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Informativo 675-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CIVIL
SUCESSÕES
▪ Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de partilha amigável em
que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de 20 anos.

DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
▪ Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais.

SOCIEDADES / RECUPERAÇÃO JUDICIAL


▪ É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de sociedade
empresária em recuperação judicial.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


EXECUÇÃO
▪ É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de sociedade
empresária em recuperação judicial.

PRECATÓRIOS
▪ É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º
da Lei nº 13.463/2017.

EXECUÇÃO FISCAL
▪ A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação em honorários advocatícios em desfavor
de qualquer das partes.

DIREITO PENAL
MEDIDA DE SEGURANÇA
▪ O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de incidente
de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


▪ Estupro de vulnerável, vulnerabilidade temporária e ação penal segundo o art. 225 do CP (na época da Lei
12.015/2009).

DIREITO PROCESSUAL PENAL


ASSISTENTE DE DEFESA
▪ A OAB não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL


▪ O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de incidente
de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


CRIME MILITAR / COMPETÊNCIA
▪ Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do militar em atividade, em serviço
ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou serviço militar juridicamente tutelado.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
▪ É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente, mesmo que o período coincida com àquele
em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício.

PREVIDÊNCIA PRIVADA
▪ Qual é o prazo prescricional para a restituição de contribuições descontadas indevidamente dos beneficiários de
contrato de previdência complementar?

DIREITO CIVIL

SUCESSÕES
Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de
partilha amigável em que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de 20 anos

Baixa relevância para concursos


A preterição de herdeiro ou a inclusão de terceiro estranho à sucessão merecem tratamento
igual, considerando que são situações antagonicamente idênticas, submetendo-se à mesma
regra prescricional prevista no art. 177 do Código Civil de 1916, qual seja, o prazo vintenário,
vigente à época da abertura da sucessão para hipóteses de nulidade absoluta, que não
convalescem.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 226.991-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 675).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João faleceu em 1990 e deixou, como únicas herdeiras, suas três filhas: Luiza, Helena e Regina.
Luiza, a filha mais velha, tomou à frente dos procedimentos burocráticos post mortem e deu entrada no
processo de inventário judicial, sendo nomeada inventariante.
O patrimônio deixado por João era vasto e, para agilizar a tramitação, as irmãs resolveram fazer uma
partilha amigável.
Ocorre que nesta partilha amigável, a herança foi dividida indevidamente em quatro partes: Luiza, Helena,
Regina e Ricardo. E quem é Ricardo? Marido de Luiza. Isso mesmo. No formal de partilha amigável constou
o cônjuge de Luiza (filha do falecido) como sendo também um dos herdeiros.
Helena e Regina não conheciam seus direitos e pensaram que essa divisão incluiria sim o marido da irmã.
Como não eram casadas, entenderam que só teriam direito, cada uma, a 1/4 dessa divisão por quatro.

Esta partilha foi válida?


NÃO. A inclusão no inventário de pessoa que não é herdeira torna a partilha nula de pleno direito. Isso
porque representa violação à ordem de vocação hereditária prevista na norma jurídica (Código Civil). Essa
ordem de vocação hereditária não pode ser desrespeitada nem mesmo pelas partes.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2


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A partilha, como todo ato jurídico, pode ser absolutamente nula ou meramente anulável (vício relativo e
sanável por natureza).
Quem não possui status de herdeiro, porém se beneficia da partilha como se o fosse, participa de ato jurídico
nulo na forma prescrita no art. 145, III, do Código Civil de 1916 (art. 166, IV, do Código Civil de 2002):

Código Civil 1916 Código Civil 2002


Art. 145. É nulo o ato jurídico: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
(...) (...)
III - quando não revestir a forma prescrita em lei; IV – não revestir a forma prescrita em lei;

Qual é o prazo prescricional para se pleitear a declaração de nulidade dessa partilha que ocorreu sob a
vigência do antigo Código Civil?
20 anos, nos termos do art. 177 do Código Civil de 1916 (art. 205 do Código Civil 2020):

Código Civil 1916 Código Civil 2002


Art. 177. As ações pessoais prescrevem, Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando
ordinariamente, em vinte anos, as reais em dez, a lei não lhe haja fixado prazo menor.
entre presentes, entre ausentes, em quinze,
contados da data em que poderiam ter sido
propostas.

Em suma:
Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de partilha
amigável em que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de vinte anos.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 226.991-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 675).

DIREITO EMPRESARIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais

Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros


órgãos judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do
trabalho.
STJ. 2ª Seção. CC 162.769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).

Depósito recursal
Determinados recursos para serem conhecidos, no processo trabalhista, exigem o recolhimento do
chamado “depósito recursal”.
Atualmente, o depósito recursal somente é previsto no direito processual do trabalho e serve para
garantir uma possível futura execução. Assim, só cabe o depósito recursal quando o recurso for contra
decisão que condenou o empregador a pagar determinada quantia. Se o vencido for o empregado, não há
necessidade do recolhimento do depósito recursal.
O depósito recursal deve ser feito em conta vinculada ao juízo por meio de uma guia de depósito judicial,
no mesmo prazo do recurso a ser interposto.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3


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Transitada em julgado a decisão recorrida, a parte vencedora tem direito ao levantamento imediato da
quantia depositada como depósito recursal, por simples despacho do Juiz trabalhista. Assim, por exemplo,
se o recurso da empresa foi provido, esta empresa terá direito ao valor que havia depositado mediante
despacho do juiz trabalhista.
O depósito recursal é previsto no art. 899 da CLT, que foi recentemente alterado pela Lei nº 13.467/2017:
Art. 899. Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo,
salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora.
§ 1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o salário-mínimo regional, nos dissídios
individuais, só será admitido o recurso inclusive o extraordinário, mediante prévio depósito da
respectiva importância. Transitada em julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o levantamento
imediato da importância de depósito, em favor da parte vencedora, por simples despacho do juiz.
(...)
§ 9º O valor do depósito recursal será reduzido pela metade para entidades sem fins lucrativos,
empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempresas e empresas de
pequeno porte. (Incluído pela Lei nº 13.467/2017)
§ 10. São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filantrópicas
e as empresas em recuperação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.467/2017)
§ 11. O depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial.
(Incluído pela Lei nº 13.467/2017)

 (Procurador do Trabalho MPT 2020 banca própria) O valor do depósito recursal será reduzido pela
metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais,
microempresas e empresas de pequeno porte, sendo isentos os beneficiários da justiça gratuita, as
entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial, bem como, por entendimento sumular
adotado pelo Tribunal Superior do Trabalho, na falência. (certo)

O art. 40 da Lei n. 8.177/91 estabelece limites gradativos aos depósitos, devendo ser complementado o
valor a cada recurso interposto no decorrer do processo (ordinário, de revista, embargos infringentes e
extraordinário), inclusive na execução, enquanto não alcançado o valor da condenação.
Assim, à medida que a parte recorre, deve depositar gradativamente o valor da condenação, dentro dos
limites previstos.
No âmbito da Justiça do Trabalho, o depósito é pressuposto de admissibilidade dos recursos interpostos
contra as sentenças em que houver condenação em pecúnia, tendo duas finalidades: garantir a execução
e evitar recursos protelatórios.
O TST já decidiu que o depósito previsto no § 1º do art. 899 da CLT tem natureza jurídica de garantia da
execução do julgado (AIRR 1000429-85.2015.5.02.0472, TST, TERCEIRA TURMA, rel. Ministro ALBERTO
BRESCIANI, julgado em 10.10.2018).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Em 2016, a sociedade empresária Santana Drogarias interpôs recurso em processo trabalhista e, para isso,
teve que efetuar depósito recursal no valor de “xxx” reais.
Em 2017, foi deferida a recuperação judicial da empresa.
Pouco tempo depois, transitou em julgado o processo trabalhista, tendo sido desprovido o recurso da empresa.

