Você está na página 1de 21

SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Eixo Hipotálamo-hipófise-gônadas.................... 3
3. Fisiologia do Ciclo Menstrual.................................. 6
Referências Bibliográficas .........................................20
CICLO MENSTRUAL 3

1. INTRODUÇÃO da relação de feedback entre a secre-


ção ovariana e o eixo hipotálamo-hi-
Define-se ciclo menstrual normal
pófise. O útero desempenha um pa-
como aquele com 28 ± 7 dias, fluxo
pel eminentemente passivo, apesar
durando 4 ± 2 dias, e perda média de
de sua importância na concepção.
20 a 60 mL de sangue. Por conven-
ção, o primeiro dia de sangramento
vaginal é considerado o primeiro dia Hipotálamo
do ciclo menstrual. Os intervalos en-
O hipotálamo encontra-se na base
tre ciclos menstruais variam entre as
do cérebro, imediatamente acima
mulheres e, com frequência, em uma
da junção dos nervos ópticos. Seus
mesma mulher em épocas diferentes
neurônios são especialmente impor-
de sua vida reprodutiva. O ciclo mens-
tantes na produção dos hormônios:
trual varia menos entre 20 e 40 anos
hormônio liberador de gonadotrofi-
de idade. Quando observado sob a
nas (GnRH), hormônio liberador do
perspectiva da função ovariana, o ciclo
hormônio de crescimento (GHRH),
menstrual pode ser definido em fase
hormônio liberador de corticotrofinas
folicular pré-ovulatória e fase lútea
(CRF), hormônio liberador de tireotro-
pós-ovulatória. As fases correspon-
finas (TRH). Em relação à produção do
dentes no endométrio denominam-se
GnRH, O hipotálamo é influenciado
fase proliferativa e fase secretora. Para
tanto por sinais extrínsecos e intrín-
a maioria das mulheres, a fase lútea do
secos ao SNC, quanto pelo controle
ciclo menstrual é estável, durando en-
do ovário. A influência exercida pela
tre 13 e 14 dias. Consequentemente,
secreção ovariana sobre o hipotála-
variações no período do ciclo normal
mo é denominada de feedback, sen-
geralmente resultam de variações na
do este positivo quando os esteroides
duração da fase folicular.
ovarianos estimulam a produção do
GnRH, e negativo quando a secreção
2. EIXO HIPOTÁLAMO- ovariana inibe a produção do GnRH.
HIPÓFISE-GÔNADAS Além disso, o próprio GnRH controla
sua produção, agindo diretamente no
O clico menstrual é consequência da
hipotálamo, então quando está dispo-
interação entre três entidades ana-
nível em grande quantidade ele atua
tômicas: hipotálamo, hipófise, ovário
reduzindo sua produção, já quando
e útero. Embora seja evidente que o
está presente em níveis baixos, age
hipotálamo desempenha um papel
estimulando sua liberação.
central na iniciação do ciclo mens-
trual, está igualmente claro que a ci- O hormônio liberador de gonadotrofi-
clicidade endócrina é consequência nas (GnRH), produzido no hipotálamo,
CICLO MENSTRUAL 4

