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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 3

2 O QUE É MEIO AMBIENTE? ............................................................. 4

2.1 Alguns Paradigmas da Ciência Ambiental................................... 6

2.2 Resgate histórico sobre a origem dos problemas ambientais da


atualidade 7

2.3 Participação Social .................................................................... 11

2.4 Impacto Ambiental: aspectos conceituais.................................. 12

3 MEIO AMBIENTE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................... 14

4 CRIMES AMBIENTAIS .................................................................... 19

5 O IMPACTO DA CULTURA DO CAFÉ NO MEIO AMBIENTE DO


BRASIL DO SÉCULO XVIII AO XXI ................................................................. 20

6 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL ........................................................ 24

7 IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL ......................... 27

8 A CAFEICULTURA NO BRASIL ...................................................... 28

9 O IMPACTO AMBIENTAL DA CAFEICULTURA ............................. 29

10 O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E A CAFEICULTURA .... 32

11 MUDANÇAS DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO ............... 36

12 PRESERVAR O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVER A


CAFEICULTURA .............................................................................................. 37

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 39

13 LEITURA COMPLEMENTAR ....................................................... 42

13.1 Gestão ambiental e produção sustentada de café em área de


proteção ambiental. I - caracterização da vegetação ................................... 42

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o
tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos
ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de
atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 O QUE É MEIO AMBIENTE?

Para esta pergunta poderemos obter as mais diferentes e variadas


respostas, que indicam as representações sociais, o conhecimento científico, as
experiências vividas histórica e individualmente com o meio natural. Para a
realização da educação ambiental popular, é importante termos um conceito que
oriente as diferentes práticas. Assim, definimos meio ambiente como o lugar
determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em
relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de
criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação
do meio natural e construído.
Nesta definição de meio ambiente fica implícito que:
 Ele é "determinado": - quando se trata de delimitar as fronteiras e
os momentos específicos que permitem um conhecimento mais
aprofundado. Ele é "percebido" quando cada indivíduo o limita em
função de suas representações sociais, conhecimento e
experiências cotidianas.
 As relações dinâmicas e interativas indicam que o meio ambiente
está em constante mutação, como resultado da dialética entre o
homem e o meio natural.
 Isto implica um processo de criação que estabelece e indica os
sinais de uma cultura que se manifesta na arquitetura, nas
expressões artísticas e literárias, na tecnologia, etc.
 Em transformando o meio, o homem é transformado por ele. Todo
processo de transformação implica uma história e reflete as
necessidades, a distribuição, a exploração e o acesso aos recursos
de uma sociedade.

A definição de meio ambiente acima exige um aprofundamento teórico


que conta com a contribuição de diferentes ciências que se aglutinam no que se
convencionou chamar de Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro

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e consensual que a Ciência Ambiental só se realizará através da perspectiva
interdisciplinar.

Fonte: todamateria.com.br

A problemática ambiental não pode se reduzir só aos aspectos


geográficos e biológicos, de um lado, ou só aos aspectos econômicos e sociais,
de outro. Nenhum deles, isolado, possibilitará o aprofundamento do
conhecimento sobre essa problemática. À Ciência Ambiental cabe o privilégio de
realizar a síntese entre as ciências naturais e as ciências humanas, lançando
novos paradigmas de estudo onde não se "naturalizarão" os fatores sociais e
nem se "socializarão" os fatores naturais. Diferentes áreas de estudo de
disciplinas diversas podem contribuir para o desenvolvimento da Ciência
Ambiental dentro da ideia de interdisciplinaridade.
No entanto, esta ideia enfrenta algumas dificuldades para se concretizar,
tanto em nível teórico como em nível prático. Se, atualmente, temos cada vez
mais trabalhos teóricos que se baseiam no conhecimento acumulado nas
diferentes ciências (incluindo as exatas), podemos ainda notar a dificuldade para
muitos autores se lançarem nas ciências que não dominam com a mesma
profundidade atingida nas suas especialidades. Esses autores não ousam trilhar
por ciências onde não terão o mesmo reconhecimento de seus pares e ainda

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serem alvos fáceis de críticas dos especialistas dessas outras ciências.
Devemos também considerar o extremo corporativismo ainda presente nos
meios acadêmicos e científicos, que impede a troca de experiências e
informações entre cientistas de especialidades diferentes e supostamente
antagônicas.
A Ciência Ambiental exige dos atores envolvidos conhecimento
aprofundado, espírito curioso e modéstia diante do desconhecido. Na sua fase
atual, que é de busca da síntese e da perspectiva interdisciplinar, é fundamental
a troca de conhecimentos de origens científicas diversas, possibilitando dar
algumas respostas às complexas questões que fazem parte do seu quadro
teórico.

2.1 Alguns Paradigmas da Ciência Ambiental

Observamos que nos últimos anos o conceito de desenvolvimento


sustentável tem substituído na literatura especializada os conceitos de
desenvolvimento alternativo e ecodesenvolvimento. Porém, esses conceitos são
originados da Conferência de Estocolmo de 1972, sendo que o de
desenvolvimento alternativo lhe é anterior. A partir dessa Conferência, o
ecodesenvolvimento foi o conceito mais fundido na literatura especializada, até,
principalmente, a publicação do Report Brundtland em 1987.
Pearce et al (1989) observam que existem diferentes definições de
desenvolvimento sustentado que ilustram as diferentes perspectivas
apresentadas, sobretudo na segunda metade da década de 80, na literatura
anglo-saxônica. À parte está questão de conceitualização, o que nos parece
importante enfatizar é que atualmente as propostas de desenvolvimento
econômico que não levam em consideração os fatores ambientais estão
condenados ao esquecimento.
As recentes mudanças no cenário político internacional têm mostrado que
tanto sob o capitalismo como sob o socialismo a questão ambiental tem um peso
político muito grande que interessa tanto a uns quanto a outros. Motivo pelo qual
a ideia de desenvolvimento sustentado tem estado presente nos debates e

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acordos internacionais. Porém, ela não se apresenta de forma homogênea,
como já foi assinalado por Pearce et al (1989).
Nas sociedades capitalistas periféricas, a ideia de desenvolvimento
sustentável não pode se restringir à preservação de recursos naturais, visando
o abastecimento de matérias primas às gerações futuras, como tem sido
enfatizado nos países de capitalismo avançado. Elementos básicos das
necessidades humanas e intimamente dependentes da problemática ambiental,
como transportes, saúde, moradia, alimentação e educação, estão longe de
terem sido resolvidos.
Nos pontos comuns e divergentes entre sociedades capitalistas
desenvolvidas e periféricas, podemos considerar que, para a realização do
desenvolvimento sustentado em nível global, é de fundamental importância o
estabelecimento de uma nova ordem econômica e ecológica, onde países dos
hemisférios Norte e Sul possam dialogar em igualdade de condições. Porém,
esse diálogo (se ocorrer) não será sem dificuldades, pois a falta de
homogeneidade dos países do Terceiro Mundo e a passividade frente ao poderio
econômico (e militar) dos países do Norte são duas dificuldades evidentes.
Em face disso, qualquer que seja o conceito de desenvolvimento,
dificilmente podemos garantir, pacificamente, às gerações futuras de qualquer
parte do globo, o patrimônio natural e cultural comum da humanidade.

2.2 Resgate histórico sobre a origem dos problemas ambientais da


atualidade

Os nossos ancestrais, que viveram a cerca de 02 (dois) milhões de anos


atrás (homo erectus), se alimentavam através da caça, da pesca e da colheita
de onde eles retiravam todos os nutrientes necessários para sua sobrevivência.
Tal processo se deu de forma dinâmica, ou seja, as primeiras civilizações eram
nômades, não tinham locais de moradia fixos, permanecendo na localidade até
o momento que está tinha suprimentos suficientes para sua alimentação e,
consequentemente, sobrevivência. Apesar do processo de exploração do meio
ambiente ter se dado de forma mais amena, devido a uma menor população,
com menor mobilidade e a inexistência de tecnologias de alto poder destrutivo,

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verificou-se a extinção de algumas espécies animais, como também, a
modificação do meio ambiente através de queimadas e derrubadas de árvores.
Ou seja, o homem interferia no meio ambiente o qual estava inserido,
modificando-o de modo a atender suas necessidades (PONTING, 1995).
Com o surgimento da agricultura, processo que se desenvolveu de forma
inconsciente através das modificações feitas pelo homem ao meio ambiente, foi
possível estabelecer moradias fixas (sedentários), o que aumentou, por
conseguinte, o crescimento da população uma vez que, existiam mais alimentos
disponíveis em pequenos espaços. Fato que deu origem às primeiras cidades.
Tomando por base as discussões levantadas por Clive Ponting (op. cit.)
pode-se tecer algumas considerações a esse respeito, a saber:
 a agricultura foi fundamental para fixação do homem nos territórios,
o que possibilitou um maior crescimento populacional; inovações
tecnológicas (uso do fogo, da roda e da escrita, por exemplo);
 a agricultura também propiciou o surgimento de batalhas,
verdadeiras disputas entre sociedades distintas por terras e
recursos naturais, fato que desencadeou o surgimento de
armamentos de defesa de modo a garantir a segurança de seus
territórios;
 a agricultura foi responsável pelos primeiros impactos ocasionados
ao meio ambiente, os quais, com o tempo e amplitude, tornaram-
se avassaladores.

