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ANO VIII VOL.

43 BIMESTRAL - JANEIRO 2014 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

• RESPOSTA RÁPIDA • SUPERAÇÃO

• LIBERDADE DE IMPRENSA

JARDINS DA PRAIA DE SANTOS

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EDITORIAL Sumário
Edição 43 Ano 8 - Janeiro de 2014
Olá, leitores:

Um novo ano chega


4 TROVAS
com muita esperança e repleto
5 MARLENE AKEL
de criatividade e talento que po- Carolina Ramos
dem ser usufruídos nas páginas 6 OS ATEUS ME PROVAM A EXISTÊNCIA
DE DEUS
de Santos Arte e Cultura. Fernando Jorge
História, trovas, atuali- 7 ALÉM DO HORIZONTE
Clotilde Paul
dades e dicas de programação
cultural fazem parte do reper- 8 PRAIA GRANDE ANTIGA
Eduardo Escalante
tório desta edição. 9 LIBERDADE DE IMPRENSA
Na capa, bela foto dos Ives Gandra da Silva Martins

jardins da praia, capturada 10 AGENTES PÚBLICOS


Vadison Espinheira do Carmo
por Alexandre Andreazzi ,
que uniu o esporte e o amor
11 CONCEIÇÃO NEVES GMEINER
Cláudio de Cápua
pelo voo livre à atividade foto-
12 SUPERAÇÃO
gráfica. Edna Gallo
Desejamos aos nossos 13 MEUS ÚLTIMOS DIAS
leitores e amigos todos os votos Lilia Dinelli

de prosperidade e principal- 14 RESPOSTA RÁPIDA


Maria Zilda da Cruz
mente que possamos continuar
15 DECLARAÇÃO DE AMOR
juntos neste ano que se inicia, Valéria Pelosi

mantendo nossa bem sucedida 16 INAUGURAÇÃO DE SÃO JANUÁRIO


Juliano Lins Soares
parceria cultural.
17 NOTAS CULTURAIS
Boa leitura.
18 ESPAÇO DO LIVRO

O Editor

Expediente
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
Editoração Gráfica - Liane Uechi
Revisão: Antonio Colavite Filho
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig Gonçalves
Fotos: Gervásio Rodrigues
Capa: Jardins da Praia de Santos - Alexandre Andreazzi
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br
Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de Cápua; Clotilde Paul; Edna Gallo; Edu-
ardo Escalante; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins; Juliano Lins Soares; Lilia Dinelli;
Maria Zilda da Cruz; Vadison Espinheira do Carmo e Valéria Pelosi. Os autores têm responsa-
bilidade integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados. Distribuição Gratuita. 3.000
exemplares.

PARA ANUNCIAR ENTRE EM CONTATO:


revistaartecultura@yahoo.com.br

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TROVAS
TROVAS

Ano Novo!... Novos Sonhos! Ano Velho que se finda,


E uma esperança crescente, leve embora os meus deslizes,
a pagar passos tristonhos, porque espero, sempre e ainda,
no empurra para a frente! dias muito mais felizes!
Carolina Ramos Antonio Colavite Filho

Fecha-se o tempo passado, Ano Novo e, só o que eu faço,


meia- noite, eu me depuro; é abraçar a solidão,
o Ano nasce iluminado, sentindo falta do abraço
abre-se o tempo futuro. que os dois ponteiros se dão..
Eliana Jimenez Darly Barros

Eis a hora, finalmente,


O Ano Novo se avizinha
da virada. E assim será!
e eu, de tristezas cansado,
Ano Novo, estrada à frente...
compro uma nova folhinha
Desta vez eu chego lá!
José Ouverney
e rasgo o tempo passado...
Marina Bruna

Nas promessas da chegada,


o Ano Novo é uma criança
que já nasce batizada
com o nome de Esperança.
Mercedes Lisboa Sutilo

Que o Ano Novo, afinal,


seja de instantes risonhos
e que os sonhos do Natal
sejam muito mais que Sonhos!
Arlindo Tadeu Hagen

