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Direito das Sucessões
Elaborados na regência do Professor Luís Menezes Leitão
por
Henrique Simões | n.º 60906
Os apontamentos não dispensam a leitura dos manuais obrigatórios, nem a presença nas aulas
teóricas. É possível (ou melhor, é certa) a existência de erros (quer de direito, quer ortográficos).
0. Notas Introdutórias 10
0.1 Sucessão inter vivos e Sucessão mortis causa 10
0.1.1 Doação com Reserva de Usufruto 10
0.1.2 Doação com reserva do direito de dispor de coisa determinada 10
0.1.3 Doação cum moriar 11
0.1.4 Doação si praemoriar 11
0.1.5 Partilha em Vida 12
0.2 Pressuposto da Sucessão 13
0.3 Objeto da Sucessão 14
1.Espécies de Sucessores 15
1.1 Diferenças de Regime 17
1.1.1 Exigir Partilha e Requerer Inventário 17
1.1.2 Responsabilidade pelos encargos da herança 18
1.1.3 Regime das providencia relativas a memoria do falecido 18
1.1.4 Regime das Vocações Indivisíveis 19
1.1.5 Outros Aspetos 19
1.1.6 Direito de Acrescer 19
1.2 Conclusão 19
2. Designação Sucessória 19
3. Abertura da Sucessão 21
4. Vocação Sucessória 22
5. Pressupostos da Vocação 23
5.1 Personalidade Jurídica 23
5.1.1 PMA após a abertura da sucessão 24
5.1.2 Personalidade Coletiva 25
5.1.3 Sobrevivência em relação ao de cuius 25
5.2 Capacidade Sucessória 25
5.2.1. Incapacidade: Indignidade e Deserdação 25
5.2.1.1 Indignidade Sucessória 25
5.2.1.2 Deserdação 28
5.3 A Titularidade da designação sucessória prevalecente 30
6. Princípio da Indivisibilidade da Vocação 30
6.1 Exceções 31
6.1.1 As situações no âmbito da Sucessão Contratual 31
6.1.2 As situações no âmbito da Sucessão Legitimária e Testamentária 31
6.1.3 A situação de transmissão do direito de suceder 31
6.1.4 A situação de pluralidade de legados 31
6.1.5 A situação de atribuição concomitante do legado e da herança 31
6.1.6 A situação da parte acrescida com encargos especiais 32
7. Modalidade da vocação 32
7.1 Vocação Originária e Subsequente 32
7.2 Vocação Pura e Impura (Condicional, a Termo e Modal) 33
7.3 Vocação Una e Múltipla 34
7.4 Vocação Direta e Indireta 34
7.5 Vocação Imediata e Derivada 35
7.6 Vocação Comum e Anómala 35
7.7 Modalidades de Vocações Anómalas 36
7.7.1 A transmissão do direito de suceder 36
7.7.2 Substituição Direta 37
7.7.2.1 Modalidades da Subsituição Direta: 37
7.7.3 O Direito de Representação 39
7.7.3.1 Na sucessão legal 39
7.7.3.2 Na sucessão testamentária 39
7.7.3.3 Na sucessão contratual 41
7.7.3.4 Regime do direito de representação 41
7.7.3.4.1 Desigualdade de graus sucessórios com pluralidade de estripes 41
7.7.3.4.2 Igualdade de graus sucessórios com pluralidade de estripes 42
7.7.3.4.3 Unidade da Estripe 43
7.7.4. Direito de Acrescer 43
7.7.4.1 Sucessão Legal 44
7.7.4.2 Sucessão Testamentária 45
7.7.4.2.1 Entre Herdeiros 46
7.7.4.2.2 Entre Legatários 47
7.7.4.2.3 Geral 47
7.7.4.3 Sucessão Contratual 47
7.7.4.4 Natureza do Direito de Acrescer 48
7.7.5 Substituição Fideicomissária 48
7.7.4.4.1 Situação Jurídica do Fiduciário 49
7.7.4.4.2 Situação Jurídica do Fideicomissário 50
7.7.4.4.3 Fideicomissos Irregulares 50
7.7.5 Concurso de Vocações Anómalas 51
8. Sucessão Legitima 51
8.1 Hierarquização de Sucessivos 52
8.1.1 Preferência de classe 52
8.1.2 Preferência de graus de parentesco 52
8.1.3 Divisão por cabeça 53
8.1.3.1 Exceções a regra da divisão por cabeça 53
8.2 Sucessão do Cônjuge e Descendentes 54
8.3 Sucessão do Cônjuge e Ascendentes 55
8.4 Sucessão Exclusiva do Cônjuge 56
8.5 Sucessão dos Irmãos e seus Ascendentes 56
8.6 Sucessão dos Colaterais até ao quarto grau 56
8.7 Sucessão do Estado 57
9. Sucessão Testamentária 57
9.1 Características do Testamento enquanto Negócio Jurídico 58
9.1.1 Unilateral 58
9.1.2 Não Receptício 58
9.1.3 mortis causa 58
9.1.4 Gratuito 59
9.1.5 Formal 59
9.1.6 Individual 59
9.1.7 Pessoal 60
9.1.8 Livremente Revogável 61
9.2 Forma do Testamento 62
9.2.1 Formas Comuns 62
9.2.1.1 Testamento Público 62
9.2.1.2 Testamento Cerrado 63
9.2.1.3 Testamento Internacional 63
9.2.2 Formas Especiais 64
9.2.2.1 Regime Geral 64
9.2.2.2 Testamento Militar 65
9.2.2.2.1 Testamento Militar Público 65
9.2.2.2.2 Testamento Militar Cerrado 65
9.2.2.2.3 Formalidades Complementares 66
9.2.2.3 Testamento Marítimo 66
9.2.2.4 Testamento a bordo de aeronave 66
9.2.2.5 Testamento feito em caso de Calamidade Pública 66
9.2.3 Âmbito da Forma Legal 67
9.2.4.1 Possibilidade Física e Legal, Determinabilidade e Licitude do objeto e do fim do Testamento 67
9.2.4.2 Capacidade Testamentária Ativa 68
9.2.4.2.1 Substituição Pupilar e Quase-Pupilar 68
9.2.4.2.1.1 Substituição Pupilar 69
9.2.4.2.1.2 Substituição Quase-Pupilar 69
9.2.4.3 Indisponibilidade Relativa 69
9.2.4.3.1 As disposições do maior acompanhado a favor de acompanhante ou administrador legal de
bens 70
9.2.4.3.2 As disposições do menor a favor do tutor, curador, administrador legal de bens e protutor 70
9.2.4.3.3 As disposições de alguém a favor do médico ou enfermeiro que tratar o Testador ou a favor
do sacerdote 71
9.2.4.3.4 As disposições efetuadas pelo cônjuge a favor da pessoa com quem cometeu adultério 71
9.2.4.3.5 As disposições efetuadas pelo testador a favor do notário ou dos outros intervenientes no
testamento ou a sua aprovação 71
9.2.4.3.6 As disposições legalmente proibidas quando realizadas por interposta pessoa 71
9.2.4.3.7 A disposições efetuadas em violação de impedimentos matrimoniais 71
9.3 Falta e Vícios da Vontade no Testamento 72
9.3.1 Clareza e Esclarecimento 72
9.3.2 Declarações Não Sérias 72
9.3.3 Falta de consciência da declaração e coação física 73
9.3.4 Incapacidade Acidental 73
9.3.5 Simulação 73
9.3.6 Reserva Mental 73
9.3.7 Erro na declaração 74
9.3.8 Erro-vício, dolo, ou coação moral 74
9.3.8.1 Erro-vício 74
9.3.8.2 Dolo e Coação 75
9.3.8.2.1 Coação Moral 75
9.3.8.2.2 Usura 75
9.4 Invalidade e Inexistência do Testamento 76
9.4.1 Confirmação 76
9.4.2 Carater Injuntivo 77
9.5 Interpretação do Testamento 77
9.5.1 Normas Interpretativas Especificas em matéria testamentária 79
9.5.2 Integração do Testamento 80
9.6 Conteúdo do Testamento 81
9.6.1 Disposições de natureza não patrimonial 81
9.6.1.1 Declaração de Maternidade 81
9.6.1.2 Perfilhação 81
9.6.1.3 Designação de tutor 81
9.6.1.4 Disposições a favor da alma 81
9.6.1.5 Outras Disposições 82
9.6.2 Disposições de natureza patrimonial 82
9.6.2.1 Disposições a título de herança 82
9.6.2.2 Disposições a título de legado 82
9.6.2.2.1 Legados Típicos e Atípicos 83
9.6.2.2.2 Legados per vindicationem e per damnationem 83
9.6.2.2.3 Legados dispositivos e obrigacionais 83
9.6.2.2.4 Legados com eficácia imediata e mediata 83
9.6.2.2.5 Posição de Menezes Leitão 84
9.6.2.3 Legados Dispositivos 84
9.6.2.3.1 Legado de coisa certa e determinada 84
9.6.2.3.2 Legado de usufruto 85
9.6.2.3.3 Legado de crédito 85
9.6.2.4 Legados Obrigacionais 85
9.6.2.4.1 Legado de coisa genérica 85
9.6.2.4.2 Legado Alternativo 86
9.6.2.4.3 Legado de prestação periódica 86
9.6.2.5 Regime da perturbação do legado 87
9.6.2.5.1 Legado de Coisa Alheia 87
9.6.2.5.2 Legado de coisa certa e determinada integrada na comunhão conjugal 87
9.6.2.5.3 Legado de coisa pertencente ao próprio legatário 88
9.6.2.5.4 Legado de coisa onerada 88
9.6.2.5.5 Legado para pagamento de dívida inexistente ou extinta 89
9.6.2.6 Instituição de Fundações 89
9.6.3 Cláusulas Acessórias do Testamento 90
9.6.3.1 Condição 90
9.6.3.1.1 Regime da pendência da condição 91
9.6.3.1.2 Verificação da condição 92
9.6.3.2 Termo 92
9.6.3.2.1 Pendência do termo 92
9.6.3.2.2 Verificação do termo 93
9.6.3.3 Modo 93
9.6.3.3.1 Regime 93
9.7 Revogação do Testamento 94
9.7.1 Modalidades 94
9.7.1.1 Modo da Revogação 94
9.7.1.1.1 Revogação Expressa 94
9.7.1.1.2 Revogação Tácita 94
9.7.1.1.3 Revogação Real 95
9.7.1.2 Âmbito da Revogação 96
9.7.2 Revogação do Testamento Revogatório 96
9.7.3 Caducidade do Testamento 96
10. Sucessão Contratual 97
10.1 Modalidades 97
10.1.1 Pactos Renunciativos 98
10.1.2 Pactos Aquisitivos ou Designativos 98
10.1.3 Pactos Dispositivos 98
10.2 Regime 98
10.2.1 Pactos Sucessórios Renunciativos 98
10.2.2 Pactos Sucessórios Designativos 100
10.2.2.1 Disposição do esposado a favor do outro ou reciprocamente em relação a ambos 100
10.2.2.2 Disposição de terceiro a favor de um ou de ambos os esposados 101
10.2.2.3 Disposição dos esposados a favor de terceiros 102
10.2.2.4 Doação por morte para casamento 102
10.3 Natureza Jurídica da situação jurídica dos sucessíveis contratuais 103
10.4 Possibilidade de repúdio 103
11. Sucessão Legitimária 104
11.1 Herdeiros Legitimários 104
11.2 Legítima 105
11.2.1 Legítima Objetiva 105
11.2.2 Legítima Subjetiva 105
11.2.3 Cálculo da Legítima 106
11.2.3.1 Relictum 106
11.2.3.2 Donatum 106
11.2.3.3 Passivo 106
11.2.4 Fórmula de Cálculo da Legítima 106
11.3 Tutela da Legítima 107
11.3.1 Tutela Quantitativa da Legítima 107
11.3.1.1 Redução por inoficiosidade 107
11.3.1.1.1 Legitimidade 108
11.3.1.1.2 Regime 109
11.3.1.1.3 Natureza Jurídica 110
11.3.2 Tutela Qualitativa da Legítima 111
11.3.2.1 Cautela Sociniana 111
11.3.2.2 Legado por conta da legítima 113
11.3.2.2.1 Natureza Jurídica 113
11.3.2.3. Legado em substituição da legítima 114
11.4 Colação 115
11.4.1 Âmbito de aplicação subjetivo 115
11.4.1.1 A dispensa da colação 116
11.4.2 Obrigação de Conferir 117
11.5 Imputação 118
11.5.1 Doações feitas aos descendentes que entrem na sucessão 118
11.5.2 Doações feitas aos descendentes que não queiram ou não possam aceitar a sucessão 119
11.5.3 Doações feitas ao cônjuge 120
11.5.4 Doações feitas ao cônjuge que renunciou a herança 120
11.5.5 Doações feitas a ascendentes 121
11.5.6 Doações feitas a favor de pessoas que à data não eram sucessível legitimários do doador 121
11.5.7 Deixas a favor dos herdeiros legitimários 121
11.5.7.1 Deixas a título de herança 121
11.5.7.2 Deixas a título de legado 121
11.5.7.2.1 Pré-Legado 121
11.5.7.2.2 Legado por conta da legítima 121
11.5.7.2.3 Legado em substituição da legítima 121
11.5.8 Deixas a favor de não sucessíveis legitimários prioritários 122
11.5.9 Síntese 122
12. Pendência da Sucessão 122
12.1 Modalidades 123
12.2 Administração 123
12.2.1 Providências de Administração 123
12.2.2 Curadoria da Herança 124
12.3 Notificação 124
12.4 Natureza Jurídica 124
12.4.1 Tese da Obnubilação do Sujeito 125
12.4.2 Tese de Direitos e Obrigações à Espera de Sujeito 125
12.4.3 Tese da Vinculação de uma Universalidade Jurídica 125
12.4.4 Tese das Situações Jurídicas sem Sujeito 125
0. Notas Introdutórias
0.1 Sucessão inter vivos e Sucessão mortis causa
Quando se estabelece o conceito de Sucessão, torna-se impossível de distinguir a sucessão em
vida da sucessão por morte. Se se tiver uma sucessão em vida, o fenómeno sucessório resulta de um ato
jurídico, normalmente um negócio jurídico, realizado em vida do autor da sucessão, e constitui a causa
jurídica da aquisição. Por contrário, na sucessão por morte os efeitos jurídicos apenas se produzem por
morte do autor da sucessão, o que implica que, neste caso, a morte seja considerada a causa jurídica da
aquisição, isto não impede que seja celebrado em vida um negócio jurídico que depois vai determinar
esta aquisição, é o que sucede com o Testamento e com o Pacto Sucessório, nos casos em que são
admitidos, se se verificar numa situação deste tipo é a celebração de um negócio, o qual tem relevância
para efeitos da designação sucessória, mas este negócio não produz efeitos em vida do autor da
sucessão.
Esta distinção é especialmente relevante relativamente aos negócios jurídicos mortis causa,
tomando-se em consideração a norma que aparece no Artigo 946.º/1, o qual proíbe a doação por
morte, salvo nos casos previstos pela lei, admitindo o número 2 deste preceito que seja vista como
disposição testamentaria a doação que haja produzir os seus efeitos por morte do doador, desde que
sejam observadas as formalidades dos testamentos – ou seja, o Artigo 946.º/2 admite a conversão da
doação por morte em testamento, desde que sejam observadas as formalidades deste.
Neste âmbito existe na prática jurídica perante certos negócios a dificuldade de aferir se esta
perante uma situação de doação por morte proibida ou perante uma situação de disposição em vida por
negócio jurídico. Estes negócios são:
v) partilha em vida.
Na prática familiar é muito comum fazer uma doação com reserva de usufruto, isto é, alguém
doa determinada coisa, mas reserva para si o usufruto sobre esta, isto implica que o donatário fica logo
proprietário, porém o doador permanece usufrutuário da coisa: assim, o donatário só vai ver a
propriedade consolidada, quando o usufrutuário morrer.
Neste âmbito, apesar de só se adquirir a propriedade plena com a morte do doador, a verdade é
que não se está perante um negócio mortis causa, pois o que vem a suceder é que a pessoa se limitou a
doar a nua propriedade, tendo o negócio efeitos em vida.
Existe neste caso uma propriedade resolúvel, uma vez que o doador pode retirar da coisa que
doou enquanto for vivo. Se for uma quantia, a verdade é que há aqui um encargo por parte do
donatário. Em ambos os casos está-se perante um negócio que produza efeitos em vida, a morte não faz
adquirir nada pelo donatário.
i) Antunes Varela e Pires de Lima defendem que a doação cum moriar não é proibida
pelo Artigo 2028.º, mas já o é pelo Artigo 949.º;
ii) a maioria da doutrina, de onde se inserem Cristina Araújo Dias, Pereira Coelho,
Capelo de Sousa, considera valida esta doação, entendendo que a lei apenas proíbe as doações por
morte, sendo que neste caso a morte não é a causa jurídica da doação, mas apenas o seu termo
suspensivo.
iii) Menezes Leitão considera que a lei determina que seja invalida a doação, seguindo
neste ponto a posição de Antunes Varela e Pires de Lima, porque o que a lei proíbe no Artigo 946.º é a
produção dos efeitos da doação por morte do doador, não que esta seja a causa jurídica da doação. Ora
uma vez que o termo suspensivo é a morte, os efeitos da doação só se produzem com esta, nos termos
do Artigo 278.º, e é por isto que a doação deve ser considerada nula, podendo valer, porém, como deixa
testamentaria, se observadas as formalidades do testamento.
Neste caso:
i) Antunes Varela e Pires de Lima consideram que esta doação é proibida pelo Artigo
946.º, pois:
a) em primeiro lugar, porque consideram que é muito difícil avaliar quais são os
requisitos de validade da doação por morte;
iii) Menezes Leitão considera que o Artigo 946.º não proíbe apenas as doações mortis
causa, mas também todas as doações que produzam efeitos em morte do doador.
Neste sucede resulta efetivamente do negócio que o doador quer antecipar a partilha de
determinados bens. A lei não o classifica como pacto sucessório, a verdade é que não produz efeitos por
morte do doador, porém tem uma função sucessória, pois trata-se de uma caso de doação a um
presuntivo herdeiro legitimário. A lei até tem um esquema curioso de admitir a possibilidade de o
negócio aproveitar herdeiros legitimários futuros, assim se sobrevier ou se tornar conhecido outro
presuntivo herdeiro legitimário, este pode exigir que lhe seja composta em dinheiro a parte
correspondente, à luz do Artigo 2029.º/2. O pagamento das tornas em dinheiro pode ser feito efetuado
imediatamente com o negócio, não o sendo está sujeito a atualizações, à luz do Artigo 2029.º/3.
A primeira questão que surge em relação a este negócio é que este realiza-se entre os
presumidos herdeiros legitimários: só sendo abrangidos pelo negócio, os presumidos herdeiros
legitimários. Não sendo considerada como pacto sucessório, sendo vista pelo legislador como uma
especialidade da sucessão entre vivos, haverá, no entanto, uma doação entre vivos com encargos em
relação aos herdeiros com uma função sucessória, uma antecipação daquilo que os herdeiros iriam
receber por morte.
Por isto, é uma doação entre vivos com algumas características especiais como é o
consentimento abrange não apenas o donatário, mas também os presumidos herdeiros legitimários.
Questiona-se, porém, se a partilha em vida vai determinar a aplicação dos institutos da colação
e redução por inoficiosidade: estes são dois institutos que protegem a posição dos herdeiros
legitimários:
ii) na colação – não é obrigatório, mas há uma presunção que o autor da sucessão não
quis prejudicar uns filhos em relação aos outros, determina o Artigo 2104.º, que todo o que autor doou
em vida aos descendentes é devolvido a herança.
a) Corte Real defende que se aplica, uma vez que é necessário proceder a atualização
dos valores;
b) José António Barreiros, Pereira Coelho, Oliveira Ascensão, e Cristina Araújo Dias
defendem que se exclui a aplicação.
iii) Menezes Leitão defende que se a aplicar estes institutos desvirtua-se o negócio da partilha
em vida, o que se está a fazer é a prévia antecipação relativamente a algo que irá ocorrer
posteriormente à morte do autor, não se está verdadeiramente a permitir que em vida se faça a
partilha: por isto, a ideia subjacente a este negócio é a antecipação da partilha, por este motivo é que a
lei desde 1977 a lei tutela herdeiros legitimários que aparecerem depois. Independentemente, se
houver uma valorização considerável, não se deverá aplicar estes institutos.
Consta do Artigo 68.º/2 a chamada presunção de comoriência, isto é, quando duas pessoa
morrem e não se sabe qual delas morreu primeiro, presume-se que morreram ao mesmo tempo.
A morte presumida, verificada os seus requisitos à luz do Artigo 114.º, também pode determinar
a abertura da sucessão, uma vez que a declaração de morte presumida produz os mesmo efeitos da
morte, como resulta do Artigo 115.º, a lei admite porém a possibilidade de demonstrar que óbito
ocorreu em situação diversa daquela indicada na declaração, nos termos do Artigo 118.º/1, podendo
portanto haver mais ou menos sucessores. Prevê-se igualmente a possibilidade de o ausente regressar,
no Artigo 119.º.
Um outro caso é as chamadas curadorias provisórias e definitivas, que permitem a pessoa, antes
da declaração da morte presumida, tomar providencias em relação ao património do ausente. Com a
curadoria definitiva, nos termos do Artigo 99.º, determina os Artigos 102.º e 103.º que pode haver uma
entrega antecipada dos bens aos herdeiros, legatários e outros interessados, e por isto procede-se a
abertura dos testamentos cerrados, por força do Artigo 101.º. Mas aqui não se está perante uma
sucessão, pois os curadores definitivos não são vistos como proprietários dos bens que administram, só
tendo poderes de fruição no caso de serem ascendentes ou descendentes do ausente, e é por isto que a
entrega provisória dos bens cessa com o regresso do ausente, com a noticia da sua existência e do lugar
que reside, com a certeza da sua morte, ou com a declaração de morte presumida, como resulta do
Artigo 112.º.
Um aspeto importante é que a morte tem de ser inscrita no registo civil. Tanto a morte efetiva,
tanto a morte presumida, como as curadorias, constituem factos sujeitos a registo, nos termos do Artigo
1.º, p) e j) CRC. Os familiares do falecido tem o dever de proceder ao registo do óbito, nos termos do
Artigo 193.º CRC, sem o qual não poderão invocar a sucessão. No caso do cadáver não ser encontrado,
há regras, designadamente em caso de naufrágio, que determina os Artigos 204.º/2 e 3, 207.º e 208.º
CRC que se procede a justificação judicial do óbito, a qual está previsto nos Artigos 233.º e ss. CRC.