O debate jurídico envolvendo o caso é o seguinte: de quem é a competência para decidir acerca da
destinação do depósito recursal efetuado pela empresa demandada na Justiça do Trabalho
anteriormente ao pedido de recuperação judicial? A competência é do juízo trabalhista ou do juízo da
recuperação judicial?
Do juízo da recuperação judicial.
Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4


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Com a concessão da recuperação judicial, ocorre a novação os créditos, mesmo os anteriores ao pedido
O § 4º do art. 899 da CLT, com redação dada pela Lei nº 13.467/2017, afirma que “o depósito recursal será
feito em conta vinculada ao juízo e corrigido com os mesmos índices da poupança”. Assim, uma vez
realizado o depósito, os valores aportados ficam à disposição do Juízo Laboral, sujeitos a levantamento
imediato, por mero despacho, logo após o trânsito em julgado, em favor da parte vencedora, segundo a
previsão do § 1º do art. 899 da CLT. Isso significa que, em situação “normal”, a competência para decidir
sobre o depósito recursal seria do juízo trabalhista.
Ocorre que, nos casos em que é concedida a recuperação judicial à empresa reclamada no curso do
processo trabalhista, ocorre a novação dos créditos anteriores ao pedido, obrigando o devedor e todos os
credores a ele sujeitos, por expressa disposição do art. 59 da Lei nº 11.101/2005:
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e
obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o
disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

O art. 49 da Lei 11.101/2005 complementa que “estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”.
O crédito buscado pelo trabalhador na demanda trabalhista em trâmite na data do pedido se submete,
portanto, aos efeitos da recuperação judicial, devendo ser pago nos termos do plano aprovado, em
isonomia de condições com os demais credores da mesma classe.
Tendo em vista sua natureza de garantia e não de pagamento antecipado, fica claro que não é possível a
autorização, pelo Juízo do Trabalho, de levantamento dos valores depositados por empresa em
recuperação judicial, na forma do § 1º do art. 899 da CLT.
Após o deferimento da recuperação judicial, passa a ser do juízo da recuperação a competência para o
prosseguimento dos atos de execução relacionados com reclamações trabalhistas movidas contra a
empresa recuperanda (STJ. 2ª Seção. AgInt nos EDcl no CC 160.280/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 6/5/2019). Isso porque a competência da Justiça do Trabalho se limita à apuração do respectivo
crédito, devendo, após sua liquidação, ser habilitado no Quadro-Geral de Credores, nos termos do art. 6º,
§ 2º, da Lei nº 11.101/2005, sendo vedada a prática de atos que comprometam o patrimônio da empresa
em recuperação:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
(...)
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação
de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as
impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada
até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor
determinado em sentença.

É da competência do juízo universal a decisão sobre a satisfação de créditos líquidos apurados em outros
órgãos judiciais, sob pena de prejuízo aos demais credores e à viabilidade do plano de recuperação.

Em suma:
Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos
judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho.
STJ. 2ª Seção. CC 162.769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5


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Tanto no caso de provimento como desprovimento


Tanto na hipótese de provimento como na de desprovimento do recurso da empresa, os valores
depositados a título de “depósito recursal” deverão ser colocados à disposição da recuperação judicial,
considerando que, se a empresa perdeu o recurso, o trabalhador receberá os valores segundo a ordem de
pagamento da recuperação; se a empresa venceu o recurso, terá direito ao reembolso do depósito e este
será utilizado para pagar os credores segundo o plano.

Novo § 10 do art. 899 da CLT


Como vimos acima, a Lei nº 13.467/2017 recentemente incluiu o § 10 no art. 899 da CLT, prevendo a
isenção do depósito prévio para as empresas em recuperação judicial.
A exigência do depósito recursal pelas empresas em recuperação judicial foi afastada, justamente, para se
harmonizar à atual legislação, que prioriza a preservação da fonte produtiva, direcionando seus ativos à
manutenção da própria atividade empresarial.
Vale ressaltar que o art. 20 da Instrução Normativa nº 41/2018/TST definiu que as alterações promovidas
nos §§ 4º, 9º, 10 e 11 do art. 899 da CLT pela Lei nº 13.467/2017 só serão observadas para os recursos
interpostos contra as decisões proferidas a partir de 11 de novembro de 2017.

E na falência?
Aplica-se o mesmo entendimento:
É do juízo falimentar a competência para decidir sobre o destino dos depósitos recursais feitos no curso
de reclamação trabalhista movida contra a falida, ainda que anteriores à decretação da falência.
A razão de ser da supremacia dessa regra de competência é a concentração, no Juízo universal da falência, de
todas as decisões que envolvam o patrimônio da falida, a fim de não comprometer o par conditio creditorum.
STJ. 2ª Seção. AgInt nos EDcl no CC 165415/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019.

SOCIEDADES / RECUPERAÇÃO JUDICIAL


É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída,
ainda que de sociedade empresária em recuperação judicial

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação


judicial, já que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Veja comentários em Direito Processual Civil.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EXECUÇÃO
É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída,
ainda que de sociedade empresária em recuperação judicial

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação


judicial, já que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6


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Imagine a seguinte situação hipotética:


João ajuizou execução contra Pedro cobrando dívida de R$ 500 mil.
Pedro é sócio da sociedade empresária PW Ltda, possuindo 30% do capital social.
Na falta de outros bens, o juiz deferiu a penhora das quotas sociais de Pedro na sociedade empresária PW.
Pedro interpôs agravo de instrumento contra essa decisão invocando dois argumentos:
a) é vedada a penhora de quotas sociais, considerando que não é possível aceitar pessoas estranhas no
quadro social da empresa;
b) a PW Ltda encontra-se em recuperação judicial, com o plano aprovado, situação que demonstra a
confiança depositada pelos credores na sociedade e em seus administradores que somente poderiam ser
substituídos com a realização de nova assembleia de credores, nos termos do art. 66 da Lei nº 11.101/2005.
Caso houvesse a transferência das quotas, João estaria em posição de vantagem em relação aos demais
credores, em clara ofensa ao princípio da par conditio creditorum (princípio da igualdade entre os credores).

Agiu corretamente o juiz? É possível, em tese, a penhora nesse caso?


SIM.

É possível a penhora de quotas sociais?


SIM. Verificada a inexistência de outros bens passíveis de constrição, é possível a penhora das quotas
sociais de sócio que está sendo executado por uma dívida particular. Isso não implica abalo na affectio
societatis (confiança entre os sócios). Nesse sentido:
É perfeitamente possível a penhora de cotas de sociedade limitada, haja vista que tal constrição, além de
não implicar ofensa ao princípio da affectio societatis, não encontra nenhuma vedação legal.
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 551.613/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 29/06/2020.

A penhora de quotas sociais não encontra vedação legal nem afronta o princípio da affectio societatis, já
que não enseja, necessariamente, a inclusão de novo sócio.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1058599/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/11/2017.

Vale ressaltar que o próprio CPC/2015 autoriza isso expressamente e disciplina o tema no art. 861. Não é
preciso ler o dispositivo, mas se estiver com tempo, confira abaixo:
Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples ou empresária, o juiz
assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para que a sociedade:
I - apresente balanço especial, na forma da lei;
II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de preferência legal ou
contratual;
III - não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à liquidação das quotas ou
das ações, depositando em juízo o valor apurado, em dinheiro.
§ 1º Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá adquiri-las sem redução
do capital social e com utilização de reservas, para manutenção em tesouraria.
§ 2º O disposto no caput e no § 1º não se aplica à sociedade anônima de capital aberto, cujas
ações serão adjudicadas ao exequente ou alienadas em bolsa de valores, conforme o caso.
§ 3º Para os fins da liquidação de que trata o inciso III do caput, o juiz poderá, a requerimento do
exequente ou da sociedade, nomear administrador, que deverá submeter à aprovação judicial a
forma de liquidação.
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas ou das
ações liquidadas:
I - superar o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social,
ou por doação; ou

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7


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II - colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou empresária.


§ 5º Caso não haja interesse dos demais sócios no exercício de direito de preferência, não ocorra
a aquisição das quotas ou das ações pela sociedade e a liquidação do inciso III do caput seja
excessivamente onerosa para a sociedade, o juiz poderá determinar o leilão judicial das quotas ou
das ações.