exerce papel obrigatório no controle pela secreção dos hormônios folícu-


da secreção de gonadotrofinas, como lo-estimulante (FSH) e luteinizante
o próprio nome indica. Sendo respon- (LH), hormônio estimulante da tireoi-
sável pela indução da liberação des- de (TSH), hormônio adrenocortico-
tas substâncias pela hipófise anterior. trófico (ACTH), hormônio de cresci-
O hipotálamo apresenta ciclos carac- mento (GH) e prolactina (PRL). Já a
terísticos de liberação de seus produ- neuro-hipófise secreta ocitocina e
tos (GnRH, TRH, ACTH etc.) devido vasopressina.
a centros tipo marcapasso. Algumas O GnRH age nas células gonadotró-
dessas substâncias são liberadas pe- ficas da hipófise anterior (adeno-hi-
riodicamente. Outras, em ciclos circa- pófise), estimulando-as a sintetizar e
dianos, que podem estar relaciona- secretar na corrente sanguínea tanto
dos a situações fisiológicas, como o o FSH quanto o LH. No entanto, a se-
ciclo do sono ou ingestão de alimen- creção de LH é, essencialmente, ca-
tos, entre outros estímulos. racterizada por um pico no meio do
Quanto à função reprodutiva, o GnRH ciclo menstrual. Já a secreção de FSH
é o principal hormônio. Na mulher, ele é caracteriza-se por um aumento na
liberado de uma forma pulsátil, sendo fase folicular inicial, um platô na fase
sua periodicidade e amplitude críticas lútea e acentuada elevação na fase lú-
para determinar a liberação correta e tea tardia. Ou seja, as gonadotrofinas
fisiológica do FSH e LH (produzidos na são secretadas de forma pulsátil, com
adenohipófise). Na menina, o centro frequência e amplitude que variam de
hipotalâmico encontra-se bloqueado acordo com a fase do ciclo. Os hor-
até o período da puberdade, quando mônios esteroides, como o estradiol e
ocorre sua liberação por razões ainda a progesterona, ou fatores ovarianos
não bem estabelecidas, supondo-se não-esteroides, como a inibida, são
haver a participação de fatores am- os moduladores da secreção de LH e
bientais, dos opióides endógenos, do FSH.
peso corporal e da quantidade de gor-
dura corporal, entre outros. SE LIGA! O padrão pulsátil de liberação
das gonadotrofinas é diretamente rela-
cionado à secreção pulsátil de GnRH,
mas a modulação da amplitude e da fre-
Hipófise
quência são consequências do feedback
É uma glândula neuroendócrina si- dos esteroides ovarianos no hipotálamo
e na hipófise.
tuada na sela túrcica, e é dividida
em adeno-hipófise e neuro-hipófi-
se. A adeno-hipófise é responsável
CICLO MENSTRUAL 5

Ovários são a progesterona e o estradiol. En-


tretanto, o ovário também secreta
O ovário em funcionamento normal
estrona, androstenediona e 17a−hi-
sintetiza e secreta hormônios este-
droxiprogesterona. Os hormônios
roides sexuais – estrogênios, andro-
esteroides sexuais desempenham
gênios e progesterona – com padrão
papel importante no ciclo menstrual
de controle preciso que, em parte, é
preparando o útero para implantação
determinado pelas gonadotrofinas
do óvulo fertilizado. Se a implantação
hipofisárias, FSH e LH. Os produtos
não ocorrer, a esteroidogênese ova-
secretórios mais importantes da bios-
riana declina, o endométrio degenera
síntese de esteroides pelos ovários
e ocorre a menstruação.

FLUXOGRAMA DO CONTROLE HORMONAL

Hipotálamo

GnRH

Hipófise

LH FSH

Ovários

Estrogênio Progesterona
CICLO MENSTRUAL 6

Útero interna, subdividida em estroma e


glândulas. As alterações cíclicas, in-
A parede uterina consiste em três ca-
duzidas pelos hormônios ovarianos,
madas: serosa, a camada mais exter-
só se manifestam na camada mais
na; miométrio, constituído de múscu-
superficial endométrio.
lo liso; e endométrio, a camada mais

O endométrio é composto por O miométrio é Tecido


epitélio glandular, cuja composto por conectivo
estrutura varia de acordo com músculo liso extremo
as fases do ciclo menstrual

Artéria
uterina

Figura 1. Estrutura do útero. Fonte: SILVER-


THORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma
abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017.

3. FISIOLOGIA DO CICLO Ciclo Ovariano


MENSTRUAL O ciclo ovariano pode ser dividido em
Podemos dividir, de uma forma di- três fases: fase folicular, fase ovulató-
dática, o ciclo menstrual em dois ci- ria e fase lútea.
clos que interagem e são interde-
pendentes: ovariano e endometrial
(menstrual).
CICLO MENSTRUAL 7

