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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Estrutura da UTI.......................................................... 3
3. Admissão....................................................................... 7
4. Evolução médica e exame físico na UTI...........11
5. Atenção psicossocial...............................................16
6. Alta da UTI...................................................................16
Referências bibliográficas .........................................19
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 3

1. INTRODUÇÃO são nefro ou hepatotóxicos, especial-


mente em face da insuficiência renal
Os cuidados intensivos são únicos
ou hepática preexistente. Pacientes
entre as especialidades da medici-
mais velhos são mais propensos à
na. Enquanto outras especialidades
toxicidade medicamentosa, e a poli-
restringem o foco de interesse a um
farmácia apresenta maior probabili-
sistema de corpo único ou a uma te-
dade de interações medicamentosas
rapia específica, o cuidado crítico é
adversas.
direcionado a pacientes com um am-
plo espectro de doenças. Estes têm A UTI (Unidade de Terapia Intensi-
os denominadores comuns de exa- va) foi criada com o objetivo de sepa-
cerbação acentuada de uma doença rar e monitorizar com maior atenção os
existente, novos problemas agudos pacientes graves, tanto clínico quanto
graves ou complicações graves da cirúrgicos. Essa unidade é controlada,
doença ou tratamento. ou seja, não permite livre acesso de
qualquer profissional ou visitante do
A variedade de doenças observadas
hospital, o que evita contaminação do
em uma população gravemente en-
ambiente, por exemplo. Além disso, é
ferma exige conhecimento completo
uma área do hospital que precisa es-
e completo das manifestações e me-
tar bem localizada, próxima aos ou-
canismos da doença. Avaliar a gravi-
tros locais do hospital que podem
dade do problema do paciente exige
ser necessários no tratamento do pa-
uma abordagem simultaneamente
ciente grave, como radiologia, ala de
global e focada, depende do acúmu-
emergência, laboratório, etc.
lo de dados precisos e requer a inte-
gração desses dados.
Pacientes com doença com risco de 2. ESTRUTURA DA UTI
vida na UTI comumente desenvolvem Hospitais secundários e hospitais ter-
falência de outros órgãos devido ao ciários com capacidade para mais de
comprometimento hemodinâmico, 100 leitos, assim como hospitais es-
efeitos colaterais da terapia e dimi- pecializados que atendam pacientes
nuição da reserva de função do ór- graves ou de risco e estabelecimen-
gão, especialmente aqueles que são tos de assistência à saúde (EAS) que
idosos ou cronicamente debilitados. atendam gravidez/parto de alto risco
Por exemplo, a ventilação mecânica são obrigados a possuir UTI, nesse
com pressão positiva está associa- último caso das EAS, estes devem
da à diminuição da perfusão dos ór- dispor de UTI adulto e neonatal.
gãos. Muitos medicamentos valiosos
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 4

Na estrutura mais comum de UTI, o


SE LIGA! A UTI deve estar estrategica- posto de enfermagem fica no centro
mente localizada na instituição de saúde e os leitos ao redor, o que faz com os
de modo que as outras áreas (de apoio),
pacientes fiquem mais visíveis, per-
comumente necessárias no manejo do
paciente grave, sejam de fácil acesso e mitindo cuidado mais atento. Há ain-
além disso é uma região do hospital con- da o modelo de quartos fechados, e
trolada, não sendo permitido que indiví- esses dois modelos podem coexistir.
duos sem autorização transitem por ela.

Figura 1. Modelo de quartos abertos. Fonte: https://bit.ly/31FsDbN

Figura 2. Modelo de quartos fechados. Fonte: Google Images


INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 5

A UTI adulto admite pacientes gra- admitir recém-nascidos prematuros e


ves com idade igual ou superior a 18 lactentes com risco de vida, que sofre-
anos, podendo ainda admitir pacien- ram complicações no nascimento por
tes de 15 a 17 anos conforme normas exemplo. Os pais ou responsáveis de
intrínsecas da instituição assistente. menores internados nas UTI pediátri-
A UTI pediátrica cuida de pacientes ca ou neonatal possuem livre acesso
crianças com até 18 anos de idade, para visitar e acompanhar seus filhos.
sendo que a UTI neonatal costuma