E o fato de a empresa estar em recuperação judicial? Mesmo assim será possível a penhora das quotas?
SIM.
O art. 789 do CPC afirma que o devedor responde com todos os seus bens, dentre os quais se incluem as
quotas que detiver em sociedade simples ou empresária, por suas obrigações, salvo as restrições
estabelecidas em lei. Nesse contexto, somente é possível obstar a penhora e a alienação das quotas sociais
se houver restrição legal.
Não há, a princípio, vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação
judicial. Se muito, a proibição existira para a liquidação da quota, mas essa é apenas uma dentre outras
situações possíveis a partir da efetivação da penhora.
Uma vez penhorada a quota social, algumas possibilidades se abrem na execução.
Assim, depois que a quota é penhorada, ela deve ser oferecida aos demais sócios que, buscando evitar a
liquidação ou o ingresso de terceiros no quadro social, podem adquiri-las:
Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples ou empresária, o juiz
assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para que a sociedade:
(...)
II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de preferência legal ou
contratual;

Inexistindo interesse dos demais sócios, a possibilidade de aquisição passa para a sociedade, o que, no
caso da recuperação judicial, não se mostra viável, já que, a princípio, não há saldo de lucros ou reservas
disponíveis, nem é possível a alienação de bens do ativo permanente para cumprir a obrigação sem
autorização judicial.
É de se considerar, porém, que o art. 861, § 4º, II, do CPC possibilita o alongamento do prazo para o
pagamento do valor relativo à quota nas hipóteses em que houver risco à estabilidade da sociedade:
Art. 861 (...)
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas ou das
ações liquidadas:
(...)
II - colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou empresária.
(...)

Assim, a depender da fase em que a recuperação judicial estiver, o juiz pode ampliar o prazo para o
pagamento, aguardando o seu encerramento.
Desse modo, parece não existir vedação legal, ao menos a priori, que obste a penhora de quotas de
sociedade em recuperação judicial, tendo em vista a multiplicidade de situações que podem ocorrer no
prosseguimento da execução.

Em suma:
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já
que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8


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PRECATÓRIOS
É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV,
após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017

Apenas concursos federais!


O art. 2º da Lei nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais
expedidos e cujos valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há
mais de dois anos em instituição financeira oficial.”
O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da
Lei: “cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a
requerimento do credor.”
A Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso
significa que essa pretensão é imprescritível? Não. A pretensão de expedição de novo
precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017
prescreve em 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2020 (Info 675).

Lei nº 13.463/2017
A Lei nº 13.463/2017 tratou sobre os recursos destinados aos pagamentos decorrentes de precatórios e
de Requisições de Pequeno Valor (RPV) federais. Veja o que disse o art. 2º:
Art. 2º Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não tenham
sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira
oficial.
(...)
§ 3º Será dada ciência do cancelamento de que trata o caput deste artigo ao Presidente do
Tribunal respectivo.
§ 4º O Presidente do Tribunal, após a ciência de que trata o § 3º deste artigo, comunicará o fato
ao juízo da execução, que notificará o credor.

A ideia da Lei foi a de que, se o titular não pediu o pagamento do precatório ou da RPV em um prazo de 2
anos, não faz sentido esse recurso ficar contingenciado (“preso”), devendo ele ser utilizado para outras
finalidades.

Com o cancelamento, isso significa que o titular do precatório ou RPV “perdeu” o crédito ou ele ainda
poderá cobrar a quantia?
O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da Lei:
Art. 3º Cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a
requerimento do credor.
Parágrafo único. O novo precatório ou a nova RPV conservará a ordem cronológica do requisitório
anterior e a remuneração correspondente a todo o período.

A Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso significa que
essa pretensão é imprescritível?
NÃO.
O direito do credor de que seja expedido novo precatório ou nova RPV começa a existir na data em que
houve o cancelamento do precatório ou RPV cujos valores, embora depositados, não tenham sido
levantados.
Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9
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No momento em que ocorre a violação de um direito, considera-se nascida a ação para postulá-lo
judicialmente e, consequentemente, aplicando-se a teoria da actio nata, tem início a fluência do prazo
prescricional.
Desse modo, o STJ decidiu que:
É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que
trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2020 (Info 675).

E qual é o prazo prescricional?


Prevalece que é de 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32.

EXECUÇÃO FISCAL
A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação
em honorários advocatícios em desfavor de qualquer das partes

Atenção! Advocacia Pública


A questão decidida na ação cautelar de caução prévia tem natureza jurídica de incidente
processual inerente à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em
honorários advocatícios em desfavor de qualquer das partes.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/06/2020 (Info 675).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A empresa Alfa Ltda. foi autuada pelo Fisco estadual por dívidas de ICMS.
Com a realização do lançamento tributário e a inscrição na dívida ativa, a empresa já passa a enfrentar
alguns problemas. Um deles é o fato de não conseguir mais obter certidão negativa de débitos tributários.
Ocorre que a referida empresa participa de licitações e não pode ficar com certidão negativa.
Vale lembrar que, depois do crédito estar definitivamente constituído, o Fisco possui um prazo de 5 anos
para executar (art. 174, do CTN).
Diante disso, a Alfa ajuizou ação cautelar de caução prévia cumulada com pedido de expedição de certidão
positiva com efeitos de negativa (CPD-EN). O que significa isso, na prática?
A empresa ajuizou essa ação cautelar dizendo o seguinte: tenho um débito contra mim no valor de R$ 100
mil; antes que o Estado ajuíze execução fiscal, estou me adiantando e oferecendo uma caução no valor
total do débito (ex: uma fiança-bancária). Com isso, o juízo está garantido e eu posso obter uma certidão
positivo com efeitos de negativa.
O juiz extinguiu a cautelar com resolução de mérito, acolhendo a fiança-bancária ofertada como garantia
à execução fiscal e condenando a empresa ao pagamento de honorários advocatícios.

Agiu corretamente o juiz ao condenar a empresa em honorários advocatícios?


NÃO.

Por quê?
Porque não cabe honorários advocatícios em ação cautelar de caução prévia à execução fiscal.

Seria absurdo condenar a Fazenda Pública em honorários advocatícios


Não se pode dizer que o Fisco tenha dado causa para a empresa ajuizar com a cautelar.
Atribuir ao Fisco a causalidade pela cautelar de caução prévia à execução fiscal representa imputar ao
credor a obrigatoriedade da propositura imediata da ação executiva, retirando-se dele a

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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discricionariedade da escolha do momento oportuno para a sua proposição e influindo diretamente na


liberdade de exercício de seu direito de ação.
Em outras palavras, seria o mesmo que dizer que o Estado teria que propor a execução imediatamente,
ou seja, antes de o devedor propor a cautelar. Não tem sentido.
Além disso, a cautelar prévia de caução configura mera antecipação da fase de penhora na execução fiscal
e essa antecipação ocorre no exclusivo interesse do devedor e dentro do prazo prescricional para a
propositura da ação executiva.

Também não tem como condenar o devedor


Por outro lado, não se pode condenar o devedor a pagar honorários considerando que ele tem o direito
de ofertar bens à penhora na execução fiscal. Logo, ele também tem o direito de se adiantar e oferecer
essa garantia antes mesmo de o Fisco decidir propor a execução fiscal, antecipando essa fase processual.
Constata-se, assim, que a questão decidida na ação cautelar tem natureza jurídica de incidente processual
inerente à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes.

Em suma:
A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/06/2020 (Info 675).

Observação final:
Essa cautelar de caução prévia não tem previsão expressa na legislação, sendo uma construção
jurisprudencial com base no poder geral de cautela.

DIREITO PENAL

MEDIDA DE SEGURANÇA
O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia
instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto

Importante!!!
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não
contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais
que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que
o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


Estupro de vulnerável, vulnerabilidade temporária e ação penal
segundo o art. 225 do CP (na época da Lei 12.015/2009)

Tema polêmico!
O art. 225 do CP, na época da Lei 12.015/2009, tinha a seguinte redação:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP somente é de ação
penal pública incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente mental).
Se a vulnerabilidade for temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria
condicionada à representação. Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação
dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em “pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que
é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não à pessoa que está vulnerável
(vulnerabilidade temporária).

Essa tese defensiva acima exposta é acolhida pelo STJ?


5ª Turma do STJ: NÃO
Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos moldes
do parágrafo único do art. 225 do CP.
Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vulnerabilidade temporária ou
permanente, haja vista que a condição de vulnerável é aferível no momento do cometimento
do crime, ocasião em que há a prática dos atos executórios com vistas à consumação do delito.
Em outras palavras, seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, no caso de estupro de
vulnerável a ação penal é sempre incondicionada.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1103678/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/02/2019.