Fase Folicular os folículos primordiais gerados du-


rante a vida fetal. Esses folículos nada
A fase folicular, ou proliferativa, é a
mais são que oócitos suspensos na
primeira fase do ciclo menstrual, e
primeira divisão meiótica, circunda-
ocorre do primeiro dia da menstrua-
dos por uma camada única de células
ção até o dia do pico de LH. Durante
granulosas achatadas. São separados
esta fase, ocorre uma sequência or-
do estroma por uma membrana basal
denada de eventos, que assegura que
delgada. Os folículos pré-ovulatórios
um número apropriado de folículos
são avasculares. Consequentemen-
se desenvolva e esteja pronto para a
te, são criticamente dependentes da
ovulação. O resultado final desse de-
difusão e, no final do seu desenvolvi-
senvolvimento folicular é, comumen-
mento, de junções comunicantes para
te, um único folículo maduro viável, o
obtenção de nutrientes e eliminação
qual passará pelos estágios de folícu-
de excretas metabólicas. A difusão
lo primordial, folículo primário, folícu-
também permite a passagem dos
lo pré-antral, antral e pré-ovulatório.
precursores de esteroides da camada
Este processo ocorre ao longo de 10
de células tecais para a camada de
a 14 dias.
células da granulosa.
No estágio seguinte do desenvol-
SE LIGA! A duração do ciclo menstrual
é determinada pela variação na duração
vimento, as células da granulosa se
da fase folicular, ou seja, o tempo neces- tornam cuboides e aumentam em
sário para que o folículo se desenvolva e número para formar uma camada
atinja sua maturidade. pseudoestratificada. Nesse momen-
to, o folículo é denominado folículo
O sinal para o recrutamento folicular primário. Uma importante mudança
inicia-se na fase lútea do ciclo ante- que ocorre nesta fase é a diferencia-
rior, com a diminuição da progestero- ção das células do estroma em teca
na, do estradiol e da inibina A. Como interna e teca externa, que independe
consequência, o feedback negativo da estimulação pelas gonadotrofinas.
sobre o FSH é liberado, observa-se Há um padrão de crescimento limita-
então seu aumento nos primeiros do, que pode ser rapidamente segui-
dias da fase folicular. Este aumento é do de atresia. Esse padrão só é inter-
o sinal para o recrutamento folicular. rompido se, a partir deste estágio, o
Aproximadamente 15 ou mais folícu- grupo de folículos responder a uma
los são recrutados a cada ciclo. elevação do FSH e ser incentivado
ao crescimento. A cada ciclo mens-
Desenvolvimento Folicular: O de- trual, na fase lútea do ciclo preceden-
senvolvimento folicular inicia-se com te, a diminuição da progesterona, do
CICLO MENSTRUAL 8

estradiol e da inibina A, resultante da Caracteristicamente, nesse está-


regressão do corpo lúteo, possibilita gio, células da granulosa tornam-se
a elevação do FSH por feedback ne- cuboidais e apresentam-se em várias
gativo, alguns dias antes da menstru- camadas. Secretam uma matriz glico-
ação, o que permite o recrutamento proteica, chamada de zona pelúcida.
folicular. As células da granulosa do folículo
Quando ocorre um crescimento fo- pré-antral são capazes de sintetizar
licular final e aumento significativo todas as três classes de esteroides,
no número de células da granulo- no entanto, são produzidos significa-
sa, incentivado pelo FSH, surge o tivamente mais estrogênios.
folículo secundário ou pré-antral.

SAIBA MAIS!
A produção de estrogênio pelo folículo pré-antral é explicada pelo sistema de duas células,
duas gonadotrofinas. Nos folículos pré-antrais e antrais, os receptores para o LH estão pre-
sentes apenas nas células da teca, e os receptores para o FSH apenas nas células da granu-
losa. As células da teca, a partir da entrada do colesterol induzida pelo LH, são capazes de
produzir androgênios, que são transportados às células da granulosa e lá são convertidos em
estrogênios, através da aromatização induzida pelo FSH.

Com o desenvolvimento em curso, e consequentemente, possui oócitos


sob a influência sinérgica do estrogê- de melhor qualidade.
nio e do FSH, ocorre um aumento na Na presença de FSH, o estrogênio pas-
produção do líquido folicular, que co- sa a ser o elemento dominante no lí-
meça a se acumular entre as células quido folicular. Na ausência de FSH, o
da granulosa, que posteriormente se androgênio predomina. E um microam-
une, formando uma cavidade cheia biente androgênico opõe-se à prolife-
de líquido rico em estrogênios produ- ração da granulosa e acarreta degene-
zidos pelas células da granulosa, esta ração do oócito, gerando a atresia.
cavidade é conhecida como antro. O
folículo passa então a ser denomi-
nado folículo terciário ou antral. As SE LIGA! Os estágios iniciais do desen-
volvimento (até o folículo secundário)
células da granulosa que circundam não exigem estimulação de gonadotrofi-
os oócitos passam a ser chamadas nas e, por isso, são ditos “independentes
de cumulus ooforus. O folículo que de gonadotrofinas”. A maturação folicu-
lar final exige a presença de quantidades
possui a maior taxa de proliferação
adequadas de LH e FSH na circulação e,
da granulosa, contém concentra- portanto, diz-se que é “dependente de
ções de estrogênio mais elevadas e, gonadotrofinas”.
CICLO MENSTRUAL 9

