Você está na página 1de 50
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SUBCOMANDO-GERAL DIRETORIA DE PESQUISAS, PERICIAS E TESTES CENTRO DE PERICIAS BOMBEIRO MILITAR Laudo Pericial de Exame de Local de Incéndio (Solicitagdo n°. 53/2016) Evento ocorrido no dia 03 de outubro de 2016, na edificacdo localizada na Avenida Pedro Calmon, 550 —- — Cidade Universitaria — Ilha do Fundao — Rio de Janeiro - RJ. Carolinne Cepa de Castro — Maj BM Oficial Perito da DPPT Bruno Polycarpo Palmerim Dias - Cap BM Oficial Perito da DPPT -2016- Niterdi - RJ @ * W ccrinucs do Laudo Pericial SUMARIO PREAMBULO.... HISTORICO DA METODOLOGIA .... CONSIDERAGOES TECNICAS... 4.1, Estagios Tipicos de um Inc8ndio (Fases):... ReNs 4.2. Meios de propagago do fogo . 4.3. Diregdes da propagagao natural do fogo.... 4.4. Causas de ino&ndio . so 5. DASITUAGAO DO LOCAL ANTERIORMENTE AO SINISTRO 18 6. DOS ELEMENTOS DE ORDEM OBJETIVA. ‘i . 20 7. DAS PROVAS COMPLEMENTARES cece 34 7.1. Da Certid&o de Ocorréncia do CBMERJ (Anexo B).... 2 34 7.2. Do livro de ocorréncias dos vigilantes — seguranga privada (Anexo 06) 7.3. Das fotografias cedidas pela Prefeitura da UFRJ 8. DOS ELEMENTOS DE ORDEM SUBJETIVA... . sans 9. CORRELACAO DOS ELEMENTOS OBTIDOS. cesses 8B 10. CONCLUSAO....... 11, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.... 12. ANEXOS... ISTO *& Continuagao do Laudo Pericial ‘da DPPT 1. PREAMBULO Aos sete dias do més de novembro do ano de dois mil e dezesseis, nesta cidade de Niteréi, no Centro de Pericias Bombeiro Militar (CPBM), de acordo com a legislag&o vigente e conforme a determinagao constante no Despacho Répido Comando-Geral n° 2157/2016 e na Nota DPPT/CPBM n° 54/2016, foi determinado que os peritos da DPPT: Cap BM QOC/05 Bruno Polycarpo Palmerim Dias, RG 36596 (relator), e Maj BM QOC/01 Caroline Cepa de Castro, RG 28.946 (revisora), emitissem um Laudo Pericial de Exame de Local de Incndio relative ao evento ocorrido no dia 03 de outubro de 2016, na edificagdo situada na Avenida Pedro Calmon, §50 — Cidade Universitaria — Ilha do Fundao ~ Rio de Janeiro - RJ, descrevendo com verdade e com todas as circunstancias, 0 que encontrarem, descobrirem e observarem. 2, HISTORICO Aos trés dias do més de outubro do ano de dois mil e dezesseis, as 22:10h, © Destacamento de Bombeiro Militar 1/19 - Fundo deu inicio a0 combate ao inc&ndio ocorrido na edificago localizada na Avenida Pedro Calmon, 550 - Cidade Universitaria - Ilha do Fundéo — Rio de Janeiro - RJ, de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Acs quatro dias do més de outubro do ano de dois mil e dezesseis, deu-se por encerrado a fase de combate do ciclo operacional bombeiro militar. Aos seis dias do més de outubro do ano de dois mil e dezesseis, o perito Cap BM QOC/05 Bruno Polycarpo Palmerim Dias, RG 36.596, e o auxiliar de pericia Subten BM Jodo Carlos da Silva Peixoto, RG 11839, tendo sido acionados pelo Centro de Operagdes do CBMERJ, compareceram ao local do aludido incéndio para fins de exame de local. Aos vinte e quatro dias do més de outubro do ano de dois mil e dezesseis, 0 Diretor da DPPT, recebeu, através do Despacho Rapido do Comando-Geral * 4 3 WH ccrimacto do Laudo Pericial 2187/2016, a determinagdo de emisséio do laudo pericial de exame de local de incéndio relativo ao evento supracitado. Ao primeiro dia do més de novembro do ano de dois mil ¢ dezesseis, 0 Diretor da DPPT recebeu a Certidéo de Ocorréncia do Evento n° C20160125485 (referente ao aludido incéndio) emitida pelo DBM 1/19. Aos cito dias do més de novembro do ano de dois mil e dezesseis, a perita revisora fez a reviséo da metodologia e da ortografia empregada no laudo. 3. DA METODOLOGIA Os peritos adotaram a metodologia de investigacaio preconizada pela NFPA 921/2011: Guide for Fire and Explosion Investigations, que consistiu (/) na observacdo, registro e anélise dos vestigios de queima encontrados nos materiais e estruturas atingidos pelo incéndio; (ji) no registro e anélise de provas complementares (documentos, plantas, etc); (ii) no registro e anélise de elementos de ordem subjetiva; e (iv) na correlago dos elementos de prova obtidos para evoluir & concluséo da pega técnica. 4. CONSIDERAGGES TECNICAS 4.1. _ Estagios Tipicos de um Incéndio (Fases): Temp.