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DIREITO AMBIENTAL

Princípios norteadores do Direito Ambiental

Características

podem estar expressos ou implícitos no texto constitucional

são princípios setoriais

colaboram na concretização do meio ambiente ecologicamente equilibrado (princípio constitucional


geral)

Quais são eles:

a) Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental;

b) Solidariedade intergeracional;

c) Natureza pública da proteção ambiental;

d) Desenvolvimento sustentável;

e) Poluidor pagador;

f) Usuário pagador;

g) Prevenção e precaução;
h) Participação;

i) Ubiquidade ou transversalidade;

j) Cooperação internacional;

k) Função socioambiental da propriedade.

Vamos a eles:

Princípio do Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental

O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio é decorrência do direito à vida, quer sob o
enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade
dessa existência humana.

Princípio da solidariedade intergeracional (entre gerações)

Busca assegurar a solidariedade da presente geração em relação às futuras, para que também estas
possam usufruir, de forma saudável, dos recursos naturais.

Este princípio está previsto no Princípio 2 da Declaração de Estocolmo e no Princípio 3 da ECO-92.

O Novo Código Florestal expressou este princípio no inciso II, do art. 1º-A.

Princípio da Natureza pública da proteção ambiental (art. 225, caput, da CF/88)


Esse princípio mantém estreita correlação com o princípio geral, de direito público, da primazia do
interesse público sobre o particular, e também, com o princípio do direito administrativo da
indisponibilidade do interesse público.

Decorre da previsão constitucional que consagra o meio ambiente ecologicamente equilibrado como
bem de uso comum do povo incumbindo ao Poder Público e à sociedade sua preservação e sua
proteção.

Princípio do desenvolvimento sustentável

Os recursos ambientais são finitos, tornando-se inadmissível que as atividades econômicas se


desenvolvam alheias a essa realidade. O se busca é a harmonização entre o postulado do
desenvolvimento econômico, algo pretendido por todos nós, e a preservação do meio ambiente.

A própria CF/88 em seu art. 170, VI, estabelece que a ordem econômica também tem como fundamento
a defesa e preservação do meio ambiente.

Princípio do poluidor pagador

Trata-se de importantíssimo princípio, pois reflete um dos fundamentos da responsabilidade civil em


matéria ambiental.

Muitas vezes incompreendido, ele não demarca a de poluir mediante o pagamento de posterior
indenização (como se fosse uma contraprestação). Ao contrário: reforça o comando normativo no
sentido de que aquele que polui deve ser responsabilizado pelo seu ato.

Assim sendo, esse princípio deve ser compreendido como um mandamento para que o potencial
causador de danos ambientais preventivamente arque com os custos relativos à compra de
equipamentos de alta tecnologia para prevenir a ocorrência de danos. Trata-se da internalização de
custos.
Princípio usuário pagador

Complementar ao princípio anterior. Busca-se evitar que o “custo zero” dos serviços e recursos naturais
acabe por conduzir o sistema de marcado a uma exploração desenfreada do meio ambiente.

Princípio prevenção

É um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental, sendo seu objetivo fundamental. Foi lançado
à categoria de mega princípio do direito ambiental, constando como princípio nº 15 da ECO-92. O
princípio da prevenção relaciona-se com o perigo concreto de um dano, ou seja, sabe-se que não se
deve esperar que ele aconteça, fazendo-se necessário, portanto, a adoção de medidas capazes de evitá-
lo.

Princípio precaução

Trata-se do perigo abstrato, ou seja, há mero risco, não se sabendo exatamente se o dano ocorrerá ou
não. É a incerteza científica, a dúvida, se vai acontecer ou não. Foi proposto na conferência Rio 92 com a
seguinte definição:

“O Princípio da precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do
conhecimento, não podem ser ainda identificados.”

Princípio participação (informação e educação ambientais)– audiências públicas

Previsão no art. 225, § 1º, VI, da CF/88. O cidadão não depende apenas de seus representantes políticos
para participar da gestão do meio ambiente. O cidadão tem atuação ativa no que toca a preservação do
meio ambiente. Tem ele o direito de ser informado e educado (o que é dever do Poder Público) para
que, assim, possa interferir ativamente na gestão ambiental, sendo que isso se concretiza por
intermédio, por exemplo, nas audiências públicas.
Princípio ubiquidade ou transversalidade

Visa demonstrar qual é o objeto de proteção do meio ambiente quando tratamos dos direitos humanos,
pois toda atividade, legiferante ou política, sobre qualquer tema ou obra, deve levar em conta a
preservação da vida e principalmente, a sua qualidade. Esse princípio dispõe que o objeto de proteção
do meio ambiente, localizado no epicentro dos direito humanos, deve ser levado em consideração toda
vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra, etc., tiver que ser criada.

Princípio cooperação internacional

Trata-se do esforço conjunto empreendido pela “aldeia global” na busca pela preservação do meio
ambiente numa escala mundial.

O inc. IV, do art. 1º - A, do Novo Código Florestal, em atenção a este princípio, consagra o compromisso
do Brasil com o modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável, com vistas a conciliar o uso
produtivo da terra e a contribuição de serviços coletivos das flores e demais formas de vegetação nativa
provadas.

Princípio função socioambiental da propriedade

Art. 186, II, da CF/88. O uso da propriedade será condicionado ao bem estar social. Ainda o legislador
previu, como condição para o cumprimento da função social da propriedade rural, a utilização adequada
dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente.

MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Conceito de meio ambiente

A expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada pela primeira vez pelo naturalista francês
Geoffrey de Saint-Hilaire em sua obra Études progressives d´un naturaliste, de 1835, onde milieu
significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e ambiance designa o que rodeia esse ser.

Há uma grande discussão em torno da redundância do termo meio ambiente, por conter duas palavras
com significados similares, como observa Vladimir Passos de Freitas (2001, p. 17):

A expressão meio ambiente, adotada no Brasil, é criticada pelos estudiosos, porque meio e ambiente, no
sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo, tal emprego importaria em redundância. Na Itália e
em Portugal usa-se, apenas, a palavra ambiente.

Gastão Octávio da Luz (2007, on line), doutor em meio ambiente e desenvolvimento, analisando
dicionários e enciclopédias de várias épocas, constata que o material fornecido pelos autores tende a
promover a sinonímia entre meio e ambiente. Dessa forma, enquanto conceitos, os verbetes perdem
seu valor objetivo e, quanto à representação conceitual, poderiam ser ditos como sendo confusos e
obscuros.

Conforme Luiz Carlos Aceti Júnior (2007, on line), o Novo Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio define
meio como lugar onde se vive, com suas características e condicionamentos geofísicos; ambiente; esfera
social ou profissional onde se vive ou trabalha, e ambiente como o conjunto de condições naturais e de
influências que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos.

O professor venezuelano José Moyá (2007, on line), já na época da Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, no Rio de Janeiro em 1992 (Rio 92), chegou a alardear que “meio ambiente não
existe”, e que o que existe “é um todo global e integrado, cujos elementos se combinam
interdependentemente, formando uma unidade indissolúvel” que deve então ser denominado apenas
de ambiente.

Por outro lado, os defensores do termo afirmam que esta questão não passa de um problema de
semântica. Também existe uma forte tendência na manutenção do vocábulo, pois o termo já é
popularmente difundido como sendo a designação para os assuntos da natureza, e também que vários
organismos internacionais, nacionais, estaduais e municipais já incorporaram o termo às suas siglas,
como é o caso do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Ministérios de Meio
Ambiente e Secretarias de Meio Ambiente.

No mesmo sentido é o entendimento do mestre ambientalista Edis Milaré (2001, p. 63):

Tanto a palavra meio quanto o vocábulo ambiente passam por conotações, quer na linguagem científica
quer na vulgar. Nenhum destes termos é unívoco (detentor de um significado único), mas ambos são
equívocos (mesma palavra com significados diferentes). Meio pode significar: aritmeticamente, a
metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou insumo para se alcançar ou
produzir algo. Já ambiente pode representar um espaço geográfico ou social, físico ou psicológico,
natural ou artificial. Não chega, pois, a ser redundante a expressão meio ambiente, embora no sentido
vulgar a palavra identifique o lugar, o sítio, o recinto, o espaço que envolve os seres vivos e as coisas. De
qualquer forma, trata-se de expressão consagrada na língua portuguesa, pacificamente usada pela
doutrina, lei e jurisprudência de nosso país, que, amiúde, falam em meio ambiente, em vez de ambiente
apenas.

Lato sensu, meio ambiente é o conjunto de fatores exteriores que agem de forma permanente sobre os
seres vivos, aos quais os organismos devem se adaptar e com os quais têm de interagir para sobreviver.

No âmbito jurídico, é difícil definir meio ambiente, pois como bem lembra Edis Milaré (2003, p. 165), “o
meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído que
definível, em virtude da riqueza e complexidade do que encerra”.

No Brasil, o conceito legal de meio ambiente encontra-se disposto no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/81, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que diz que meio ambiente é “o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas”.

Trata-se de um conceito restrito ao meio ambiente natural, sendo inadequado, pois não abrange de
maneira ampla todos os bens jurídicos protegidos.

Conforme a lição de José Afonso da Silva (2004, p. 20), o conceito de meio ambiente deve ser
globalizante, “abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais
correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio
histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico”.

Dessa forma, o conceito de meio ambiente compreende três aspectos, quais sejam: Meio ambiente
natural, ou físico, constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora; enfim, pela interação dos seres
vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre as espécies e as relações destas com o
ambiente físico que ocupam; Meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano construído; Meio
ambiente cultural, integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico,
que, embora artificial, difere do anterior pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se
impregnou (SILVA, 2004, p. 21).

Temos ainda o Meio ambiente do trabalho, previsto no art. 200, VIII, da Constituição Federal de 1988, ou
seja, “o conjunto de fatores físicos, climáticos ou qualquer outro que interligados, ou não, estão
presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa” (SANTOS, on line).

Tal conceito de meio ambiente foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, que em seu art. 225
buscou tutelar não só o meio ambiente natural, mas também o artificial, o cultural e o do trabalho.

Com isso, conclui-se que a definição de meio ambiente é ampla, devendo-se observar que o legislador
optou por trazer um conceito jurídico indeterminado, cabendo, dessa forma, ao intérprete o
preenchimento do seu conteúdo.

2 Legislação ambiental brasileira

A legislação brasileira que diz respeito à defesa do meio ambiente é composta por numerosas leis
esparsas. Algumas são recentes, outras já existem há décadas.

