Informativo 675-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
SUCESSÕES
▪ Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de partilha amigável em
que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de 20 anos.
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
▪ Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais.
PRECATÓRIOS
▪ É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º
da Lei nº 13.463/2017.
EXECUÇÃO FISCAL
▪ A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação em honorários advocatícios em desfavor
de qualquer das partes.
DIREITO PENAL
MEDIDA DE SEGURANÇA
▪ O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de incidente
de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
▪ É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente, mesmo que o período coincida com àquele
em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
▪ Qual é o prazo prescricional para a restituição de contribuições descontadas indevidamente dos beneficiários de
contrato de previdência complementar?
DIREITO CIVIL
SUCESSÕES
Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de
partilha amigável em que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de 20 anos
A partilha, como todo ato jurídico, pode ser absolutamente nula ou meramente anulável (vício relativo e
sanável por natureza).
Quem não possui status de herdeiro, porém se beneficia da partilha como se o fosse, participa de ato jurídico
nulo na forma prescrita no art. 145, III, do Código Civil de 1916 (art. 166, IV, do Código Civil de 2002):
Qual é o prazo prescricional para se pleitear a declaração de nulidade dessa partilha que ocorreu sob a
vigência do antigo Código Civil?
20 anos, nos termos do art. 177 do Código Civil de 1916 (art. 205 do Código Civil 2020):
Em suma:
Sob a égide do Código de Civil de 1916, o prazo prescricional para propor ação de nulidade de partilha
amigável em que se incluiu no inventário pessoa incapaz de suceder é de vinte anos.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 226.991-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 675).
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais
Depósito recursal
Determinados recursos para serem conhecidos, no processo trabalhista, exigem o recolhimento do
chamado “depósito recursal”.
Atualmente, o depósito recursal somente é previsto no direito processual do trabalho e serve para
garantir uma possível futura execução. Assim, só cabe o depósito recursal quando o recurso for contra
decisão que condenou o empregador a pagar determinada quantia. Se o vencido for o empregado, não há
necessidade do recolhimento do depósito recursal.
O depósito recursal deve ser feito em conta vinculada ao juízo por meio de uma guia de depósito judicial,
no mesmo prazo do recurso a ser interposto.
Transitada em julgado a decisão recorrida, a parte vencedora tem direito ao levantamento imediato da
quantia depositada como depósito recursal, por simples despacho do Juiz trabalhista. Assim, por exemplo,
se o recurso da empresa foi provido, esta empresa terá direito ao valor que havia depositado mediante
despacho do juiz trabalhista.
O depósito recursal é previsto no art. 899 da CLT, que foi recentemente alterado pela Lei nº 13.467/2017:
Art. 899. Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo,
salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora.
§ 1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o salário-mínimo regional, nos dissídios
individuais, só será admitido o recurso inclusive o extraordinário, mediante prévio depósito da
respectiva importância. Transitada em julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o levantamento
imediato da importância de depósito, em favor da parte vencedora, por simples despacho do juiz.
(...)
§ 9º O valor do depósito recursal será reduzido pela metade para entidades sem fins lucrativos,
empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempresas e empresas de
pequeno porte. (Incluído pela Lei nº 13.467/2017)
§ 10. São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filantrópicas
e as empresas em recuperação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.467/2017)
§ 11. O depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantia judicial.
(Incluído pela Lei nº 13.467/2017)
(Procurador do Trabalho MPT 2020 banca própria) O valor do depósito recursal será reduzido pela
metade para entidades sem fins lucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais,
microempresas e empresas de pequeno porte, sendo isentos os beneficiários da justiça gratuita, as
entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial, bem como, por entendimento sumular
adotado pelo Tribunal Superior do Trabalho, na falência. (certo)
O art. 40 da Lei n. 8.177/91 estabelece limites gradativos aos depósitos, devendo ser complementado o
valor a cada recurso interposto no decorrer do processo (ordinário, de revista, embargos infringentes e
extraordinário), inclusive na execução, enquanto não alcançado o valor da condenação.
Assim, à medida que a parte recorre, deve depositar gradativamente o valor da condenação, dentro dos
limites previstos.
No âmbito da Justiça do Trabalho, o depósito é pressuposto de admissibilidade dos recursos interpostos
contra as sentenças em que houver condenação em pecúnia, tendo duas finalidades: garantir a execução
e evitar recursos protelatórios.
O TST já decidiu que o depósito previsto no § 1º do art. 899 da CLT tem natureza jurídica de garantia da
execução do julgado (AIRR 1000429-85.2015.5.02.0472, TST, TERCEIRA TURMA, rel. Ministro ALBERTO
BRESCIANI, julgado em 10.10.2018).
O debate jurídico envolvendo o caso é o seguinte: de quem é a competência para decidir acerca da
destinação do depósito recursal efetuado pela empresa demandada na Justiça do Trabalho
anteriormente ao pedido de recuperação judicial? A competência é do juízo trabalhista ou do juízo da
recuperação judicial?
Do juízo da recuperação judicial.
Compete ao Juízo da Recuperação decidir sobre a destinação dos depósitos recursais.