Complementando as observações sobre a relação entre os problemas


ambientais e o surgimento da agricultura, o autor supramencionado ressalta esta
questão enfatizando que, a partir do advento da agricultura, assistiu-se (a
humanidade) aos primeiros exemplos de alterações ocasionadas pela ação
humana, bem como o seu poder de destruição, se caracterizando como os
primeiros exemplos de sociedade que danificavam o ambiental de forma a
provocar o seu próprio colapso. Dessa forma, observou-se que, após o advento
da agricultura, e o surgimento das primeiras cidades, houve uma grande

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modificação no processo de organização das antigas civilizações, dando origem
a sociedades cada vez mais organizada, hierarquizada e estratificada.
O homem passou a interferir no meio ambiente de forma a atender suas
necessidades, transformando o meio natural em meio cultural, e dessa forma,
não se enxergando como parte da natureza4 em que vive e da qual sobrevive.
Desse modo, a exploração ambiental se intensificou, o homem julgando-se
senhor da natureza poderia, portanto, manipulá-la como desejasse. Tal ideia, de
superioridade, foi posta em prática pelo fato do homem se considerar um ser
social, de acordo com Gonçalves (2008, p. 39/40):

Dizer, portanto, que o homem é um ser social como se isso o


distinguisse dos demais seres da natureza pode ser uma afirmação
altissonante, mas que pouco faz avançar qualquer esforço de
diferenciação entre o homem e a natureza, na medida em que os seres
vivos, sobretudo os animais, já vivem socialmente. Isso não quer dizer
que o homem não seja um animal social, mas que é social porque é
animal e os animais vivem socialmente.

De acordo com Branco (2007), a origem da palavra natureza vem do latim


natura, que em suas raízes tinha o significado de “ação de fazer nascer”.
Natureza é, assim, a faculdade geradora, o princípio e o conjunto de tudo que
nasce. A palavra natureza corresponde à palavra physis, do grego, que significa
nascimento, origem, força, geração.
Para Capra (2004) a natureza é uma complexa teia de relações entre as
várias partes de um todo unificado. A “teia da vida” é uma ideia antiga, que tem
sido utilizada por poetas, filósofos e místicos ao longo do tempo para transmitir
o sentido de entrelaçamento e de interdependência de todos os fenômenos.
Para Capra (2004) a natureza é uma complexa teia de relações entre as
várias partes de um todo unificado. A “teia da vida” é uma ideia antiga, que tem
sido utilizada por poetas, filósofos e místicos ao longo do tempo para transmitir
o sentido de entrelaçamento e de interdependência de todos os fenômenos.

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Ao observar o Quadro 01, pode-se inferir que a ideia de dominação do
homem sobre a natureza também está presente nas mais diversas culturas e
religiões, onde o homem é visto como ser antropocêntrico e superior a qualquer
outra forma de vida. De acordo com a religião cristão-judaica, “o homem foi feito
à imagem de Deus, tendo, portanto, o direito de dominar o mundo”. Do mesmo
modo, no pensamento pré-cristão, a ideia do homem como guardião do mundo
e da natureza também vigorou. Assim como no islamismo e no judaísmo onde a
total separação do homem e da natureza ainda persiste (DREW, 2011).
Com isso, verifica-se que a exploração do homem sobre o meio ambiente
está fundamentada em preceitos bastante antigos (como os dogmáticos) e
culturalmente enraizada numa concepção de eterna supremacia humana sobre
todos os outros seres, o que dificulta o desvinculamento do homem deste
constante processo de dominação e expropriação dos bens naturais, tendo em

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vista, que, no seu entender, tal fato é algo natural e intrínseco da sua condição
de ser humano.

2.3 Participação Social

Os movimentos ecológicos surgidos nas sociedades capitalistas


desenvolvidas nos anos 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica ao
modelo de sociedade industrial. A esse início "contracultura", foram se
aglutinando tanto os movimentos preservacionistas de espécies animais e
vegetais, como movimentos pacifistas e anti-nucleares.

Fonte: abm.org.br

O surgimento e a evolução desses movimentos devem ser vistos dentro


do contexto da participação civil em sociedades democráticas. A organização de
grupos e a posterior constituição de "partidos verdes" só se tornaram possíveis
graças à crescente mobilização da população frente a decisões do Estado. Nos
países onde a democracia é incipiente, a organização da população se faz com
resultados menos satisfatórios, mas não menos combativos. É importante
assinalar que a visão de Estado e da participação da sociedade civil nas
diferentes ideologias políticas, que se posicionam nos países da América Latina,
influi na prática de organizações civis frente à questão ambiental. Se o que
aparece com mais frequência é a ideia de autonomia frente ao Estado, no

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entanto ela apresenta conotações ideológicas muito diferentes. Num primeiro
momento, tivemos a influência das ideias autonomistas surgidas nos anos 60,
onde se caracteriza a perspectiva crítica ao Estado centralizador e autoritário, às
suas opções de desenvolvimento e de saque ao meio ambiente com as suas
consequências sociais.
No entanto, esta posição mais crítica foi perdendo terreno nos últimos
anos a favor de tendências que, embora contrárias à interferência do Estado, se
posicionam e atuam no terreno das ideias neo-liberalizantes. A participação da
população nas questões ambientais tem basicamente se destacado nos grandes
centros urbanos, mas também fora deles, aglutinando diferentes camadas
sociais em torno de questões específicas.
Inúmeras entidades ecológicas e/ou ambientalistas surgiram no
continente nos últimos anos, porém com penetração mais localizada, e muitas
delas atreladas a interesses econômicos e políticos nem sempre muito claros.
Podemos considerar que essa quantidade de novas organizações ocorre
devido ao processo de democratização. A atuação de cada um desses
movimentos e a sua continuidade ficará por conta daqueles que: apresentarem
respostas aos graves problemas ambientais puderem discuti-las
democraticamente e tiverem meios econômicos e técnicos para viabilizá-las.
Várias propostas de participação têm sido colocadas à sociedade, porém
só a autonomia dos movimentos sociais frente ao Estado, aos partidos políticos,
meios de comunicação de massa, monopólios econômicos e seitas religiosas
poderá garantir o seu potencial crítico ao modelo de desenvolvimento,
favorecendo a consolidação da democracia no continente. Isso não ocorrerá, no
entanto, sem o desenvolvimento da consciência de cidadania, possível através
da educação popular ambiental.

2.4 Impacto Ambiental: aspectos conceituais

Segundo a Resolução CONAMA nº 01/1986, considera-se impacto


ambiental qualquer alteração nas propriedades físicas, químicas e biológicas do
ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das

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atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança
e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as
condições estéticas e sanitárias do ambiente e a qualidade dos recursos
ambientais.
Coelho (2004) define impacto ambiental como sendo um processo de
mudanças sociais e ecológicas causado por perturbações (uma nova ocupação
e/ou construção de um objeto novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria)
no ambiente. Diz respeito ainda, de acordo com a autora, com a evolução
conjunta das condições sociais e ecológicas estimuladas pelos impulsos das
relações entre forças externas e internas à unidade espacial e ecológica,
histórica ou socialmente determinada. É a relação entre sociedade e natureza
que se transforma diferencial e dinamicamente. Os impactos ambientais são
descritos no tempo e incidem diferentemente, alterando as estruturas das
classes sociais e reestruturando o espaço.
Para Hammes (2004), os impactos das atividades estão relacionados à
suas necessidades de existência, que absorve, transforma e produz resíduo. A
magnitude dessa relação no espaço depende das questões culturais, de
consumo de produtos mais ou menos industrializados, com ou sem embalagens
descartáveis e não descartáveis, assim por diante. A complexidade maior ou
menor reflete-se no custo das resoluções dos problemas ambientais, de toda a
natureza.
De acordo com Valle (2004), até recentemente, a poluição ambiental era
estudada apenas por seus efeitos locais e as soluções encontradas eram sempre
aplicadas de forma também localizada. O tratamento dos esgotos sanitários e a
coleta de lixo urbano para disposição em aterros são dois exemplos clássicos de
soluções locais. Agia-se localmente, sem a percepção de que essas ações
afetavam globalmente o meio ambiente (VALLE, op. cit., p. 28). Os impactos
ambientais estão sendo cada vez mais evidenciados na atualidade. Na medida
em que o processo de exploração e apropriação da natureza está se dando de
maneira desordenada, sem nenhum controle e com total desrespeito com um
bem tão precioso: o meio ambiente. A preocupação está voltada para a
acumulação e o crescimento econômico sem levar em consideração o modo que

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este está sendo feito. Um exemplo é o aumento da geração de resíduos sólidos
típico do mundo atual e do processo capitalista no qual estamos inseridos. Neste
processo capitalista, o consumo é incentivado como forma de fomentar o
desenvolvimento econômico.