A lei prevê que uma vez registada óbito, nos termos do Artigo 3.º CRC, que a prova do mesmo
não pode ser ilidida por qualquer outra, a não ser nas ações de Estados ou nas ações de registo civil.
i) direitos reais;
A sucessão não se limita as situações jurídicas substantivas, podendo ocorrer a sucessão nas
situações adjetivas ou processuais, como o direito de instaurar ou prosseguir uma ação judicial.
Em princípio a lei não admite que a intransmissibilidade seja excluída por via negocial, uma vez
que implicaria renúncia a sucessão, hipótese proibida pelo Artigo 2028.º/1. Mas podem se extinguir por
morte os direitos renunciáveis, à luz do Artigo 2025.º/2.
Há casos duvidosos, é o caso do direito à indemnização pela perda da vida do autor da sucessão:
i) Antunes Varela, Oliveira Ascensão, e Corte Real, que os familiares só tem direito a
danos próprios, e não aos danos sofridos pelo autor da sucessão em consequência da perda de
personalidade;
iii) Daniel Morais defende que há uma regra especial do Artigo 496.º, Menezes Leitão
discorda, defendendo que o Artigo 496.º é um direito de indemnização por danos morais próprio dos
familiares do autor.
Jorge Duarte Pinheiro fala de uma sucessão imprópria no caso da transmissão do direito ao
arrendamento, como resulta do Artigo 1106.º CC e o Artigo 57.º NRAU. Menezes Leitão discorda.
Uma outra situação é o contrato de seguro de vida, neste caso o direito tem fonte no contrato a
favor de terceiro, em especial na promessa a cumprir depois da morte do autor, embora a lei determine
que o terceiro só adquire o direito à prestação após a morte do promissário, este tem como fonte o
contrato, não se tratando de um fenómeno sucessório.
1.Espécies de Sucessores
Os sucessores distinguem-se entre herdeiros e legatários. Esta distinção assenta no antigo mito
do Direito Romano, de que é apenas continuador do trabalho do de cuius o herdeiro, não se passando
isto com os legatários. Embora hoje o Artigo 2030.º/1 CC venha estabelecer que ambos são sucessores,
há alguma doutrina que continua influenciada por esta configuração romana. Hoje a distinção apenas é
relevante para o objeto da sucessão.
Galvão Telles – é herdeiro aquele que sucede na universalidade me si; enquanto, que o legatário
é aquele que sucede em bens concretos.
Também é considerando herdeiro aquele que sucede no remanescente, nos termos do Artigo
2030.º/3 CC.
A lei não é, todavia, clara relativo aos casos em que o testador proceda a repartição do
património, não de uma forma aritmética, mas antes tomando em consideração a natureza dos bens,
casos em que estes ficam determinado – herança ex res certa – a hipótese do testador deixar por via de
deixas dicotómicas a totalidade do seu património: ex. ao A dou os meus bens moveis, ao B dou os meus
bens imoveis.
No anteprojeto do Código, Galvão Telles afastava a hipótese da herança ex res certa, posição
que manteve, considerando-a como legado.
O facto que esta norma nunca passou para o Código, levou a maioria da doutrina a classificar a
situação como herança, como por exemplo: Capelo Sousa, Cristina Dias, Jorge Duarte Pinheiro.
Daniel Morais – classifica como legado, sendo que só pode ser considerando como herança, se
tal for a vontade do autor da sucessão.
Menezes Leitão defende que deixas que repartem o património com base na natureza dos bens,
adequa-se muito melhor a instituição de herdeiro, do que à nomeação de legatário. O professor adianta
que a situação não se altera, se o testador atribuir por via de uma deixa testamentaria parte do seu
património por referência a natureza dos bens (dou todos os meus bens imoveis), sem porem
especificar o destino dos restantes bens – posição contraria ao JDP e CAD que defendem nesta hipótese
que estar-se-ia perante um legado.
Apesar da lei fazer referência que só é legatário aquele que sucede em bens determinados – a
determinação é apenas exigida para a individualização dos bens, não sendo necessária a sua
especificação concreta, são assim legados as deixas de universalidades de facto (coisas compostas
ligadas pela sua utilidade – ex. rebanho de ovelhas). A lei admite:
O usufrutuário, ainda que o seu direito incida sobre a totalidade do património, é havido como
legatário, nos termos do Artigo 2030.º/4 CC.
Usufruto – direito de gozar e usar temporariamente coisa ou direito alheio sem alterar a sua
forma ou substância.
O usufruto é sempre um legado, porém tal não resultava do anteprojeto: se o usufruto incide
sobre a totalidade do património, institui herdeiro. A justificação deve-se ao facto que o usufruto, ainda
que incida sobre a totalidade do património, é um direito determinado.
Galvão Telles – defende que deveria ser considerado herdeiro aquele que sucede a
universalidade/totalidade da herança em usufruto, pois recebe a totalidade dos bens, de igual modo
aquele que sucede na totalidade deste em direito de propriedade pleno. Qualquer deles recebe a
totalidade da herança, um com menos poderes.
Cristina Dias – defende a solução legal, pois o usufruto é sempre um direito determinado, ainda
que incida sobre bens indeterminados.
i) herdeiro universal;
Em virtude de não serem considerados interessados diretos na partilha, os legatários tem uma
intervenção muito limitada, só os herdeiros podem:
Pelo contrário, os legatários só são admitidos no caso de haver herdeiros legitimários a deduzir
impugnação relativo a questões que possam afetar os seus herdeiros.
Em consequência, a partilha só pode ser anulada por falta de intervenção de um dos co-
herdeiros. E, apenas o herdeiro preterido pode requerer que seja convocada conferencia de
interessados para que possa ser determinado o seu pinhão.
No entanto o cumprimento dos legados é considerado encargo da herança, Artigo 2078.º, cujo
cumprimento incube aos herdeiros, de acordo com o Artigo 2265.º.
i) É o que sucede no caso de a herança ser insuficiente para cumprimento dos legados em que
estes são pagos radiadamente, com exceção dos legados remuneratórios, que são considerados dívidas
da herança, nos termos do Artigo 2277.º CC;
ii) O usufrutuário pode adiantar as importâncias necessárias para os encargos relativos aos bens
que usufrui, nos termos do Artigo 2072.º CC.
Em ambos, não há uma responsabilidade direta dos legatários perante os encargos da herança.
Há, porém, dois casos onde a responsabilidade pelos encargos é atribuída ao legatário:
i) Se houver indicação do testador neste sentido, nos termos do Artigo 2276.º CC, estabelece
que o legatário responde pelo cumprimento dos legados e outros encargos que lhe sejam impostos, mas
só dentro dos limites do valor da coisa legada;
ii) Sem indicação do testador, o Artigo 2073.º/1 e 2 CC, atribui ao legatário da totalidade ou de
quota do património do falecido a obrigação de alimentos ou pensão vitalícia, só caindo idêntico dever
do legatário de bem(ns) determinado(s) se tal for expressamente previsto;
iii) No caso, de a herança ser repartida toda ela em legados, o Artigo 2277.º estabelece que os
encargos dela são suportados por todos os legatários, na proporcionalidade dos seus legados, exceto se
outra for a vontade do testador.
Outro aspeto que tem sido falado na distinção do regime refere-se à assunção da posse, a lei
não estabelece, porém, qualquer distinção – o Artigo 2255.º, limita-se a referir que, por morte do
possuidor, a posse continua nos seus sucessores. João Oliveira Ascensão, faz uma interpretação
restritiva deste Artigo, defendendo que sucessores no Artigo 2255.º significa herdeiro, sendo que os
legatários só sucedem na posse, quando os herdeiros a entregarem.
Sanções especificas por sonegação de bens, só se aplica aos herdeiros, por força do Artigo
2096.º, já não os legatários;
Direito de Preferência na alienação 2130.º/1 CC, não reconhecendo a lei este direito aos
legatários.
É possível sujeitar a termo inicial a nomeação de legatário, nos termos do Artigo 2243.º/1, mas o
mesmo já não é possível a instituição de herdeiro, nos termos do Artigo 2243/2.
Por força do Artigo 2243/2 CC, a sujeição a termo final tem-se por não escrita, salvo se o direito
transmitido for de natureza temporária, como é o caso de legado de usufruto.
O Artigo 2301.º CC prevê o Direito de Acrescer se dois ou mais herdeiros forem instituídos na
totalidade ou quota dos bens, e alguns deles não poder ou queira aceitar a herança.
Já em relação aos legatários o Artigo 2302.º CC limita o direito de acrescer aqueles que sejam
nomeados em relação ao mesmo objeto.
1.2 Conclusão
Deve-se dizer que conforme salienta parte da doutrina, que há uma diferença de natureza, e
não apenas de objeto, é esta a posição do professor Gomes da Siva e Oliveira Ascensão: segundo o qual
o legatário é mero beneficiário da herança, enquanto o herdeiro é um sucessor pessoal, uma
continuação do de cuius. Cristina Dias defende que só é sucessor, em sentido restrito, o herdeiro.
Para outros autores, JDP e Corte Real, são ambos sucessores, no mesmo sentido, Menezes
Leitão, adicionando que não há uma diferença de natureza, antes diferença de regime.
2. Designação Sucessória
A designação sucessória corresponde a determinação, em vida do autor da sucessão, dos
sucessíveis que podem ser chamados a sucessão em caso da morte deste. Efetivamente, antes do
falecimento do autor da sucessão, já se pode saber, com relativa segurança, quais são aqueles que o
virão a suceder, sendo estes assim os seus sucessíveis designados.
Há, no entanto, que referir, que os factos designativos não atribuem em definitivo a qualidade
de sucessível à determinadas pessoas, uma vez que esta qualidade apenas se concretiza na data de
abertura da sucessão, até esta, podem ocorrer vicissitudes que tem por efeito afetar a designação
sucessória. Efetivamente, as designações sucessórias são conflituantes entre si, pelo que se têm que ser
hierarquizadas: por exemplo, a designação sucessória resultante da sucessão legitima pode ser afetada
se ocorrer a celebração de um testamento, que constitui uma designação sucessória prevalecente, da
mesma forma, se o autor da sucessão celebrar casamento, os seus descendentes vão ter mais um
herdeiro concorrente. Precisamente por este motivo, nem todas as designações sucessórias iram-se
converte em vocação, só ocorrendo tal com a designação sucessória prevalecente aquando da morte do
autor da sucessão.
Cabe referir a chamada hierarquia dos factos designativos, a qual corresponde a forma como a
lei estabelece a relevância dos factos designativos, permitindo, assim, determinar qual deles prevalecerá
no momento da morte do autor da sucessão. Neste âmbito, ocorre a hierarquia das designações
sucessórias:
iv) em ultimo lugar, aparece a sucessão legitima, a qual nos termos do Artigo 2131.º CC,
só tem lugar se o falecido não tiver disposto valida e eficazmente no todo ou em parte dos bens que
podia dispor por morte, a designação legitima é, assim, afetada por qualquer outra designação,
exigindo-se no entanto que a mesma seja valida e eficazmente celebrada.
3. Abertura da Sucessão
A abertura da sucessão corresponde ao momento inicial do fenómeno jurídico sucessório, em
que se verifica a extinção do autor da sucessão, iniciando-se, assim, o processo que ira permitir atribuir
as situações jurídicas, que este era titular, aos sucessores designados, processo este que se realizara
com a aceitação ou partilha, sendo que estas irão retroagir a abertura da sucessão, nos termos do Artigo
2050.º/2 CC e Artigo 2119.º CC. Nos termos do Artigo 2031.º CC, a sucessão abre-se no momento da
morte do seu autor, e no lugar do último domicílio deste, a determinação do momento da abertura da
sucessão é decisiva, uma vez que da sua fixação precisa depende a determinação dos sucessíveis que
podem ser chamados a herança. Assim, se por exemplo morrer o casal, sem filhos, mas ambos tem
sobrinhos, se o marido falecer em primeiro lugar, a mulher herdará dele, pelo que apenas os sobrinhos
desta receberam as duas heranças, e o contrário se morrer primeiro a mulher. Uma vez que a sucessão
depende da pré morte, a mesma terá de ser apurada judicialmente, utilizando para o efeito todos os
meios de prova legalmente admissíveis.
No entanto, em certos casos, a determinação de quem morreu primeiro, pode ser prova difícil,
por isto, estabeleceu-se no Artigo 68.º/2 CC a denominada presunção de comoriência ou de morte
simultânea, determinando-se que quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a
outra pessoa, presume-se em caso de dúvida que faleceram ao mesmo tempo.
O momento da abertura da sucessão é ainda relevante para a determinação do valor dos bens
sujeitos à coação, nos termos do Artigo 2109.º/1 CC, bem como para o cálculo da legítima, nos termos
do Artigo 2172.º/1 CC, e para a eventual redução por inoficiosidade, nos termos do Artigo 2168.º e ss.
CC
4. Vocação Sucessória
Conforme acima se salientou, a vocação sucessória consiste na atribuição a alguém o direito de
suceder, isto é o direito de aceitar ou repudiar a herança ou legado. A vocação é, porém, suscetível de
ser encarada através de duas vertentes, ambas que se encontram no Artigo 2024.º CC:
i) vertente pessoal – através da determinação das pessoas que tem o direito de suceder,
o denominado “chamamento”;
ii) defende Corte Real, o qual considera que a vocação ou devolução consistem num fase
intermedio do fenómeno jurídico sucessório, em que estando aberta a sucessão, não se verificou ainda
o exercício positivo do ius delationnes por parte dos sucessíveis chamados.
iii) A autonomia da devolução em relação a vocação foi defendida por Gomes da Silva, que
distingue a vocação da devolução, considerando que a devolução era a escolha entre os sucessíveis
designados os que devem efetivamente suceder, considerando que só pôs escolhidos ou a mais
sucessíveis para a devolução, estes tem de ser citados pela lei que lhes atribui o direito de suceder,
traduzível num poder potestativo na faculdade jurídica de aceitar a herança. Este fenómeno de atribuir
a alguém o direito de aceitar a herança designa-se por vocação. É adotada uma solução semelhante por
Nuno Espinosa da Silva, mas este inverte os conceitos de vocação e devolução.
iv) Doutrina Maioritária defende uma posição intermédia, sustentando que a vocação e a
devolução correspondem a dois prismas diferentes para designar a mesma realidade:
a) a vocação corresponderia assim a uma perspetiva subjetiva;
v) Defende Menezes Leitão que: o Artigo 2024.º parece autonomizar a vocação da devolução,
uma vez que apresenta a devolução dos bens como consequência da vocação, mas noutras disposições,
como os Artigos 2032.º, 2037.º, 2055.º, 2125.º, 2293.º/1, 2294.º, a devolução aparece identificada com
a vocação, por isto o professor não vê que haja justificação para estabelecer uma separação entre os
dois conceitos, defendendo portanto a tese intermedia.
5. Pressupostos da Vocação
Determina o Artigo 2032.º/1 CC que uma vez aberta a sucessão são “chamados à titularidade
das relações jurídicas do falecido aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde
que tenham a necessária capacidade”. Desta resulta que, a vocação depende de dois pressupostos:
ii) a capacidade.
Porém, Oliveira Ascensão, e, neste sentido Menezes Leitão, defende tratar-se de capacidade em
sentido técnico, prossupondo a personalidade jurídica, não se pode por isto dispensar a personalidade
jurídica. Por este motivo, a vocação tem assim três pre
ssupostos:
i) a personalidade jurídica;
ii) a capacidade sucessória;
Regra do Artigo 2033.º/1 é a de que a personalidade jurídica deve ter sido já adquirida ao tempo
da abertura da sucessão, esta regra é alargada aos nascituros já concebidos, ainda que, nos termos do
Artigo 66.º/2 CC, a aquisição deste direito depende deste nascimento, contudo, na sucessão
testamentaria ou contratual, os nascituros não tem sequer de estar concebidos no momento da
abertura da sucessão, podendo ser contemplados desde que filho de “pessoa determinada, viva ao
tempo da abertura da sucessão”, nos termos do Artigo 2033.º/2, a) CC, naturalmente, a aquisição do
direito irá depender do seu nascimento, à luz do Artigo 66.º/2 CC.
Face a este regime legal, a doutrina discute se os nascituros gozam de vocação legal, ou esta só
se concretiza após o seu nascimento:
ii) Pereira Coelho e CAD restringe a existência de vocação aos nascituros já concebidos;
iv) Carvalho Fernandes defende que a vocação, que apenas se concretiza no momento
do nascimento, retroage ao momento da abertura da sucessão, sendo que até a verificação deste facto
existem direitos sem titular/sujeito.
a) Inseminação artificial;
b) Fertilização in vitro;
c) Injeção intracitoplasmática de espermatozoides;
Nos casos de PMA a pessoa pode ser concebida posteriormente a abertura da sucessão e ser
filho do de cujus, é por este motivo que não é lícito a mulher ser inseminada com sémen do falecido, nos
termos do Artigo 7.º Lei 32/2006, devendo depois ser destruído, nos termos do Artigo 22.º/2 Lei
32/2006. O Artigo 22.º/3 já considera licita a transmissão desde que corresponda a um projeto de vida.
Se por violação destas disposições, criança veio a nascer, esta tem-se como descendente do falecido.
Os doadores não podem ser havidos como progenitores, nos termos do Artigo 10.º/2 Lei
32/2006. A lei é omissa quanto a atribuição de direitos sucessórios em caso de PMA post
mortem:
i) Oliveira Ascensão defendia que a segurança jurídica não pode admitir reconhecer direitos às
crianças nascidas após 300 dias da morte do falecido, posição defendida por Carvalho Fernandes;
ii) Corte Real defendia segundo o princípio da não discriminação que devia ser reconhecido os
direitos sucessórios, esta é a posição de Menezes Leitão.
ii) em sentido estrito, toma-se a consideração apenas a idoneidade para suceder apenas
a certa e determinada pessoa – aproxima-se com o conceito de legitimidade.
ii) O condenado por denúncia caluniosa ou falso testemunho contra as mesmas pessoas,
relativamente a crime a que corresponda pena de prisão superior a dois anos, qualquer que seja a sua
natureza;
iii) O que por meio de dolo ou coação induziu o autor da sucessão a fazer, revogar ou
modificar o testamento, ou disso o impediu;
A lei não se basta com a prática dos factos previsto na alínea a) e b), exigindo uma condenação
efetiva, nos termos do Artigo 2035.º/1 CC: esta condenação poderá ser posterior à abertura da
sucessão, porém só o crime anterior releva para o efeito. Se, no entanto, a instituição de herdeiro ou
nomeação de legatário estiver depende de condição suspensiva, considera-se relevante o crime
cometido até a verificação da condição, à luz do Artigo 2035.º/2 CC.
Já relativamente a hipótese da alínea c), está em causa um atentado contra a liberdade de estar
através da pratica de dolo ou coação, que induz a fazer, revogar ou modificar o testamento, ou disso o
impediu: este facto terá de ser praticado antes da abertura da sucessão, apesar do dolo e a coação
serem causa de anulação do testamento, nos termos do Artigo 2201.º CC, os mesmo também relevam
para efeitos de indignidade.
A hipótese prevista na alínea d) constitui atentado contra o próprio testamento, o qual pode ser
praticado antes ou depois da abertura da sucessão, estão em causa nesta alínea atos dolosos de:
i) subtração;
ii) ocultação;
iii) inutilização;
iv) falsificação;
v) supressão;
A lei só faz referência a estes factos como constitutivos de indignidade sucessória, tendo surgido
duvidas na doutrina em saber se esta enumeração é taxativa:
Doutrina Maioritária (Galvão Telles, Corte Real, JDP e CAD) – considera que a enumeração é
taxativa, pois:
ii) trata-se de uma pena civil, e como tal estaria sujeita ao princípio da
legalidade.
A declaração de indignidade tem de ser decretada pelo tribunal, nos termos do Artigo 2036.º:
nos termos do n.º 1, a ação destinada a obter a declaração de indignidade pode ser intentada dentro do
prazo de dois anos a contar da abertura da sucessão, ou dentro de um ano a contar, quer da
condenação pelos crimes que a determinam, quer do conhecimento das causas de indignidade previstas
nas alíneas c) e d) do artigo 2034.º.
i) antes da abertura da sucessão, esta pode ser requerida pelo autor da sucessão ou pelos seus
presuntivos herdeiros legitimários;
ii) apos a abertura da sucessão, qualquer um dos herdeiros tem legitimidade para requerer a
declaração de indignidade.
Estando em causa o homicídio doloso ou a sua tentativa, o Artigo 69.º-A CP, prevê que a
sentença condenatória penal pode declarar a indignidade sucessória do condenado. Caso esta não tenha
sido declarada na sentença penal, a mesma é comunicada ao Ministério Público para efeitos da
interposição da ação de declaração de indignidade, nos termos do Artigo 2036.º/3 CC. O mesmo
acontece, se o único herdeiro for o sucessor afetado pela indignidade, nos termos do Artigo 2036.º/2
CC.
A indignidade não resulta da prática dos factos, devendo ser assim declarada. Esta sempre foi a
posição dominante na doutrina portuguesa. Porém, Oliveira Ascensão defendeu que a indignidade
opera de pleno direito, só sendo a ação judicial necessária para reclamar os bens que estejam no poder
do indigno, pelo que só neste casos é que seria necessário instaurar a ação – esta posição foi sufragada
por Capelo de Sousa -, porem, argumenta Menezes Leitão que é manifesto que isto não é o que resulta
da lei, uma vez que isto violaria o Artigo 30.º/4 CRP, e relativamente aos factos da alínea c) e d) será
sempre necessário demonstrar judicialmente a pratica destes factos.
Diferente é a questão de saber se uma vez decorridos os prazos previstos no Artigo 2036.º, o
sucessor deixa de poder ser declarado indigno:
i) Oliveira Ascensão defende que estes só são relevantes quando o indigno tenha bens
no seu poder, considerando por analogia com o regime geral da anulabilidade, que sempre que
os bens não tenham sido entregues ao indigno, este pode ser declarado a todo o tempo, à luz da
aplicação analógica do Artigo 287.º/2 CC – foi seguida por Capelo de Sousa e Carvalho
Fernandes e pela jurisprudência STJ 23/6/74;
ii) Menezes Leitão defende que é necessário respeitar os prazos para a declaração.