Novembro 2013- Santos Arte e Cultura 4

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MARLENE AKEL
CAROLINA RAMOS

Há pessoas que, no correr da existência, nos sur- No primeiro bis, a homenagem à música popular
prendem pelas suas atitudes e maneira de crescer, suplan- brasileira, Tico-tico no Fubá! Mas foi naquele segundo bis
tando-se a cada passo - Marlene Akel é uma delas! que a plateia entusiasmada, esquecida do esforço já des-
Frágil na aparência, a nossa concertista guarda pendido pela concertista, exigiu de Marlene nada menos que
dentro de si forças escondidas que na hora certa vigoram e o seu “carro chefe”, a Fantasia Triunfal do Hino Nacional
agilizam seu dedos a ponto de surpreender a todos que che- Brasileiro, de Gottschalk!, já apresentada “em homenagem a
gam a exigir da artista o que a sensatez ou até mesmo a Sua Alteza Imperial D. Bertrand de Orleans e Bragança, tri-
prudência não aconselharia. neto de D.Pedro II, por ocasião de sua visita a Santos, dei-
Nesta sua última apresentação, no Colégio São xando-o bastante emocionado.”
José, em fins de novembro, concerto benemerente, tivemos Aquele bis, pesadíssimo, determinado pelo público,
a prova do que foi dito. Em princípio, a própria Marlene mos- assustou os mais conscientes, temerosos do tremendo es-
trara-se desassombrada, como sempre, ao elaborar a pro- forço exigido da artista, ao final de uma exaustiva apresenta-
gramação de um concerto. Mostrou não temer cansaços e, ção!
muito menos, o sorriso aberto e desafiador de um piano, Entretanto, sem qualquer hesitação que provasse o
perenemente à espera da carícia de seus dedos. Mais uma seu cansaço, Marlene Akel sentou-se novamente ao piano e
vez, isto veio a acontecer. Informalmente, Marlene colocou executou, com toda a segurança e inacreditável vigor, a difi-
no topo do Programa a peça de Mozart, Marcha Turca, que cílima e pesada peça de Gottschalk, levantando a platéia e
executou de forma aceleradíssima, seguida pelos melodio- colhendo os merecidos aplausos!
sos compassos de Schubert, enquanto somava fôlego para Bravos, Marlene Akel!
enfrentar a vigorosa peça de Falla, Dança Ritual do
Fogo, executada com maestria e vigor exigidos. A
suavidade das Valsas de Esquina, de Mignone,
amenizaram o programa. Em memória de seu ir-
mão, Reinaldo Akel, recentemente falecido, e fu-
gindo ao teor da programação, a concertista inter-
pretou o tango La Cumparsita, arranjo do
homenageado, que recebeu aplausos entusiásti-
cos da plateia que lotava aquele auditório.
Quase líquida, a suavidade de Debussy
fez-se representar através dos acordes sublimes
de “Clair de Lune”,permitindo à concertista econo-
mizar o fôlego necessário para enfrentar a alta po-
tencialidade exigida pela Rapsódia Húngara, de
Liszt, que primorosamente encerrou a primeira
parte do Concerto. Liszt! Esse temível e magnífico
Liszt, contornado pelos pianistas de todos os tem-
pos pelas dificuldades técnicas existentes em suas
peças. O que sempre afugenta a maioria não inti-
midou a nossa Marlene, cujos primeiros contatos
com a música aconteceram por intermédio de sua
mãe, Antonieta Akel, que deu à filha os conheci-
mentos básicos da arte musical chegados a termo
no Conservatório Dramático e Musical de São Pau-
lo, onde Marlene classificou-se no mais alto grau.
Na colação de grau, após a execução do Concerto
nº 1 de Tchaikowsky, para piano e orquestra, no
Teatro Municipal de S.Paulo, foi considerada pela
crítica especializada como “um marco de um gran-
de talento e um pulso brilhante!” Já ao final do cur-
so, num Concurso para piano, Marlene vencera 80
candidatos, classificando-se em primeiro lugar. Durante o
curso de aperfeiçoamento e virtuosidade, mais uma vez foi
sua a Medalha de Ouro, assim como várias outras que, ao Carolina Ramos é poetisa e escritora, vice-presidente
correr do tempo, abrilhantaram sua vitoriosa carreira. do Conselho Nacional da União Brasileira dos
Trovadores - UBT e presidente da UBT/Santos;
Na segunda parte do concerto que descrevíamos,
Secretária Geral do Instituto Histórico e Geográfico
Marlene, como não poderia deixar de ser, uma vez que de Santos. Pertence à Academia Santista de Letras -
considerada“uma das mais perfeitas intérpretes de Chopin, ASL, à Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes
deleitou o público com o romantismo chopiniano, apresentan- de Santos - AFCLAS e à Academia Cristã de Letras de
do páginas apaixonantes, como a Fantasia Improviso,várias São Paulo - ACL
valsas, além da impactante Polonaise Militar. O Noturno nº
9, foi incluído a pedidos. E poderia faltar?!
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OS ATEUS ME PROVAM A EXISTÊNCIA DE DEUS!
FERNANDO JORGE
zar. Isto os compensa de suas frustrações, dos seus
Sem serem hostilizados, os ateus se agitam cada recalques.
vez mais. Eis a falha fundamental dos ateus: eles não pos-
Parece que os irrita a indiferença dos teístas, em suem lógica. Miguel de Unamuno (1864-1936), poeta, es-
relação a eles. Fornecem a impressão de desejar a crítica critor e filósofo espanhol, acertou quando escreveu as se-
feroz às suas descrenças. Inventaram, talvez com o objeti- guintes palavras no capítulo VIII do livro Del sentimiento
vo de enfurecer os teístas, o Dia do Orgulho Ateu e promo- trágico de La vida,ensaio publicado em 1912:
veram, no mês de fevereiro de 2012, o Primeiro Encontro “Os que renegam a Deus é pela desesperação de
Nacional de Ateus, em vinte e dois estados. não o encontrar”.
A ateia Stíphanie da Silva, estudante gaúcha, alu-
na do excelente Curso de Física da prestigiosa Universida- (“Los que reniegan de Dios es por desesperación
de Federal do Rio Grande do Sul, declarou ao repórter de no encontrario”).
Paulo Saldaña, do Jornal da Tarde: Não há efeito sem causa, não há peixe vivo sem
“Queremos o fim do preconceito contra nós, que água. Os ateus ficam cegos diante de tal evidência. Per-
não acreditamos em religiões, e fazer com que os ateus gunto: eles existiriam, se os seus pais e as suas mães não
percebam que não estão sozinhos.” os tivessem gerado?
Stíphanie pertence à Sociedade Racionalista, or- Haveria a vida, se um criador não a criasse? Va-
ganização defensora do ateísmo. Segundo esta jovem, o mos, ateus, tentem destruir este meu argumento!
preconceito contra os ateus é muito forte. E dá como exem- Inspirado pelo meu Pai Celeste, compus esta mo-
plo a indignação que ela causou quando disse, na qualida- desta poesia:
de de aluna de uma escola católica, que Deus é desneces-
sário. Deus tem sido bom comigo,
A moça ateia ficou revoltada. Vejam o absurdo, a Deus é o meu maior amigo!
falta de lógica: na escola católica onde estudava, Stíphanie Deus me quer bem,
extravasou o seu ateísmo, o seu desprezo por Deus. Reve- E eu quero bem a Deus...
lou tanta insensatez, tanta loucura, como um fulano que Ele me aperfeiçoa,
numa sinagoga garante que o Talmude, livro sagrado dos Dando a minha dor,
judeus, é uma obra falsa, ou que numa mesquita condena E eu nunca estou sozinho,
o profeta Maomé e o Alcorão... O que ela queria? Porque tenho o seu carinho!
Ser aplaudida? Deus, amado Deus,
Aconselho Stíphanie a se dedicar mais ao estudo meu pai, meu criador,
da Física na UFRGS, em vez de nos exibir um exemplo que abre a sua etérea porta,
extremamente infeliz, como o que nos apresentou. Pobre para me acolher,
moça, tão carente de lógica, tão fraquinha na arte de argu- para me compreender,
mentar! Stíphanie, aprofunde-se também no estudo da dia- para me amar,
lética, aprofunde-se! para me ofertar o que conforta!
O comerciante Ulisses Fonseca, de Campinas,
não crê em Deus, mas é sensato, pois afirmou: Sinônimo de Deus: Amor.
“Quem é ateu não precisa ficar se confrontando, Deus é amor, conforme se expressou Dante Ali-
provocando.” ghieri na Divina Comédia, no último verso do canto XXXIII
Stíphanie talvez seja uma ardente admiradora do do “Paraíso”.
jornalista britânico Christopher Hitchens, autor do livro “O amor que move o Sol e as outras estrelas”.
Deus não é grande, no qual emitiu este zurro: (“L’amor che move al sole e l’altre stelle”).
“O conceito de Deus ou de uma força suprema é
uma crença totalitária que destrói as liberdades individu-
ais. Todas as crenças religiosas são infames e infan-
Fernando Jorge é jornalista, membro do Conselho de
tis”. Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Pessoas ateias, como Stíphanie da Silva e Chris- Estado de São Paulo. O petropolitano Fernando Jorge é
topher Hitchens, contribuem bastante para me provar a autor do livro “A Academia do Fardão e da Confusão”,
existência de Deus. E por que? Simples. É porque essas lançado pela Geração Editorial, onde mostra numerosos
erros de Português cometidos pelos membros da
pessoas não conseguem provar a sua inexistência! Limi- Academia Brasileira de Letras.
tam-se a divagar ou a expelir insultos, à maneira do desvai-
rado Christopher. Sentem prazer em chocar, em escandali-

