Petrópolis.
________HABEAS
CORPUS__________________________________________

REGISTRO N 89.02.09180-5

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Agustinho Fernandes


Impetrante: Adolpho Gomez Teijeira
Impetrado: Juízo Federal da 13 Vara / RJ
Paciente:Jorge Ferreira

________EMENTA________________________________________________
__

"HABEAS CORPUS". BONS ANTECEDENTES, PARA EFEITO DE APELAR


EM LIBERDADE. ART. 594 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
Tendo o paciente sido condenado há mais de 22 anos, por crime previsto no art. 68
do Código Penal (apropriação indébita) e pelo qual foi apenado a somente 1 ano e 4
meses de reclusão e multa de Cr$ 50,00, deixa esse fato de constituir mau
antecedente, para efeitos processuais, sobretudo quando a própria lei já o considera
extinto para efeitos de reincidência.
Habeas Corpus concedido.

________ACÓRDÃO______________________________________________
__

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a 1 Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por unanimidade,
conceder a ordem, determinando a cassação do mandado de prisão expedido contra o
paciente, para que possa apelar em liberdade, na forma do relatório, que fica fazendo parte
integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.
Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1989 (data do julgamento).

AGUSTINHO FERNANDES
Desembargador Federal
Presidente/Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

JORGE FERREIRA, qualificado a fls. 2, impetrou "habeas corpus", alegando estar


ameaçado de ser preso em virtude de condenação contra si proferida pelo MM. Juiz da 13
Vara desta Seção, não obstante caber-lhe o direito inquestionável de apelar solto.
Desde 1984, trabalhou como Procurador do Sindicato dos Armadores do Município
do Rio de Janeiro e se viu envolvido em processo perante a 13 Vara por se ter apurado que era
de sua autoria a assinatura do Presidente do Sindicato, em carteira profissional de um
associado, que com ela obteve benefício da Previdência Social. Foi condenado a dois anos e
oito meses de reclusão, expedindo-se mandado para sua prisão imediata, em decorrência da
alegação de ter antecedentes criminais.

Entretanto, o delito a que fora condenado em 13 de Junho de 1967 já se acha


prescrito, de acordo com o art. 109, n IV, do Código Penal, devendo sobre ele se fazer
perpétuo silêncio e não constituindo, portanto, óbice ao seu direito de apelar solto.
O MM. Juiz da 13 Vara prestou informações, juntando cópia da sentença e
esclarendo que, embora tenha sido expedido o mandado de prisão contra o paciente, não havia
ele sido preso até então.
A ilustre representante do M.P. deu parecer, sustentando que a sentença
condenatória, embora não fazendo menção à reincidência, considerou que o impetrante "tem
antecedentes que o desabonam", não fazendo jus, portanto, ao benefício pretendido.
É o relatório.

arquivo original - set/996 - geração: notlih do valle filho - editoraçào: ramanal pimenta
________VOTO__________________________________________________
__

Dispõe o art 594 do Código de Processo Penal:


"Art. 594. O réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar
fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na
sentença condenatória, ou condenado por crime de que se livre solto".
Segundo bem salientou a ilustre representante do M.P., "é certo que, na forma do art.
64, I, do Código Penal, a condenação anterior do ora impetrante, a entender-se exatos os
dados fornecidos a fls. 2/6 dos autos, não geraria reincidência".
Entretanto, não basta a exclusão da reincidência, pois o art. 594 do Código Penal
exige que, além de ser primário, o Réu, para apelar solto, tenha bons antecedentes. Assim, o
paciente preenche o primeiro requisito, sendo discutível o segundo.
Entendo que uma única condenação, há mais de 22 anos, por crime previsto no art.
168 do Código Penal (apropriação indébita) e pelo qual foi apenado a somente 1 ano e 4
meses de reclusão e multa de Cr$ 5,00, deixa de constituir mau antecedente, para efeitos
processuais, sobretudo quando a própria lei já o considera extinto para efeitos de reincidência.
O significado da expressão "bons antecedentes" está sujeito à apreciação judicial, devendo ser
considerado de um modo global, sem se fixar num único fato, que deixou de interessar ao
direito penal. É verdade que, quando grave, tal fato poderia ter influência decisiva nesta
questão, o que não é o caso.
Concedo a ordem, determinando a cassação do mandado de prisão expedido contra o
paciente, para que possa apelar em liberdade. Comunique-se.

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1989.