No estágio final do desenvolvimen- antes da ovulação. O início do pico de


to folicular, as células da granulosa LH ocorre um dia depois que o pico
tornam-se maiores e as da teca ri- de estrogênio é atingido.
camente vascularizadas, e folículo é É importante salientar que a concen-
então denominado de pré-ovulató- tração e o tempo de duração da ele-
rio. Aproximando-se da maturação, o vação do estradiol são determinantes
folículo pré-ovulatório produz quan- para a liberação do LH. Para tanto, a
tidades cada vez maiores de estro- concentração de estradiol deve ser
gênio. Durante a fase folicular tardia, maior do que 200 pg/ml, que deve
o estrogênio eleva-se rapidamente, persistir por aproximadamente 50
atingindo seu pico cerca de três dias horas.
UI/L

Figura 2. Alterações nos níveis de


gonadotrofinas em um ciclo mens-
trual normal. Fonte: Ginecologia de
Dias a partir do pico de LH Williams, 2014.

Atuando através de seus recepto- A progesterona facilita o feedback


res, o LH promove luteinização das positivo do estrogênio, agindo dire-
células da granulosa no folículo do- tamente na hipófise e contribuindo
minante, resultando na produção de para a elevação do FSH e do LH, ob-
progesterona. Há, então, um pequeno servada no meio do ciclo menstrual.
aumento na produção de progestero- As células da teca dos folículos em
na que começa a ser detectado 12 atresia, sob ação do LH, aumentam a
horas antes da ovulação, e receptores produção de androgênio, elevando os
para este esteroide começam a surgir níveis deste no plasma.
nas células da granulosa.
CICLO MENSTRUAL 10

FOLÍCULO
FOLÍCULO PRÉ-OVULATÓRIO
FOLÍCULO FOLÍCULO
ESTÁGIO PROMOR- FOLÍCULO TERCIÁRIO SELECIONADO
PRIMÁRIO SECUNDÁRIO
DIAL (FOLÍCULO
DOMINANTE)
Crescimento,
Atividade Repouso Crescimento Crescimento, antral Crescimento rápido
pré-antral
≈ 0,04 – 0,1 ≈ 0,01 – 0,2 ≈ 5 mm até
Tamanho ≈ 0,03 mm ≈ 0,2 – 2 mm
mm mm 20-30 mm
Pequeno A meiose completa-se
ovócito pri- Ovócito primá- Ovócito primá- Ovócito primário para formar o ovócito
Ovócito
mário (DNA rio aumentado rio aumentado aumentado secundário (2n) e o
4n) corpúsculo polar (2n)
Zona pelúcida* Aparece Presente Presente Presente
Camada única.
Células da Células Aumento no número
O nº de células 3-6 camadas Múltiplas camadas
granulosa precursoras de células
aumenta
Desenvolve-se no
Antro interior da camada de Aumento do tamanho
células da granulosa e é
preenchido com líquido
Lâmina basal Presente Presente Presente Presente Presente
Camada interna: células
secretoras e pequenos
Aparece e co- vasos sanguíneos
Teca
meça a formar Camada externa: teci-
duas camadas do conectivo, músculo
liso, grandes vasos
sanguíneos
Vasos sanguíneos na
Vascularização Aparece Aumenta
teca
* A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que protege o ovócito
Tabela 1. Desenvolvimento folicular até a ovulação. Adaptado de SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana:
uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre. 2017.
CICLO MENSTRUAL 11