*c 1000 900 300 500 600 S00 400 300 200 00 fit dacm ovina do rsh Lesh Gani vo ee Ven Figura 1: Fases do Incéndio C oy fio STO ¥ Continuagao do Laudo Pericial da DPPT ciclo tipico de um inc&ndio € constituido de trés fases principais, que podem sempre ser observadas: a) Fase inicial Corresponde ao instante inicial do incéndio, a partir do qual comega a combust&o, durando enquanto as chamas estiverem restritas ao sitio de ecloséo do incéndio, Hé oxigénio em quantidade normal no ar atmosférico, razo pela qual, nesta fase, a combustéo ¢ relativamente répida e completa, as chamas vigorosas e a emiss&o da fumaga minima Esta fase 6 totalizada por dois estagios distintos. Eclosao: € 0 principio de qualquer incéndio quando, por atuagéo de um agente igneo, 6 atingindo 0 ponto de inflamac&o ou o ponto de ignicéo de um combustivel presente, fazendo-o entrar em processo de combustéo viva, desencadeando o incéndio. O lugar onde ocorre a eclosdo das chamas 6 chamado de foco Incubagao: eclodido 0 inc&ndio, 0 calor gerado no foco inicial se propaga, determinando 0 aquecimento gradual de todo o ambiente e a incubago o inc&ndio. ial ou foco principal. b) Fase intermediaria A fase intermediéria compreende o desenvolvimento do fogo desde o instante em que as chamas ultrapassam os limites do sitio de ecloséo inicial até a Generalizago, estagio em que o fogo esta totalmente desenvolvido. Esta etapa de inflamacdo generalizada, onde todo o local tomado pelas chamas, é comumente designado como flash over. Preliminarmente, no inicio da fase intermediéria, as chamas continuam aumentando, consequentemente, também a geraco de calor e a temperatura. A medida que se consome oxigénio e se diminui o seu fornecimento, a combust&o vai se tornando incompleta e a emissdo de fumaga e de gases aumentando, deixando rastros de cor marrom escuro, notadamente nas cobertas, partes altas das 4 HL.os We ccrinact do Laudo Pericial edificagdes (portas e janelas) onde podem ser vistas até do exterior. Estas fumagas ficam misturadas com massas e monéxido de carbono superaquecidos, que podem ignizar-se caso camadas de ar penetrem no ambiente antes de sua evacuacéo. Nesta fase também se pode distinguir dois estégios bem delineados. Quando os materiais combustiveis tém seu ponto de inflamago alcangado, gases destilados, em presenga de oxigénio atmosférico, entram em pré-combust&o na forma de uma combustao priméria antecipada, provocando a deflagragéo do incéndio, que pode ser simulténeo, caso os materiais combustiveis presentes tenham 0 mesmo ponto de inflamag&o; ou progressiva, quando a inflamagao dos combustiveis ocorre segundo a ordem crescente de seus pontos de inflamagao, estabelecendo 0 que se convencionou chamar de cadeia de fogo. Desencadear a pré-combustao através da deflagragdo, 0 fogo, finalmente, se estende e se instala nos materiais combustiveis presentes caracterizando a propagagao do inc&ndio, que poderd ser por condugao, convec¢do, irradiago ou contato direto das chamas. Assim, a propagagéo pode ser compreendida como a maneira como o calor se transmite, isto 6, como as chamas se alastram c) Fase de extingéo Representa @ decadéncia do fogo, isto 6, a regressdo das chamas até o seu completo desaparecimento, seja por exaustdo dos materiais que tiveram todo o gas combustivel destilado, excepcionalmente pela caréncia de oxigénio ou pela obstrugao da combustéo pela eficaz atuacdo de um dos meios de extingo do fogo. 4.2. Meios de propagacdo do fogo Desde que existam materiais combustiveis e oxigénio, 0 fogo evolui centrifugamente a partir do ponto e origem, deixando sinais caracteristicos pelos caminhos por onde passou, cujas evidéncias materiais, com os fundamentos cientificos da fisico-quimica que governam a dinamica do fogo, iréo demonstrar se a propagago do fogo foi natural ou artificial. jf *) f.06 * ISTO Continuacao do Laudo Pericial Diftor da DPPT A propagag&o do fogo se produz mediante a transmissao de calor aos corpos combustiveis. © calor se transmite desde 0 foco aos combustiveis por quatro meios: convece&o, condugdo, radiag&o e contato direto. 