AGUSTINHO FERNANDES
Desembargador Federal
________MANDADO DE
SEGURANÇA________________________________

REGISTRO N 12/TRF

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Agustinho Fernandes


Impetrante: Viação Nossa Senhora de Medianeira
Impetrado: Juiz Federal da 2 Vara / RJ

________EMENTA________________________________________________
__

MANDADO DE SEGURANÇA. EFEITO SUSPENSIVO EM AGRAVO DE


INSTRUMENTO. ART. 497 DO C.P.C .
A concessão de mandado de segurança contra decisão judicial, tendo em vista a
natureza do ato impugnado, há de revestir-se de cautelas especiais, sobretudo
quando a própria lei autoriza o ato, quando resta apenas a hipótese de evidente abuso
do poder, inocorrente no caso. Pretensão fundada em matéria de fato, a ser apreciada
em ação principal, mediante ampla dilação probatória.
Segurança denegada.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:


Decide a 1 Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por unanimidade,
julgar improcedente o pedido e denegar a segurança, nos termos do relatório, que fica fazendo
parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1989.

AGUSTINHO FERNANDES
Desembargador Federal
Presidente/Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

Trata-se de mandado de segurança impetrado por VIAÇÃO NOSSA SENHORA DE


MEDIANEIRA LTDA. contra ato do MM. JUIZ FEDERAL DA 2 VARA/RJ, praticado na
ação cautelar n 89.001.7661-7, ajuizada pela Impetrante contra o DNER, na qual deixou de
dar efeito suspensivo a agravo de instrumento, intrerposto contra despacho denegatório de
medida liminar requerida com o propósito de evitar graves prejuízos que a postulante estaria
sofrendo.
Alegou a Impetrante que, em dezembro de 1987, ajuizou ações declaratórias contra o
DNER a fim de ter reconhecida em juízo sua situação de permissionária daquela autarquia
federal, das linhas MEDIANEIRA/ALTAMIRA (Proc. 89.002.246-4 - 12 Vara/RJ),
TENENTE PORTELA/CANARANA (Proc. 88.002.248-0 - 2 Vara/RJ) e
MEDIANEIRA/ALTA FLORESTA (Proc. 88.002.247-2 - 16 Vara/RJ), que vinha explorando
com o consentimento tácito e indireto do DNER.
Ocorreu, recentemente, que o DNER passou a turbar a execução das citadas linhas,
proibindo inicialmente a Impetrante de receber passageiros em algumas estações redoviárias
e, a seguir, negando-se a vistoriar os ônibus e a fornecer as tabelas de preços oficiais, o que
ocasionou a utilização de tarifas não oficiais e, em conseqüência, a aplicação de multas por
parte da referida autarquia federal, inclusive com a apreensão dos veículos que se
aproximavam da estação rodoviária de CASCAVEL/PARANÁ.
Com o objetivo de voltar à situação anterior, na qual o DNER permitia a entrada nas
estações rodoviárias, fornecia tabelas de preços, aceitava recolhimento dos impostos e fazia
vistoria nos ônibus, ajuizou as ações cautelares anteriormente mencionadas.
O MM. Juiz da 2 Vara/RJ, ora impetrado, indeferiu a liminar requerida na cautelar n
89.001.7661-7, entendendo estarem ausentes o fumus bonus iuris e o periculum in mora.
Em decorrência, interpôs agravo de instrumento, recebido pelo douto magistrado
apenas no efeito devolutivo, o que contrariava a unânime jurisprudência dos Tribunais, que
entendem ser dever do julgador receber os agravos com efeito também suspensivo, em casos
semelhantes ao presente.
Citando doutrina e jurisprudência favoráveis e esse entendimento, requereu medida
liminar, no sentido de ser o agravo recebido com efeito suspensivo. Requereu, ainda, a
notificação do DNER na qualidade de litisconsorte necessário.
Juntou os documentos de fls. 21/171.
Indeferida a liminar, foram solicitadas informações à autoridade impetrada, que as
prestou a fls. 176/180, sustentando que não havia motivos para dar ao agravo de instrumento
interposto outro processamento senão aquele indicado pelas disposições processuais
pertinentes, não lhe dando efeito suspensivo, por ser cristalina a norma contida no art. 497, do
C.P.C., segundo o qual o recurso em apreço não obsta ao andamento do processo.
O DNER, na qualidade de litisconsorte necessário, manifestou-se a fls. 182/192,
arguindo, preliminarmente, a extinção do feito, com base no art. 267, item VI, do C.P.C., por
ser a Impetrante carecedora de ação, pela ausência de possibilidade jurídica do pedido; quanto
ao mérito, fazia considerações sobre matéria de fato, qualificando como absurda a pretensão
da impetrante, baseada em atos ilícitos.
O Ministério Público opinou a fls. 220/222, pela denegação da segurança.
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