Fase Ovulatória a maturação nuclear, acontece a


transição da prófase I para a me-
A ovulação acontece como consequ-
táfase I e a extrusão do primeiro
ência da ação simultânea de diversos
corpúsculo polar na metáfase II.
mecanismos que ocorrem no folículo
Estes fatos ocorrem em sincronia
dominante, estimulando sua matura-
com a maturação citoplasmática e
ção e induzindo a rotura folicular. So-
da zona pelúcida no preparo para a
mente o folículo que atinge seu está-
fecundação. A meiose só se com-
gio final de maturação é capaz de se
pleta após a penetração do esper-
romper. O marcador fisiológico mais
matozoide e a liberação do segun-
importante da aproximação da ovula-
do corpúsculo polar.
ção é o pico do LH no meio do ciclo, o
qual é precedido por aumento acele- • Luteinização: Um pequeno au-
rado do nível de estrogênio. mento da progesterona ocorre 12
Sabe-se que o folículo pré-ovulatório a 24 horas antes da ovulação. Este
produz, com a síntese crescente de aumento da progesterona antes
estradiol, seu próprio estímulo ovu- da ovulação tem importância na
latório. O pico de estradiol estimula o indução da onda de FSH e LH, pelo
pico de LH e, consequentemente, a aumento do feedback positivo do
ovulação. O início do pico de LH ocor- estradiol na ação desses hormô-
re 32 a 36 horas antes da ovulação. nios. O pico do FSH acompanha-
do do LH não ocorre sem um au-
No momento da ovulação, dentro do mento pré-ovulatório nos níveis
microambiente do folículo dominante, da progesterona. Por outro lado, a
ocorrem três fenômenos principais: elevação progressiva na progeste-
• Recomeço da Meiose: O oócito rona pode atuar de modo a termi-
permanece em meiose I até a onda nar o pico de LH, pois, sob concen-
de LH, quando ocorre a retoma- trações mais elevadas, é exercido
da da meiose e o oócito torna-se um efeito de feedback negativo.
apto para fertilização. Portanto, o Além de seus efeitos centrais, a
pico de LH faz o oócito reassumir a progesterona aumenta a distensi-
meiose, estimula a síntese de pros- bilidade da parede folicular. A pa-
taglandinas e luteiniza as células rede torna-se delgada e estirada, e
da granulosa que, por sua vez, sin- a expulsão do oócito ocorre após
tetizam a progesterona. Este pro- a ação de enzimas proteolíticas
cesso de retomada da meiose é que digerem o colágeno. A pro-
mais uma interrupção da inibição dução dessas enzimas é induzida
do que propriamente um fenôme- pela ação das gonadotrofinas (LH
no estimulado. O oócito reassume e FSH) e da progesterona.
CICLO MENSTRUAL 12

• Ovulação: O processo de ovula- enfraquecida, com extrusão do oócito,


ção é comparado a uma reação ocorrendo, dessa forma, a ovulação.
inflamatória, na medida em que Paralelamente às mudanças estrutu-
ambos envolvem componentes, rais que ocorrem durante o processo
como neutrófilos, histamina, bradi- ovulatório, que envolvem a ação das
cinina, enzimas e citocinas. Desde proteases, ocorrem modificações im-
a fase folicular, sob ação das gona- portantes no fluxo sanguíneo do ová-
dotrofinas no folículo, há acúmulo rio. Vários mediadores produzidos
de prostaglandinas E e F e produ- e liberados pelo ovário após o pico
ção de grande quantidade de fator pré-ovulatório de LH, como as pros-
ativador de plasminogênio, con- taglandinas, a histamina, os neuro-
sequentemente plasmina e outras peptídios e o óxido nítrico, exercem
proteases, as quais ativam a cola- um efeito sobre o sistema vascular do
genase que irá digerir o colágeno folículo. Observa-se, então, um au-
presente na parede do folículo, o mento do fluxo sanguíneo intrafolicu-
que facilita a liberação do oócito. lar, além de um aumento na perme-
abilidade capilar. A rotura folicular se
O FSH e LH estimulam também a pro- acompanhar de eliminação do óvulo
dução e o depósito de ácido hialurô- e do líquido folicular para a cavidade
nico em volta do oócito e dentro da peritoneal. Pode haver uma irritação
coroa radiada, dispersam e separam local e, consequentemente, a dor ab-
o complexo cúmulo-oóforo da mem- dominal referida por algumas mulhe-
brana da granulosa. Sob ação sinér- res. Tão logo isso ocorra, o óvulo é
gica das prostaglandinas E e F e do apreendido pelas fímbrias tubárias, e
LH, acontece contração das células fica à mercê dos movimentos das tu-
musculares da parede folicular, já bas e do epitélio ciliar.

SAIBA MAIS!
Estudos ultrassonográficos realizados em mulheres demonstraram que a ovulação não ocor-
re em lados alternados, mas ocorre aleatoriamente em qualquer ovário (Baird, 1987).
CICLO MENSTRUAL 13

Fase Lútea Uma vez liberado o oócito, a estru-


tura dominante passa a se chamar
corpo lúteo. Antes da ruptura do fo-
lículo e liberação do óvulo, as células
da granulosa começam a aumentar
de tamanho e assumem um aspecto
caracteristicamente vacuolado, as-
sociado ao acúmulo de um pigmento
amarelado, a luteína.
O aumento na vascularização local
favorece o aporte do LDL-coleste-
rol, substrato importante na síntese
de progesterona. Sob influência de
CORPO
CORPO AL- fatores que induzem a angiogênese,
ESTÁGIO BICANTE
LÚTEO os capilares penetram na granulosa,
PÓS-LUTEAL
atingem a cavidade central e, usual-
Secreta
Atividade
hormônios
Nenhuma mente, preenchem-na com sangue.

