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PETIÇÃO INICIAL

Art. 319 do CPC

Passos básicos:

AO JUÍZO DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE ...

[Inciso I, art. 319, CPC – indicar o juízo a que a petição é dirigida. Observar a
competência – territorial e material].

[Inciso II, art. 319, CPC. Qualificação completa das partes. Se o


autor não souber toda a qualificação do réu, poderá pedir que o
juízo diligencie sobre - § 1º].

AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF, RG,


endereço completo, e-mail, telefone; por seu procurador
signatário, com endereço profissional na Rua ..., número ..., na
cidade de ..., fone ..., e-mail ..., onde recebe intimações; vem,
respeitosamente, ajuizar

AÇÃO DE ..., com fulcro nos artigos ...;

Em face de RÉU, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF,


RG, endereço completo, e-mail, telefone; pelos fatos e
fundamentos jurídicos e legais a seguir expostos [Inciso III, art.
319, CPC – a causa petendi]:

I. DOS FATOS.

O relato dos fatos é causa de pedir remota. Todo direito ou interesse a ser
tutelado surge em razão de um fato ou um conjunto deles, por isso eles são
necessários na petição inicial. 

Nesse momento devem-se responder as seguintes questões:

 O que e como ocorreu? (o juiz não sabe o que aconteceu. É muito


importante narrar a história de forma clara e completa, destacando os
eventos importantes. Pense que o juiz já conhece o direito, mas dos
fatos ele é leigo. Cabe ao advogado contar corretamente os fatos para
demonstrar a correlação com os pedidos. Tendo sempre cuidado para
não mentir na petição, sob pena de condenação em litigância de má-
fé).

 Quando ocorreu? (as datas são importantes para verificação da


prescrição e decadência)

 Com quem ocorreu? (importante para verificação das legitimidades


ativa e passiva)

 Por que ocorreu? (importante para aferição de culpa para


responsabilização civil objetiva ou subjetiva – fato gerador do direito)

 O fato gerou quais prejuízos? (importante para o dimensionamento dos


danos, sejam eles morais, materiais, estéticos... – fato gerador da
obrigação).

 As partes em algum momento fizeram acordo, participaram de


mediação ou arbitragem? (aqui é importante, pois a existência de
convenção arbitral ....).

Exemplo: (O Autor adquiriu a posse de um terreno urbano com superfície de


600m², na Rua..., na cidade Ijuí, no ano de 1980. Desde então possui a posse
mansa, pacífica, pública, com ânimo de dono. O terreno não possui matrícula no
Registro de imóveis, conforme certidão anexa. Nos termos da planta e memorial
descritivo, anexos, são confinantes: .... Por fim, resta evidenciado que o Autor
faz jus a usucapir o imóvel nos termos da legislação vigente).

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS E LEGAIS.

Aqui se expõe a causa de pedir próxima, que não é somente colar


dispositivos legais.

É o momento de trazer a legislação que embasa os fatos (fundamentos


legais), bem como jurisprudência e doutrina (fundamentos jurídicos).

Não esqueça que o juiz também julga pela equidade e pelos usos e
costumes. Então, também vale fazer apelos morais e culturais, conforme o caso.

Exemplo (Conforme redação do art. 1.238 do Código Civil, o possuidor que


por 15 anos possuir com ânimo de dono um imóvel, torna-se o proprietário. Segue o
referido dispositivo abaixo transcrito: .... Também, a jurisprudência é pacífica no
sentido de tutelar o direito do Autor: ...).
III. DA TUTELA PROVISÓRIA (URGÊNCIA OU EVIDÊNCIA).

É preciso analisar primeiro, se é caso de tutela de urgência ou tutela de


evidência.

A primeira fundamentando-se na urgência – é necessário demonstrar o


fumuns boni iuris (a probabilidade do direito) e o periculum in mora (o perigo da
demora).

Se objetivar o adiantamento do provimento do bem da vida pleiteado é tutela


de urgência antecipada – art. 300/303, CPC.

Se objetivar acautelar/preservar direitos (assegurar bens, pessoas, provas) é


tutela de urgência cautelar – art. 301/305, CPC.

A tutela de evidencia ocorre nos casos elencados no art. 311 do CPC.

IV. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

EX.: A parte autora é economicamente hipossuficiente, não podendo arcar


com as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios e periciais
sem prejuízo do próprio sustento e de sua família. Assim, faz jus ao benefício da
gratuidade de justiça, forte no art. 98 do CPC, o que desde já requer.

Junta aos autos comprovantes de renda (ou declaração de não possuir, ou


CTPS com último vínculo...), bem como Declaração de Hipossuficiência assinada.

Muito embora o § 3º do art. 99 diga que apenas o requerimento deduzido na petição


inicial é suficiente, os juízes tem requerido a prova da hipossuficiência.

Vale lembrar que a pessoa jurídica também poderá ser beneficiária – art. 98.

Atualmente, fica ressalvada a despesa da remuneração do conciliador ou do


mediador que atua no CEJUSC, na forma do art.98, §5º do CPC. Isso porque, o art.
334 desse Diploma trouxe a obrigatoriedade da realização da audiência preliminar
de conciliação, exceto nas hipóteses do seu §4º, assim, gerando a necessidade de
custeio dos conciliadores e mediadores. Sendo esses terceiros auxiliares da Justiça,
tal responsabilidade é da parte, de acordo com os artigos 13 da Lei 13.140/2015
mais 149 e 165 do CPC, bem como do Ato n.028/2017, da Presidência do TJ/RS.
V. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.

Está prevista no inciso VII do art. 319 do CPC.

