Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
• LIBERDADE DE IMPRENSA
O Editor
Expediente
Editor - Cláudio de Cápua. MTB 80
Jornalista Responsável - Liane Uechi. MTB 18.190.
Editoração Gráfica - Liane Uechi
Revisão: Antonio Colavite Filho
Designer Gráfico - Mariana Ramos Gadig Gonçalves
Fotos: Gervásio Rodrigues
Capa: Jardins da Praia de Santos - Alexandre Andreazzi
End.: Rua Euclides da Cunha, 11 sala 211. Santos/SP. E-mail: revistaartecultura@yahoo.com.br
Participaram desta edição: Carolina Ramos; Cláudio de Cápua; Clotilde Paul; Edna Gallo; Edu-
ardo Escalante; Fernando Jorge; Ives Gandra da Silva Martins; Juliano Lins Soares; Lilia Dinelli;
Maria Zilda da Cruz; Vadison Espinheira do Carmo e Valéria Pelosi. Os autores têm responsa-
bilidade integral pelo conteúdo dos artigos aqui publicados. Distribuição Gratuita. 3.000
exemplares.
Há pessoas que, no correr da existência, nos sur- No primeiro bis, a homenagem à música popular
prendem pelas suas atitudes e maneira de crescer, suplan- brasileira, Tico-tico no Fubá! Mas foi naquele segundo bis
tando-se a cada passo - Marlene Akel é uma delas! que a plateia entusiasmada, esquecida do esforço já des-
Frágil na aparência, a nossa concertista guarda pendido pela concertista, exigiu de Marlene nada menos que
dentro de si forças escondidas que na hora certa vigoram e o seu “carro chefe”, a Fantasia Triunfal do Hino Nacional
agilizam seu dedos a ponto de surpreender a todos que che- Brasileiro, de Gottschalk!, já apresentada “em homenagem a
gam a exigir da artista o que a sensatez ou até mesmo a Sua Alteza Imperial D. Bertrand de Orleans e Bragança, tri-
prudência não aconselharia. neto de D.Pedro II, por ocasião de sua visita a Santos, dei-
Nesta sua última apresentação, no Colégio São xando-o bastante emocionado.”
José, em fins de novembro, concerto benemerente, tivemos Aquele bis, pesadíssimo, determinado pelo público,
a prova do que foi dito. Em princípio, a própria Marlene mos- assustou os mais conscientes, temerosos do tremendo es-
trara-se desassombrada, como sempre, ao elaborar a pro- forço exigido da artista, ao final de uma exaustiva apresenta-
gramação de um concerto. Mostrou não temer cansaços e, ção!
muito menos, o sorriso aberto e desafiador de um piano, Entretanto, sem qualquer hesitação que provasse o
perenemente à espera da carícia de seus dedos. Mais uma seu cansaço, Marlene Akel sentou-se novamente ao piano e
vez, isto veio a acontecer. Informalmente, Marlene colocou executou, com toda a segurança e inacreditável vigor, a difi-
no topo do Programa a peça de Mozart, Marcha Turca, que cílima e pesada peça de Gottschalk, levantando a platéia e
executou de forma aceleradíssima, seguida pelos melodio- colhendo os merecidos aplausos!
sos compassos de Schubert, enquanto somava fôlego para Bravos, Marlene Akel!
enfrentar a vigorosa peça de Falla, Dança Ritual do
Fogo, executada com maestria e vigor exigidos. A
suavidade das Valsas de Esquina, de Mignone,
amenizaram o programa. Em memória de seu ir-
mão, Reinaldo Akel, recentemente falecido, e fu-
gindo ao teor da programação, a concertista inter-
pretou o tango La Cumparsita, arranjo do
homenageado, que recebeu aplausos entusiásti-
cos da plateia que lotava aquele auditório.