O Código Civil de 1916 em seu art. 554 diz que “o proprietário, ou inquilino de um prédio tem o direito
de impedir que o mau uso da propriedade vizinha possa prejudicar a segurança, o sossego e a saúde dos
que o habitam”. De acordo com José Afonso da Silva (2004, p. 35), esse dispositivo serviu “para
fundamentar a ação cominatória visando a impedir a contaminação do meio ambiente por parte de
indústrias”.

Mais importante é o art. 584 do mesmo Código Civil, que diz que “são proibidas construções capazes de
poluir, ou inutilizar para o uso ordinário, a água de poço ou fonte alheia, a elas preexistente”.

Em seguida veio o Regulamento da Saúde Pública (Dec. nº. 16.300/23), que previu a possibilidade de
impedir que as indústrias prejudicassem a saúde dos moradores de sua vizinhança, possibilitando o
afastamento das indústrias nocivas ou incômodas.
A partir da década de 30 começaram a surgir as primeiras leis de proteção ambiental específicas como,
por exemplo, o Código Florestal (Dec. nº. 23.793/34), substituído posteriormente pela atual Lei Federal
nº. 4.771/65, o Código das Águas (Dec. nº. 24.643/34), assim como o Código de Caça e o de Mineração.
A Lei de Proteção da Fauna (Dec. nº. 24.645/34) estabelece medidas de proteção aos animais, e o Dec.
nº. 25/37 organizou a proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Na década de 60, foi editada importante legislação sobre temas ambientais, como o Estatuto da Terra
(Lei nº. 4.504/64), o novo Código Florestal (Lei nº. 4.771/65), a nova Lei de Proteção da Fauna (Lei nº.
5.197/67), a Política Nacional do Saneamento Básico (Dec. nº. 248/67) e a criação do Conselho Nacional
de Controle da Poluição Ambiental (Dec. nº. 303/67).

A participação brasileira na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em
Estocolmo em 1972, foi muito importante, despertando as autoridades para intensificação do processo
legislativo, na busca da proteção e preservação do meio ambiente. Já no ano seguinte, através do Dec.
nº. 73.030/73, art. 1º, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), “orientada para a
conservação do meio ambiente e uso racional dos recursos naturais”. As competências outorgadas à
SEMA lhe deram condições de administrar os assuntos pertinentes ao meio ambiente de uma forma
integrada, por vários instrumentos, inclusive influenciando nas normas de financiamento e na concessão
de incentivos fiscais.

Foi na década de 80 que a legislação ambiental teve maior impulso. O ordenamento jurídico, até então,
tinha o objetivo de proteção econômica, e não ambiental. São quatro os marcos legislativos mais
importantes: a Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e
mecanismos de formulação e aplicação; a Lei nº. 7.347/85, que disciplina a ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente; a Constituição Federal de 1988, que abriu
espaços à participação/atuação da população na preservação e na defesa ambiental, impondo à
coletividade o dever de defender o meio ambiente (art. 225, caput) e colocando como direito
fundamental de todos os cidadãos brasileiros a proteção ambiental determinada no art. 5º, LXXIII (Ação
Popular); finalmente, a Lei nº. 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

3 Tutela constitucional do meio ambiente

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a tratar do meio ambiente. Anteriormente a sua
promulgação, o tema estava abordado somente de forma indireta, mencionado em normas
hierarquicamente inferiores.

Edis Milaré (2005, p. 183) registra:

A Constituição do Império, de 1824, não fez qualquer referência à matéria, apenas cuidando da proibição
de indústrias contrárias à saúde do cidadão (art. 179, n. 24). Sem embargo, a medida já traduzia certo
avanço no contexto da época. O Texto Republicano de 1891 atribuía competência legislativa à União para
legislar sobre as suas minas e terras (art. 34, n. 29). A Constituição de 1934 dispensou proteção às
belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural (arts. 10, III, e 148); conferiu à União
competência em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua
exploração (art. 5º, XIX, j). A Carta de 1937 também se preocupou com a proteção dos monumentos
históricos, artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza
(art. 134); incluiu entre as matérias de competência da União legislar sobre minas, águas, florestas, caça,
pesca e sua exploração (art. 16, XIV); cuidou ainda da competência legislativa sobre subsolo, águas e
florestas no art. 18, ‘a’ e ‘e’, onde igualmente tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias
e agentes nocivos.

A Constituição de 1967 insistiu na necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e


paisagístico (art. 172, parágrafo único); disse ser atribuição da União legislar sobre normas gerais de
defesa da saúde, sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas (art. 8º, XVII, ‘h’). A Carta de 1969, emenda
outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da defesa do patrimônio histórico,
cultural e paisagístico (art. 180, parágrafo único). No tocante à divisão de competência, manteve as
disposições da Constituição emendada. Em seu art. 172, disse que ‘a lei regulará, mediante prévio
levantamento ecológico, o aproveitamento agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades’ e que
o ‘mau uso da terra impedirá o proprietário de receber incentivos e auxílio do Governo’. Cabe observar a
introdução, aqui, do vocábulo ecológico em textos legais.

A partir da Constituição Federal de 1988 o meio ambiente passou a ser tido como um bem tutelado
juridicamente. Como bem coloca José Afonso da Silva (2004, p. 46), “a Constituição de 1988 foi,
portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental”, trazendo mecanismos para sua
proteção e controle, sendo tratada por alguns como “Constituição Verde”.

A matéria é tratada em diversos títulos e capítulos. O Título VIII (Da Ordem Social), em seu Capítulo VI,
no art. 225, caput, diz que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (grifo nosso).
Dessa forma, o Direito Constitucional brasileiro criou uma nova categoria de bem: o bem ambiental,
portanto, um bem de uso comum do povo, e, ainda, um bem essencial à sadia qualidade de vida.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2003, p. 545) leciona que “consideram-se bens de uso comum do povo
aqueles que, por determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por todos em
igualdade de condições”.

Ou seja, são aqueles de que o povo se utiliza, sem restrição, gratuita ou onerosamente, sem necessidade
de permissão especial. “Não cabe, portanto, exclusivamente a uma pessoa ou grupo, tampouco se
atribui a quem quer que seja sua titularidade” (FIORILLO, 2007, p. 67).

Assim, nenhum de nós tem o direito de causar danos ao meio ambiente, pois estaríamos agredindo a um
bem de todos, causando, portanto, danos não só a nós mesmos, mas aos nossos semelhantes.

No tocante à sadia qualidade de vida, Paulo Affonso Leme Machado (2006, p. 120) observa que “só pode
ser conseguida e mantida se o meio ambiente estiver ecologicamente equilibrado. Ter uma sadia
qualidade de vida é ter um meio ambiente não poluído”.

O equilíbrio ecológico “é o equilíbrio da natureza; estado em que as populações relativas de espécies


diferentes permanecem mais ou menos constantes, mediadas pelas interações das diferentes espécies”
(ART, 1998, p. 194).

O meio ambiente oferece aos seres vivos as condições essenciais para a sua sobrevivência e evolução.
Essas condições, por sua vez, influem sobre a saúde humana podendo causar graves conseqüências para
a qualidade de vida e para o desenvolvimento dos indivíduos. Para o Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira (2000, p. 15), “a degradação ambiental coloca em risco direto a vida e a saúde das pessoas,
individual e coletivamente consideradas, bem como a própria perpetuação da espécie humana”. Daí a
importância de termos um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (PNMA) – LEI Nº 6.938/81

1. Conceito:

A PNMA vem disciplinada pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 e foi recepcionada pela
Constituição Federal de 1988. É a referência mais importante na proteção ambiental. Ela dá efetividade
ao artigo Constitucional 225. O Direito que está preceituado neste artigo é referente ao meio ambiente
equilibrado simultaneamente ao dever de responsabilidade, quando uma atividade gerar dano
ambiental. Portanto, esse dispositivo Constitucional, regulador do meio ambiente, determina o não uso
indiscriminado de determinado bem, quando sua utilização colocar em risco o equilíbrio ambiental.

A ação governamental objetiva a manutenção do equilíbrio ecológico, sendo certo que o meio ambiente
é um patrimônio público de uso coletivo e deve ser necessariamente protegido. Por isso é que a
preservação, a recuperação e a revitalização do meio ambiente há de constituir uma preocupação do
Poder Público e, consequentemente, do Direito, porque ele forma a ambiência na qual se move,
desenvolve, atua e expande a vida humana.

O objetivo da PNMA é de regulamentar as várias atividades que envolvam o meio ambiente, para que
haja preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, tornando favorável a vida,
assegurando à população condições propícias para seu desenvolvimento social e econômico. Esses
objetivos para serem atingidos, devem ser orientados por princípios, fundamentais na busca da proteção
ambiental, conforme descrito a seguir.

2. Objetivo:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo tornar efetivo o direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, como prevê o princípio matriz contido no caputdo art. 225 da
Constituição Federal. E por meio ambiente ecologicamente equilibrado se entende a qualidade
ambiental propícia à vida das presentes e das futuras gerações.

Além disso, viabilizar a compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com a utilização racional


dos recursos ambientais, fazendo com que a exploração do meio ambiente ocorra em condições
propícias à vida e à qualidade de vida.

Na verdade, a Política Nacional do Meio Ambiente possui objetivo geral e objetivos específicos, estando
o primeiro previsto no caput do art. 2º da Lei nº 6.938/81. Dizendo que Política Nacional do Meio
Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propicia à
vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

Dessa maneira, o objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente está dividido em preservação,
melhoramento e recuperação do meio ambiente. Preservar é procurar manter o estado natural dos
recursos naturais impedindo a intervenção dos seres humanos. Significa perenizar, perpetua, deixar
intocados os recursos ambientais. Melhorar é fazer com que a qualidade ambiental se torne
progressivamente melhor por meio da intervenção humana, realizando o manejo adequado das espécies
animais e vegetais e dos outros recursos ambientais. É a atribuição ao meio ambiente de condições
melhores do que ele apresenta. Recuperar é buscar o status quo ante de uma área degradada por meio
da intervenção humana, a fim de fazer com que ela volte a ter as características ambientais de antes. A
recuperação é o objetivo mais difícil, em alguns casos até impossível, de ser alcançado, tendo em vista as
características próprias do dano ambiental.

Por sua vez, os objetivos específicos estão disciplinados pela lei em questão de uma forma bastante
ampla no art. 4º da Lei em comento:

Art. 4º – A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I – à compatibilizacao do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio


ambiente e do equilíbrio ecológico;

II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico,


atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e


manejo de recursos ambientais;
IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnológicas nacionais orientadas para o uso racional de
recursos ambientais;

V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações


ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à utilização racional e


disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propicio à vida;

VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados, e ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

Tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos conduzem à concepção de que a Política Nacional
do Meio Ambiente, ao tentar harmonizar a defesa do meio ambiente com o desenvolvimento econômico
e com a justiça social, tem como primeira finalidade maior a promoção do desenvolvimento sustentável
e como última finalidade maior a efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana.

