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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.


Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

IMPLEMENTAÇÃO DE USINA PARA


RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC) COMO
AÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL - ESTUDO DE CASO
Jair Wagner de Souza Manfrinato (UNESP)
jwsouza@feb.unesp.br
Fábio José Esguícero (UNESP)
fabioeconomia@ig.com.br
Benedito Luiz Martins (UNESP)
martins_bl@hotmail.com

O setor de construção civil é responsável por uma parcela


considerável de resíduos em toda sua cadeia produtiva, seja na
extração dos recursos naturais, no processo produtivo até o descarte
dos rejeitos durante o ciclo de vida de seus produutos, ocasionando
problemas sociais e ambientais para as cidades e grandes centros. Em
função do problema exposto, este artigo apresenta um estudo de caso
no município de Lençóis Paulista, através de um projeto de
investimento público na instalação de uma usina de reciclagem de
Resíduos da Construção Civil (RCC). Será abordado o levantamento
estatístico na geração dos resíduos no município e análise da
viabilidade econômica na construção da usina. Através da instalação
da usina, pode-se triturar e reciclar os entulhos de obras de
construção, reformas e demolição, produzindo agregados (areia e
pedra) reciclados, possibilitando que o entulho retorne a cadeia
produtiva na forma de novos materiais. Verificou-se que o projeto é
extremamente viável, pois possibilita ao município uma forma
ambientalmente correta na destinação dos resíduos de construção,
evitando a geração de problemas de saúde pública com a má
disposição dos mesmos, possibilitando economia de recursos para a
administração municipal, seja na compra de matéria prima para suas
obras ou até mesmo com a venda do material reciclado.

Palavras-chaves: RCC, Reciclagem, Viabilidade econômica


XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

1. Introdução
A indústria da construção civil é geradora de elevados volumes de resíduos sólidos em toda
sua cadeia produtiva. O setor é responsável pela extração de recursos naturais não
renováveis, gerando grande consumo de energia desde a exploração de jazidas até o transporte
dos materiais. A geração de resíduos continua com o desperdício na execução de
empreendimentos sejam particulares, de interesse comercial ou público, gerando problemas
quanto à correta disposição desses resíduos. Configura-se assim um problema ambiental para
a sociedade, com poucas alternativas práticas e carente de estudos no Brasil. Destarte, este
artigo tem a finalidade de apresentar uma possível alternativa para tal problema; uma análise
de viabilidade econômica para instalação de uma Usina de Reciclagem de Entulhos de
Construção e Demolição com um estudo de caso no município de Lençóis Paulista, interior do
Estado de São Paulo.
Quando depositados em locais impróprios e não controlados pelo poder público, os rejeitos
oferecem possibilidade de poluição ambiental, causando prejuízos à paisagem urbana e
poluindo o meio ambiente.
Na década de 90 a preocupação com a geração de resíduos domiciliares tornou-se objeto de
vários estudos, trazendo soluções práticas que estão sendo implementadas em alguns
municípios brasileiros como coleta seletiva e a compostagem. Mas, quanto à geração de
Resíduos de Construção Civil (RCC), quando monitorados pelo poder público,
freqüentemente são destinados a aterros especiais sem apresentação de técnicas e
investimentos que viabilizem a reciclagem dos mesmos impedindo que os RCC retornem a
cadeia produtiva. Sem monitoramento, tais resíduos são depositados em locais clandestinos,
podendo gerar problemas de saúde à população além da poluição ambiental como enchentes e
assoreamento de rios e córregos (ZORDAN, 2005).
A apresentação de um projeto de instalação de uma Usina de Usina de Reciclagem de Entulho
de Construção Civil proporciona aos municípios uma opção que minimize os problemas
ambientais gerados pelos RCC e sua correta disposição final corroborando a resolução
numero 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) do ano 2002, que proíbe
sua disposição em aterros sanitários. Tal resolução visa destinar o maior volume possível de
resíduos à reciclagem e reutilização. Dessa forma, é necessário quantificar a geração de RCC
do município e o volume de investimentos necessários à construção da usina, para em seguida
proceder ao estudo de viabilidade econômica, além de apresentar os benefícios sociais e
ambientais inclusos no projeto. Destarte, este modelo de tratamento dos RCC proporcionará
soluções econômicas, sustentáveis e ambientalmente corretas para o problema.