A lei prevê a possibilidade daquele que tiver incorrido em indignidade readquirir a capacidade
sucessória, se o autor da sucessão expressamente o reabilitar em testamento ou escritura pública, nos
termos do Artigo 2038.º/1 CC. O Artigo 2038.º/2 CC prevê que quando não haja reabitação expressa,
mas sendo o indigno contemplado em testamento quando o testador já conhecia a causa da
indignidade, pode ele suceder dentro dos limites das disposições testamentárias: temos, assim, um caso
de reabilitação tácita, mas cuja operatividade é limitada a sucessão testamentária, a doutrina discute a
possibilidade de acrescer, nos termos do Artigo 2301 e ss. CC:
5.2.1.2 Deserdação
Deserdação é um instrumento típico da sucessão legitimaria, que permite ao autor da
sucessão privar um herdeiro legitimário da sua respetiva legitima quando se verifica uma das
hipóteses do Artigo 2166.º/1 CC:
a) Ter sido o sucessível condenado por algum crime doloso cometido contra a
pessoa, bens ou honra do autor da sucessão, ou do seu cônjuge, ou de algum descendente,
ascendente, adotante ou adotado, desde que ao crime corresponda pena superior a seis meses
de prisão;
A deserdação tem de ser realizada pelo testamento, estando sujeita as regras de forma
do testamento, podendo, pelo testador, ser revogada. Para poder efetuar a deserdação o
testador tem de indicar expressamente uma das causas do Artigo 2166.º, sob pena de nulidade
da deserdação.
i) Corte Real e Duarte Pinheiro defendem que nas hipóteses da alínea a) e b) em que o
herdeiro tenha praticado o crime, mas ainda não tenha sido condenado, a possibilidade de uma
deserdação condicional, em hipótese da condenação vir a ocorrer depois da feitura do
testamento, através de aplicação analógica 2035.º/1 – Menezes Leitão defende que sim.
Tem sido questionado se a deserdação possa ser parcial, isto é, por exemplo, alguém
ficar deserdado em determinada parte da legítima:
i) Corte Real e Duarte Pinheiro respondem que não, devido ao princípio da
indivisibilidade da vocação, nos termos do Artigo 2055.º CC e Artigo 2250.º CC, e da
intangibilidade da legítima, nos termos do Artigo 2163.º, considerando subsequentemente nula
a clausula que deserdação;
c) o autor devia puder punir o herdeiro legitimário da forma que entender mais
apropriada;
Há semelhança do que acontece com a indignidade deve, por força do Artigo 2166.º/2
CC, ser aplicada a hipótese de reabilitação do deserdado, a qual depende da revogação da
disposição testamentaria, esta revogação pode ser:
ii) tácita, nos termos do Artigo 2313.º CC, quanto a esta o Artigo 2038/2
estabelece, no entanto, que o facto que o deserdado for contemplado em testamento só lhe
atribui o direito de suceder nos limites da disposição testamentária.
Sendo o herdeiro legitimário objeto de uma deserdação ilegal, a forma correta de agir é,
nos termos do Artigo 2167.º CC, é a ação de impugnação da deserdação, para qual a lei
estabelece um prazo de 2 anos desde a abertura do testamento, porém a lei pressupõem que o
herdeiro esteve presente na abertura do testamento: não sendo este o caso, deve-se considerar
por analogia com os Artigos 2059.º e Artigo 2308.º, o prazo só se inicia quando o interessado
teve conhecimento do testamento e da deserdação. A ação tem como pressuposto legal a
inexistência da causa invocada, pelo que não pode ser utilizada quando não há indicação de
causa ou quando a causa indicada não consta do Artigo 2166.º CC, a doutrina diverge quanto a
solução neste caso:
ii) Jorge Duarte Pinheiro sustenta que o deserdado poderá arguir a nulidade, nos
termos do Artigo 2308.º;
Este principio aplica-se igualmente nos casos de vocação múltipla, em que existe uma
pluralidade de títulos sucessórios, dispõem o Artigo 2055.º /1, 1.º Parte CC que “se alguém é chamado a
herança simultânea ou sucessivamente, por testamento, e por lei, e a aceita ou repudia por um dos
títulos, entende-se que a aceita ou repudia igualmente pelo outro” – pressupõem assim que mesmo em
casos de pluralidade de títulos de vocação, a aceitação e o repudio abrangem ambos os títulos.
Não tem um conteúdo tão amplo como sustenta alguma parte da doutrina, uma vez que é
objeto de muitas exceções, entre elas:
6.1 Exceções
6.1.1 As situações no âmbito da Sucessão Contratual
Uma vez que nesta, a aceitação ocorre antes da abertura da sucessão, não podendo haver
repúdio, o sucessor não estará proibido de repudiar a sucessão a outros títulos.
Do Artigo 2055.º/2 CC resulta que “o sucessível legitimário que também é chamado à herança
por testamento pode repudiá-la quanto à quota disponível e aceitá-la quanto à legítima”: a exceção
resulta lei não pretender retirar ao herdeiro legitimário a possibilidade de recusar ser beneficiado pelo
de cuius, reconhecendo-se-lhe, consequentemente, a possibilidade de repudiar a quota disponível,
mantendo no entanto o seu direito a legitima.
7. Modalidade da vocação
A vocação admite várias modalidades, dando origem a uma serie de classificações, pode assim
distinguir-se entre a:
Conforme salienta Jorge Duarte Pinheiro, a vocação é normalmente originária, mas a lei prevê
alguns casos de vocação subsequente:
ii) a vocação da pessoa singular que ainda não tenha nascido a data da abertura da sucessão,
nos termos do Artigo 66.º/2 CC;
iii) a vocação do sucessível instituído ou nomeado sob condição suspensiva, a qual só ocorre
após a verificação da condição, nos termos do Artigo 2229.º CC;
A classificação destas situações como tendo carater subsequente não é pacifico na doutrina:
a) em relação a i):
1) defende Gomes da Silva que não se produziria em favor destes qualquer forma de
devolução ou de vocação, no momento da abertura da sucessão, tendo assim carater
subsequente;
2) por outro lado, defende Galvão Telles já haveria aqui uma forma de vocação no
momento da abertura da sucessão suspensa a favor do sucessível subsequente;
b) em relação a ii):
1) defende Capelo de Sousa que existe aqui uma vocação originaria, não obstante a
condição de nascimento; esta é a opinião de Diogo Campos Leite embora apenas para os nascituros em
sentido estrito;
c) em relação a iii):
1) defende Pereira Coelho e Capelo de Sousa que se trata de uma situação de vocação
originária;
i) do posterior sucessível;
Já não é, porem, o caso do nascituro, em que só adquire no momento do seu nascimento, à luz
do Artigo 66º/2, nem o caso do fideicomissário, uma vez que a devolução pelo fiduciário só se verifica
depois e esta não resolve a vocação do fiduciário, nos termos do Artigo 2209.º, 2291.º, 2293.º/1, e
2294.º.
ii) Impura, quando se encontra submetida a clausula acessória, como seja a condição, o termo e
o modo, falando-se respetivamente em:
a) vocação condicional;
b) vocação a termo;
c) vocação modal.
A vocação pura é a regra, sendo alias aquela que ocorre na sucessão legal, uma vez que a lei
nunca sujeita a vocação a nenhuma clausula acessória. Já na sucessão voluntaria, seja ela testamentaria
ou contratual, a vocação pode ficar sujeita a uma clausula acessória, bastando para isto que o testador
ou as partes no pacto sucessório estipulem isto, neste caso haverá que considerar o regime geral da
condição e do termo, constante dos Artigos 270.º e ss. e do Artigo 278.º, os quais são objeto de
regulamentação especial:
i) Una, quando apenas um sucessível é chamado a suceder num único título de vocação;
ii) Múltipla, quando existirem vários sucessíveis ou se o único sucessível é chamado a suceder
em mais de um título de vocação ou na dupla qualidade de herdeiro e legatário.
A vocação una só se pode verificar na sucessão universal de um único herdeiro, sendo esta
incompatível com a designação de legatário, uma vez que este não pode receber todo o património
hereditário.
iii) o chamamento de vários sucessíveis da mesma ou de qualidades diferentes por vários títulos.
ii) Indireta, quando o chamamento do sucessível toma por base não apenas a sua relação com o
de cuius, mas também a sua relação para com terceiro, que não entrando na sucessão, serve de ponto
de referência para a vocação.
A vocação direta é a regra, a indireta ocorre sempre que o sucessível prioritário não possa ou
não queira aceitar a sucessão, neste caso chamado o sucessível subsequente e vindo a vocação deste a
ser moldada sob a anterior vocação de sucessível prioritário, cuja posição é ocupada pelo sucessível
subsequente, retroagindo a devolução à data da abertura da sucessão, nos termos do Artigo 2032º/2
CC. A vocação indireta não pressupõem a resolução de uma vocação anteriormente realizada, uma vez
que esta pode nem sequer ocorrer, como sucede na hipótese de pré morte.
A impossibilidade física, em caso de morte posterior ao de cuius, não constitui vocação indireta,
antes desencadeia a transmissão do direito de suceder, e, em caso de impossibilidade física por alguma
limitação é necessário recorrer ao suprimento da sua incapacidade.
ii) Derivada, quando foi transmitida para o chamado apos uma prévia aquisição do direito de
suceder pelo de cuius.
A vocação derivada só se verifica com a transmissão do direito de suceder, nos termos do Artigo
2058.º CC, pressupõem assim o chamamento de alguém a sucessão de um terceiro, e que se verifique o
falecimento do chamado sem que este tenha podido aceitar ou repudiar, nestes casos inclui-se na
herança daquele que sucedeu o direito de aceitar ou repudiar a herança do terceiro, transmitindo este
para os seus herdeiros, adquirindo assim a vocação por transmissão.
A vocação não se confunde por isto com a vocação indireta, pois nesta ainda continua a ocorrer
uma aquisição originaria da vocação, o contrário ocorre na derivada.
1) originaria;
2) pura;
3) direta;
4) imediata.
v) a substituição fideicomissária.
ii) falecimento do chamado sem que este tenha aceite a herança ou legado;
A transmissão não se pode verificar no âmbito da sucessão contratual, uma vez que nesta o
beneficiário tem de aceitar a proposta de doação em vida, nos termos do Artigo 945.º/1 CC, o que faz na
própria convenção antenupcial, nos termos do Artigo 1700.º CC: não sendo assim possível que o
beneficiário suceda sem aceitar a doação, não podendo ser transmitido o ius delegationnes para os seus
herdeiros.
ii) se o transmissário for incapaz em relação ao primitivo de cuius, não poderá ser atribuído este
direito.
i) Galvão Telles e Corte Real afirmam que sim, considerado que o fenómeno sucessório não se
encontrava concluído em relação ao primitivo de cuius, só vindo sê-lo por via da atuação da vocação dos
sucessores do transmitente, e assim acabam por suceder ao primeiro de cuius;
ii) Oliveira Ascensão e Antunes Varela afirma o oposto, segundo estes autores na transmissão do
direito de suceder não ocorre um fenómeno de sucessão indireta, mas antes uma situação de dupla
transmissão, porque os pressupostos da vocação só se tem de verificar aquando da segunda abertura da
sucessão, já não em relação a primeira – Menezes Leitão e Jorge Duarte Pinheiro adere a esta tese.
A Substituição Direta constitui um caso de vocação indireta, uma vez que toma por referência
uma sucessão anterior, substituindo-se um sucessível a outro com a designação sucessória
prevalecente.
ii) plural – quando existam vários herdeiros ou legatários designados ou substitutos, sendo que
neste caso se pode substituir várias pessoas a uma só, como de uma só a várias, nos termos do Artigo
2282.º CC;
A substituição direta pode ocorrer sempre que o herdeiro ou legatário não queira ou não possa
aceitar a herança, a sua verificação depende, porém, da vontade do testador, que é livre para
determinar a sua aplicação a algum ou alguns dos casos, excluindo os outros. Porém, o Artigo 2281.º/2
CC contem uma disposição interpretativa: se o testador só previr um dos casos, na falta de declaração
em contrário, entende-se que deve abranger o outro.
Tem-se questionado se a substituição direta ocorre igualmente no caso de ser invalida a deixa a
favor do substituto:
ii) Corte-Real entende que a substituição direta não deve operar se a vocação do substituído se
chegar a concretizar, dando origem a transmissão do direito de suceder, podendo neste caso admitir-se
uma substituição fideicomissária – posição sufragada por Menezes Leitão, adiantado tratar-se de um
fideicomisso irregular, nos termos do Artigo 2295.º.
i) Corte-Real e CAD defendem que em virtude do carater injuntivo desta não é possível designar
substituto ao herdeiro legitimário;
ii) Oliveira Ascensão admitem a designação de substituto na hipótese de não funcionar o direito
de representação ou o direito de acrescer.
O direito de representação opera tanto na sucessão legal como na sucessão testamentaria, nos
termos do Artigo 2040.º, encontrando-se uma situação igualmente prevista na sucessão contratual, nos
termos do Artigo 1703.º/2, o regime funciona de forma distinta em cada uma destas.
A lei permite assim amplamente o direito de representação, seja qual for a causa que leva o
filho ou irmão do falecido a cauerer aceitar a herança, abrangendo assim as hipóteses de pré-morte,
indignidade, deserdação, e ausência, porem o segundo pressuposto restringe este direito aos
descendentes, independentemente do grau de parentesco, e não sendo concedido este direito ao
cônjuge.
ii) que não se verifique a caducidade da vocação sucessória por outra causa;
iii) que este herdeiro ou legatário designado tenha deixado descendentes ou adotados;
iv) que o sucessor não tenha disposto em sentido contrário, o que se presume se tiver
designado substituto ao herdeiro ou ao legatário, estando em causa o fideicomissário, ou legado de
usufruto, ou outro direito pessoal.
Ao contrário o que se verifica na sucessão legal, a lei limita na sucessão testamentária as causas
que desencadeiam este direito à pré-morte e ao repudio, devendo também ter-se em consideração a
declaração de morte presumida, uma vez que esta tem os mesmos efeitos, à luz do Artigo 115.º CC. Não
haverá direito de representação na hipótese de indignidade e de deserdação, como já se retirava à
contrário do Artigo 2037.º/2 CC.
As disposições testamentarias caducam, nos termos do Artigo 2317.º, por várias causas, sendo
que a existência de descendente impede esta caducidade nos casos de pré-morte ou repúdio,
respetivamente alíneas a) e e), in fine, do Artigo 2317.º CC. A vocação sucessória caduca, sem que o
direito de representação possa operar, nos casos em que:
ii) sucessor se tornar incapaz de adquirir a herança ou o legado, nos termos do Artigo
2317.º, c) CC;
O sucessor não tenha disposto em sentido contrário, isto ocorre em todas as situações do Artigo
2041.º/2 CC, porém entende Menezes Leitão que este não é taxativo, devendo considerar-se o direito
de representação afastado em todos os casos em que o testador o pretenda impedir, entre estas
situações encontra-se:
a) na substituição direta, nos termos dos Artigo 2281.º e ss. – em que o testador
substitui outra pessoa ao herdeiro ou legatário designado para o caso deste não querer
ou puder aceitar a herança ou o legado, nos termos do Artigo 2281.º e 2285.º;
ii) situação do fideicomissário, nos termos do Artigo 2041.º/2, b) CC, já que o Artigo
2293.º/2 determina que se o fideicomissário não puder ou não quiser aceitar a herança fica sem efeito a
substituição, e a titularidade considera-se adquirida pelo fiduciário, nos termos do Artigo 2293.º/2 CC;
iii) no caso de legado de usufruto ou de outro direito pessoal, nos termos do Artigo
2041.º/2, c) CC, nestes casos presume-se que o testador quis beneficiar exclusivamente o
testamentário, razão pela qual não se deverão considerar abrangidos os seus descendentes.
Este regime é supletivo podendo ser afastado se na convenção antenupcial for instituída uma
substituição direta nos casos de pré morte.
O primeiro pressuposto tem-se de verificar, por força da lei, uma designação conjunta dos vários
sucessíveis na herança.
O segundo tem um funcionamento diferente na sucessão legal do que nas outras situações de
vocações indiretas, uma vez que não abrange as situações de pré-morte, nos termos do Artigo 2139.º/2
e 2159.º/2. Assim, por exemplo:
iii) igualmente se existir dois filhos e um falecer previamente, também não há lugar ao
direito de acrescer, sendo a legítima de metade da herança, nos termos do Artigo 2159.º/2.
Tem sido controvertido na doutrina em saber se o direito de acrescer ocorre nos casos de
incapacidade sucessória por indignidade ou deserdação:
ii) em sentido contrário, Oliveira Ascensão, equipara estes casos a pré-morte através de
uma declaração interpretativa lata, que inclui-se no conceito de inexistência do herdeiro a incapacidade
jurídica e não apenas física;
O terceiro este justifica-se pelo facto que com o direito de representação os descendentes são
chamados a sucessão pelo que os sucessíveis da mesma classe já não puderam beneficiar do direito de
acrescer. Na sucessão legal o acrescer só funcionando dentro de cada título, por este motivo:
iv) no caso dos ascendentes o direito de acrescer dá-se prioritariamente em relação aos
outros ascendentes, só passando para o cônjuge se todos estes faltarem, de acordo com o
Artigo 2143.º.
ii) existência de impossibilidade de aceitação e/ou repúdio da herança ou legado por um destes;
Em relação ao primeiro, a instituição não tem de ser conjunta, sendo apenas necessário que se
verifique em relação a totalidade ou quota de bens no caso da herança ou ao mesmo objeto no caso de
legado:
i) alguma doutrina (Capelo de Sousa e Cristina Araújo Dias) entende, porém, que no caso da
instituição ser conjunta existira uma preferência do acrescer entre herdeiros conjuntos, só depois sendo
chamados os restantes;
ii) Menezes Leitão defende que não há base legal para justificar esta posição.
iii) Menezes Leitão vai no sentido de rejeitar, uma vez que a invalidade da deixa não
corresponde a qualquer impossibilidade de aceitação, pelo que não justifica defender a existência de
acrescer.
i) Corte-Real e Duarte Pinheiro consideram existir aqui uma situação de acrescer uma
vez que ocorreria um caso de ineficácia da aceitação do nomeado, o que corresponderia a um não puder
aceitar a disposição;
ii) Menezes Leitão defende o oposto, uma vez que resolvida a disposição testamentaria,
a mesma é considerada supervenientemente ineficaz, o que não corresponde aos pressupostos do
direito de acrescer.
Se houver falha do quarto pressuposto, o legado ou a herança tem-se por extinta devido a sua
natureza pessoal, não se verificando a existência de direito de acrescer.
O direito de acrescer está sujeito a um regime diferente consoante estejam em causa herdeiros
ou legatários.
Assim, e por força do Artigo 2302.º/2, se as nomeações dos legatários forem efetuadas em
partes iguais, a parte acrescida será dividida de forma igualitária, sendo desigual a nomeação respeitar-
se-ia a mesma proporção, caso não haja lugar ao acrescer, determina o Artigo 2303.º que o objeto do
legado é atribuído ao herdeiro ou legatário onerado com o seu cumprimento, salvo se este objeto
estiver genericamente compreendido noutro legado.
Um caso particular do acrescer entre legatários é, nos termos do Artigo 2305.º, o de acrescer
entre usufrutuários, em virtude da sua qualificação como legatários nos termos do Artigo 2030.º/4, o
Artigo 1442.º já lhes atribui o direito de acrescer no caso do testamento atribuir uma designação
conjunta, mas em virtude do Artigo 2305.º remeter para o Artigo 1442.º e 2303.º parece que bastara
que a nomeação de usufrutuários ocorra para o mesmo objeto para se verificar direito de acrescer.
7.7.4.2.3 Geral
O Artigo 2306.º determina que a aquisição da parte acrescida se dá por força da lei, sem a
necessidade de aceitação do beneficiário, que não pode repudiar separadamente esta parte, excetua-se
porem a hipótese da parte acrescida prever encargos especiais, estabelecidos pelo testador, conforme
se prevê nos Artigos 2244.º e ss., neste caso se esta parte acrescida for objeto do repudio, reverte para
a(s) pessoa(s) em que cujo o beneficio os encargos foram constituídos. Apesar da lei apenas referir a um
repudio da parte acrescida para que este regime se possa aplicar, na verdade é necessário um duplo
repudio pois só o mesmo permite demonstrar a falta de interesse da deixa testamentária, exige-se que a
deixa com encargo seja objeto de repudio por parte do herdeiro ou legatário originariamente instituído
ou nomeado e que seja objeto de repudio por parte do herdeiro ou legatário chamado por acrescer,
verificando-se este duplo repudio a deixa reverte para o beneficiário, sendo que o encargo extingue-se
por confusão, à luz do Artigo 868.º.
O direito de acrescer entre donatários só poderá ocorrer por indicação do doador em virtude de
uma declaração deste, ao abrigo da Autonomia Privada, o autor da sucessão pode assim estipular a
existência de um direito de acrescer entre donatários ou entre herdeiros ou legatários designados
contratualmente. O Artigo 904.º/2 prevê ainda que a falta de declaração do doador não prejudica o
direito de acrescer quando o usufruto seja constituído por doação, é assim aplicável as doações mortis
causa este Artigo.
No âmbito da sucessão contratual o direito de acrescer tem uma configuração especial, uma vez
que o pressuposto normal do mesmo é que um dos designados conjuntamente não possa ou não queira
aceitar a sucessão, enquanto que na sucessão contratual tem em que principio ocorrer a aceitação da
doação, nos termos do Artigo 945.º, na qual só são excluídas as doações puras feitas a incapaz.
ii) Direito de não decrescer – considera-se que o título de vocação sucessória permanece o
mesmo, pelo que não existiria um fenómeno de vocação indireta, mas apenas a expansão do objeto
inicial do chamamento em virtude dos outros beneficiários não puderem ou não quererem aceitar a
herança ou o legado – conforme explica Carlos Lima se se dá a ocorrência da falta de um dos chamados
a porção deste é absorvida pelos outros, não porque lhes acresça, mas antes porque tal porção já
virtualmente estava abrangida ab initio na respetiva vocação, assim, para que tal porção não concorre-
se aos outros chamados, era necessário fazer decrescer o respetivo direito.
i) no direito de acrescer, em sentido restrito, seria necessária a aceitação da parte acrescida por
parte do beneficiário, o qual poderia proceder ao repudio separado da mesma;
ii) no direito de não decrescer, em virtude do facto de a aquisição da parte acrescida operar por
força da lei, não sendo necessário ocorrer qualquer aceitação, e não se permitindo o seu repudio
separado.