3. Instrumentos:

Os Instrumentos da PNMA, estão elencados no artigo 9º da Lei n.º 6.938/81. São mecanismos utilizados
pela Administração Pública para que os objetivos da política nacional sejam alcançados. Foram
estabelecidos por meio de Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente mencionados no artigo 9º da Lei n.º 6.938/81 e
definidos nas Resoluções do CONAMA, é importante discorrer com mais detalhes sobre os Padrões de
Qualidade, o Zoneamento Ambiental, a Avaliação de Impacto Ambiental, Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental, o Licenciamento Ambiental e a Auditoria Ambiental, em que se pese não estar prevista na
Política Nacional, é instrumento de aferição financeira em relação ao controle ambiental.

3.1. Padrões de qualidade ambiental


Entre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, estão os Padrões de Qualidade Ambiental
(artigo 9º, I), que envolve a gestão dos componentes do meio ambiente, que são a qualidade do ar, das
águas e dos padrões de ruído. Veremos:

A Resolução do CONAMA n.º 5 de 1989, criou o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar


(PRONAR), que estabelece os limites de poluentes no ar atmosférico, para proteção à saúde. A Resolução
n.º 3 de 1990 define poluente como qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em
quantidade de concentração que possam afetar a saúde.

Em relação às águas, a Resolução n.º 357 de 2005, classifica as águas em: doce, salgada e salina. Esta
classificação tem por objetivo dar destinação ao uso da água fixando os critérios de uso, que são
estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Quanto à qualidade dos ruídos, a Resolução
n.º 1 de 1990 do CONAMA, deu validade à NBR n.º 10.152 da ABNT, que avalia a intensidade dos ruídos
em áreas habitadas, onde deverá ser obedecido o interesse à saúde e ao sossego público.

3.2. Zoneamento ambiental

A intervenção estatal no domínio econômico procura organizar a relação espaço-produção, regulando


recursos, interferindo nas atividades, incentivando condutas, para possibilitar o uso ordenado do
território. O zoneamento ambiental (artigo 9º, II), é fonte vigorosa do Poder Estatal.

Assim o define José Afonso da Silva: “O zoneamento é instrumento jurídico de ordenação do uso e
ocupação do solo. Em um primeiro sentido o zoneamento consiste na repartição do território municipal
à vista da destinação da terra e do uso do solo, definindo, no primeiro caso, a qualificação do solo em
urbano, de expansão urbana, urbanizável e rural; e no segundo dividindo o território do Município em
zonas de uso. Foi sempre considerado, nesta segunda acepção, como um dos principais instrumentos do
planejamento urbanístico municipal, configurando um Plano Urbanístico Especial. Foi neste último
sentido, mais tipicamente de Zoneamento Urbano, que o definimos, de outra feita, como um
procedimento urbanístico destinado a fixar os usos adequados para as diversas áreas do solo municipal.”

O zoneamento ambiental, também é previsto no Estatuto das Cidades, Lei n.º 10.257/01, artigo 4º, inciso
III, alínea c, com a finalidade de contribuir com a sustentabilidade dos municípios, desde que seja
utilizado com eficácia, buscando a ordenação do uso do solo, evitando seu uso inadequado e impedindo
a poluição e degradação das áreas de relevância para o Meio Ambiente.

No artigo 30 da Constituição Federal de 1988, consta que, cabe ao Município promover o adequado
ordenamento territorial exercendo a tarefa quanto ao uso e ocupação do solo. Desta forma, há ainda,
outro instrumento para sua utilização que é o Plano Diretor (artigo 182, parágrafos 1º e 2º da C. F.), que
consiste em lei municipal de diretrizes de ocupação da cidade, onde deve constar segundo suas
características físicas e vocações, as regras básicas que determinem o que é permitido e o que não é em
cada parte de seu território. É processo de discussão entre a sociedade e a Prefeitura, devendo ser
aprovado pela Câmara dos Vereadores e sancionado pelo prefeito.

3.3. Avaliação de impactos ambientais (A. I. A.)

Como instrumento da PNMA, o AIA tem caráter preventivo para assegurar que um determinado projeto,
possível de causar danos ambientais seja analisado, levando-se em consideração as probabilidades de
causar impactos ao meio ambiente e que o potencial dano seja levado em consideração para o processo
de aprovação de licença ambiental. Os procedimentos devem garantir a adoção de medidas de proteção
em caso de aprovação para implantação do empreendimento.

Muitos projetos são propostos para ambientes com diversidades que compõem vários significados para
pessoas e realidades as mais diversas. Neste sentido é necessário que haja uma avaliação prévia das
condições deste ambiente, principalmente para determinar quais os impactos ambientais que o
empreendimento irá causar. Cada área possui suas características próprias, sendo necessário verificar as
condições do ambiente natural, ainda avaliar o ambiente social em sua estrutura material constituída
pelo homem e pelos sistemas sociais em seu redor.

Para haver desenvolvimento socioeconômico e qualidade de vida é necessário avaliar, planejar e ainda,
obrigar-se à manutenção do ambiente que será utilizado por determinado empreendimento.

Avaliação de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental previstos no artigo 9º, inciso III,
estão definidos na Resolução CONAMA n.º 237, artigo 1º, inciso III:

“Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: [...]
III. Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à
localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como
subsídio para a análise de licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle
ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de
recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.[...]

Art. 3º A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente


causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e
respectivo relatório deimpacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade,
garantida a realização de audiências públicas, quandocouber, de acordo com a regulamentação”.

Esta avaliação tem por escopo verificar preliminarmente por meio de estudo técnico, a probabilidade de
existência de algum risco potencialmente degradante ao Meio Ambiente, o que poderá impedir ou
estabelecer novas regras ao empreendimento que se pretende viabilizar.

3.4. Estudo de impacto ambiental (EIA) e relatório de impacto ambiental (RIMA)

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi instituído dentro da Política Nacional do Meio Ambiente, por
meio da Resolução CONAMA, n.º 001/86 de 23 de janeiro de 1986. É documento técnico, onde são
avaliadas as consequências para o ambiente decorrentes de um determinado projeto. Nele encontram-
se identificados e avaliados de forma imparcial e técnica os impactos que um determinado projeto
poderá causar no ambiente, assim como apresentar medidas para minimizar os possíveis impactos.

O objetivo de se estudar os impactos é o de avaliar as consequências das ações, para prevenir danos que
o ambiente poderia sofrer devido à execução dos projetos. Está previsto no artigo 225, § 1º, inciso IV da
Constituição Federal.

Deve atender ao que exige a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que estão elencados no artigo
5º da Resolução CONAMA n.º 001/86:

“Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender a legislação, em especial os princípios e


objetivos expressos da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá as seguintes diretrizes
gerais:

I – Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a


hipótese de não execução do projeto;

II – Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e


operação da atividade;

III – Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos,
denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual
se localiza;

IV – Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de


influência do projeto, e sua compatibilidade.”

Havendo qualquer interesse peculiar local, o Poder Público poderá complementar com as questões
pertinentes. O estudo exige ainda, visão multidisciplinar, com a finalidade de avaliar todos os aspectos
que envolvam a ação.

Como modalidade de avaliação ambiental o EIA é considerado um dos mais notáveis instrumentos de
desenvolvimento econômico-social, com a preservação da qualidade ambiental.

Trata-se de um procedimento complexo que deve se tornar público e envolve vários entes, entre eles, o
órgão público ambiental, o empreendedor que pretende exercer a atividade ou obra, a equipe técnica
multidisciplinar e os interessados, que são as entidades ambientalistas, eventuais vítimas, enfim,
qualquer cidadão.

Todas essas exigências para o EIA, são de suma importância e devem fazer parte do Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), para que não sejam levantadas possíveis nulidades.
O RIMA deverá ser divulgado, apresentando as conclusões para que sejam discutidas junto à população
em audiência pública, que permite o esclarecimento de dúvidas e a apresentação de opiniões da
sociedade, principalmente as pessoas do lugar afetado pelo empreendimento.

A partir desse momento, o órgão ambiental fará sua manifestação a respeito da atividade e de suas
implicações, positivas ou não, e logo a seguir tomará a decisão da emissão ou não da licença ambiental.

É necessário ressaltar que esse instrumento tem como princípios o da prevenção e da precaução, não
tendo por finalidade impedir o desenvolvimento de atividades econômicas e sociais, mas adequar o
crescimento à preservação ambiental. Assim, é relevante sua importância, pois requer atuação conjunta
do Poder Público, da sociedade e da comunidade científica, com a finalidade de se harmonizarem em um
objetivo comum, o de impulsionar o desenvolvimento social e econômico à preservação do meio
ambiente.

É necessário dizer que o deferimento da licença ambiental, será possível mesmo que o EIA seja
desfavorável. Fica caracterizada, com esta possibilidade, a discricionariedade da administração pública
para conceder ou não a licença ambiental. Neste caso, havendo algum dano ao meio ambiente, e, no
entanto, se a atividade contribui para o desenvolvimento socioeconômico, é possível que o Poder
Público autorize a atividade, desde que fundamente sua decisão.

A Administração Pública ao conceder uma licença ambiental, mesmo diante de pontos desfavoráveis
apontados pelo EIA, não poderá deixar de considerar os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência que a norteiam e, ainda, a responsabilidade objetiva pelos danos
que sua decisão vier a causar.

3.5. Licenciamento ambiental

O Licenciamento Ambiental já havia sido previsto na Lei n.º 6.938/81, em seu artigo 9º, inciso IV, como
um dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. A Resolução CONAMA 237/97, definiu que
o órgão do SISNAMA é que verificará quando da necessidade das licenças ambientais específicas de
acordo com a natureza, características e peculiaridades das atividades ou empreendimentos a serem
realizados, que tenham potencial para interferir no meio ambiente.
A própria Resolução n.º 237/97, traz em seu texto a definição de Licenciamento Ambiental:

“Art. 1º - Para efeitos desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I – Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual ao órgão ambiental compete


licença e localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadora de
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulares e as normas
técnicas aplicáveis ao caso”.

O texto Constitucional brasileiro outorga o exercício livre de atividades econômicas, logo o Poder Público
deverá intervir quando embasado por lei que determine essa intervenção, pois, a atividade econômica
não poderá ser simplesmente cerceada. Quando se entrelaçam, desenvolvimento econômico e meio
ambiente deve haver a intervenção, tendo em vista todo o estudo e a constatação de que o meio
ambiente não é um bem inesgotável, é passível de ser exaurido. Esta verdade absoluta é vislumbrada por
quase todo o mundo.