Quase líquida, a suavidade de Debussy
fez-se representar através dos acordes sublimes
de “Clair de Lune”,permitindo à concertista econo-
mizar o fôlego necessário para enfrentar a alta po-
tencialidade exigida pela Rapsódia Húngara, de
Liszt, que primorosamente encerrou a primeira
parte do Concerto. Liszt! Esse temível e magnífico
Liszt, contornado pelos pianistas de todos os tem-
pos pelas dificuldades técnicas existentes em suas
peças. O que sempre afugenta a maioria não inti-
midou a nossa Marlene, cujos primeiros contatos
com a música aconteceram por intermédio de sua
mãe, Antonieta Akel, que deu à filha os conheci-
mentos básicos da arte musical chegados a termo
no Conservatório Dramático e Musical de São Pau-
lo, onde Marlene classificou-se no mais alto grau.
Na colação de grau, após a execução do Concerto
nº 1 de Tchaikowsky, para piano e orquestra, no
Teatro Municipal de S.Paulo, foi considerada pela
crítica especializada como “um marco de um gran-
de talento e um pulso brilhante!” Já ao final do cur-
so, num Concurso para piano, Marlene vencera 80
candidatos, classificando-se em primeiro lugar. Durante o
curso de aperfeiçoamento e virtuosidade, mais uma vez foi
sua a Medalha de Ouro, assim como várias outras que, ao Carolina Ramos é poetisa e escritora, vice-presidente
correr do tempo, abrilhantaram sua vitoriosa carreira. do Conselho Nacional da União Brasileira dos
Trovadores - UBT e presidente da UBT/Santos;
Na segunda parte do concerto que descrevíamos,
Secretária Geral do Instituto Histórico e Geográfico
Marlene, como não poderia deixar de ser, uma vez que de Santos. Pertence à Academia Santista de Letras -
considerada“uma das mais perfeitas intérpretes de Chopin, ASL, à Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes
deleitou o público com o romantismo chopiniano, apresentan- de Santos - AFCLAS e à Academia Cristã de Letras de
do páginas apaixonantes, como a Fantasia Improviso,várias São Paulo - ACL
valsas, além da impactante Polonaise Militar. O Noturno nº
9, foi incluído a pedidos. E poderia faltar?!
5 Janeiro 2014 - Santos Arte e Cultura
Já estava com pouco mais de trinta anos. Trabalha- ajuda, ele só podia ser filho de uma mãe bondosa. Entrou na
va bastante e com pouca remuneração. Mas nem por isso igreja pela primeira vez. Olhou o altar e rezou: “Ó Mãe de
deixava de sonhar. Queria formar um lar. Seria pobre! Com Jesus, ache para mim uma namorada. Que eu possa acredi-
uma boa moça seria limpo, arrumado e quem sabe até per- tar nela e ela em mim. Na confiança, construiremos uma fa-
fumado. Perfume como as salas do escritório do seu serviço. mília feliz.” Olhou mais um pouco os altares e saiu depressa,
Não teria cortinas nas janelas e nem tapetes no chão; só o com medo de perder a pontualidade.
do banheiro, antiderrapante, para manter a segurança. So- O dia seguiu a rotina de sempre. Prestou atenção
nhava até mesmo com detalhes. E filhos? Bem, isso tem de ao serviço, procurou não errar, sorriu aos colegas quando
ser discutido a dois, concluía. Afinal, filho é de casal e não só precisou.
do pai, só da mãe. Quantos seriam? Mas que insistência de Já sete horas da noite começou o caminho de volta
pensamento, refletia ele: “Nem namorada eu tenho.” Já ten- para casa. Cabisbaixo, cansado e sonhando firme numa na-
tara se aproximar de mais de uma. Não dava certo. De quem morada, mais virtual do que real. Como ter esposa, se nem
seria a culpa: dele ou delas? Pensava, analisava e ficava começo de namoro vivia?