2. Objetivos do projeto de instalação da Usina de Reciclagem de Entulho


A instalação de uma Usina de Reciclagem de entulho no Município tem objetivo de atender e
resolver vários problemas de ordem ambiental, social e econômico observado na quase
totalidade dos municípios:
a) A disposição irregular dos entulhos em terrenos pode causar acúmulo de vetores
transmissores de doenças e nocivos à população, gerando um ônus para o órgão público e
os munícipes, com fiscalização e tratamento das doenças causadas pelos vetores;
b) Ainda quando descartados de forma irregular, podem causar sérias conseqüências em
épocas de chuvas como enchentes, assoreamento de rios e córregos;

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c) A poluição visual urbana nas proximidades das áreas de descarte dos resíduos gera
desvalorização das propriedades, causando atraso no desenvolvimento local;
d) Diminuir a expansão da extração de matéria prima de reservas naturais, principalmente em
períodos de maior crescimento econômico para atender a demanda do setor de construção
civil;

Para Schenini et. al. (2000) apud Sjonstron(1996) a cadeia produtiva da construção civil
exerce um peso considerável na macroeconomia internacional, sendo responsável por cerca de
40% (quarenta por cento) da formação bruta do capital fixo, empregando uma enorme massa
de trabalhadores. Consome entre 20% (vinte por cento) e 50% (cinqüenta por cento) do total
de recursos naturais consumidos pela sociedade. Tal consumo demanda uso intenso de energia
e combustível, dada a distância das jazidas e dos centros consumidores. Souza (2005) destaca
que a quantidade de materiais consumidos por uma construção gira em torno de 1.000 Kg por
metro quadrado de área construída. A reciclagem de entulho é uma forma de atenuar essa
crescente extração dos recursos naturais.
e) O crescente volume de entulho gerado no município obriga a Prefeitura a investir na
aquisição de áreas de aterro para disposição final dos mesmos, gerando ônus aos cofres
públicos;
f) Obtenção de agregado (areia e pedra) para obras públicas. Em algumas regiões o metro
cúbico do agregado pode chegar a R$ 40,00 representando uma alta parcela nas despesas
das Prefeituras.

A reciclagem de Entulho para obtenção de novos agregados configura-se como uma possível
solução para tais problemas, possibilitando o retorno dos RCC à cadeia produtiva da
construção civil, fechando o ciclo de produção dos agregados.

3. Classificação e destinação de resíduos de construção


A resolução 307 de 05 de Julho de 2.002 do Conselho Nacional do Meio ambiente
(CONAMA) normatiza o processo de gestão dos resíduos de construção civil, classificando-
os e estabelecendo suas relações econômica, social e ambiental:
“Considerando a viabilidade técnica e econômica de produção e uso
de materiais provenientes de reciclagem de resíduos da construção
civil; e considerando que a gestão integrada de resíduos da construção
civil deverá proporcionar benefícios de ordem social, econômica e
ambiental, resolve: Art.1º Estabelecer critérios e procedimentos para
os resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de
forma a amenizar os impactos ambientais...”
Para Tenório & Espinosa (2007), a rigor, os resíduos de construção civil poderiam ser
classificados como resíduos urbanos. Em razão de suas características e volumes,
normalmente são classificados separadamente.
Resíduos de construção civil são provenientes de construções, reformas, reparos e demolições
de obras de construção civil e os resultantes de preparação e escavação de terrenos tais como:
tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas,
madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,