Com a concessão da recuperação judicial, ocorre a novação os créditos, mesmo os anteriores ao pedido
O § 4º do art. 899 da CLT, com redação dada pela Lei nº 13.467/2017, afirma que “o depósito recursal será
feito em conta vinculada ao juízo e corrigido com os mesmos índices da poupança”. Assim, uma vez
realizado o depósito, os valores aportados ficam à disposição do Juízo Laboral, sujeitos a levantamento
imediato, por mero despacho, logo após o trânsito em julgado, em favor da parte vencedora, segundo a
previsão do § 1º do art. 899 da CLT. Isso significa que, em situação “normal”, a competência para decidir
sobre o depósito recursal seria do juízo trabalhista.
Ocorre que, nos casos em que é concedida a recuperação judicial à empresa reclamada no curso do
processo trabalhista, ocorre a novação dos créditos anteriores ao pedido, obrigando o devedor e todos os
credores a ele sujeitos, por expressa disposição do art. 59 da Lei nº 11.101/2005:
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e
obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o
disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.
O art. 49 da Lei 11.101/2005 complementa que “estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”.
O crédito buscado pelo trabalhador na demanda trabalhista em trâmite na data do pedido se submete,
portanto, aos efeitos da recuperação judicial, devendo ser pago nos termos do plano aprovado, em
isonomia de condições com os demais credores da mesma classe.
Tendo em vista sua natureza de garantia e não de pagamento antecipado, fica claro que não é possível a
autorização, pelo Juízo do Trabalho, de levantamento dos valores depositados por empresa em
recuperação judicial, na forma do § 1º do art. 899 da CLT.
Após o deferimento da recuperação judicial, passa a ser do juízo da recuperação a competência para o
prosseguimento dos atos de execução relacionados com reclamações trabalhistas movidas contra a
empresa recuperanda (STJ. 2ª Seção. AgInt nos EDcl no CC 160.280/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
DJe 6/5/2019). Isso porque a competência da Justiça do Trabalho se limita à apuração do respectivo
crédito, devendo, após sua liquidação, ser habilitado no Quadro-Geral de Credores, nos termos do art. 6º,
§ 2º, da Lei nº 11.101/2005, sendo vedada a prática de atos que comprometam o patrimônio da empresa
em recuperação:
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
(...)
§ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação
de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as
impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada
até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor
determinado em sentença.
É da competência do juízo universal a decisão sobre a satisfação de créditos líquidos apurados em outros
órgãos judiciais, sob pena de prejuízo aos demais credores e à viabilidade do plano de recuperação.
Em suma:
Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos
judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho.
STJ. 2ª Seção. CC 162.769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).
E na falência?
Aplica-se o mesmo entendimento:
É do juízo falimentar a competência para decidir sobre o destino dos depósitos recursais feitos no curso
de reclamação trabalhista movida contra a falida, ainda que anteriores à decretação da falência.
A razão de ser da supremacia dessa regra de competência é a concentração, no Juízo universal da falência, de
todas as decisões que envolvam o patrimônio da falida, a fim de não comprometer o par conditio creditorum.
STJ. 2ª Seção. AgInt nos EDcl no CC 165415/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019.
EXECUÇÃO
É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída,
ainda que de sociedade empresária em recuperação judicial
A penhora de quotas sociais não encontra vedação legal nem afronta o princípio da affectio societatis, já
que não enseja, necessariamente, a inclusão de novo sócio.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1058599/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/11/2017.
Vale ressaltar que o próprio CPC/2015 autoriza isso expressamente e disciplina o tema no art. 861. Não é
preciso ler o dispositivo, mas se estiver com tempo, confira abaixo:
Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples ou empresária, o juiz
assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para que a sociedade:
I - apresente balanço especial, na forma da lei;
II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de preferência legal ou
contratual;
III - não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à liquidação das quotas ou
das ações, depositando em juízo o valor apurado, em dinheiro.
§ 1º Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá adquiri-las sem redução
do capital social e com utilização de reservas, para manutenção em tesouraria.
§ 2º O disposto no caput e no § 1º não se aplica à sociedade anônima de capital aberto, cujas
ações serão adjudicadas ao exequente ou alienadas em bolsa de valores, conforme o caso.
§ 3º Para os fins da liquidação de que trata o inciso III do caput, o juiz poderá, a requerimento do
exequente ou da sociedade, nomear administrador, que deverá submeter à aprovação judicial a
forma de liquidação.
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas ou das
ações liquidadas:
I - superar o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social,
ou por doação; ou
E o fato de a empresa estar em recuperação judicial? Mesmo assim será possível a penhora das quotas?
SIM.
O art. 789 do CPC afirma que o devedor responde com todos os seus bens, dentre os quais se incluem as
quotas que detiver em sociedade simples ou empresária, por suas obrigações, salvo as restrições
estabelecidas em lei. Nesse contexto, somente é possível obstar a penhora e a alienação das quotas sociais
se houver restrição legal.
Não há, a princípio, vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação
judicial. Se muito, a proibição existira para a liquidação da quota, mas essa é apenas uma dentre outras
situações possíveis a partir da efetivação da penhora.
Uma vez penhorada a quota social, algumas possibilidades se abrem na execução.
Assim, depois que a quota é penhorada, ela deve ser oferecida aos demais sócios que, buscando evitar a
liquidação ou o ingresso de terceiros no quadro social, podem adquiri-las:
Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples ou empresária, o juiz
assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para que a sociedade:
(...)
