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O autor inicia seu trabalho nos colocando à parte dos objetivos e dos pressupostos teóricos,
bem como sua metodologia de pesquisa e apresentação do conteúdo. Deste modo, Almeida procura
analisar a trajetória intelectual do escritor baiano Jorge Amado, pensando segundo uma relação
entre as posições que este produtor literário ocupa na estrutura do campo intelectual (sendo este
compreendido por seus pares, intérpretes e ainda os distintos públicos que consomem a sua
produção) e as formulações que compreendem as teorias esboçadas pelo produtor e seus intérpretes
a respeito da produção intelectual e seus condicionantes.
Através da articulação dessas duas perspectivas, Almeida procura mapear o lugar que este
produtor literário (simultaneamente pensado como autor e ator) ocupa no campo simbólico, bem
como supor a influência das instituições sobre as teorias esboçadas por ele e como estas, por sua
vez, concorrem para redefinir o seu projeto literário, redefinindo também a sua própria trajetória.
Utilizando a teoria do campo formulada por Bourdie, Almeida nos mostra a existência de um
complexo de relações sociais externas que se atualizam no âmbito do campo intelectual, ou seja, a
partir do pertencimento de seus produtores a diversas instituições (Igreja, partido político,
associações culturais, Estado, etc) pode-se perceber a influência dessas premissas nas posições
tomadas dentro do campo. Assim, a análise da trajetória de um autor consagrado pelo público e
pela crítica e vinculado a diversas instituições políticas e culturais como Jorge Amado é importante
para “(...) pensar as relações entre um campo intelectual e diversos outros campos.” (ALMEIDA,
1979, p.20) .
A partir disto, o autor inscreve a sua metodologia de pesquisa, que procurou mostrar através
da trajetória literária (desde a infância, passando por seu livro de estreia e suas obras primas) de
Amado,seguindo uma cronológica de sua produção, mas buscando um diálogo entre as obras e os
seus intérpretes (tanto contemporâneos de seus lançamentos quanto os ulteriores a eles). Assim,
procurou seguir uma ordem cronológica do que foi produzido pelo autor e das transformações
registradas em seu projeto literário. Para Almeida foi tomado como mais relevante o
posicionamento do autor e a rede de relações sociais que a caracterizam as suas obras,
classificando-o e/ou acolhendo-o e em relação a qual ele se situa auto-avaliando-se, não sendo,
dessa forma, tão necessária a leitura de toda a sua produção.
Para tanto, Almeida trabalhou a partir do exame das apreciações críticas que sucederam a
cada lançamento dos trabalhos de Amado, das próprias declarações do autor, entrevistas e
pronunciamentos a elas referentes, privilegiando-se aquelas concedidas contemporaneamente ao
lançamento de cada novo livro.
Os capítulos deste livro foram elaborados seguindo uma lógica de duas partes. A primeira
corresponde a uma descrição do processo de obtenção dos dados e de uma apresentação das fontes
bibliográficas, relatando a coleta de títulos em diversas bibliotecas, procurando estabelecer um
diálogo com os trabalhos anteriores sobre Amado (propondo uma atualização das informações). Já a
segunda parte procura fazer uma distinção da produção do autor analisado seguindo as
classificações ou gêneros com que ela foi rotulada concomitantemente ao seu lançamento. É nesta
parte também que Almeida procura estabelecer uma articulação entre as transformações ocorridas
no projeto literário do autor e sua relação com as diversas instituições a que ele se vincula no
tempo.
Esta primeira posição, tida como marginal perante as estruturas legitimadoras do campo
intelectual será superada pela frequência de Amado ao grupo de “pensadores católicos”, o “grupo
do primo” (em referência a um primo de Amado que possibilitou conexões dentro do campo
literário), resultando na publicação do que seria chamado de seu “livro de estreia” em 1931 (O País
do Carnaval). Nesta fase, ele estabelece uma relação entre a desarmonia do mundo e a desordem
intelectual, realizando uma auto-crítica da sua condição anterior de boêmio, e “(...) concebe o
vínculo com o ideário dos 'pensadores católicos' como importante para a consecução de uma
produção intelectual sistemática. ” (op. p.272)
Na parte em anexo, Almeida irá nos trazer a sua metodologia de pesquisa documental, nos
mostrando suas dificuldades e as opções que teve que tomar para realizar o seu trabalho. Assim, ele
inicia colocando o seu itinerário de investigação nas bibliotecas, que pode ser divididos em dois
momentos. Primeiramente, ele examinou o catálogo da Seção de Referência da Biblioteca Nacional
(Sala Rodolfo Garcia), pois seu acervo era um dos mais completos do país, principalmente no que
diz respeito à coletâneas de periódicos raros. As obras bibliográficas encontradas foram lidas e
depois fichadas. Também nesta etapa, pesquisou no catálogo da Biblioteca da Academia Brasileira
de Letras, pois além do pesquisador possuir uma familiaridade com as normas de classificação
deste acervo, também é fato que Jorge Amado era membro e esta possui diversos títulos
concernentes aos seus integrantes por eles próprios doados.