A norma, conforme se infere do art. 497 do C.P.C., é de que o agravo de instrumento


seja recebido sem efeito suspensivo. Por outro lado, a concessão de mandado de segurança
contra decisão judicial, tendo-se em vista a natureza do ato impugnado, há de revestir-se de
cautelas especiais, sobretudo quando a própria lei autoriza o ato, restando apenas a hipótese, a
considerar, de evidente abuso de poder.
No caso, porém, a pretensão da Impetrante repousa em matéria de fato, que deverá
ser apreciada em ação principal, mediante ampla dilação probatória. Conceder o mandado de
segurança seria admitir, em procedimento sumário, aquilo que a própria interessada julgou
depender de uma ação declaratória, o que seria absurdo. Denego, portanto, a segurança.

Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1989.

AGUSTINHO FERNANDES
Desembargador Federal

________HABEAS
CORPUS__________________________________________

REGISTRO N 89.02.10391-9

Relator: Exmo. Sr. Desembargador Federal Agustinho Fernandes


Impetrante: Ruy Cesar Pereira
Impetrado: Juízo Federal da 13 Vara/RJ
Paciente:José Lopes de Oliveira

________EMENTA________________________________________________
__

"HABEAS CORPUS". TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.


A prescrição, reconhecida em relação aos Ministros de Estado envolvidos no caso,
não se estende ao paciente, uma vez que lhe é atribuído delito diverso, com prazo
prescricional mais alongado. Excluídos do processo os referidos Ministros, não se
justifica a submissão dos autos ao Supremo Tribunal Federal, porquanto já não
haveria o que sustentasse a competência por prerrogativa de função.
Ordem denegada.

________ACÓRDÃO______________________________________________
___

Vistos e relatados estes autos entre as partes acima indicadas:


Decide a 1 Turma do Tribunal Regional Federal da 2 Região, por unanimidade,
denegar a ordem, na forma do relatório, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.
Custas, como de lei.

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1989.

AGUSTINHO FERNANDES.
Desembargador Federal
Presidente/Relator

________RELATÓRIO____________________________________________
___

RUY CESAR NUNES PEREIRA, advogado inscrito na OAB-SP sob o n 34.548,


impetrou ordem de habeas corpus em favor de JOSÉ LOPES DE OLIVEIRA, qualificado a
fls. 2, que estaria sofrendo coação ilegal por parte do JUÍZO DA 13 VARA FEDERAL/RJ,
face à denúncia por este recebida nos autos do Processo n 6.370/87.
Objetivando o trancamento da ação penal, o Impetrante alegou, em resumo, o
seguinte:
O extinto BNH recebeu do Grupo DELFIN, para liquidação parcial de seus débitos,
o domínio de certos imóveis, através de uma dação em pagamento, cuja operação teve sua
regularidade posta em dúvida. Em razão disso, formou-se uma Comissão Parlamentar de
Inquérito - CPI, cujas conclusões e recomendações, aprovadas mediante resolução da Câmara
dos Deputados, serviram de base à referida denúncia.
A citada CPI, na parte por ela denominada de "enfoque criminal", propôs o seguinte:

"6) comunicação ao Ministério Público, do Rio e São Paulo para as


providências legais cabíveis sobre os atos de gestão fraudulenta praticados
pelo Sr. Ronald Guimarães Levinsohon, principal acionista e administrador
do grupo Delfin, e pelos <MIU>demais Diretores das Empresas de Crédito
Imobiliário do Grupo;
7) Idem ao Ministério Público no Rio de Janeiro (local onde o episódio
aconteceu), "para que se promova o exame da responsabilidade criminal de
José Lopes de Oliveira e seus Diretores, os que se prestaram a coonestar
suas atividades - Mario Castorino de Fontes Brito, Zaven Boghossian e
Antonio Luiz Candal da Fonseca -à luz do delito de prevaricação";
8) considerar incursos em crime de responsabilidade (Lei n 1.079/50) três
(3) Ministros de Estado, bem como "infratores de Normas de
Administração Pública, pelas razões seguintes:
"a) os três homens públicos referidos foram signatários do
Despacho que impôs ao BNH o acordo, lesivo por todos os títulos
aos cofres públicos, com o Grupo Delfin;
b) os três cidadãos em tela assumiram decisão administrativa
prejudicial ao interesse público, conforme já admitiu o Tribunal
Federal de Recursos (TFR), quando os considerou réus de Ação
Popular correndo na Justiça Federal de Brasília para buscar a
anulação do acordo DELFIN-BNH".
Assim, a CPI indiciou pessoas diversas em dois possíveis ilícitos penais, isto é, atos
de gestão fraudulenta de administradores das empresas de crédito imobiliário e crimes de
funcionários públicos contra a Administração Pública.
Como a dação em pagamento foi imposta à Diretoria do ex-BNH pelos Ministros de
Estado que foram considerados co-autores de eventual delito, fato reconhecido pelo Egrégio
Tribunal Federal de Recursos em ação popular proposta para anular a dação em pagamento,
deslocou-se a competência para recebimento de qualquer denúncia contra as autoridades
públicas envolvidas na operação, para o Supremo Tribunal Federal, por prerrogativa da
função. Tal ensejou a devolução dos autos à Procuradoria Geral da República, em cujo
pronunciamento se declarou que os fatos enunciados pela CPI poderiam constituir "... crimes
de condescendência criminosa e prevaricação, respectivamente (artigos 320 e 319, do Código
Penal). Todavia, tratando-se de fatos ocorridos há mais de quatro anos é de se reconhecer que
há muito, se verificou a prescrição, causa extintiva da punibilidade que veda o exame da
efetiva ocorrência de tais delitos e dos indícios suficientes de sua autoria, já que não mais se
pode cogitar de oferecimento de eventual denúncia". Assim, os autos retornaram ao Juízo da
13 Vara Federal "para oferecimento de denúncia contra as demais pessoas nele referidas".
Entende o Impetrante que a causa extintiva da punibilidade de 2 (dois) responsáveis
pelos mesmos atos, deveria, obrigatoriamente, estender-se aos demais responsáveis, por se
tratar de eventual ilícito praticado em concorrência e, assim sendo, ocorreu o arquivamento do
inquérito com relação a todas as pessoas que participaram da operação acoimada de ilícita
pela CPI.
Por outro lado, se denúncia houvesse, face à competência por prerrogativa da
função, todos os co-autores responderiam pelo eventual delito, perante o Supremo Tribunal
Federal, uma vez que no concurso da jurisdição de categorias diversas, prevaleceria a de
maior graduação. Logo, o pedido de arquivamento formulado pela Procuradoria Geral da
República, junto ao STF, estendeu-se aos demais co-autores.

Por último, na hipótese de qualquer ação penal, com relação aos funcionários
públicos envolvidos em questão, o destino seria o arquivamento, uma vez que a pretensa
vítima confessou que não sofreu qualquer dano, conforme confissão contida no ofício datado
de 30.06.89, no qual o órgão de liquidação do Banco Central do Brasil, dirigindo-se a um
Delegado da Polícia Federal incumbido das investigações, afirmou, com o aval de decisão do
Conselho Monetário Nacional, que o BNH revendeu, com lucro, os terrenos recebidos,
inexistindo, assim, qualquer prejuízo daquele Banco em decorrência da mencionada operação
de dação em pagamento.
Juntou os documentos de fls. 13/52.
Foram solicitadas informações à autoridade impetrada, que as prestou a fls. 56,
confirmando os elementos informativos constantes dos autos.
O Ministério Público Federal, a fls. 58/60, opinou pela denegação da ordem,
mediante parecer do qual merece destaque o seguinte:
Ensina com propriedade, Damásio de Jesus que
"a prescrição somente extingue a pretensão punitiva, deixando
intangíveis a tipicidade e a anatijuricidade do fato. Da mesma
forma, ela não exclui o juízo da culpabilidade. Em face dela, o
fato subsiste típico e ilícito, de autoria de um sujeito
eventualmente culpado. A possibilidade jurídica de aplicação da
sanção (a punibilidade), entretanto, extingue-se pelo decurso do
tempo". (in Prescrição Penal, São Paulo. Ed. Saraiva, 1989, p.26).
A comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados,
encarregada de investigar os episódios do "<MIU>caso BNH-DELFIN",
que culminaram com a intervenção do Banco Central, apurou a ocorrência
de ilícitos penais, os quais, entretanto, embora envolvendo diversas
pessoas, não configuravam, com relação a todas elas, o mesmo tipo penal.
O então Sub-Procurador da República Aristides Junqueira Alvarenga, em
parecer aprovado pelo Procurador Geral à época (fls. 39/41), verificou que
a conduta dos ex-Ministros de Estado configuraria, em tese, crimes de
condescendência criminosa e de prevaricação. Estes crimes, descritos nos
arts. 320 e 319 do Código Penal, respectivamente, foram atingidos pela
prescrição, causa extintiva da punibilidade.
Outro, entretanto, foi o ilícito praticado pelo paciente da presente
<MIU>ordem de habeas corpus. Este, com pena máxima mais pesada, não
havia esgotado, ainda, o prazo prescricional, quando do oferecimento da
denúncia (fls. 13/16). Nenhum dos réus, por sua vez, tinha privilégio de
foro, que justificasse o pretendido deslocamento da competência.
Por outro lado, a denúncia, baseada nas conclusões da CPI da Câmara dos
Deputados, descreve fato típico atribuído ao ora paciente, o que impede o
seu trancamento, como, entre inúmeros outros já decidiu o antigo Tribunal
Federal de Recursos, no acórdão proferido no HC-0007307-SP:
"EMENTA. Processual Penal. Habeas Corpus. Trancamento de ação penal.
O Habeas Corpus não constitui meio idôneo para o trancamento de ação
penal, que visa apurar o fato revestido, em tese, de ilicitude penal. Ordem
denegada".
Neste sentido também, o Acórdão da mesma Corte, proferido no HC-0007229-SP:
"Ementa. Penal. Habeas Corpus. Trancamento da ação. Exame
aprofundado da prova. Não se tranca ação penal por habeas corpus quando
os fatos descritos na denúncia constituem, ainda que em tese, infração
penal, com envolvimento do paciente nos mesmos...".
É o relatório.