Figura 3. UTI neona-


tal. Fonte: https://bit.
ly/2XQ2DcG

Figura 4. UTI pediá-


trica. Fonte: https://bit.
ly/30ISzE2
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 6

Além disso, cada leito da UTI dispõe intensivista não plantonista (horizon-
de equipamentos de monitorização tal, diarista), que em geral é um mé-
exclusivos dessa ala hospitalar, como dico mais experiente e mais familiari-
ventiladores, monitores cardíacos e zado com a história do paciente e que
outros recursos necessários no mane- faz a ronda pelos leitos diariamente,
jo do paciente grave, como vasopres- e além desses médicos, a equipe dis-
sores, agentes inotrópicos, terapia de põe de enfermeira intensivista, nutri-
substituição renal, cristaloides e co- cionista, assistente social, psicólogo,
loides para ressuscitação por fluido/ farmacêutico clínico e fisioterapeuta.
fluidoterapia intravenosa, sedativos e A estrutura da UTI deve seguir as
analgésicos, materiais para intubação normas do regulamento técnico para
e cateterização venosa central, entre planejamento, programação, elabo-
outros recursos. ração e avaliação de projetos físicos
Vale pontuar que a UTI é administra- de estabelecimentos assistenciais de
da por uma equipe multidisciplinar saúde, dispostas na RDC (Resolu-
especializada, formada por médico ção de Diretoria Colegiada) nº 50 da
intensivista plantonista (vertical), que ANVISA.
fica 6, 12 ou 24 horas, um médico

UTI PEDIÁTRICA

MODELO QUARTOS
UTI NEONATAL
ABERTOS
ESTRUTURA
DA UTI
EQUIPE
MODELO QUARTOS
MULTIDISCIPLINAR
FECHADOS
ESPECIALIZADA

LOCALIZAÇÃO
ESTRATÉGICA
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 7

3. ADMISSÃO A prioridade nível 2 é dada para pa-


cientes que precisam de monitoriza-
ção intensiva por apresentam grande
SE LIGA! Identificar e agir sobre novos
risco de necessidade de intervenção
problemas e complicações na UTI exige
revisão frequente e regular de todas as imediata, apesar de não precisaram
informações disponíveis, incluindo mu- de intervenções exclusivas de UTI, e
danças nos sintomas, achados físicos que também não possuem limitação
e dados laboratoriais e informações de
monitores. Em algumas instalações, a
de suporte terapêutico. Um exemplo
identificação precoce e o tratamento são de paciente prioridade 1 seria um jo-
fornecidos por equipes de resposta rápi- vem, vítima de trauma que apresenta
da. Uma vez notificado que um paciente TCE (trauma cranioencefálico), que foi
fora da UTI pode estar se deteriorando,
a equipe é mobilizada para fornecer um intubado e precisa de ventilação me-
ambiente de mini-UTI em que cuidados cânica, o que só pode ser feito em UTI,
intensivos possam ser entregue mais enquanto um paciente nível 2 seria
cedo, mesmo antes de o paciente ser re-
um adulto/idoso que sofreu um infar-
almente transferido.
to, apresenta-se estável, sem neces-
sidade de suporte orgânico mas que
A unidade de terapia intensiva dispõe tem alto risco de deterioração.
de recursos mais custosos aos hospi- Os pacientes com prioridade nível 3
tais e sistema de saúde, e por isso de- são aqueles que necessitam de inter-
vem ser admitidos nessa ala apenas venção de suporte à vida, com baixa
pacientes que realmente necessitam. probabilidade de recuperação ou com
Com isso, existem alguns critérios limitação terapêutica. A prioridade ní-
que auxiliam o médico responsável vel 4, por sua vez, é conferida aos pa-
a decidir se seu paciente precisa da cientes que também precisam de mo-
UTI, são três tipos de modelos de nitorização intensiva por apresentarem
admissão: modelo de priorização de grandes chances de deterioração, ou
cuidados, modelo de parâmetros ob- seja, necessitarem de intervenção
jetivos e modelo de diagnósticos. imediata, mas possuem limitação tera-
O modelo de priorização possui pêutica. E por fim, a prioridade nível 5
uma escala de 1 a 5, o qual gradua a é dada aos pacientes em fase terminal,
necessidade do paciente de ir para a com baixíssima probabilidade de recu-
UTI. A prioridade nível 1 engloba pa- peração, que normalmente não seriam
cientes que precisam de intervenções pacientes de UTI (exceto aqueles que
de suporte à vida (exclusiva da UTI), forem doadores de órgãos), porém em
que possuem grande probabilidade alguns casos eles são internados na
de recuperação e não apresentam li- UTI, por exemplo quando há dificulda-
mitação terapêutica. de nos cuidados paliativos.
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 8