6ª Turma do STJ: SIM


A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela que
possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos.
Se a pessoa é incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos
libidinosos, ela não pode ser considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art.
225, de forma que a ação penal permanece sendo condicionada à representação da vítima.
No crime sexual cometido durante vulnerabilidade temporária da vítima, sob a égide do art.
225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009, a ação penal pública é
condicionada à representação.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.814.770-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 05/05/2020 (Info 675).

ATENÇÃO:
A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais, salvo
para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP
e passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada
(sempre). Não há exceções!

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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Imagine a seguinte situação hipotética (ocorrida na época em que vigorava o art. 225 do CP com a
redação dada pela Lei nº 12.015/2009):
Em 2012, “A”, mulher de 20 anos, sem qualquer enfermidade ou deficiência mental, estava em uma festa
e acabou bebendo demais, ficando completamente embriagada.
“L”, sob o pretexto de dar uma carona para “A”, levou a moça para um motel e com ela praticou conjunção carnal.
Vale ressaltar que “A” estava tão bêbada que não podia oferecer qualquer tipo de resistência ao ato sexual.
“A” não ofereceu representação contra “L”.
O Ministério Público denunciou o agente por estupro de vulnerável (art. 217-A, § 1º) alegando que a
vítima, em virtude da embriaguez, não podia oferecer resistência:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
(...)

No interrogatório, ocorrido mais de seis meses após a autoria ter sido descoberta, o acusado confessou a
prática do delito.
Em memoriais, o MP pediu a condenação do réu.
A defesa, por seu turno, alegou uma única tese: o delito praticado pelo réu é crime de ação penal pública
CONDICIONADA à representação. Veja a redação do art. 225 do CP antes da Lei nº 13.718/2018:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima
é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
Obs: essa é a redação dada pela Lei nº 12.015/2009.
Obs2: posteriormente, houve uma nova mudança realizada pela Lei nº 13.718/2018.

Abrindo um parêntese:
O art. 225 do CP teve três redações diferentes:
Redação dada pela Redação dada pela
Redação original
Lei nº 12.015/2009 Lei nº 13.718/2018
Art. 225. Nos crimes definidos nos Art. 225. Nos crimes definidos nos Art. 225. Nos crimes definidos nos
capítulos anteriores, somente se Capítulos I e II deste Título, procede- Capítulos I e II deste Título, procede-
procede mediante queixa. se mediante ação penal pública se mediante ação penal pública
§ 1º Procede-se, entretanto, condicionada à representação. incondicionada.
mediante ação pública: Parágrafo único. Procede-se,
I - se a vítima ou seus pais não entretanto, mediante ação penal
podem prover às despesas do pública incondicionada se a vítima é
processo, sem privar-se de recursos menor de 18 (dezoito) anos ou
indispensáveis à manutenção pessoa vulnerável.
própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso
do pátrio poder, ou da qualidade de
padrasto, tutor ou curador.
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo
anterior, a ação do Ministério
Público depende de representação.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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Voltando ao caso concreto:


Como não houve representação no prazo de 6 meses (art. 38 do CPP), ocorreu a decadência, que é causa
de extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP).
Segundo a tese da defesa:
• o estupro de vulnerável somente é crime de ação penal pública incondicionada quando a vulnerabilidade
for permanente (ex: doente mental);
• se a vulnerabilidade for temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria condicionada à
representação.

Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em
“pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não
à pessoa que está vulnerável (vulnerabilidade temporária).

A tese defensiva acima exposta é acolhida pelo STJ?


5ª Turma do STJ: NÃO 6ª Turma do STJ: SIM
Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo
penal é pública incondicionada, nos moldes do único do art. 225 do CP é somente aquela que
parágrafo único do art. 225 do CP. possui uma incapacidade permanente de oferecer
Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a
resistência à prática dos atos libidinosos.
vulnerabilidade temporária ou permanente, haja Se a pessoa é incapaz de oferecer resistência
vista que a condição de vulnerável é aferível no apenas na ocasião da ocorrência dos atos
momento do cometimento do crime, ocasião em libidinosos, ela não pode ser considerada
que há a prática dos atos executórios com vistas à
vulnerável para os fins do parágrafo único do art.
consumação do delito. 225, de forma que a ação penal permanece sendo
condicionada à representação da vítima.
Seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, No crime sexual cometido durante vulnerabilidade
no caso de estupro de vulnerável a ação penal é temporária da vítima, sob a égide do art. 225 do
sempre incondicionada. Código Penal com a redação dada pela Lei nº
12.015/2009, a ação penal pública é condicionada
à representação.
STJ. 5ª Turma. HC 389.610/SP, Rel. Min. Felix STJ. 6ª Turma. REsp 1.814.770-SP, Rel. Min.
Fischer, julgado em 08/08/2017. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
05/05/2020 (Info 675).

A doutrina amplamente majoritária defende a posição adotada pela 5ª Turma do STJ, ou seja, pouco
importa a natureza da incapacidade (permanente ou transitória). A vulnerabilidade deve ser aferida no
momento da conduta criminosa. Se a vítima estava vulnerável no momento do ato, deve-se considerar
a ação penal como pública incondicionada. Nesse sentido: MASSON, Cleber. Direito Penal. São Paulo:
Método, 2017, p. 74.

ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE:
A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais, salvo para
definir situações pretéritas. Isso porque a Lei nº 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP e passou
a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada (sempre).
Não há exceções!
Veja mais uma vez a nova redação do art. 225 do CP:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718/2018).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº 13.718/2018 entrou em vigor na data de sua publicação
(25/09/2018). Como se trata de lei penal mais gravosa (novatio legis in pejus), ela é irretroativa, não
alcançando fatos praticados antes da sua vigência.
Essa regra de irretroatividade vale, inclusive, para as ações penais. Assim, por exemplo, se, em
24/09/2018, o agente praticou conjunção carnal ou ato libidinoso contra uma pessoa “temporariamente
vulnerável”, a discussão acima ainda permanece porque a Lei nº 13.718/2018 não poderá retroagir.

DOD PLUS
Sobre o tema que você acabou de estudar, o que interessa mesmo para fins de prova é a redação atual do
art. 225 do CP. Isso que certamente será cobrado nas suas provas. Veja alguns exemplos de questões:
 (Juiz TJ/AC Vunesp 2019) Em relação à titularidade da ação penal, nos crimes de estupro, por violência
real ou grave ameaça, importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cena de estupro, procede-se
mediante ação penal pública condicionada à representação. (errado)
 (Promotor MP/MT FCC 2019) Somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação
penal condicionada a representação. (errado)
 (Promotor MP/SP 2019) O crime de importunação sexual, assim como o crime de estupro, é crime de
ação penal pública condicionada à representação da pessoa contra a qual o ato foi praticado. (errado)
 (Promotor MP/PI CEBRASPE 2019) Em se tratando de crime de estupro em que a vítima seja maior de
dezoito anos de idade e plenamente capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda que não tenha
ocorrido violência real na prática do crime. (certo)
 (Defensor DP/MG Fundep 2019) Conforme a jurisprudência predominante, os crimes contra a dignidade
sexual serão processados mediante ação penal pública condicionada à representação, tendo em vista
evitar a vitimização secundária, salvo no caso de estupro de vulnerável, hipótese em que a ação penal será
pública incondicionada e a pena será aumentada da metade se o agente for ascendente, padrasto ou
madrasta da vítima. (errado)
 (Analista TJ/AM CEBRASPE 2019) Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de
idade, de ter praticado crime de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do último
aniversário da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi consentido. No caso em questão, se
comprovada a prática do crime, a ação penal cabível será pública incondicionada, pois não há previsão de
ação pública condicionada à representação em crimes contra a dignidade sexual. (certo)

DIREITO PROCESSUAL PENAL

ASSISTENTE DE DEFESA
A OAB não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal

Importante!!!
A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa
de advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da
acusação, não existindo a figura do assistente de defesa.
STJ. 5ª Turma. RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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Assistente de acusação
O titular e, portanto, autor da ação penal pública, é o Ministério Público (art. 129, I, CF/88).
Contudo, a vítima do crime poderá pedir para intervir no processo penal a fim de auxiliar o Ministério
Público. A essa figura dá-se o nome de “assistente de acusação”.
O assistente também é chamado de “parte contingente”, “adesiva” ou “adjunta”.
O assistente é considerado a única parte desnecessária e eventual do processo.
Obs.: somente existe assistente da acusação no caso de ação penal pública.