Lembre-se que o art. 334 trouxe a obrigatoriedade da realização da audiência


preliminar de conciliação, exceto nas hipóteses do seu § 4º.

Já o § 8º dispõe: “O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à


audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será
sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou
do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado”.

Atualmente, em quase todas as comarcas, essa audiência está a cargo dos


CEJUSC – Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania.

Exemplo: A parte autora manifesta interesse/desinteresse na realização da


audiência preliminar de conciliação.

VI. DAS PROVAS.

Inciso VI, art. 319 c/c capítulo IX do CPC.

Mesmo que o autor indique na inicial as provas que pretende produzir, o juiz,
ao tratar das “DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO SANEAMENTO”, irá
fazer a intimação para que as partes indiquem e justifiquem quais provas pretendem
produzir.

Isso não muda o fato de que é obrigatório na exordial delimitar as provas e


não meramente dizer “requer produzir todas as provas em direito admitidas”. E isso
vale até mesmo para os procedimentos mais simplificados como os JEC.

Veja que ao propor uma ação no JEC o advogado deve estar ciente de que
não será possível produzir prova complexa. Mas poderá já na inicial sinalar ao juízo
que pretende a prova pericial simplificada, por exemplo.

Nas ações previdenciárias da Justiça Federal, a prova pericial é um dos


primeiros atos do processo, pois é ela que norteia o convencimento do juiz, seja
para a concessão da tutela de urgência antecipada, seja para o próprio mérito.

Ademais, no caso da prova documental, é geralmente produzida no curso do


processo.
O art. 320 determina que a petição será instruída com os documentos
indispensáveis à propositura da ação, inclusive com a procuração, caso o autor
esteja representado por um advogado. Porém, algumas vezes, o advogado obriga-
se a apresentá-la posteriormente.

Há duas espécies de documentos que devem ser juntados à petição inicial:

a) substanciais: os expressamente exigidos por lei, por exemplo: art. 60 da


Lei 8.245/91, in verbis, "Nas ações de despejo fundadas no inciso IV do art. 9º,
inciso IV do art. 47 e inciso II do art. 53, a petição inicial deverá ser instruída com
prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado".

b) fundamentais: os oferecidos pelo autor como fundamento de seu pedido,


por exemplo: um contrato.

Exemplo:
Requer demonstrar o alegado por meio de todas as provas em direito
admitidas, especialmente a prova testemunhal, documental, depoimento pessoal do
réu, pericial, etc.

VII. DOS PEDIDOS.

Os pedidos dever ser específicos, pois eles também limitam a atuação


jurisdicional (inciso IV, art. 319).

 Pedido Imediato: é sempre certo e determinado. É o pedido de uma


providência jurisdicional do Estado (Ex: sentença condenatória, declaratória,
constitutiva, cautelar, executória etc).

 Pedido Mediato: pode ser genérico nas hipóteses previstas na lei. É um bem
que o autor pretende conseguir com essa providência.

 Pedido Alternativo: (art. 325/CPC) Ex: peço anulação do casamento ou


separação judicial.

 Pedido Cumulativo: (art. 397/CPC) desde que conexos os pedidos podem ser
cumulados.

Exemplo:

Ante ao exposto, Pede:

a) O deferimento liminar da Tutela de Urgência, consistente em ...;


b) A procedência do pedido de ...;

c) A condenação do Requeridos aos pagamentos de custas


processuais e honorários advocatícios sucumbenciais.

VIII. DOS REQUERIMENTOS.

 Requerimento é o pleito de natureza processual, que serve ao


procedimento. Não se confunde com o pedido que está sempre vinculado à
obtenção de uma tutela jurisdicional. 

Exemplo:

Ante ao exposto, Requer:

a) A citação do Réu para, querendo, contestar no prazo legal, sob


pena de revelia;

b) A intimação do Ministério Público;

c) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º do CDC;

d) O designação (ou não designação) de Audiência de tentativa de


conciliação, nos termos do art. 319, VII do CPC;

e) O deferimento do benefício da Assistência Judiciária Gratuita.

IX. DO VALOR DA CAUSA.

Toda causa deve ter um valor certo, ainda que não tenha conteúdo
econômico (art. 291/CPC), pois tal valor presta a muitas finalidades, como:

 Base de cálculo para taxa judiciária ou das custas;


 Definir a competência do órgão judicial (art. 44/CPC)
 Definir a competência dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95, art. 3°, I)
 Base de multa imposta ao litigante de má-fé (art. 81/CPC)
 Base para o limite da indenização

O art. 292 do CPC indica qual o valor a ser atribuído a algumas causas, sob
pena do juiz, de ofício, corrigir a petição inicial, determinando o recolhimento da
diferença.
Dá-se à causa o valor de R$ ...

Nesses termos, pede deferimento.

Aqui muito cuidado para não recair no velho “juridiquês” que assassina a
Língua portuguesa!

É muito comum os advogados usarem a expressão:

“Termos em que,
Pede deferimento”.

Isso está errado, pois não se usa vírgula após o pronome relativo QUE.

Você pode finalizar seu pedido com: “Nesses termos, pede deferimento” (nesse
caso, com vírgula) ou “Termos em que pede deferimento” (sem vírgula).

E por que não é “Nestes termos...”?

Porque a palavra “neste” (preposição EM + pronome demonstrativo ESTE) indica o


que vai ser mencionado no discurso.

Já a palavra “nesse” (preposição EM + pronome demonstrativo ESSE) refere-


se ao que já foi mencionado no discurso. Assim, é a correta, pois quando você
diz “nesses termos”, quer se referir a todos os termos, argumentações, ditas
anteriormente na petição.

Loca e data.

Advogado(a) – OAB

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