II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de preferência legal ou
contratual;
Inexistindo interesse dos demais sócios, a possibilidade de aquisição passa para a sociedade, o que, no
caso da recuperação judicial, não se mostra viável, já que, a princípio, não há saldo de lucros ou reservas
disponíveis, nem é possível a alienação de bens do ativo permanente para cumprir a obrigação sem
autorização judicial.
É de se considerar, porém, que o art. 861, § 4º, II, do CPC possibilita o alongamento do prazo para o
pagamento do valor relativo à quota nas hipóteses em que houver risco à estabilidade da sociedade:
Art. 861 (...)
§ 4º O prazo previsto no caput poderá ser ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas ou das
ações liquidadas:
(...)
II - colocar em risco a estabilidade financeira da sociedade simples ou empresária.
(...)
Assim, a depender da fase em que a recuperação judicial estiver, o juiz pode ampliar o prazo para o
pagamento, aguardando o seu encerramento.
Desse modo, parece não existir vedação legal, ao menos a priori, que obste a penhora de quotas de
sociedade em recuperação judicial, tendo em vista a multiplicidade de situações que podem ocorrer no
prosseguimento da execução.
Em suma:
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já
que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
PRECATÓRIOS
É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV,
após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017
Lei nº 13.463/2017
A Lei nº 13.463/2017 tratou sobre os recursos destinados aos pagamentos decorrentes de precatórios e
de Requisições de Pequeno Valor (RPV) federais. Veja o que disse o art. 2º:
Art. 2º Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos valores não tenham
sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição financeira
oficial.
(...)
§ 3º Será dada ciência do cancelamento de que trata o caput deste artigo ao Presidente do
Tribunal respectivo.
§ 4º O Presidente do Tribunal, após a ciência de que trata o § 3º deste artigo, comunicará o fato
ao juízo da execução, que notificará o credor.
A ideia da Lei foi a de que, se o titular não pediu o pagamento do precatório ou da RPV em um prazo de 2
anos, não faz sentido esse recurso ficar contingenciado (“preso”), devendo ele ser utilizado para outras
finalidades.
Com o cancelamento, isso significa que o titular do precatório ou RPV “perdeu” o crédito ou ele ainda
poderá cobrar a quantia?
O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da Lei:
Art. 3º Cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a
requerimento do credor.
Parágrafo único. O novo precatório ou a nova RPV conservará a ordem cronológica do requisitório
anterior e a remuneração correspondente a todo o período.
A Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso significa que
essa pretensão é imprescritível?
NÃO.
O direito do credor de que seja expedido novo precatório ou nova RPV começa a existir na data em que
houve o cancelamento do precatório ou RPV cujos valores, embora depositados, não tenham sido
levantados.
Informativo 675-STJ (14/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9
Informativo
comentado
No momento em que ocorre a violação de um direito, considera-se nascida a ação para postulá-lo
judicialmente e, consequentemente, aplicando-se a teoria da actio nata, tem início a fluência do prazo
prescricional.
Desse modo, o STJ decidiu que:
É prescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que
trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2020 (Info 675).
EXECUÇÃO FISCAL
A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação
em honorários advocatícios em desfavor de qualquer das partes
Por quê?
Porque não cabe honorários advocatícios em ação cautelar de caução prévia à execução fiscal.
Em suma:
A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja condenação em honorários advocatícios
em desfavor de qualquer das partes.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/06/2020 (Info 675).
Observação final:
Essa cautelar de caução prévia não tem previsão expressa na legislação, sendo uma construção
jurisprudencial com base no poder geral de cautela.
DIREITO PENAL
MEDIDA DE SEGURANÇA
O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia
instauração de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto
Importante!!!
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não
contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais
que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que
o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
Tema polêmico!
O art. 225 do CP, na época da Lei 12.015/2009, tinha a seguinte redação:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP somente é de ação
penal pública incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente mental).
Se a vulnerabilidade for temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria
condicionada à representação. Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação
dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em “pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que
é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não à pessoa que está vulnerável
(vulnerabilidade temporária).
ATENÇÃO:
A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais, salvo
para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP
e passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada
(sempre). Não há exceções!
Imagine a seguinte situação hipotética (ocorrida na época em que vigorava o art. 225 do CP com a
redação dada pela Lei nº 12.015/2009):
Em 2012, “A”, mulher de 20 anos, sem qualquer enfermidade ou deficiência mental, estava em uma festa
e acabou bebendo demais, ficando completamente embriagada.
“L”, sob o pretexto de dar uma carona para “A”, levou a moça para um motel e com ela praticou conjunção carnal.
Vale ressaltar que “A” estava tão bêbada que não podia oferecer qualquer tipo de resistência ao ato sexual.
“A” não ofereceu representação contra “L”.
O Ministério Público denunciou o agente por estupro de vulnerável (art. 217-A, § 1º) alegando que a
vítima, em virtude da embriaguez, não podia oferecer resistência:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
(...)
No interrogatório, ocorrido mais de seis meses após a autoria ter sido descoberta, o acusado confessou a
prática do delito.
Em memoriais, o MP pediu a condenação do réu.