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ALÉM DO
HORIZONTE
CLOTILDE PAUL

Porque o país ficava à beira-


-mar e tinha uma grande extensão de
costa; porque possuíam pescadores
e comerciantes com grande experiên-
cia marítima; porque as minas euro-
péias esgotavam-se e havia a notícia
Na Idade Média, a maior parte sobre a existência de ouro em África;
dos homens conhecia apenas o lugar porque se dizia que para lá da terra dos
em que viviam. Só os comerciantes e mouros havia um soberano cristão ri-
aventureiros faziam pequenas viagens. quíssimo, Prestes João, que estava
Por terra, os caminhos eram perigosos. pronto a auxiliar os povos que praticas-
Mesmo para cruzar curtas distâncias sem a sua religião; porque o país aca-
podia ser necessário escalar monta- bara de sair de uma grande crise políti-
nhas, atravessar rios e florestas, onde ca e gente nova, com vontade de fazer
viviam animais ferozes e salteadores. coisas diferentes, subiria ao poder.
Que dizer das longas jornadas? Aí tudo Todos esses argumentos são
se complicava. Nessa época, era mais verdadeiros. Contudo, é preciso não
fácil navegar pelos rios, lagos e mares, esquecer que na Europa não faltam
ainda que as embarcações a remo e à países à beira-mar, com grande exten-
vela fossem pequenas e frágeis e não são de costa e experiência marítima;
houvesse instrumentos de orientação que a falta de ouro e prata era geral e
que permitissem navegar em mar aber- as notícias de ouro africano corriam
to. Assim, pescadores, aventureiros e por toda a parte. Também é verdade
comerciantes navegavam junto à costa. que o fantástico Prestes João aguçava
Os europeus comerciaram, a cobiça dos reis cristãos, muito antes
desde sempre, no Mar Mediterrâneo e de Portugal se tornar um país indepen-
junto à costa atlântica da Europa. Fize- dente e seria fantasioso demais admitir
ram, também, algumas viagens, quase que, naquele tempo, só Portugal fosse
sempre sem regresso, ao norte da Áfri- governado por soberanos inteligentes
ca e às Canárias. Mais do que isso, nin- capazes de tomar arrojadas iniciativas.
guém se atrevia a avançar. Assim, por mais que tentemos
No início do século XV, pouco argumentar, faltarão sempre elementos
se conhecia do mundo. As informações que possam explicar porque os portu-
geográficas eram imprecisas e estavam gueses deram um salto em frente. Du-
misturadas com lendas e histórias reli- rante os séculos XV e XVI, os navega-
giosas, tanto nos mapas corno nos li- dores lusos desvendaram as rotas
vros. Havia relatos que, embora não ti- marítimas do Atlântico Sul, do Índico e
vessem fundamentos, passavam de do Pacífico até o Japão. Fizeram o reco-
boca em boca, como se fosse coisa cer- nhecimento das ilhas atlânticas, das
ta. Imaginava-se, por exemplo, que, costas ocidental e oriental da África e da Rua Amador Bueno, 64 - sala 9 - Centro - Santos.
para lá do horizonte, estava a Boca do costa sul da Ásia, incluindo diversos ar-
Inferno, que engolia navios e homens e quipélagos do Índico e do Pacífico e re-
havia quem jurasse ter visto monstros, conheceram boa parte da costa atlântica
sereias e tritões. da América do Sul.
Na Europa, os portugueses fo- Essa estupenda aventura pôs
ram os primeiros a romper os limites do em contato povos e culturas de todo o
mundo conhecido. Tinham barcas iguais mundo, trouxe conhecimentos sobre a
às que os outros povos usavam para na- terra e a vida da terra e a humanidade
vegar no Mediterrâneo e no Atlântico. alterou-se a si própria, encontrando uma
Para se guiarem, contavam com o Sol forma de ser mais variada, rica e feliz.
durante o dia e as estrelas à noite. Como
único instrumento de navegação, co-
nheciam a bússola, que todos os outros Clotilde Paul é professora, mestra e
povos, também, já conheciam. doutora em História Social (USP),
Então, por que os portugueses advogada e diretora da Sociedade São
foram os primeiros a partir para além do Leopoldo, membro da Academia
Santista de Letras e do IHGS.
horizonte?
As explicações são muitas.
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PRAIA GRANDE ANTIGA
EDUARDO ESCALANTE
Chegamos ao Brasil em 1949. ra, deparava-se com um ranchinho de
Meu pai, que aportara um mês antes, taboas. Ali morava o Benedito, colhe-
nos levou a conhecer “uma praia para- dor de palmito, três filhos e sua mulher
disíaca”. Atravessamos a ponte pênsil Sebastiana, que ajudava a minha mãe
e para lá seguimos. Ao chegar se nos nos afazeres domésticos. Contadora
deparou uma paisagem virgem, uma de histórias, lendas e crendices, relata-
praia de cem metros de largura, quase va um fenômeno estranho que os cai-
deserta. Não havia avenida, não havia çaras denominavam “Maré da pregui-
prédios, apenas algumas casas sim- ça” – uma onda que cobria tudo, até a
ples. Os carros entravam pela areia e beira da serra. Em época mais recente,
seguiam beirando o mar onde o solo descobri que ela se referia a uma espé-
úmido era mais compacto. cie de tsunami que ocorrera em tempos
A paisagem: de um lado o ver- remotos e que reapareceria no futuro.
de marinho, do outro a mata atlântica Nossa casa, na tranquila Vila Tupy, de
luxuriante que desaparecia seguindo pedras vermelhas, terraço envidraça-
até a Serra do Mar. do, caramanchão no quintal, onde fize-
Ao longe se viam as monta- mos uma pequena horta e eu plantei
nhas que ascendiam rumo ao planalto. tomate, melancia e abacaxi, prevalece
Na beira do mar podiam-se catar con- viva na minha lembrança.
chinhas de tamanhos e cores diferen- No jardim frontal plantei uma
tes. Com a subida das águas, siris as- semente. Nasceu e cresceu um belo
sustados corriam de volta para as chapéu-de-sol que no verão ofertava
profundezas. sombra generosa.
As noites eram líricas: não ha- Em meio à natureza, ilumina-
via iluminação artificial. A Via Láctea va as nossas noites a luz da Lua e dos
cruzava o céu de ponta a ponta e dava lampiões.
para se contar as estrelas. Às vezes Em 1954 iniciou-se a constru-
um meteoro cruzava o infinito. Quando ção da Cidade Ocian, que eu acompa-
a Lua aparecia, iluminava-se prateada nhei desde o início. Prédios acabaram