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plásticos, tubulações, fiação elétrica etc. (CONAMA, 2002). Os resíduos são classificados da
seguinte forma:
a) Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como para agregado de construção
(areia e Pedra) tais como: de construção, reformas e reparos de pavimentação e de outras
obras de infra-estrutura, inclusive solo proveniente de terraplanagem.
Construção, reformas e reparos de edificações, como componentes cerâmicos (tijolos, blocos,
telha, placas de revestimento, etc.) argamassa e concreto;
Processo de fabricação e ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
meio-fio, etc) produzido nos canteiros de obra.
b) Classe B – são os resíduos recicláveis para outras destinações como: plásticos,
papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
c) Classe C – são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis, que permitam sua reciclagem/recuperação, tais como
produtos oriundos do gesso;
d) Classe D – são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas,
solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

A resolução 307 do CONAMA enfatiza a necessidade de reciclagem e reutilização dos


resíduos sendo estabelecidos os seguintes critérios:

a) resíduos de Classe A deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou


encaminhados áreas de aterro de resíduos de construção civil, sendo dispostos de modo a
permitir sua utilização ou reciclagem futura;
b) resíduos de Classe B deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de
armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir sua reutilização ou
reciclagem futura;
c) resíduos de Classe C e Classe D deverão ser armazenados, transportados e destinados em
conformidade com as normas técnicas específicas do produto.

A instalação de uma unidade de Reciclagem de Resíduos de Construção Civil no município


de Lençóis Paulista visa atender principalmente as obrigações requeridas quanto aos resíduos
de Classe A, pois os resíduos de Classe B já são destinados à Usina de Reciclagem de Lixo
municipal para posterior triagem e reciclagem através de uma Cooperativa de Reciclagem.

4. Reciclagem de entulho da construção civil


O documento resultante da ECO 92 no Rio de Janeiro, a “agenda 21”, trouxe um tópico
denominado de “construção sustentável”. Tal iniciativa repensava toda cadeia produtiva,
iniciando pela extração de matéria prima, levava em consideração os processos produtivos,
fundamentando-se na redução da poluição, economia de energia e água e redução do consumo
de recursos naturais. Dada a crescente demanda por insumos oriundos do setor de construção
civil, novas formas de obtenção de matéria-prima são desenvolvidas para suprir tal
necessidade. Uma forma de atenuar tal problema é a reciclagem dos RCC, gerando o
agregado reciclado.

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Quanto à reciclagem, do ponto de vista econômico, Calderoni (2003), afirma que não reciclar
significa deixar de obter rendimentos de bilhões de reais todos os anos. Ainda segundo o
autor, o maior benefício oriundo da reciclagem é o benefício de economia com matéria prima,
seguido pela economia de energia elétrica.
Do ponto vista social, a reciclagem de entulhos é a tecnologia apontada como alternativa para
geração de empregos com a reutilização como agregados na construção civil.
Agregado reciclado é o material granular proveniente do beneficiamento dos resíduos de
construção, que apresenta características técnicas para aplicação em obras de edificação, de
infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia. (CONAMA, 2002).
É possível reciclar entulho gerando agregados para construção civil de qualidade comparável
aos agregados naturais. Nos Estados Unidos isso é feito há mais de trinta anos na produção de
agregados artificiais para compor base e sub-base de pavimentos. (ESPINOSA & TENÒRIO,
2007)
Em países como a Holanda, 70% dos RCC são reciclados e na Alemanha 30%. Copenhague
na Dinamarca recicla cerca de 25% do entulho de demolição, pois o país tem escassez de
material granulado, existindo uma sobretaxa de 10% sobre o consumo dos agregados naturais,
favorecendo a reciclagem pelas próprias mineradoras.
Segundo Lanzellotti et. al. (2004), a reutilização de agregados através da reciclagem de
entulho é uma das formas mais simples de seu reaproveitamento. No Brasil, a prática de
reciclagem de entulho é recente, sendo que poucas são as usinas instaladas para tal processo.
Normalmente o processo de reciclagem obedece as seguintes etapas apresentadas na Figura 1:

Pátio de recepção do entulho

Triagem manual Resíduos


Classe B

Pré limpeza
grelha alimentadora

Britagem do entulho

Limpeza de contaminante
magnetizável

Peneiramento – classificação de
granulometria

Depósito com Correia transportadora para


maior teor de depósito de agregado reciclado

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Figura 1 – Fluxograma do processo de reciclagem dos RCC

Os materiais reciclados são utilizados na construção de sub-base, base asfáltica, argamassas e


concretos utilizados na construção civil, além da produção de blocos, tubos e lajotas de
concreto com a mesma qualidade dos agregados naturais.

5. Levantamento estatístico dos RCC no município.


Precedente à análise econômica do projeto, é necessário conhecer o volume estimado da
geração de RCC do município, para posteriormente verificar-se a viabilidade de implantação e
dimensionamento dos recursos a serem investidos na aquisição da Usina de Reciclagem de
Entulho.
É grande a dificuldade em mensurar o volume de RCC gerados em um município, pois na
maioria, são utilizadas informações obtidas de empresas coletoras de RCC através dos
denominados “caçambeiros”. De acordo com o Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos
Urbanos (2004), os registros de dados a respeito da operação dessas empresas aparentam ser
precário, não permitindo que se perceba a existência de comportamentos característicos dos
resíduos.
Para contornar esta dificuldade, o levantamento foi realizado in loco em um bolsão de
entulhos localizado próximo à área urbana do município de Lençóis Paulista, onde são
descartados os rejeitos pelas empresas de caçambeiros da cidade. Como existe fiscalização
dos caçambeiros pela Prefeitura, é certo que toda coleta dos resíduos é direcionada ao bolsão.
Durante quatro dias foi observada a quantidade de caçambas que chegavam diariamente ao
local de descarga com os entulhos. O levantamento levou em consideração os resíduos de
concreto, argamassas e cerâmicos, desconsiderando as caçambas com 100% de solos e outros
recicláveis de classe B.
Segundo John & Agopyan (2000) as estimativas internacionais variam de 130 a 3.000
Kg/hab.ano. Para o Brasil as estimativas para as cidades de Jundiaí, Santo André, São José
dos Campos, Ribeirão Preto, Campinas e Vitória da Conquista variam de 230 Kg./hab.ano até
760 Kg/hab.ano.
No município de Lençóis Paulista, com população de aproximadamente 61.000 habitantes,
chegou-se a um volume médio diário de 127,0 metros cúbicos de RCC. De acordo com dados
da Usina de Reciclagem de Entulho da Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto, a
massa específica dos RCC é de aproximadamente 1,3ton/m³. Assim, determina-se o volume
de 165,1 toneladas diárias. (segunda a sexta-feira). A estimativa no município é de 670
Kg./hab.ano, estando próximo dos volumes estimados para as demais localidades observadas
na Tabela 1.

Volume
Localidade Fonte
Kg./hab.ano
Suécia 136 - 680 TOLSTOY, BORKLUND & CARLSON (1998)
Itália 600 - 690 LAURITZEN (1998)
Brasil 230 - 660 PINTO (1999)
Jundiaí - SP 760 PINTO (1999)
Lençóis Paulista - SP 670 Autor
Tabela 1 - Estimativas da geração de resíduos de construção civil

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Em função do volume de RCC gerados no município de Lençóis Paulista (165 toneladas/dia),


adotou-se no projeto uma unidade de reciclagem com capacidade para 25 toneladas/hora,
operando 6,6 horas/dia. As informações foram obtidas junto à Diretoria de Agricultura e Meio
Ambiente da Prefeitura Municipal de Lençóis Paulista e Empresa MAQ-BRIT, especializada
na montagem de unidades de reciclagem de entulho de construção civil.
Posteriormente ao levantamento dos resíduos, é necessário conhecer a caracterização física
dos mesmos. Para isto, verificou-se através da análise de 03 amostras de 01 metro cúbico