O Licenciamento Ambiental é ato complexo que envolve vários agentes e deve ser precedido do
EIA/RIMA, que constatará a significância do impacto que será causado pelo empreendimento.

Na Resolução CONAMA, constam os tipos de Licenças Ambientais, que são: Licença Prévia (LP), Licença
de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).

Estabelece ainda, que os estudos necessários ao processo de licenciamento, deverão ser realizados por
profissionais habilitados. As despesas que envolvam os procedimentos ficarão a cargo do empreendedor.

Toda a atividade que possa gerar algum dano ao meio ambiente, terá como requisito o licenciamento
ambiental. Essas atividades estão elencadas nos anexos da Resolução CONAMA n.º 237/97.
Resumidamente são elas: indústrias de qualquer porte; depósitos; atividades de parcelamento do solo;
criação animal; irrigação; lavanderias, atividades que envolvam resíduos; cemitérios; obras civis; serviços
de utilidade como o tratamento de água e esgoto; usinas termelétricas; hidrelétricas; energia eólica;
portos; terminais; complexos de lazer; pista de corrida; recondicionamento de pneumáticos; forno de
carvão; comércio de agrotóxicos; de produtos de origem mineral, vegetal ou químicos; postos de
combustíveis e lavagem; restaurantes; lanchonetes; laboratórios; hospitais e clínicas.

A ausência de licença caracteriza crime previsto na Lei n.º 9605/98, que dispõe sobre as sanções penais e
administrativas para as condutas lesivas ao Meio Ambiente.

Apesar do rol que trás a Resolução CONAMA, n.º 237/97, há atividades que não estão sujeitas ao
Licenciamento Ambiental. Podemos citar José Carlos Barbieri: “Nem toda a atividade ou
empreendimento estão sujeitos ao licenciamento ambiental. A Resolução CONAMA 237/97 apresenta
uma relação de atividades ou empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, mas trata-se de
uma lista não exaustiva, pois cabe ao órgão ambiental competente definir os critérios de exigibilidade, o
detalhamento e a complementação dessa relação, considerando as especialidades, os riscos ambientais,
o porte e outras características do empreendimento ou atividade.”

A competência para a concessão das licenças ambientais é dos órgãos que compõem o SISNAMA,
descritos no artigo 6º, da Lei n.º 6.938/81. Via de regra a competência é do órgão público estadual. O
CONAMA fixa as regras gerais para a concessão. Na Resolução n.º 237/97, artigo 4º, estão essas regras
gerais, “compete ao SISNAMA, o licenciamento ambiental, que se refere o artigo 10 da Lei n.º 6.938/81,
de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional”
e na Resolução n.º 001/86, artigo 2º, estão dispostas as modalidades e prazos de validade, ainda as
hipóteses de revogação das licenças concedidas, “Dependerá de elaboração de Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a ser submetido à aprovação do
órgão estadual competente e do IBAMA, em caráter supletivo, o licenciamento de atividades
modificadoras do meio ambiente”.

3.6. Auditoria ambiental

Auditoria pode ser definida como um instrumento de verificação de condição financeira de determinada
instituição, desta forma, auditoria ambiental pode ser vista como avaliação da gestão ambiental, ou seja,
de seu comportamento em relação ao meio ambiente. Ela é uma consequência da qualidade utilizada
pela empresa (pública ou privada), que busca a certificação de sua gestão. No entanto não está
determinada como instrumento pelo artigo 9º da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente.

Porém, tendo em vista uma gama de instrumentos nacionais que visam a proteção dos bens ambientais,
a auditoria ambiental deve seguir os direitos e deveres determinados pela legislação pátria, para que
sejam alcançados os fins a que se destinam.

Pode-se verificar que as auditorias ambientais são realizadas por diversos motivos, não somente como
anteriormente para assegurar adequação às leis ambientais, evitando punições ou imposições de
indenizações. São hoje recomendadas em caráter regular e sistemático com a finalidade de auferir o
desempenho ambiental das instituições públicas ou privadas, haja vista a imagem veiculada dos
produtos e serviços fazer frente à população. Ademais, os serviços públicos deixaram de ter posição
diferenciada a partir de Constituição de 1988, em decorrência dos princípios da publicidade e da
eficiência (art. 37). Isso se deve ao fato de não só existirem normas de comando e controle, mas
instrumentos econômicos.

Em alguns Estados as auditorias ambientais são obrigatórias e utilizadas pelo setor público, como
instrumento de ação, controle e apoio para concessão de licenças ambientais, por meio da contratação
de empresas privadas para sua realização. Os Estados do Rio de Janeiro (Lei n.º 1.898/91); em Minas
Gerais (Lei n.º 15.017/04); no Espírito Santo (Lei n.º 4.802/93); no Ceará (Lei n.º 12.685/97); em Santa
Catarina (Lei n.º 10.720/98); no Amapá (Lei n.º 485/99); na Paraíba (Portaria n.º 04/04); no Distrito
Federal (Lei n.º 3.458/04), em São Paulo são obrigatórias em alguns Municípios, onde há portos, como
na cidade de Santos. No Paraná (Lei n.º 13.448/020).

Importante destacar que a divulgação de informações sobre as condições ambientais é relevante para as
instituições. Isso pode ser feito por meio dos balanços e demonstrações de resultados. Para que estas
informações sejam acrescidas aos demonstrativos, é necessário que os gastos com Meio Ambiente sejam
incluídos na contabilidade, reconhecida hoje como contabilidade ambiental, em item próprio, designado
como custo ambiental, que são aqueles relacionados a cálculos estimados de reposição, recuperação e
preservação do ambiente por atividades lesivas ao meio, as indenizações pagas ou possíveis a pagar.

Para que a PNMA tenha consistência, é necessário que seus instrumentos sejam peças práticas e
desempenhem seus papéis específicos. Os instrumentos foram criados, acreditando-se ser o caminho a
trilhar para a consecução da finalidade da política nacional que é a sustentabilidade ambiental. Resta
verificar se esses instrumentos são deveras eficazes.

LICENCIMENTO AMBIENTAL
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

- Arts. 1º e 225 da Constituição da República Federativa do Brasil

Um dos fundamentos do Estado brasileiro é a livre iniciativa, isto é, o direito a todos de perseguir uma
atividade econômica, de empreender, a fim de assegurar a todos a possibilidade de uma existência
digna. Este mesmo Estado também reconhece que a dignidade humana é servida pela existência a um
meio ambiente equilibrado. Estes dois princípios, no entanto, não raro entram em conflito: perseguir
uma atividade econômica certamente causará impactos ao meio ambiente, impactos estes que, se
desregrados, podem ser irreversíveis. E também não se pode ter o meio ambiente como obstáculo
intransponível à existência humana.

O licenciamento ambiental vem, então, como um importante instrumento de gestão da Administração


Pública: por meio dele é exercido o necessário controle sobre as atividades humanas que interferem nas
condições ambientais. Através dele há a conciliação do desenvolvimento econômico com o uso dos
recursos naturais, de modo a assegurar a sustentabilidade do meio ambiente, nos seus aspectos físicos,
socioculturais e econômicos.

O licenciamento ambiental é uma exigência legal a que estão sujeitos todos os empreendimentos ou
atividades que empregam recursos naturais ou que possam causar algum tipo de poluição ou
degradação ao meio ambiente. É um procedimento administrativo pelo qual é autorizada a localização,
instalação, ampliação e operação destes empreendimentos e/ou atividades.

A responsabilidade pela concessão fica a cargo dos órgãos ambientais estaduais e, a depender do caso,
também do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quando
se tratar de grandes projetos, com o potencial de afetar mais de um estado, como é o caso dos
empreendimentos de geração de energia, e nas atividades do setor de petróleo e gás na plataforma
continental.

As bases legais do licenciamento ambiental estão traçadas, principalmente, na Lei 6.938/81, que dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e traz um conjunto de normas para a preservação
ambiental; nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 001/86 e 237/97, que
estabelecem procedimentos para o licenciamento ambiental; e na Lei Complementar 140/11, que fixa
normas de cooperação entre as três esferas da administração (federal, estadual e municipal) na defesa
do meio ambiente.

Fases do Licenciamento Ambiental

O processo de licenciamento ambiental possui três etapas:

• Licença Prévia (LP) - Licença que deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração
ou ampliação do empreendimento. Esta licença apenas aprova a viabilidade ambiental e estabelece as
exigências técnicas (as "condicionantes") para o desenvolvimento do projeto, mas não autoriza sua
instalação.

Nesta fase, caberá ao empreendedor atender ao art. 225, §1º, IV da Constituição Federal e da Resolução
001/86 do Conama, elaborando os estudos ambientais que serão entregues ao Órgão Ambiental para
análise e deferimento. No caso de uma obra de significativo impacto ambiental, na fase da licença prévia
o responsável deve providenciar o Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).

O documento técnico-científico traz um diagnóstico ambiental, analisa impactos e suas medidas


compensatórias. Tais estudos endereçados, respectivamente, para a Administração Pública e para a
sociedade, abordam necessariamente as condições da biota, dos recursos ambientais, as questões
paisagísticas, as questões sanitárias e o desenvolvimento socioeconômico da região; e visam dar
publicidade e transparência ao projeto.

• Licença Instalação (LI) - Esta aprova os projetos. É a licença que autoriza o início da obra de
implantação do projeto. É concedida depois de atendidas as condições da Licença Prévia.
• Licença de Operação (LO) - Licença que autoriza o início do funcionamento do empreendimento/obra,
das atividades produtivas. É concedida depois que é concedida após vistoria para verificar se todas as
exigências foram atendidas.

LEI COMPLEMENTAR 140/11

Tratando-se de meio ambiente, pode-se afirmar que a competência é comum em consonância com o
teor do artigo 23 da Constituição da República, a qual atribui a todos os entes federativos o dever de
proteção do meio ambiente, bem como a preservação da fauna e da flora.

Nessa linha, verifica-se que a intenção do legislador foi a de garantir a proteção ao meio ambiente por
todas os entes da federação, em forma de cooperação mútua. Sendo assim, vejamos os ensinamentos
do jurista Paulo Afonso Leme Machado, o qual analisa que “a constituição não quer que o meio
ambiente seja administrado de forma separada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. É
razoável entender-se que, na competência comum, os entes devam agir conjuntamente”.

Portanto, relacionado com a competência comum a atuação dos entes é conjunta, sem que o exercício
de uma venha excluir a do outro.

Já na visão do professor José Afonso da Silva, este ensina que “competência comum significa que a
prestação do serviço por uma entidade não exclui igual competência de outra – até porque aqui se está
no campo da competência-dever, porque se trata de cumprir a função pública de prestação de serviços à
população”.

Assim, é possível afirmar que todos os entes da federação - União, Estados, Distrito Federal e Municípios
– podem atuar em um mesmo nível, sem que haja supremacia de um em detrimento de outro.