sem resposta. Ao passar em frente à igreja descoberta pela ma-
E todo dia devaneava sobre a vida de um lar só nhã, sentiu inesperada tremenda força sobre o corpo contra
para si. Vivia só. Os pais não mais existiam. Os irmãos mo- o chão. O que acontecera? Um tombo sem razão? Seu hu-
ravam em outras cidades. Nem mesmo a irmã caçula, sua milde saquinho com pão e salsicha jazia na calçada como
queridinha, lembrava de se comunicar, de dizer algumas pa- ele. Por cima de si uma coisa fofa e pesada. Custou para
lavras de carinho. Na verdade, sua família nunca fora unida. recuperar-se do ataque inesperado e perceber sobre o seu
Também não sabia responder o porquê da falta de união. colo uma cabeça de mulher. Quem era? Por que essa vinda
Sentia tristeza por ser só. Trabalhador e honesto, conseguia tempestuosa? Aos poucos a situação clareou-se. A senhora
esconder dos outros seu mundo tão despovoado de família. saiu da igreja, tropeçou na escada e, num tombo de novela
Assim sonhava todos os dias, sem definir se queria uma es- ou de cinema, caiu sobre ele. O imprevisto acontecera como
posa loira ou morena. Pequena ou alta. Magra ou cheinha. um raio. Ambos se olharam surpresos e solenes afirmaram:
Coisa difícil de escolher: uma mulher! Pensar na cor da cor- nada de machucado grave. Levantaram-se sem fraturas e só
tina do quarto, onde acariciaria sua companheira era bem futuras dores musculares. Os cabelos pretos e a pele do ros-
mais fácil. Mas que cortina? Mal ganhava para a comida e a to da senhora denunciavam uma idade com mais de quaren-
vestimenta simples! Como sonhar não é proibido e não tem ta anos. O jovem, um pouco refeito do susto, dirigiu sua
tamanho, ele, o João Sérgio, não poupava esse exercício queixa a N. Sra.: “Ó Mãe de Jesus, não precisa atender o
diário: construir castelos, sendo dono do nada. meu pedido tão rápido! De manhã eu lhe pedi uma namora-
Tinha pouca religião, mas esporadicamente pedia da, mas sem tanta pressa, um pouco mais devagar e sem
ajuda a Deus. Queria sair dessa igualdade de dias: traba- dramaticidade. E, também, pedi uma jovem para namorar e
lhar, dormir e novamente trabalhar. Rezava o que aprendera não uma mãe para me cuidar!”
com a avó. Porém, o hábito de rezar não existia. Uma manhã
no caminho comum para o serviço reparou numa igreja. Pa-
rece que fora plantada durante a noite. Nunca a vira nesse
trajeto cotidiano. Parou e viu: um templo em honra a Nossa
Senhora. Se ele bem se lembrava, a avó tinha especial de- Maria Zilda da Cruz – Mestra e Doutora
voção a essa Mãe de Jesus. Como ele sempre lia, “Jesus em Psicologia pela USP. Membro da
salva”, “Jesus é seu amigo” e tantas outras afirmações de Academia Feminina de Ciências,
Letras e Artes de Santos e Membro da
Diretoria da Academia Santista de
Letras.
15
A peleja entre o Santos Futebol Clube e o Vasco da minutos, Evangelista fez o segundo gol a favor do time visi-
Gama aconteceu no Rio de Janeiro, capital do Brasil naque- tante. Seis minutos depois, Bahiano empatava o jogo; jogo
la época. A delegação santista, hospedada no Palace Hotel, empatado, deixando o placar em 2 x 2, mas aos 28 minu-
era chefiada pelo seu presidente, Dr. Guilherme Gonçalves, tos, Omar, meia ofensivo de ataque santista, desempata:
e seus dirigentes Dr. Agenor Guerra Corrêa, Srs. Mário Pa- Santos 3 x 2 Vasco da Gama. Com 31 minutos, Araken
checo, Fausto Santos e Urbano Caldeira. Patusca, “Le Danger”, atacante santista, faz outro gol a
No dia 21 de abril de 1927, o Estádio de São Janu- favor do alvinegro praiano e Evangelista aumentou o placar
ário contou com a presença do Dr. Washington Luís Pereira aos 35 minutos; o Santos fica com 5 gols a favor contra 2
de Sousa, Presidente do Brasil, e do Cardeal Dom Sebas- gols do Vasco da Gama. Perto do fim do jogo, Pascoal jo-
tião Leme, que benzeu o estádio. A fita de inauguração foi gador do Vasco, diminuiu o placar para o time vascaíno,
desatada pelo famoso Major aeronauta português Sarmento deixando o marcador final de 5 a 3.