Segundo o art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido
(pessoalmente ou por meio de seu representante legal, caso seja incapaz).
Caso a vítima tenha morrido, poderá intervir como assistente:
• o cônjuge;
• o companheiro;
• o ascendente;
• o descendente ou
• o irmão do ofendido.

Assistente de defesa
Assim como existe o assistente de acusação, diversos doutrinadores sustentam a ideia de que seria
possível falarmos em assistência de defesa (ou assistente da defesa).
No caso do assistente de acusação existe previsão expressa no CPP.
Por outro lado, o CPP não fala nada sobre assistente de defesa.
Alguns autores afirmam que o art. 72 da Lei dos Juizados Especiais teria admitido, ainda que de forma
tímida, a intervenção do responsável civil pelos danos como assistente de defesa. Assim, se a infração de
menor potencial ofensivo foi cometida por determinada pessoa, no entanto, outro indivíduo é que será o
responsável pelo pagamento da indenização caso haja condenação, então, neste caso, esse responsável
civil poderia intervir no processo como assistente de defesa. Veja a explicação de Renato Brasileiro:
“A lei processual penal pátria não faz referência à figura do assistente da defesa. No entanto, a
despeito do silêncio do legislador, considerando que a Lei dos Juizados, ao se referir à audiência
preliminar, faz menção ao comparecimento do autor do fato delituoso, da vítima e do responsável
civil pelos danos causados, todos acompanhados por advogado (Lei nº 9.099/95, art. 72), há quem
entenda que esse responsável civil figura como verdadeiro assistente da defesa. Isso porque,
considerando que a reparação do dano nas infrações de menor potencial ofensivo acarreta
renúncia ao direito de queixa ou de representação, com a consequente extinção da punibilidade
se se tratar de crime de ação penal privada ou pública condicionada à representação, é evidente
o interesse do responsável civil em auxiliar o autor do fato na imediata composição civil dos danos,
nos termos do art. 74, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual
de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1362-1363).

Guilherme de Souza Nucci menciona que existe previsão legal expressa de que a OAB atue como assistente
de defesa, no caso do art. 49, parágrafo único da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):
Art. 49. Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para agir, judicial
e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as disposições ou os fins desta lei.
Parágrafo único. As autoridades mencionadas no caput deste artigo têm, ainda, legitimidade para
intervir, inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados, acusados
ou ofendidos os inscritos na OAB.

Confira os comentários de Nucci a respeito dessa previsão:

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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“O dispositivo deve ser adaptado ao contexto do processo penal, tornando possível que a OAB
atue como assistente de acusação em caso envolvendo advogado como réu, cuja demanda
desperte o interesse de toda a classe dos advogados. Entretanto, é preciso salientar que a Lei
8.906/94 autoriza, expressamente, a assistência, também, do advogado que seja réu ou
querelado, pois se refere à intervenção em inquéritos e processos em que sejam indiciados (nítida
hipótese criminal), acusados ou ofendidos (em igual prisma) os inscritos na Ordem dos Advogados
do Brasil. Dessa forma, nos moldes propostos pelo Código de Processo Civil, aplicado por analogia
neste caso de lacuna do Processo Penal, a OAB pode atuar como assistente da defesa, quando
possui interesse de que a sentença seja favorável ao réu-advogado, nos termos do art. 119 do
CPC/2015: ‘pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado
em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la’.” (Código
de Processo Penal comentado. 19ª ed., 2020, p. 1027)

O STJ admite a figura do assistente de defesa?


NÃO. O STJ afirma que não existe a figura do assistente de defesa no processo penal nem mesmo na
hipótese do art. 49, parágrafo único, da Lei nº 8.906/94. Nesse sentido:
No sistema do Código de Processo Penal, não há a figura do assistente como parte autônoma, que poderia
livremente dirigir sua atuação em amparo a qualquer uma das partes litigantes. A assistência é apenas da
acusação, inexistindo assistente da defesa.
STJ. 6ª Turma. RMS 32.235/PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/03/2014.

Veja abaixo um caso concreto envolvendo pedido da OAB para intervir como assistente de defesa:
João, advogado, foi denunciado pelo Ministério Público, acusado de estelionato (art. 171, caput, do CP).
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Minas Gerais pediu a sua intervenção no processo penal
como assistente da defesa do réu.
Vale ressaltar que, no caso concreto, o interesse jurídico que legitimaria a intervenção da OAB se
circunscreve ao fato de que o réu é advogado inscrito em seus quadros. Em outras palavras, a OAB pediu
a intervenção pelo simples fato de o acusado ser advogado.
A OAB afirmou que seu pedido encontra fundamento legal no art. 49, parágrafo único, da Lei nº 8.906/94
(Estatuto da Advocacia).
O juiz e o TJ/MG negaram o pleito e a questão chegou até o STJ.

O STJ concordou com o pedido de intervenção feita pela OAB?


NÃO.
A previsão contida no art. 49, parágrafo único, do Estatuto da OAB, deve ser interpretada em congruência
com as normas processuais penais e o CPP não contempla a figura do assistente de defesa.
A legitimidade prevista no art. 49, parágrafo único, do Estatuto da OAB somente se verifica em situações
que afetem interesses ou prerrogativas da categoria dos advogados, não autorizando a intervenção dos
Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB, como assistentes da defesa, pela mera condição de
advogado do acusado.
A qualidade de advogado ostentada por qualquer das partes, por si só, não legitima a Ordem dos
Advogados do Brasil à assistência, devendo prevalecer, no pedido de ingresso em ação penal como
assistente da defesa, o disposto no Código de Processo Penal.
No caso concreto, conforme já explicado, o interesse jurídico que legitimaria a intervenção da OAB se
circunscreve ao fato de que o réu na ação penal é advogado inscrito em seus quadros. Isso não é motivo idôneo.
Ressalte-se que mesmo na seara civil e administrativa, o STJ tem exigido a demonstração do interesse
jurídico na intervenção de terceiros, que somente se identifica, no caso da OAB, quando a demanda trata
das prerrogativas de advogados ou das “disposições ou fins” do Estatuto da Advocacia, conforme se
depreende da leitura do caput do art. 49 da Lei nº 8.906/94.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Em suma:
A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de
advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da acusação, não
existindo a figura do assistente de defesa.
STJ. 5ª Turma. RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

No mesmo sentido:
Carece de legitimidade o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para atuar na assistência,
pois essa figura se dá no processo penal apenas ao lado da acusação, não existindo a figura do assistente
de defesa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL


O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia
instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto

Importante!!!
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não
contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais
que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que
o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Medida de segurança
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
a) pena;
b) medida de segurança.
“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de
caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com
o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado.
São Paulo: Método, 2012, p. 815).
Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas,
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA,
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363).
Qual é o procedimento necessário para se constatar a necessidade ou não de aplicação da medida de
segurança?
Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz determina a instauração de um
incidente de insanidade mental.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se ele, ao tempo da ação ou da
omissão criminosa, tinha capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Quais as conclusões que o juiz pode chegar com o incidente de insanidade?


Após o incidente e com base nas conclusões do médico perito, o juiz poderá concluir que o réu é...
• imputável: nesse caso, ele será julgado normalmente e poderá ser condenado a uma pena;
• inimputável: se ficar provado que o agente é inimputável, ou seja, que por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado ele era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele
ficará isento de pena (art. 26 do CP) e poderá ou não receber uma medida de segurança, a depender de
existirem ou não provas de que praticou fato típico e ilícito;
• semi-imputável: se ficar provado que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, o agente não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele poderá: 1) ser condenado, mas sua pena será
reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do parágrafo único do art. 26 do CP; OU 2) receber medida de segurança,
se ficar comprovado que necessita de especial tratamento curativo (art. 98 do CP).

Espécies de medida de segurança


Existem duas espécies de medida de segurança (art. 96 do CP):

DETENTIVA (INTERNAÇÃO) RESTRITIVA (TRATAMENTO AMBULATORIAL)


Consiste na internação do agente em um hospital Consiste na determinação de que o agente se
de custódia e tratamento psiquiátrico. sujeite a tratamento ambulatorial.
Obs.: se não houver hospital de custódia, a
internação deverá ocorrer em outro
estabelecimento adequado.
É chamada de detentiva porque representa uma O agente permanece livre, mas tem uma restrição
forma de privação da liberdade do agente. em seu direito, qual seja, a obrigação de se
submeter a tratamento ambulatorial.