A partir disso, o autor iniciou um processo de seleção da bibliografia levantada com base no
próprio objeto da pesquisa, procurando utilizar as indicações que fornecessem material de análise
para investigar a recepção social de Jorge Amado e sua obra pelos demais agentes do campo
intelectual, inclusive o público virtual consumidor, em distintos momentos de tempo. Também
houveram exclusões devido à escassez de recursos para a pesquisa ou pela deficiência de alguns
catálogos.
Assim, nesta primeira etapa da pesquisa, resultaram a montagem dos denominados “dados
biográficos” (um conjunto de informações básicas sobre o autor) e uma lista inicial de títulos
extraídos das leituras consideradas fundamentais.
Já a segunda etapa da pesquisa foi caracterizada por um retorno às bibliotecas para dar
prosseguimento à coleta de títulos, retomando os resultados da etapa anterior. Ela constitui-se num
exame das revistas e jornais que haviam sido mencionados nos “dados biográficos”. O autor
comenta que esta procura acabou por ampliar a atualização do espaço do trabalho de campo, pois
assim outras seções da Biblioteca Nacional tiveram de ser consultadas: a Seção de Periódicos, a de
Obras Raras e o catálogo geral. Neste sentido, a vida política de Amado e a sua produção literária
foram influências para a consulta, por exemplo, dos Anais da Câmara dos Deputados (1946-1947)
e de periódicos como a Voz Operária. Ao lado desta atividade, ele também verificou se nos
catálogos das bibliotecas havia aqueles títulos detectados nas bibliografias consideradas básicas.
Dessa forma, os textos que foram encontrados nestas duas direções conduziram-no a novos
textos, considerados referências de referências, seguindo sempre uma ordem cronológica
decrescente, o que acarretou à uma convergência, cessando as distinções anteriores.
Além disso, outras bibliotecas também se impuseram por apresentarem títulos que não
foram localizados nas anteriormente consultadas, bem como por algumas apresentarem maior
facilidade no manejo das obras, por não apresentarem mediações entre estas e o consulente. Assim,
ele expõe que a ordem da coleta de material também obedeceu a uma estratégia de pesquisa, de
forma que a Biblioteca Nacional, devido à qualidade e extensão de seu acervo foi tomada como
local privilegiado de consulta, mas a partir do material encontrado, pesquisas específicas foram
realizadas em outros locais listados pelo autor: Biblioteca da Academia Brasileira de Letras,
Biblioteca Euclides da Cunha (ou Biblioteca do MEC), Real Gabinete Português de Leitura,
Biblioteca do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação e a biblioteca do Arquivo
Nacional e do Museu Nacional.
Ademais, o autor traz listadas as principais fontes consultadas, expondo a forma como
realizou o inventário das obras e a sua posterior seleção. Inicialmente, procurou destacar os estudos
bibliográficos sobre literatura brasileira por serem estes pouco numerosos, procurando aquelas que
se referem a conjuntos de obras e autores. Ao lado destas, foram alinhadas outras que representam
trabalhos bibliográficos específicos referentes apenas a Jorge Amado. Nestas bibliografias
destacam-se editores, críticos literários, escritores, resenhadores, comentaristas e demais agentes do
campo intelectual que, nos mais variados momentos se pronunciaram sobre o autor estudado como
também informações biográficas e declarações do próprio autor, em entrevistas e discursos.
Dito isto, Almeida seguirá com a classificação da bibliografia, compreendendo 595 títulos,
dos quais 216 dizem respeito à produção intelectual do autor, 26 são entrevistas e depoimentos
concedidos por ele e os 353 restantes concernem à produção intelectual a respeito do autor.