4.2.1. Convecgao Convecgo 6 a passagem do calor de uma zona a outra de um fluido por efeito de movimento relativo das particulas do mesmo movimento, esse provocado pela diferenca de presséo, ocasionado pela diferenga de temperatura, e, consequentemente, diferenca de densidade da massa fluida considerada. Se esse fenémeno é classificado mediante a agitagéo da massa fluida torna a denominagao de convecgao dita natural, ou livre, que se verifica em caso contrario. No caso dos incéndios a convecedo € a transmissdo de calor através do movimento da fumaga, gases, ar e particulas incandescentes. Isto posto, a fumaga e gases quentes tendem a subir do lugar da queima, aquecendo as camadas de ar circundantes que também sobem, por serem mais leves do que as camadas superiores mais frias. Ao ascenderem, transportam fagulhas e particulas incandescentes da area de queima. A medida que esses gases @ sélidos aquecidos se desiocam, o ar mais frio se move até o fogo. Com isso, produz correntes que aceleram 0 processo de convecg&o que, por sua vez, vai se acelerando simultaneamente ao aumento da velocidade de combustao. Se as correntes de convece&o que ascendem encontram obstéculos, por exemplo, por tetos, forros, os gases e particulas se deslocam horizontal e paralelamente aqueles anteparos ou escapam através de qualquer abertura. As partes altas das edificagées s4o as mais afetadas pelas correntes de convecgo, de tal modo que os tetos e forros sao as partes criticas das construgdes. As zonas baixas, incluindo paredes e contetidos do ambiente, so menos afetadas pelas correntes de convecgao, podendo mesmo permanecer incdlumes, enquanto as zonas altas apresentam depésitos de fumiaga, e se carbonizam. Particulas e fagulhas quentes podem ser transportadas a consideravel distancia pelas correntes de convecodo. Se posteriormente caem sobre materiais combustiveis, podem causar focos de fogo secundario. Este dito foco, ocasionado Z for We ccrinuase do Laudo Pericial Por ignigdo remota, desenvolver-se-A, e apresentaré a mesma configuraggo do foco primério, Esta situagao € problematica para o perito, porque dois ou mais focos de fogo sem conexdo légica podem indicar a intencionalidade do fogo, razo pela qual 6 imperativa a determinag&o da génese dos focos de fogo secundarios. 4.2.2. Condugao Condugio é a transferéncia de calor de uma parte do corpo para outra parte do mesmo corpo, ou de um corpo para outro por contato fisico, sem deslocamento apreciavel das moléculas do corpo ou dos corpos. As moléculas da regio quente induzem, por impactos, uma atividade crescente nas moléculas adjacentes. Objetos metalicos continuos, tais como vigas e canos, por serem excelentes condutores de calor, possibilitam a passagem de calor de um lugar para o outro. ‘A madeira 6 um excelente isolante térmico, todavia, se em contato com superficie aquecida, pode pirolizar-se, gerando vapores inflamaveis que podem originar chamas. fogo que se propaga por conducdo ndo deixa vestigios assinaladores da ovorréncia esse processo, assim, seré o proprio condutor de calor que levaré 0 perito até a fonte de calor parcial 4.2.3, Radiacao térmica termo radiagao se refere & emisséo continua de energia da superficie de todos os corpos. Esta energia 6 chamada energia radiante e se apresenta sob a forma de ondas eletromagnéticas. Estas ondas se deslocam com a velocidade da luz @ so transmitidas através do vécuo como no ar (no vacuo a transmiss&o é melhor, pois 0 ar as absorve) Quando elas atingem um corpo que no Ihes é transparente, tais como a superficie da mo ou as paredes de um quarto, elas séo absorvidas e sua energia transformada em calor. O calor é irradiado por meio de oscilagdes eletromagnéticas, isto é resultado de complexos processes intra-atémicos. Quando um corpo é aquecido, parte da We cosines do Laudo Pericial energia calorifica inevitavelmente se transforma em energia radiante, e a quantidade dependente da temperatura do corpo. © calor irradiado dos materiais combustiveis eleva a temperatura dos materiais facilitando sua inflamag&o, ou quando aportada quantidade suficiente, gera valores inflamaveis que se misturam com o ar circundante e posteriormente se inflamam com novo fluxo de calor. Tendo em vista o mecanismo de radiac&o, a inflamagdo provocada desse modo néo deixa sinais assinaladores entre a energia calorifica e 0 ponto de inflamag&o. N&o obstante pode haver uma trajetéria pertinentemente levantavel entre a fonte de radiac&o e o material que se inflamou, caso contrario, a inflamagao por radiago n&o pode ocorrer. 