SAIBA MAIS!
Limitações terapêuticas são as condições que tornam o paciente “pouco receptivo” para
receber os esforços terapêuticos, ou seja, são limitações que indicam que as terapêuticas dis-
poníveis provavelmente não trarão benefício ao paciente ou que podem lhe trazer malefícios.
Exemplo disso são neoplasias metastáticas, doença de Alzheimer avançada, pacientes ido-
sos acamados, pacientes terminais ou comatosos e pacientes com dano neurológico grave.

O modelo diagnóstico é pautado internação em UTI. Abaixo, uma ta-


em determinados diagnósticos que bela com alguns desses diagnósticos
são imediatamente motivos para divididos por sistemas:

CARDIOVASCULAR NEUROLÓGICO RESPIRATÓRIO


Infarto agudo do miocárdio
Choque cardiogênico
Arritmia complexa
Emergência hipertensiva
Insuficiência cardíaca com disfunção Acidente vascular cerebral
respiratória e/ou necessidade de suporte Rebaixamento agudo do nível Insuficiência respiratória aguda
hemodinâmico de consciência Embolia pulmonar
Angina instável Hemorragia subaracnoide Obstrução de vias aéreas
Pacientes que sofreram parada Meningite
cardiorrespiratória
Aneurisma aórtico
Bloqueio atrioventricular avançado
Alteração de coagulação
ABDOME DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS OUTROS
Pacientes cirúrgicos que preci-
sam de suporte ventilatório e
hemodinâmico e monitorização
Sepse
Choque séptico
Cetoacidose diabética Intoxicação com instabilida-
Crise tireotóxica de hemodinâmica/alteração
Sangramento digestivo agudo
Estado hiperosmolar do estado mental/dificuldade
Insuficiência hepática grave
Crise adrenal de proteção das vias aéreas/
convulsões
Distúrbios hidroeletrolíticos
graves
Todas as condições de re-
querem cuidado contínuo da
enfermagem
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 9

O modelo de parâmetros objetivos • PaO2 < 40 mmHg


tem como base sinais vitais, valores
• PaCO2 < 20 ou > 60mmHg
laboratoriais, critérios eletrocardio-
gráficos, achados do exame físico e • Troponina maior que o valor de
nos exames de imagem para internar referência
pacientes potencialmente graves na • pH < 7,25 ou > 7,55
UTI. Os sinais vitais de alerta são:
• Glicemia < 40 ou > 400 mg/dl
• Pressão sistólica abaixo de 90
mmHg ou acima de 180 mmHg • Cálcio iônico > 1,54
• Bradicardia ou taquicardia • Hemoglobina (Hb) < 6,0 (Anemia
(<50/>100 bpm) grave)
• Frequência respiratória inferior a 8 • Leucometria < 500 ou > 400.000
ipm ou superior a 20 ipm (bradi ou • Qualquer nível tóxico de drogas/
taquipneia) medicação
• Febre alta (>38ºC) ou hipotermia
(>36ºC)
Os critérios eletrocardiográficos que
• Dor são indicação para internação em UTI
são:
• Alteração aguda do nível de
consciência • Supradesnivelamento de ST
• Enchimento capilar > 2 seg • Sinais de isquemia aguda
• Saturação de oxigênio abaixo de • Taquicardia ventricular
90%
• Fibrilação atrial
• Ausência de diurese por mais de 6
• Fibrilação ventricular sustentada
horas (oligúria)
• Bloqueio de ramo
• Hipoxemia (PaO2 < 40 mmHg)
• Piora na impressão clínica
O exame físico também pode conferir
achados que tornam o paciente uma
Os parâmetros laboratoriais incluem: prioridade para monitorização na uni-
dade de terapia intensiva, a saber:
• Sódio <120 ou >160 mEqL (hipo
ou hipernatremia) Alteração recente no diâmetro pupilar
• Potássio < 2,5 ou > 6,0 mEqL (hipo • Queimadura em mais de 10% da
ou hipercalemia) massa corpórea
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 10