a paisagem encantadora. com o encanto da paisagem virgem.
Nas noites sem Lua, eu gosta- Uma imensa fileira deles elevou uma
va de andar pela beira-mar e admirar o muralha achamboada. Meu chapéu-de-
cintilar tênue da fosforescência de mi- -sol sumiu por baixo de elevadores, es-
núsculas algas marinhas. capamentos poluidores, buzinas, tele-
Costumava também entrar visores barulhentos. Uma avenida
pela mata rumo à serra, por uma pica- roubou a largura da imensa praia de
da aberta para a entrada de caminhões antigamente.
rumo a outras duas aberturas na mata: Tempos felizes aqueles em
por uma seguiam os fios do telégrafo, que se cultuava a natureza! Mas o ho-
por outra, uma linha ferroviária semi- mem a destruiu; disso nem se arrepen-
-abandonada cuja estação final era Pe- de!
dro Taques. E depois dizem que os velhos
As referidas picadas, décadas são saudosistas...
depois se transformariam, respectiva-
mente, na atual Avenida Kennedy e na Eduardo Escalante é compositor,
rodovia que segue para Mongaguá folclorista e membro titular do Instituto
Pela estradinha, a uns cem Histórico e Geográfico de SP
metros da praia, em meio a uma clarei-
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LIBERDADE DE IMPRENSA
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
Todos os regimes tendentes à ditadura são favorá- não gosta.
veis ao controle da mídia. É a forma de não serem investiga- Ora, a mídia constitui os pulmões da sociedade e
dos e, no exercício do poder, agirem sem tutela e sem que o para ser livre não
povo saiba o que ocorre nos porões do poder. pode ser tutelada
Vimos que países como a Alemanha de Hitler, Cuba nem pelo governo,
de Fidel, a Rússia de Stálin, Chile de Pinochet, Itália de Mus- nem por pequenas
solini e outras ditaduras conhecidas sempre controlaram a instituições criadas
imprensa para que pudessem livremente manipular o povo. para dar respaldo
Na atualidade, Venezuela e Argentina, com Maduro aos donos do po-
e Cristina, tudo fazem para calar os meios de comunicação der.
livres. O sucesso maior foi de Maduro, hoje um quase dita- A garantia
dor naquele país, que, inclusive, silenciou os órgãos contrá- maior da democra-
rios ao governo, impondo a venda do mais importante canal cia não vem dos go-
de televisão a seus amigos. Desta forma, seu desgoverno na vernos, mas da in-
nação em que há alta inflação e baixo crescimento e, em que v e s t i g a ç ã o
tudo falta, inclusive papel higiênico –sem qualquer alusão às permanente da mí-
limpezas que devem lá ser feitas no país pelos estragos que dia. E esta deve ser
causou--, não pode ser desconhecido. sempre livre.
O mesmo ocorre na Argentina, em que pese ter
maiores anticorpos democráticos.
No Brasil, quanto mais os governos
de esquerda falham –veja-se a alta inflação, Dr. Ives Gandra da Silva Martins
baixo PIB, máquina administrativa adiposa e é Professor Emérito das Universidades
outros ingredientes de uma política sem Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do
rumo- a ideia de controle da mídia volta a CIEE/O ESTADO DE SÃO PAULO, das
ser proposta pelo partido da presidente. Escolas de Comando e Estado-Maior do
Fala-se que a sociedade organiza- Exército - ECEME e Superior de Guerra
da é que deveria controlá-la. Ora, não há - ESG; Professor Honorário das Universida-
sociedade organizada de esquerda, que des Austral (Argentina), San Martin de Por-
normalmente monta, com um pequeno nú- res (Peru) e Vasili Goldis (Romênia); Doutor
Honoris Causa da Universidade de Craiova
mero de pessoas suas associações civis, e
(Romênia) e Catedrático da Universidade do
se manifesta como se falasse em nome de Minho (Portugal); Presidente do Conselho
193 milhões de brasileiros!!! Superior de Direito da FECOMERCIO - SP;
A sociedade organizada é aquela Fundador e Presidente Honorário do Centro
que vota. E a sociedade desorganizada é de Extensão Universitária.
aquela que vai às ruas para denunciar o que
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AGENTES PÚBLICOS
VADISON ESPINHEIRA DO CARMO
go, emprego ou função nas entidades mencionadas no
artigo anterior.”
Segundo Celso Antônio Portanto, seja Presidente da República, Governador
Bandeira de Melo: “Esta de Estado, Prefeito Municipal, senador, deputado, vereador,
expressão – agentes pú- funcionário público, servidor público, empregado público, to-
blicos – é a mais ampla dos são agentes públicos.
que se pode conceber para Tornou-se costume dizer que agentes públicos go-
designar genérica e indistinta- zam de fé pública. Todavia, isto hoje não deve ser aceito tran-
mente os sujeitos que servem ao quilamente, diante dos inúmeros fatos negativos que vêm
Poder Público como instrumentos expressivos de sua ocorrendo nos últimos tempos; agentes públicos corruptos,
vontade ou ação, ainda quando o façam apenas ocasional ou praticando os mais vergonhosos escândalos com o dinheiro
episodicamente. Quem quer que desempenhe funções esta- público: ministros, governadores, prefeitos e secretários (Po-
tais, enquanto as exercita, é um agente público. Por isso, a der Executivo); ministros, desembargadores e juízes (Poder
nação abarca tanto o Chefe do Poder Executivo (em qual- Judiciário); senadores, deputados e vereadores (Poder Legis-
quer das esferas) como senadores, deputados e vereadores, lativo); e mais quem quer que seja: diretores, assessores, de-
os ocupantes de cargos ou empregos públicos da Administra- legados, fiscais e demais espécies de agentes públicos.
ção direta dos três Poderes, os servidores das autarquias, Eis alguns casos: os escândalos do “mensalão”; de-
das fundações governamentais, das empresas públicas e so- putado federal Natan Donadon condenado a mais de 13 anos
ciedades de economia mista nas distintas órbitas de governo, de prisão pelo Supremo Federal por peculato e formação de
os concessionários de serviço público, os delegados de fun- quadrilha; “Suíça devolve R$ 10,8 mi de Lalau” (ex-juiz Nico-
ção ou ofício público, os requisitados, os contratados sob lo- lau dos Santos condenado por desvio de verbas do Poder