4.2.4. Contato direto das chamas Consiste em uma forma hibrida dos demais mecanismos de transmiss&o de energia térmica, 0 calor se transmite por contato direto quando uma chama ou fagulha alcanga um material combustivel, mantendo o contato por tempo suficiente para a inflamagao. Nao sendo uma forma pura de transmissao de calor, tanto as chamas de um fOsforo, pavio aceso ou fagulha transportadas por correntes de convecgéo podem causar ignig&o por contato direto 0 trajeto percorrido pelo fogo geralmente indica se houver propagagéo por contato direto, muitas vezes ensejando proceder algum tipo de reconstituigéo dos meios de ligagdo responsaveis pela propagacdo por contato direto entre dois pontos considerados. ‘As chamas que se instalam numa poltrona, por exemplo, e alcangam o teto passando pelas cortinas préximas, transmitem calor por contato direto. No caso, as cortinas, que foram o meio fisico através do qual o fogo chegou ao teto, podem ndo mais existir, consumidas pelo fogo. Neste caso o perito deveré ser capaz de reconstituir © acontecimento partindo da poltrona, seguindo o caminho natural de propagagao do fogo, verificando as partes comburidas e os remanescentes da cortina. fA.08 WB cing do Laudo Pericial 4.3. Diregdes da propagacao natural do fogo Sucintamente 0 fogo se propaga vertical e horizontalmente. De fato, como regra fundamental, a tendéncia natural do fogo 6 subir, propagando-se verticalmente, de baixo para cima, em razdo da subida das massas de vapores e de gases produzidas pela combustéo, que se deslocam para cima por serem mais leves do que o ar circundante. Simultaneamente, & medida que sobe 0 fogo também vai se alastrando horizontalmente, todavia, em velocidade comparativamente muito pequena em Telag3o A velocidade de propagag&o vertical ascendente. A velocidade de propagacéo horizontal seré menor ainda, proporcional as superficies que os materiais atingidos oferecem para o fogo. Assim, a propagagao em algodao enfardado, por exemplo, ser bem menor e dificil do que no algodéo espalhado, o mesmo verificando-se com outros materiais, tais como espuma de borracha. Assim sendo, desde que exista suficientemente combustivel, 0 fogo se propaga verticalmente de baixo para cima até onde as caracteristicas construtivas do prédio permitirem. Paralelamente, os vazios de escadas, pocos de elevadores, condutos e juntas de dilatag4o proporcionam um caminho livre para os produtos da combustéo e, em alguns casos, para as proprias chamas. Os materiais combustiveis que se encontram nesses trajetos recebem calor dos produtos da combustdo, os quais poderao desprender vapores e a consequente inflamagao dos mesmos. Quando a trajetéria ascendente dos produtos da combustéo ¢ obliterada por tetos @ forros, estes se acumulam nas partes altas por onde se dispersam em todas as diregdes do plano considerado, inicialmente, deslocando-se horizontalmente até encontrar obstaculos verticais, como vigas ou paredes, que Ihes turbem a marcha. Caso se acumulem em relativas quantidades, so forgados a baixar ao longo das paredes ou das vigas. Este movimento horizontal e descendente 6 denominado de cogumelo e frequentemente deixa manchas de fumaga, claramente definidas nas paredes e, se os produtos da combusto estiverem suficientemente aquecidos, podera imprimir sinais de fogo incipientes ou carbonizagdes nas superficies dos wY ay he We .cinagio do Laudo Pericial tetos e paredes. Por outro lado, se encontram aberturas, penetram em areas néio afetadas pelo fogo, podendo alastré-lo. Os produtos da combustéo podem se deslocar junto das cobertas e forros por consideraveis distancias. Assim, grandes edificagées industriais ou comerciais possibilitam a rapida propagagao ao nivel do teto. Também gases destilados superaquecidos, assim distribuidos, se inflamam quando alcangam condigdes apropriadas, difundindo rapidamente as chamas, podendo afetar toda a estrutura em questées de minutos. A propagagao descendente ¢ lenta e dificil