Trata-se, portanto, de cooperação administrativa, posto que o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-


estar entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no que tange ao exercício de funções
concomitantes e contínuas que incidem sobre as matérias constantes dos incisos I a XII do art. 23 da
Carta Política de 1988, possui auxílio recíproco disciplinado por normas veiculadas por Lei Complementar
federal.

Ademais, em matéria ambiental segue-se a regra de que compete à União a edição de normas gerais e
aos demais entes federativos compete a edição de normas específicas ou especiais, em consonância com
o interesse da localidade. Todavia, e de acordo com o artigo 22 da Constituição brasileira, a União deverá
legislar de forma privativa em alguns assuntos que são considerados de interesse nacional.

Noutro giro, o artigo 24 da Constituição de 1988 estabelece que a competência recai para a União,
Estados e Distrito Federal nos casos afetos a florestas, pesca, fauna, conservação da natureza, caça,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso VI);
proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (inciso VII) e responsabilidade
por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (inciso VIII).

Assim, quando inexistir lei federal que verse sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades e a superveniência de lei federal sobre normas
gerais suspende-se a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Quando a proteção ambiental estiver voltada a interesse local a competência será dos Municípios. Essa
competência legislativa em matéria ambiental decorre de previsão estampada no artigo 30 da
Constituição Federal brasileira.

Ademais, foi sancionada a Lei Complementar nº 140, a qual fixa normas nos termos dos incisos III, VI e
VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, nas ações administrativas decorrentes do exercício da
competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente,
ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.

Tal lei tratou de definir a atuação estatal supletiva, como sendo a ação do ente da Federação que se
substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas na Lei
Complementar, bem como a atuação subsidiária, como ação do ente da Federação, que visa auxiliar no
desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente
federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.

Desta forma, houve uma confusão ao longo do tempo, no que tange a identificação de qual ente será
competente para licenciar uma atividade que venha a ser considerada potencialmente lesiva ao meio
ambiente, por falta de previsão legislativa.

Nesse azo, de acordo com a Lei Complementar nº 140/2011, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão desenvolver ações de cooperação de modo a atingir os objetivos previstos no art.
3º[1] da citada lei, bem como garantir o desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas
as políticas governamentais.

Da mesma forma, restou à União o dever de fiscalizar matérias relacionadas à supressão de vegetação,
de florestas e formações sucessoras em: a) florestas públicas federais, terras devolutas federais ou
unidades de conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e b) atividades ou empreendimentos
licenciados ou autorizados, ambientalmente, pela União; aprovar a liberação de exemplares de espécie
exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos; controlar a exportação de
componentes da biodiversidade brasileira na forma de espécimes silvestres da flora, dentre outras.

Quanto aos Estados compete, nos termos da Lei Complementar 140/11, executar e fazer cumprir, em
âmbito estadual, a Política Nacional do Meio Ambiente e demais políticas nacionais relacionadas à
proteção ambiental; exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições; formular,
executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Estadual de Meio Ambiente; promover, no
âmbito estadual, a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental;
dentre outros.

Desta feita, representam competências de interesse local (municipal): executar e fazer cumprir, em
âmbito municipal, as Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambiente e demais políticas nacionais e
estaduais relacionadas à proteção do meio ambiente; exercer a gestão dos recursos ambientais no
âmbito de suas atribuições; manter o Sistema Municipal de Informações sobre Meio Ambiente, dentre
outras.

Desde que observadas às atribuições dos demais entes federativos previstas na Lei Complementar
140/11, compete aos Municípios promover o licenciamento ambiental das atividades ou
empreendimentos: a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme
tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de
porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b) localizados em unidades de conservação
instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs); dentre outras.

Já o art. 225 da CF/88 consagra o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado como direito
fundamental da pessoa humana, estabelecendo regras e princípios em matéria ambiental. A Carta
Magna assegura o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo tanto ao
Estado quanto à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

E nessa linha, encontra-se disciplinada como já visto alhures a competência comum da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios na fiscalização ambiental. Edis Milaré também se manifesta no mesmo
sentido, senão vejamos:

“A competência para fiscalizar está igualmente prevista no art. 23 da Constituição de 1988 e se insere,
portanto, dentro da competência comum de todos os entes federados. A interpretação do referido
artigo, no tocante à fiscalização ambiental, deve ser feita de forma ampliativa, no sentido de que a
atividade seja exercida cumulativamente por todos os entes federativos.”

Pode-se ainda citar jurisprudência no mesmo sentido, in verbis:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS. OPERAÇÃO DE


SUAS ATIVIDADES SEM O DEVIDO LICENCIAMENTO AMBIENTAL. INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL.
MULTA APLICADA. COMPETÊNCIA COMUM DO IBAMA PARA FISCALIZAR. ART. 23 DA CONSTITUIÇÃO.
OMISSÃO DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS. ADVERTÊNCIA. DESNECESSIDADE DE APLICAÇÃO.
PROPORCIONALIDADE DA MULTA. 1. Cuida-se de remessa obrigatória e de apelação cível interposta por
BRASTURINVEST INVESTIMENTOS TURÍSTICOS SA contra a sentença que concedeu apenas, em parte, a
segurança impetrada para declarar a suspensão da exigibilidade da multa cominada pelo IBAMA no auto
de infração nº 598.702, por operar empreendimento potencialmente poluidores sem licença do órgão
ambiental competente, em virtude do depósito do valor integral do respectivo montante, até o trânsito
em julgado. 2. As atribuições dos órgãos ambientais se dividem, basicamente, em duas: a primeira delas,
que tem caráter preventivo e se refere à expedição de licenças ambientais, nos moldes da legislação
correlata, para fins de legitimar o exercício de atividades que podem vir a poluir o meio ambiente; e a
segunda delas referente à competência punitiva/repressiva dos órgãos ambientais, isto é, ao poder de
fiscalizar e impor sanções administrativas àqueles que descumprirem as normas legais atinentes ao meio
ambiente. 3. O objeto da presente demanda cinge-se à atividade fiscalizadora do IBAMA que
compreende a sua competência de autuar repressivamente, no caso de infrações à legislação ambiental.
Não se discute, portanto, a sua competência para apreciar pedido de licença ambiental, não obstante a
empresa impetrante tentar fazer crer, a todo momento, no decorrer do processo, ser esse o ponto fulcral
da discussão. 4. O art. 23, incisos VI e VII, da Constituição estatuem que a proteção do meio ambiente é
uma tarefa que compete a todos os entes da Federação, sendo de natureza comum. Essa competência
administrativa é distribuída a todos aqueles entes, para que possam exercê-la sem qualquer relação de
hierarquia entre eles, mantendo uma relação de cooperação entre si. 5. O art. 70, parágrafo 1º, da Lei nº
9605/98 não passou ao largo da ordem constitucional vigente ao determinar que todos os órgãos
ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA são competentes, por
intermédio de seus funcionários, para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo. E a Lei nº 6938/81, em seu art. 11, parágrafo 1º, determinou que essa competência do
IBAMA para fiscalizar, mesmo que de natureza comum, seria supletiva, em relação aos órgãos estadual e
municipal. Isso quer dizer que o IBAMA é legitimado para exercer todos os atos inerentes à fiscalização
de atos atentatórios ao meio ambiente, mesmo quando de âmbito estadual ou municipal, desde que os
órgãos dessas esferas de poder sejam omissos nessa tarefa. 6. Na medida em que a competência
fiscalizatória do IBAMA é comum, mas de caráter supletivo, não se pode questionar a legalidade dos
autos de infração ora sob apreciação, eis que os demais órgãos ambientais das esferas estadual e
municipal quedaram-se inertes diante da irregularidade do funcionamento do hotel requerente, que
vinha exercendo atividades potencialmente poluidoras, com riscos para o solo e mananciais, sem o
licenciamento ambiental exigido por lei. 7. Consoante entendimento firmado pelo e. Superior Tribunal
de Justiça, extraído de voto proferido pelo ilustre Desembargador Federal Francisco Cavalcanti - AC
476894/CE -, "não há que se confundir a competência do IBAMA de licenciar (caput do art. 10 da Lei n.
6.938/1981) com sua competência para fiscalizar (parágrafo 3º do mesmo artigo). Assim, diante da
omissão do órgão estadual de fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o IBAMA pode
exercer seu poder de polícia administrativa, quanto mais se a atividade desenvolvida pode causar dano
ambiental em bem da União". (...) Apelação e remessa obrigatória parcialmente providas. (AC
00004344720114058400, Desembargador Federal José Maria Lucena, TRF5 - Primeira Turma, DJE -
Data::07/11/2013 - Página::211.)

DIREITO AMBIENTAL. AUTO DE INFRAÇÃO. TERMO DE EMBARGO/INTERDIÇÃO. IBAMA. AUSÊNCIA DE


NULIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA PRESERVADOS. LEI Nº 9.605/98. DECRETO Nº 6.514/2008.
COMPETÊNCIA COMUM. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 23. APELAÇÃO DO IBAMA PROVIDA. RECURSO
ADESIVO DO AUTOR IMPROVIDO. 1. Recursos interpostos contra sentença que declarou a nulidade de
auto de infração, mantendo a validade do embargo/interdição da obra autuada. 2. O processo
administrativo para a apuração de infrações penais e administrativas derivadas de condutas lesivas ao
meio ambiente é disciplinado pela Lei nº 9.605/98 e pelo Decreto nº 6.514/2008. Não há provas das
alegações de que o IBAMA tenha desrespeitado o procedimento legal. 3. Os documentos juntados aos
autos comprovam que foram preservados os postulados do contraditório e da ampla defesa no processo
administrativo levado a efeito pela autarquia. O autuado ofereceu, sucessivamente, "recurso
administrativo" e "defesa contra auto de infração". 4. A Constituição estabelece que é da competência
comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas, assim como preservar as florestas, a fauna e a flora
(CF, art. 23, VI e VII). 5. O Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou sobre o tema: "O pacto federativo
atribuiu competência aos quatro entes da federação para proteger o meio ambiente através da
fiscalização. A competência constitucional para fiscalizar é comum aos órgãos do meio ambiente das
diversas esferas da federação, inclusive o art. 76 da Lei Federal n. 9.605/98 prevê a possibilidade de
atuação concomitante dos integrantes do SISNAMA." (AgRg no REsp 711405/PR, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, julgado em 28/04/2009, DJe 15/05/2009). 6. Apelação do IBAMA provida,
prejudicada a remessa oficial, tida por interposta. 7. Apelação adesiva do autor a que se nega
provimento. (AC 200834000408306, DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, TRF1 -
QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:10/08/2012 PÁGINA:813.)

