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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS COM


HABILITAÇOES EM LÍNGUAS BANTU

JULIETA GABRIEL

A Locativização na Língua Cisena

Beira

2021
JULIETA GABRIEL

A Locativização na Língua Cisena

Trabalho a ser submetido à faculdade de


Letras e Humanidades para fins avaliativos
na cadeira de Linguística Descritiva das
Línguas Bantu II.

Docente: dr. António Chipenembe

Beira

2021
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................3
1.1. Objectivos...............................................................................................................3
1.2. Metodologia............................................................................................................3
2. A Locativização na Língua Cisena............................................................................4
2.1. Aspectos gerais sobre a morfologia nominal do Cisena.........................................4
2.1.1. Semântica das classes nominais..........................................................................4
2.1.2. Função primária & função secundária dos prefixos nominais............................5
2.2. Conceitos................................................................................................................5
2.3. Tipos de Locativização...........................................................................................7
3. Conclusão...................................................................................................................9
4. Bibliografia..............................................................................................................10
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho, da cadeira de Linguística Descritiva das Línguas Bantu II, tem
como objecto de estudo a Locativização na língua Sena, dentro do qual procuraremos
trazer os elementos envolvidos no processo e quais as estratégias para que tal ocorra.

Importa aqui salientar que a Locativização nas línguas Bantu é realizada através de
prefixos locativos (pa-, ku-, mu-), podendo estes prefixos variarem de língua para
língua.

De acordo com Chunguane (2003) a Locativização é um processo de localização


espácio-temporal ou metafórica de entidades. Para este, as relações de lugar e de tempo
são, regra geral, indicadas por um processo denominado Locativização, processo que
ocorre em todas línguas naturais. Com efeito, cada língua faz uma adopção especifica
de locativização de acordo com a gramática que governa essa língua.

1.1. Objectivos
Geral: Estudar o processo de Locativização na língua Sena;
Específicos:
 Apontar as regras que regem a Locativização na língua Sena;
 Descrever o processo de Locativização na língua Sena;
 Exemplificar a Locativização na língua Sena.

1.2. Metodologia

Para melhor compreender os processos utilizado na locativização na língua Sena é


importante recorrer ao método de pesquisa bibliográfica. Segundo Marconi e Lakatos
(1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a bibliografia já publicada, em
forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. A sua finalidade é
fazer com que o pesquisador entre em contacto directo com todo o material escrito sobre
um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas pesquisas ou na
manipulação de suas informações.

Desta forma, foi de suma importância o conhecimento das obras em questão, bem como
as características teóricas aplicadas para defender o tema pretendido.
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2. A Locativização na Língua Cisena


2.1. Aspectos gerais sobre a morfologia nominal do Cisena

Morfologia pode ser definida como o estudo dos morfemas, das regras que regem a sua
combinação na formação das palavras, e na sua função no sintagma e na frase. Ou
ainda, pode-se definir a morfologia como sendo o estudo a respeito da estrutura,
formação e classificação das palavras.

O nome é definido como uma palavra variável que se usa para designar seres, coisas,
eventos, estados pessoas. O nome é composto pela raiz e prefixo nominal que indica a
classe gramatical do nome.

Ao conjunto de nomes com mesmo padrão de concordância dá-se o nome de classe


nominal. (Bleek 1862; Gutrie 1967, Sitoe 1985). De acordo com os mesmos autores, O
número de classes nominais nas diferentes línguas bantu varia entre 10 a 20. Apesar de
se afirmar que existam línguas com 21 classes.

Em relação à morfologia do nome, Ngunga (2004) defende que este obedece a uma
estrutura constituída por afixos que transportam as marcas de (singular/plural) e tema
nominal que expressa informação semântica.