3 MEIO AMBIENTE E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Fonte: gazetadopovo.com.br

Vive-se hoje num momento crítico em relação às questões ambientais. O


planeta dá sinais evidentes de que não suporta mais o ritmo de consumo que
dos dias atuais. A poluição ambiental (da terra, da água e do ar) chegou a níveis
consideráveis, tão consideráveis que em determinadas regiões de alguns países
o nível de poluição provoca deformidades e problemas de saúde nos habitantes
locais.
Quando o meio ambiente é agredido mesmo sem intenção, acaba
refletindo em toda parte, no mundo inteiro.
Muitos desastres ocorreram, prejudicando o clima e o meio ambiente,
sendo isso o resultado do modo de vida e da forma egoísta do ser humano
pensar. O lado positivo da história é a conscientização da humanidade, que

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começa a repensar a forma com que trata do planeta e acabam tomando
consciência de que algo deve mudar e para isso cada um deve fazer a sua parte.
As empresas são o motor da sociedade. Seja uma pequena ou grande
empresa, movimentam a economia, geram empregos, criam novos
comportamentos, promovem desenvolvimento, entre outros benefícios que
acabam melhorando os negócios e agregam valores também a sociedade.
Dessa forma essas empresas passam a ser sustentáveis, de outra forma,
por ter “qualidade”. Com essa visão de investimento a empresa recebe a
admiração do mercado e o orgulho de seus funcionários dos usuários por fazer
parte. Elas constroem assim, um valor real, pois de fato contribuem com a
sociedade e acabam encontrando na sustentabilidade um apoio para se fixarem
e construírem sua base.
E um jeito de conduzir os negócios, promovendo um bom desempenho
econômico é basear-se nas dimensões propostas pela sustentabilidade, que são
três: econômico, ambiental e social.
O tema sustentabilidade está ganhando espaço, mas infelizmente ainda
não é bem aceito como deveria por algumas empresas. Pois, muitos
empresários acham que promover a sustentabilidade em suas empresas vai
gerar um aumento nos custos, causando assim um prejuízo desnecessário,
podendo atrapalhar a sua penetração no mercado. Mas, aos poucos, essa visão
dos empresários está mudando, pois, os consumidores estão se conscientizando
e preocupados com o futuro, eles começam a pressionar e exigir, empresas
como modelo de sustentabilidade, para assim consumir seus produtos e
serviços.
A preocupação com o meio ambiente pelo legislador constitucional, fez
inserir dentro do “Título VIII – Da ordem social”, o capítulo VI específico sobre o
tema, denominado “Do Meio Ambiente”, em seu art. 225. Entendendo-se por
“meio ambiente” como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas” (ressaltei – art. 3º, da Lei n. 6.938/81).E segundo a concepção de
Orlando Soares, “a noção de meio ambiente está intimamente ligada a dois
principais aspectos: o equilíbrio biológico e a ecologia.” O meio ambiente pode

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ser visto ainda à luz do patrimônio cultural, diretriz traçada pelo art. 216 da
Constituição Federal, que como entende Luiz Alberto Araújo:

“envolvendo a interação do homem com a natureza, as formas


institucionais das relações sociais, as peculiaridades dos diversos
segmentos nacionais (…) Sob essa ótica, … o patrimônio cultural
envolve o meio ambiente cultural. É que o meio ambiente natural,
embora, por evidente, tenha existência autônoma, ganha significado
no contexto social, na medida das projeções de valores que
recebe. Uma formação rochosa, por exemplo, uma vez objeto dessa
projeção de valores, ganha significado no arcabouço das relações
sociais: recebe uma classificação quanto à origem, tem sua formação
localizada em determinada fase histórica e serve de referência à
identidade do país”.

O modo como o homem vem utilizando os recursos naturais de forma


inadequada tem levado a muitas consequências, sobretudo para o meio
ambiente que cada vez mais vem sendo degradado, onde o ser humano tem
visado apenas o lucro em detrimento da degradação ambiental. Diante dessa
situação, se faz necessária uma educação ambiental que conscientize as
pessoas em relação ao mundo em que vive para que possam ter acesso a uma
melhor qualidade de vida, mas sem desrespeitar o meio ambiente, tentando
estabelecer o equilíbrio entre o homem e o meio.
A expressão “Educação Ambiental” (E.A.) surgiu apenas nos anos 70,
sobretudo quando surge a preocupação com a problemática ambiental. A partir
de então surge vários acontecimentos que solidificaram tais questões, como a
Conferência de Estocolmo em 1972, a Conferência Rio-92 em 1992, realizada
no Rio de Janeiro, que estabeleceu uma importante medida, Agenda 21, que foi
um plano de ação para o século XXI visando a sustentabilidade da vida na terra
(Dias, 2004), dentre outros.
A sobrevivência humana sempre esteve ligada ao meio natural. Mas com
o padrão desenvolvimentista de acumulação e concentração de capital, verifica-
se uma apropriação da natureza de forma inadequada, onde se retira dela muito
além do necessário ao sustento humano em nome do capitalismo que só visa o
lucro, provocando desequilíbrio na relação do homem com o meio natural, onde
o processo de degradação tem aumentado cada vez mais, comprometendo a
qualidade de vida da sociedade. Desta maneira se faz necessário medidas
urgentes em todo mundo quanto a uma conscientização das pessoas que a

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levem a gerar novos conceitos sobre a importância da preservação do meio
ambiente no dia-dia, e a educação ambiental é uma ferramenta que contribuirá
significativamente neste processo de conscientização, pois a E.A. segundo Dias
(2004, p 523) é:

“Processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam


consciência do seu meio ambiente e adquirem novos conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos
a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros.”

A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999, pela Lei N°


9.795 – Lei da Educação Ambiental, onde em seu Art. 2° afirma: “A educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. É importante lembrar
que o Brasil é o único país da América Latina que possui uma política nacional
específica para a Educação Ambiental.
A EA nesta perspectiva apresenta um caráter interdisciplinar, onde sua
abordagem deve ser integrada e continua, e não ser uma nova disciplina, ou
seja, “A Educação Ambiental não deve ser implantada como uma disciplina no
currículo de ensino em conformidade com a lei 9.795/99”
A EA tem sido um componente importante para se repensar as teorias e
práticas que fundamentam as ações educativas, quer nos contextos formais ou
informais, deve ser interdisciplinar, orientado para solução dos problemas
voltados para realidade local, adequando-os ao público alvo e a realidade dos
mesmos, pois os problemas ambientais de acordo com Dias (2004) devem ser
compreendidos primeiramente em seu contexto local, e em seguida ser
entendida em seu contexto global. É importante que ocorra um processo
participativo permanente, de maneira que não seja apenas e exclusivamente
informativa, é imprescindível a prática, de modo a desenvolver e incutir uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental.
No que diz respeito a sustentabilidade, o consumo sustentável é aquele
que utiliza serviços e produtos que respondam às necessidades básicas de toda
a população trazendo melhoria na qualidade de vida, reduzindo o uso de
recursos naturais, materiais tóxicos, produção de lixo e a emissão de poluição

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em todo o ciclo de vida, sem comprometer as gerações futuras (CDS/ONU,
1995).
O tratamento dado ao consumo sustentável tem um sentido de prevenção,
onde é assegurada a garantia de consumo, mas, com modificações importantes
nos padrões deste, objetivando minimizar os impactos ambientais de descarte e
do uso exagerado dos recursos naturais (CORTEZ e ORTIGOZA, 2007, p. 13).
Uma revisão no estilo de vida se faz necessária somada a necessidade
de se repensar num padrão condizente com o mundo sustentável, onde cada
ação deve ser efetivada de forma coerente (NALINI, 2004, p. 61-63).
O consumo é essencial para a vida humana, visto que cada um de nós é
consumidor, não estando o problema no consumo, mas nos padrões e efeitos
referente às pressões sobre o meio ambiente. De um lado o consumo abre
oportunidades para o atendimento das necessidades individuais de alimentação,
habitação e desenvolvimento humano, mas, necessário se faz uma análise
constante da capacidade de suporte do planeta em contrapartida ao consumo
contemporâneo (FELDMANN, 2007, p. 78).
Torna-se perceptível que os atuais padrões de consumo estão nas raízes
da crise ambiental, onde a crítica ao consumismo passou a ser vista como uma
contribuição para a construção de uma sociedade sustentável (PORTILHO,
2005, p. 67)
Assim, se a produção deve ser sustentável, o consumo o deve ser,
produzindo apenas o que se consome, sem desperdício ou criação de
necessidades artificiais de consumo, na afirmativa de que não se pode consumir
o que não se produz (MILARÉ, 2004, p. 150).
As bases do princípio do desenvolvimento sustentável, conceito
consolidado por meio da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, foram
lançadas em 1987, concebidas como o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades presentes sem comprometer, contudo, a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades (MILARÉ, 2004, p. 149-
150).

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4 CRIMES AMBIENTAIS

A Lei de Crimes Ambientais nº. 9.605/1998, considerada como de


fundamental evolução por trazer ao cidadão mecanismos quando da proteção
da vida através das sanções penais ambientais, dispões ainda de sanções
administrativas, provindas das condutas e atividades lesivas ao meio ambiente
(FIORILLO, 2003, p. 376).
Por se tratar de norma que versa sobre o meio ambiente, o artigo 225 da
Constituição Federal recebe o rótulo de norteador temático, sendo que diversos
dispositivos constitucionais tutelam ainda este bem jurídico. Destacam-se as
garantias de propriedade exposto no art.5º, XXII e XXIII, da propriedade
intelectual tratado no art.5º, XXIX, dos princípios da ordem econômica e
financeira conforme art. 170 e ainda a proteção dos índios, texto este encontrado
nos arts. 231 e 232, dentre outros.

Fonte: mesquita.rj.gov.br

Todas as condutas do Estado em prol da proteção ambiental estão


vinculadas automaticamente aos princípios gerais do Direito Público, em
especial, ao princípio da primazia do interesse público e da indisponibilidade do
mesmo (MILARÉ, 2005, p.160).