Trata-se de uma situação em que o sucessor instituído em primeiro lugar, o fiduciário, fica
obrigado a conservar o objeto da sucessão para que ele reverta por sua morte em beneficio de outro
sucessor, o fideicomissário, em ordem a permitir que o conhecimento da situação por terceiros a
clausula fideicomissária está sujeita a registo, nos termos do Artigo 94.º, b) Código do Registo Predial.
Este tem o gozo e administração dos bens, nos termos do Artigo 2290.º/1, nos mesmo termos
do que o usufrutuário, salvo o que se considerar incompatível com a natureza do fideicomisso, de
acordo com o Artigo 2290.º/2. Embora possa, em caso de evidente necessidade ou utilidade, alienar os
bens mediante autorização judicial, nos termos do Artigo 2291.º.
Se o fiduciário não poder ou não quiser aceitar a herança, determina o Artigo 2293.º/3, prevê a
conversão da substituição fideicomissária em direta, dando se a devolução dos bens desde a morte do
testador. Daqui resulta que durante a vida do fiduciário, o fideicomissário não é titular de qualquer
direito sobre a herança ou legado, mas apenas de uma expectativa de o vir a suceder, em função desta
expectativa jurídica a lei limita a possibilidade de disposição dos bens pelo fiduciário, nos termos do
Artigo 2291.º, e impede que lhe possa ser impostas ao fiduciário decisões judiciais em que ele não tenha
intervindo, de acordo com o Artigo 2290.º/3.
ii) As disposições pelas quais o testador chame alguém ao que restar da herança por
morte do herdeiro – designado pela doutrina de fideicomisso de resíduo;
iii) As disposições pelas quais o testador chame alguém aos bens deixados a uma pessoa
coletiva, para o caso de esta se extinguir.
Estes caraterizam-se por não corresponderem integralmente a definição que consta do Artigo
2286.º, neste o autor da sucessão ou não estabelece o encargo de conservar os bens da sucessão, ou
não atribui ao fideicomissário o benefício da sua reversão.
As duas outras hipóteses, nestes casos o autor não estabelece o encargo de conservação dos
bens, porém a lei mantém o encargo embora atenuado, podendo o fiduciário dispor dos bens por ato
entre vivos, sem autorização judicial, porém, necessita da autorização do fideicomissário, nos termos do
Artigo 2295.º/3.
Em relação a primeira, justifica-se pelo facto que a lei determina no Artigo 2041 a não aplicação
do direito de representação, sempre que o autor tenha sido designado substituto ao herdeiro ou
legatário, a mesma prevalência verifica-se na substituição fideicomissária em beneficio dos herdeiros do
fiduciário, nos termos do Artigo 2041.º/2, a) e 2293.º/3, quer em beneficio dos herdeiros do
fideicomissário, nos termos do Artigo 2041.º/2, b). Na sucessão contratual, a estipulação de uma
substituição fideicomissária exclui o único caso nela previsto de representação, de acordo com o Artigo
1703.º/2.
Esta prevalecem em relação ao acrescer, nos termos do Artigo 2304.º, uma vez que constituem
disposição em contrário em relação ao mesmo.
8. Sucessão Legitima
Nos termos do Artigo 2131.º, se o falecido não tiver disposto valida e eficazmente dos bens de
que podia dispor para depois da morte são chamados a sucessão destes bens os seus herdeiros
legítimos. A sucessão legitima ocorre, assim, a título supletivo, não tendo lugar se houver uma
disposição válida e eficaz dos bens da herança por parte do autor da sucessão. Nos termos do Artigo
2132.º são herdeiros legítimos: o cônjuge, os parentes e o Estado pela ordem e segundo as regras
constantes do presente capítulo. Em consequência da equiparação da adoção à filiação, nos termos do
Artigo 1586.º e 1973.º e ss., são também considerados herdeiros legítimos o adotado e o adotante. Já o
membro sobrevivo da União de Facto não é considerado herdeiro legitimo tendo apenas nos termos do
Artigo 2020.º o direito de exigir alimentos da herança do falecido, além da proteção especial que lhe é
conferida pela lei da União de Facto.
Nos termos do Artigo 2133.º/1, a sucessão legitima defere-se pela seguinte ordem:
v) o Estado.
O cônjuge sobrevivo integra a primeira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer
sem deixar descendentes e deixar ascendentes, caso que integra a segunda classe, nos termos do Artigo
2133.º/2.
i) a preferência de classe;
Nestes termos, imaginado que o autor deixa dois filhos e dois pais, como os filhos integram a
primeira classe sucessíveis, e os pais a segunda, apenas os filhos são chamados a sucessão, à luz do
Artigo 2134.º. Se um dos filhos repudiar a herança, e não tiver ascendentes, a sua parte acresce a do
outro filho, nos termos do Artigo 2137.º/2. O chamamento dos pais apenas se verificara no caso de
ambos os filhos repudiarem a herança, por força do Artigo 2137.º/1.
Assim, se o autor da sucessão deixar dois filhos e um neto, os filhos são sucessíveis prioritários, à
luz do Artigo 2135.º. Consequentemente, o neto não será chamado a sucessão do autor, sendo a
herança repartida entre os dois filhos.
Porém, esta regra pode ser posta em causa pelo instituto do direito da representação, nos
termos do Artigo 2038.º:
Assim, se o autor da sucessão deixar dois filhos e um neto filho de um outro pré-falecido, o neto
tem direito a concorrer a herança juntamente com os outros dois filhos, na posição que competia ao
anterior filho: o direito de representação permite afastar a regra da preferência de grau de parentesco.
i) se ao autor da sucessão sobreviverem dois filhos, a cada um deles cabe metade da herança;
ii) se ao autor da sucessão sobreviverem dois filhos e o cônjuge, a cada um deles cabe 1/3 da
herança.
A regra da sucessão por cabeça é aplicável mesmo no caso de haverem colaterais duplamente
parentes do falecido, nos termos do Artigo 2138.º, é o que ocorre, por exemplo, dos primos filhos de um
casamento entre a irmã do pai com o irmão da mãe do autor, apesar do duplo parentesco existente, a
sua posição sucessória não é diferente da dos outros primos, aplicando-se a regra da sucessão por
cabeça.
i) a sucessão do cônjuge com mais de três descendentes, nos termos do Artigo 2139.º/1,
Segunda Parte;
iii) a sucessão dos irmão germanos e unilaterais, nos termos do Artigo 2146.º;
Relativamente a primeira, embora o Artigo 2139.º/1, Primeira Parte estabeleça que a partilha
entre o cônjuge sobrevivo e os filhos faz-se por cabeça, dividindo-se a herança em tantas partes quantos
forem os herdeiros, determina na sua parte final, que a quota do cônjuge não pode ser inferior a ¼ da
herança. Assim sendo, sempre que o cônjuge concorra com mais 3 descendentes a regra da divisão por
cabeça deixa-se de aplicar, passando o cônjuge a receber sempre ¼ da herança, enquanto que os
descendentes dividem entre si os restantes ¾ da herança.
Já a segunda exceção, o Artigo 2142.º/1 estabelece que ao cônjuge pertenceram 2/3 da herança
e aos ascendentes 1/3 da herança. Assim, a regra da divisão por cabeça é totalmente excluída, uma vez
que são sempre atribuídos 2/3 da herança, cabendo aos ascendentes dividir entre si o 1/3 restantes.
Já a terceira, determina o Artigo 2146.º que concorrendo a sucessão irmãos germanos e irmãos
consanguíneos e uterinos, o quinhão dos irmãos germanos ou dos descendentes que o representam é
igual ao dobro do quinhão de cada um dos outros. Esta exceção justifica-se por, normalmente, haver
maior aproximação do autor da sucessão aos seus irmãos germanos, por serem filhos do mesmos pais,
em relação aos seus irmãos sanguíneos ou uterinos.
Por fim a ultima exceção, nos termos do Artigo 2138.º a divisão por cabeça não prejudica o
direito de representação nos casos onde este tiver lugar, de acordo com os Artigos 2038 e ss.:
efetivamente, nos termos deste direito a divisão faz-se por estripe, nos termos do Artigo 2044.º, pelo
que a parte que competia ao sucessível que não pode ou não quis aceitar a herança é atribuída ao
conjunto dos descendentes deste sucessível, em consequência havendo mais que um sucessível do
herdeiro pré-falecido, a regra de divisão por cabeça deixa de ter aplicação, determinado o Artigo 2042.º
que a representação tem lugar na linha reta em beneficio dos descendentes de filho do autor da
sucessão e na linha colateral em beneficio dos descendentes de irmão do falecido: neste caso cabe a
cada estripe aquilo em que sucederia o ascendente respetivo, nos termos do Artigo 2044.º/1. Implica
que o direito de representação prejudica a aplicação da regra da divisão por cabeça, quer em relação a
sucessão dos descendentes, nos termos do Artigo 2140.º, quer em relação aos irmão e seus
descendentes, nos termos do Artigo 2145.º
ii) ou, se se encontrar separado judicialmente de pessoas e bens por sentença que já
tenha transitado ou venha a transitar em julgado;
Nestes dois últimos casos há que salvaguardar o regime do casamento putativo, pelo que se o
cônjuge estiver de boa fé terá o direito de suceder caso a morte do outro cônjuge ocorrer antes do
transito em julgado da sentença de anulação, nos termos do Artigo 1647.º e 1648.º. Também, não terá
direito de suceder o cônjuge que celebre novo casamento após a declaração de morte presumida, de
acordo com o Artigo 116.º, perdendo o direito a sucessão caso se prove que o óbito ocorreu em data
posterior a este casamento, de acordo como o Artigo 118.º.
ii) relativamente ao pai o vínculo pode resultar da presunção de paternidade, de acordo com os
Artigos 1826.º e ss., da perfilhação, à luz dos Artigos 1849.º e ss., averiguação oficiosa, nos termos dos
Artigos 1864.º e ss., e reconhecimento judicial, à luz dos Artigos 1879 e ss.;
iii) é legalmente equiparada a um ato constitutivo da filiação a sentença de adoção, nos termos
do Artigo 1986.º/1: sendo que em relação a adoção o vinculo tem que se encontrar já constituído por
sentença já proferida à data da morte do adotante, nos termos do Artigo 1973.º/1.
No caso da filiação, a sua constituição tem eficácia retroativa, nos termos do Artigo 1797.º/2,
assim o reconhecimento judicial em data posterior a morte do de cuius permite a aquisição dos direitos
sucessórios.
Segundo Menezes Leitão são inconstitucionais os prazos constantes dos Artigos 1817.º e 1873.º,
uma vez que viola claramente o principio da proporcionalidade exigir que o direito ao estabelecimento
da filiação só possa ser exercido por uma pessoa na fase inicial da sua vida ou no prazo de 3 anos do
conhecimento de factos supervenientes relativos a filiação – pelo que discorda, Menezes Leitão com a
jurisprudência do Tribunal Constitucional que considera esta situação em conformidade com a
Constituição. Também defende não ser sustentável a posição de Jorge Duarte Pinheiro e de alguma
jurisprudência do STJ que admite a possibilidade de abuso de direito no exercício das ações destinadas
ao reconhecimento da filiação, excluindo ao abrigo do Artigo 334.º o filho do seus direito sucessórios
que a lei reconhece – o autor fundamenta com o facto da vocação sucessória é um efeito legal,
resultante em virtude da filiação estabelecida, a qual só pode ser afastada através dos institutos da
indignidade e deserdação, não através do abuso de direito: a aplicação deste seria uma verdadeira
discriminação dos filhos nascidos fora do casamento, o qual a constituição expressamente proíbe.
i) Pires de Lima, Antunes Varela, Capelo de Sousa e Jorge Duarte Pinheiro entendem que
a sucessão exclusiva do cônjuge apenas ocorre se não houver um único ascendente que não possa ou
não queira aceitar a herança, independentemente do grau de parentesco deste ascendente, uma vez
que o Artigo 2143.º estabelece um acrescer entre ascendentes;
ii) Oliveira Ascensão entende que nos termos do Artigo 2143.º o acrescer só se verifica
em relação aos ascendentes que concorram a sucessão, pelo que em caso de repúdio dos acedentes de
primeiro grau verifica-se o acrescer para o cônjuge e não para os ascendentes de grau anterior;
iii) Menezes Leitão adere a posição de Oliveira Ascensão, uma vez que a lei não
estabelece qualquer direito de representação em relação aos ascendentes de grau anterior, defende
que o regime de preferência de graus de parentesco impede o acrescer para ascendentes de grau
anterior.
O Artigo 2148.º considera irrelevante o duplo parentesco determinado que a partilha faz-se pela
cabeça.
9. Sucessão Testamentária
A sucessão testamentaria é aquela espécie de sucessão em que a designação sucessória resulta
de um testamento, trata-se assim de uma modalidade da sucessão voluntaria, resultante da Autonomia
Privada do autor da sucessão.
O testamento aparece definido no Artigo 2179.º/1 como o ato unilateral e revogável pelo qual
uma pessoa dispõe para depois da morte de todos os seus bens ou parte deles. A definição legal,
defende Menezes Leitão, parece integralmente incorreta:
Por estes motivos o testamento deve-se qualificar como o negócio jurídico unilateral pelo qual
alguém procede a disposições de última vontade.
i) unilateral;
iv) gratuito;
v) formal;
vi) individual;
vii) pessoal;
9.1.1 Unilateral
Em primeiro lugar, o testamento é um negócio jurídico unilateral porque só tem uma parte, o
próprio testador, o facto de o sucessível designado poder aceitar ou repudiar a disposição testamentária
não a converte em contraparte: uma vez que, após a abertura da sucessão e antes da aceitação, o
sucessível adquire logo o direito de suceder, cujo o conteúdo não pode modificar, nos termos dos
Artigos 2054.º/1 e 2064.º/1. Não é assim necessária a aceitação para produzir os efeitos do testamento,
já que a designação e vocação sucessória se verificam independentemente de aceitação.
9.1.4 Gratuito
Em quarto lugar, o testamento é um negócio gratuito uma vez que contem disposições
patrimoniais em benefício de outrem sem qualquer contrapartida por parte do beneficiário. A
disposição testamentaria pode estar sujeita a encargos, nos termos do Artigo 2244.º, mas estes
representam apenas uma restrição a liberalidade e não uma contrapartida por parte do beneficiário.
9.1.5 Formal
Em quinto lugar, o testamento é um negócio formal uma vez que a lei prevê formas espécies
para o testamento, só sendo o mesmo válido se obedecer a uma das formas legalmente previstas,
constantes dos Artigos 2204.º e ss.
9.1.6 Individual
Em sexto lugar, o testamento é um negócio individual uma vez que a lei apenas admite que
tenha uma pessoa como seu autor, sendo proibido por lei a realização de um testamento em que haja
mais que um testador. Efetivamente, no Artigo 2181.º veda-se o denominado testamento de mão
comum. Desta norma resulta que o testamento em ordem de ser plena garantia do exercício da
liberdade de estar apenas pode ter um único autor, sendo nulo o testamento onde apareça outrem a
participar na sua feitura.
Tal não impede que existam vários testamento a favor de partes em termos de reciprocidade,
sendo frequente até a sua realização entre os cônjuges, por exemplo o marido faz testamento em favor
da mulher e vice-versa, não é, porém, possível, que estes testamentos sejam realizados num único ato.
Relativo a primeira, efetivamente, o Artigo 946.º/2 determina que apesar de nula a doação por
morte pode ser válida como disposição testamentaria desde que tiverem sido observadas as
formalidades do testamento, neste caso está-se perante uma aplicação particular da regra do Artigo
293.º, admitindo-se a conversão de um negócio nulo num outro de conteúdo e tipo diferente sem ser
necessário demonstrar a vontade das partes neste sentido. Em qualquer caso, se a doação por morte se
transformar num negócio unilateral e revogável como o testamento não há obstáculo a que se possa ser
convertida. A dúvida, no entanto, é o significado de “observar as formalidades do testamento”:
i) Galvão Telles, Pires de Lima, Antunes Varela e Baptista Lopes entendem que a
exigência destas formalidades implica que a doação seja feita por escritura pública e que nela
intervenham duas testemunhas, por força do Artigo 67.º/1, a) e 67.º/3 CN;
ii) Oliveira Ascensão defende que a regra não pode ser entendida literalmente uma vez
que seria impossível uma doação revestir todas as formalidades do testamento, bastando por isto que a
doação tenha sido feita por escritura pública ou forma notarial equivalente, esta posição foi
posteriormente seguida por Corte-Real e Carvalho Fernandes;
iii) Menezes Leitão sustenta o autor que exigir o cumprimento de todas as formalidades
do testamento equivaleria tornar praticamente impossível qualquer hipótese de conversão ao abrigo do
Artigo 946.º/2, por outro lado a presença das testemunhas não se apresenta como essencial, dado que o
Artigo 67.º/2 CN admite a sua dispensa pelo notário no caso de haver urgência e a dificuldade em as
conseguir.
Daqui resulta que a conversão da doação em testamento constitui uma exceção ao carater
individual do testamento, na medida em que admite que um negócio com dois outorgantes possa valer
como testamento.
Relativamente ao segundo, o casamento não afeta a liberdade de estar dos cônjuges, referindo
expressamente o Artigo 1685.º/1, que cada um dos cônjuges conserva a faculdade de dispor para depois
da morte dos bens próprios e da sua meação dos bens comuns, sem prejuízo das restrições impostas por
lei em favor dos herdeiros legitimários. No entanto, relativamente aos bens comuns o cônjuge uma vez
que é apenas titular da sua meação não pode dispor de coisas certas e determinadas, em consequência
o Artigo 1685.º/2, estabelece que a disposição que tenha por objeto coisa certa e determinada do
património comum apenas dá ao contemplado o direito de exigir o respetivo valor em dinheiro. Daqui
resulta que a disposição de coisas certas e determinadas do património comum embora seja valida
quanto ao valor, é nula quanto a substância. O Artigo 1685.º/3, b) reconhece, porém, ao beneficiário o
direito de reclamar a coisa em espécie se a disposição tiver sido autorizada pelo outro cônjuge de forma
autêntica ou no próprio testamento. Neste último caso, a lei admite a intervenção do outro cônjuge no
testamento em ordem a conferir validade ao direito do beneficiário de exigir coisa em espécie, o que
constitui uma exceção ao carater individual do testamento.
Em relação a última exceção, efetivamente o Artigo 1704.º, possibilita aos esposados que
instituam o terceiro como herdeiro ou nomeiam-no como legatário na convenção antenupcial,
atribuindo-se, porem, cariz meramente testamentário a estas disposições se não se tratar de pessoa
certa ou determinada ou esta não intervier no ato como aceitante. Esta solução constitui mais uma
exceção a proibição de testamento de mão comum, a lei admite inclusivamente que neste caso fique
consignada a correspetividade destas disposições caso em que a invalidade de uma das disposições
produz a invalidade da outra.
9.1.7 Pessoal
Em sétimo legal, o testamento é um negócio pessoal uma vez que a lei proíbe que o mesmo seja
efetuado por representante ou possa estar dependente do arbítrio de outrem, quer no que toca a
instituição de herdeiros ou nomeação de legatários, quer no que respeita ao objeto da herança ou do
legado, quer no que pertença ao cumprimento ou não cumprimento das suas disposições, nos termos
do Artigo 2182.º, portanto nesta medida o testamento deve considerar-se autossuficiente não podendo
recorrer-se a colaboração de terceiros.
iii) a escolha do legado pelo herdeiro onerado, pelo legatário ou por terceiros, nos
termos do Artigo 2183.º;
Em primeiro lugar, trata-se de uma situação em que o testado institui uma generalidade de
pessoas como herdeiros ou legatários, atribuindo, como por exemplo, 1/6 da herança aos membros de
clube X ou os livros da sua biblioteca jurídica aos advogados de determinada comarca. Neste caso, a
disposição testamentaria não se encontra completa faltando a repartição da herança ou do legado entre
os beneficiários, sendo por este motivo permitido ao testador atribuir a terceiro a faculdade de fazer
esta repartição, essa constitui uma exceção ao carater pessoal do testamento, na medida em que se
admite que um terceiro possa especificar mais precisamente o conteúdo da disposição testamentaria.
Neste caso, pode qualquer interessado requerer ao tribunal a fixação de um prazo para a repartição da
herança ou do legado, sob a cominação, de a repartição pertencer a pessoa designada para o efeito pelo
tribunal, à luz do Artigo 2182.º/3.
Em segunda lugar, a lei não permitindo ao testador encarregar outrem de escolher herdeiro,
permite a nomeação de legatário desde que indique aas pessoas entre as quais a escolha deve ser
efetuada, ou seja o legado de um livro pode ser determinado entre várias pessoas, cabendo a escolha à
terceiro. Neste caso, também pode qualquer interessado requerer a tribunal a fixação de um prazo para
nomeação de legatário, sob a cominação da distribuição do legado ser feita por igual entre as pessoas
que o testador tenha determinado.
Em terceiro lugar, será por exemplo o caso de uma testadora determinar o legado de uma das
suas joias a sua amiga, determinado, porém, que caberá ao herdeiro onerado, a sua amiga ou a terceiro
a escolha da joia a receber. A lei determina a aplicação do disposto no Artigo 2182.º/3 com as
necessárias adaptações, parece assim que qualquer interessado pode requerer em tribunal a fixação do
prazo para escolha do legado por parte da pessoa a quem competir esta escolha, sob a cominação da
mesma ser efetuada pelo tribunal.
Em Portugal, o testamento exige sempre forma especial, mas deve-se distinguir as formas
comuns do testamento e as formas especiais. O Artigo 2204.º refere que há duas formas de Testamento,
o público e o cerrado, porém em 1975 foi aprovada, pelo Decreto-lei 252/75, a convenção relativa a lei
uniforme sobre a forma do testamento internacional: pelo que presentemente as formas do testamento
são 3 – o Testamento Público, o Testamento Cerrado, e o Testamento Internacional. Para além destes,
os Artigos 2210.º e ss. preveem uma serie de formas especiais para o Testamento.
ii) que está escrito e assinado por ele, ou escrito por outrem e a seu rogo e somente
assinado, ou assinado por outrem a seu rogo visto este não saber assinar;
iii) que o testamento não contém palavras emendadas, truncadas, escritas sobre rasuras
ou entrelinhas, borrões ou notas marginais, ou, no caso de as ter, que estão devidamente ressalvadas;
iv) que todas as folhas, à exceção da assinada, estão rubricadas por quem assinou o
testamento.