2.1.1. Semântica das classes nominais

As línguas bantu organizam as classes nominais de acordo com os factores semânticos e


sócios - culturais. O que se explica pelo facto de:

a) Em muitos casos ainda persistir a ocorrência de nomes semanticamente


pertencer o mesmo grupo. Quer dizer, mesmo que haja nomes de outros grupos,
há aqueles que não se podem encontrar em outras classes;

b) A existência de outras classes onde há predominância de nomes que facilmente


se podem agrupar em conjunto mais gerais tais como: planta (classe 3 e 4) e
animais e frutas (classe 5 e 6);

c) Contudo, apesar de as constatações acima serem reais, são praticamente


inexistentes da mesma categoria semântica. Gutrie (1967) responsabiliza
factores fonéticos como estando na base destas mudanças.
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2.1.2. Função primária & função secundária dos prefixos nominais

De acordo com Ngunga e Simbine (2012) quando um nome tem um certo prefixo
nominal de entre os que se apresentam na referida tabela, quer dizer que pertence àquela
classe e não há mais nenhuma informação que possa estar a ser transmitida, a este
fenómeno dá-se o nome de função primária dos prefixos nominais.

Ademais, importa salientar que os nomes se distribuem por classes não só de acordo
com os prefixos tal como se disse anteriormente, mas de acordo com a sua categoria
semântica. se os nomes se agrupassem em classes com base nesta organização
semântica muitos ficariam fora. Por conta disso, diversos elementos devem ser tidos em
consideração quando se for trabalhar com os nomes, como o caso da locativização, que
é o cerne do presente trabalho.

Nas línguas bantu, a concordância é feita através de prefixos que permitem que os
adjectivos, os pronomes, os numerais, os possessivos, demostrativos e verbos
mantenham uma relação de dependência sintáctica (na mesma frase) com o nome a que
se referem (Ngunga, 2002; Ngunga, 2004).

2.2. Conceitos

Nas línguas bantu, para além do uso dos advérbios, existem formas particulares para
indicar circunstância de lugar, de tempo, de direcção, etc. Estas formas consistem em
agregar, por meio da prefixação ou sufixação, pequenas partículas (morfemas) a nomes
de qualquer classe, surgindo, desta forma, uma nova palavra. (NHANTUMBO E
CHINAVANE, 2019).

Machobane (1996); Ngunga (2004) referem que, a locativização é um processo


morfológico através do qual um morfema locativo se associa ao nome para localizá-lo
no tempo ou no espaço.

Ngunga e Simbine (2012) defendem que Locativos são palavras que indicam
localização de evento no tempo e no espaço. Geralmente, tais palavras incluem
partículas chamadas locativas que podem ajudar a indicar o objecto ou o evento em
termos de localização a superfície, no interior, próximo, distante, etc.
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De acordo com os mesmos autores, como estas partículas não indicam tudo senão
apenas sugerir o tipo de locativização de algo, faz sentido que elas sejam escritas
ligadas às palavras que são “portadoras” de tal lugar marcado pelo prefixo.

Ex: Juwawu ali panyumba pace ‘O João está em casa dele’

Ex: Combe ali panjira ‘O Combe está no caminho’

Como se pode ver acima, os prefixos por si só não trazem toda informação necessária
para que a palavra se possa compreender, por conta disso, esta deve estar sempre ligas
as palavras que são responsáveis pela transmissão do significado.

Os afixos locativos mudam a classe do nome a que se afixam. Como tal, na escrita,
tanto os prefixos como os sufixos têm de estar ligados aos tais nomes que indicam os
locais.

Marten (2010), citado por Chivambo (2012), debruçando-se sobre o processo de


locativização nas línguas bantu, diz que a marca locativa é parte típica do sistema de
classes nominais e existem três classes nominais locativas diferentes que podem ser
reconstruídas por aproximação. Estas classes são em muitas línguas bantu, marcadas
pelos prefixos pa-, ku-, e mu- cuja semântica se refere à proximidade a um lugar ou a
um lugar específico, a um lugar distante ou e a um lugar no interior de algo.

Ainda sobre o processo de locativização, Ngunga (2004) destaca que: “os prefixos
locativos são basicamente secundários, e ajudam a introduzir aquilo que em línguas
como o Português fariam parte do grupo de palavras designadas por advérbios, pois eles
indicam a locativização do nome a que se afixam no tempo ou no espaço.”

Em relação aos processos de locativização nas línguas bantu, Ngunga defende que, a
prefixação não é a única forma morfológica de expressão dos processos de
locativização, pois algumas línguas exprimem a locativização através de afixação não
de prefixos, mas de sufixos aos nomes, ou ainda através de afixação simultânea de
prefixos e sufixos.