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O Brasil possui um arcabouço jurídico considerável na custódia do meio
ambiente através de uma legislação ambiental moderna e um considerável
número de normas visando tal proteção. Inclusive os municípios brasileiros já
contam com leis específicas e Códigos locais de defesa ambiental, o mesmo se
notando quando da preocupação com o tema nas três esferas da federação, que
tratam também da normatização ambiental (KRELL, 2004, p.89).
Por tal proteção estar inserida na Carta Magna brasileira no art. 170, VI
como um dos princípios da evolução econômica, com forte influência nas normas
legais recentes (v.g., Estatuto da Cidade), o desenvolvimento sustentável pode
ser considerado um princípio de direito (FREITAS, 2005, p. 238).

5 O IMPACTO DA CULTURA DO CAFÉ NO MEIO AMBIENTE DO BRASIL


DO SÉCULO XVIII AO XXI

A introdução do café no Brasil deve-se a Francisco de Melo Palheta que


trouxe as primeiras sementes para o país em 1727. Tais sementes foram
plantadas em Belém do Pará, mas a produção declinou de tal modo que em 1870
já estava extinta. No ano seguinte as sementes foram introduzidas no Maranhão
e, em 1760, no Rio de Janeiro. Nesse período preliminar, o cultivo do café, cujo
valor comercial era baixo, estava restrito aos quintais e sítios, sobretudo para
consumo doméstico. Depois, a planta do café se espalhou pela Tijuca e pelo
Corcovado, sendo, portanto, o Rio de Janeiro o centro a partir do qual a indústria
cafeeira se expandiu e prosseguiu em duas direções: a Baixada Fluminense,
chegando até Campos, e o norte, até Resende. Esse seria o eixo das grandes
culturas do Vale do Paraíba, passando à mata mineira e norte de São Paulo.
Em 1830, a cultura do café era a principal atividade do Vale do Paraíba.
A região, anteriormente coberta por extensas e intricadas matas, teve sua
paisagem transformada por tantos cafezais. A exploração cafeeira continuou o
mesmo modelo da açucareira: significativas derrubadas das matas e posterior
queima da madeira, grande propriedade, monocultora e trabalho escravo. A
derrubada das matas começava na madrugada e os escravos reunidos davam
início ao trabalho da destruição. A submata e os cipós retrançados eram cortados

20
com foices para abrir caminho aos machadeiros que vinham atrás. Depois de
limpo o chão, em volta de uma árvore, o machadeiro começava a cortar a altura
da cinta, ou às vezes em cima de uma plataforma.
Um vigia avisava-o quando devia afastar-se de uma árvore já
parcialmente cortada, para recomeçar o trabalho em outra situada pouco mais
acima, na encosta. Quando a árvore estremecia, ele se afastava, e quando todas
as árvores da lombada se achavam enfraquecidas, o mais experimentado
machadeiro escolhia aquela que, na sua queda, arrastaria as outras situadas em
plano inferior, entrelaçadas todas pelos cipós. Em seguida escolhiam as
madeiras necessárias para a fazenda e o restante era queimado.
As queimadas, feitas de forma descuidada, espalhavam-se pelas
fazendas vizinhas. O agrônomo francês M. R. Lesé, testemunha do final do
século XIX, observou situações em que, para cada hectare que se pretendia abrir
para a lavoura, de cinco a dez eram destruídos pelo fogo descontrolado. E, de
acordo com o vassourense Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, barão de
Pati, em seu livro “Memória”, muitos fazendeiros mandavam colocar fogo nas
derrubadas “de sangue-frio, como se estivessem praticando um ato heróico”.
Assim, a floresta da Tijuca, por exemplo, foi sendo substituída pelos
extensos plantios de café, o que gerou um colapso no sistema de abastecimento
de água potável, pois os rios que abasteciam a cidade do Rio de Janeiro,
especialmente o Carioca e o Paineiras, perderam a cobertura vegetal que
protegia suas nascentes. Desse modo, por orientação do Ministério da
Agricultura, em 1856, alguns terrenos localizados ao redor das nascentes
começaram a ser desapropriados para que fossem reflorestados. Em 11 de
dezembro de 1861, dom Pedro II aprovou o documento “Instruções Provisórias”,
pelo qual mandava efetuar o plantio e a conservação das florestas da Tijuca e
das Paineiras.
A partir das duas últimas décadas do Império, a produção da região do
Vale do Paraíba começou a declinar, como consequência do esgotamento dos
solos, das terras cansadas atingidas pela erosão, dos desequilíbrios climáticos,
da extinção das florestas primárias e da ineficiência dos métodos agrícolas
tradicionais. Além disso, os produtores da região não conseguiram encontrar

21
solução para superar o problema da mão-de-obra que deveria substituir o
trabalho escravo, que foi abolido em 1888. Assim, enquanto a produção no Vale
do Paraíba declinava; a região do Oeste Paulista seguia em franca expansão,
transformando-se no principal centro produtor e exportador do Brasil. Muito
embora o café fosse plantado nessa região com o mesmo descuido que havia
sido no Vale, os cafezais sofreram menos a ação dos agentes naturais, pois
nesse local se reuniam condições mais favoráveis de solo e de clima para a sua
lavoura. Foram introduzidas as técnicas do arado e do despolpador, o qual
significou verdadeira revolução na técnica de descascamento de grãos.

Fonte: jmeioambiente.blogspot.com

A produção do café, entretanto, cresceu demasiadamente e sucederam-


se as primeiras crises. As altas cotações internacionais do café fizeram que os
141 milhões de cafeeiros de São Paulo, em 1886, em uma década chegassem
a 386 milhões. Surgiu o desequilíbrio e a superprodução provocou a baixa dos
preços, ocorrendo em 1896 a primeira grande crise. Para reduzir a oferta e
melhorar os preços o presidente Getúlio Vargas ordenou a queima de todo o seu
estoque e erradicou cafezais. Com o tempo, a produção e a exportação do café
estabilizaram-se e a partir de 1952 passaram a ter supervisão do Instituto
Brasileiro do Café (IBC), extinto em 1990. Foi, então, criado dentro do Ministério

22
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) o Procafé (Programa Integrado
de Apoio à Tecnologia Cafeeira), por meio de convênio firmado entre o Mapa e
a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e o Conselho
Nacional do Café – CNC, através do qual os técnicos eram alocados nas
cooperativas e associações de cafeicultores. Esse convênio vigorou por dez
anos até que o Ministério transformou seus engenheiros agrônomos em fiscais
federais agropecuários. Com o esvaziamento do corpo técnico, criou-se em 2001
a Fundação Procafé voltada à pesquisa e difusão de tecnologia, a qual sucedeu
o Procafé (Programa Integrado de Apoio à Tecnologia Cafeeira). Em 2014,
segundo dados do citado Mapa, o Brasil manteve a sua posição de maior
produtor e exportador mundial de café e de segundo maior consumidor do
produto. A safra alcançou 45,34 milhões de sacas de 60 kg de café beneficiado,
em 15 Estados, com destaque para Minas Gerais, que respondeu por 49,93%
da produção nacional, seguido do Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia e
Paraná. O parque cafeeiro brasileiro é estimado em 2,256 milhões de hectares
com aproximados 287 mil produtores em cerca de 1.900 municípios distribuídos
pelos seguintes Estados: Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Distrito
Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná,
Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo. E, também, de acordo com
o citado Ministério, a cafeicultura brasileira é uma das mais exigentes do mundo
em relação a questões sociais e ambientais com a preocupação de garantir a
produção de um café sustentável.
Vale citar a produção de café orgânico, cuja produção não permite a
utilização de fertilizantes sintéticos solúveis; agrotóxicos e transgênicos. Além
disso, no processo produtivo do produto orgânico são respeitados os princípios
agroecológicos, ou seja, contempla-se o uso responsável do solo, da água, do
ar e dos demais recursos naturais, com respeito às relações sociais, trabalhistas
e culturais. A propósito, o mercado de produtos orgânicos vem se firmando como
uma tendência necessária e um dos fatores responsáveis por isso é a demanda
cada vez mais forte dos mercados nacional e internacional por esses produtos.
Em 2014, no Brasil, a agricultura orgânica movimentou cerca de R$ 2 bilhões e
a expectativa é de que no ano de 2016 tal número alcance o patamar de R$ 2,5

23
bilhões. Portanto, deduz-se que um importante fator responsável pelo impulso
da produção orgânica é o próprio consumidor, muito embora o produto orgânico
ainda esteja carente de políticas de modo a reduzir os aproximados 30% a mais
no preço em comparação aos produtos convencionais. Enfim, querido e querida
leitora, deixo-o com a opção de degustar um delicioso, cremoso e livre de
agrotóxicos “cafezinho” nacional.

6 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Hodiernamente, a preservação ambiental é um tema extremamente


debatido por toda a sociedade, passou a ser uma preocupação mundial, pois se
trata de uma questão delicada, que diz respeito à direitos de terceira dimensão,
garantias constitucionais, que são responsáveis pela manutenção da vida no
planeta.
Conforme poderá extrair do arresto a seguir, a preocupação com a
preservação ambiental é antiga.