• Anemia grave • Rotura de vísceras


• Obstrução das vias aéreas • Apendicite aguda complicada com
abscesso e/ou rotura
• Coma
• Gravidez ectópica/ cistos rotos
• Convulsões
• Colangite
• Cianose
• Úlcera complicada (endoscopia di-
• Tamponamento cardíaco
gestiva alta)

HORA DA REVISÃO!
• Pneumotórax ou pneumoperitônio
(Raio-X)
Os principais sinais de tamponamen-
to cardíaco são fornecidos pela tríade • Embolia pulmonar
de Beck composta por hipofonese das
bulhas e sons cardíacos, hipotensão • Acidente vascular cerebral isquê-
arterial e estase de jugular. Além dis- mico ou hemorrágico
so, pacientes com tamponamento car-
díaco também podem apresentar au- • Hematoma intracraniano (intra ou
mento das frequências respiratórias e
cardíacas, dor torácica, queda do nível
extra-axial)
de consciência e pulsação paradoxal • Endocardite com sinal de disfunção
(pulso diminui ou desaparece durante a
inspiração). • Complicação mecânica do IAM
• Derrame pericárdico importante
Os achados dos exames de imagem
como ultrassonografia e tomografia
computadorizada que tornam o pa- Esses modelos de admissão podem
ciente grave e consequentemente re- coexistir, a depender da administração
quer sua internação na UTI são: do hospital, não existindo um modelo
preferencial, visto que cada paciente
• Aneurisma ou dissecção de aorta deve ser avaliado considerando suas
• Líquido livre abdominal e/ou pélvico prioridades e particularidades.
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 11

ADMISSÃO
NA UTI

MODELO DE PARÂMETROS
MODELO DE PRIORIZAÇÃO MODELO DE DIAGNÓSTICOS
OBJETIVOS

PRIORIDADE DE 1 A 5 DIAGNÓSTICOS ESPECÍFICOS SINAIS VITAIS


DADOS LABORATORIAIS
NEUROLÓGICO CRITÉRIOS
ELETROCARDIOGRÁGFICOS
EXAME FÍSICO
RESPIRATÓRIO

CARDIOVASCULAR

ABDOME

DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS

DIVERSOS

4. EVOLUÇÃO MÉDICA E O exame físico na UTI é diferencia-


EXAME FÍSICO NA UTI do porque é auxiliado pelas ferra-
mentas de monitorização inerentes
A evolução médica na UTI difere da
à UTI, mas vale ressaltar que essas
evolução na enfermaria comum espe-
ferramentas não excluem de forma
cialmente pelo fato de que, como os
alguma o exame físico do pacien-
pacientes de UTI são graves, normal-
te na UTI e devem ser consideradas
mente eles não são capazes de for-
parte do paciente, estando presentes
necer a história clínica e outras infor-
na descrição do exame físico. Outra
mações que são requisitadas durante
especificidade da evolução e exa-
o exame, fazendo com que seja ne-
me físico na UTI é que os pacientes
cessário colher a história do pron-
mudam rapidamente, ou seja, o pro-
tuário, familiares/acompanhantes
fissional precisam estar atentos aos
e dos profissionais que atenderam
detalhes.
este paciente previamente.
Enquanto na enfermaria comum se
utiliza o método SOAP para realizar
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 12

a evolução dos pacientes, o exame (preferencialmente no início), neuroló-


clínico na UTI é feito por sistemas, gico, cardiovascular, gastrointestinal,
que é basicamente o método SOAP, urinário, hematológico e infeccioso.
porém dividido por sistemas: geral

SAIBA MAIS!
Método SOAP: S de subjetivo, identificando as queixas, história e evolução nas últimas 24
horas, O de objetivo, referindo-se ao exame físico, laboratoriais e de imagem; A de avaliação,
onde se descreve a impressão médica do estado do paciente, e P de planos e condutas, onde
entra a prescrição médica, etc.