É possível que se reconheça a inimputabilidade ou a semi-imputabilidade do réu por meio de prova


testemunhal ou com base nas declarações da vítima?
NÃO. É indispensável o exame médico-legal. Segundo decidiu o STJ:
O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

O CPP afirmou expressamente que, se houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, será
necessária a realização do exame médico-legal:
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.

Isso significa que o art. 149 do CPP prevê hipótese de “prova legal ou tarifada”?
NÃO. O art. 149 do CPP não contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
No processo penal brasileiro, em consequência do sistema da persuasão racional, o juiz forma sua
convicção pela livre apreciação da prova (art. 155 do CPP).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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Assim, em regra, não existe prova legal ou tarifada no processo penal brasileiro.
 (Defensor DPE/MA 2018 FCC) Vige como regra em nosso ordenamento processual penal o sistema de
valoração de provas denominado “prova legal ou tarifada” (errado)

Logo, o art. 149 do CPP não é uma exceção ao sistema da persuasão racional nem configura hipótese de
prova tarifada.
A despeito de não ser prova tarifada, o certo é que esse exame assume uma inegável importância quando
se busca comprovar inimputabilidade (art. 26, caput, do CP) ou a semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo
único, do CP). Isso porque o Código Penal adotou expressamente o critério biopsicológico e o magistrado
não possui os conhecimentos técnicos para aferir a saúde mental do réu, tampouco a sua capacidade de
se autodeterminar.
Conforme explica Renato Brasileiro:
“(...) o exame de insanidade mental é de fundamental importância para o reconhecimento da
doença mental à época do crime e no momento atual. Ainda que outras provas indiquem a
necessidade de realização do exame (v.g., certidão de interdição), jamais poderão suprir esta
prova pericial. Afinal, levando-se em consideração que o Código Penal adota, em regra, o sistema
biopsicológico para o reconhecimento da imputabilidade (art. 26, caput), é de fundamental
importância aferir não só a presença de doença mental, ou de desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, mas também se, por conta disso, teve o acusado suprimida sua
capacidade de entendimento e de autodeterminação à época do fato delituoso.” (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1295).

Isso significa que o juiz fica vinculado às conclusões do laudo pericial, que será elaborado após o exame
médico-legal?
NÃO. O juiz não ficará adstrito (vinculado) ao laudo. O magistrado pode aceitar as conclusões ou rejeitá-
las no todo ou em parte (art. 182 do CPP).
O que se está dizendo é que o exame médico-legal é indispensável para o juiz formar a sua convicção,
ainda que, de forma motivada, ele possa, excepcionalmente, discordar das conclusões do perito.
Sobre o tema, confira a lição de Gustavo Badaró:
(...) Em princípio, aplica-se ao laudo que resulta do incidente de insanidade mental a regra geral
das perícias, prevista no art. 182 do CPP, segundo a qual o juiz não fica vinculado aos laudos
periciais, podendo aceitá-los ou rejeitá-los, no todo ou em parte, o que é uma decorrência da
máxima de que o juiz é o peritus peritorum. Todavia, em virtude da elevada especialização técnica
da questão de definir ou não a ocorrência de insanidade mental no momento da prática da
infração penal, será muito difícil que o juiz, sem qualquer outro elemento técnico, possa divergir
do laudo pericial.” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro: Campus, 2012, p. 249)

Em suma:
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja este submetido a exame médico-legal, não contempla
hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais que regem
a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu
(art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de insanidade
mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça
por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

CRIME MILITAR / COMPETÊNCIA


Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do militar em
atividade, em serviço ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou serviço militar
juridicamente tutelado

Tema polêmico!
Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do:
• critério subjetivo (delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não),
• aliado ao critério objetivo (vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a
ser analisada no caso concreto).
Ex: policial militar estava em sua casa, de folga. Ele e a esposa começaram a discutir por
ciúmes. Embriagado, ele ameaçou matar a esposa. Com medo, a mulher se trancou no banheiro
e ligou para a polícia. Foi deslocada uma viatura com dois policiais militares para atender a
ocorrência. Quando os policiais chegaram, o agressor fugiu, mas antes atirou contra eles e
contra a viatura.
A fuga e a resistência do policial militar, contextualizada com disparos de arma de fogo contra
colegas e contra viatura da corporação, são suficientes para configurar a vulneração da
regularidade da Polícia Militar, cujo primado se pauta pela hierarquia e disciplina.
STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, policial militar, estava em sua casa, de folga.
Ele e a esposa começaram a discutir por ciúmes e João, embriagado, ameaçou matar a esposa.
Com medo, a mulher se trancou no banheiro e ligou para a polícia.
Rapidamente foi deslocada uma viatura com dois policiais militares para atender a ocorrência.
Quando os policiais chegaram ao local, o agressor fugiu, mas antes atirou contra eles e contra a viatura.
Um dos policiais foi, inclusive, atingido pelos disparos.
João foi acusado de tentativa de homicídio.

A dúvida ficou por conta da competência. Quem será competente para julgar essa tentativa de
homicídio: Justiça Comum estadual ou Justiça Militar estadual?
Justiça Militar.

Competência da Justiça Militar


Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, assim definidos em lei (art. 124 da CF/88).
O art. 124 da CF/88 adotou, portanto, a tipificação do delito como critério objetivo para definir se a
competência é, ou não, da Justiça Militar.
Desse modo, a competência para julgar o fato será da Justiça militar sempre que a lei considerar
determinado crime como sendo militar.

A regra acima vale também para a Justiça Militar estadual?


SIM. A CF/88, ao tratar sobre a competência da Justiça Militar estadual, também adota o critério objetivo
da natureza jurídica do crime (militar ou não) para definir a competência desta.
Há, porém, duas importantes distinções:

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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1ª) a Justiça Militar estadual possui não apenas competências criminais, mas também administrativo-
disciplinares.
2ª) no âmbito estadual, a Justiça castrense jamais julgará civil (Súmula 53-STJ: Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais).

Veja o dispositivo constitucional:


Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
(...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Ok. Entendi que a competência da Justiça Militar depende da previsão em lei. Existe lei tratando sobre isso?
SIM. A lei que define quais são os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969).
• No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.
• No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.

Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da
Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM.

Alínea “a” do inciso II do art. 9º


Veja a redação do art. 9º, II, “a”, do CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado;
(...)

O inciso II do art. 9º do CPM fornece definição de crime militar que traz consigo um elemento subjetivo,
qual seja a condição de militar.
Assim, é crime militar aquele praticado por “militar em situação de atividade”...

O que é “militar em situação de atividade”?


O Código Penal Militar traz um norte de quem é o “militar em situação de atividade”. Em interpretação
autêntica, ele diz:
Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto,
graduação, ou sujeição à disciplina militar.

A Constituição Federal também parece caminhar no mesmo sentido:


Art. 142. (...)
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que
vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
(...)

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente,
ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos
termos da lei;
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública
civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista
no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá,
enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo
de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos
de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;
(...)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;

Ao explicar o art. 9º, II, “a”, do CPM, Cícero Coimbra dá um conceito para militar da ativa (militar em
situação de atividade):
“para a configuração dessa hipótese jurídica, consideraremos militar da ativa o militar que exerce
suas funções rotineiras no serviço militar que lhe é afeto, mesmo que no momento do crime esteja
licenciado, de folga, em trajes civis e fora do quartel. Em suma, a situação de atividade inicia-se
com a incorporação e encerra-se com a exclusão do miliciano da força a que pertence ou com sua
passagem para a inatividade.” (NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito penal militar. 4ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 271).

Militar da ativa é o mesmo que militar em serviço?