Essa necessidade de proteção do meio ambiente é antiga e surgiu


quando o homem passou a valorizar a natureza, mas não de maneira
tão acentuada como nos dias de hoje. Talvez não se dessa muita
importância à extinção da fauna e da flora, mas existia um respeito para
com a natureza, por ser criação divina. Só depois que o homem
começou a conhecer a interação dos microorganismos existentes no
ecossistema é que sua responsabilidade aumentou. (SIRVINSKAS, p.
05, 2008)

A preservação do meio ambiente deve ser abrangente alcançando todos


os ecossistemas (terrestre, aquático e atmosférico) sem qualquer distinção,
porque entre eles há uma relação de interdependência, sendo que qualquer
alteração na constituição e na formação desses sistemas pode colocar em risco
toda a vida na Terra. (SIRVINSKAS, p. 05, 2008)
A luz do direito constitucional, pode se reparar o efetivo interesse do poder
constituinte na preservação ambiental. Pelo que foi disposto na Carta Magna
brasileira, o meio ambiente deve ser ecologicamente equilibrado, não sendo
responsabilidade somente do Poder Público a fiscalização e a preservação do
meio ambiente, mas também de toda a coletividade.

24
Art. 225, CF, caput: Todos tem direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

Segundo o ambientalista Paulo Affonso Leme Machado, o uso do


pronome “Todos” disposto na Constituição Federal de 1988, no artigo
supracitado, alarga o alcance do direito ao meio ambiente a todos, sem
exclusões.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. O


direito ao meio ambiente equilibrado é de cada um, como pessoa
humana, independentemente de sua nacionalidade, ração, sexo,
idade, estado de saúde, profissão, renda ou residência.
O uso do prenome indefinido – “todos” – alarga a abrangência da
norma jurídica, pois, não particularizando quem tem direito ao meio
ambiente, evita que se exclua quem quer que seja. (MACHADO, p.133,
2011).

O constitucionalista, Pedro Lenza, entende que a preservação é um


dever, tanto do Estado como da coletividade. Nesse sentido, o dever de
preservação será por parte do Estado e da coletividade, uma vez que o meio
ambiente não é um bem privado ou público, mas bem de uso comum do povo.
(LENZA, p. 1092, 2011)
Hoje em dia, os meios de comunicação têm noticiado com frequência
diversos danos ambientais, e demonstrando a sua consequência para o homem.
Desta forma está sendo engessada na população a consciência da necessidade
de preservação ambiental. O indivíduo está pensando no futuro das futuras
gerações, dos seus próprios descendentes.
Mas, infelizmente não é unânime a consciência ambiental, existem várias
pessoas deixando de exercer a cidadania ambiental, acreditando até mesmo que
o aquecimento global é ficção e que a Terra existe para ser explorada em prol
da Humanidade, devendo deixar as coisas como estão, posições estas, que
devem ser repudiadas (SIRVINKAS, 2008).
A preservação do meio ambiente é de suma importância para a
manutenção da vida no planeta, todas as agressões ao meio ambiente, trazem
consequências terríveis, como a contaminação do lençol freático, a escassez de
água, a multiplicação dos desertos, o deslizamento dos morros etc. Neste

25
contexto, a conscientização surge como um forte instrumento para coibir estas
agressões, nesse sentido:

Vê-se, pois, que as agressões ao meio ambiente são as mais diversas


e, para protegê-lo, faz-se necessário conscientizar o homem por meio
do conhecimento da relação homem versus ambiente. (SIRVINSKAS,
p. 05, 2008)

Neste contexto, surge algumas indagações: Desenvolvimento econômico


é compatível com preservação ambiental? É possível explorar os recursos
naturais de maneira racional e sem causar desperdício? Para responder
positivamente estas perguntas, basta empregar nas respostas o um tipo de
desenvolvimento, qual seja, o desenvolvimento sustentável, o que para muitos é
caro.

Fonte: newtrade.com.br

Não obstante, o homem deve-se preocupar com causa ambiental,


preservar, é manter a sua própria vida, é garantir o futuro de sua prole, o custo
da sustentabilidade é nada, comparado com um dano ambiental que é
irreparável.
Preservar o meio ambiente é lutar pela justiça social.

26
Por essa razão é que se faz necessário lutar pelo desenvolvimento
sustentável, procurando incentivar o crescimento econômico,
utilizando-se os recursos naturais de maneira racional para atingir a tão
propalada justiça social. (SIRVINSKAS, p. 05, 2008)

7 IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Preservar o meio ambiente é um ato importante não só para a


humanidade, mas para todos os seres que habitam a Terra. Afinal, é nele que
estão os recursos naturais necessários para a sua sobrevivência, como água,
alimentos e matérias-primas. Sem esses recursos, todas as formas de vida do
planeta poderão acabar.
Ao longo da existência humana, muitos dos recursos naturais foram sendo
degradados. Isso ocorreu por meio da queima de combustíveis fósseis; descarte
de lixo e esgoto em rios e mares; crescimento desordenado das cidades; gestão
hídrica inadequada; queima e destruição de matas e florestas; etc. O resultado
disso é o aquecimento global; alterações do ciclo natural de animais e plantas;
falta de água; poluição do ar e água; entre outros. No futuro, isso tudo pode ser
ainda pior, com a ausência de água potável, energia elétrica e alimentos, além
de muitos problemas sociais.
Desde a década de 1960, o impacto ambiental passou a ter mais
importância para ambientalistas e organizações internacionais. Nos anos de
1970, a ONU também passou a desenvolver conferências e estabelecer metas
para os países membros com relação à preservação do meio ambiente.
Esses objetivos devem ser cumpridos de forma sustentável. Assim sendo,
pesquisadores de áreas como Biologia, Biotecnologia, Química, Geografia,
Engenharia, Arquitetura e Tecnologia têm desenvolvido e pesquisado soluções
para a preservação ambiental. Entre elas destacam-se:
 Uso de biomassa para gerar bioenergia e biocombustíveis.
 Sustentabilidade na produção e desenvolvimento de produtos.
 Reciclagem ou reutilização de materiais.
 Energia alternativa, como a solar e eólica.
 Uso de biocombustíveis e automóveis elétricos.
 Uso de soluções biológicas no lugar de substâncias químicas.

27
 Planejamento urbano adequado.

Além dessas soluções, é necessário que o cidadão, indústrias e governos


façam a sua parte. Isso pode ser atingido por meio do descarte correto do lixo,
substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis, saneamento básico,
economia de água, etc. Dessa forma, o meio ambiente será preservado. Assim,
será possível ter mais saúde e acesso aos recursos necessários para a
sobrevivência de todos os seres do planeta.

8 A CAFEICULTURA NO BRASIL

A planta café é originária da Etiópia, país africano em que possui ainda


hoje o café como parte de sua vegetação natural. Mas, foi na Arábia em que
houve a propagação da cultura do café. Os europeus após conhecerem está
bebida, conhecida a época como “vinho da Arábia”, ficaram deslumbrados,
porém os árabes preservaram em sigilo o cultivo do café, afastando qualquer
estrangeiro do cultivo, a fim de manter a sua hegemonia na produção cafeeira,
mas isto, durou pouco, os holandeses logo conseguiram as primeiras mudas de
café e as cultivaram nas estufas do jardim botânico de Amsterdã, e difundiram
na Europa o produto (ABIC, 2012).
Os holandeses iniciaram os plantios experimentais em Java em 1699,
tendo em vista o sucesso no cultivo, os holandeses ampliaram o cultivo para a
Sumatra, e os franceses, presenteados com um pé de café pelo burgomestre de
Amsterdã, iniciavam testes nas ilhas de Sandwich e Bourbon (ABIC, 2012).
Logo, a cultura cafeeira chegou as colônias europeias no Novo Mundo e
na África, pois a demanda europeia estava em alta, o café teve grande aceitação
pelos europeus. Na América, os colonizadores europeus, trouxeram o café
primeiramente ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas.
Através das Guianas que o café chegou em 1727 ao norte do Brasil, mais
precisamente em Belém, trazido pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta
a pedido do governador do Maranhão e Grão Pará (ABIC, 2012).

28
Desde sua chegada a planta café foi ganhando espaço na economia
brasileira, pois as condições do território, e as condições climáticas são
favoráveis ao cultivo. O café após o fim do ciclo econômico da mineração do
ouro em Minas Gerais surgiu como a grande riqueza brasileira, o que perdura
até hoje, pois mesmo passando por diversas crises, como a quebra na bolsa de
Nova York de 1929, o café sempre se mantém como importante produto de
exportação brasileira e responsável por garantir empregos a vários brasileiros
(ABIC, 2012).
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café – ABIC
(2012), o Brasil é o maior produtor mundial de café, responsável por 30% do
mercado internacional, sendo também, o segundo mercado consumidor, atrás
somente dos Estados Unidos.
Todo este desenvolvimento da cafeicultura ocorreu à custa de um dano
ambiental imensurável. A preocupação com o meio ambiente é recente, e até
hoje é comum as “destocagens”, as queimadas, e qualquer outra forma de
desmatamento a fim de “limpar a terra” para o plantio de café, se hoje é assim,
imaginem há 50 anos, em que a mentalidade do brasileiro em geral, era de que
natureza é infinita e deve ser explorada pelo homem, por se tratar de mais uma
fonte de riqueza humana.
Em virtude destas agressões ambientais, não só os ambientalistas, mas
todos os brasileiros, em especial os cafeicultores, responsáveis diretos por estes
danos, devem se preocupar com o meio ambiente.
A consciência ecológica é algo nato do Brasil, os índios antes mesmo da
colonização já se preocupavam com isso, sustentabilidade que hoje é moda,
tendência, há 600 anos já era tida como a forma de plantio de todos os índios.
Os índios são precursores quando o assunto é preservação ambiental.