Caso o Testamento não tenha sido escrito pelo testador, deve conter a menção que foi por este
lido, à luz do Artigo 108.º/3 CN. O notário faz constar do instrumento o número de páginas completas e
linhas de alguma página incompleta, a lei obriga que as folhas do testamento sejam rubricadas pelo
notário, sendo que se o testador o solicitar o testamento e o correspetivo instrumento de aprovação é
cosido e lacrado pelo notário, que apõe sobre o lacre o seu sinete, à luz do Artigo 108.º/4 CN. Em
qualquer caso, na folha que servir de invólucro é lançada uma nota com a indicação da pessoa a quem o
testamento pertence, nos termos do Artigo 108.º/5 CN.
A aprovação pelo notário é meramente formal, uma vez que é feita sem leitura, dado que o
Artigo 107.º determina que só a pedido do testador o testamento cerrado pode ser lido pelo notário,
esta pode ser feita em voz alta, na presença de algum dos intervenientes, alem do próprio testador se
este o autorizar. Uma vez aprovado o testamento deve ser registado no livro próprio para testamentos e
atos a eles referidos. Este considera-se datado no momento da sua aprovação, nos termos do Artigo
2207.º, sendo que o testador pode conservá-lo em seu poder, cometê-lo à guarda de terceiro ou
depositá-lo em qualquer repartição notarial, à luz do Artigo 2209.º/1.
9.2.1.3 Testamento Internacional
O testamento, nos termos do Artigo 1.º da convenção internacional relativa lei uniforme para a
forma do Testamento Internacional, aprovado pelo Decreto-lei 252/75, é valido no que concerne a
forma, qualquer que seja o local em que seja realizado, a situação dos bens , a nacionalidade, o
domicilio, ou residência do testador, se for feito sobre a forma de Testamento Internacional. Em
qualquer caso, o facto de não observar a forma de testamento internacional não prejudica a validade
deste como testamento se obedecer a forma da lei interna. Este deve ser feito por escrito, ainda que
não necessariamente feito pelo testador, podendo ser escrito à mão ou por outro processo, nos termos
do Artigo 3.º Lei uniforme para a forma do Testamento Internacional, tem, no entanto, de ser certificado
por entidade competente para o efeitos, à luz dos Artigos 4.º e 10.º desta convenção. À luz do Artigo 1.º
Decreto-lei 177/79, esta entidades competentes são os notários, quando o testamento foi celebrado em
território português, ou os agentes consulares portugueses, quando o testamento for celebrado no
estrangeiro. O testamento internacional é certificado através da declaração do testador junto da pessoa
habilitada que aquele é o seu testamento e que conhece o seu conteúdo, não tem, no entanto, que dar
conhecimento deste conteúdo, nem as testemunhas, nem a pessoa habilitada, à luz do Artigo 4.º da dita
convenção. Na presença destas pessoas o testador assina o testamento ou se o já tiver feito
previamente reconhece e confirma a sua assinatura, nos termos do Artigo 5.º/1. Se estiver
impossibilitado de assinar deve ser feita menção disto no testamento de acordo com o Artigo 5.º/3.
i) o testamento militar;
ii) outra parte da doutrina, onde se incluem os nomes de Oliveira Ascensão, Corte-Real,
Capelo de Sousa e Carvalho Fernandes, vai, porém, em sentido diferente considerando que esta regra só
se pode aplicar as disposições testamentarias não essenciais, pois em relação a estas últimas a remissão
só se pode fazer para documento que revista a forma legal de testamento ou escritura pública;
iii) Menezes Leitão concorda com a posição ii), uma vez que o Artigo 2184.º não admite
que disposições testamentárias essenciais constem de documento que não revista a forma de
testamento ou pelo menos de escritura pública.
i) um objeto:
Existe um regime especial para as condições e encargos ilícitos, constantes dos Artigos 2230.º e
2245.º, o qual será tratado aquando do conteúdo do testamento.
Os menores não emancipados, uma vez que o menor obtém por pleno direito a emancipação
em consequência do casamento, nos termos do Artigo 132.º, uma vez que a lei não o distingue parece
que o casamento do menor, mesmo sem autorização dos países ou do tutor legalmente exigida de
acordo com o Artigo 1604.º, a), não o impede de fazer testamento, à luz do Artigo 133.º e 2109.º, a),
mesmo em relação aos bens excluídos da sua administração, nos termos do Artigo 1649.º. Efetivamente,
a exclusão da administração do menor não implica que o mesmo não tenha capacidade testamentária
em relação a todos os seus bens.
A substituição quase-pupilar fica sem efeito, logo que cesse a limitação referida ou se o
substituído falecer deixando descendentes ou ascendentes, de acordo com o Artigo 2298.º/2. A lei não
contempla, porém, a situação de tendo o maior acompanhado, antes de ser decretada uma medida de
acompanhamento que o impeça de testar, deixando consequentemente o cônjuge:
iv) as disposições efetuadas pelo cônjuge a favor da pessoa com quem cometeu
adultério, nos termos do Artigo 2196.º/1;
vi) as disposições legalmente proibidas quando realizadas por interposta pessoa, nos
termos do Artigo 2198.º;
9.2.4.3.2 As disposições do menor a favor do tutor, curador, administrador legal de bens e protutor
Esta resulta do facto que ao tutor está vedado receber do pupilo, diretamente ou por interposta
pessoa, quaisquer liberalidades, por ato entre vivos ou por morte, se tiverem sido feitas depois da sua
designação e antes da aprovação das respetivas contas, nos termos do Artigo 1937, d), sem prejuízo do
disposto para as deixas testamentárias no n.º 3 do artigo 2192.º. Esta disposição é extensível ao
curador, nos termos do Artigo 156.º, ao administrador de bens, por força do Artigo 1971.º/1, e parece
também dever sê-lo em relação ao protutor, sempre que este subsitua o tutor, nos termos do Artigo
1956.º, b). A sanção para este ato será a nulidade do testamento, nos termos do Artigo 294.º.
Daqui resulta que se a tutela ou administração legal de bens for efetuada em relação ao menor,
o testamento não é proibido se for realizado depois do menor atingir a maioridade e já estiverem
aprovadas as respetivas contas, mesmo que não estejam aprovadas as contas, parece que a disposição
testamentária também não será proibida se for efetuada a favor dos familiares referidos no Artigo
2192.º/2.
9.2.4.3.3 As disposições de alguém a favor do médico ou enfermeiro que tratar o Testador ou a favor do sacerdote
O Artigo 2194.º que considera nulas a disposição testamentária a favor do médico ou
enfermeiro que tratar o testador ou do sacerdote que lhe prestar assistência espiritual, se o testamento
for feito durante a doença e o testador vier a ser falecida. Tal explica-se em virtude da influência que
estas pessoas podiam ter no testador, levando-o a fazer testamento a favor delas apenas em virtude da
debilidade psicológica que a sua doença mortal acarretava. Assim se o testador não falecer da doença
que foi tratado teria, entretanto, podido revogar o testamento, e se não o fez foi porque decidiu manter
a liberalidade, caso o testamento seja realizado após a cura do testador, este também deverá ser
considerado válido.
Mesmo tendo sido realizado durante a doença e o testador vier a falecer dela há, porém,
exceções a invalidade destas disposições, assim: não são abrangidos os legados remuneratórios de
serviços recebidos pelo doente, nem as disposições a favor dos familiares referidos no n.º 2 do Artigo
2192.º, como resulta do Artigo 2195.º.
9.2.4.3.4 As disposições efetuadas pelo cônjuge a favor da pessoa com quem cometeu adultério
A lei institui esta proibição por motivos de tutela da instituição familiar e também por considerar
lesivo dos interesses do outro cônjuge permitir a realização por testamento a favor da pessoa com quem
cometeu adultério. Este tem duas importantes exceções, que resultam do Artigo 2196.º/2, isto é a
proibição não se aplicará, se a data da disposição o casamento já estava dissolvido, ou os cônjuges
estavam separados judicialmente de pessoas e bens ou separados de facto há mais de seis anos, à data
da abertura da sucessão, nem se esta se limitar a assegurar alimentos ao beneficiário. Em relação a
hipótese de separação de facto, entende Jorge Duarte Pinheiro e Daniel Morais que dado que o facto
que a Lei 61/2008 ter vido estabelecer a possibilidade de divorcio ao fim de um ano de separação de
facto, deve-se fixar igualmente este prazo para os efeitos do Artigo 2196.º/2, a), e não apenas seis
meses.
9.2.4.3.5 As disposições efetuadas pelo testador a favor do notário ou dos outros intervenientes no testamento ou
a sua aprovação
É também nulo, nos termos do Artigo 2197, a disposição a favor do notário, intérpretes e
testemunhas que intervieram no testamento ou na sua aprovação. Esta solução justifica-se já que os
intervenientes podiam influenciar ilegitimamente o doador para realizar a liberalidade, deixando assim
de ser um ato livre. Há alias impedimentos expressos a estas entidades para a prática de atos notariais
referidos nos Artigos 5.º, 6.º e 68.º CN.
i) Guilherme Oliveira considera que não se deve excluir a possibilidade de terceiro obter
uma indemnização, embora considere que a situação especial do negócio testamentário torna mais
difícil a existência de legitimas expectativas do terceiro a merecer tutela;
ii) Oliveira Ascensão considera que a questão está em aberto, uma vez que no CC
português não existe disposição semelhante ao §278 BGB, que proíbe esta extensão ao dispor que o
destinatário não tem direito a confiar na validade desta disposição testamentaria. A seu ver o facto de
no testamento não haver declaratória, não seria razão decisiva de se excluir a aplicabilidade da regra se
se pudesse pensar que esta se estenderia aos destinatários das atribuições;
iii) Jorge Duarte Pinheiro entende que o carater não receptício do testamento excluí a
indemnização do Artigo 245.º/2, uma vez que está só existe nos negócios com declaratários;
iv) Menezes Leitão concorda com a posição de Jorge Duarte Pinheiro, pois não só o
testamento constitui de facto um negócio não receptício, enquanto que o Artigo 245.º/2 pressupõe a
existência de um declaratário, como também não se vê que expectativas devessem ser tuteladas neste
caso, das quais resultaria uma responsabilidade da herança pela feitura de testamento inexistente.
9.3.5 Simulação
Esta encontra-se prevista no Artigo 2200.º, nos termos do qual é anulável a disposição feita
aparentemente a favor de pessoa designada no testamento, mas que, na realidade, e por acordo com
essa pessoa, vise a beneficiar outra – trata-se de um regime diferente do que vigora para a simulação
em geral: o acordo não se faz entre as partes do negócio, já que apenas o testador é parte, mas antes
entre o testador e a pessoa designada; por outro lado, o testamento não é nulo, mas apenas anulável.
O Artigo 2200.º prevê a simulação por interposição fictícia de pessoas, embora pareça que seja
igualmente relevantes, por aplicação das regras gerais, para a anulação do testamento, a simulação
absoluta e a relativa. Já a disposição testamentaria valida, isto é dissimulada, poderá ser válida nos
termos do Artigo 241.º/2: no Artigo 2259.º/1 encontra-se um caso de aplicação desta solução, já que
testador pretender fazer uma liberalidade dissimulando o pagamento de uma dívida a lei considera
válida o legado: porém, na hipótese de interposição fictícia de pessoas é difícil admitir-se a validade da
disposição, atendendo a falta do mínimo de correspondência entre o ato dissimulado e o contexto do
testamento, por força do Artigo 2187.º.
ii) Jorge Duarte Pinheiro considera antes aplicável o Artigo 244.º/2, considerando
anulável a disposição testamentária contrária a vontade real do testador, que tenha sido feita com o
intuito de enganar qualquer pessoa, exigindo-se apenas que esta tenha o mínimo de correspondência
no contexto do testamento, ao abrigo Artigo 2187.º, não admite, porém, qualquer indemnização.
Menezes Leitão defende que deve-se considerar irrelevante a reserva mental, uma vez que o
testamento não constitui um negócio com declaratário.
9.3.8.1 Erro-vício
Resulta do Artigo 2202.º, que este pode ser de facto ou de Direito, mas exige-se em qualquer
caso a sua essencialidade, no sentido de que o Testador sem o mesmo não teria feito a disposição em
causa. Sendo o testamento um negócio unilateral não receptício não vigoram neste âmbito outros
requisitos referentes a anulação por erro, estabelecidos no regime-geral do negócio jurídico como é o
caso da cognoscibilidade desta essencialidade, nos termos dos Artigos 251.º e 247.º , ou o
reconhecimento da mesma por acordo com este, nos termos do Artigo 252.º/1. Também, ao contrário
do que se prevê nos negócios jurídicos em geral, a lei estabelece que a essencialidade tem de resultar do
próprio testamento, tal levou a uma controvérsia na doutrina sobre saber se é admitida ou não prova
complementar em relação a essencialidade do erro-vício:
i) para Oliveira Ascensão o Artigo 2202.º reflete, em matéria testamentária, a
contraposição estabelecida nos Artigos 251.º e 252.º/1 para os negócios jurídicos em geral, pelo que
apenas se aplica ao erro sobre os motivos que não se refiram ao objeto da disposição ou a pessoa do
beneficiário, sendo estes últimos abrangidos pelo Artigo 2201.º que não estabelece qualquer exigência
de prova complementar;
ii) já Corte-Real e Jorge Duarte Pinheiro entendem que o Artigo 2202.º é aplicável a todo
o erro-vício, excluindo por isto a admissibilidade da prova complementar em relação a essencialidade
exigida para a sua anulação;
iii) Menezes Leitão concorda que o Artigo 2202.º é aplicável a todo o erro-vício, não
fazendo por isto sentido aplicar em matéria testamentária a distinção estabelecida nos Artigos 251.º e
252.º/1, mas não vê qualquer razão para adotar em relação a anulação por erro-vício um regime
probatório diferente do que aquele que vigora para a interpretação do negócio testamentário.
Considera assim ser aplicável a solução prevista no Artigo 2187.º/2, de que é admitida prova
complementar, mas a essencialidade terá de resultar, ainda que de modo imperfeito, do próprio
testamento.
i) Oliveira Ascensão e Jorge Duarte Pinheiro sustentam a este propósito, que dado o
carater unilateral e não receptício do testamento haverá que adaptar o regime desta disposição,
considerando anulável a disposição testamentaria viciada por erro sobre as circunstâncias que fundaram
a decisão de testar;
ii) Menezes Leitão concorda com a relevância deste erro, não vendo razão para que o
mesmo seja sujeito a um regime diferente do que resulta do Artigo 2202.º, não considerando por isso
necessária qualquer adaptação do Artigo 252.º/2.
9.3.8.2.2 Usura
Uma outra questão é se o testamento pode ser anulado por usura, nos termos do Artigo 282.º,
uma vez que a lei não faz qualquer referência a este vício em sede testamentária:
ii) Jorge Duarte Pinheiro e Daniel Morais sustentam que o testamento pode ser anulado
por usura, exigindo no entanto o preenchimento dos pressupostos do Artigo 282.º - esta posição tem
tido acolhimento pacifico na jurisprudência, que admite, assim, anulação do testamento explorando a
situação de necessidade do testador, consegui que este estabelecesse encargos sucessivos ou
injustificados – Acórdão do STJ de 22 de Maio de 2003 e Acórdãos da Relação de Lisboa de 2019.
A anulabilidade ocorre, por contrário, quando a lei o expressamente o preveja, como sucede
genericamente nas hipóteses de falta e vícios da vontade do testador, nos termos dos Artigos 2199.º e
ss., incluindo a simulação, à luz do Artigo 2200.º, a qual no negócio jurídico em geral constitui causa de
nulidade, à luz do Artigo 240.º/2.
9.4.1 Confirmação
A lei prevê, porém, a possibilidade de confirmação do testamento por parte dos interessados,
impedindo o que o tiver confirmado de invocar qualquer um destes desvalores, de acordo com o Artigo
2309.º. Ao contrario do que se prevê para o regime geral do negócio jurídico, à luz do Artigo 288.º, e a
semelhança do que se prevê para a doação, de acordo com o Artigo 968, não se está neste caso perante
uma verdadeira confirmação, sendo antes uma situação de confirmação imprópria, já que não se verifica
uma verdadeira sanação da invalidade do ato, mas antes uma perda, ou renuncia individual, ao direito
de declarar a sua nulidade e anulabilidade, que não se estende por isto aos outros interessados.
i) Oliveira Ascensão considera que o testamento feito por mero escrito particular não
seria nulo, a pesar do que dispõe o Artigo 2206.º/5, mas sim inexistente pelo que seria insuscetível de
confirmação;
iii) Jorge Duarte Pinheiro considera haver casos de nulidade típica sujeita ao regime do
Artigo 286.º em relação a certas disposições testamentárias, abrangendo:
iv) Menezes Leitão não vê razão para restringir a aplicação do preceito do Artigo 2309.º
fundamentado que como a confirmação é impropria, apenas priva o direito de invocar a nulidade por
parte do interessado, pelo que não há razão:
a) não há razão para o herdeiro poder conservar este direito, quando ele
mesmo decide cumprir um legado, que o testador realizou por documento particular;
Agora, tem-se de analisar o problema da eventual aplicação subsidiaria dos critérios gerais de
interpretação dos negócios jurídicos, previstos nos Artigos 236.º e ss., em relação ao testamento, já que
alguma doutrina tem vindo defender a sua aplicação:
ii) Carvalho Fernandes sustenta que não é de excluir, dado o caracter especial do Artigo
2187.º, a aplicação subsidiaria e sucessiva dos Artigos 238.º, 236.º e 237.º, na medida do conciliável com
a particular natureza do testamento;
ii) Menezes Leitão defende que não parece que o Artigo 2187.º deixe qualquer
espaço para a aplicação do Artigo 236.º, uma vez que esta consagra um critério
objetivista contrário ao critério subjetivista consagrado no Artigo 2187.º, o testamento
deve ser interpretado no sentido de ir buscar a vontade do testador, mesmo que o texto
seja o único elemento;
ii) Daniel Morais entende que se trata de preceito que não se adequa ao
testamento;
d) relativamente ao Artigo 238.º/2, o Menezes Leitão afirma que não pode ser
aplicado ao testamento.
Concluí Menezes Leitão que o sentido da real vontade do testador só pode ser
encontrado conforme o Artigo 2187.º.
Outra norma interpretativa encontra-se no Artigo 2226.º/1, que estabelece que a disposição a
favor dos parentes do testador ou de terceiro, sem designação de quais sejam, considera-se feita a favor
dos que seriam chamados por lei à sucessão, na data da morte do testador, sendo a herança ou legado
distribuído segundo as regras da sucessão legítima, o n.º 2 acrescenta que de igual forma se procederá,
se forem designados como sucessores os herdeiros legítimos do testador ou de terceiro, ou certa
categoria de parentes. Daqui resulta que se o testador entender deixar a herança aos seus parentes ou
herdeiros legítimos, e não fazer qualquer designação, tem como efeito a distribuição de acordo com as
regras da sucessão legítima, não deixa de estar em causa o cumprimento de uma disposição
testamentaria, sendo esta remissão para as regras da sucessão a forma que a lei julga corresponder à
intenção do testador em fazer esta designação.
Dispõe o Artigo 2227.º outra norma interpretativa, determinado que se o testador designar
certos sucessores individualmente e outros coletivamente, são estes havidos como individualmente
designados. Assim, por exemplo, o qual constava do Artigo 1797.º Código de Seabra, o testador diz
“instituo por meus herdeiros Pedro e Paulo e os filhos de Francisco”, se Francisco deixar 3 filhos, à luz do
Artigo 2227.º, deve-se interpretar a disposição no sentido de individualmente designar os filhos de
Francisco, assim devera-se dividir a herança por 5, e não por 3.
Já o Artigo 2228.º determina que se o testador chamar à sucessão certa pessoa e seus filhos,
entende-se que são todos designados simultaneamente, nos termos do artigo anterior, e não
sucessivamente. Daqui resulta que se o testador designar por herdeiros “Francisco e os seus três filhos”
poderia entender-se que se trataria apenas da designação de Francisco, sendo o seus filhos chamados
apenas caso este não possa ou não queira aceitar, porém resulta do Artigo 2228.º, que esta designação
é conjunta, devendo-se proceder a divisão por 4.
Outra norma interpretativa encontra-se no Artigo 2260.º, o qual determina que o legado feito
a favor de um credor, mas sem que o testador refira a sua dívida, não se considera destinado a satisfazer
essa dívida. Assim, se o testador estabelecer que deixa 10.000€ a um dos seus credores, mas não
menciona que o dinheiro se destina a pagar a sua dívida, deve-se interpretar a disposição no sentido de
ter havido intenção de constituir um verdadeiro legado, o qual é independente da dívida existente. Mas
se o testador disser que deixa ao seu credor 10.000€ devido ao facto deste lhe ter emprestado dinheiro,
já se deve interpretar esta disposição como destinada ao pagamento da dívida.
O Artigo 2262.º que refere se o testador legar a totalidade dos seus créditos, deve entender-se,
em caso de dúvida, que o legado só compreende os créditos em dinheiro, excluídos os depósitos
bancários e os títulos ao portador ou nominativos. Na verdade, se o testador deixar todos os seus
créditos à alguém, podia-se questionar se este visa abranger os seus depósitos bancários, que são
créditos sobre os bancos, e os títulos, que são créditos sobre o título, mas como não são assim
entendidos pelas pessoas comuns, não se devendo os considerando abrangidos pelo legado.
O Artigo 2263.º que dispõe que sendo legado o recheio de uma casa ou o dinheiro nela
existente, não se entende, no silêncio do testador, que são também legados os créditos, ainda que na
casa se encontrem os documentos respetivos.
Por fim, o Artigo 2269.º relativa à extensão dos legados, refere o n.º 1 desta que na falta de
declaração do testador sobre a extensão do legado, entende-se que ele abrange as benfeitorias e partes
integrantes, acrescendo o n.º2 que o legado de prédio rústico ou urbano, ou do conjunto de prédios
rústicos ou urbanos que constituam uma unidade económica, abrange, no silêncio do testador, as
construções nele feitas, anteriores ou posteriores ao testamento, e bem assim as aquisições posteriores
que se tenham integrado na mesma unidade, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 2316.º.
Também é discutível a questão que chegou ao STJ, num acórdão de 23 de Setembro de 1993, no
qual a testadora indica 7 herdeiros, mas omite a distribuição de 1/8 da herança, o tribunal entendeu que
era intenção da testadora excluir os herdeiros legítimos, e por isto, dividiu a herança pelos 7 herdeiros,
com base no Artigo 239.º: Menezes Leitão afirma ser questionável esta aplicação.