________VOTO__________________________________________________
___

Dispõe o art. 43 do Código de Processo Penal:


"Art. 43. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - o fato narrado evidentemente não constituir crime;
II - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa;
III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida pela
lei para o exercício da ação penal".
Conforme se verifica pelo bem lançado parecer do ilustre representante do
Ministério Público, a única causa para rejeição da denúncia, das previstas no acima transcrito
dispositivo legal, seria a prescrição. Esta, entretanto, reconhecida com relação aos dos
Ministros de Estado envolvidos no caso, não se estende ao paciente, uma vez que lhe é
atribuído delito diferente, com prazo prescricional mais alongado.
Por outro lado, excluídos do processo os referidos Ministros de Estado, já não seria
justificada a remessa do processo ao Supremo Tribunal Federal, porquanto já não haveria o
que sustentasse a competência por prerrogativa de função.
A alegação de inexistência de dano, que decorreria de confissão da pretensa vítima,
exceda os limites do exame de admissibilidade da denúncia, tendo bem agido o Juiz
impetrado em deixar tal alegação para apreciação oportuna.
Como aditamento a este, adoto as razões que fundamentaram o judicioso parecer da
ilustre representante do Ministério Público, denegando a ordem.

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1989.


AGUSTINHO FERNANDES
Desembargador Federal

SIGLAS E ABREVIATURAS USADAS NESTA REVISTA

AC Apelação Cível
ACr Apelação Criminal
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
Adm Direito Administrativo
Ag Agravo de Instrumento
AgRPRC Agravo Regimental em Precatório
AgRSL Agravo Regimental em Suspensão de Liminar
AI Ato Institucional
AMS Apelação em Mandado de Segurança
BACEN Banco Central
BTN Bônus do Tesouro Nacional
CEF Caixa Econômica Federal
CF Constituição Federal
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
Cm Direito Comercial
CP Código Penal
CPC Código de Processo Civil
CPP Código de Processo Penal
Ct Direito Constitucional
CTN Código Tributário Nacional
DJU Diário da Justiça da União
DL Decreto-Lei
DOE Diário Oficial do Estado
DOU Diário Oficial da União
EC Emenda Constitucional
EIAC Embargos Infringentes na Apelação Cível
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FND Fundo Nacional de Desenvolvimento
FNT Fundo Nacional de Telecomunicação
HC Habeas Corpus
ICM Imposto sobre Circulação de Mercadorias
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
INAMS Argüição de Inconstitucionalidade em Apelação em
Mandado de Segurança
INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor
INSRF Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal
IOF Imposto sobre Operações Financeiras
IPC Índice de Preços ao Consumidor
IRVF Índice de Reajuste de Valores Fiscais
ISS Imposto sobre Serviços
ISTC Imposto sobre Serviços de Transportes e Comunicações
IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência
MPF Ministério Público Federal
MS Mandado de Segurança
ORTN Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional

OTN Obrigações do Tesouro Nacional


Pn Direito Penal
Direito Processual Civil
Direito Processual Penal
Direito Previdenciário
RE Recurso Extraordinário
REO Remessa Ex Officio
RO Recurso Ordinário Trabalhista
RTJ Revista Trimestral de Jurisprudência
RvCr Revisão Criminal
SL Suspensão de Liminar
SS Suspensão de Execução de Medida Liminar
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TRF Tribunal Federal de Recursos
Tr Direito do Trabalho
Trbt Direito Tributário
TRF Tribunal Regional Federal

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