Tamanho
O funcionamento lúteo normal re-
quer um desenvolvimento folicular
pré-ovulatório adequado, sobretu-
Ovócito Nenhum Nenhum do um estímulo apropriado de FSH e
um ininterrupto apoio tônico do LH,
Zona pelúcida* Nenhuma Nenhuma o que resulta em síntese e secreção
Células da
Convertidas
As células lúteas
adequada de estradiol e progestero-
granulosa
em células
degeneram na. Sabe-se da necessidade de es-
lúteas
trogênio para a síntese de receptores
Preenchido
Antro com células Nenhum
de progesterona no endométrio. O
migratórias estrogênio da fase lútea é necessário
Lâmina basal Desaparece para que ocorram as alterações indu-
Convertidas zidas pela progesterona no endomé-
As células lúteas
Teca em células
degeneram trio após a ovulação. Uma quantidade
lúteas
inadequada de receptores de proges-
Vascularização Aumenta Desaparece
terona pode levar a uma preparação
* A zona pelúcida é uma capa de glicoproteínas que
protege o ovócito inadequada do endométrio, e repre-
Tabela 2. Fase lútea. Adaptado de SILVERTHORN, sentar, portanto, uma possível causa
Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem inte- de abortamento precoce.
grada. 7. ed. Porto Alegre. 2017.
CICLO MENSTRUAL 14

A cada pulso de LH existe um aumen- luteólise. Como consequência, o cor-


to na concentração de progesterona. po lúteo entra em processo de dege-
A progesterona atua tanto central- neração. Caso ocorra gravidez, o hCG
mente quanto no interior do ovário, mantém o funcionamento lúteo até
na supressão de novos crescimentos que a esteroidogênese placentária se
foliculares. Estes pulsos de LH são estabeleça plenamente.
maiores no início da fase lútea e di- As fases de desenvolvimento folicular
minuem gradativamente até valores são abordadas na imagem seguinte:
baixos na fase lútea tardia, que favo-
rece a atuação de fatores que levam à

Figura 3. Anatomia ovariana e fases de desenvolvimento folicular. Fonte: Ginecologia de Williams, 2014.
CICLO MENSTRUAL 15

MAPA MENTAL: CICLO OVARIANO


Ciclo
ovariano

Fase Folicular Fase Ovulatória Fase Lútea

Dominação do corpo lúteo


Desenvolvimento folicular Ovulação a partir do pico de LH
após a liberação do oócito

Folículo primordial Recomeço da meiose

Folículo primário Luteinização

Folículo pré-antral Ovulação

Folículo antral

Folículo pré-ovulatório

(a) Fase folicular inicial (a) Fase folicular tardia e (a) Fase lútea inicial (a) Fase lútea tardia
Baixos níveis de estrogênio exercem ovulação A combinação de estrogênio O estrogênio e a progesterona
retroalimentação negativa sobre GnRH, o FSH Níveis elevados de estrogênio somados ao e progesterona inibe o FSH e decaem quando o corpo lúteo
e o LH. O estrogênio promove maior secreção nível crescente de progesterona causam o o LH. degenera. As gonadotrofinas
de estrogênio pelo folículo. O AMH previne pico de LH. O FSH é suprimido pela inibina. iniciam o desenvolvimento de
que mais folículos de desenvolvam. um novo ciclo.