As classes locativas são caracterizadas pela referência à dimensão espacial. Os


substantivos são derivados das outras classes nominais, cujos prefixos se mantêm ou
desaparecem.
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Ngunga e Simbine (2012) defendem ainda que

o facto de tudo ser localizável pelo menos numa das dimensões


conhecidas, seja espacial ou temporal, torna a locativização, esse
fenómeno universal importante nas línguas bantu, um fenómeno
secundário do ponto de vista morfológico cuja marcação varia de
língua para língua. Isto é, sendo a marca locativa um morfema
que se afixa a nome que pertence a uma dada classe a qual
pertence por possuir um prefixo que o identifica (prefixo com
função primária) ou um prefixo de concordância que é comum a
prefixos através do qual outros nomes da mesma classe impõem a
concordância, permite afirmar que os locativos têm uma função
secundária.

2.3. Tipos de Locativização


a) Locativo situacional – prefixo pa

O locativo situacional exprime a locativização situacional geral (em/por cima, em/ por
baixo, área).

Exemplos:

pameza ‘na mesa’

paphiri ‘sobre o monte’

pamwendo ‘sobre o pé’

Os exemplos acima mostram o morfema locativo pa- (cl.16), que é prefixado aos nomes
em Cisena, para formar o locativo situacional geral, que pode indicar situacionalidade,
proximidade, temporal ou área aberta dependendo do contexto comunicacional.

b) Locativo Direccional – prefixo ku-

O prefixo da classe 17 (ku-) exprime a locativização direccional com a ideia de


movimento (para, rumo a). Ngunga e Simbine (2012) sugerem que o locativo ku- é
direccional, que se traduz correctamente como preposição a ou para em Português que,
normalmente regem os verbos de movimento.
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Exemplos:

Iye ayenda kunyumba kwace ‘Ele foi para a casa dele’

Mayi ayenda kumunda ‘A mãe foi à machamba’

Meke ayenda kuxikola ‘O Meque foi à escola’

Como se pode ver nos exemplos acima, o morfema ku- indica o locativo direccional e
ocorre com um verbo de movimento (ir e vir).

c) Locativo de interioridade

O prefixo da classe 18 (mu-) exprime a locativização num espaço fechado, limitado,


com ideia de interioridade.

Exemplos:

Baba ayikha pionsene m’cifuwa mwace ‘O pai guardou tudo dentro de seu coração’

Mwana ali munyumba ‘a criança está dentro de casa’

Mwana ali Muxikola ‘a criança está dentro da escola’


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3. Conclusão

Terminado o trabalho pudemos retirar diversas ilações atinentes aos aspectos


relacionados com o processo de locativização na língua Sena, dentro dos quais pudemos
dar os conceitos generalizados sobre a morfologia e a morfologia nominal, trouxemos
também aspectos ligados a concordância nominal nas línguas bantu.

Ademais, importa salientar que pudemos fazer a distinção entre as funções primárias e
secundarias dos afixos, onde vimos que as funções primárias não eram suficientes para
o enquadramento de todos os nomes nas classes nominais, por conta disso devia-se
recorrer aos critérios secundários, como o caso da locativização.

Sobre a locativização, vimos que este é um processo morfológico através do qual um


morfema locativo se associa ao nome para localizá-lo no tempo ou no espaço, podendo
ser locativos de interioridade, de situacionalidade e de direccionalidade.
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4. Bibliografia

CHUNGUANE, Artur Júlio. (2003). Descrição das Estratégias de locativização em


Citshwa, variante Cihlengwe. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo.

LAKATOS, E. M, MARCONI. M. A. (1992). Fundamentos de Metodologia Científica.


Editora Atlas. São Paulo.

MACHOBANE, M.M. (1996). The Sesotho locative alternation verbs. SAJAL. UNISA.
Vol. 16. Nº 1: Pretória.

NGUNGA, Armindo. (2004). Introdução à Linguística Bantu. Livraria Universitária.


UEM:Maputo.

NUNGA, Armindo & SIMBINE, Madalena Citia. (2012). Gramática Descritiva da


Língua Changana. CIEDIMA, SARL.

OKOUDOWA, Bruno. (2010). Morfologia Verbal do Lembaama. Faculdade de


Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo.

SIMBE, Dionísio (2004) Dicionário Chisena – Português. Maputo: Rádio


Moçambique.

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