A defesa, por seu turno, alegou uma única tese: o delito praticado pelo réu é crime de ação penal pública
CONDICIONADA à representação. Veja a redação do art. 225 do CP antes da Lei nº 13.718/2018:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima
é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.
Obs: essa é a redação dada pela Lei nº 12.015/2009.
Obs2: posteriormente, houve uma nova mudança realizada pela Lei nº 13.718/2018.
Abrindo um parêntese:
O art. 225 do CP teve três redações diferentes:
Redação dada pela Redação dada pela
Redação original
Lei nº 12.015/2009 Lei nº 13.718/2018
Art. 225. Nos crimes definidos nos Art. 225. Nos crimes definidos nos Art. 225. Nos crimes definidos nos
capítulos anteriores, somente se Capítulos I e II deste Título, procede- Capítulos I e II deste Título, procede-
procede mediante queixa. se mediante ação penal pública se mediante ação penal pública
§ 1º Procede-se, entretanto, condicionada à representação. incondicionada.
mediante ação pública: Parágrafo único. Procede-se,
I - se a vítima ou seus pais não entretanto, mediante ação penal
podem prover às despesas do pública incondicionada se a vítima é
processo, sem privar-se de recursos menor de 18 (dezoito) anos ou
indispensáveis à manutenção pessoa vulnerável.
própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso
do pátrio poder, ou da qualidade de
padrasto, tutor ou curador.
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo
anterior, a ação do Ministério
Público depende de representação.
Assim, quando o art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em
“pessoa vulnerável”, ele está se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não
à pessoa que está vulnerável (vulnerabilidade temporária).
A doutrina amplamente majoritária defende a posição adotada pela 5ª Turma do STJ, ou seja, pouco
importa a natureza da incapacidade (permanente ou transitória). A vulnerabilidade deve ser aferida no
momento da conduta criminosa. Se a vítima estava vulnerável no momento do ato, deve-se considerar
a ação penal como pública incondicionada. Nesse sentido: MASSON, Cleber. Direito Penal. São Paulo:
Método, 2017, p. 74.
ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE:
A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais, salvo para
definir situações pretéritas. Isso porque a Lei nº 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP e passou
a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada (sempre).
Não há exceções!
Veja mais uma vez a nova redação do art. 225 do CP:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718/2018).
Vale ressaltar, no entanto, que a Lei nº 13.718/2018 entrou em vigor na data de sua publicação
(25/09/2018). Como se trata de lei penal mais gravosa (novatio legis in pejus), ela é irretroativa, não
alcançando fatos praticados antes da sua vigência.
Essa regra de irretroatividade vale, inclusive, para as ações penais. Assim, por exemplo, se, em
24/09/2018, o agente praticou conjunção carnal ou ato libidinoso contra uma pessoa “temporariamente
vulnerável”, a discussão acima ainda permanece porque a Lei nº 13.718/2018 não poderá retroagir.
DOD PLUS
Sobre o tema que você acabou de estudar, o que interessa mesmo para fins de prova é a redação atual do
art. 225 do CP. Isso que certamente será cobrado nas suas provas. Veja alguns exemplos de questões:
(Juiz TJ/AC Vunesp 2019) Em relação à titularidade da ação penal, nos crimes de estupro, por violência
real ou grave ameaça, importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cena de estupro, procede-se
mediante ação penal pública condicionada à representação. (errado)
(Promotor MP/MT FCC 2019) Somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação
penal condicionada a representação. (errado)
(Promotor MP/SP 2019) O crime de importunação sexual, assim como o crime de estupro, é crime de
ação penal pública condicionada à representação da pessoa contra a qual o ato foi praticado. (errado)
(Promotor MP/PI CEBRASPE 2019) Em se tratando de crime de estupro em que a vítima seja maior de
dezoito anos de idade e plenamente capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda que não tenha
ocorrido violência real na prática do crime. (certo)
(Defensor DP/MG Fundep 2019) Conforme a jurisprudência predominante, os crimes contra a dignidade
sexual serão processados mediante ação penal pública condicionada à representação, tendo em vista
evitar a vitimização secundária, salvo no caso de estupro de vulnerável, hipótese em que a ação penal será
pública incondicionada e a pena será aumentada da metade se o agente for ascendente, padrasto ou
madrasta da vítima. (errado)
(Analista TJ/AM CEBRASPE 2019) Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de
idade, de ter praticado crime de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do último
aniversário da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi consentido. No caso em questão, se
comprovada a prática do crime, a ação penal cabível será pública incondicionada, pois não há previsão de
ação pública condicionada à representação em crimes contra a dignidade sexual. (certo)
ASSISTENTE DE DEFESA
A OAB não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal
Importante!!!
A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa
de advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da
acusação, não existindo a figura do assistente de defesa.
STJ. 5ª Turma. RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.
Assistente de acusação
O titular e, portanto, autor da ação penal pública, é o Ministério Público (art. 129, I, CF/88).
Contudo, a vítima do crime poderá pedir para intervir no processo penal a fim de auxiliar o Ministério
Público. A essa figura dá-se o nome de “assistente de acusação”.
O assistente também é chamado de “parte contingente”, “adesiva” ou “adjunta”.
O assistente é considerado a única parte desnecessária e eventual do processo.
Obs.: somente existe assistente da acusação no caso de ação penal pública.