No exame físico geral devem ser paciente, que muitas vezes está se-
descritos os eventos mais relevan- dado/inconsciente, e para isso exis-
tes que aconteceram nas últimas 24 tem escalas de sedação e analgesia,
horas, juntamente com um resumo sendo a escala de RASS a mais uti-
da história do paciente e dos proce- lizada. A Escala de RASS (Richmond
dimentos mais importantes que pas- Agitation Sedation Scale) é uma es-
sou durante a internação hospitalar cala com variação de +4 a -5, que
dentro da UTI. classifica o nível de sedação e anal-
No exame do sistema neurológico gesia do paciente a partir de alguns
é avaliado o nível de consciência do sinais descritos abaixo:

PONTUAÇÃO DESCRIÇÃO
+4 Combativo, violento, representa risco à equipe
+3 Conduta agressiva, retirada de tubos/cateteres
+2 Movimentos desproporcionais frequentes, briga com o ventilador
+1 Ansioso, apreensivo, não agressivo
0 Alerta, calmo
-1 Facilmente despertável, mantendo contato visual > 10 segundos
-2 Despertar precoce ao estímulo verbal, mantendo contato visual <10 segundos
-3 Movimentos e abertura ocular ao estímulo verbal, sem contato visual
-4 Sem resposta ao estímulo verbal, mas apresenta resposta ao estímulo físico
-5 Sem resposta ao estímulo verbal ou físico
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 13

Também é avaliado no exame neu- interação com o ventilador mecâni-


rológico se o paciente tem dor, que co, fazem caretas e movimentam-se
precisa ser classificada através de um muito apresentam maior probabilida-
escala numérica (0 a 10) nos casos de de estarem com dor.
em que o paciente está responsivo, e O exame neurológico em UTI avalia
nos pacientes que estão sedados, in- ainda a presença de delirium, que
conscientes em ventilação mecânica, está associado com maior morbimor-
por exemplo, deve-se utilizar outros talidade, sendo a ferramenta mais
métodos para classificar a dor, sendo utilizada para isso o CAM ICU (Con-
as escalas CPOT e BPS as mais uti- fusion Assessment Method for the
lizadas, que avaliam a inquietude do ICU), o qual possui 4 critérios, os quais
paciente, movimentos dos membros devem ter pelo menos 3 preenchidos
superiores, fáceis de dor (caretas) e pelo paciente para que seja diagnos-
a interação do paciente com o ven- ticado o delirium, sendo os critérios 1
tilador mecânico. Pacientes com má e 2 obrigatórios:

1. Alteração aguda ou flutuação no estado mental: 2. Desatenção: avaliado pelo mnemônico SAVEAHA-
avaliar se houve mudança no estado mental basal ou ART ou CASABLANCA, que deve ser falado para o
flutuação no estado mental nas últimas 24 horas. Se paciente o mesmo deve apertar a mão do médico
não houver nenhum dos dois, descarta-se o delirium, quando falar a letra A. Se o paciente errar menos de
se houver, avalia-se o critério 2. 3 vezes, não há delirium.
3. Alteração no nível de consciência: avalia o RASS 4. Pensamento desorganizado: avalia o conteúdo do
atual, caso o RASS seja diferente de 0, em conjunto pensamento fazendo 4 perguntas óbvias para o pa-
com outros 2 critérios acima positivos, há presen- ciente (Ex: o céu é azul?) ou pedindo que este obede-
ça de delirium. Se o RASS for 0, deve-se avaliar o ça comandos (Ex: levante dois dedos.). Se o paciente
critério 4. errar mais de 2 perguntas é indicativo de delirium.

Além desses critérios mencionados após o que são avaliados os parâ-


sobre o exame neurológico na UTI, os metros de perfusão tecidual (lactato,
outros pontos do exame neurológi- SVO2, tempo de enchimento capilar,
co habitual também devem ser ava- mottling score). Nessa parte do exa-
liados, como pupilas, força muscular, me também devem ser descritas as
reflexos, sensibilidade, e análise de drogas vasoativas que estão sendo
exames complementares do sistema usadas, além dos dados de monitori-
neurológico. zação de débito cardíaco e fluidorres-
O exame cardiovascular se inicia ponsividade, exames complementa-
com a análise dos sinais vitais (pul- res e todos os outros dados do exame
sos, frequências cardíaca e respira- cardiovascular habitual.
tória, pressão arterial e temperatura),
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 14