Quanto aos aspetos não essenciais ou instrumentais da disposição testamentária, parece, à luz
da lição de Menezes Leitão, possível fazer esta integração, um exemplo dado por Jorge Duarte Pinheiro
é o testador dizer que o testamenteiro é remunerado, mas não estabelecer o valor desta: aí de facto é
possível fazer a integração de acordo com o Artigo 239.º.
i) a declaração de maternidade;
ii) a perfilhação;
9.6.1.2 Perfilhação
Da mesma forma, o testamento pode incluir uma declaração de perfilhação, nos termos do
Artigo 1853.º, b), neste caso a perfilhação é sempre irrevogável, e sendo feita em testamento, não é
prejudicada pela revogação deste. No entanto atento ao carater confidencial do testamento, só após a
morte deste é que a perfilhação se tornará conhecida, pelo que no caso de destruição do testamento
cerrado, o seu conhecimento pode tornar-se impossível.
Da mesma forma pode ser estabelecido em testamento a designação de uma pessoa coletiva,
designadamente uma fundação, mas neste caso já se está perante uma disposição de natureza
patrimonial atenta a necessidade de estabelecer uma dotação de bens a favor desta pessoa coletiva.
i) típicos e atípicos;
Esta classificação, sendo clássica, foi pacifica nos juristas portugueses, que classificavam os
legados habitualmente consoante o testador atribuía ao legatário um direito real ou, antes, um direito
de crédito.
9.6.2.2.3 Legados dispositivos e obrigacionais
Esta classificação é baseada na classificação anterior, sendo formulada por Galvão Telles,
segundo este autor “nos legados dispositivos a propriedade do objeto do legado transmite-se
diretamente para o legatário, enquanto que nos legados obrigacionais a coisa só seria adquirida com o
comprimento por parte do sucessor onerado com o encargo”: a diferença em relação a classificação
anterior resulta de uma maior abrangência por parte dos legados dispositivos em relação aos legados
per vincidicationem¸ já que, enquanto estes se referiam a direitos reais sobre coisas, para Galvão Telles
os legados dispositivos abrangeriam também os atos de disposição de créditos, seja através da sua
transmissão para o legatário, não admitida no Direito Romano, seja através da sua extinção por perdão
do devedor. Ou seja, o legado pelo qual o testador atribuí ao legatário direitos de crédito ou perdoa
uma divida, seria considerado um legado dispositivo, e não um legado obrigacional.
ii) Menezes Leitão discorda desta posição afirmado que o Artigo 2050.º dispõem que o
domínio e posse dos bens da herança adquirem-se pela aceitação, e sendo esta disposição aplicável aos
legados, parece que o legado de coisa certa e determinada institui o legatário na propriedade da
mesma, não vendo assim razão para proceder a reivindicação, apesar de dispor da ação do
cumprimento do legado, nos termos do Artigo 2270.º.
A ação de reivindicação tem de ser articulada com a aceitação do legado, apesar da primeira ser
imprescritível, a verdade é que o legado tem de ser aceite no prazo de 10 anos, nos termos do Artigo
2059.º e 2249.º, pelo que o legatário perderá a reivindicação se deixar ultrapassar este prazo sem
aceitar o legado. Se proceder a reivindicação, previamente a aceitação do legado, e encontrando-se
dentro do prazo para esta aceitação, considerar-se-ia ocorrer aceitação tácita do mesmo.
Finalmente, a extensão do legado de coisa certa e determinada, esclarece o Artigo 2269.º/1, que
na falta de declaração do testador sobre a extensão do legado, entende-se que ele abrange as
benfeitorias e partes integrantes, ou seja as despesas feitas para conservar ou melhorar as coisas, nos
termos do Artigo 216.º/1, e as coisas moveis ligadas aos prédios com carater de permanência, nos
termos do Artigo 204.º/3. O Artigo 2269.º/2 esclarece ainda que o legado de prédio rústico ou urbano,
ou do conjunto de prédios rústicos ou urbanos que constituam uma unidade económica, abrange, no
silêncio do testador, as construções nele feitas, anteriores ou posteriores ao testamento, e bem assim as
aquisições posteriores que se tenham integrado na mesma unidade.
Relativamente aos frutos da coisa legada, não havendo declaração do testador sobre os frutos
da coisa legada, o legatário tem direito aos frutos desde a morte do testador, com exceção dos
percebidos adiantadamente pelo autor da sucessão, nos termos do Artigo 2271.º.
ii) for legado o receio de uma casa ou o dinheiro nela existente não se entende, no
silêncio do testador, que o legado abrange os créditos, ainda que na casa se encontrem os
documentos respetivos, nos termos do Artigo 2263.º.
A lei esclarece que compete a escolha das coisas dentro do género ao obrigado do cumprimento
do legado, a menos que o testador determine que esta escolha seja efetuada pelo próprio legatário ou
por terceiro, nos termos do Artigo 2266.º/1. Salvo estipulação do testador em contrário, a escolha
recairá sobre as coisas existentes na herança, salvo se não encontra nenhum do género designado, à luz
do Artigo 2266.º/2, Primeira Parte, cabendo a escolha ao legatário ele pode escolher a coisa melhor, a
menos que esta incida sobre coisas não existentes na herança, nos termos do Artigo 2266.º/2, Parte
Final.
As regras relativas a determinação da prestação, nos termos do Artigo 400.º, bem como ao da
escolha feita pelo credor ou por terceiros nas obrigações genéricas, nos termos do Artigo 542.º, são
correspondentemente aplicáveis, nos termos do Artigo 2266.º/3.
O regime do legado de coisa alheia é aplicável igualmente no caso de a coisa legada não
pertencer por inteiro ao testador, verificando-se a nulidade, no entanto apenas em relação a parte que
não lhe pertencer, de acordo com o Artigo 2252.º/1. Neste caso, porém, se resultar do testamento que
o testador sabia que a coisa não lhe pertencia por inteiro, o legado será considerado como obrigacional
em relação a parte alheia, ficando o sucessor onerado com o legado, igualmente, obrigado a
proporcionar aquisição da coisa ao legatário ou a pagar-lhe o valor dela, de acordo com o Artigo
2252.º/1, Parte Final e Artigo 2251.º/2
i) a coisa por qualquer título estiver tornado propriedade exclusiva do disponente à data
da sua morte;
ii) a disposição tiver sido previamente autorizada pelo outro cônjuge por forma
autêntica ou no próprio testamento;
iii) a disposição tiver sido feita por um dos cônjuges em benefício do outro.
Relativamente a situação da dívida nunca ter existido, determina a lei que se o testador legar
certa coisa ou certa soma como por ele devida ao legatário, é válido o legado, ainda que a soma ou coisa
não fosse realmente devida, salvo sendo o legatário incapaz de a haver por sucessão, nos termos do
Artigo 2259.º/1. A inexistência da dívida não afeta a validade do legado, uma vez que foi vontade do
testador de atribuir a coisa ou quantia ao legatário, independentemente da dívida, sendo que a sua
menção no testamento vale como reconhecimento da mesma. A situação altera-se no caso de o
legatário ser incapaz de receber a coisa por sucessão, efetivamente, se o legatário, por indignidade ou
por indisponibilidade relativa, não poder receber bens do testador, a falsa referencia a existência de
uma divida permitiria ilidir a aplicação destes institutos, considerado a lei nulo o legado nestas
situações.
Relativamente a situação da dívida se ter, entretanto, extinto, determina a lei que o legado fica,
todavia, sem efeito, se o testador, sendo devedor ao tempo da feitura do testamento, cumprir a
obrigação posteriormente, nos termos do Artigo 2259.º/2. Esta situação compreende-se pelo facto que
o cumprimento posterior da dívida pode ser interpretado como a revogação tácita do legado, nos
mesmos termos da alienação da coisa legada, de acordo com o Artigo 2316.º.
Os bens entregues devem ser entregues a uma associação ou fundação de fins análogos, que a
entidade competente designar, salvo disposição do instituidor em contrário, nos termos do Artigo
188.º/5. Sendo efetuado o reconhecimento, o mesmo importa a aquisição, pela fundação, dos bens e
direitos que o ato de instituição lhe atribui, nos termos do Artigo 188.º/2. Deste modo, dispensa-se a
aceitação, normalmente exigida, nos termos do Artigo 2050.º.
i) a condição;
ii) a termo;
iii) o modo
9.6.3.1 Condição
A condição está prevista nos Artigos 270.º e ss. quanto ao negócio jurídico em geral, sendo
consequentemente aplicáveis ao testamento. Confirmando esta orientação, dispõe o Artigo 2229.º que
o testador pode sujeitar a instituição de herdeiro ou legatário a condição suspensiva ou resolutiva, com
as limitações dos Artigos 2230.º e ss. A principal limitação que se verifica é a que ocorre em relação as
condições impossíveis, contrárias à lei ou à ordem pública, ou ofensiva dos bons costumes, as quais são
consideradas como não escritas, de acordo com o Artigo 2230.º:
ii) a condição contrária a lei ou ordem pública é aquela que infringe qualquer disposição
legal, ou no caso da ordem pública infringe valores fundamentais da sociedade civil, seria por
exemplo o facto de alguém deixar determinada herança a outrem na condição deste cometer
um crime;
iii) a condição ofensiva dos bons costumes atenta contra regras da moral social ou
contra regras de conduta deontológicas.
A lei dá exemplos de várias condições contrárias à lei, embora esta enumeração é meramente
exemplificativas, devendo considerar-se nulas as condições que limitem a liberdade individual do
beneficiário da disposição em termos semelhantes.
A condição captatória, pela qual o testador condiciona a deixa ao facto do herdeiro ou legatário
fazer igualmente no testamento alguma disposição a favor do testador ou de outro, de acordo como
Artigo 2231.º. A proibição desta condição resulta da enorme limitação que esta coloca a liberdade de
testar, coagindo o beneficiário a dispor dos seus bens por morte em contrapartida da aquisição da
herança ou do legado.
Sem igualmente exemplos de condições contrárias à lei, a condição de residir ou não residir em
certo prédio ou local, de conviver ou não conviver com certa pessoa, de não fazer testamento, de não
transmitir a determinada pessoa os bens deixados ou de os não partilhar ou dividir, de não requerer
inventário, de tomar ou deixar de tomar o estado eclesiástico ou determinada profissão e as cláusulas
semelhantes, nos termos do Artigo 2232.º. A proibição resulta do facto de restringirem a liberdade do
beneficiário de decidir na sua vida, na sua profissão ou no destino a dar aos bens que recebeu, a lei
admite no entanto que o testador imponha ao legatário a obrigação de dar preferência a determinada
coisa na venda ou na celebração de outro contrato, nos termos gerais dos pactos de preferência, de
acordo com o Artigo 2235.º.
Ao contrário do que se verifica nas regras gerais, em que o negócio sujeito a este tipo de
condições é, normalmente, nulo, nos termos do Artigo 271.º, a validade destas deixas não é prejudicada
por uma condição física ou legalmente impossíveis, sendo estas consideradas não escritas, nos termos
do Artigo 2230.º/1, salvo declaração do testador em contrário. Pelo contrário, as condições contrária à
lei ou à ordem pública, ou ofensiva dos bons costumes, têm-se igualmente por não escrita, ainda que o
testador haja determinado o contrário, nos termos do Artigo 2230.º/2, sem prejuízo do disposto no
Artigo 2186.º, o qual prevê a nulidade da disposição testamentário, cujo o fim seja contrária à lei, à
ordem pública ou ofensiva dos bons costumes.
Sendo a condição resolutiva, determina o Artigo 2236.º/1 que o tribunal pode impor ao herdeiro
ou legatário a obrigação de prestar caução no interesse daqueles a favor de quem a herança ou legado
será deferido no caso de a condição se verificar, essa obrigação pode ser dispensada pelo testador, nos
termos do Artigo 2236.º/3. Sendo o sucessor obrigado a prestar caução, a não prestação da mesma
implica que a herança ou legado, seja posta em administração, nos termos do Artigo 2237.º/2.
Sendo a condição suspensiva, há que distinguir consoante a disposição seja a título de herança
ou de legado. Sendo uma disposição a título de herança atribuída sob condição suspensiva é posta a
herança em administração, até que a condição se cumpra ou haja a certeza de que não pode cumprir-se,
nos termos do Artigo 2237.º/1. Já se tratando de legado dependente de condição suspensiva ou termo
inicial, o tribunal pode impor àquele que deva satisfazer o legado a obrigação de prestar caução no
interesse do legatário, de acordo com o Artigo 2236.º/2, neste caso o legado só é posto em
administração caso a caução não seja prestada, nos termos do Artigo 2237.º/2, podendo o testador
excluir esta solução, à luz do Artigo 2236.º/3.
9.6.3.2 Termo
O testamento pode igualmente ser sujeito a termo, porém a sua admissibilidade é muito
restrita, nos termos do Artigo 2243.º, o qual limita muito a aplicação ao testamento do regime geral,
previsto nos Artigos 278.º e 279.º. Efetivamente a lei não admite a sujeição da instituição de herdeiro a
termo inicial, nem a termo final, considerando estas cláusulas como não escritas, nos termos do Artigo
2243.º/2. O que implica que o herdeiro adquire imediatamente a herança à título definitivo,
independentemente, de qualquer estipulação de termo. Já a nomeação de legatário pode estar sujeita a
termo inicial, mas este apenas suspende a execução da disposição, não impedindo que o nomeado
adquira logo direito ao legado, nos termos do Artigo 2243.º/1, já a sujeição a termo final tem-se por não
escritas, exceto se a disposição versar sobre direito temporário, nos termos do Artigo 2243.º/2.
Efetivamente, o legado pode consistir num direito temporário como o usufruto, nos termos do Artigo
2258.º e 1443.º, neste caso, naturalmente, terminará com o decurso do prazo, com o qual foi
constituído.
9.6.3.3 Modo
À semelhança do que sucede com as doações, de acordo com o Artigo 963.º/1, também as
disposições testamentárias podem ser oneradas com encargos, de acordo com o Artigo 2244.º. O modo
ou o encargo consiste num restrição, imposta ao beneficiário da liberalidade que o obriga a realizar
determinada prestação no interesse de outrem ou do próprio beneficiário, podendo por isto consoante
os casos revestir a natureza de uma obrigação, em sentido técnico, como de um mero ónus jurídico. Ao
contrário do que sucede com as doações em que o encargo pode ser imposto a favor do autor da
liberalidade, por natureza tal não pode ocorrer no testamento, salvo em sentido moral, como sucede
nos encargos a favor da alma, nos termos do Artigo 2224.º, ou destinados a perpetuar a memória do
testador.
Enquanto que a condição suspende a disposição testamentária, mas não obriga o beneficiário, o
modo obriga o beneficiário, mas não suspende a disposição testamentária. À semelhança do qua
acontece com a condição não é admissível no testamento a estipulação de encargos impossíveis,
contrários à lei ou à ordem pública, ou ofensivos dos bons costumes, nos termos do Artigo 2245.º. Se
forem física ou legalmente impossíveis, consideram-se não escritos, e não prejudicam o beneficiário,
salvo declaração em contrário, à luz do Artigo 2230.º/1 ex vi Artigo 2245.º. Se forem contrários à lei ou à
ordem pública, ou ofensivos dos bons costumes, consideram-se não escritos, ainda que o testador tenha
declarado o contrário, nos termos do Artigo 2230.º/2 ex vi Artigo 2245.º, salvo se se poder concluir que
o testamento foi determinado para este fim, caso em que será igualmente nulo, por força do Artigo
2186.º.
9.6.3.3.1 Regime
A lei prevê a possibilidade de o tribunal impor ao herdeiro ou legatário onerado pelos encargos
a obrigação de prestar caução, sempre que tal seja justificado e o testador não tenha disposto coisa
diversa, nos termos do Artigo 2246.º. A lei atribui a qualquer interessado o direito de exigir o
cumprimento dos encargos, sempre que o herdeiro ou legatário faltem ao seu cumprimento, de acordo
com o Artigo 2247.º. Relativamente aos interessados a quem é atribuída esta faculdade para além da
pessoa que o interesse ou dos seus credores, devem ser considerados como tais os sucessíveis que
possam beneficiar da resolução da disposição testamentaria. A resolução da deixa com fundamento na
falta de cumprimento dos encargos só é admissível, nos termos do Artigo 2248.º/1, se o testador o tiver
determinado ou se for lícito concluir por testamento que a disposição não seria mantida sem o
cumprimento do encargo, é permitido assim o apuramento da vontade real e da vontade hipotética do
testador, caso ele tivesse previsto a situação. O direito de resolução caduca, no entanto, decorridos 5
anos sobre a mora no cumprimento do encargo e, em qualquer caso, decorridos 20 anos sobre a
abertura da sucessão, nos termos do Artigo 2248.º/3. Caso se verifique a resolução da disposição, o
encargo deve ser cumprido pelo beneficiário da resolução, salvo se outra coisa resultar do testamento
ou da natureza da disposição, nos termos do Artigo 2248.º/2.
9.7.1 Modalidades
A revogação pode corresponder a várias modalidades:
i) se estiver em causa o modo de efetuar a revogação distingue-se entre revogação:
a) expressa;
b) tácita;
c) real.
a) total;
b) parcial.
Estes casos de revogação real constituem meras presunções, admitindo-se a prova que o
testador ou alienar ou transformar a coisa, não quis revogar o legado, de acordo com o Artigo 2316.º/3.
Não se vê, porém, que o legado possa ser cumprido, dado o facto que a lei considera nulo o legado de
coisa alheia, nos termos dos Artigos 2251.º e 2252.º, bem como o legado de coisa não existente no
espolio do testador.
Tanto a revogação expressa como a tácita podem ser totais ou parciais, consoante o âmbito da
declaração expressa ou a incompatibilidade do testamento posterior.
Já a revogação real por inutilização do testamento é necessariamente total, uma vez que neste
caso nada se pode aproveitar do testamento anterior, pelo contrário, a revogação real por alienação ou
transformação da coisa legada é necessariamente parcial, pois incide apenas sobre aquele legado, só
podendo ser considerada revogação total na hipótese do testamento anterior ter unicamente este
conteúdo.
Estabelece a lei que a enumeração do Artigo 2317.º é meramente indicativa, podendo a lei
estabelecer outras disposições que completam ou acrescentam casos de caducidade, nos termos do
Artigo 2317.º, proémio. Assim:
i) ao Artigo 2317.º, b) deve ser acrescentado os casos da certeza da não verificação da condição
suspensiva ou a verificação da condição resolutiva em vida do testador ou sucessor, nos termos do
Artigo 2229.º;
b) para além disto (antigamente) se o cônjuge voltar a casar (sem respeitar o prazo
internupcial) perde todos os bens de que haja recebido do antigo cônjuge, nos termos do Artigo
1650.º/1 (revogado à luz do Artigo 2.º, a) Lei 85/2019);
iii) há ainda que considerar a dependência das disposições testamentarias em relação a
convecção antenupcial, assim:
iv) para além disto, o Artigo 2317.º, e) apenas se refere ao repúdio da disposição testamentária,
havendo que a este acrescentar o decurso do prazo para aceitar ou repudiar a herança ou legado, nos
termos do Artigo 2059.º.
v) uma outra causa de caducidade é o ter decorrido o prazo de eficácia dos testamentos
celebrados de acordo com as formas especiais, nos termos do Artigo 2222.º;
vi) por fim, uma outra causa de caducidade é o facto de o bem legado já não pertencer ao
testador, ou porque foi adquirido pelo legatário, nos termos do Artigo 2257.º, ou porque já não existe
no espolio do testador, nos termos do Artigo 2254.º.
10.1 Modalidades
Há 3 modalidades de pacto sucessório previstas no Artigo 2028.º:
ii) pactos sucessórios aquisitivos ou designativos, mediante os quais alguém regula a sua
própria sucessão;
10.2 Regime
Nos termos do Artigo 2028.º/2, os pactos sucessórios apenas são válidos nos casos previstos na
lei: isto implica a nulidade de todos os pactos dispositivos, podendo, no entanto, ser válidos alguns
pactos designativos e um caso de pactos renunciativos, nos termos do Artigo 1700.º.
Os pactos designativos correspondem a doações por morte, nos termos das quais se atribui ao
donatário a qualidade de herdeiro ou legatário, situação que apenas se admite no âmbito da convenção
antenupcial, nos termos do Artigo 1700.º/1, a) e b). Já os pactos renunciativos correspondem ao repúdio
antecipado de uma sucessão ainda não aberta, fazendo assim o sucessor prescindir antecipadamente de
uma sucessão, que ainda não se verificou, na altura em que o sucessor não está em condições de tomar
uma decisão esclarecida sobre o assunto, pelo que estes pactos são por regra proibidos, sendo apenas
admitida a renúncia reciproca a condição de herdeiro legitimário do outro cônjuge, na convenção
antenupcial quando o regime de bens convencional ou supletivo seja o da separação de bens, nos
termos do Artigo 1700.º/1, c) e 3.
Sendo nulos os pactos sucessórios, esta está sujeita ao regime da nulidade nos negócios
jurídicos em geral, à luz do Artigo 285.º e ss., e não em relação ao regime da nulidade atípica do negócio
testamentário.
A renúncia tem como efeito a perda do cônjuge da condição de herdeiro legitimário, mas a lei
não deixa de reconhecer a este direitos especiais em relação a herança:
i) não são considerados inoficiosas as liberalidades feitas ao cônjuge até a parte da
herança correspondente a legítima subjetiva deste, caso a renúncia não existisse: a lei permite assim
que o cônjuge seja contemplado pelo de cuius em doação ou testamento como verdadeiro herdeiro
legitimário, e colocando estas liberalidades numa legítima subjetiva fictícia criada para o efeito;
ii) não prejudica outros direitos do cônjuge não relacionada com a sua posição
sucessória, designadamente o direito à alimentos do cônjuge sobrevivo, previstos no Artigo 2018.º, ou
prestações socais por morte, nos termos do Artigo 1707.º-A/2 – a estes Menezes Leitão acrescenta o
direito de indemnização por morte da vítima, nos termos do Artigo 496.º/2;
iii) o cônjuge adquire ainda o direito especial sobre a casa, morada de família, uma vez
que o Artigo 1707.º-A/3, estabelece que sendo a casa de morada de família propriedade do falecido, o
cônjuge sobrevivo pode nela permanecer, pelo prazo de cinco anos, como titular de um direito real de
habitação e de um direito de uso do recheio, por sua vez o Artigo 1707.º-A/4 permite que este prazo
seja prorrogado pelo tribunal, excecionalmente e por motivos de equidade, considerando
designadamente a especial carência em que o membro sobrevivo se encontre, por qualquer causa,
sendo que a partir do momento em que o cônjuge atinge 65 anos, este direito torna-se vitalício, à luz do
Artigo 1707.º-A/10.