Segundo o art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido
(pessoalmente ou por meio de seu representante legal, caso seja incapaz).
Caso a vítima tenha morrido, poderá intervir como assistente:
• o cônjuge;
• o companheiro;
• o ascendente;
• o descendente ou
• o irmão do ofendido.
Assistente de defesa
Assim como existe o assistente de acusação, diversos doutrinadores sustentam a ideia de que seria
possível falarmos em assistência de defesa (ou assistente da defesa).
No caso do assistente de acusação existe previsão expressa no CPP.
Por outro lado, o CPP não fala nada sobre assistente de defesa.
Alguns autores afirmam que o art. 72 da Lei dos Juizados Especiais teria admitido, ainda que de forma
tímida, a intervenção do responsável civil pelos danos como assistente de defesa. Assim, se a infração de
menor potencial ofensivo foi cometida por determinada pessoa, no entanto, outro indivíduo é que será o
responsável pelo pagamento da indenização caso haja condenação, então, neste caso, esse responsável
civil poderia intervir no processo como assistente de defesa. Veja a explicação de Renato Brasileiro:
“A lei processual penal pátria não faz referência à figura do assistente da defesa. No entanto, a
despeito do silêncio do legislador, considerando que a Lei dos Juizados, ao se referir à audiência
preliminar, faz menção ao comparecimento do autor do fato delituoso, da vítima e do responsável
civil pelos danos causados, todos acompanhados por advogado (Lei nº 9.099/95, art. 72), há quem
entenda que esse responsável civil figura como verdadeiro assistente da defesa. Isso porque,
considerando que a reparação do dano nas infrações de menor potencial ofensivo acarreta
renúncia ao direito de queixa ou de representação, com a consequente extinção da punibilidade
se se tratar de crime de ação penal privada ou pública condicionada à representação, é evidente
o interesse do responsável civil em auxiliar o autor do fato na imediata composição civil dos danos,
nos termos do art. 74, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual
de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1362-1363).
Guilherme de Souza Nucci menciona que existe previsão legal expressa de que a OAB atue como assistente
de defesa, no caso do art. 49, parágrafo único da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):
Art. 49. Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para agir, judicial
e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as disposições ou os fins desta lei.
Parágrafo único. As autoridades mencionadas no caput deste artigo têm, ainda, legitimidade para
intervir, inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados, acusados
ou ofendidos os inscritos na OAB.
“O dispositivo deve ser adaptado ao contexto do processo penal, tornando possível que a OAB
atue como assistente de acusação em caso envolvendo advogado como réu, cuja demanda
desperte o interesse de toda a classe dos advogados. Entretanto, é preciso salientar que a Lei
8.906/94 autoriza, expressamente, a assistência, também, do advogado que seja réu ou
querelado, pois se refere à intervenção em inquéritos e processos em que sejam indiciados (nítida
hipótese criminal), acusados ou ofendidos (em igual prisma) os inscritos na Ordem dos Advogados
do Brasil. Dessa forma, nos moldes propostos pelo Código de Processo Civil, aplicado por analogia
neste caso de lacuna do Processo Penal, a OAB pode atuar como assistente da defesa, quando
possui interesse de que a sentença seja favorável ao réu-advogado, nos termos do art. 119 do
CPC/2015: ‘pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado
em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la’.” (Código
de Processo Penal comentado. 19ª ed., 2020, p. 1027)
Veja abaixo um caso concreto envolvendo pedido da OAB para intervir como assistente de defesa:
João, advogado, foi denunciado pelo Ministério Público, acusado de estelionato (art. 171, caput, do CP).
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Minas Gerais pediu a sua intervenção no processo penal
como assistente da defesa do réu.
Vale ressaltar que, no caso concreto, o interesse jurídico que legitimaria a intervenção da OAB se
circunscreve ao fato de que o réu é advogado inscrito em seus quadros. Em outras palavras, a OAB pediu
a intervenção pelo simples fato de o acusado ser advogado.
A OAB afirmou que seu pedido encontra fundamento legal no art. 49, parágrafo único, da Lei nº 8.906/94
(Estatuto da Advocacia).
O juiz e o TJ/MG negaram o pleito e a questão chegou até o STJ.
Em suma:
A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de
advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da acusação, não
existindo a figura do assistente de defesa.
STJ. 5ª Turma. RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
No mesmo sentido:
Carece de legitimidade o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para atuar na assistência,
pois essa figura se dá no processo penal apenas ao lado da acusação, não existindo a figura do assistente
de defesa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.
Importante!!!
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não
contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais
que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-
imputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que
o faça por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
Medida de segurança
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
a) pena;
b) medida de segurança.
“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de
caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com
o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado.
São Paulo: Método, 2012, p. 815).
Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas,
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA,
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363).
Qual é o procedimento necessário para se constatar a necessidade ou não de aplicação da medida de
segurança?
Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz determina a instauração de um
incidente de insanidade mental.
O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se ele, ao tempo da ação ou da
omissão criminosa, tinha capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.
O CPP afirmou expressamente que, se houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, será
necessária a realização do exame médico-legal:
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
Isso significa que o art. 149 do CPP prevê hipótese de “prova legal ou tarifada”?
NÃO. O art. 149 do CPP não contempla hipótese de prova legal ou tarifada.