de Beires, conhecido pelo percurso de voo direto entre Lis- Os vencedores do jogo foram carregados em
boa – Rio de Janeiro. triunfo, lembrando que Feitiço participou deste jogo e mes-
O time do Vasco da Gama foi o primeiro a pisar no mo não tendo feito nenhum gol, jogou com brilhantismo e
campo. A escalação era composta por: Nelson; Espanhol e entrou para a história por ter participado da inauguração do
Itália; Nesi, Claudionor e Badu; Pascoal, Torteolli, Russinho, São Januário.
Bahiano e Negrito. Logo após, o time santista apareceu em No vestiário, os jogadores e dirigentes do Santos
campo, vestindo paletós esporte, de elegante detalhe, preto se abraçaram, comemorando a grande vitória num estádio
e branco, sendo recebidos com vários aplausos pela multi- recém- inaugurado por eles, “ cheirando a tinta”, dito pelos
dão, e entrou em campo com seus 11 titulares: Tuffy; David próprios atletas. E os vascaínos reconheceram o mérito e
e Bilú; Hugo, Júlio e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Araken foram parabenizar o Santos no vestiário através do seu
e Evangelista. Seguido pelo árbitro Carlos Martins da Ro- presidente, Antônio Campos, que o afirmou.
cha, conhecido como Carlito. - “Parabéns, Santos F. C.! Belo triunfo! Parabéns!
Com 20 minutos de jogo, Evangelista, atacante do
time santista, fez o primeiro gol de inauguração de São Ja-
nuário. Três minutos depois, o Vasco da Gama empatava o Juliano Soares Lins é historiador
jogo, gol feito por Negrito. Durante o primeiro tempo, o San- especialista em esportes.
tos conseguiu segurar o ímpeto do time do Vasco e o placar
permaneceu empatado por 1 a 1. No segundo tempo, aos 15
RODOLPHO ABBUD
No dia 26 de novembro, em Nova Friburgo - RJ, faleceu Rodolpho Abbud,
um dos ícones do Movimento Trovadoresco do Brasil. Pela sua intensa atuação na
área poética, sua partida teve grande repercussão no mundo da Trova, tanto nacio-
nal como no exterior. Em 2011, durante os festejos dos XV Jogos Florais de Santos,
Rodolpho aqui esteve, como um dos premiados, ajudando a abrilhantar o evento
com sua presença.
Homenagens têm sido prestadas a esse estimado trovador que deixa mui-
tas saudades entre seus Irmãos na Trova.
O CERNE DA MATÉRIA
de ROGÉRIO ROSENFELD
A TROVA
Raízes e Florescimento - UBT
Carolina Ramos, consagrada
poetisa e trovadora santista, traz à luz
o livro "A Trova - Raízes e Florescimen-
to - UBT".
Trata-se de uma obra de fôle-
go sobre a trova e o movimento trova-
doresco. A incumbência dessa obra foi
outorgada pelo presidente nacional da
União Brasileira de Trovadores, trova-
dor Luiz Carlos Abritta, que sentiu a ne-
cessidade de retratar a trajetória da
trova no Brasil, o que foi feito em 419
páginas. CONFISSÕES DE UMA
O livro descreve desde o sur- LOUCA DE AMOR
gimento da trova na Idade Média até VIVIANE PEREIRA
sua chegada ao Brasil. Relata a funda-
ção da União Brasileira de Trovadores,
fundada por seu líder máximo, o poeta
Luiz Otávio, movimento que se estende
ao exterior, propagando-se com entu-
siasmo aos poetas e trovadores de
idioma hispânico.
Carolina Ramos, redatora e
organizadora da obra, é presidente da
UBT, Seção de Santos, e Vice-Presi-
dente co Conselho Nacional da UBT.
Janeiro 2014 - Santos Arte e Cultura 18