Estes não são concedidos ao cônjuge sobrevivo se este tiver casa própria no concelho da
casa de morada da família, ou neste ou nos concelhos limítrofes se esta se situar nos concelhos de
Lisboa ou do Porto, nos termos do Artigo 1707.º-A/6, sendo que estes direitos caducam se o interessado
não habitar a casa por mais de um ano, salvo se a razão dessa ausência lhe não for imputável, à luz do
n.º 5 do mesmo Artigo.
Por fim, o cônjuge tem direito de preferência sobre o imóvel durante o tempo em que o
habitar a qualquer título, por força do Artigo 1707.º-A/9.
Faz-se a estes direitos atribuídos ao cônjuge que tiver renunciado a sua condição de herdeiro
legitimário não é de prever que a figura tenha grande aplicação, uma vez que a esmagadora maioria das
famílias tem apenas como património relevante a casa onde reside, o facto do cônjuge ser sempre
beneficiário de um direito de habitação da mesma, que se torna vitalício a partir do momento que
perfaz 65 anos, leva a que este património fique onerado a favor do cônjuge por um período
considerável, impedindo os herdeiros de ele dispor, o objetivo deste diploma de salvaguardar a posição
dos descendentes na hipótese do autor contrair casamento numa fase posterior da vida não é, assim,
assegurado.
iv) a lei considera como válidas as doações mortis causa feitas para casamento, desde
que sejam inseridas na convenção antenupcial, nos termos do Artigo 1755.º/2 e 1756.º, os quais são
sujeitas ao mesmo regime dos pactos sucessórios, para além do seu regime especial, constante dos
Artigos 1757.º e ss.;
O Artigo 1700.º/2 prevê a possibilidade de, como sucede nas doações, serem estipuladas
cláusulas de reversão, como as previstas nos Artigos 960.º e 961.º, e fideicomissárias, de acordo com os
Artigos 962.º e 2286.º e ss., desde que sejam respeitadas os limites gerais destas cláusulas. Estas
cláusulas são livremente revogáveis, a todo o tempo, pelo autor da liberalidade, nos termos do Artigo
1707.º.
i) se o casamento não for celebrado dentro de um ano, ou se, tendo-o sido, vier a ser
declarado nulo ou anulado, salvo o disposto em matéria de casamento putativo;
ii) se ocorrer divórcio ou separação judicial de pessoas e bens por culpa do donatário, se
este for considerado único ou principal culpado: a verdade é que esta referência a culpa do donatário no
Artigo 1760.º/1, b) deve-se considerar tacitamente revogada, pela Lei n.º 61/2008 que deixou de
apreciar a culpa em caso de divórcio, efetivamente o Artigo 1791.º/1 determina que: cada cônjuge
perde todos os benefícios recebidos ou que haja de receber do outro cônjuge ou de terceiro, em vista
do casamento ou em consideração do estado de casado, quer a estipulação seja anterior quer posterior
à celebração do casamento, sendo este regime aplicável a separação judicial de pessoas e bens, por
força do Artigo 1794.º.
iii) sendo que, também, o outro caso é o donatário falecer antes do doador, nos termos
dos Artigos 1703.º, a), 1760.º/1,a), 1790.º/1, e 1794.º.
Em caso de divorcio ou separação judicial de pessoas e bens pode o cônjuge autor determinar
que o benefício remeta para os filhos do casamento, nos termos do Artigo 1791.º/2 e 1794.º.
Já se a disposição for feita a favor de pessoa que intervenha na convecção antenupcial como
aceitante, a disposição tem carater contratual, existindo um pacto sucessório a favor deste terceiro, o
qual é irrevogável, nos termos do Artigo 1701.º e 1702.º, à luz do Artigo 1705.º/1. A lei admite no
entanto a possibilidade do disponente reservar a faculdade de revogação, caso em que a disposição
pode ser livremente revogada, nos termos do Artigo 1705.º/2. Em qualquer caso, a doação pode ser
revogada por ingratidão do donatário, nos termos dos Artigos 970.º e ss., e sendo igualmente sujeita a
redução por inoficiosidade, à luz do Artigo 2168.º e ss., segundo o Artigo 1705.º/3. A disposição é ainda
ineficaz em caso de caducidade da convenção antenupcial, de acordo com o Artigo 1705.º/1, in fine,
caducando igualmente se o donatário falecer antes do doador, à luz do Artigo 1705.º/4.
Nos casos de ambos os esposados fazerem disposição a favor de terceiros pode consignar-se, na
convenção antenupcial, o carater correspetivo das duas disposições, caso em que a invalidade ou a
revogação de uma das disposições produz a ineficácia da outra, nos termos do Artigo 1706.º/1, neste
caso desde que uma das disposições começar a produzir os seus efeitos a outra já não pode ser
revogada ou alterada, exceto se o beneficiário da primeira a renunciar restituído quanto haja por esta
recebido, à luz do Artigo 1706.º/2.
A generalidade da doutrina entende que, sempre que exista um pacto sucessório irrevogável, o
sucessível já goza, em vida do autor da sucessão, de uma expectativa jurídica de aquisição dos bens em
causa, esta situação ocorre quer na situação em que a disposição contratual é desde início irrevogável,
quer quando supervenientemente adquire este efeito, como é o caso da hipótese do Artigo 1706.º/2. Já
no caso de a disposição poder ser revogável, a situação do sucessível contratual é equiparada a do
sucessível testamentário, uma vez que tem uma mera expectativa de facto, pois a situação pode ser
posta em causa na vida do autor.
ii) Jorge Duarte Pinheiro entende que uma vez que o donatário aceitou a doação mortis
causa, em vida do doador, à data da abertura da sucessão não adquire o direito de aceitar ou repudiar a
herança, já se encontrando aceite, pois a aquisição se verifica automaticamente com a morte do
testador, sem que haja possibilidades de repúdio, isto, à luz da lição do autor, é confirmado pelo facto
do Artigo 2055.º não prever o chamamento do sucessível contratual;
iii) Daniel Morais entende que não pode repudiar a doação, uma vez que já a aceitou em
vida, mas pode aceitá-la, aquando da abertura, à título de benefício de inventário.
iv) Menezes Leitão defende que a posição de Daniel Morais é a que deve ser atendida,
uma vez que evita a possibilidade do donatário vir a responder com os seus próprios bens por dividas da
herança.
A sucessão legitimária constitui assim uma modalidade de sucessão legal, que se distingue da
legitima:
i) quer em relação ao universo dos sucessíveis, basta comparar o Artigo 2157.º com o
Artigo 2132.º;
iii) quer pela forma do cálculo da legitima, de acordo com o Artigo 2162.º.
Sendo estabelecidos vários institutos destinados a tutela dos herdeiros legitimários como:
ii) a tutela face aos legados, nos termos dos Artigos 2164.º e 2165.º;
iii) a redução das doações por inoficiosidade, nos termos dos Artigos 2168.º e ss.
Quanto ao elenco dos herdeiros legitimaria ele encontra-se previsto no Artigo 2157.º, o qual
refere que são herdeiros legitimários o cônjuge, os ascendentes e os descendentes, de acordo com as
regras da sucessão legítima. Há, no entanto, que sublinhar que são igualmente herdeiros legitimários o
adotado e os seus descendentes, bem como o adotante e os seus ascendentes, à luz do Artigo 1986.º. O
Decreto-Lei n.º 496/77 adotou a controversa solução de instituir o cônjuge como herdeiro legitimário,
atribuindo-lhe mesmo uma situação de privilégio na sucessão legitimária, uma vez que a sua legitima é
dividida de forma diferenciada da dos seus descendentes quando existem mais de 3, nos termos do
Artigo 2139.º/1. E é em qualquer caso muito superior a legitima dos ascendentes, nos termos do Artigo
2142.º. Esta situação de privilégio é reforçada pelo facto que o cônjuge não está sujeito a colação, nos
termos do Artigo 2104.º, e tem o direito de ser encabeçado no direito da habitação da casa de morada
da família e no direito de uso do respetivo recheio, à luz do Artigo 2103.º-A. Finalmente, esta posição
sucessória pode ser ainda mais reforçada, em virtude do regime de bens do casamento, na medida em
que caso seja estabelecida a comunhão conjugal, o cônjuge conserva o direito a sua meação nos bens
comuns, sendo apenas objeto da sucessão a meação que competia ao outro cônjuge. A Lei n.º 48/2018
admitiu, porém, a renúncia recíproca aos direito sucessórios por parte dos cônjuges na convenção
antenupcial, desde que o regime convencional ou imperativo adotado seja o da separação de bens, nos
termos do Artigo 1701.º/1, c) e 3.
11.2 Legítima
Quanto ao Artigo 2156.º define a chamada legitima objetiva como a porção de bens de que o
testador não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimário. Esta corresponde a
chamada quota indisponível, em contraposição a quota disponível, a qual corresponde a parte que o
testador não pode legitimamente dispor. A legitima subjetiva corresponde a parte que o testador não
pode dispor em relação a cada um dos herdeiros legitimários. Subsequentemente, a legítima objetiva
corresponde a soma das legítimas subjetivas.
Pelo contrário, a resolução de uma vocação já realizada não prejudica o cálculo da legítima, pelo
que a indignidade declarada posterior à abertura da sucessão, não prejudica a legítima que foi nesta
altura fixada: assim, se o autor da sucessão tiver 2 filhos, e um deles for declarado indigno antes da
abertura da sucessão, a legítima seria de ½ da herança, mas se a indignidade resultar de causa posterior
à abertura da sucessão, a legítima mantem-se em 2/3 da herança. Já Corte-Real e Daniel Morais,
invocado razões de segurança jurídica consideram que a existência a que se referem os Artigos 2158.º e
ss. é apenas a existência física, pelo que no caso de um dos filhos ser indigno a sua existência é relevante
para a determinação do valor da legítima, operando direito de representação, se o mesmo tiver
descendentes, nos termos do Artigo 2042.º, ou o direito de acrescer para os restantes filhos do de cuius,
nos termos do Artigo 2137.º/2.
11.2.3.1 Relictum
O relictum corresponde ao valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à data
da sua morte: o qual abrange os moveis, os imoveis, os créditos, e outros direitos: se o autor era casado
em algum regime de comunhão, integram o relictum também a sua meação dos bens comuns,
excluindo-se naturalmente a meação do outro cônjuge. Uma vez que o relictum é calculado com base no
património existente à data da abertura da sucessão são ainda incluindo neste os bens deixados por
testamento ou os bens doados por morte, uma vez que os mesmos ainda se encontram no património
do de cuius nesta data.
11.2.3.2 Donatum
O donatum integra os bens doados em vida e as despesas sujeitas à colação, ou seja, o que o
testador doou, quer a terceiros, quer aos seus descendentes. Em relação aos bens doados em vida, a sua
inclusão no âmbito da herança para efeitos da sucessão legitimária vai implicar um aumento do
quantum sobre o qual vai incidir a quota legitimária: nas palavras de Corte-Real está-se perante “uma
espécie de aparente ficção legal, e para efeitos do calculo da legitima o valor da herança é, assim,
incrementado através das doações feitas em vida e das despesas sujeitas à colação. Estas despesas
sujeitas à colação encontra-se indicadas no Artigo 2110.º, abrangendo tudo o que o falecido tiver
despendido gratuitamente em proveito dos descendentes, com a exceção, nos termos do Artigo
2110.º/2, das despesas com o casamento, alimentos, estabelecimento e colocação dos descendentes, na
medida em que se harmonizem com os usos e com a condição social e económica do falecido. Não são,
no entanto, consideradas para efeitos do cálculo da legítima as coisas que tiverem perecido em vida do
autor da sucessão por facto não imputável ao donatário, nos termos do Artigo 2162.º/2 e Artigo 2112.º.
A lei esclarece que o valor dos bens doados é o que eles tiverem à data da abertura da sucessão, à luz do
Artigo 2109.º/1, sendo este regime aplicável também as despesas sujeitas à colação. A inclusão do
donatum para efeitos do cálculo da legítima, o objeto da sucessão legitimária não coincide com o que
seria o objeto da sucessão legítima, pois abrange também as despesas feitas em vida e as despesas
sujeitas à colação.
11.2.3.3 Passivo
O passivo incluí todas as dívidas incluídas no Artigo 2068.º, com a exceção dos legados, uma vez
que estes integram o relictum, assim, inclui despesas com o funeral e sufrágios do seu autor, os
encargos com a testamentaria, administração e liquidação do património hereditário, e o pagamento
das dívidas do falecido.
i) fórmula da Escola de Lisboa – é defendida por autores com Galvão Telles, Oliveira
Ascensão, e Corte-Real, determina que se deve seguir a ordem do Artigo 2162.º para efeitos do cálculo
da legítima, e portanto é necessário somar o Relictum com o Donatum, e só depois subtrair o Passivo, ou
seja, a formula seria Relictum + Donatum - Passivo (R+D-P);
ii) fórmula da Escola de Coimbra – é defendida por Pereira Coelho, o qual sustenta que o
Artigo 2162.º não tem como objetivo indicar a ordem das operações, mas apenas indicar os elementos
que integram o cálculo da legítima, o autor defendeu por isto que a dedução das dívidas deve ser feita
em relação aos bens deixados, a esta posição vieram aderir Capelo de Sousa e Carvalho Fernandes, ao
entender desta posição a formula de cálculo da legítima seria Relictum - Passivo + Donatum (R-P+D);
iii) Menezes Leitão afirma que esta divergência só tem efeitos práticos se a herança for
deficitária porque neste caso a posição da Escola de Coimbra privilegia o interesse dos herdeiros
legitimários sobre os donatários, enquanto que a posição da Escola de Lisboa faz o inverso. Assim, está
distinção só é relevante caso o Passivo seja maior que o Ativo da herança. A favor da escola de Coimbra
existe o argumento de que as doações e as despesas sujeitas à colação não respondem pelas dívidas da
herança para efeitos do pagamento dos encargos, nos termos do Artigo 2069.º, bem com a necessidade
de proteger os herdeiros legitimários dos donatários em vida. Já a favor da escola de Lisboa, existe o
argumento não apenas da ordenação efetuada pelo Artigo 2162.º, mas também o facto de não se
justificar reduzir o valor a 0, em consequência da dedução do Passivo ao Relictum¸ uma vez que se for
deficitário a escola de Coimbra classifica-o como 0. Menezes Leitão opta assim pela posição da escola de
Lisboa, assim, afirma que: primeiro tem-se de somar o relictum ao donatum, e só depois deduz-se as
dívidas.
Determina o Artigo 2170.º que o autor não pode renunciar em vida o direito de reduzir as
liberalidades, a mesma pode ser efetuada, mesmo que o herdeiro a ela tenha renunciado: assim,
consideram-se nulos todo e qualquer negócio unilateral ou bilateral celebrado em vida do autor da
sucessão destinado a prejudicar a intangibilidade quantitativa da legítima. Em consequência, não é
possível instituir um legado em substituição da legítima na Sucessão Contratual, devendo este resulta do
Testamento.
11.3.1.1.1 Legitimidade
Nos termos do Artigo 2169.º há lugar a redução em todo o que for necessário para que a
legítima seja preenchida. Assim, a eficácia das liberalidades só é afetada na medida em que seja
necessário para preencher a legítima. Tem legitimidade para requerer a redução os herdeiros
legitimários ou os seus sucessores, nos termos do Artigo 2169.º: Jorge Duarte Pinheiro acrescenta que
tem igualmente esta legitimidade os adquirentes do quinhão hereditário em caso de alienação da
herança e os credores do repudiante que aceitem a herança em nome deste, nos termos do Artigo
2067.º - este último ponto é discutido na doutrina:
iii) Menezes Leitão defende que, uma vez que os credores do repudiante podem aceitar
a herança em nome dele, nos termos do Artigo 2067.º, deveram ter igualmente o direito de exercer a
sua substituição no direito à redução por inoficiosidade, uma vez que não se trata de um direito pessoal.
A redução pode ser efetuada por acordo entre os legitimários e os beneficiários das
liberalidades, em caso da falta deste a redução implica a instauração de uma ação judicial, sendo que
esta tem de ser instaurada no prazo de 2 anos a contar da aceitação da herança, sob pena de
caducidade, nos termos do Artigo 2178.º, podendo extinguir-se antes por renúncia desde que superior à
abertura da sucessão.
11.3.1.1.2 Regime
Determina o Artigo 2171.º que a redução abrange em primeiro lugar as disposições
testamentárias a título de herança, em segundo lugar os legados, e por último as liberalidades que
hajam sido feitas em vida do autor da sucessão. A lei não se refere as doações por morte, mas estas
estão igualmente sujeitas a redução por inoficiosidade, nos termos do Artigo 1705.º/3 e 1759.º,
devendo este regime ser idêntico ao estabelecido para as doações inter vivos, conforme defende Duarte
Pinheiro.
A redução começa assim pelas disposições a título de herança só passando aos legados se a
redução daquelas não for suficiente, Galvão Telles que deve ser aberta uma exceção ao legado de
usufruto de quota ou totalidade da herança, entendo que a sua redução devera ter lugar
simultaneamente com as disposições à título de herança: Menezes Leitão defende que não há base legal
para esta solução, sem prejuízo da critica que o autor faz de iure condendo da qualificação do
usufrutuário de quota ou totalidade da herança como legatário. Se for suficiente a redução da
disposições testamentárias, esta é em princípio efetuada proporcionalmente, tanto no caso das deixas à
título de herança ou à título de legado, nos termos do Artigo 2172.º/1. O testador pode no entanto
estabelecer a preferência de certas deixas em relação, caso em que as deixas com preferência só serão
reduzidas se o valor integral das restantes não for suficiente para o preenchimento da legítima, como
resulta do Artigo 2172.º/2. Já as deixas remuneratórias (estas são as liberalidades que se destinam a
remunerar serviços recebidos pelo testador que não tenham a natureza de dívida exigível) beneficiam
de preferência legal, nos termos do Artigo 2172.º/3, pelo que só serão reduzidas em último lugar.
ii) Menezes Leitão defende que a doação em geral está sujeita a um princípio geral de
irrevogabilidade, só sendo a revogação possível nos termos do Artigo 969.º, que seriam ultrapassados
pelo acordo de prevalência das disposições testamentarias sobre as doações, não concordando com
essa posição.
Os termos em que se efetua a redução resultam dos Artigos 2174.º e ss., destas resulta que ao
contrário do que se prevê em sede de colação, onde existe apenas uma obrigação de conferência do
valor dos bens doados, só havendo restituição do próprio bem em caso de acordo de todos os herdeiro,
nos termos do Artigo 2108.º/1, na redução de inoficiosidade prevê-se a restituição em espécie dos bens
objeto de redução. Assim, se for necessário afetar toda a disposição para preencher a legítima, os bens
deixados ou doados devem ser restituídos aos herdeiros legitimários. Se a redução for parcial, ou seja,
não sendo necessário afetar toda a disposição para preencher a legítima, e:
i) sendo os bens divisíveis, a redução faz-se separando deles a parte necessária para
preencher a legítima, nos termos do Artigo 2174.º/1;
ii) sendo os bens indivisíveis se a importância da redução exceder metade do valor dos
bens, estes pertencem integralmente ao herdeiro legitimário, e o legatário ou donatário haverá o resto
em dinheiro, nos termos do Artigo 2174.º/2, 1.º Parte, deverá ser-lhe igualmente restituído em dinheiro
aquilo que ele despendeu gratuitamente em beneficio dos herdeiros legitimários, nos termos do Artigo
2174.º/3;
iv) haverá também lugar à restituição em dinheiro na hipótese dos bens doados tiverem
perecido por qualquer causa ou tiverem sido alienados ou onerados, caso em que o donatário ou os
seus sucessores são responsáveis pelo preenchimento da legítima em dinheiro, até ao valor desses bens,
nos termos do Artigo 2175.º.
Sempre que houver lugar a restituição em dinheiro a insolvência daqueles que, segundo a
ordem estabelecida, devem suportar o encargo da redução não determina a responsabilidade dos
outros, nos termos do Artigo 2176.º, sendo o donatário é considerado, quanto a frutos e benfeitorias,
possuidor de boa fé até à data do pedido de redução, à luz do Artigo 2177.º: assim em relação aos frutos
esta norma remete para o Artigo 1270.º/1, dela resultante que o donatário faz seus os frutos naturais
percebidos até ao dia em que souber que está a lesar com a sua posse o direito de outrem, e os frutos
civis correspondentes ao mesmo período, mas este direito já não se estende aos frutos pendentes, à luz
do Artigo 1270.º/2, por fim do Artigo 1270.º/3 resulta que se o donatário tiver alienado frutos antes da
colheita e antes de cessar a boa fé, a alienação subsiste, mas o produto da colheita pertence ao titular
do direito, deduzida a indemnização, não sendo assim considerado nulo o negócio, o que aconteceria
por aplicação da venda de bens alheios. Em relação as benfeitorias:
ii) uteis, se puderem ser removidas sem detrimento da coisa, então ao donatário assiste
esta hipótese, caso contrário só é possível reclamar o valor, nos termos do enriquecimento sem causa;
iii) voluptuarias, se puderem ser removidas sem detrimento da coisa, então o donatário
pode levantá-las, caso não seja possível, este não tem direito a nada.
Em função desta distinção, o autor considera que os credores da herança não pode
executar os bens doados, mas já o podem fazer se estiver em causa uma disposição testamentária.
ii) Corte-Real e Jorge Duarte Pinheiro consideram existir na redução por inoficiosidade
uma impugnação judicial de natureza constitutiva que importa a ineficácia relativa e superveniente da
liberalidade inoficiosa;
iii) Menezes Leitão defende que a redução não corresponde a uma impugnação das
disposições testamentárias ou das doações, uma vez que nem as anula ou torna ineficazes, antes faz
surgir um crédito a restituição em natura ou em valor, trata-se assim de uma ação com carater pessoal,
e não real, uma vez que os terceiros adquirentes não podem ser demandados, devendo os alienantes
restituir em valor a parte para o preenchimento. Assim, da redução resulta um direito de crédito a
composição da legítima por parte dos beneficiários, a diferença entre doações e deixas testamentárias
assenta assim:
a) nas doações, uma vez que o donatário já recebeu aquele valor, o direito de
crédito tem de ser exercido daquela forma;
i) da cautela sociniana;
i) por estes motivos a doutrina tradicional tem vindo a interpretar esta disposição em
termos estritos, considerando que a mesma só é aplicável aos legados de usufruto ou de pensão
vitalícia, não abrangendo as correspondentes doações em vida ou outro tipo de encargos, como a
substituição fideicomissária;
iii) Jorge Duarte Pinheiro entende que o regime é de estender as doações de usufruto e
de nua propriedade, as deixas de nua propriedade, e aos fideicomissos;
iv) Menezes Leitão defende a tese tradicional, uma vez que o que justifica o disposto do
Artigo 2164.º é que neste dois tipos de legados é comum a afetação qualitativa da legítima, o que a lei
procura resolver instituído uma faculdade alternativa de entrega da quota disponível, sendo assim uma
disposição excecional, não se justificando a extensão a outras situações.