No processo penal brasileiro, em consequência do sistema da persuasão racional, o juiz forma sua
convicção pela livre apreciação da prova (art. 155 do CPP).
Assim, em regra, não existe prova legal ou tarifada no processo penal brasileiro.
(Defensor DPE/MA 2018 FCC) Vige como regra em nosso ordenamento processual penal o sistema de
valoração de provas denominado “prova legal ou tarifada” (errado)
Logo, o art. 149 do CPP não é uma exceção ao sistema da persuasão racional nem configura hipótese de
prova tarifada.
A despeito de não ser prova tarifada, o certo é que esse exame assume uma inegável importância quando
se busca comprovar inimputabilidade (art. 26, caput, do CP) ou a semi-imputabilidade (art. 26, parágrafo
único, do CP). Isso porque o Código Penal adotou expressamente o critério biopsicológico e o magistrado
não possui os conhecimentos técnicos para aferir a saúde mental do réu, tampouco a sua capacidade de
se autodeterminar.
Conforme explica Renato Brasileiro:
“(...) o exame de insanidade mental é de fundamental importância para o reconhecimento da
doença mental à época do crime e no momento atual. Ainda que outras provas indiquem a
necessidade de realização do exame (v.g., certidão de interdição), jamais poderão suprir esta
prova pericial. Afinal, levando-se em consideração que o Código Penal adota, em regra, o sistema
biopsicológico para o reconhecimento da imputabilidade (art. 26, caput), é de fundamental
importância aferir não só a presença de doença mental, ou de desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, mas também se, por conta disso, teve o acusado suprimida sua
capacidade de entendimento e de autodeterminação à época do fato delituoso.” (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1295).
Isso significa que o juiz fica vinculado às conclusões do laudo pericial, que será elaborado após o exame
médico-legal?
NÃO. O juiz não ficará adstrito (vinculado) ao laudo. O magistrado pode aceitar as conclusões ou rejeitá-
las no todo ou em parte (art. 182 do CPP).
O que se está dizendo é que o exame médico-legal é indispensável para o juiz formar a sua convicção,
ainda que, de forma motivada, ele possa, excepcionalmente, discordar das conclusões do perito.
Sobre o tema, confira a lição de Gustavo Badaró:
(...) Em princípio, aplica-se ao laudo que resulta do incidente de insanidade mental a regra geral
das perícias, prevista no art. 182 do CPP, segundo a qual o juiz não fica vinculado aos laudos
periciais, podendo aceitá-los ou rejeitá-los, no todo ou em parte, o que é uma decorrência da
máxima de que o juiz é o peritus peritorum. Todavia, em virtude da elevada especialização técnica
da questão de definir ou não a ocorrência de insanidade mental no momento da prática da
infração penal, será muito difícil que o juiz, sem qualquer outro elemento técnico, possa divergir
do laudo pericial.” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro: Campus, 2012, p. 249)
Em suma:
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja este submetido a exame médico-legal, não contempla
hipótese de prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais que regem
a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu
(art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de insanidade
mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça
por meio de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
Tema polêmico!
Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do:
• critério subjetivo (delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não),
• aliado ao critério objetivo (vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a
ser analisada no caso concreto).
Ex: policial militar estava em sua casa, de folga. Ele e a esposa começaram a discutir por
ciúmes. Embriagado, ele ameaçou matar a esposa. Com medo, a mulher se trancou no banheiro
e ligou para a polícia. Foi deslocada uma viatura com dois policiais militares para atender a
ocorrência. Quando os policiais chegaram, o agressor fugiu, mas antes atirou contra eles e
contra a viatura.
A fuga e a resistência do policial militar, contextualizada com disparos de arma de fogo contra
colegas e contra viatura da corporação, são suficientes para configurar a vulneração da
regularidade da Polícia Militar, cujo primado se pauta pela hierarquia e disciplina.
STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
A dúvida ficou por conta da competência. Quem será competente para julgar essa tentativa de
homicídio: Justiça Comum estadual ou Justiça Militar estadual?
Justiça Militar.
1ª) a Justiça Militar estadual possui não apenas competências criminais, mas também administrativo-
disciplinares.
2ª) no âmbito estadual, a Justiça castrense jamais julgará civil (Súmula 53-STJ: Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais).
Ok. Entendi que a competência da Justiça Militar depende da previsão em lei. Existe lei tratando sobre isso?
SIM. A lei que define quais são os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969).
• No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.
• No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.
Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da
Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM.
O inciso II do art. 9º do CPM fornece definição de crime militar que traz consigo um elemento subjetivo,
qual seja a condição de militar.
Assim, é crime militar aquele praticado por “militar em situação de atividade”...
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente,
ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos
termos da lei;
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função pública
civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista
no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá,
enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo
de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos
de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;
(...)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
Ao explicar o art. 9º, II, “a”, do CPM, Cícero Coimbra dá um conceito para militar da ativa (militar em
situação de atividade):
“para a configuração dessa hipótese jurídica, consideraremos militar da ativa o militar que exerce
suas funções rotineiras no serviço militar que lhe é afeto, mesmo que no momento do crime esteja
licenciado, de folga, em trajes civis e fora do quartel. Em suma, a situação de atividade inicia-se
com a incorporação e encerra-se com a exclusão do miliciano da força a que pertence ou com sua
passagem para a inatividade.” (NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de direito penal militar. 4ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 271).