Isso acaba por gerar uma grande confusão ao empresariado brasileiro, que muitas vezes não sabe a qual
órgão deverá buscar para obter o licenciamento ambiental do empreendimento ou atividade que possui.

Ocorre que, indiscutivelmente, um dos principais aspectos da Lei Complementar nº 140/2011, foi o de
estabelecer a um único órgão ambiental a responsabilidade pelo licenciamento ambiental e outras
atividades ambientais.

Nota-se que, a competência estadual deteve uma maior abrangência em relação à importância nos
pedidos de licenciamentos ambientais, haja vista que o mesmo atribui esta ação na maioria das
atividades, excluindo-se, portanto, apenas àquelas que fazem parte da competência da União e dos
Municípios.

Por fim, a lei assegura que em havendo fiscalizações e autuações administrativas simultâneas, no
exercício do poder de polícia, por suposto descumprimento das normas ambientais, prevalecerá o auto
de infração ambiental lavrado pelo órgão que detenha a competência para o licenciamento.

Referências:

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasil, DF, Senado, 1988.

_________Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. DOU de 02.09.1981.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 10 out.2016.
_________Lei Complementar nº 140 de 08 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos incisos
III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício
da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio
ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e
da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. DOU 09.12.2011 Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm>; Acesso em: 20 ago.2017.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 22ª ed. rev., atual. e reform. São Paulo:
Malheiros, 2014.

MILARÉ, ÉDIS. Direito do Ambiente: A Gestão Ambiental em Foco. 7ª ed. rev., atual. e reform. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2011.

SILVA, José Afonso. Comentários Constitucional à Constituição, cit., comentários ao art. 23.

TORRES, Lorena Grangeiro de Lucena. Competência para fiscalização ambiental – CL 140/11. Disponível
em: <lucenatorresadv.wordpress.com/2017/08/21/competencia-para-fiscalizacao-ambiental-lc-14011/>
Acesso em: 20 ago.2017.

TORRES, Lorena Grangeiro de Lucena. A sustentabilidade da atividade de mineração: uma análise da


compatibilização entre o desenvolvimento econômico e o equilíbrio ambiental. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, XIX, n. 150, jul 2016. Disponível em: <http://www.ambito-jurídico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17486&revista_caderno=5>. Acesso em 03.jul. 2016.

TORRES. Lorena Grangeiro de Lucena. MARTINS. Dayse Braga. CAÙLA. Bleine Queiroz. Mineração,
desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental: a tragédia de mariana como parâmetro da
incerteza. Diálogo Ambiental, Constitucional e Internacional. Vol.6. Rio de Janeiro: Editora Lumens Juris.
2016.
[1] Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar:

I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão


descentralizada, democrática e eficiente;

II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente,


observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais;

III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes
federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;

IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades


regionais e locais.

SISNUC

É o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, constituído pelo conjunto das unidades de


conservação federais, estaduais e municipais. Art. 3º da Lei 9.985/00.

Ok. Agora vamos ao conceito de unidade de conservação:

É o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
Art. 2º, I da Lei 9.985/00.
As unidades de conservação (UC) integrantes do SNUC dividem-se em 2 grupos:

UC de proteção integral; e

UC de uso sustentável.

O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o
uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na lei do SNUC.

Já as Unidades de Uso Sustentável visam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável
de parcela dos seus recursos naturais.

Cada grupo é dividido em categorias, com características específicas.

São 12 categorias no total.

5 categorias de UC do grupo de PROTEÇÃO INTEGRAL

I – Estação Ecológica (EE);

II – Reserva Biológica (ReBio);

III – Parque Nacional (ParNa);

IV – Monumento Natural (MN);

V – Refúgio de Vida Silvestre (RVS).

7 categorias de UC do grupo de USO SUSTENTÁVEL

I – Área de Proteção Ambiental (APA);

II – Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE);

III – Floresta Nacional (FloNa);

IV – Reserva Extrativista (ResEx);

V – Reserva de Fauna (RF);


VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS); e

VII – Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

É isso, depois desse bizu vocês podem tranquilamente responder a questão a seguir do concurso de
2009 para o cargo de Procurador do Estado de Alagoas – 1.ª Classe, organizado pelo Cespe/UnB.

PGE/AL – Cespe/UnB – 2009 – O ser humano há muito tempo delimita áreas para preservação de sua
fauna e flora. Indica-se como precursor da ideia de parques e outros espaços territorialmente protegidos
a criação do parque nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos da América. No Brasil, o
primeiro parque nacional instituído foi o de Itatiaia, em 1937. A Lei n.º 9.985/2000 buscou sistematizar
critérios para a criação, implantação e gestão de unidades de conservação (UCs). Assinale a opção
correta com relação aos enunciados normativos dessa legislação.

A) O Sistema Nacional de Unidades de Conservação estabelece dois grupos de UCs: as de proteção


integral e as de uso sustentável.

B) Estação ecológica e reserva biológica são unidades de proteção de uso sustentável.

C) Parque nacional e área de proteção ambiental são unidades de uso sustentável.

D) Refúgio da vida silvestre é unidade de uso sustentável.

E) Entende-se por UC o espaço territorial e seus recursos ambientais, exceto os recursos hídricos nele
existentes.

E aí? Fácil, né?! No próximo artigo trago o gabarito comentado.

Para os candidatos ao cargo de advogado, analista ambiental e técnico ambiental temos um curso
específico de exercícios de direito e legislação ambiental focado em questões da banca Cesgranrio. Esse
curso, embora tenha sido elaborado para o certame da Petrobras, também pode ser utilizado em outros
concursos da área ambiental.
LEI 12.651/12: NOVO CODIGO FLORESTAL

Entenda a Lei 12.651 de 25 de maio de 2012

A Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, também conhecida como novo "Código Florestal", estabelece
normas gerais sobre a Proteção da Vegetação Nativa, incluindo Áreas de Preservação Permanente, de
Reserva Legal e de Uso Restrito; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o
controle da origem dos produtos florestais, o controle e prevenção dos incêndios florestais, e a previsão
de instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.

Seu texto original foi modificado em alguns pontos pela Lei no 12.727 de 17 de outubro de 2012.
Algumas regulamentações foram dadas pelo Decreto no. 7.830 de 17 de outubro de 2012.

Sua aplicação se insere no arcabouço jurídico e instrumentos legais que orientam e disciplinam o uso da
terra e a conservação dos recursos naturais no Brasil, como, por exemplo, da Lei no 6.938 de 31/08/1981
que trata da Política Nacional do Meio Ambiente; da Lei no 9.605 de 12/02/1998, também conhecida
como a Lei de Crimes Ambientais, e do Decreto no 6.514 de 22/07/2008 que a regulamenta; das Leis no
9.985 de 18/07/2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e da Lei no
11.428 de 22/12/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do bioma Mata
Atlântica, além de outras.

Uma das inovações da Lei é a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a previsão de implantação do
Programa de Regularização Ambiental (PRA) nos Estados e no Distrito Federal. Com o CAR, será possível
ao Governo Federal e órgãos ambientais estaduais conhecerem não apenas a localização de cada imóvel
rural, mas também a situação de sua adequação ambiental; o PRA, por sua vez, permitirá que os estados
orientem e acompanhem os produtores rurais na elaboração e implementação das ações necessárias
para a recomposição de áreas com passivos ambientais nas suas propriedades ou posses rurais, seja em
Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal ou de Uso Restrito.

O reconhecimento da existência de áreas rurais consolidadas - área de imóvel rural com ocupação
antrópica preexistente a 22 de julho de 2008 - em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal
ou de Uso Restrito também é um ponto de destaque na aplicação da nova Lei. Para isso, traz regras para
que as propriedades ou posses rurais possuidoras de áreas consolidadas na referida data possam se
adequar, sejam por meio da adoção de boas práticas, de sua recomposição, compensação ou de outros
instrumentos legais previstos. Além de indicar critérios para a adoção de tais meios, define os casos e
condições passíveis de exploração ou manejo da vegetação nativa na propriedade rural.
Nesse sentido, a nova lei traz uma série de benefícios para o agricultor familiar ou detentor de pequena
propriedade ou de posse rural, a partir da inclusão do seu imóvel ou posse no Cadastro Ambiental Rural.
A exemplo disso, podem ser citadas as regras diferenciadas e baseadas no tamanho do imóvel em
módulos fiscais para a regularização das Áreas de Preservação Permanente; e também da regularização
da Reserva Legal para propriedades e posses rurais com até 4 módulos fiscais, definindo-se a dimensão
da Reserva Legal como àquela existente até 22/07/2008.

Foto: Ana Maio

Cadastro Ambiental Rural - CAR

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um sistema de registro eletrônico de abrangência nacional instituído
pela Lei 12.651/2012, regulamentada pelo Decreto no 7.830/2012, que reúne as informações das
propriedades e posses rurais compondo uma base de dados para o controle, monitoramento,
planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. O CAR contempla os dados do
proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; a respectiva planta
georreferenciada do perímetro do imóvel; das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública;
informações da localização dos remanescentes de vegetação nativa; das áreas consolidadas; das Áreas
de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito (AUR) e da localização das Reservas Legais
(RL).

As informações cadastradas de todos os imóveis rurais em cada Estado e no Distrito Federal são
recebidas, integradas e gerenciadas pelo Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) dentro do Sistema
Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA).

De acordo com a Lei 12.651/2012, o cadastramento de todos os imóveis rurais do País é obrigatório. O
não cadastramento no prazo previsto incorre em perda da oportunidade de regularização ambiental, nas
condições e prazos oferecidos pela Lei, incluindo a suspensão das autuações e multas recebidas antes de
22/07/2008. Além disso, o não cadastramento impede que o proprietário tenha acesso ao crédito
agrícola em instituições financeiras.
Programa de Regularização Ambiental - PRA

O Programa de Regularização Ambiental (PRA), também previsto na Lei 12.651/2012, com normas gerais
dispostas no Decreto no 7.830/2012, contempla um conjunto de ações a serem desenvolvidas pelos
proprietários e posseiros rurais com o objetivo de promover a regularização ambiental de suas
propriedades ou posses. Os PRAs devem ser constituídos no âmbito dos Estados e do Distrito Federal e
para sua adesão é obrigatória a inscrição do imóvel rural no CAR.

A adesão formal ao PRA contempla a assinatura de Termo de Compromisso que contenha, no mínimo, os
compromissos de manter, recuperar ou recompor as áreas degradadas ou áreas alteradas em Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Uso Restrito do imóvel rural, ou ainda de compensar
Áreas de Reserva Legal. O projeto de recomposição de áreas degradadas e alteradas é um dos
instrumentos do PRA e as atividades nele estabelecidas deverão ser concluídas de acordo com o
cronograma previsto no Termo de Compromisso.