68%
21%

7%
4%

Argamassa/Concreto Cerâmicos Minerais Outros

Figura 2 - Composição dos RCC no Município de Lençóis Paulista


cada, a composição dos entulhos, sendo observado a predominância de concreto e argamassa
conforme observado na Figura 2:

6. Análise econômica do projeto


Para analisar a viabilidade econômica da Usina de Reciclagem de RCC utilizou-se dos
indicadores de engenharia econômica, como Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de
Retorno (TIR) e Payback. Para apurar tais índices, é necessário determinamos o investimento
inicial, as entradas e saídas de caixa para posteriormente determinarmos a opção de aceitação
ou rejeição ao projeto. (LAPPONI, 2007).

6.1 Investimento inicial


O Projeto de instalação da usina utilizara uma área pertencente à Prefeitura Municipal, onde
concentra outras três unidades produtivas: Usina de asfalto, Fábrica de Artefatos de cimento e
Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo. O setor já conta com estrutura para receber a
instalação, como terreno, pá-carregadeira e vestiários. Assim, não será considerado o valor
destes itens no investimento inicial. Como exposto anteriormente, a unidade demanda
investimentos para produção de 25 toneladas/hora.

6.2 Fluxo anual de despesas


a) Mão de obra – Inicialmente a usina será operada por funcionários da Prefeitura municipal
de Lençóis Paulista. Para unidade analisada são necessários quatro servidores para
operação dos equipamentos com salário médio de R$ 700,00/mês e um operador de
máquina pá-carregadeira com salário de R$ 1.089,00/mês;

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b) Energia elétrica – informações obtidas junto ao fabricante dos equipamentos, apresentam


consumo de 41kwh sendo adotado custo de R$ 0,35/kwh (Tarifa utilizada por outras
unidades de produção da Prefeitura). Estima-se que a Unidade funcionará 7 horas/dia,
com 20 dias/mês;
c) Água - De acordo com Jadovski (2005) determina-se o cálculo das despesas com água no
processo de reciclagem do entulho com a relação:
Despesa = R$/m (água) x 0,08 x Volume total de entulho processado
A tarifa utilizada é R$ 1,10/m³ (Serviço autônomo de água e esgoto, SAAE de Lençóis
Paulista), totalizando R$ 223,50/mês;

d) Manutenção – Para despesas com manutenção e desgaste com equipamentos adotamos


uma taxa anual de 3% do valor de investimento inicial (MAQBRIT).

6.3 Fluxo anual dos benefícios


a) Economia – inicialmente considerou-se a economia anual a ser obtida com a compra de
agregado (areia + pedra), com a substituição do material natural pelo agregado reciclado.
Anualmente a prefeitura municipal consome 4.525m³ destes agregados resultando em um
montante de R$: 117.637,00;
b) Com a reciclagem anual de 30.680m³ de RCC, o município deixará de adquirir áreas
destinadas aos bolsões de entulho, sendo estimado em R$ 60.000,00 o custo anual com
aquisição de áreas para destinação e aterro destes resíduos;
c) O excedente do material reciclável poderá ser comercializado, gerando receitas para o
empreendimento. De acordo com a proporcionalidade observada na Figura 2, 68% dos
resíduos poderão ser reciclados totalizando 20.862m³ para venda como pedra.
Descontando-se 4.525m³ para uso nas obras públicas, pode-se comercializar 16.337m³ de
agregado anualmente. Na região de Lençóis Paulista o agregado natural chega custar R$
30,00/m³. Antes da comercialização, o agregado reciclado deverá passar por testes de
qualidade para ser utilizado no mercado. Assim, adotamos valor inicial de R$ 7,32/m³
(100% superior ao custo de produção), para estimar a receita do mesmo.