Para os fins do art. 9º, II, do CPM, quando se fala em “militar em situação de atividade” exige-se que
ele esteja em exercício efetivo? Exige-se que o militar esteja trabalhando no momento dos fatos?
NÃO SIM CORRENTE INTERMEDIÁRIA
• Militar em serviço: exige-se Para que seja considerado crime Para a definição da competência
que, no momento da conduta, o militar e, portanto, de da justiça militar, faz-se
agente esteja no exercício competência da Justiça Militar, necessária a observância do:
efetivo de atividade militar. Ex: exige-se que, além da qualidade de • critério subjetivo (delito
art. 202 do CPM: militar da ativa, a prática da praticado por militar em
Embriaguez em serviço conduta tenha ocorrido durante o atividade, em serviço ou não),
Art. 202. Embriagar-se o militar, exercício efetivo do serviço militar. • aliado ao critério objetivo
quando em serviço, ou (vulneração de bem jurídico caro
apresentar-se embriagado para Compete à Justiça Militar julgar ao serviço e ao meio militar, a ser
prestá-lo: crime cujo autor e vítima sejam analisada no caso concreto).
Pena - detenção, de seis meses a militares, desde que ambos STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG,
dois anos. estejam em serviço e em local Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
sujeito à administração militar. em 23/06/2020 (Info 675).
• Militar em situação de
atividade (militar da ativa): são O mero fato de a vítima e de o Ex: policial militar estava em sua
os militares que estão em agressor serem militares não faz casa, de folga. Ele e a esposa
atividade, ou seja, aqueles que com que a competência seja começaram a discutir por
não estão na reserva. Não obrigatoriamente da Justiça ciúmes. Embriagado, ele
importa para esse conceito Militar. O cometimento de delito ameaçou matar a esposa. Com
saber se o militar estava ou não por militar contra vítima militar medo, a mulher se trancou no
de folga. somente será de competência da banheiro e ligou para a polícia.
DOD PLUS – cuidado para não confundir no momento da prova com esse outro entendimento:
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra
outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime.
Caso concreto: Francisco era soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia
Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina
(PI). Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado
indagando sobre a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu
em razão dos disparos.
A vítima e o réu - ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a
discussão. Logo, não se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela
Justiça Comum estadual (Tribunal do Júri).
STJ. 3ª Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Importante!!!
Atenção! Advocacia Pública
Atenção! Juiz Federal e DPU
Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-
doença ou aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar,
teve que trabalhar após o indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do
benefício. O pedido foi julgado procedente para conceder o benefício desde o requerimento
administrativo, o que acabou por abranger o período em que o segurado trabalhou. O INSS
alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia ser pago no
período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por incapacidade não
pode ser cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia.
O segurado foi obrigado a trabalhar, mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que
indeferiu o benefício indevidamente. Esse trabalho realizado para o sustento, mesmo diante
de uma situação de incapacidade é chamado de “sobre-esforço”.
Tese fixada pelo STJ:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou
de aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao
recebimento conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua
incapacidade laboral, e do respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.788.700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1013) (Info 675).
Recurso do INSS
O INSS recorreu contra a sentença questionando unicamente o pagamento das prestações retroativas.
A autarquia argumentou o seguinte:
- no período de 04/04/2014 (DER) até 05/05/2015 (concessão judicial da aposentadoria por invalidez), o
segurado continuou trabalhando;
- ocorre que a Lei nº 8.213/91 proíbe que o segurado receba benefício por incapacidade (auxílio-doença
ou aposentadoria por invalidez) de forma concomitante com salário. Os dispositivos invocados da Lei
foram os seguintes:
Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida,
será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz
e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-
lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.
Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o
período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua
atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
- desse modo, o INSS argumentou que, como no período 04/04/2014 a 05/05/2015, o segurado ainda
estava trabalhando e recebeu salário, ele não tem direito às parcelas de auxílio-doença ou aposentadoria
por invalidez relativas a esse interregno. O juiz deveria ter feito esse desconto;
- as parcelas do benefício deveriam ser pagas somente a partir da data em que ele deixou de trabalhar.
Segurado que recebe benefício por incapacidade, em regra, não pode trabalhar; essa premissa está correta
O auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez possuem uma função substitutiva da renda auferida pelo
segurado. Em outras palavras, eles existem para substituir a remuneração do trabalhador. Como ele não
tem condições de trabalhar, receberá um benefício previdenciário no lugar.
O pressuposto para a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez é a incapacidade do
segurado. Dito de outro modo, esses benefícios só são concedidos porque se está considerando que o
segurado não tem condições de trabalhar. No auxílio-doença essa incapacidade é temporária. Na
aposentadoria por invalidez, é uma incapacidade permanente.
Ora, se o segurado está incapacitado e, por isso, a Previdência concede a ele o benefício, não é correto
que ele volte a trabalhar depois de já estar recebendo o auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez.
Se fizer isso, ou seja, se voltar a trabalhar, isso significa que está apto e, portanto, o benefício é
automaticamente cancelado, conforme determina o art. 46 e o art. 60, §§ 6º e 7º da Lei nº 8.213/91:
Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.
Art. 60 (...)