A partir da assinatura do Termo de Compromisso serão suspensas as sanções decorrentes das infrações
relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de
Áreas de Uso Restrito cometidas antes de 22/07/2008.

Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente

Foto: Ladislau Skorupa

Outro ponto de destaque da Lei 12.651/2012, em seu Capítulo X, é a previsão da instituição do


"Programa de apoio e incentivo à preservação e recuperação do meio ambiente", incluindo o incentivo
para a adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal,
com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente
sustentável. Entre os incentivos são destacados o pagamento ou incentivo a serviços ambientais como
retribuição, monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e que gerem
serviços ambientais, e compensação pelas medidas de conservação ambiental necessárias, incluindo
benefícios creditícios, fiscais e comerciais.
Do ponto de vista da produção agropecuária, a implementação da Lei 12.651/2012 reveste-se de
especial importância, tendo em vista o reconhecimento dos impactos positivos no campo na busca de
uma produção sustentável. Tais benefícios, também apropriados pela sociedade urbana, de forma direta
ou indireta, se relacionam, entre outros, à oferta de serviços ambientais garantidos pela manutenção de
vegetação nativa em parcela da propriedade rural, como na manutenção de populações de organismos
benéficos, tais como polinizadores de culturas e inimigos naturais de pragas; na proteção do solo e
controle de processos erosivos, na estabilidade geológica, na produção e fornecimento de água para fins
diversos, dentre outros.

RESPONSBILIDADE AMBIENTAL

1 Responsabilidade civil por dano ao meio ambiente

No que tange à responsabilidade civil por dano ao meio ambiente, destaca-se em nosso ordenamento
jurídico a já citada Lei 6.938/81, que no parágrafo primeiro do seu artigo 14, temos:

Art 14 [...]

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente
e a terceiros, afetados por sua atividade.[1]

Acerca do referido dispositivo, comenta Carlos Roberto Gonçalves:

A responsabilidade civil independe, pois, da existência de culpa e se funda na ideia de que a pessoa que
cria o risco deve reparar os danos advindos de seu empreendimento. Basta, portanto, a prova da ação ou
da omissão do réu, do dano e da relação de causalidade.[2]

Ou seja, a responsabilidade civil aplicável é objetiva, independe da existência de culpa, diferentemente


do que ocorreria se fosse atribuída responsabilidade subjetiva, pois, conforme diferencia Carlos Roberto
Gonçalves:

Conforme o fundamento que se dê à responsabilidade, a culpa será ou não considerada elemento da


obrigação de reparar o dano.

Em face da teoria clássica, a culpa era fundamento da responsabilidade. Esta teoria, tembém chamada
de teoria da culpa, ou “subjetiva”, pressupõe a culpa como fundamento da responsabilidade civil. Em
não havendo culpa, não há responsabilidade.

[...]

A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de um dano cometido
sem culpa. Quando isto acontece, diz-se que a responsabilidade é legal ou “objetiva”, porque prescinde
da culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta teoria, dita objetiva, ou do risco,
tem como postulado que todo dano é indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um
nexo de causalidade, independentemente de culpa.[3]

A aplicabilidade de tais conceitos pode ser encontrada na jurisprudência, como no exemplo abaixo,
acerca da responsabilidade objetiva:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. APREENSÃO DE VEÍCULO POR SUSPEITA DE ADULTERAÇÃO DE COMBUSTÍVEL. AUSÊNCIA DE
ATO ARBITRÁRIO DOS AGENTES POLICIAIS. FATO NOTICIADO PELA IMPRENSA. AUSÊNCIA DE NEXO DE
CAUSALIDADE.

1. A responsabilidade objetiva baseia-se na teoria do risco administrativo, dentro da qual basta a prova
da ação, do dano e de um nexo de causa e efeito entre ambos, sendo, porém, possível excluir a
responsabilidade em caso de culpa exclusiva da vítima, de terceiro ou ainda em caso fortuito e força
maior.[4]

Bem como acerca da responsabilidade subjetiva das pessoas jurídicas:


CIVIL E ADMINSTRATIVO. DESAPARECIMENTO/FURTO DE MEMÓRIAS DE COMPUTADOR DO TCU.
EQUIPAMENTO EM DESUSO ESTOCADO EM DEPÓSITO. RESPONSABILIZAÇÃO DA PRESTADORA DE
SERVIÇO ENCARREGADA DO FORNECIMENTO DE MÃO DE OBRA - ALMOXARIFE. AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. ATENDIMENTO. CULPA IN VIGILANDO DA EMPRESA PRIVADA NÃO DEMONSTRADA.
APELAÇÃO DESPROVIDA.

[...]

3. Em sendo a responsabilização das pessoas jurídicas de direito privado baseada na teria da


responsabilidade subjetiva, a teor do art. 186 do CC/2002, é indispensável a prova da ocorrência de
culpa in vigilando para se exigir a indenização decorrente dos danos suportados. A conduta culposa ou
dolosa do particular, para que dê ensejo à sua responsabilização, deve ser provada por quem pretende
ser indenizado.[5]

Reafirmando a responsabilidade civil objetiva nos casos de dano ambiental, destacam-se as palavras de
Celso Antonio Pacheco Fiorillo:

Como foi destacado, a responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente é do tipo objetivo,
em decorrência de o art. 225, § 3º, da Constituição Federal preceituar a “...obrigação de reparar os danos
causados” ao meio ambiente, sem exigir qualquer elemento subjetivo para a configuração da
responsabilidade civil.[6]

Assim, a reparação civil dos danos ambientais pode consistir em indenização dos danos causados, reais
ou presumidos, ou na restauração do que foi poluído, destruído ou degradado, caso seja possível. Sendo
a responsabilidade preventiva ou repressiva.

Ocorrendo lesão ao meio ambiente, surge para o causador o dever de indenizar o dano patrimonial (ou
material) e o dano moral causados.

Para Flávio Tartuce:


Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou perdas que atingem o patrimônio corpóreo
de alguém. Pelo que consta dos arts. 186 e 403 do Código Civil [Art. 186. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato,
sem prejuízo do disposto na lei processual.] não cabe reparação de dano hipotético ou eventual,
necessitando tais danos de prova efetiva, em regra.[7]

Já quanto aos danos morais, temos que:

A responsabilidade dos danos imateriais é relativamente nova em nosso País, tendo sido tornada pacífica
com a Constituição Federal de 1988, pela previsão expressa no seu art. 5º, V e X [V - é assegurado o
direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;].

A melhor corrente categórica é aquela que conceitua os danos morais como lesão a direitos da
personalidade, sendo essa a visão que prevalece na doutrina brasileira.[8]

Quanto aos elementos que compõem o dano, destaca Tartuce, citando Maria Helena Diniz:

Maria Helena Diniz aponta a existência de três elementos, a saber: a) existência de uma ação, comissiva
ou omissiva, qualificada juridicamente, isto é, que se apresenta como ato ilícito ou lícito, pois ao lado da
culpa como fundamento da responsabilidade civil há o risco; b) ocorrência de um dano moral ou
patrimonial causado à vítima; c) nexo de causalidade entre o dano e a ação, o que constitui o fato
gerador da responsabilidade.[9]

Na jurisprudência proliferam acórdãos acerca de indenização por danos materiais e morais


proveniente de dano ambiental, como por exemplo:

INDENIZAÇÃO - PRESCRIÇÃO NÃO CONFIGURADA - DANO MORAL E MATERIAL - MEIO AMBIENTE -


POLUIÇÃO EM AÇUDES DE PROPRIEDADE DO AUTOR COMPROVADA - INDENIZAÇÃO DEVIDA -
LITIGÂNCIA MÁ-FÉ AFASTADA. Tendo em vista o caráter continuado dos atos de poluição, não há que se
falar em prescrição trienal. Restando demonstrado nos autos que a Companhia de Saneamento de
Minas Gerais permitia que dejetos escoassem pelas tubulações até as bacias hidrográficas, chegando,
em consequência, aos açudes do requerente, que, por isso, tornaram-se impróprios para a pesca e
recreação, patente a existência do dano, bem como do fato administrativo e do nexo de causalidade
entre esses dois elementos, caracterizando o dever de indenizar. Não há que se falar em condenação nas
penalidades relativas à litigância de má-fé se não restou comprovada a atitude dolosa da parte
caracterizadora do ilícito processual permissivo a que se faça incidir a prescrição do artigo 17 do Código
de Processo Civil.[10]

Além da indenização por lesão ao meio ambiente, cabe a cumulação da mesma por dado a
particular, como mostra o exemplo abaixo:

DIREITO AMBIENTAL - LESÃO AO MEIO AMBIENTE E A PARTICULAR - DANOS MORAIS - INDENIZAÇÃO -


FATO NOTÓRIO - VALOR DO QUANTUM REPARATÓRIO - ARBITRAMENTO DO VALOR PELO MAGISTRADO.
Tratando-se de danos ambientais a responsabilidade é objetiva dada sua proteção constitucional e a
natureza dos mesmos, portanto, independe o dever de reparação da demonstração de culpa, necessária
apenas a demonstração dos danos e do nexo destes com a conduta praticada, facilitada a verificação
quando se trata de fato notório em razão da ampla divulgação na imprensa. A fixação do valor
pecuniário de indenização a título de danos morais ao particular, decorrente de dano ambiental de
responsabilidade da empresa, deve ser realizada pelo Magistrado, levando-se em consideração as
circunstâncias do fato, a condições da vítima e a extensão dos prejuízos gerados.[11]

Conforme se constata nos exemplos acima, a indenização por lesão ao meio ambiente recebe a
devida atenção do Poder Judiciário.

2 Responsabilidade penal ambiental

O crime constitui objeto de estudo da teoria do delito, a qual busca indetificar os elementos que
integram a infração penal.

Conceitualmente, vigora o chamado conceito analítico de crime, conforme defendido por Rogério Greco:
No Brasil, não existe um conceito legal de crime, ficando esse conceito a cargo da doutrina.

[...]