e s6 ocorre excepcionalmente. Fundamentalmente, 0 fogo descende quando caem materiais ignescentes de uma zona superior indo inflamar noutro material combustiveis a um nivel inferior. Raramente o fogo pode descer através de algum revestimento de estruturas, tais como tinta ou papel, contudo esse processo é muito lento. © fogo pode se propagar verticalmente para baixo com 0 auxilio de um liquido inflamavel. Em superficies horizontais e inclinadas, 0 fogo segue a trajetéria dos liquidos inflamaveis derramados & medida que consome vapores e retrocede, queimando os remanescentes dos combustiveis, continuando o alastramento pelos materiais combustiveis circundantes. 4.4. Causas de incéndio A determinac&o das causas de um incndio é necessaria no s6 para os efeitos legais de pagamento das indenizagées de seguros e da imputago da responsabilidade criminal, mas também, para a retroalimentagdo do ciclo operacional bombeiro militar, com a finalidade de melhoria continua dos sistemas de seguranga contra incéndio e panico e das técnicas e taticas de combate a incéndio. Numa investigagdo feita oportunamente, isto 6, to logo os trabalhos de extingo © permitam, 6 quase sempre possivel determinar as verdadeiras causas de um incéndio ainda que seja considerdvel a sua area de destruiga0. Deve-se, no entanto, considerar qudo elevado é 0 numero de fatos e circunstancias que influem na deflagragéo de tais sinistros redundando disto a sua extrema dificuldade e DY Rll We ccrinmca do Laudo Pericial De um modo geral os inc&ndios e as explosées originam-se com concurso das causas apresentadas e, nem sempre so provocados por um sé dos fenémenos citados. Na maioria das vezes se manifestam devido & concorréncia de dois ou mais deles. 4.4.1. Consideragées técnicas sobre a causa de origem de incéndio por acidente elétrico. i, Curto-Circuito Nos inc8ndios é comumente encontrada a formagdo de curtos circuitos por destruigéo do capeamento dos fios. Esse tipo de formagdo tem como caracteristicas 0 recobrimento dos fios por uma capa fragil e desfolhaveis de envoltura plastica carbonizada, ou por uma capa plastica endurecida, impossivel de separé-la do cabo, sem haver quebra em pequenos pedagos, de forma que essas estruturas s&o facilmente identificadas nos focos de inc&ndio originadas por esse fenémeno, Encontrar um tipo ou outro de curto circuito se constitui em um vestigio basico para poder inferir a sobrecarga prévia. Se acharmos uma regiéo ndo atacada pelo fogo, cuja sobrecarga n&o podemos atribuir a um curto circuito originado pelo fogo, este vestigio ira proporcionar o tipo de protepo, e seu estado, ou a situagao do curto por toda a sua extens4o, Para haver uma maior seguranga de que se trata de uma sobrecarga anterior, que no originou nenhum efeito, devemos buscar pontos frageis que possam provocar uma sobrecarga: Uma sobrecarga pode ser detectada porque o isolamento tende a desprender-se dos cabos, e em diversas ocasiées formar bolhas, devido a formagao de gases de pirdlise, que ndo encontram saida através da parte externa do isolamento. Em caso de um incéndio originado por uma sobrecarga, a seg&o do condutor isolamento nao atingidos pelas chamas é de grande utilidade, no sentido de se observar que dentro da linha dos cabos existem vestigios caracteristicos dos esforgos ou tensdes mecénicos, devido a uma transmisso de calor oriunda da “iD *) L. Ss : do Laudo Pericial sobrecarga gerada de aquecimento por Efeito Joule. Para se compreender tais fenémenos, temos que entender que inicialmente a estrutura de cobre dos fios 6 constituida com gréos prensados, de pouca impureza, um aquecimento superior a 260° C nestas estruturas durante um largo intervalo de tempo produz recristalizacdo nestas estruturas de cobre, em forma tridimensional. Se a temperatura alcangada for superior a 1.082° C os gréos de cobre poderéo fundir-se, e ao esfriar formaréo “bolitas’, ou pérolas, indicadoras de tais fendmenos. Um aquecimento a uma temperatura inferior, em tomo de 1.065° C ‘em presenga de oxigénio apresenta como resultado, nas estruturas de cobre, a formago de estruturas morfolégicas dentriticas com, ainda, algumas formagdes de estruturas morfolégicas de autético de cobre, subéxido