9 O IMPACTO AMBIENTAL DA CAFEICULTURA

A planta café desde quando chegou ao território brasileiro trazida pelo


Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta em 1727 trouxe consigo diversas
agressões ao meio ambiente, esta cultura africana que ainda ocupa terras de

29
diversos estados brasileiros, como em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia
e Espírito Santo, é considerada uma das maiores responsáveis pelo
desmatamento nas regiões em que se situa. Os cafeicultores conscientes da
falta de fiscalização adentraram na mata brasileira para cultivarem o que eles
chegaram a chamar de “mares de café”.
A fiscalização atualmente está bem mais presente do que há três
décadas, isto se deve a criação de mecanismos voltados a estruturar o Brasil no
aspecto protecionista ambientalista, neste contexto ressalta-se a criação da Lei
da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81), a Lei da Ação Civil
Pública (Lei n. 7.347/85) e a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Mas os órgãos fiscalizadores mesmo com um aparato legal que lhes
proporcionam mecanismos para coibir infrações ambientais, não possuem
recursos humanos e materiais suficientes para fiscalizar com eficiência toda a
área de 8.547.403 km², que corresponde à extensão do território brasileiro.
A plantação insustentável da cafeicultura que perdurou no Brasil por mais
de dois séculos trouxe as seguintes consequências para o meio ambiente:
contaminação do lençol freático (com os agrotóxicos e os fertilizantes usados na
lavoura), escassez de água (irrigações sem autorização), diminuição da área
florestal (desmatamento), profundas alterações no clima do planeta, poluição
atmosférica, intoxicação pelo uso de agrotóxicos, degradação do patrimônio
genético, diversas espécies em extinção, deslizamento dos morros (plantações
de café sem realizar as curvas de nível), poluição dos mananciais, etc.
Muitas pessoas dizem que estas consequências são causadas pela cana
de açúcar, pelas indústrias, pelos lixos hospitalares, mas esquecem que
qualquer plantação que seja feita em desconformidade com a conservação da
natureza lesa tanto quanto as outras atividades o meio ambiente, como é o caso
do café, que quando é plantado em conflito com a natureza, de forma
insustentável, causa enormes danos ambientais como os já mencionados.
O desmatamento é algo que preocupa a todos, pois as áreas afetadas
pelo desmatamento jamais se recuperam, os danos ambientais são diversos e
ainda mais preocupantes quando envolvem queimadas, estas interferem
diretamente na qualidade do ar, dos solos, na vegetação atingida pelo fogo e

30
indiretamente podem afetar os recursos hídricos, ou seja, causa enormes danos.
Em locais, com pouca fiscalização é comum sitiantes desmatarem parte de suas
terras para plantarem café, pois a certeza da impunidade fomenta a prática
criminosa, ademais, a consciência ambiental é secundaria enquanto a ambição
financeira é primordial.

Fonte: newtrade.com.br

A cafeicultura causa a poluição e a escassez dos recursos hídricos


através das embalagens de agrotóxicos que os cafeicultores indevidamente
jogam no leito dos rios, dos equipamentos de aplicação destes produtos que são
lavados nas águas, fazendo com que os resíduos de agrotóxicos contaminem os
leitos dos rios, e pela destruição das matas ciliares. Com esta poluição
consequentemente ocorre a diminuição do fornecimento da água de boa
qualidade.
Vale ressaltar que está destinação dos agrotóxicos mencionada é vedada,
ou seja, o agricultor ao poluir os mananciais comete uma infração e deve ser
responsabilizado, pois deve efetuar a devolução das embalagens vazias aos
estabelecimentos comerciais em que foram adquiridas ou aos órgãos ambientais
competentes (art. 53 do Dec. n. 4.074/2002).

31
Sobre o uso de agrotóxicos, Luis Paulo Sirvinskas discorre sobre as
consequências de seu uso excessivo:

Note-se, no entanto, que o uso excessivo de fertilizantes pode causar


acidificações dos solos, contaminação dos reservatórios de água
eutrofização (excesso de nutrientes na água, que provoca o
crescimento exagerado de organismos como algas). Mas também
pode causar danos ao meio ambiente e colocar em risco a população
que consome produtos com excesso de agrotóxicos. (SIRVINSKAS, p.
05, 2008)

A cafeicultura causa diversos impactos ambientais se praticada em


desconformidade com as regras protecionistas do meio ambiente. Cabe ao
cafeicultor exercitar sua cidadania ambiental, desenvolver sua atividade
econômica com sustentabilidade, pois caso contrário, estará sujeito a ser
responsabilizado civilmente, penalmente e administrativamente.
No magistério de Denilson Victor Machado Teixeira:

Decerto que a consciência ecológica se encontra atrelada a educação,


ou, à gnose, ainda que in natura, nos alicerces delineados no “hino da
criação” (previsto no livro bíblico de Gênises), razão pela qual enseja
um ser humano ético e voltado a pratica cidadã, imbuído do espírito de
solidariedade e de respeito à ”Mãe Natureza” (TEIXEIRA, p.27, 2011).

10 O CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO E A CAFEICULTURA

No Brasil, a agricultura é responsável por fomentar a economia, gerar


empregos, e propiciar o desenvolvimento. A cafeicultura se destaca neste setor,
pois mesmo já abalada no passado com diversas crises, sempre se mantém
forte, e é evidente que o café foi o maior gerador de riquezas e o produto mais
importante da história nacional.
Atualmente o desenvolvimento de qualquer cultura no campo deve ser
limitado às regras protecionistas do meio ambiente, a fim de frear agressões
ambientais e propiciar a sustentabilidade. Como não é mais possível recuperar
os danos ambientais causados pela ânsia capitalista do passado, deve-se criar
um eficiente sistema legal para resguardar a biodiversidade brasileira. Garcia e
Thomé correlacionam com este exposto:

32
No Brasil, a alta complexidade ecológica dos ecossistemas florestais e
sua riqueza genética, aliados à preocupação com a pressão sobre eles
exige um efetivo arcabouço jurídico de proteção ambiental e um
sistema administrativo eficiente (GARCIA; THOMÉ, p. 157, 2010).

Nesse sentido, a fim de criar mecanismos de proteção às florestas e as


demais formas de vegetação, foi criado em 1965 o Código Florestal Brasileiro
(CFB), marco em proteção ambiental no Brasil, criador de diversos mecanismos
protecionistas com o fim de inibir as frequentes agressões ambientais.
Conceituando, descrevendo condutas, penalizando infratores ambientais e
distribuindo responsabilidades, este código inovou o direito ambiental, e perdura
até os dias de hoje como a referência em legislação ambiental.
Dentre as diversas criações do código, algumas tiveram enorme
repercussão para os cafeicultores, dentre elas pode-se destacar: as florestas
como bens de interesse comum de todos os habitantes do Brasil, criação das
áreas de preservação permanente – APP, reservas florestais legais,
licenciamento para a exploração, e a possibilidade de supressão das florestas
se comprovada a utilidade pública.
As florestas como bens de interesse comum para todos os habitantes do
Brasil, conforme disposto no art. 1°, caput, da CFB, foi o precursor do disposto
no art. 225 da Carta Magna, em que todos têm direito ao meio ambiente.
Portanto, em 1965 a visão ambientalista de que a floresta é de todos já era
tipificada, demonstrando que o homem sabia que ao cuidar da natureza estaria
cuidando de si mesmo, portanto os cafeicultores não deveriam adentrar nas
matas para plantar suas lavouras, mas infelizmente não foi isto o que se viu na
prática.
Paulo Affonso leme Machado, defende em sua obra que a saúde do
homem depende de elementos da natureza:

A saúde dos seres humanos não existe somente numa contraposição


a não ter doença diagnosticadas no presente. Leva-se em conta o
estado dos elementos da Natureza – águas, solos, ar, flora, fauna e
paisagem – para aquilatar se esses elementos estão em estado de
sanidade e se seu uso advém saúde ou doenças e incômodos para os
seres humanos. (MACHADO, p.138, 2011)

Também na esteira protecionista estão as áreas de preservação


permanente (APP), que são as florestas e as demais formas de vegetação

33
natural detentoras de proteção especial e permanente de todos os entes
públicos. Conforme pode-se extrair da interpretação do art. 2° do CFB, estas
áreas devem ser compreendidas em um limite territorial:

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito


desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu
nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:
1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10
(dez) metros de largura;
2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham
de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham
de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham
largura superior a 600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou
artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos
d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo
de 50 (cinquenta) metros de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°,
equivalente a 100% na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de
ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em
projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros,
qualquer que seja a vegetação.
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as
compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e
nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o
território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos
diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que
se refere este artigo.

No entanto, esta proteção não é absoluta, podendo ocorrer à supressão


total ou parcial em caso de utilidade pública (art. 1º, § 2°, IV, do CFB),
devidamente caracterizada e motivada em procedimento próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (art. 4°, §
1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 7° do CFB). (Sirvinskas, p. 393, 2008).
Além das áreas de preservação permanente o cafeicultor e todos os
proprietários rurais devem manter em sua propriedade as reservas legais, ou
seja, deve-se preservar a área localizada no interior de uma propriedade ou
posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso

34
sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e
flora nativas (art. 1°, § 2°, III, do CFB). A legislação prevê quatro tipos de reservas
legais a serem observadas; estes limites são de acordo com a localização das
terras (vide art. 16 do CFB).
O Código Florestal Brasileiro em vários momentos exige uma licença para
a prática de um determinado ato, até mesmo chegando a punir a falta da licença,
por exemplo, o art. 14 dispõe que comércio de plantas vivas, oriundas de
florestas, dependerá de licença da autoridade competente.