Adotamos, portanto, de acordo com essa visão analítica, o conceito de crime como o fato típico, ilícito e
culpável.[12]

Ou seja, de acordo com o conceito analítico, crime é um fato típico, ilícito (antijurídico) e culpável. Deste
conceito, extraímos os elementos que compõem o crime, sendo o primeiro, o fato típico:

O fato típico, segundo uma visão finalista, é composto dos seguintes elementos:

a) conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva;

b) resultado;

c) nexo de causalidade, entre a conduta e o resultado;

d) tipicidade (formal e conglobante).[13]

O segundo elemento é a ilicitude:

A ilicitude, expressão sinônima de antijuridicidade, é aquela relação de contrariedade, de antagonismo,


que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. A licitude ou a juridicidade da
conduta praticada é encontrada por exclusão, ou seja, somente será lícita a conduta se o agente houver
atuado amparado por uma das excludentes de ilicitude previstas no art. 23 do Código Penal [em estado
de necessidade; em legítima defesa; em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito].[14]

O terceiro e último elemento é a culpabilidade:

Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São
elementos integrantes da culpabibilidade, de acordo com a concepção finalista por nós assumida:

a) imputabilidade;

b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato;

c) exibilidade de conduta diversa.[15]

Assim, de acordo com Zaffaroni, citado por Rogério Greco:

“delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua
proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é
contrária ao ordenamento jurídico (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra
maneira nessa circunstância, lhe é reprovável (culpável).[16]

O conceito acima se aplica ao Direito Ambiental, quando da ocorrência do dano (infração ambiental),
sendo que, diferente da civil objetiva, ou seja, sem a necessidade de comprovação de culpa, a
responsabilidade penal ambiental é subjetiva, carecendo de tal comprovação para a sua caracterização,
dada a maior gravidade da penalização, bem como do princípio da intervenção penal mínima do Estado.

Quanto à distinção entre as modalidades de responsabilidade ambiental, esclarece Fiorillo:

A distinção fundamental, trazida pelos doutrinadores, está baseada numa sopesagem de valores,
estabelecida pelo legislador, ao determinar que certo fato fosse contemplado com uma sanção penal,
enquanto outro com uma sanção civil ou administrativa. Determinadas condutas, levando-se em conta a
sua repercussão social e a necessidade de uma intervenção mais severa do Estado, foram erigidas à
categoria de tipos penais, sancionando o agente com multas, restrições de direito ou privação de
liberdade. A penalidade da pessoa jurídica foi um dos avanços trazidos pela Constituição Federal de
1988.[17]

A responsabilidade penal ambiental foi trazida a lume pela Constituição Federal de 1988:

Art. 225 [...]

[...]

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas


físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.[18]

E reafirmada na Lei nº 9.605/98, conforme artigos abaixo:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia
agir para evitá-la.

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o


disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-
autoras ou partícipes do mesmo fato.[19]
Os crimes ambientes são tema recorrente na jurisprudência, por exemplo:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME AMBIENTAL - APELAÇÃO DA DEFESA - INÉPCIA DA DENÚNCIA -


INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA - APELAÇÃO MINISTERIAL - CONDENAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA. RECURSO
DA DEFESA NÃO PROVIDO E RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. - Por apresentar todas as formalidades
legais e possibilitar a defesa eficaz dos réus, não há que se falar em inépcia da denúncia. - Estando
cabalmente demonstradas a autoria e a materialidade pelo conjunto probatório, inclusive com a
confissão do réu, não há como absolver os acusados. - O art. 225, § 3º, da CF, acompanhado do art. 3º da
Lei 9.605/98, encerra a discussão sobre a legalidade e legitimidade das pessoas jurídicas na esfera
criminal. - Recurso da defesa não provido e recurso ministerial provido.[20]

Crime em unidade de conservação:

APELAÇÃO - CRIME AMBIENTAL - CORTE NÃO AUTORIZADO DE ÁRVORES EM UNIDADE DE


CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL - ARTIGOS 40 E 46 DA LEI 9.605/98 - MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS - CONDENAÇÃO MANTIDA - COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO - ESPECIAL FIM
DE AGIR NÃO CARACTERIZADO - ABSOLVIÇÃO.[21]

Aplicação do princípio da insignificância nos crimes ambientais:

APELAÇÃO - CRIME AMBIENTAL- FLORA- PEQUENA ÁREA DESMATADA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -


INAPLICABILIDADE - ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - MEIO AMBIENTE - BEM DE USO COMUM E
ESSENCIAL - CUSTAS PROCESSUAIS - ISENÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ART. 10, INCISO II, DA LEI ESTADUAL Nº
14.939/03 - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Impossível falar em absolvição pela incidência do
princípio da insignificância, se o referido princípio não encontra assento no ordenamento jurídico pátrio.
O meio ambiente- notadamente a flora- é bem de uso comum e essencial, dessa forma, o dano a ele
provocado atinge toda uma coletividade, razão pela qual não pode ser considerado insignificante.
Tratando-se o réu de hipossuficiente, assistido pela Defensoria Pública, deve ser isentado do pagamento
das custas processuais, nos termos do art. 10, II, da Lei Estadual nº 14.939/03. Recurso provido em
parte.[22]

Acerca do conteúdo probatório:


APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME AMBIENTAL - APELAÇÃO DA DEFESA - INÉPCIA DA DENÚNCIA -
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA - APELAÇÃO MINISTERIAL - CONDENAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA. RECURSO
DA DEFESA NÃO PROVIDO E RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. - Por apresentar todas as formalidades
legais e possibilitar a defesa eficaz dos réus, não há que se falar em inépcia da denúncia. - Estando
cabalmente demonstradas a autoria e a materialidade pelo conjunto probatório, inclusive com a
confissão do réu, não há como absolver os acusados. - O art. 225, § 3º, da CF, acompanhado do art. 3º da
Lei 9.605/98, encerra a discussão sobre a legalidade e legitimidade das pessoas jurídicas na esfera
criminal. - Recurso da defesa não provido e recurso ministerial provido.[23]

Crime permanente na esfera ambiental:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - CRIMES AMBIENTAIS - DELITOS DE CONSUMAÇÃO PERMANENTE -


PRESCRIÇÃO - NÃO OCORRÊNCIA. - Os delitos pelos quais o recorrente foi denunciado (artigos 38 e 48,
da Lei 9.605/98) são de natureza permanente, isto é, sua consumação se prolonga no tempo. - Sendo
assim, prevalece o disposto no art. 111, III, do CPB, segundo o qual, nos crimes permanentes, a
prescrição da pretensão punitiva estatal começará a correr no dia em que cessar a permanência. -
Recurso não provido.[24]

Percebe-se, como visto, a proliferação de julgados penais na seara ambiental, pelo que se destaca a
importância de uma legislação consistente a respeito do tema.

3 Responsabilidade administrativa ambiental e o exercício do poder de polícia: A PNMA e os órgãos do


SISNAMA

A terceira modalidade de responsabilidade ambiental, a administrativa, foi também prevista no já


referido artigo 225, § 3º, da Constituição Federal.

Para Fiorillo:

Sanções administrativas são penalidades impostas por órgãos vinculados de forma direta ou indireta aos
entes estatais (União, Estados, Municípios e mesmo Distrito Federal), nos limites de competências
estabelecidas em lei, com o objetivo de impor regras de conduta àqueles que também estão ligados à
Administração no âmbito do Estado Democrático de Direito. As sanções administrativas, conforme
orientação de doutrina tradicionalmente vinculada ao denominado “direito público”, estão ligadas ao
denominado poder de polícia enquanto atividade da Administração Pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão de
interesse público vinculado à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranquilidade pública ou mesmo respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos.
[25]

As sanções administrativas encontram-se disciplinadas na Lei nº 9.605/98, especialmente em seus


artigos 70 a 76, sendo que naquele encontramos a definição de infração administrativa ambiental, como
sendo “toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e
recuperação do meio ambiente”.

A referida Lei encontra-se atualmente regulamentada pelo Decreto nº 6.514/08, o qual


pormenoriza as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, além de estabelecer o processo
administrativo federal para apuração destas infrações.

A responsabilização administrativa, assim como as demais, requer que seja proporcionado ao


acusado o direito ao contraditório e da ampla defesa. Assim, temos o exemplo abaixo:

RECURSO - MINISTÉRIO PÚBLICO - FISCAL DA LEI. A interposição do recurso pelo Ministério Público, após
haver emitido, na origem, parecer que não veio a ser acolhido, pressupõe a configuração de ilegalidade.
PROCESSO ADMINISTRATIVO - DIREITO DE DEFESA - OBSERVÂNCIA. Instaurado o processo administrativo
e viabilizado o exercício do direito de defesa, com acompanhamento inclusive por profissional da
advocacia, descabe cogitar de transgressão do devido processo legal. RESPONSABILIDADE
ADMINISTRATIVA E PENAL. As esferas são independentes, somente repercutindo na primeira o
pronunciamento formalizado no processo-crime quando declarada a inexistência do fato ou da autoria.
PROCESSO ADMINISTRATIVO - IMPROBIDADE - PENA. Apurada a improbidade administrativa, fica o
servidor sujeito à pena de demissão - artigo 132, inciso IV, da Lei nº 8.112/90.[26]

Também se manifesta o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DANOS AMBIENTAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE


DO ADQUIRENTE. TERRAS RURAIS. RECOMPOSIÇÃO. MATAS. TEMPUS REGIT ACTUM. AVERBAÇÃO
PERCENTUAL DE 20%. SÚMULA 07 STJ. [...] 2. A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter
rem, por isso que a Lei 8.171/91 vigora para todos os proprietários rurais, ainda que não sejam eles os
responsáveis por eventuais desmatamentos anteriores, máxime porque a referida norma referendou o
próprio Código Florestal (Lei 4.771/65) que estabelecia uma limitação administrativa às propriedades
rurais, obrigando os seus proprietários a instituírem áreas de reservas legais, de no mínimo 20% de cada
propriedade, em prol do interesse coletivo.[27]

Para dar cumprimento à legislação ambiental, exercendo o competente poder de polícia, existe o
SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente, criado pela Lei 6.938/81, na qual em seu artigo 6º
encontramos:

Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem
como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:[28]

Legitimando a atuação do SISNAMA, a Lei 9.605/08 dispõe em seu artigo 70 que:

Art. 70 [...]

§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente
- SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos
Portos, do Ministério da Marinha.[29]

Além de criar o SISNAMA, a Lei 6.938/81 definiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA):

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-
econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos
os seguintes princípios:[30]
Conforme o artigo 4º da lei supra, Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio


ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico,


atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e


manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de


recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações


ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade
ambiental e do equilíbrio ecológico;[31]

E ainda:

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.[32]

Para atingir o objetivo e os princípios propostos pelo PNAM, o SISNAMA encontra-se dividido em
diversos órgãos, conforme incisos do artigo 6º da Lei 6.938/81.
Assim temos:

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na


formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade
de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o
meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e
padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de
vida;

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de
planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente;[33]

Além de órgão executor, órgãos seccionais e locais:

IV - órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a
finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas
para o meio ambiente;

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas,


projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas suas respectivas jurisdições;[34]

Como visto, através das diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente, e da legislação ambiental
aplicável, os órgãos do SISNAMA atuam de forma preventiva e repressiva para proteger o meio
ambiente.

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