de cobre e monéxido de cobre. Estas estruturas apresentam propriedades mecénicas distintas das do cobre metalico inicial, pois so organicas, apresentando assim resisténcia menor, isto 6, de facil ruptura, com extremos rugosos e dentados. ‘Se a temperatura for acompanhada por baixa concentrago ou por auséncia de oxigénio, se evitaré a formagao de eutéticos por falta de dxido cobre. As propriedades mecdnicas destas novas estruturas formadas seréo de maior fragilidade pela presenga de impurezas no processo de esfriamento do cobre. De todas as formas coexistentes nos focos de incéndio pode-se produzir grandes quantidades de estruturas morfoldgicas de fuséo, carbonizacdo e calcinagao, formadas pela oxidago dos materiais oriundos dos cabos elétricos € equipamentos, bem como seu isolamento. ‘A formacdo de estruturas de recristalizacdo, a baixas temperaturas, dando origem a excrescéncias do metal expulso do interior de sua segao por um curto circuito, também 6 de vital importancia para a caracterizagéo de um fendmeno termoelétrico. Se estes focos de origem do incéndio ndo se encontram submetidos a temperaturas que podem fundir o metal, a existéncia e permanéncia destas excrescéncias nos equipamentos, cabos e condutores nos forneceréo também a origem do incéndio. Se 0 isolamento de um condutor € danificado os fios podem entrar em contato, um com 0 outro, ocasionando 0 curto-circuito. Imediatamente surgira a Q “ hiss We cvrinu io do Laudo Pericial delicadeza. Considerando a impossibilidade de enumerar todos os fatores responsaveis, pelo desencadeamento dos incéndios e a necessidade de um estudo completo que Ihes determinem as causas, estas foram classificadas levando-se em considerago os fenédmenos naturais e a interferéncia do homem, quer voluntéria ou néo, na sua execugo. Em razSo disto, as causas de incéndio ou explosdes foram assim classificades: ‘Natureza_ 20 - Quimica vue {Reem CAUSAS DE Natureza Quimica i Natureza Fis INCENDIO. Gansis | Pm Natura Biologic Secundarias Artificiais Fi Agao Pessoal Dieta 7 { Acdio Pessoal Indireta Grupamos, entre as causas naturais, aquelas que provocam o incéndio independentemente da vontade humana. Nesta categoria, se encontram os inc&ndios ocasionados pelos terremotos, vulodes, raios, radiag&o solar, decomposigao quimica e combustdo espontanea. Consideram-se causas artificiais materiais quando as explosdes e os inc8ndios s4o irrompidos em consequéncia de fenémenos fisicos, quimicos e pela ago de bactérias, caracterizando as causas primérias, ou sao causados por materiais jé inflamados, consubstanciando as causas secundarias. Sob o titulo de causas artificiais pessoais, esto grupados os incéndios ou explosées originados segundo a influéncia dos seres humanos, direta ou indiretamente, Na aco pessoal direta, hé sempre a intenc&o por parte do autor, caracterizando 0 chamado incendiarismo, podendo ser uma aco pessoal direta adrede preparada onde, além da inteng&o, o autor do incéndio previamente prepara © local para ocorréncia do sinistro. Ja a aco pessoal indireta, esta relacionada ha conduta humana de negligéncia, impericia ou imprudéncia. 0 om) hla STO ® Continuagdo do Laudo Pericial fusdo dos fios ¢ o aquecimento dos mesmos devido 4 passagem de corrente. ii, Causas do Curto-Circuito: A causa mais comum do curto-circuito em condutores € o rompimento do material isolante, causado por alguma forga externa aplicada continuamente ou com intermiténcia no mesmo local, Por exemplo: se 0 condutor é grampeado na coluna ou na viga de uma edificagéo com press&o excessiva, vai danificar o isolamento, reduzindo sua capacidade de isolar, podendo gerar um curto-circuito. Com a deterioragao do revestimento face ao envelhecimento, 0 condutor perderd o isolamento, e causaré o curto-circuito. Se uma parte do condutor é grampeada e alguma forga 6 aplicada repetidamente, torcendo ou dobrando préximo ao grampo, o isolamento sera danificado, causando o curto circuito. Existem varias causas de curtos-circuitos além das citadas acima, envolvendo danos com revestimento isolante, devido a qualquer fenémeno ou ages seguintes: Dobrando ou torcendo o revestimento isolante do condutor (parte externa dos tios); Desconectando a tomada (macho) da