interação do paciente com a


ventilação mecânica).
No exame do sistema uri-
nário deve-se descrever a
diurese, o balanço hídrico, as
escórias nitrogenadas (des-
crever padrão), distúrbios
ácido-base, uso ou não de
diurético, se há necessidade
de terapia de substituição re-
nal (descrevendo o método).
Sobre o sistema gastroin-
testinal, é descrito a dieta
Figura 5. Mottling score – escore de mosqueamento. (jejum, dieta oral/enteral/pa-
Fonte: https://handbook.bcehs.ca/media/1077/mottling- renteral e meta calórica), evacuações
-score-surviving-septic-shock-image-1.png
(descrever padrão) e uso ou não de
medicamentos laxantes, utilização ou
No exame do sistema respiratório, não de drenos/sondas e presença ou
a primeira coisa que se deve descre- não de ostomias e/ou feridas cirúrgi-
ver é se o paciente está em ventilação cas. Nessa parte do exame também
mecânica ou espontânea. No pacien- é importante sinalizar se o pacien-
te em ventilação espontânea, deve- te está fazendo profilaxia de lesão
-se descrever o padrão respiratório, aguda na mucosa gástrica (LAMG) e
a frequência respiratória, a utilização controle glicêmico, além, é claro, de
ou não de suporte de oxigênio (Ven- descrever o exame físico habitual do
turi, cânulas, máscara não reinalante, abdome e os exames relevantes do
etc), se há uso ou não da muscula- aparelho gastrointestinal.
tura acessória (sinais de desconforto Sobre o sistema hematológico, de-
respiratório), secreção (descrever pa- ve-se descrever hemoglobina e he-
drão) e os dados dos exames de ima- matócrito, coagulograma, plaquetas,
gem ou laboratoriais que possam ter se recebeu transfusões, se há san-
sido realizados. Já nos casos de pa- gramentos e se está fazendo profi-
cientes em ventilação mecânica, de- laxia de tromboembolismo venoso
ve-se descrever o modo ventilatório, (TEV). Por fim, sobre os parâmetros
o grau de suporte ventilatório (Delta), infecciosos, é analisado a curva tér-
o volume corrente, a pressão de platô mica, descrevendo se houve febre,
e pico, PEEP e assincronia (boa ou má além dos parâmetros de infecção
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 15

(leucograma, PCR, etc e a variação físico do paciente na UTI termina com


desses exames), e uso ou não de an- a impressão geral do paciente, por
tibióticos (identificar o dia de início do exemplo: “Paciente evoluiu com me-
antibiótico e as culturas realizadas). lhora clínica e laboratorial após pro-
A ordem dos sistemas não precisa cedimento de lavagem gástrica rea-
necessariamente ser descrita como lizada no dia anterior” e por fim, são
acima, porém é importante que o pro- descritos os planos terapêuticos e as
fissional desenvolva sua sequência condutas terapêuticas tomadas em
de avaliação, buscando não esquecer relação aos dados apresentados na
de analisar nenhum ponto. O exame evolução.

HISTÓRIA E EVENTOS
GERAL
RELEVANTES DAS ÚLTIMAS 24H

SINAIS VITAIS, PARÂMETROS DE PERFUSÃO


TECIDUAL, DROGAS VASOATIVAS,
CARDIOVASCULAR
MONITORIZAÇÃO DO DÉBITO CARDÍACO E
FLUIDORRESPONSIVIDADE

CURVA TÉRMICA
INFECÇÃO PARÂMETROS INFECCIOSOS
ANTIBIÓTICOS

DIURESE
BALANÇO HÍDRICO
URINÁRIO
DISTÚRBIOS ÁCIDO-BASE
EXAME TERAPIA DE SUBSTITUIÇÃO RENAL
FÍSICO
NA UTI HB E HEMATÓCRITO, COAGULOGRAMA,
HEMATOLÓGICO PLAQUETAS, TRANSFUSÕES, SANGRAMENTOS,
PROFILAXIA DE TEV

VENTILAÇÃO MECÂNICA
RESPIRATÓRIO X
VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA

DIETA, EVACUAÇÕES,
DRENOS/SONDAS/OSTOMIAS/FERIDAS
ABDOME
CIRÚRGICAS, PROFILAXIA DE LAMG,
CONTROLE GLICÊMICO

• NÍVEL DE CONSCIÊNCIA (ESCALA RASS)


NEUROLÓGICO • DOR
• DELIRIUM (CAM ICU)
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 16

