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Metáfora e Cognição: uma Conversa entre Lakoff


e Sperber&Wilson
V Mostra de
Pesquisa da Pós-
Graduação

Cláudia Strey1, Jorge Campos da Costa1 (orientador)


1
Faculdade de Letras, PUCRS

Resumo

Introdução

A primeira definição de metáfora foi feita, na Grécia Antiga, por Aristóteles, que a
definiu como “a transferência do nome de uma coisa para outra, ou do gênero para a espécie,
ou da espécie para o gênero, ou de uma espécie para outra, ou por analogia” (DATA). A
definição clássica, com bases aristotélicas, é a de que uma ou mais palavras são usadas fora de
seu significado convencional para expressar um outro significado. Outro ponto clássico é que
as metáforas restrigem-se apenas à linguagem poética, e não são encontradas na linguagem
convencional.
Lakoff (1980, 1992) e Sperber & Wilson (2008) vão de encontro às idéias clássicas,
afirmando que as metáforas não são somente utilizadas na linguagem poética, mas fazem
parte da comunicação cotidiana. Há, entretanto, um grande contraste entre as teorias.
Enquanto Lakoff afirma que a metáfora é parte do sistema cognitivo humano, estando, dessa
forma, no pensamento, e não somente na linguagem. Já para Sperber e Wilson, a metáfora faz
parte da linguagem, e não pode ser tratada distintamente da linguagem literal, por exemplo.
Lakoff & Johnson (1980) propõem que as metáforas não são encontradas nas regras
gramaticais ou nos léxicos, mas no sistema conceptual que subjaz à língua. Entender a
metáfora significa perceber que há dois domínios cognitivos que estão sendo mapeados, ou
seja, há uma projeção de dois domínios conceptuais: o domínio origem, de natureza concreta
e experiencial, e o domínio alvo, de caráter abstrato. O mapeamento entre os conceitos
constitutivos da metáfora seria a relação existente entre o domínio origem que permite melhor
compreender o domínio alvo. A forma de representar as relações ontológicas entre os dois

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domínios se dá através da forma mnemônica DOMÍIO-ALVO É DOMÍIO-ORIGEM ou


DOMÍIO-ALVO COMO DOMÍIO-ORIGEM.
Sperber & Wilson (1995, 2008), por sua vez, acreditam que a metáfora, assim como
outros enunciados, é compreendida através do príncipio da relevância: o estímulo ostensivo é
o relevante o suficiente visto o custo para processá-lo. A teoria diz que há um continuum de
loose uses (usos vagos) de expressões, sendo que as expressões literais e metafóricas
ocupariam os extremos opostos desse continuum. Para os autores, ao contrário dos enunciados
literais, as metáforas não comunicam implicaturas fortes, mas um conjunto de implicaturas
fracas. Entretanto, sem essas implicaturas fracas, o enunciado não teriam sentido. É
importante resssaltar que alguns scholars da teoria da relevância sugerem que as metáforas
requerem um esforço cognitivo maior, o que resulta em mais efeitos do que os enunciados
literais. Há outros, no entanto, que entendem que não há mais esforços cognitivos
requisitados, pois a compreensão é rápida.
Para exemplificar, considere o exemplo:
(1) Nosso namoro está em um beco sem saída.
Na perspectiva lakkofiana, é possível identificar a metáfora que subjaz o enunciado: O
AMOR É UMA VIAGEM. É possível, também, identificar o mapeamento entre os conceitos:
(a) os viajantes correspondem aos namorados; (b) a viagem corresponde ao namoro; (c) O
beco sem saída corresponde às dificuldades que o namoro está enfrentando. Identificada a
metáfora conceitual, podemos perguntar: como se dá o processo inferencial de compreensão
da metáfora em um diálogo?
Já na perspectiva da relevância, poder-se-ia construir as seguintes inferências: (a1) nós
estamos namorando; (b1) nosso namoro não está bem; (c1) estamos em uma situação difícil;
(d1) quando estamos em um beco sem saída, precisamos voltar; (e1) estamos em um beco
sem saída no namoro, então precisamos decidir o nosso futuro. (e1) seria a conclusão derivada
das inferências (a1, b1, c1 e d1). A pergunta seria: como se dá o processamento da metáfora
no pensamento? Como ela é compreendida? Como se dá a relação entre amor (abstrato) e
beco sem saída (concreto)?

O objetivo do trabalho é, portanto, investigar as propriedades da metáfora, no sentido


de perceber como ela é compreendida cognitivamente, bem como construir uma interface
entre as duas perspectivas cognitivas no âmbito da metáfora.

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Algumas perguntas que irão nortear o desenvolvimento do trabalho são: Há algum


princípio para demonstrar que as metáforas relacionam conceitos diferentes (concretos e
abstratos)? Há um princípio geral que governa como as inferências são construídas quando se
usam metáforas? Há possibilidades de construir uma interface entre as teorias da Metáfora
Conceitual e da Relevância? As metáforas são, afinal, constitutivas do pensamento do ser
humano, ou apenas uma forma de se produzir mais efeitos contextuais com menos custos
cognitivos?

Metodologia

O trabalho está em sua fase inicial, com o estudo teórico da teoria experencialista de
Lakoff e da teoria pragmática de Sperber e Wilson. Após essa primeira etapa, será construída
uma proposta de interfaces entre Linguística e Psicologia Cognitiva.

Resultados e Discussões

Como a pesquisa encontra-se em sua fase inicial, ainda não é possível apresentar
resultados, bem como uma discussão apropriada a respeito do que foi descoberto. O que há,
no momento, são, ainda, questionamentos, cujas hipóteses estão sendo construídas. Parece-
nos, no entanto, que será possível, sim, construir uma interface entre as teorias, para que o
fenômeno metafórico seja melhor compreendido.

Referências

ARISTÓTELES. Arte Poética. São Paulo: Martin-Claret. 2003.

SPERBER, D & WILSON, D. Relevance: Communication and cognition (2nd ed.) Oxford: Blackwell. 1995.

SPERBER, D & WILSON, D.A deflationary account of metaphor. In: GIBBS, R. The Cambridge Handbook
of Metaphor and Thought. Cambridge: Cambridge University Press. 2008.

LAKOFF, G. The Contemporary Theory of Metaphor. In: ORTONY, A. Metaphor and Thought. Cambridge:
Cambridge University Press. 1992.

LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: Chicago University Press. 1980

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