O tema é polêmico:

Para os fins do art. 9º, II, do CPM, quando se fala em “militar em situação de atividade” exige-se que
ele esteja em exercício efetivo? Exige-se que o militar esteja trabalhando no momento dos fatos?
NÃO SIM CORRENTE INTERMEDIÁRIA
• Militar em serviço: exige-se Para que seja considerado crime Para a definição da competência
que, no momento da conduta, o militar e, portanto, de da justiça militar, faz-se
agente esteja no exercício competência da Justiça Militar, necessária a observância do:
efetivo de atividade militar. Ex: exige-se que, além da qualidade de • critério subjetivo (delito
art. 202 do CPM: militar da ativa, a prática da praticado por militar em
Embriaguez em serviço conduta tenha ocorrido durante o atividade, em serviço ou não),
Art. 202. Embriagar-se o militar, exercício efetivo do serviço militar. • aliado ao critério objetivo
quando em serviço, ou (vulneração de bem jurídico caro
apresentar-se embriagado para Compete à Justiça Militar julgar ao serviço e ao meio militar, a ser
prestá-lo: crime cujo autor e vítima sejam analisada no caso concreto).
Pena - detenção, de seis meses a militares, desde que ambos STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG,
dois anos. estejam em serviço e em local Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
sujeito à administração militar. em 23/06/2020 (Info 675).
• Militar em situação de
atividade (militar da ativa): são O mero fato de a vítima e de o Ex: policial militar estava em sua
os militares que estão em agressor serem militares não faz casa, de folga. Ele e a esposa
atividade, ou seja, aqueles que com que a competência seja começaram a discutir por
não estão na reserva. Não obrigatoriamente da Justiça ciúmes. Embriagado, ele
importa para esse conceito Militar. O cometimento de delito ameaçou matar a esposa. Com
saber se o militar estava ou não por militar contra vítima militar medo, a mulher se trancou no
de folga. somente será de competência da banheiro e ligou para a polícia.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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Justiça Castrense nos casos em Foi deslocada uma viatura com


Nesse sentido: que houver vínculo direto com o dois policiais militares para
Não há incompetência da Justiça desempenho da atividade militar. atender a ocorrência. Quando os
Militar, uma vez que tanto o STF. 1ª Turma. HC 135019/SP, policiais chegaram, o agressor
recorrente quanto as vítimas Rel. Min. Rosa Weber, julgado fugiu, mas antes atirou contra
eram policiais militares da ativa, em 20/09/2016 (Info 840). eles e contra a viatura.
embora o acusado estivesse de A fuga e a resistência do policial
folga durante a prática delitiva. O crime imputado foi praticado militar, contextualizada com
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC por militar contra militares, disparos de arma de fogo contra
91.473/RJ, Rel. Min. Rogerio porém fora de situação de colegas e contra viatura da
Schietti Cruz, julgado em atividade e de local sujeito à corporação, são suficientes para
15/03/2018. administração militar, o que atrai configurar a vulneração da
a competência da Justiça comum. regularidade da Polícia Militar,
STF. 2ª Turma. HC 131076, Rel. cujo primado se pauta pela
Min. Cármen Lúcia, julgado em hierarquia e disciplina.
01/12/2015.

DOD PLUS – cuidado para não confundir no momento da prova com esse outro entendimento:
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra
outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime.
Caso concreto: Francisco era soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia
Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina
(PI). Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado
indagando sobre a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu
em razão dos disparos.
A vítima e o réu - ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a
discussão. Logo, não se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela
Justiça Comum estadual (Tribunal do Júri).
STJ. 3ª Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ


É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente,
mesmo que o período coincida com àquele em que o segurado estava trabalhando
e aguardava o deferimento do benefício

Importante!!!
Atenção! Advocacia Pública
Atenção! Juiz Federal e DPU
Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-
doença ou aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar,
teve que trabalhar após o indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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benefício. O pedido foi julgado procedente para conceder o benefício desde o requerimento
administrativo, o que acabou por abranger o período em que o segurado trabalhou. O INSS
alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia ser pago no
período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por incapacidade não
pode ser cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia.
O segurado foi obrigado a trabalhar, mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que
indeferiu o benefício indevidamente. Esse trabalho realizado para o sustento, mesmo diante
de uma situação de incapacidade é chamado de “sobre-esforço”.
Tese fixada pelo STJ:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou
de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao
recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua
incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.788.700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1013) (Info 675).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Em 04/04/2014, João foi até uma agência do INSS e requereu a sua aposentadoria por invalidez.
O pedido foi indeferido (negado) administrativamente porque o perito do INSS entendeu que o segurado
não estaria incapaz.
Diante disso, João ajuizou ação contra a autarquia pedindo a concessão do benefício.
Ocorre que João precisava se sustentar e, assim, mesmo com muitas dores ele se sacrificou e continuou
trabalhando como empregado de um supermercado enquanto aguardava o julgamento do processo.
Na Justiça, foi realizada perícia e o médico concluiu de forma diferente do que havia dito o perito do INSS:
João possui realmente incapacidade total e permanente.
Em 05/05/2015, o juiz julgou o pedido procedente, condenando o INSS a:
a) implementar a aposentadoria por invalidez em favor do segurado;
b) pagar as prestações retroativas da aposentadoria desde a data de entrada do requerimento
administrativo (DER). Em outras palavras, condenou a autarquia a pagar os meses de aposentadoria por
invalidez desde 04/04/2014.

Recurso do INSS
O INSS recorreu contra a sentença questionando unicamente o pagamento das prestações retroativas.
A autarquia argumentou o seguinte:
- no período de 04/04/2014 (DER) até 05/05/2015 (concessão judicial da aposentadoria por invalidez), o
segurado continuou trabalhando;
- ocorre que a Lei nº 8.213/91 proíbe que o segurado receba benefício por incapacidade (auxílio-doença
ou aposentadoria por invalidez) de forma concomitante com salário. Os dispositivos invocados da Lei
foram os seguintes:
Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida,
será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz
e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-
lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o
período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua
atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.

- desse modo, o INSS argumentou que, como no período 04/04/2014 a 05/05/2015, o segurado ainda
estava trabalhando e recebeu salário, ele não tem direito às parcelas de auxílio-doença ou aposentadoria
por invalidez relativas a esse interregno. O juiz deveria ter feito esse desconto;
- as parcelas do benefício deveriam ser pagas somente a partir da data em que ele deixou de trabalhar.

A tese do INSS foi acolhida pelo STJ?


NÃO.
O segurado que, considerado incapaz em termos previdenciários, tem que trabalhar para manter seu
sustento enquanto aguarda a definição sobre a concessão do benefício por incapacidade, não pode ser
penalizado com o não recebimento do benefício nesse período.
Vamos entender com calma.

Segurado que recebe benefício por incapacidade, em regra, não pode trabalhar; essa premissa está correta
O auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez possuem uma função substitutiva da renda auferida pelo
segurado. Em outras palavras, eles existem para substituir a remuneração do trabalhador. Como ele não
tem condições de trabalhar, receberá um benefício previdenciário no lugar.
O pressuposto para a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez é a incapacidade do
segurado. Dito de outro modo, esses benefícios só são concedidos porque se está considerando que o
segurado não tem condições de trabalhar. No auxílio-doença essa incapacidade é temporária. Na
aposentadoria por invalidez, é uma incapacidade permanente.
Ora, se o segurado está incapacitado e, por isso, a Previdência concede a ele o benefício, não é correto
que ele volte a trabalhar depois de já estar recebendo o auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez.
Se fizer isso, ou seja, se voltar a trabalhar, isso significa que está apto e, portanto, o benefício é
automaticamente cancelado, conforme determina o art. 46 e o art. 60, §§ 6º e 7º da Lei nº 8.213/91:
Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Art. 60 (...)
§ 6º O segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer atividade que lhe garanta
subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade.
§ 7º Na hipótese do § 6º, caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer
atividade diversa daquela que gerou o benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada
uma das atividades exercidas.

Situação é diferente se o segurado requereu administrativamente o benefício e lhe foi negado: ele é
obrigado a trabalhar enquanto aguarda o desfecho na via judicial
No caso de João, a situação é diferente da proibição legal:
• João requereu o benefício, que lhe foi indeferido, e acabou trabalhando enquanto não obteve seu direito
na via judicial;
• A lei trata da situação em que o benefício é concedido, o segurado já está recebendo um benefício que
substitui sua antiga fonte de renda e, mesmo assim, ele resolve voltar a trabalhar.

