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Devemos fazer uma pausa, neste ponto, para enfatizar dois aspectos importantes.
Primeiro não foram os comerciantes nem os fabricantes que dirigiram o processo que
impulsionou o desenvolvimento inicial do capitalismo. A transformação das relações
sociais de propriedade enraizou-se firmemente no campo, e a transformação do
comércio e da indústria ingleses foi mais resultado do que causa da transição da
Inglaterra para o capitalismo. Os comerciantes podiam funcionar perfeitamente bem
dentro de sistemas não capitalistas. Prosperaram, por exemplo, no contexto do
feudalismo europeu, onde se beneficiaram não só da autonomia das cidades, mas
também da fragmentação dos mercados e da oportunidade de realizar transações
entre um mercado e outro.
Segundo, e talvez mais fundamental, o termo "capitalismo agrário" tem sido usado,
até aqui, sem que o trabalho assalariado seja colocado em seu cerne, embora, por
qualquer definição, o trabalho assalariado seja central no capitalismo. Isso requer
certa explicação.
Assim, não seria absurdo definir o capitalismo agrário inglês em termos dessa
tríade. Mas é importante ter em mente que as pressões competitivas, assim como as
novas "leis de movimento" que as acompanharam, dependiam, em primeiro lugar, não da
existência de um proletariado de massa, mas da existência de arrendatários
produtores
dependentes do mercado. Os trabalhadores assalariados, especialmente os que
dependiam inteiramente do salário para sobreviver, e não apenas como um suplemento
sazonal (o tipo de trabalho assalariado sazonal e complementar que existiu desde a
Antigüidade nas sociedades rurais) continuou a ser minoria na Inglaterra do século
XVII.
E qual foi o resultado de tudo isso? Primeiro, a agricultura inglesa tinha uma
produtividade ímpar. No fim do século XVII, por exemplo, a produção de grãos e
cereais tivera uma alta tão drástica, que a Inglaterra tornou-se líder na exportação
desses produtos. Esses avanços na produção foram conseguidos com uma força de
trabalho agrícola relativamente pequena. É a isso que nos referimos ao falar da
produtividade ímpar da agricultura inglesa.
A nova dinâmica desse sistema capitalista crescente produziu uma nova forma de
imperialismo colonial. Tinha havido outras nações coloniais, até maiores e mais poderosas.
Mas a Grã-Bretanha criou um novo tipo de impulso imperialista: não apenas a antiga
avidez pré-capitalista de terras e pilhagem (embora ela não desaparecesse, é claro), mas
uma expansão, para o exterior, dos mesmos imperativos capitalistas que estavam
impulsionando o mercado interno: os imperativos da produção competitiva e do aumento
do consumo. já no século XVII, ou talvez mesmo no XVI, as atitudes e o comportamento
singulares dos imperialistas ingleses eram visíveis na maior Colônia da Inglaterra, a
Irlanda. Servidores públicos progressistas, como o economista político William Petty,
viam a Irlanda como um campo de prova do capitalismo agrário, um laboratório para se
testar os efeitos da transformação das relações de propriedade, fossem quais fossem
as conseqüências para as multidões de despossuídos. É claro que o imperialismo britânico
também contribuiu para o desenvolvimento do primeiro capitalismo industrial do mundo.
Mas, conquanto a industrialização tenha-se alimentado dos recursos do imperialismo, é
importante ter em mente que a lógica deste, por si só, não acarretou o capitalismo
industrial. O poder imperial de outras nações européias não surtiu os mesmos efeitos e,
às vésperas da Revolução Industrial, o mercado interno ainda era mais importante para a
economia britânica do que o comércio internacional. O capitalismo agrário foi à raiz do
desenvolvimento econômico britânico.