parede (fémea) tracionando-a pelo fio (condutor); Sendo fechado o curto-circuito por pessoas ou animais; Em contato, ou pressionado pela mobilia; Envelhecimento ou abrasao do revestimento isolante (dielétrico); Mau isolamento na conexao do condutor; Degradagao acelerada do isolamento devido & sobrecarga; Manuseio incorreto do cabo da tomada, ou fixago incorreta dos terminais na tomada; Rompimento do isolamento por prego ou material metalico; Rompimento do isolamento por ratos; Manipulacéo impropria pelas pessoas. ISTO WE ccrimarse do Laudo Pericial ‘da DPPT © curto-circuito pode dar origem a um incéndio. Este é causado entre as bobinas do motor eletro magnético ou transformador. Quando o nimero de voltas da bobina aumenta, a corrente aumenta e assim a quantidade de calor aumenta. No caso do motor, a saida diminui. No caso do transformador, se 0 curto-circuito inicia no lado primério, a voltagem no secundario aumentara, e consequentemente a corrente no primario aumentara, resultando em condicéo semelhante a sobrecarga. Caracteristicas do Incéndio Causado por Curto-Circuito. As faiscas do curto-circuito, exceto no caso de incéndio de gs combustivel e aciimulo de pé, desenvolvem-se rapidamente, provocando o surgimento de uma chama lenta nos combustiveis, a semelhanca de um cigarro aceso. E, neste caso, somente a area em volta do curto-circuito 6 queimada, apresentando uma combustéo enfumagada, o que 6 0 caso mais comum. iv. Tipos de Tragos de Fuso Trago de fuséo é observado frequentemente no condutor onde ocorre o curto-circuito. Determinar qual curto entre todos foi A causa do incéndio, ou se eles foram produzidos secundariamente pelo inc&ndio, ou n&o, s4o pontos importantes para a investigacao da causa do incéndio. trago de fusao primario é produzido antes do inicio do incéndio, quando a temperatura ainda é baixa, mas tem um aumento localizado de 2.000 @ 3.000° C no momento em que 0 curto se inicia. Como resultado, a superficie da parte fundida geralmente lisa, brilhosa e arredondada, Em muitos casos, os materiais combustiveis préximos (revestimento isolante) ainda nao foram carbonizados, isto 6, 0 trago de fuséio no contém residuos de carbureto. Além disso, se existem varias partes desconectadas causadas por varios curtos-circuitos no mesmo condutor, é provavel que o trago de curto no lado da carga, seja o traco de fuséo primério. © trago de fuséo secundério € um trago de curto-circuito produzido pela @ ® Te STO Dirdlol da DPPT combust&o do dielétrico sobre o fio vivo. E caracterizado por possuir menos brilho e superficie mais spera que a primaria, devido a alta temperatura do fio de cobre na hora do curto-circuito. Sua forma é como uma suspensdo em gota de material fundido, diferente de uma esfera. Geralmente é encontrado residuo de carbonetos No trago de fusdo devido @ combustao do material isolante. Outro cuidado que deve ser observado no julgamento se é primario ou secundario, é que, mesmo o primario, se exposto ao fogo em temperaturas téo altas quanto ao ponto de fundig&o do cobre, possa existir pouca diferenga em brilho @ apresentagao de superficie do trago de fus&o secundério. v. Corrente de Curto-Circuito. Mesmo em caso de curto-circuito, ndo existe indefinidamente grande corrente para fluir através do circuito. Basicamente, a corrente que flui através do Circuito vai em conformidade com a lei de OHM. Isto 6, a intensidade de corrente 6 dependente da relag&o entre voltagem e resisténcia, (onde a resisténcia significa um circuito para o transformador de tens), e a capacidade do transformador de tensdo, Assim, a corrente de curto-circuito néo pode ser verificada. Estima-se que seria geralmente em uma escala de 100 A a 1.000 A para instalagdes elétricas residenciais vi. Principais Pontos de Investigacao. ‘Apesar do fogo causado por curto circuito ser facilmente caracterizado pela condig&o de queima e de apresentar trago de fus4o, nenhum deles 6 evidéncia decisiva para provar este tipo de ocorréncia. Assim, se 0 fogo foi causado por curto-circuito ou no, a anélise deve ser feita com a observaco da disposicSo e condigéo da instalagao elétrica, a combustibilidade do material queimado, a condig&o de queima da origem do fogo, a forma