cação civil de serviços e os gestores de negócios públicos.” Público e corrupção – A Tribuna 10/07/2013, página C-5); Ide-
(Curso de Direito Administrativo, 27ª edição, páginas 244 e li diz que Congresso “às vezes faz chantagem” (Ideli Salvatti
245. Malheiros Editores). ocupa o cargo de Ministra do Poder Executivo) – A Tribuna
Segundo Hely Lopes Meirelles, são todas as pesso- 16/06/2013, página C-6 e A Tribuna 18/06/2013, página A-2);
as físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exer- “Irregularidades no uso de um avião da Força Aérea Brasileira
cício de alguma função estatal. Repartem-se inicialmente em (FAB) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique
cinco espécies ou categorias bem diferenciadas, a saber: Eduardo Alves (PMDB-RN), vão ser investigadas pela Procu-
agentes políticos, agentes administrativos, agentes honorífi- radoria da República no Distrito Federal...” (A Tribuna
cos, agentes delegados e agentes credenciados. E continua 07/07/2013, página c-6); Renan decide devolver R$ 32 mil.
o jurisconsulto: agentes políticos: são os componentes do Presidente do Senado utilizou aeronave da FAB, em viagem
Governo nos seus primeiros escalões, investidos em cargos, sem caráter oficial, para comparecer a solenidade de casa-
funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, mento na Bahia (A Tribuna 06/07/2013, página C-2); Fraude
designação ou delegação para o exercício de atribuições milionária leva à demissão de Procuradora da Prefeitura de
constitucionais, assim identificados. Agentes administrativos: Guarujá (A Tribuna 05/07/2013, página A-9); PF prende se-
são todos aqueles que se vinculam ao Estado ou às suas cretário do RS e mais 17 por fraude ambiental (A Tribuna
entidades autárquicas e fundacionais por relações profissio- 30/04/2013, página C-7); Prefeitos cassados vão ter que res-
nais, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime jurídico deter- sarcir gastos (A Tribuna 30/04/2013, página C-7); E-mail va-
minados pela entidade estatal a que servem. Agentes honorí- zado por acidente levanta suspeitas de conluio dentro do CNJ
ficos: são cidadãos convocados, designados ou nomeados (O Estado de São Paulo 21/03/2013, página A-4); Cinco mé-
para prestar, transitoriamente, determinados serviços ao Es- dicos são afastados do SAMU por fraudarem ponto (O Esta-
tado, em razão de sua condição cívica, de sua honorabilidade do de São Paulo 12/03/2013, página A-18); quadrilha de fun-
ou de sua notória capacidade profissional, mas sem qualquer cionários fiscais (máfia do ISS) que fraudava o recolhimento
vínculo empregatício ou estatutário e, normalmente, sem re- do ISS da Prefeitura de São Paulo; Assessores de Ministro
muneração. Agentes delegados: são particulares – pessoas da Fazenda são acusados de receber propina (Folha de São
físicas ou jurídicas, que não se enquadram na acepção pró- Paulo 15/11/2013), e muito mais.
pria de agentes públicos – que recebem a incumbência da Na atualidade, é duvidoso afirmar que agente públi-
execução de determinada atividade, obra ou serviço público e co goza de fé pública. A pessoa dizer que é agente público,
o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas se- mostrar a carteira ou o distintivo, não basta para ter credibili-
gundo as normas do Estado e sob a permanente fiscalização dade, ser honrada. É necessário de alguma maneira provar
do delegante. Esses agentes não são servidores públicos, que tem fé pública. Vale dizer: não basta dizer ser honesta, é
nem representantes do Estado; todavia, constituem uma ca- necessário parecer que é, como fizeram com a mulher de Cé-
tegoria à parte de colaboradores do Poder Público. Nessa sar.
categoria encontram-se os concessionários e permissioná- Agente Público para o exercício pleno de seus en-
rios de obras e serviços públicos, os serventuários de ofícios cargos deve estar identificado com pelo menos os seguintes
ou cartórios não estatizados, os leiloeiros, os tradutores e in- fatores e atributos: ter bom caráter, exercer a plena cidadania,
térpretes públicos, as demais pessoas que recebem delega- ser verdadeiro, respeitoso, moderado nas atitudes, praticar a
ção para a prática de alguma atividade estatal ou serviço de cordialidade, disciplina comportamental, preservar a dignida-
interesse coletivo. Agentes credenciados: são os que rece- de.
bem a incumbência da Administração para representá-la em Com estas qualificações pode-se então dizer que o
determinado ato ou praticar certa atividade específica, me- agente público goza de fé pública e, portanto, ser respeitado.
diante remuneração do Poder Público credenciante.
A Lei nº 8.429, de 02 de junho de 1992, diz: “Art. 2º Vadison Espinheira do Carmo é auditor fiscal da Receita
Reputam-se agente público, para os efeitos desta lei, todo Federal do Brasil, aposentado, professor-mestre
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remu- (Administração) Universitário, bacharel em Ciências
neração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou Contábeis e advogado
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, car-
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CONCEIÇÃO
NEVES GMEINER
CLÁUDIO DE CÁPUA
Faleceu em Santos, na Be-
neficência Portuguesa, dia 29 de de-
zembro passado, a intelectual e pro-
fessora universitária, doutora
Conceição Neves Gmeiner, que por
dois mandatos foi vice-reitora aca-
dêmica da Universidade Católica de
Santos (Unisantos).
Conceição Neves Gmeiner,
mestre em Filosofia da Educação -
São Paulo - PUC, mestra em Filoso-
fia moderna pela Universidade de Universidade Católica de Santos.
São Paulo - USP e doutora em Filo- Ao fechar-se aqui na terra
sofia pela Universidade de Berlim, é uma porta na horizontal, tenho certeza
autora do livro "A Morada do Ser". que se abriu no céu na vertical outra
Conceição foi, ao lado do professor porta, para um recinto de muita luz.
e doutor Waldemar do Valle Martins, Seja feliz em seu novo lar, Conceição
uma das responsáveis pela transfor- Neves Gmeiner.
mação da Faculdade de Filosofia, Ex-aluno Cláudio de Cápua.
Ciências e Letras de Santos em