No caso de João houve uma falha na função substitutiva da renda, considerando que o benefício por
incapacidade foi negado.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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O segurado estava incapacitado e, mesmo assim, por falha administrativa do INSS, não lhe foi garantido o
sustento. Logo, não é exigível que o segurado fique sem qualquer fonte de renda enquanto aguarda o
resultado do processo judicial.
Por culpa do INSS, resultado do equivocado indeferimento do benefício, o segurando teve de trabalhar,
incapacitado, para o provimento de suas necessidades básicas. Isso é chamado pela doutrina e
jurisprudência de “sobre-esforço”.
Vedação ao enriquecimento sem causa
A tese defendida pelo INSS ofende o princípio da vedação do enriquecimento sem causa.
Isso porque, por culpa da autarquia (indeferimento equivocado do benefício), o segurado foi privado do
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. O INSS, mesmo assim, deseja economizar esse período em
que já deveria estar pagando o benefício.
É indevido o desconto, em benefícios por incapacidade, de período no qual houve exercício de atividade
remunerada, ou recolhimento de contribuições, no curso de demanda judicial contra o indeferimento
administrativo, sob pena de prestigiar o enriquecimento da autarquia, que deu causa à lide.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.393.909/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 9/5/2019.

Segurado está de boa-fé


O segurado que trabalha enquanto espera a concessão de benefício por incapacidade, está atuando de
boa-fé. Enquanto a função substitutiva da renda do trabalho não for materializada pelo efetivo pagamento
do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, é legítimo que o segurado exerça atividade
remunerada para sua subsistência independentemente do exame da compatibilidade dessa atividade com
a incapacidade laboral.
O STJ fixou a seguinte tese sobre o tema:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.788.700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo
– Tema 1013) (Info 675).

Esse era o entendimento que já prevalecia tanto no STJ como na TNU:


Súmula 72-TNU: É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve
exercício de atividade remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as atividades
habituais na época em que trabalhou.

 (Juiz Federal TRF2 2014) É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em
que houve exercício de atividade remunerada pelo segurado, uma vez comprovado que o segurado estava
realmente incapaz para as atividades habituais na época em que trabalhou. (certo)

Por favor, peço novamente para que não confunda:


a) o segurado está recebendo benefício por incapacidade regularmente e passa a exercer atividade
remunerada incompatível com sua incapacidade: o benefício é automaticamente cancelado. Segurado não
tem direito.
b) o segurado requereu o benefício e foi negado. Ele ingressa com pedido judicial. Enquanto aguarda o
desfecho do processo ele continua ou retorna ao trabalho: caso a sentença judicial seja favorável, ele terá
direito ao pagamento retroativo do benefício mesmo que seja concomitante com o período trabalhado.
Segurado não violou a lei, não podendo ser penalizado com o não recebimento do benefício nesse período.
Última dica: fique atento com a expressão “sobre-esforço”.

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27


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PREVIDÊNCIA PRIVADA
Qual é o prazo prescricional para a restituição de contribuições descontadas indevidamente dos
beneficiários de contrato de previdência complementar?

Tema polêmico!
Qual é o prazo prescricional para que o beneficiário de plano de previdência complementar
requeira a devolução de valores que foram descontados indevidamente?
1ª corrente: 3 anos.
Fundamento: art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (enriquecimento sem causa).
A prescrição da pretensão de devolução de parcelas descontadas indevidamente dos
vencimentos dos beneficiários de contrato de previdência privada é de 3 anos, estabelecida no
art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, por se tratar de ressarcimento de enriquecimento sem causa.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1763228/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/06/2020.

2ª corrente: 10 anos.
Fundamento: art. 205 do Código Civil (prazo geral pela ausência de prazo específico).
O prazo prescricional aplicável à pretensão de restituição de contribuições descontadas
indevidamente dos beneficiários de contrato de previdência complementar é de 10 anos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.627-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020
(Info 675).

Previdência complementar (previdência privada)


Previdência complementar (previdência privada) é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja
receber, no futuro, aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
É chamada de “complementar” porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de “complementar” a renda no
momento da aposentadoria.
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de “entidade de
previdência complementar” (entidade de previdência privada).

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João era funcionário de uma sociedade de economia mista e, nesta condição, era participante do plano
de previdência complementar oferecido para os funcionários da empresa.
Durante anos, a entidade de previdência complementar responsável pelo plano descontou de João
contribuições acima do que era devido, ou seja, além daquilo que era previsto no regulamento (estatuto)
do plano.
Em 2010, esses descontos indevidos cessaram.
Em 2015, João ajuizou ação pedindo a restituição das contribuições descontadas indevidamente.
A entidade de previdência suscitou a prescrição alegando que o prazo para que João propusesse a ação
era de 3 anos, com base no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil:
Art. 206 (...)
§ 3º Em três anos:
(...)
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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A tese alegada pela entidade de previdência encontra amparo na jurisprudência atual do STJ?
Há divergência no STJ a respeito do tema:

Qual é o prazo prescricional para que o beneficiário de plano de previdência complementar


requeira a devolução de valores que foram descontados indevidamente?
3 anos 10 anos
Fundamento: art. 206, § 3º, IV, do Código Civil Fundamento: art. 205 do Código Civil
(enriquecimento sem causa) (prazo geral pela ausência de prazo específico)
A prescrição da pretensão de devolução de O prazo prescricional aplicável à pretensão de
parcelas descontadas indevidamente dos restituição de contribuições descontadas
vencimentos dos beneficiários de contrato de indevidamente dos beneficiários de contrato de
previdência privada é de 3 anos, estabelecida no previdência complementar é de 10 anos.
art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, por se tratar de
ressarcimento de enriquecimento sem causa.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1763228/SP, Rel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.627-SP, Rel. Min. Paulo
Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em de Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020
22/06/2020. (Info 675).

Não confundir com o prazo prescricional para cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria:
Súmula 291-STJ: A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela previdência
privada prescreve em cinco anos.

Súmula 427-STJ: A ação de cobrança de diferenças de valores de complementação de aposentadoria


prescreve em cinco anos contados da data do pagamento.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos
judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho. ( )
2) (Procurador do Trabalho MPT 2020 banca própria) O valor do depósito recursal será reduzido pela
metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores
individuais, microempresas e empresas de pequeno porte, sendo isentos os beneficiários da justiça
gratuita, as entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial, bem como, por entendimento
sumular adotado pelo Tribunal Superior do Trabalho, na falência. ( )
3) É vedada a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial. ( )
4) É imprescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que
trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017. ( )
5) A questão decidida na ação cautelar de caução prévia tem natureza jurídica de incidente processual
inerente à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes. ( )
6) (Juiz TJ/AC Vunesp 2019) Em relação à titularidade da ação penal, nos crimes de estupro, por violência
real ou grave ameaça, importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cena de estupro, procede-se
mediante ação penal pública condicionada à representação. ( )

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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7) (Promotor MP/MT FCC 2019) Somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação
penal condicionada a representação. ( )
8) (Promotor MP/SP 2019) O crime de importunação sexual, assim como o crime de estupro, é crime de
ação penal pública condicionada à representação da pessoa contra a qual o ato foi praticado. ( )
9) (Promotor MP/PI CEBRASPE 2019) Em se tratando de crime de estupro em que a vítima seja maior de
dezoito anos de idade e plenamente capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda que não tenha
ocorrido violência real na prática do crime. ( )
10) (Defensor DP/MG Fundep 2019) Conforme a jurisprudência predominante, os crimes contra a dignidade
sexual serão processados mediante ação penal pública condicionada à representação, tendo em vista
evitar a vitimização secundária, salvo no caso de estupro de vulnerável, hipótese em que a ação penal
será pública incondicionada e a pena será aumentada da metade se o agente for ascendente, padrasto
ou madrasta da vítima. ( )
11) (Analista TJ/AM CEBRASPE 2019) Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de
idade, de ter praticado crime de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do
último aniversário da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi consentido. No caso em questão,
se comprovada a prática do crime, a ação penal cabível será pública incondicionada, pois não há previsão
de ação pública condicionada à representação em crimes contra a dignidade sexual. ( )
12) A OAB não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal. ( )
13) O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. ( )
14) Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do militar em atividade,
em serviço ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou serviço militar juridicamente tutelado. ( )
15) No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente. ( )

Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. E 8. E 9. C 10. E
11. C 12. C 13. C 14. C 15. C

Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30

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