A Tabela 2 apresenta os equipamentos necessários à instalação da usina bem como o fluxo de


caixa projetado anualmente para os próximos 20 anos.

Investimento Inicial DESPESAS


Alimentador vibratório Engergia elétrica R$ 24.105,60
Transportador de correia fixo Àgua R$ 2.682,24
Britador de impacto Manutenção R$ 12.454,05
Transportador de correia móvel Mão de obra R$ 58.059,00
Quadro elétrico Máquina - Pá carregadeira R$ 14.235,12
Estrutura de sustentação TOTAL R$ 111.536,01
Bicas de transferência (4 unid) ECONOMIAS
Peneira vibratória Compra de Areia e Pedra R$ 117.637,00
Obras/fundações Aquisição de área p/ aterro R$ 60.000,00
R$ 415.135,00 Venda de agregado reciclado R$ 118.591,32
Tabela 2 - Investimento inicial e fluxo de caixa anual

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6.4 Indicadores utilizados para avaliação do projeto


a) A taxa de atratividade utilizada no projeto é de 12% ao ano (TMA – Taxa Mínima de
atratividade). A TMA é a taxa a partir da qual o investidor considera ideal para obter
ganhos financeiros. A taxa de 12% foi adotada por estar próxima da taxa média SELIC –
taxa básica da economia brasileira para o ano 2008;
b) O método do Valor Presente Líquido (VPL) tem como finalidade determinar um valor no
instante considerado inicial, a partir de um fluxo de caixa formado de uma série de receitas
e despesas descontadas pela TMA (HIRSCHFELD, 2001). Para VPL < 0, o projeto
apresenta-se inviável;

c) Taxa Interna de Retorno (TIR) – é a taxa de juros que iguala a zero o valor presente líquido
de um projeto. Logo é a taxa de desconto que iguala o valor presente dos benefícios do
projeto ao valor presente dos seus custos (CONTADOR, 1981). Para tornar o projeto
viável é necessário obtermos uma TIR > TMA;
d) Payback – prazo de recuperação do investimento fornecendo o número de períodos
necessários à recuperação do montante investido inicialmente;
e) Payback descontado – refere-se também ao prazo de recuperação do investimento inicial,
sendo neste caso, os fluxos de caixa líquido descontados pela TMA (KASSAI et. al.,
2000).

Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 3. Levando em consideração apenas as


economias geradas com a compra de agregado pela prefeitura, o projeto torna-se inviável
economicamente (TIR < 0) e VPL negativo, dado o volume de investimento inicial e os
fluxos de caixa ao longo do empreendimento.

Payback
INDICADOR TIR VPL Payback
descontado
Economia com compra
-9,6% R$ (369.564,00) - -
de areia e pedra
Economia em aquisição
14,9% R$ 78.602,62 6 anos e 3 meses 12 anos e 4 meses
de área p/ aterro
Venda de agregado
44,5% R$ 964.413,80 2 Anos e 04 meses 2 Anos e 9 meses
reciclado
Tabela 3 - Resultados da análise econômica

Em função dos resultados apresentados, deve-se optar pelo projeto quando se acrescenta aos
benefícios a economia de recursos financeiros com aquisição de áreas para disposição final de
RCC, obtendo uma TIR de 14,9% e VPL de R$ 78.123,68, sendo o capital inicial investido
recuperado após o sexto ano do projeto.
Com a possibilidade de comercialização do agregado reciclado, a atratividade do projeto é
ainda maior – TIR de 44,5%, sendo o capital recuperado já após o segundo ano do projeto.