Cláudio de Cápua é aviador, jornalista e escritor. Pertence ao Instituto Histórico e


Geográfico de Santos, à Academia Paulistana de História. É sócio-fundador da
União Brasileira de Trovadores - Seção de São Paulo. www.de-capua.com

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SUPERAÇÃO
EDNA GALLO

Na caixa postal do grupo beneficente


onde eu trabalhava como voluntária, che-
gou uma carta de um presidiário. Pedia
livros. Gostava de ler, porém, não tinha
como adquiri-los. Enviamos alguns exempla-
res de romances, poesias, autoajuda, folhe-
tos com mensagens. Ao recebê-los, escre-
veu agradecendo. A partir desse dia,
passou a manter uma correspondência com
a instituição e as respostas eram sempre
com palavras de incentivo e apoio moral.
Numa das cartas , contou-nos sua história.
Cícero, esse era seu nome, estava
preso há dois anos, condenado por tenta-
tiva de homicídio, que, segundo ele, não
cometera. Estava pagando injustamente
pelo erro de outra pessoa. Viera da Bahia
aos oito anos de idade juntamente com
sua mãe, de carona num caminhão. Foram
morar numa favela na periferia de São
Paulo.
Cresceu jogado nas ruas, pois sua
genitora pouco se importava com ele.Edu-
cação, conselhos, carinho, nunca recebera
dela, porém, apesar de não ter recebido tos, escrevia cartas para os familiares dos presidiários
orientação materna, era um menino de boa índole e ja- analfabetos e, assim, ganhou a simpatia de todos.
mais se meteu em confusões ou atos desonestos. Aos Agora, há pouco tempo, ganhou a liberdade. O
dezoito anos, já trabalhava como auxiliar de pedreiro. adolescente, que praticou o assalto, confessou após ser
Foi numa noite que tudo aconteceu. Encontrou preso por outros delitos. Cícero nos escreveu todo con-
alguns amigos do tempo que morou lá na favela e para- tente. Um novo caminho se abria à sua frente.
ram numa esquina para conversar. Entre os jovens estava Foi trabalhar de porteiro numa empresa, serviço
um menor que ele não conhecia. Do outro lado da cal- esse arrumado por um advogado. Porém, desde menino
çada, um senhor idoso ia passando quando o garoto re- acalentava o sonho de aprender música, tocar teclado.
solveu assaltá-lo. Puxou debaixo da camisa uma arma. Uma das voluntárias , sabendo desse seu desejo, deu
O homem reagiu e levou um tiro de raspão. Cícero, então um de presente para ele. Cícero ficou feliz. À noite, no
,interveio. Desarmou o assaltante e abaixou-se para so- seu quarto, lá nos fundos da firma onde trabalhava
correr o homem que estava caído e desmaiado. Nesse ,aventurava-se a tocar de ouvido. Um funcionário resol-
instante, surge uma viatura policial. Os outros fugiram e veu indicar um professor, que aceitou dar-lhe aulas gra-
ele preso em flagrante. Foi condenado. tuitamente.
Devido ao seu bom comportamento, foi trabalhar Nas horas vagas ,começou a tocar para as festas
no almoxarifado. Lá distribuía os livros para outros deten- dos amigos de trabalho e, assim, foi ganhando experiên-
cia e sendo convidado para musicar outras festas. Hoje,
sua agenda é cheia de compromissos. Continua firme
como porteiro e nos finais de semana a música toma o
seu tempo. Nunca mais voltou à favela. A mãe, poucas
vezes veio visita-lo. Nunca lhe deu muita atenção.
Conseguiu com a ajuda de outras pessoas superar
toda essa fase ruim de sua vida em que pagou por algo
que não cometeu.De tudo o que passou, Cícero tirou
uma grande lição. Quando formasse uma família, seria
um pai sempre presente, carinhoso, dedicado, educando
com amor seus filhos, mostrando os caminhos do bem
e dando a eles tudo aquilo que não recebera.

Edna Gallo- Poetisa - Trovadora


Livros publicados: Brisa de Outono
Alvoradas e Crepúsculos

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MEUS ÚLTIMOS DIAS
LILIA DINELLI

Como serão? maiar. Imergi e caminhei com ele, em


Estarei feliz como hoje? Mas seu universo daquele momento.
-
... Como ele conseguiu transpor-
Qual o motivo que me faz es- tar-me ao seu infinito?
tar feliz? E eu fui! Entreguei-me aos
Uma música que ouço? seus devaneios.
Memórias ou momentos ines- Hoje, toda essa felicidade me
quecíveis? faz pensar se estarei assim nos meus
Uma companhia agradável e últimos dias.
ideias semelhantes em um encontro O meu corpo físico será mais
casual? fácil de localizar, pois é visível.
Um lindo dia com o céu todo Mas onde estará o meu pensamento?
azul e uma temperatura outonal? Com quem ou como estará?
Um doce saboroso que como? Feliz?
Como?
Cheio de creme, de chocolate
Lilia Dinelli é Mestre em Ciências da
ou de baunilha pode ser, uma delícia ... Religião pela Universidade Metodista
Uma obra de arte lindíssima, de São Paulo – UMESP e professora
na qual o autor levou-me para dentro Coordenadora dos Cursos de Extensão
dela e eu perdi os sentidos. Sem des- da Faculdade Messiânica

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RESPOSTA RÁPIDA
MARIA ZILDA DA CRUZ

Já estava com pouco mais de trinta anos. Trabalha- ajuda, ele só podia ser filho de uma mãe bondosa. Entrou na
va bastante e com pouca remuneração. Mas nem por isso igreja pela primeira vez. Olhou o altar e rezou: “Ó Mãe de
deixava de sonhar. Queria formar um lar. Seria pobre! Com Jesus, ache para mim uma namorada. Que eu possa acredi-
uma boa moça seria limpo, arrumado e quem sabe até per- tar nela e ela em mim. Na confiança, construiremos uma fa-
fumado. Perfume como as salas do escritório do seu serviço. mília feliz.” Olhou mais um pouco os altares e saiu depressa,
Não teria cortinas nas janelas e nem tapetes no chão; só o com medo de perder a pontualidade.
do banheiro, antiderrapante, para manter a segurança. So- O dia seguiu a rotina de sempre. Prestou atenção
nhava até mesmo com detalhes. E filhos? Bem, isso tem de ao serviço, procurou não errar, sorriu aos colegas quando
ser discutido a dois, concluía. Afinal, filho é de casal e não só precisou.
do pai, só da mãe. Quantos seriam? Mas que insistência de Já sete horas da noite começou o caminho de volta
pensamento, refletia ele: “Nem namorada eu tenho.” Já ten- para casa. Cabisbaixo, cansado e sonhando firme numa na-
tara se aproximar de mais de uma. Não dava certo. De quem morada, mais virtual do que real. Como ter esposa, se nem
seria a culpa: dele ou delas? Pensava, analisava e ficava começo de namoro vivia?
sem resposta. Ao passar em frente à igreja descoberta pela ma-
E todo dia devaneava sobre a vida de um lar só nhã, sentiu inesperada tremenda força sobre o corpo contra
para si. Vivia só. Os pais não mais existiam. Os irmãos mo- o chão. O que acontecera? Um tombo sem razão? Seu hu-
ravam em outras cidades. Nem mesmo a irmã caçula, sua milde saquinho com pão e salsicha jazia na calçada como
queridinha, lembrava de se comunicar, de dizer algumas pa- ele. Por cima de si uma coisa fofa e pesada. Custou para
lavras de carinho. Na verdade, sua família nunca fora unida. recuperar-se do ataque inesperado e perceber sobre o seu
Também não sabia responder o porquê da falta de união. colo uma cabeça de mulher. Quem era? Por que essa vinda
Sentia tristeza por ser só. Trabalhador e honesto, conseguia tempestuosa? Aos poucos a situação clareou-se. A senhora
esconder dos outros seu mundo tão despovoado de família. saiu da igreja, tropeçou na escada e, num tombo de novela
Assim sonhava todos os dias, sem definir se queria uma es- ou de cinema, caiu sobre ele. O imprevisto acontecera como
posa loira ou morena. Pequena ou alta. Magra ou cheinha. um raio. Ambos se olharam surpresos e solenes afirmaram:
Coisa difícil de escolher: uma mulher! Pensar na cor da cor- nada de machucado grave. Levantaram-se sem fraturas e só
tina do quarto, onde acariciaria sua companheira era bem futuras dores musculares. Os cabelos pretos e a pele do ros-
mais fácil. Mas que cortina? Mal ganhava para a comida e a to da senhora denunciavam uma idade com mais de quaren-
vestimenta simples! Como sonhar não é proibido e não tem ta anos. O jovem, um pouco refeito do susto, dirigiu sua
tamanho, ele, o João Sérgio, não poupava esse exercício queixa a N. Sra.: “Ó Mãe de Jesus, não precisa atender o
diário: construir castelos, sendo dono do nada. meu pedido tão rápido! De manhã eu lhe pedi uma namora-
Tinha pouca religião, mas esporadicamente pedia da, mas sem tanta pressa, um pouco mais devagar e sem
ajuda a Deus. Queria sair dessa igualdade de dias: traba- dramaticidade. E, também, pedi uma jovem para namorar e
lhar, dormir e novamente trabalhar. Rezava o que aprendera não uma mãe para me cuidar!”
com a avó. Porém, o hábito de rezar não existia. Uma manhã
no caminho comum para o serviço reparou numa igreja. Pa-
rece que fora plantada durante a noite. Nunca a vira nesse
trajeto cotidiano. Parou e viu: um templo em honra a Nossa
Senhora. Se ele bem se lembrava, a avó tinha especial de- Maria Zilda da Cruz – Mestra e Doutora
voção a essa Mãe de Jesus. Como ele sempre lia, “Jesus em Psicologia pela USP. Membro da
salva”, “Jesus é seu amigo” e tantas outras afirmações de Academia Feminina de Ciências,
Letras e Artes de Santos e Membro da
Diretoria da Academia Santista de
Letras.