Fonte: revistacampoenegocios.com.br

Segundo a Resolução CONAMA n. 237/97, licença ambiental é o “ato


administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as
condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar,
ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos
ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que,
sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental” (art. 1°, I).

35
Diante dos fatos mencionados, está evidente que o cultivo de café, como
o de qualquer outra atividade relacionada ao meio ambiente, deve seguir os
preceitos legais dispostos no Código Florestal Brasileiro, sendo que em caso de
descumprimento das normas, o cafeicultor poderá receber diversas punições,
sejam elas civilmente, criminalmente ou administrativamente. Neste contexto, é
necessário que o cafeicultor cultive seu café de forma consciente, sustentável,
visando preservar o meio ambiente.

11 MUDANÇAS DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO

A preservação ambiental na cafeicultura está atrelada ao exercício da


cidadania ambiental, e neste contexto, vale ressaltar que todo cidadão brasileiro
que pensa no meio ambiente não deve compartilhar das alterações legislativas
que estão em tramite no Congresso Nacional para alterar o Código Florestal
Brasileiro, criando um Novo Código Florestal, que deveria se chamar “Código
Florestal Ruralista”, pois é contrário a toda criação ambiental e inovação
conquistada por diversos ambientalistas ao longo da história.
Com o Novo Código Florestal, os benefícios serão apenas para os
ruralistas, pois para o meio ambiente, os malefícios serão incalculáveis, dentre
os vários, pode-se enfatizar: o aumento das áreas de risco nas encostas de
morros e margens de rios, que propiciará um aumento significativo do risco de
deslizamentos de terra e enchentes, ocasionando tragédias similares às
ocorridas na região Serrana do estado do Rio de Janeiro em 2011; a redução
das áreas de reserva legal, ou seja, redução das áreas de mata nativa que
deveriam ser conservadas dentro das propriedades rurais, com esta medida o
risco de extinção de espécies de animais e plantas certamente será majorado da
mesma forma que estarão fazendo um movimento a favor do aquecimento global
e do efeito estufa.

36
12 PRESERVAR O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVER A CAFEICULTURA

A maioria das plantas do café cresce em estado silvestre nas zonas


intertropicais da África, Insulindia e Malásia; se desenvolvem sem colocar em
risco o meio ambiente, de forma a agregar valor ao ecossistema da qual
pertence. A transformação do cultivo do café em um risco para a biodiversidade
brasileira é fruto da ambição do homem em maximizar seus lucros, sem se
preocupar com a questão ambiental.
Diversas são as opções para um cultivo saudável do café, sem colocar
em risco o meio ambiente. Não é necessária a produção do café orgânico, não
que esta não seja uma ótima solução, mas outros meios sustentáveis e
ecologicamente corretos de produção possuem uma eficácia similar e
ocasionam mínimos danos ambientais.
Um importante passo para os cafeicultores se atentarem para o meio
ambiente é uma educação ambiental, que os tornem detentores de uma
consciência ecológica intimamente ligada à preservação ambiental, pois caso
contrário, será difícil exigir deles um exercício de cidadania ambiental. Cabe aos
entes públicos criarem mecanismos para conscientização ecológica não só dos
cafeicultores, mas de todos os produtores rurais, sobre uma maneira de cultivo
não danosa ao meio ambiente. Um convênio do governo com as cooperativas
de cafeicultores para ministrarem palestras e distribuírem informativos sobre o
tema seria uma alternativa válida.
O uso de agrotóxicos, fertilizantes e defensivos agrícolas, deve ser com
cautela, pois o seu consumo indiscriminado causa intoxicações, poluição dos
ecossistemas, morte de plantas, animais e até mesmo de seres humanos. A Lei
determina procedimentos e responsabilidades para quem fabrica, vende e usa
defensivo agrícola, o simples cumprimento da lei não basta, mas já ajuda a
minimizar os danos e faz com que o produtor rural não seja responsabilizado por
uma prática repreensível.
A recuperação de áreas degradadas por meio de reflorestamento, ou pela
rotação de culturas por intermédio do sistema de plantio direto, influem
positivamente na biodiversidade, sendo um meio importante do cafeicultor

37
indenizar o meio ambiente dos danos causados por ele. A obrigação de reparar
o dano ambiental esta agasalhada na Constituição Federal, conforme a colação
a seguir:

A CF/88, com grande acuidade, agasalha os princípios da restauração,


recuperação e reparação do meio ambiente no art. 225. Em seu § 1º,
I, aponta a obrigação de “restaurar os processos ecológicos
essenciais”.
No § 3º do art. 225 consta a obrigação de reparar o dano causado ao
meio ambiente. Acentua este parágrafo que a obrigação de reparar é
independente da aplicação de sanções penais e administrativas.
(MACHADO, p.381, 2011)

Para a cafeicultura se desenvolver economicamente e ao mesmo tempo


preservar o meio ambiente, é necessária uma cafeicultura sustentável, com o
cafeicultor atento ao cumprimento das normas ambientais e que
independentemente de uma exigência legal, preserve o meio ambiente da
mesma forma como se cuida de sua lavoura, pois sabe que sua lavoura depende
do meio ambiente.
Conforme o exposto, as leis ambientais servem de arrimo para
conscientizar o cafeicultor da necessidade de preservar o meio ambiente. As
possibilidades de cultivo da cafeicultura sem colocar em risco o meio ambiente
existem, e são tão possíveis que muitas vezes são até obrigatórias, como no
caso das reservas legais florestais. A cafeicultura depende do meio ambiente, e
deve respeitá-lo; preservar o meio ambiente é cuidar de sua própria vida.

38
13 BIBLIOGRAFIA

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41
14 LEITURA COMPLEMENTAR

14.1 Gestão ambiental e produção sustentada de café em área de proteção


ambiental. I - caracterização da vegetação

Rosângela Alves Tristão Borém;


Rubens Manoel dos Santos;
Daniel Salgado Pífano;
Daniel Quedes Domingos;
Vicente Gualberto;
Carolina Gusmão Souza;
Lisiane Zanella

Resumo: A Área de Proteção Ambiental (APA) de Coqueiral está


localizada no sul de Minas Gerais – Brasil. Na APA vivem cerca de 400
produtores familiares que tem como fonte de renda a cafeicultura, em um sistema
de produção ligado ao meio ambiente. Os prejuízos para a flora, fauna e para a
população local do uso inadequado dos recursos naturais são evidentes, e
levaram a queda da qualidade de vida das populações rurais da região. Torna-
se urgente a adoção de medidas que aumentem a produtividade dos cafezais e
forneçam alternativas de renda para os produtores, o que pode ocorrer com a
implantação de um sistema de gestão ambiental. Diante da necessidade de
recuperar a lavoura cafeeira e alcançar a sustentabilidade ambiental este
trabalho tem o objetivo de realizar uma caracterização do ambiente (solo, flora e
fauna) para subsidiar um plano de gestão integrada da APA visando a
multifuncionalidade da agricultura. Nesta primeira etapa realizou-se a
caracterização da vegetação e a análise da estrutura da comunidade arbórea
que ocorre ao longo de um gradiente altitudinal alterado antropicamente, de
forma a estabelecer critérios adequados para seu manejo e sua recuperação. Os
indivíduos foram amostrados em coletas extensivas na área e intensivas dentro
de 20 parcelas de 400m2. O solo variou de Latossolo Vermelho-Amarelo
distrófico câmbico nas encostas a aluvial mesotrófico na área inundável. Foram
encontrados 1241 indivíduos vivos, pertencentes a 168 espécies, 116 gêneros e

42
56 famílias botânicas. O índice de diversidade (H’) para as espécies foi de 4,46
nats/indivíduos e a equabilidade (J) foi de 0,87. Os 1241 indivíduos inventariados
(nas 20 parcelas amostradas) distribuíram-se em 168 espécies, 116 gêneros e
56 famílias. Os gêneros que apresentaram maior número de espécies foram:
Eugenia (8), Casearia (6), Ocotea (6), Machaerium (4) e Maytenus (4)
contribuindo juntos com 36,3% das espécies. As famílias que sobressaíram por
apresentarem alta riqueza foram: Myrtaceae (191), Fabaceae caesalpinioideae
(134), Rubiaceae (109), Salicaceae (91), Celastraceae (59), Euphorbiaceae (43),
Anacardiaceae (34), Combretaceae (24) e Thymelaeaceae (22), as quais
representaram 61,4% da flora. As famílias Myrtaceae e Rubiaceae apresentaram
alto número de espécies, corroborando com 21,4% das espécies amostradas; a
freqüência das espécies dessas famílias decresceu em solos eutróficos e
aumentou em solos distróficos sugerindo a associação dessas famílias a solos
distróficos.
Palavras-chave: Sustentabilidade - Caracterização ambiental –
Cafeicultura ecológica – Unidade de Conservação