Figura 4. Controle hor-


monal do ciclo mens-
trual. AMH - Hormônio
Antimulleriano. Fonte:
SILVERTHORN, Dee
Unglaub. Fisiologia hu-
mana: uma abordagem
integrada. 7. ed. Porto
Alegre. 2017.
CICLO MENSTRUAL 16

Ciclo Endometrial um sincício frouxo. As arteríolas es-


piraladas tornam-se finas. Todos os
Em um ciclo menstrual ovulatório
componentes tissulares demonstram
ocorrem alterações anatômicas e fun-
proliferação, com pico nos dias 8 a 10
cionais específicas nos componentes
do ciclo. Esta proliferação é marcada
glandulares, vasculares e estromais
por aumento da atividade mitótica.
do endométrio.
O ciclo endometrial pode ser dividido
O endométrio pode ser dividido, do
em três fases histológicas, determi-
ponto de vista morfológico, na ca-
nadas pelos diferentes estímulos dos
mada funcional, que compreende os
hormônios produzidos pelos ovários:
dois terços superiores, e na camada
endométrio menstrual, endométrio
basal, que compreende o terço infe-
proliferativo, endométrio secretor.
rior. A finalidade da camada funcional
é preparar-se para a implantação do O endométrio menstrual caracte-
embrião em fase de blastocisto. riza-se por uma ruptura irregular do
endométrio, que ocorre pela interrup-
ção da secreção das glândulas en-
SE LIGA! Na fase proliferativa do ciclo
menstrual, a produção aumentada de
dometriais na ausência de implanta-
estrógenos provoca a reconstrução e o ção embrionária. Esta sequência de
crescimento do endométrio. Na fase an- eventos ocorre devido ao término da
terior, a descamação menstrual provo- vida funcional do corpo lúteo, o que
cará a perda tecidual que será reconsti-
tuída nesta fase. ocasiona a redução da produção de
estrogênio e progesterona. A dimi-
nuição dos níveis desses hormônios
As glândulas representam a por- leva a reações vasomotoras, à perda
ção mais responsiva do endométrio decidual e à menstruação. Os espas-
à ação estrogênica. A princípio, elas mos vasculares levam à isquemia e à
são estreitas e tubulares, revestidas perda de tecido. Há também ruptura
por células de epitélio colunar baixo. de lisossomas e liberação de enzimas
Mitoses tornam-se proeminentes e proteolíticas que provocam destrui-
observa-se a pseudo-estratificação, ção local adicional de tecido.
as glândulas tornam-se alongadas e
Prostaglandinas são produzidas du-
um pouco tortuosas. Um revestimen-
rante todo o ciclo menstrual, mas
to epitelial contínuo é formado de face
apresentam maior concentração no
para a cavidade endometrial.
período menstrual. A PGF2alfa é um
O componente estromal evolui a par- potente vasoconstrictor que intensi-
tir de sua condição menstrual atra- fica os espasmos arteriolares, causa
vés de um breve período de edema isquemia adicional do endométrio e
para um estado final semelhante a
CICLO MENSTRUAL 17

leva à ocorrência de contrações mio- importantes para a fase seguinte do


metriais. Estas contrações podem endométrio, a fase secretora.
servir para expelir fisicamente o te- O endométrio secretor corresponde
cido endometrial que descama do à fase lútea no ovário. Caracteriza-se
útero. pela atuação da progesterona produ-
zida pelo corpo lúteo em contraposi-
SE LIGA! O fluxo menstrual é um resul- ção à ação estrogênica. As glândulas
tado dos efeitos combinados da vaso- endometriais se encontram em pro-
constricção prolongada, colapso tecidu-
cesso progressivo de dilatação, tor-
al, estase vascular e reparação induzida
pela ação estrogênica. A camada basal nando-se cada vez mais tortuosas.
do endométrio permanece intacta, e O estroma é edemaciado. Os vasos
pode assim iniciar a reparação da cama- sanguíneos apresentam-se espira-
da funcional.
lados. As células das glândulas en-
dometriais formam vacúolos carac-
O endométrio proliferativo corres- terísticos, contendo glicogênio. No
ponde à fase folicular no ovário. Após início, estes vacúolos aparecem sob o
três a quatro dias de menstruação, o núcleo e depois seguem em direção
endométrio inicia sua regeneração, à luz glandular. O estroma permane-
e cresce rapidamente em respos- ce inalterado até o sétimo dia após
ta ao estímulo estrogênico. No início, a ovulação, quando se inicia edema
as glândulas endometriais são pe- progressivo do tecido. Nesse mes-
quenas, tubulares e curtas. No final mo período, a atividade secretora das
desta fase, tornam-se alongadas e glândulas costuma ser máxima e o
tortuosas. O estroma é denso. Outra endométrio já se encontra preparado
característica importante é o aumen- para a implantação do blastocisto.
to das células ciliadas e microvilosas,