A propósito desta disposição verifica-se ainda uma divergência doutrinaria sobre quem tem
legitimidade para recorrer a cautela sociniana:
ii) posição semelhante é defendida por Pires de Lima e Antunes Varela que sustentam
que em caso de divergência entre os co-herdeiros legitimários, aplicam-se as regras da cotitularidade de
direitos sobre a mesma coisa, nos termos dos Artigos 1406.º e ss.;
iii) já Jorge Duarte Pinheiro considera que esta faculdade pode ser exercida por
qualquer um dos herdeiros legitimários em separado, independentemente de serem várias as deixas
que atingem a legítima;
iv) Menezes Leitão defende tratar-se de um direito de exercício coletivo, e não de
exercício individual por parte de cada legitimário.
O legado por conta da legítima imputa-se na quota disponível, já a parte que exceder o valor da
legítima é imputada na quota disponível, considerando-se a cargo de toda a herança, nos termos do
Artigo 2264.º, uma vez que existe uma presunção que o testador quis avantajar aquele herdeiro
legitimário em relação aos outros.
i) Corte-Real no caso do herdeiro legitimário a quem foi atribuído o legado por conta da
legítima não poder ou não quiser aceitar a herança, funciona o direito de representação, nos termos do
Artigo 2037.º/2, cabendo aos seus descendentes decidir se aceitam o legado ou se preferem a legítima
por preencher;
iii) Menezes Leitão não vê razão para excluir o direito de opção dos descendentes do
herdeiro legitimário, devendo funcionar o direito de representação em relação ao legado por conta da
legítima.
Por outro lado, o legatário por conta da legítima continua a beneficiar do direito de acrescer, se
algum ou alguns do sucessíveis da mesma classe não puderem ou não quiserem aceitar a herança, nos
termos do Artigo 2137.º/2.
i) Galvão Telles defende que o legatário por conta da legítima teria um estatuto misto,
estando-se perante uma situação de herdeiro-legatário: posição que é igualmente seguida por Carvalho
Fernandes;
ii) Oliveira Ascensão não existe verdadeiro legado, mas apenas preenchimento da quota
de herdeiro, ainda que lhe possa ser aplicáveis regras relativas aos legados, como a possibilidade de
pedir a entrega imediata dos bens antes da partilha;
iii) Corte-Real considera que estas duas qualificações são incompatíveis entendendo por
isto que se deve aplicar o estatuto de herdeiro, que é aquele que tem mais relevo; Jorge Duarte Pinheiro
defende igualmente esta solução, mas vem contraditoriamente afirmar que no caso dos bens
determinados exceder o valor da quota, o legatário por conta da legítima será herdeiro até ao montante
desta, e legatário em relação ao remanescente – acabando por defender uma aplicação cumulativa das
regras da sucessão legal e voluntária;
iv) Menezes Leitão defende que o legado por conta da legítima não constitui um
verdadeiro legado, mas antes uma situação de herança ex re certa, devendo por isso o legatário por
conta da legítima ser sujeito ao estatuto de herdeiro.
i) Oliveira Ascensão entende que a aceitação do legado por conta da legítima não
implica a exclusão da qualidade de herdeiro, ainda que não permita ao legatário de suceder no quadro
da sucessão legítima, uma vez que é intenção do testador substituir toda a sucessão legal pelo legado,
por este motivo o legatário não responde pelas dívidas da herança, mas pode beneficiar do acrescer;
iv) Menezes Leitão defende que, uma vez que o objetivo do Artigo 2165.º é a possibilidade do
testador determinar o bem que o seu herdeiro irá receber e que normalmente isto implica que o
testador queira beneficiar aquele herdeiro em relação aos demais, tal implica que este herdeiro seja
excluído da sucessão legal. Porém, o autor não vê razão se deve impedi-lo de beneficiar do acrescer
entre herdeiros ou, caso não queira ou não possa aceitar, impedir o seus herdeiros em representação de
beneficiar da opção. Segundo o autor também não a razão para privar o herdeiro legitimário do recurso
da redução por inoficiosidade.
11.4 Colação
Esta vem regulada nos Artigos 2104.º e ss. constituído um instituto privativo da sucessão dos
descendentes, consistindo na obrigação, que é imposta aos descendentes que queiram entrar na
sucessão do ascendente, que restituam à massa da herança, para efeitos de igualação da partilha, os
bens ou valores que lhes foram doados por este, nos termos do Artigo 2104.º/1. Consiste assim, na
obrigação de conferência dos valores dos bens doados pelo de cuius em vida, que é estabelecida para
efeitos de reconstrução do património da herança, pretendendo que os donatários participei na partilha
com os outros herdeiros como se não tivessem recebido quaisquer doações.
i) há, no entanto, uma posição doutrinária seguida por Oliveira Ascensão e Capelo de
Sousa que entende que o cônjuge deve ser sujeito à colação, uma vez que no entendimento destes
autores existe uma lacuna na lei, criada pela reforma de 1977, quando colocou o cônjuge na posição de
herdeiro legitimário: lacuna esta que prejudica o objetivo de igualação da partilha. Esta lacuna deveria
ser resolvida sujeitando o cônjuge à colação, mas apenas quando concorre com os descendentes, uma
vez que tal deixa de se justificar quando em concurso com os ascendentes;
ii) em sentido contrário manifestaram-se Pereira Coelho, Pires de Lima, Antunes Varela,
Corte-Real, Jorge Duarte Pinheiro, e Cristina Coelho, para tais autores não existe qualquer lacuna legal,
uma vez que o instituto da colação baseia-se numa presunção iuris tantum de que “um pai quando faz
uma doação em relação a um filho, não pretende beneficiar os outros”: manifestamente esta presunção
não se aplica ao cônjuge, pelo contrário a doação visa habitualmente beneficia-lo em relação aos
descendentes;
iii) Fernando Nogueira defende que o cônjuge não está sujeito à colação, mas já não
poderá beneficiar da conferência dos descendentes;
iv) Menezes Leitão defende que é claro que o objetivo do legislador é o de não sujeitar o
cônjuge a colação, sendo o regime das doações feitas ao cônjuge diferente daquelas feitas à
descendente, até porque são livremente revogáveis pelo doador, à luz do Artigo 1765.º, e estão sujeitas
à clausulas de caducidade especiais, nos termos do Artigo 1766.º. O autor também não vê razão para
impedir que o cônjuge não beneficie reflexamente da conferencia dos descendentes. Assim, o autor
adere a posição de Pereira Coelho.
A sujeição do sucessível legitimário à colação não é inevitável, podendo ser afastado no caso
deste não pretender entrar na sucessão, nos termos do Artigo 2104.º/1, o que acontece no caso deste
querer repudiar a herança. Se não houver lugar à colação a doação é imputável na quota disponível, nos
termos do Artigo 2114.º/1, o que implica a possibilidade de redução por inoficiosidade. Apenas no caso
de não haver lugar à colação por repudio do donatário, sem ter descendentes que o representem, a
doação é imputada na quota indisponível, à luz do Artigo 2114.º/2.
Nos termos do Artigo 2106.º, a obrigação de conferir caí sobre o donatário, se vier a suceder ao
doador, ou sobre os seus representantes, ainda que estes não tenham tirado benefício da liberalidade.
Se a doação está sujeita à colação, esta não é prejudicada pelo facto do donatário falecer antes do
doador, mesmo que os herdeiros daquele não tenham tirado qualquer proveito da liberalidade, se os
descendentes do donatário quiserem entrar na sucessão do doador, por via do direito de representação
que lhes cabe, nos termos do Artigo 2039.º, mesmo que estes não tenham para si sido transmitidos
aquando da sucessão do donatário.
Não estão sujeitas à colação as doações feitas ao cônjuge do presuntivo herdeiro legitimário,
nos termos do Artigo 2107.º/1, sendo que se a doação for feita a ambos os cônjuges, apenas é sujeita à
colação a parte que competia ao presuntivo herdeiro legitimário, nos termos do Artigo 2107.º/2. No
entanto, a doação não se considera feita a ambos os cônjuges só porque entre estes vigora o regime da
comunhão de bens, nos termos do Artigo 2107.º/3.
Questiona-se se a dispensa da colação, efetuada no ato de doação, pode ser revogada pelo
doador em ato posterior:
ii) Capelo de Sousa e Cristina Coelho consideram que tendo a doação carater bilateral, a
revogação da dispensa nela efetuada não pode ser posteriormente revogada a não ser por acordo das
partes, ou se o doador reservar contratualmente esta faculdade. Pelo que apenas se a dispensa constar
de ato posterior, é que poderia ser revogada livremente pelo doador.
Também devem ser conferidos os frutos da coisa doada, mas apenas aqueles que tiverem sido
percebidos (colhidos) pelo donatário desde a abertura da sucessão, pelo que antes desta data
pertencem ao donatário, sendo este, por força do Artigo 2115.º, equiparado ao possuidor de boa fé,
sendo-lhe aplicável o disposto nos artigos 1273.º e seguintes. Assim o donatário tem direito ao
reembolso das benfeitorias necessárias, bem como a levantar as benfeitorias uteis, se não o puder fazer,
a receber o seu enriquecimento, à luz do Artigo 1273.º, já em relação as benfeitorias voluptuarias, o seu
levantamento dependerá deste poder ser feito seu deterioramento da coisa, de acordo com o Artigo
1275.º.
O donatário responde pelas deteriorações que culposamente tenha causado nos bens doados, à
luz do Artigo 2116.º, mas já não pelo perecimento da coisa em vida do autor da sucessão por facto não
imputável ao donatário, por força do Artigo 2112.º. Pelo contrário, após a abertura da sucessão o
donatário responde pelo valor da coisa doada, independentemente de culpa, caso esta venha a perecer.
Nos termos do Artigo 2108.º/1, a colação pode efetuar-se por duas formas: imputação do valor
da doação ou da importância das despesas na quota hereditária, ou pela restituição dos próprios bens
doados, se houver acordo de todos os herdeiros. Em princípio, será adotada a primeira forma, uma vez
que a segunda depende do acordo de todos os herdeiros. Se, no entanto, os bens remanescentes não
permitirem a igualação dos diversos herdeiros, tal não implica que devam ser reduzidas as doações, a
menos que ocorra a inoficiosidade, por força do Artigo 2108.º/2. Com a colação apenas se pretende
entrar na herança o valor dos bens doados, e não proceder à igualação. Assim, a redução só ocorre se se
verificar uma inoficiosidade.
O Artigo 2109.º/1 manda atender ao valor que os bens tinha à data da abertura da sucessão, se
os bens já não existissem por terem sido consumidos, alienados ou onerados, manda-se atender ao
valor hipotético que teriam a esta data, de acordo com o Artigo 2109.º/2. Se a doação tinha por objeto
dinheiro ou envolveu encargos em dinheiro e foram cumpridos, determina-se a sua atualização nos
termos do Artigo 551.º, por força do Artigo 2109.º/3.
A colação apenas abrange o que tenha sido doado pelo autor, pelo que se ocorrer a doação de
bens comuns, apenas é conferida o valor de metade dos bens doados por morte de cada um deles, à luz
do Artigo 2117.º/1. O valor de cada uma das metades é o que ela tiver ao tempo da abertura da
sucessão respetiva, por força do Artigo 2117.º/2.
A lei refere que a eventual redução das doações sujeitas a colação constitui um ónus real sobre
os bens doados, de acordo com o Artigo 2118.º/1. Estabelecendo que em relação aos bens imóveis não
se pode fazer o registo da doação sem se efetuar o registo do ónus, à luz do Artigo 2118.º/2,
precisamente por isto este ónus está sujeito a registo, nos termos do Artigo 2.º/1, q) Código do Registo
Predial. Esta solução é, no entanto, bastante controversa, uma vez que aqui não está em causa um ónus
real, mas também não é a colação que importa a redução das doações, mas apenas a inoficiosidade, à
qual estão sujeitos todos os donatários. Na colação há apenas uma conferência do valor dos bens
doados, uma vez que a sua restituição em espécie depende de acordo dos seus interessados.
11.5 Imputação
Resulta da sucessão legitimária a necessidade de dividir a sucessão em duas quotas: a disponível
e a indisponível. No caso do autor da sucessão efetuar atribuições patrimoniais gratuitas coloca-se a
necessidade de determinar a que quota da herança as mesmas devem ser afetas. A operação de
afetação da disposição patrimonial gratuita tem o nome de imputação, sendo sempre necessária a sua
realização, quer para o preenchimento das quotas, quer para a colação, quer para a determinação de
inoficiosidades. Imputar, assim, para efeitos de Direito Sucessório, é operação de preencher ou atribuir
alguma quota, sendo esta operação referida ao enquadramento na quota disponível ou indisponível das
liberalidades feitas em vida ou por morte para efeitos de determinação da partilha.
Mais complexa é as doações feitas a descendente único, caso em que não se justifica a colação
por não haver qualquer razão para fazer a igualação dos quinhões do descendentes. Neste caso poderia
ser sustentado aplicar o Artigo 2114.º/1, e imputar as doações que lhe são feitas na quota disponível.
Tal, no entanto, poderia reconduzir a eventual inoficiosidade das disposições feitas pelo autor da
sucessão a favor de terceiros, o que seguramente não seria a sua intenção. É por isto preferível
considerar a imputação destas doações na quota indisponível, como defende Cristina Pimenta Coelho.
11.5.2 Doações feitas aos descendentes que não queiram ou não possam aceitar a sucessão
Uma vez que a colação só abrange as doações a favor daqueles que entrem na sucessão, não há
lugar a esta, se o donatário repudiar a herança sem deixar descendentes que o representem, neste caso
determina o Artigo 2114.º/2 que a doação é imputada na quota indisponível. A lei cria, assim, uma
legítima subjetiva fictícia destinada a suportar o valor da liberalidade, sendo que se esta for inferior a
quota hereditária legal, verifica-se o acrescer em relação aos co-herdeiros relativamente a diferença.
Apesar do Artigo 2114.º/2 apenas se referir ao repúdio:
iii) Menezes Leitão concorda a solução, salientando que a mesma pressupõem que a
doação não seja revogada por ingratidão do donatário, nos termos do Artigo 960.º e ss., caso em que o
objeto da doação é restituído aos herdeiros, nos termos do Artigo 968.º.
Já no caso do donatário não poder aceitar a herança por não ter sobrevivido ao doador, a
doutrina divide-se:
ii) Corte-Real e Jorge Duarte Pinheiro sustentam não ser análoga a situação, defendendo
por isto a imputação na quota disponível;
iii) Menezes Leitão concorda com esta última posição, uma vez que o caso contrário
implicaria uma generalização excessiva do Artigo 2114.º/2, quando a regra geral é antes a do Artigo
2114.º/1.
11.5.3 Doações feitas ao cônjuge
Esta questão relaciona-se com a questão supra suscitada da sujeição do cônjuge à colação:
i) quem defenda a tese de que o cônjuge está sujeito à colação, como é o caso de
Oliveira Ascensão, necessariamente, considera que a imputação das doações feitas ao cônjuge se faz na
quota indisponível, à luz do Artigo 2114.º/1, a contrario;
ii) quem defende que o cônjuge não está sujeito à colação, como faz a esmagadora
maioria da doutrina, tenderá a defender que a imputação se faz antes na quota disponível, à luz do
Artigo 2114.º/1, esta é a posição de Pereira Coelho. Esta tese baseia-se no teor literal do Artigo
2114.º/1, que refere a imputação na quota disponível sempre que não haja lugar a colação;
iii) há ainda autores, que apesar de defenderem a não sujeição do cônjuge à colação,
acabam por defender a imputação das doações feitas ao cônjuge na quota indisponível, esta posição foi
defendida por Corte-Real, sendo depois defendida por Jorge Duarte Pinheiro. Para Corte-Real a norma
do Artigo 2114.º/1 deve ser enquadrada sistematicamente na secção em que se insere apenas
abrangendo o não haver lugar a colação em consequência das disposições anteriores. O autor sustenta
assim que, por via de regra, e na falta de disposição do doador, as doações em vida à sucessíveis
legitimários prioritários devem ser imputadas na quota indisponível. Já para Jorge Duarte Pinheiro esta
solução tem a vantagem de evitar beneficiar excessivamente certos legitimários em relação a outros e
garantir a liberdade de disposição por morte do de cuius;
iv) Paula Barbosa sustenta que em regra as doações feitas ao cônjuge são imputadas na
quota disponível, a não ser que o cônjuge concorra com descendentes sujeitos à colação, neste caso
para efeitos de equilíbrio da partilha, deve-se imputar a doação feita ao cônjuge na respetiva legítima
subjetiva;
v) Menezes Leitão defende que não faz qualquer sentido sujeitar o cônjuge à colação,
sendo que a lei e o autor da sucessão, na maioria dos casos, pretendem avantajar o cônjuge face aos
outros herdeiros legitimários, isto resulta do facto que as doações feitas a este são livremente
revogáveis, e por isto, não estando o cônjuge sujeito à colação, o que o Artigo 2114.º/1 impõe é as
doações sejam imputadas na quota disponível.
ii) Menezes Leitão defende que a solução apresentada para os autores ainda menos
sentido faz em relação aos ascendentes, efetivamente a lei natural da vida é a de que os ascendentes
não sucedem aos descendentes, considerar que as doações a eles feitas visa preencher a sua quota
legitimária é levar a ficção jurídica a um extremo absoluto. Devem por isto ser imputadas na quota
disponível.
11.5.6 Doações feitas a favor de pessoas que à data não eram sucessível legitimários do doador
Estas devem ser imputadas na quota disponível, nos termos do Artigo 2114.º/1, uma vez que à
data estes não tinham qualquer expectativa de vir a suceder, nem estão sujeitos à colação, como resulta
do Artigo 2105.º/1.
11.5.7.2.1 Pré-Legado
Já relativamente ao pré-legado, previsto no Artigo 2264.º, o mesmo é imputado na quota
disponível, uma vez que o objetivo do testador é avantajar o herdeiro legitimário beneficiário deste
legado em relação aos restantes.
11.5.9 Síntese
São imputadas na quota indisponível:
iii) o legado por conta da legítima e o legado em substituição da legítima, salvo na parte
em que excedam a quota do legitimário;
v) as doações sujeitas à colação na parte que excedam a legítima, nos termos do Artigo
2108.º/1, a contrario;
A herança considera-se, assim, jacente, se após a abertura da sucessão ainda não tenha sido
aceite pelos sucessíveis, nem declarada vaga para o Estado. Em relação aos sucessíveis legais ou
testamentários existe, naturalmente, a necessidade de aceitação para que estes possam suceder ao de
cuius, nos termos do Artigo 2050.º. Já se for o Estado a ser chamado, como sucessível legítimo, nos
termos do Artigo 2133.º/1, e), a aquisição por este depende de declaração de herança vaga,
dispensando-se a aceitação, já que o Estado não pode repudiar a herança, nos termos do Artigo 2154.º e
2155.º. Neste caso, considera-se que a sucessão encontra-se pendente entre a morte do de cuius e
aquisição por outrem das situações jurídicas patrimoniais que este era titular, quer através da aceitação
da herança, quer através da declaração de herança vaga.
12.1 Modalidades
A pendência da sucessão pode ser:
i) total – caso em que nenhuma das situações jurídicas patrimoniais transmissíveis por
morte tiver sido adquirida pelo herdeiro ou legatário;
ii) parcial – caso em que alguma das situações jurídicas patrimoniais transmissíveis por
morte seja adquirida, tal acontecerá se a herança tiver sido aceite por algum dos sucessíveis prioritários.
12.2 Administração
A necessidade de acautelar os interesses dos sucessíveis chamados, torna imperioso que a
herança seja administrada durante o período que se encontra jacente, a lei admite a este propósito duas
situações:
i) grande parte da doutrina, Oliveira Ascensão, Corte Real, Capelo de Sousa, Jorge
Duarte Pinheiro, entre outros, considera que o legatário não pode tomar providências administrativas;
ii) Menezes Leitão discorda com esta tese, afirmando não existir razão para que o
usufrutuário de toda a herança não possa proceder a sua administração ou mesmo o legatário de um
prédio relativo ao mesmo, para além do Artigo 2047.º/1 falar em sucessível, o Artigo 2249.º estende o
regime da aceitação ou repúdio da herança aos legados: a isto acresce o facto que a herança pode toda
ela ser distribuída em legados.
A curadoria da herança termina quando cessam as razões que a determinam, nos termos do
Artigo 2048.º/3, deve-se entender que tal ocorre quando surge alguém com competência legal para
administrar a herança ou quando deixar de existir risco de perda ou deterioração dos bens hereditários.
Naturalmente, a curadoria também cessa quando a herança deixar de estar jacente, como no caso de
ser aceite ou ter sido declarado vaga para o Estado.
12.3 Notificação
Nos termos do Artigo 2059.º/1, o Direito de Suceder caduca ao fim de 10 anos, contados desde
que o sucessível tem conhecimento de haver sido a ela chamado: o que constitui um período logo em
que a herança pode se manter jacente, em ordem a evitar esta situação o Artigo 2049.º prevê a
notificação dos herdeiros para comunicar se aceitam ou repudiam a herança, caso estes não aceitem a
herança nos 15 dias subsequentes ao chamamento, isto corresponde a chamada actio interrogatoria, a
qual nos termos do Artigo 2049.º pode ser instaurada a requerimento do Ministério Público ou qualquer
outro interessado, seguindo o processo consignado nos Artigos 1039.º e ss. CPC. Apesar da lei somente
se referir a herdeiro, parece claro que a notificação possa ser instaurada contra o legatário, neste
sentido Capelo de Sousa e Jorge Duarte Pinheiro.
Não sendo o sucessível obrigado a aceitar a sucessão, pode igualmente repudiar a mesma,
manifestando a posição contrária à sucessão