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DECLARAÇÃO DE AMOR
VALÉRIA PELOSI
Vivemos na era dos genéricos. gente acreditava mas sabia que era
A partir dos medicamentos, louvados mentira. Não cheguei nem chegarei a
por uns, questionado por outros, chega- esse nível de abstração, de sublimida-
mos aos genéricos das emoções. Pare- de. Não consigo pôr no mesmo saco
ce que são, mas serão? violentadores e abnegados. O máximo
As redes sociais são o genéri- que consigo, em nome da minha verda-
co da amizade. "Tenho centenas de de, é dizer que abomino uns, entendo
amigos!" Como isso é possível? Procu- muitos, admiro outros e amo mesmo só
rem outra palavra no vernáculo porque alguns .
amigo não é isso não. Então, quando faço minha de-
Os histéricos fãs clubes trans- claração de amor ao mar, faço com a
formam o amor em algo coletivo e indis- mesma discriminação. Não amo o mar
criminado. Genérico. dos tsunamis, nem os que se movem
O sexo também não escapou sobre areias pedregosas, nem os apri-
da avalanche. Alguns estilos musicais, sionados em gargantas estreitas que
uns nacionais, outros importados asso- me fazem lembrar os perigos de Darda-
lam esta e outras terras. Sugerem, esti- nelos. Amo o mar da Baia de Santos
mulam, mas não afirmam. Tudo fica a com seu horizonte despudoradamente
cargo da imaginação provocada e larga- escancarado, que, por ser mar, tem sim
da sem destino. Genérico. a possibilidade do rugir do tsunami, mas
Não encontro, nem no Aurélio, que optou pelo marulhar, pelo acariciar,
nem no Houaiss, definições para esses pelo conversar.
fenômenos porque a amizade, amor e Certa vez, um poeta amigo me
sexo são outra coisa. Exige pessoalida- disse que "conversar" é fazer versos
de, individualidade, discriminação. junto. Esse é o mar que amo pessoal e
A máxima desses movimentos intransferivelmente. O mar que provoca
bem poderia ser o verso de uma música a poesia em crianças. Nas palavras de
que já tem alguns anos: "Sou de todo minha neta quando pequenina para se
mundo e todo mundo é meu também!" referir à espuma das ondas: "Vovó, as
Agora chegamos ao genérico ondas têm florzinhas na cabeça!"
dos genéricos. O politicamente correto e
excessivamente divulgado "Amor à Hu- Valéria Pelosi é cronista, Mestra e
manidade". Isso me parece a história do Doutora em Psicologia pela PUC de
Saci que nos contavam na infância. A São Paulo.

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INAUGURAÇÃO DE SÃO JANUÁRIO
JULIANO SOARES LINS

A peleja entre o Santos Futebol Clube e o Vasco da minutos, Evangelista fez o segundo gol a favor do time visi-
Gama aconteceu no Rio de Janeiro, capital do Brasil naque- tante. Seis minutos depois, Bahiano empatava o jogo; jogo
la época. A delegação santista, hospedada no Palace Hotel, empatado, deixando o placar em 2 x 2, mas aos 28 minu-
era chefiada pelo seu presidente, Dr. Guilherme Gonçalves, tos, Omar, meia ofensivo de ataque santista, desempata:
e seus dirigentes Dr. Agenor Guerra Corrêa, Srs. Mário Pa- Santos 3 x 2 Vasco da Gama. Com 31 minutos, Araken
checo, Fausto Santos e Urbano Caldeira. Patusca, “Le Danger”, atacante santista, faz outro gol a
No dia 21 de abril de 1927, o Estádio de São Janu- favor do alvinegro praiano e Evangelista aumentou o placar
ário contou com a presença do Dr. Washington Luís Pereira aos 35 minutos; o Santos fica com 5 gols a favor contra 2
de Sousa, Presidente do Brasil, e do Cardeal Dom Sebas- gols do Vasco da Gama. Perto do fim do jogo, Pascoal jo-
tião Leme, que benzeu o estádio. A fita de inauguração foi gador do Vasco, diminuiu o placar para o time vascaíno,
desatada pelo famoso Major aeronauta português Sarmento deixando o marcador final de 5 a 3.
de Beires, conhecido pelo percurso de voo direto entre Lis- Os vencedores do jogo foram carregados em
boa – Rio de Janeiro. triunfo, lembrando que Feitiço participou deste jogo e mes-
O time do Vasco da Gama foi o primeiro a pisar no mo não tendo feito nenhum gol, jogou com brilhantismo e
campo. A escalação era composta por: Nelson; Espanhol e entrou para a história por ter participado da inauguração do
Itália; Nesi, Claudionor e Badu; Pascoal, Torteolli, Russinho, São Januário.
Bahiano e Negrito. Logo após, o time santista apareceu em No vestiário, os jogadores e dirigentes do Santos
campo, vestindo paletós esporte, de elegante detalhe, preto se abraçaram, comemorando a grande vitória num estádio
e branco, sendo recebidos com vários aplausos pela multi- recém- inaugurado por eles, “ cheirando a tinta”, dito pelos
dão, e entrou em campo com seus 11 titulares: Tuffy; David próprios atletas. E os vascaínos reconheceram o mérito e
e Bilú; Hugo, Júlio e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Araken foram parabenizar o Santos no vestiário através do seu
e Evangelista. Seguido pelo árbitro Carlos Martins da Ro- presidente, Antônio Campos, que o afirmou.
cha, conhecido como Carlito. - “Parabéns, Santos F. C.! Belo triunfo! Parabéns!
Com 20 minutos de jogo, Evangelista, atacante do
time santista, fez o primeiro gol de inauguração de São Ja-
nuário. Três minutos depois, o Vasco da Gama empatava o Juliano Soares Lins é historiador
jogo, gol feito por Negrito. Durante o primeiro tempo, o San- especialista em esportes.
tos conseguiu segurar o ímpeto do time do Vasco e o placar
permaneceu empatado por 1 a 1. No segundo tempo, aos 15