§ 6º O segurado que durante o gozo do auxílio-doença vier a exercer atividade que lhe garanta
subsistência poderá ter o benefício cancelado a partir do retorno à atividade.
§ 7º Na hipótese do § 6º, caso o segurado, durante o gozo do auxílio-doença, venha a exercer
atividade diversa daquela que gerou o benefício, deverá ser verificada a incapacidade para cada
uma das atividades exercidas.
Situação é diferente se o segurado requereu administrativamente o benefício e lhe foi negado: ele é
obrigado a trabalhar enquanto aguarda o desfecho na via judicial
No caso de João, a situação é diferente da proibição legal:
• João requereu o benefício, que lhe foi indeferido, e acabou trabalhando enquanto não obteve seu direito
na via judicial;
• A lei trata da situação em que o benefício é concedido, o segurado já está recebendo um benefício que
substitui sua antiga fonte de renda e, mesmo assim, ele resolve voltar a trabalhar.
No caso de João houve uma falha na função substitutiva da renda, considerando que o benefício por
incapacidade foi negado.
O segurado estava incapacitado e, mesmo assim, por falha administrativa do INSS, não lhe foi garantido o
sustento. Logo, não é exigível que o segurado fique sem qualquer fonte de renda enquanto aguarda o
resultado do processo judicial.
Por culpa do INSS, resultado do equivocado indeferimento do benefício, o segurando teve de trabalhar,
incapacitado, para o provimento de suas necessidades básicas. Isso é chamado pela doutrina e
jurisprudência de “sobre-esforço”.
Vedação ao enriquecimento sem causa
A tese defendida pelo INSS ofende o princípio da vedação do enriquecimento sem causa.
Isso porque, por culpa da autarquia (indeferimento equivocado do benefício), o segurado foi privado do
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. O INSS, mesmo assim, deseja economizar esse período em
que já deveria estar pagando o benefício.
É indevido o desconto, em benefícios por incapacidade, de período no qual houve exercício de atividade
remunerada, ou recolhimento de contribuições, no curso de demanda judicial contra o indeferimento
administrativo, sob pena de prestigiar o enriquecimento da autarquia, que deu causa à lide.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.393.909/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 9/5/2019.
(Juiz Federal TRF2 2014) É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em
que houve exercício de atividade remunerada pelo segurado, uma vez comprovado que o segurado estava
realmente incapaz para as atividades habituais na época em que trabalhou. (certo)
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Qual é o prazo prescricional para a restituição de contribuições descontadas indevidamente dos
beneficiários de contrato de previdência complementar?
Tema polêmico!
Qual é o prazo prescricional para que o beneficiário de plano de previdência complementar
requeira a devolução de valores que foram descontados indevidamente?
1ª corrente: 3 anos.
Fundamento: art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (enriquecimento sem causa).
A prescrição da pretensão de devolução de parcelas descontadas indevidamente dos
vencimentos dos beneficiários de contrato de previdência privada é de 3 anos, estabelecida no
art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, por se tratar de ressarcimento de enriquecimento sem causa.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1763228/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/06/2020.
2ª corrente: 10 anos.
Fundamento: art. 205 do Código Civil (prazo geral pela ausência de prazo específico).
O prazo prescricional aplicável à pretensão de restituição de contribuições descontadas
indevidamente dos beneficiários de contrato de previdência complementar é de 10 anos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.627-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020
(Info 675).
A tese alegada pela entidade de previdência encontra amparo na jurisprudência atual do STJ?
Há divergência no STJ a respeito do tema:
Não confundir com o prazo prescricional para cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria:
Súmula 291-STJ: A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela previdência
privada prescreve em cinco anos.
EXERCÍCIOS
7) (Promotor MP/MT FCC 2019) Somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a
ação penal é pública incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação
penal condicionada a representação. ( )
8) (Promotor MP/SP 2019) O crime de importunação sexual, assim como o crime de estupro, é crime de
ação penal pública condicionada à representação da pessoa contra a qual o ato foi praticado. ( )
9) (Promotor MP/PI CEBRASPE 2019) Em se tratando de crime de estupro em que a vítima seja maior de
dezoito anos de idade e plenamente capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda que não tenha
ocorrido violência real na prática do crime. ( )
10) (Defensor DP/MG Fundep 2019) Conforme a jurisprudência predominante, os crimes contra a dignidade
sexual serão processados mediante ação penal pública condicionada à representação, tendo em vista
evitar a vitimização secundária, salvo no caso de estupro de vulnerável, hipótese em que a ação penal
será pública incondicionada e a pena será aumentada da metade se o agente for ascendente, padrasto
ou madrasta da vítima. ( )
11) (Analista TJ/AM CEBRASPE 2019) Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de
idade, de ter praticado crime de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do
último aniversário da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi consentido. No caso em questão,
se comprovada a prática do crime, a ação penal cabível será pública incondicionada, pois não há previsão
de ação pública condicionada à representação em crimes contra a dignidade sexual. ( )
12) A OAB não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado réu em ação penal. ( )
13) O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração
de incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. ( )
14) Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do militar em atividade,
em serviço ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou serviço militar juridicamente tutelado. ( )
15) No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. E 8. E 9. C 10. E
11. C 12. C 13. C 14. C 15. C