do traco de fusdo e a possibilidade de outra fonte de fogo. Existem dois processos que claramente diferenciados podem causar igni¢&o e produzir danos aos condutores elétricos. O aquecimento @ fis WE ccninaca do Laudo Pericial desde 0 exterior, que pode ser devido a ag&o do fogo; e o aquecimento interior causado por sobrecarga nos condutores e equipamentos. Ambos podem produzir curto circuito, apés terem derretido seus respectivos isolantes e revestimentos. A ignigéo derivada de fogo, a partir do interior de um cabo ou condutor elétrico (aquecimento), deve-se supor, que em primeiro lugar exista uma sobrecarga, que daré lugar a um aquecimento dos cabos e equipamentos, com liberag&o de calor, que se nao for evitada, originaré o derretimento do isolamento (revestimento externo) com probabilidade de ignigdo, e com formagao eventual de curto-circuito chamado primario, 0 qual por sua vez, sem o interrompimento de energia, agravara ainda mais o problema com o desencadeamento de outros curtos Circuitos, estes chamados de secundarios. Levando em consideragao que o fogo pode ter como origem esses fenémenos, teremos assim que: > Asobrecarga atuaria de igual forma ao largo de toda extensao do cabo, exceto se esse no possuir secSo uniforme (podemos considerar também como segdo no uniforme as mas conexdes, desconexées e cabos defeituosos) > O efeito térmico do fenémeno sobrecarga dependerd da liberagdo do calor e existira maior possibilidade de dano nas zonas mal isoladas (passagem por Paredes, muros, shaft, tapetes, madeiras, etc. ). » © curto circuito se originard preferencialmente naquelas regides em que © isolamento dos cabos foi danificado, ou destruido, por exemplo: equipamentos e cabos em mal estado de conservagSo, ou submetidos a um esforgo mec&nico de compressao. » O calor proveniente do exterior (incéndio) é capaz de destruir o isolamento plastico dos cabos, de forma a provocar outros curtos circuitos. Temos ainda que quando o isolamento plastico se esftia, endurece, adere ao fio, de forma que esse no pode girar em seu interior, ficando imobilizado. 5. DA SITUAGAO DO LOCAL ANTERIORMENTE AO SINISTRO A edificagdo corresponde ao Bloco A do Prédio da Reitoria da UFRJ (Ed. P te Jorge Machado Moreira), conforme indicac&o apresentada na figura abaixo. Trata- se de edificagéo enquadrada como escolar / piblica pelo Cédigo de Seguranca Contra Incéndio e Panico. O imével possui estrutura em concreto armado ¢ nove (09) andares, sendo, o ultimo, pavimento técnico. Figura 2: Localizagao do Prédio Atingido. Fonte: Google Earth (adaptado) O setor mais intensamente atingido pela ag&o do calor e das chamas foi 0 citavo andar onde funcionavam as salas da Pré-Reitoria de Gestéo e Governanga (PR) e parcialmente as Pré-Reitorias de Pessoal e Extensio (PR-4 e PR-5, respectivamente). Neste pavimento, desenvolviam-se atividades administrativas da UFRJ. “ £14 WE ccrinars do Laudo Pericial Figura 3: Planta baixa do oitavo andar (sem escala) @ com delimitago da area intensamente afetada pelo incéndio. 6. DOS ELEMENTOS DE ORDEM OBJETIVA exame de local foi realizado no dia 06 de outubro de 2016, por volta das 10 horas. Quando da chegada deste perito, evidenciou-se que o local estava com 0 acesso controlado por vigilantes no téreo. Acompanharam a realizagéo dos ‘exames: 0 Prof. Alexandre Landesmann e o Eng? Marcio Escobar Conforte (ambos do LABEST/PEC/COPPE), 0 Arq? Gil Louzano (CPROJ/ETU/UFRJ) € o Sr. Zenon (administrador do edificio Jorge Machado Moreira) Cabe destacar que, segundo 0 administrador do edificio, o local j& havia sido examinado pelos peritos da Policia Federal no dia 04 de outubro de 2016. Na analise dos peritos subscritores do presente laudo, o incéndio em tela apresenta as seguintes peculiaridades. a) —_Evidenciou-se, de maneira panoramica, que o incéndio atingiu o 8 andar da edificagdo. | do Laudo Pericial Figura 4: Vista panorémica do local b) __Evidenciou-se que a porta de vidro (linico acesso ao setor sudeste do 8° andar) estava integra e que os danos causados pelos produtos da combustdo ficaram concentrados apenas no setor do teto proximo ao acesso. NE Figura 5: Locelizagéo da porta de vidro no 8° andar (circulado) P 4 fa

Você também pode gostar