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Em função dos resultados apresentados, observa-se claramente que podemos optar pelo
investimento, pois mesmo na situação em que a TIR apresenta-se negativa, há existência de
externalidades não mensuráveis no projeto que o tornam viável.
Concomitante a avaliação econômica do projeto e os resultados esperados, deve-se reservar
atenção especial quanto as externalidades de ordem ambiental e social, pertinentes à
instalação da unidade de reciclagem de RCC no município.
Os problemas ambientais gerados pela má disposição dos resíduos em terrenos e bolsões de
entulho poderão ser solucionados, evitando a proliferação de vetores que causam inúmeras
doenças à população, gerando economia de recursos quanto ao tratamento de tais doenças.
A pré-separação dos resíduos de Classe A e B poderá ser executada pela Cooperativa de
Reciclagem de Lençóis Paulista (COOPRELP) que já opera nas instalações da Usina de
reciclagem de lixo municipal. Atualmente a cooperativa é composta por 56 cooperados,
segundo informações obtidas na Diretoria de Agricultura e Meio Ambiente da prefeitura
Municipal. A cooperativa separa e vende mensalmente 150 toneladas de recicláveis entre
plásticos, papel e metais. Estima-se que sejam gerados mais 10 empregos diretos para a
cooperativa, para separação de recicláveis classes A e B, que são dispostos juntos ao entulho
de construção nos canteiros de obra e transportados pelos caçambeiros particulares. A receita
da venda destes materiais será toda revertida para os cooperados.

7. Conclusão
A instalação de uma usina de Reciclagem de Entulhos no município de Lençóis Paulista
apresenta-se como uma excelente alternativa para solucionar a questão dos Resíduos de
Construção Civil gerados pela população do município.
O levantamento estatístico revelou que anualmente são gerados 30.480m³ de entulho na
cidade, comportando a instalação de uma unidade de 25 toneladas/hora de processamento. O
entulho reciclado poderá voltar a cadeia produtiva na forma de agregado (areia, pedra e
pedrisco) para reutilização na construção civil seja em construções, pavimentos e fabricação
de artefatos de cimento.
O projeto é economicamente viável, levando em consideração a economia na compra de
agregados para obras da Prefeitura e a cessão de aquisição de novas áreas destinadas ao aterro
dos rejeitos, gerando uma TIR de 14,9%. Há um incremento na viabilidade do projeto quando
estimada a possibilidade de venda do excedente do material reciclado não utilizado pela
prefeitura, chegando ter neste caso a uma TIR de 44,5%. O custo de produção é de R$
3,61/m³.
Concomitante aos ganhos econômicos, destaca-se os resultados sociais, através da geração de
empregos na pré-separação de resíduos de Classe A e B existentes nos entulhos. Este processo
poderá ser realizado através da Cooperativa de reciclagem já em funcionamento no município,
pois os cooperados poderão comercializar plásticos, papel e metais coletados nesta separação.
Quanto aos ganhos ambientais gerados pelo projeto, chega-se a uma solução para a forma de
disposição final dos entulhos, que quando descartados de forma incorreta acarretam a
proliferação de vetores que trazem a ameaça de doenças à população.
Com a reciclagem atenua-a a questão da extração dos recursos naturais pela indústria de
construção civil que demanda grande volume de recursos naturais e energia, sendo altamente
poluidora, possibilitando crescimento sustentável desta atividade.
Os resultados observados atendem plenamente os objetivos estabelecidos pela resolução 307
do CONAMA relacionados à gestão dos RCC, tornando os processos tecnicamente e
economicamente viáveis, gerando benefícios de ordem ambiental, social e econômica.

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Referências
AGOPYAN, V.; JOHN, V.M. – Reciclagem de resíduos da construção. SEMINÁRIO – RECICLAGEM DE
RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES – CETESB – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
BAGNATI, A. M. Z.; CARDOSO, A.C.F.; SCHENINI, P.C. Gestão de resíduos da construção civil –
CONGRESSO BRASILEIRO DE CADASTRO TÉCNICO MULTIFINALITÁRIO. Universidade Federal de
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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

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