SAIBA MAIS!
A expressão de receptores de estrogênio e progesterona também varia durante o ciclo mens-
trual. A concentração de Receptores de Estrogênio é alta na fase proliferativa e diminui após
a ovulação, o que reflete a ação supressiva da progesterona sobre estes receptores. A con-
centração de Receptores de Progesterona é máxima durante a fase ovulatória, o que reflete
a indução desses receptores pelo estradiol. Eles reduzem muito nas glândulas na fase lútea,
mas continuam presentes no estroma.
CICLO MENSTRUAL 18

MAPA MENTAL: CICLO ENDOMETRIAL

Ciclo
Endometrial

Endométrio Menstrual Endométrio Proliferativo Endométrio Secretor

Descamação irregular do
Regeneração do endométrio Preparação para que o embrião
endométrio devido a redução de
após a descamação possa se implantar.
estrógeno e progesterona

A imagem abaixo resume as fa- endometrial, controlado pelos hormô-


ses do ciclo ovariano ocorren- nios gonadotróficos:
do em concomitância com o ciclo

Figura 5. Controle
gonadotrófico dos ciclos
ovariano e endometrial.
Fonte: Ginecologia de
Williams, 2014
CICLO MENSTRUAL 19

MAPA MENTAL GERAL


Gerados durante a vida fetal Oócitos suspensos na 1ª
divisão meiótica Ausência de Interrupção
Folículo primordial Avasculares implantação Ruptura
da secreção
Células granulosas achatadas embrionária das glândulas irregular do
endometriais endométrio
Folículo primário Células da granulosa cuboides e + numerosas Redução da pro-
dução de estrogênio
Diferenciação da teca interna e teca externa e progesterona
Folículo pré-antral Isquemia
Células da granulosa tornam- adicional do
Aumento significativo no se cuboidais e apresentam-se Maior
Antral número de células da granulosa em várias camadas Vasoconstricção endométrio e
produção de
São capazes de prostaglandinas leva à ocorrência
Cavidade Rico Aumento na produção de contrações
cheia de em do líquido folicular Mais sintetizar todas as três
estrogê- classes de esteroides miometriais
líquido estrogênios Endométrio
nios Células da granulosa Corresponde à
produzi- tornam-se maiores Células da teca e da granulosa Menstrual Atuação da
Possui a dos pelas fase lútea
maior taxa de são convertidas em células lúteas progesterona no ovário
células Células da teca ricamente produzida pelo
proliferação da vascularizadas
da granulosa granu- Aumento da secreção de Inibem FSH e corpo lúteo em Glândulas
losa Produz quantidades cada estrogênio, progesterona e inibina LH contraposição à endometriais
Pré-ovulatório vez maiores de estrogênio ação estrogênica → progressivo
Diminuição da
Ocorre do primeiro dia da Fase Lútea tardia secreção de estrogênio e de dilatação,
Primeira fase do
ciclo menstrual menstruação até o dia do pico de LH Fase Lútea progesterona Atividade tornando-se
secretora cada vez mais
Dura cerca de 10 a 14 dias máxima tortuosas
Ciclo ovariano Fisiologia Ciclo endometrial
Fase Folicular Vasos sanguíneos
apresentam-se espiralados
Aumento acelerado do Endométrio Secretor
32 a 36H nível de estrogênio Fase Ovulatória
antes da
ovulação Endométrio Proliferativo
Pico do LH Recomeço da Meiose
Corresponde à fase
folicular no ovário
Onda de FSH Aumento da Luteinização Primeiro dia da
e LH progesterona Regulação
menstruação = O endométrio cresce rapidamente
endócrina em resposta ao estímulo estrogênico
12 a 24 Prostaglan- primeiro dia do ciclo
dinas + LH Ovulação
H antes da Há aumento das células
ovulação ciliadas e microvilosas
GnRH Hipotálamo
Contração das células Duração aprox. Glândulas endometriais são Início
musculares da parede folicular FSH e LH Hipófise 28 dias. pequenas, tubulares e curtas
Estrogênio, progesterona, estrona, Glândulas endometriais tornam-se
Ovários alongadas e tortuosas Final
androstenediona e 17a−hidroxiprogesterona
CICLO MENSTRUAL 20

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Hoffman et al. Ginecologia de Williams. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
CAMARGOS, Aroldo Fernando; MELO, Victor Hugo de. Ginecologia ambulatorial. 2.ed.
Belo Horizonte: Coopmed, 2008.
SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Por-
to Alegre. 2017.
CICLO MENSTRUAL 21

Você também pode gostar