5. ATENÇÃO das causas que levaram à interna-


PSICOSSOCIAL ção na unidade de terapia intensiva,
com estabilização e/ou reversão
As necessidades psicossociais do pa-
das possíveis disfunções orgânicas
ciente devem ser uma consideração
agudas. Em outras palavras, o pa-
importante na UTI. As consequências
ciente sai da UTI quando seu quadro
psicológicas da doença crítica e seu
se torna menos grave e pode ser tra-
tratamento têm um impacto profundo
tado e acompanhado na enfermaria
no resultado do paciente. Os princi-
comum, devido à menor necessidade
pais fatores incluem a falta de con-
de monitorização e probabilidade di-
trole do paciente no ambiente local,
minuída de necessidade de interven-
grave interrupção do ciclo de vigília,
ção imediata, ou seja, o paciente não
incapacidade de se comunicar fa-
deve estar utilizando nenhum recurso
cilmente e rapidamente com pres-
exclusivo de UTI.
tadores de cuidados intensivos, dor
e outros tipos de desconforto. A estabilidade clínica e laboratorial
que permite a alta da UTI deve se
Incapacidade de se comunicar com
manter por mais de 24 horas e deve
membros da família, bem como a pre-
haver concordância e comunicação
ocupação com a situação do empre-
entre a equipe assistente e o médi-
go, atividades da vida diária, finanças
co que irá continuar o acompanha-
e outros assuntos aumentam ainda
mento deste paciente na unidade de
mais os custos emocionais de estar
internação.
gravemente doente. O intensivista e
os outros membros da equipe devem Os critérios de admissão e alta de pa-
prestar muita atenção a essas ques- cientes na UTI devem ser registrados,
tões e devem considerar problemas assinados pelo responsável técnico e
psicológicos no diagnóstico diferen- divulgados para toda a instituição, se-
cial de um estado mental alterado de guindo as legislações e normas ins-
qualquer paciente. Sedação e anal- titucionais vigentes. Ao receber alta,
gesia adequadas são obrigatórias o paciente deve possuir um docu-
para preservar o equilíbrio do confor- mento padronizado especificando as
to com a avaliação do paciente e as razões de admissão, os diagnósticos
necessidades de interação. realizados, os problemas em curso e
os problemas que ainda precisam ser
resolvidos, e nesse documento tam-
6. ALTA DA UTI bém devem constar uma explicação
A alta da UTI depende de uma série de de como as drogas prescritas ao pa-
critérios que consideram a resolução ciente devem ser administradas após
a alta da UTI, quando o tratamento do
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 17

paciente passa a ser feito na enfer- paciente e estar disponível para todas
maria comum. Esse documento deve as equipes clínicas que irão tratar do
fazer parte da rotina de registro do paciente pós-alta da UTI.

DOCUMENTAÇÃO

ESTABILIDADE
REVERSÃO DO
ALTA DA UTI CLÍNICA E LABORATORIAL
QUADRO DE INTERNAÇÃO
POR MAIS DE 24H

ESTABILIZAÇÃO
E/OU REVERSÃO DAS
DISFUNÇÕES ORGÂNICAS
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 18

Introdução
a Terapia
intensiva

Estrutura Admissão Alta

Resolução
Localização Modelo de quartos Monitorização Equipe do quadro ou
Classificações Modelos reversão das
estratégica abertos e fechados contínua multidisciplinar
disfunções
orgânicas

Adulto, Pediátrica, Priorização


Neonatal ou UTI’s dos cuidados Estabilidade
Especializadas clínica/
laboratorial por
mais de 24h
Parâmetros
objetivos
Concordância
da equipe

Diagnósticos

Documentação
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 19

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
GOLDMAN, L. et al: Cecil Medicina. 25 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
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Manual da residência de medicina intensiva/ editores Andréa Remigio de Oliveira [et al.] . - 5.
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Frederic S. Bongard, Darryl Y. Sue, Janine R.E. Vintch. Current Diagnosis and Treatment Cri-
tical Care, Third Edition, 2008.
MADUREIRA, C.R.; VEIGA, K.; SANT’ANA, A.F.M. Gerenciamento de tecnologia em terapia
intensiva. Rev.latinoam.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p. 68-75, dezembro 2000.
INTRODUÇÃO À TERAPIA INTENSIVA 20

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