Introdução

Após séculos de utilização irracional dos recursos naturais, a proteção do


ambiente constitui, hoje, prioridade de todas as nações. Políticas voltadas para
a proteção ambiental têm sido propostas e desenvolvidas por entidades
governamentais e não governamentais, mas estas ações ainda são insuficientes.
Na perspectiva moderna de gestão do território, toda ação de
planejamento, ordenação ou monitoramento do espaço deve incluir a análise dos
diferentes componentes do ambiente, incluindo o meio físico-biótico e seus inter
relacionamentos (Medeiros, 1998). O planejamento ambiental, portanto, requer
o levantamento e organização de informações sobre o meio ambiente,
simulações e possibilidades de utilização de maneira econômica, porém,
sustentável.
As formações vegetais brasileiras têm sofrido pressões constantes de
diversas atividades antrópicas, o que evidencia a necessidade de propor

43
alternativas de preservação e conservação dos biomas nacionais, e as unidades
de conservação legalmente instituídas são uma das principais formas de
conservação da biodiversidade desses ecossistemas.
Neste contexto estudos de caracterização ambiental de unidades de
conservação têm sido sugeridos, o que foi realizado neste trabalho estudando-
se a Área de Proteção Ambiental de Coqueiral. Em se tratando de uma unidade
de conservação de uso sustentável, como é o caso de uma Área de Proteção
Ambiental (APA) isto é fundamental uma vez que sua perspectiva é de dar um
tratamento diferenciado à produção, inserindo a área dentro de um plano de
desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2000); e no caso específico da Área de
Proteção Ambiental de Coqueiral isto é essencial uma vez que a população
humana que sobrevive com base na cafeicultura e pecuária dentro da reserva
gira em torno de 400 pessoas (EMATER MG, 2002).
Como ao longo dos anos o uso da terra foi realizado de forma inadequada
e com fragmentação dos ecossistemas, atualmente a área se encontra em um
estado de degradação ambiental lastimável, principalmente pela falta de
cobertura do solo e de vegetação. Estudar e comparar a composição florística e
estrutural de um componente arbóreo, e suas variações fito-fisionômicas em
diferentes gradientes latitudinais, com usos diferenciados do solo contribui para
o conhecimento dos mecanismos de funcionamento destes ambientes e auxilia
no planejamento da restauração e manutenção dos fragmentos ainda existentes
nas Área de Proteção Ambiental. Assim o presente trabalho teve como objetivo
a caracterização da vegetação, gerando um diagnóstico ambiental para subsidiar
de forma consistente um plano de gestão e manejo sustentado da APA de
Coqueiral.

Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido na Área de Proteção Ambiental (APA) do


Município de Coqueiral, sul do estado de Minas Gerais, Brasil. A APA Coqueiral
possui uma área de 6.837,5 hectares e está situada entre as coordenadas

44
geográficas de 45° 19’ 37,5” e 45° 26’ 16,3” de LONG. W e 21° 03’ 52,7” e 21°
09’ 30,8” de LAT. S (EMATER MG, 2002).
O clima é do tipo Cwb de Köppen. A média anual de precipitação é de
1493 mm e a de temperatura, 19,3 ºC (Vilela & Ramalho, 1979). O relevo varia
de ondulado a montanhoso. Sua paisagem é caracterizada por muitos
afloramentos rochosos. A principal formação rochosa do município, a “Pedra do
Ermo”, está localizada no interior da APA. Os solos da APA variam de Latossolo
Vermelho-Amarelo distrófico câmbico nas encostas a Aluvial mesotrófico na área
inundável.
Os tipos vegetacionais predominantes são Cerrado e Floresta Estacional
semidecidual montana (Velloso et al., 1991).

Levantamento dos Dados

Para o levantamento da vegetação e caracterização do solo foram


alocadas, com base em mapeamento preliminar, 40 parcelas de 20x20m. O
inventário da estrutura da comunidade arbórea foi realizado nas parcelas
incluindo todos os indivíduos com diâmetro a altura do peito (DAP) superior ou
igual a 5 cm. Os indivíduos marcados tiveram amostras de material botânico
coletados para posterior identificação e incorporação no Herbário ESAL, da
Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais.
No centro geométrico de cada parcela foram coletadas amostras de solo
(0-20 cm profundidade) para realização de análises químicas e granulométricas
de acordo com metodologia proposta por EMBRAPA (2006), que foram
realizadas no laboratório de análises de solo da Universidade Federal de Lavras,
A estrutura da comunidade arbórea foi descrita a partir do cálculo, para
cada espécie, dos parâmetros quantitativos clássicos propostos por Mueller-
Dombois & Ellenberg (1974) e Curtiss & Macintosh (1950). Os cálculos foram
efetuados pelo programa FITOPAC 2 (Shepherd, 1994).
A diversidade de espécies foi medida por meio do índice de diversidade
de Shannon (H’) e pela equabilidade de Pielou (j’) (Brower & Zar, 1984).
Resultados e Discussão

45
Em relação ao levantamento da vegetação foram amostrados 1241
indivíduos com DAP (diâmetro a altura do peito) ≥ 15,7cm, que se distribuíram
em 56 famílias botânicas, 116 gêneros e 168 espécies. Das espécies
amostradas 33,4% pertencem as seguintes famílias Rubiaceae, Vochysiaceae,
Salicaceae, Fabaceae, Euphorbiaceae, Thymelaceae, Myrtaceae, Rubiaceae,
Celastraceae, Anonaceae e Hypericaceae, sendo que as quatro famílias com
maior números de espécies foram: Myrtaceae (25), Fabaceae(21),
Lauraceae(10) e Rubiaceae(11).
Os gêneros que apresentaram os maiores números de espécies foram
Maytenus (4), Machaerium (4), Ocotea (6), Miconia (4), Eugenia (8) e Casearia
(6), contribuindo juntos com 36,3% das espécies. As famílias que sobressaíram
por apresentarem alta riqueza foram: Rubiaceae (109), Myrtacea (191),
Salicaceae (91), Fabaceae caesalpinosa (134), Euphorbiacea (43),
Thymelaceae (22), Celastraceae (59), Anacardiacea (34) e Combretaceae (24)
as quais representaram 61,4% da flora.
Algumas espécies como Ocotea odorífera que apresentou baixa
dominância (0,084) tiveram preferência por cotas mais baixas ou solos mais
úmidos ocorrendo nas margens aluviais, o que também foi observado em outros
trabalhos realizados em matas ciliares do alto e médio rio grande (Oliveira-Filho
& Ratter, 1995; Oliveira-Filho & Ratter, 2004; Van den Berg & Oliveira-Filho, 1999
e Oliveira-Filho et al.,1994a).
Como espécies emergentes com 10 a 15 metros ocupando o dossel,
aparecem Aspidosperma olivaceum e Clethra escabra. A presença da espécie
Aspidosperma olivaceum, mesmo com pequeno número representativo de
indivíduos, é uma indicação de que em passado recente a área foi degradada.
Entre as espécies associadas aos solos intermediários em fertilidade e
umidade (Cambissolos) aparece Galipea jasminiflora que é formadora de sub-
bosques de floresta sobre solos de fertilidade média a alta (Oliveira-Filho et al.,
1994b), enquanto Miconia cinnamomifolia e Vismia brasiliensis aparecem como
pioneiras ou secundárias inicias em solos com boa drenagem. Senna

46
macranthera, Miconia argyrophilla, e Luehea grandiflora ocorreram em solos
mais secos.
Como espécies mais fortemente correlacionadas com as condições
opostas (solos de cotas mais baixas, com drenagem moderada, menor acidez e
maior teor de nutrientes) aparecem Guazuma ulmifolia, Maclura tinctoria,
Nectandra oppositifolia e Eugenia florida; estas ocorrências também foram
observadas em outros estudos realizados na região (Oliveira-Filho et al., 2005).
Algumas espécies foram observadas apenas nas áreas aluviais, como é o caso
de Croton urucurana, Cupania vernalis, Machaerium nictitans e Macherium
villosum.
A espécie com maior densidade foi a Copaifera langsdorffii, que tem sido
apontada como uma das mais abundantes nas florestas semidecíduas da região,
tanto nas ripárias como de terra firme e como bastante generalista quanto ao
hábitat (Oliveira-Filho, Scolforo e Mello, 1994; Oliveira-Filho, A. T. ; Mello, J. M.
e Scolforo, J. R. S., 1997; Van den Berg e Oliveira-Filho, 1999).
O índice de Shannon (H’) foi de 4,46 e Pielou (J) de 0,87. Estes índices
foram superiores aos encontrados em trabalhos realizados na bacia do Alto e
Médio Rio Grande (Espírito Santo et al.,2002; Souza et al.,2003; Botrel, 2002;
Dalanesi, 2004).
A alta diversidade encontrada, em uma área relativamente pequena,
demonstra que a flora da APA de Coqueiral constitui uma valiosa amostra da
vegetação da região, seus tipos fisionômicos principais encontram-se bem
representados, o que é um importante fator para a conservação da vegetação
desta área.

Conclusões

A APA Coqueiral possui uma diversidade florística bastante significativa,


apresentando espécies endêmicas e com risco moderado de extinção, o que a
torna um ambiente prioritário para conservação.
Os resultados deste trabalho estão sendo utilizados para subsidiar a
correta implementação da APA de Coqueiral, através de uma gestão adequada

47
à unidade de conservação que pretende ser uma alternativa pioneira no
estabelecimento do desenvolvimento sustentável no município. Dentro dos
preceitos estabelecidos para as APA’s, entende-se que sua gestão ambiental
possibilitará a restrição do uso dos recursos naturais da área de forma a
conservar suas características ecológicas sem que haja prejuízos para a
sociedade que habita o local.

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