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NOTAS CULTURAIS
NOTAS CULTURAIS

MÚSICA NO CENTRO E CHORINHO NO AQUÁRIO


Música de qualidade, ao
ar livre e gratuita são o tripé do su-
cesso de dois projetos realizados
em parceira pela empresa Ecopor-
to Santos e Prefeitura Municipal:
Chorinho no Aquário e Música no
Centro.
O primeiro já completou
seis anos e acontece sempre aos
sábados na Praça Luiz La Scala,
no Aquário, às 18h. No repertório,
compositores como Chiquinha
Gonzaga, Ernesto Nazareth, Pixin-
guinha, Zequinha de Abreu e Ja-
cob do Bandolim, dentre outros
clássicos da música brasileira.
Dentre os grupos que se
apresentam, a maioria é de artis-
tas locais, privilegiando assim a
cultura regional.
O Música no Centro traz
diversas bandas e acontece sem-
pre às sextas-feiras, às 12h30 na Chorinho no Aquário atrai público fiel ao estilo brasileiro
Praça Mauá, no Centro de Santos, dei- Em janeiro estão previstas as seguintes apresentações:
xando a véspera do fim de semana
com ar festivo e descontraído. Música no Centro Chorinho no Aquário
Juntos já proporcionaram ao 24/1 - Macaco Prego 18/1 - Ivan da Gaita e Regional
público santista ao longo dos anos 31/1 - Duo Electra 25/1 - Choro das Estações
mais de 300 espetáculos.

MEMÓRIA DA LITERATURA PAULISTA


A Academia Paulista de Letras lançou, em 7 de novembro, o Pro-
jeto Memória da Literatura Paulista, com a palestra da escritora Raquel
Naveira que recordou as personalidades e as obras de duas escritoras que
marcaram a cena literária brasileira com brilhantismo e inteligência: Maria
de Lourdes Teixeira e Stella Carr.
Maria de Lourdes Teixeira foi romancista, contista, tradutora, me-
morialista, conferencista e em 1969, a primeira mulher eleita Membro da
Academia Paulista de Letras.
Stella Maria Whitaker Ribeiro Carr marcou presença em nosso
meio cultural. Desde adolescente colaborou na imprensa, com poemas,
contos e divulgando a produção poética de sua geração. Fez parte da dire-
toria da UBE/SP e foi membro de inúmeras entidades culturais. As crianças
e os jovens vibraram com os livros de Stella Carr. Ela foi uma das mais
conhecidas e amadas escritoras em pleno boom da Nova Literatura Infantil.
Escritora Raquel Naveira homenageia escritoras

RODOLPHO ABBUD
No dia 26 de novembro, em Nova Friburgo - RJ, faleceu Rodolpho Abbud,
um dos ícones do Movimento Trovadoresco do Brasil. Pela sua intensa atuação na
área poética, sua partida teve grande repercussão no mundo da Trova, tanto nacio-
nal como no exterior. Em 2011, durante os festejos dos XV Jogos Florais de Santos,
Rodolpho aqui esteve, como um dos premiados, ajudando a abrilhantar o evento
com sua presença.
Homenagens têm sido prestadas a esse estimado trovador que deixa mui-
tas saudades entre seus Irmãos na Trova.

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Espaço do Livro
CLÁUDIO DE CÁPUA

O CERNE DA MATÉRIA
de ROGÉRIO ROSENFELD

Livro de autoria do escritor pau-


listano Rogério Rosenfeld, 52 anos de
idade, bacharel e mestre em Física pela
USP e PH.D. pela Universidade de Chi-
cago, e ainda professor livre-docente e
vice-diretor do Instituto Física Teórica da
UNESP. Em "O Cerne da Matéria", Rogé-
rio Rosenfeld descreve, em gramática de
fácil entendimento, como a Física desve-
lou aos olhos da ciência o que é a maté-
ria. O livro enfoca a Física em alta veloci-
dade e demonstra no decorrer da escrita
a história do funcionamento do acelera-
dor de partículas, cuja base é usar ímãs
e eletricidade que movimentam íons que
com a colisão formam novas partículas.
O privilégio de ter trabalhado no
LHC facultou a Rosenfeld descrever,
com precisão, a história dos avanços
científicos gerados pelo acelerador de
partículas finalizando com a descoberta,
em 2012, do bóson de Higes.
O livro "O Cerne da Matéria" é
excelente!

A TROVA
Raízes e Florescimento - UBT
Carolina Ramos, consagrada
poetisa e trovadora santista, traz à luz
o livro "A Trova - Raízes e Florescimen-
to - UBT".
Trata-se de uma obra de fôle-
go sobre a trova e o movimento trova-
doresco. A incumbência dessa obra foi
outorgada pelo presidente nacional da
União Brasileira de Trovadores, trova-
dor Luiz Carlos Abritta, que sentiu a ne-
cessidade de retratar a trajetória da
trova no Brasil, o que foi feito em 419
páginas. CONFISSÕES DE UMA
O livro descreve desde o sur- LOUCA DE AMOR
gimento da trova na Idade Média até VIVIANE PEREIRA
sua chegada ao Brasil. Relata a funda-
ção da União Brasileira de Trovadores,
fundada por seu líder máximo, o poeta
Luiz Otávio, movimento que se estende
ao exterior, propagando-se com entu-
siasmo aos poetas e trovadores de
idioma hispânico.
Carolina Ramos, redatora e
organizadora da obra, é presidente da
UBT, Seção de Santos, e Vice-Presi-
dente co Conselho Nacional da UBT.
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