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DISCIPLINA: Ritos Especiais Cíveis – DIR 7MA

ATIVIDADE: Atividade Prática Supervisionada - APS


PROFESSOR: Erica Cavalcanti
ALUNO: Jailson da Silva Nunes mat-201805546

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o propósito de apresentar, de forma geral, as


peculiaridades que envolvem os procedimentos de inventário e partilha com
base na análise da doutrina processualista nacional.
Segundo previsto do art. 1.784 do CC, com a morte da pessoa natural,
seus bens transmitem-se aos sucessores legítimos e testamentários, por meio
do fenômeno jurídico conhecido por “saisine”. Constituindo-se o patrimônio do
de cujus uma universalidade jurídica de bens, será indispensável à definição
do que justamente o compõe, além da individualização do que cabe a cada um
dos sucessores na hipótese de existir mais de um sujeito nessa condição.
Essas duas tarefas são desenvolvidas pelo inventário e partilha, sendo
que no inventário se busca identificar o patrimônio, com a indicação dos
(móveis e imóveis), créditos, débitos e quaisquer outros direitos de natureza
patrimonial que compões o acervo hereditário, enquanto na partilha se divide o
acervo entre os sucessores, com o estabelecimento e a conseqüente
adjudicação do quinhão hereditário a cada um deles.

Para tal, há o procedimento especial do inventário e partilha, previsto nos arts.


610 a 673 do Novo Código de Processo Civil, procedimento que é complexo e
dotado de dois estágios bem delimitados e distintos.

1 INVENTÁRIO

Em seu sentido estrito, inventário significa a declaração de bens do falecido,


transmitidos aos seus herdeiros pelo princípio de Saisine, o qual enuncia que a
abertura da sucessão ocorre no momento da morte do de cujus, com a
imediata difusão da herança aos herdeiros, como define o artigo 1784 do
Código Civil. Todavia, em sentido mais amplo, refere-se à necessária fase
procedimental posterior à troca de titularidade, constituindo, portanto, um
procedimento especial de jurisdição contenciosa de declaração dos bens do
falecido para a liquidação do acervo, assim classificado pelo legislador não por
possuir abstrato contencioso, com “querelante e querelado, impugnação,
dilação probatória e sentença de procedência ou improcedência”, todavia
porque em seu curso poderá surgir o litígio.

Tendo em vista que cada herdeiro receberá seu quinhão de direito, o inventário
se presta à “apuração da herança líquida e sua posterior partilha” entre os
beneficiários, legatários, cessionários e credores do espólio. A importância
deste procedimento se expressa inclusive nas ocasiões em que é negativo, ou
seja, quando não há bens a inventariar e efetivado por simples justificação
judicial, sobretudo porque o beneficiário responde pelas dívidas deixadas
pelo de cujus até a força do quinhão recebido, sendo desejável demonstrar aos
possíveis credores a inexistência de bens arts. 1792 e 1997.

1.1 DA COMPETÊNCIA

Passando a aspectos essencialmente procedimentais, tem-se que o forúm


onde se abre a sucessão hereditária é o do lugar do último domicílio do de
cujus art. 1785, Código Civil, observando as regras de competência territorial
elencada no artigo 96 do CPC, que dispõe sobre foros subsidiários, quais
sejam, o da situação dos bens, quando o morto não possuía domicílio certo, ou
do lugar do óbito, quando na situação anterior, possuía bens em diversas
localidades. Saliente que, mesmo se possuidor de nacionalidade estrangeira e
sucessão no exterior, todos os bens no território nacional serão processados
pela autoridade judiciária brasileira art. 89, II, CPC.

1.2 Do Prazo para Abertura e Encerramento

A lei convenciona prazo específico de 60 dias artigo 983 do CPC para a


abertura do inventário, isso porque o regime de bens não pode mais ser
mantido e há interesse da Fazenda Pública na arrecadação do imposto de
transmissão causa mortis. Todavia, a única consequência para o
descumprimento do tempo de abertura é o pagamento de multa a ser definida
por lei estadual, ocorrendo possibilidade de realizar sua abertura a qualquer
tempo (Súmula 542 do STF). À vista da inércia dos herdeiros, é o magistrado
competente para determinar a abertura ex oficio art. 989, CPC, sendo o tempo
para a conclusão, em todos os casos, de 12 meses a contar da instauração,
podendo ser prorrogado de ofício ou por requerimento das partes.

1.3 Resolução por Via Ordinária

Quando surge durante o procedimento a necessidade de se provar fatos por


outros meios que não documentais, sejam eles prova oral, inspeção judicial ou
perícia, caberá ao magistrado remeter o interessado às vias ordinárias para
discutir as matérias de alta indagação (art. 984 do CPC), tendo em vista o
caráter próprio de celeridade que deve revestir o procedimento de inventário.

1.4 Do Administrador e do Inventariante

Não olvidando a natureza ficta da saisine de transmissão imediata da


propriedade, elaborou o legislador a aspecto do administrador provisório do
inventário, encargo atribuído àquele que se encontra na posse e administração
dos bens no momento da morte do inventariado (art. 797 do CC), possuindo
legitimidade para requerer a abertura do inventário (art. 987 do CPC), já que
responsável pela representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial do
espólio até que haja a nomeação por parte do juízo do inventariante, legítimo,
judicial ou dativo, verificando a ordem de preferência, a inclusão do
companheiro pela leitura do artigo 1797, I, do CC, e a prestação do respectivo
compromisso (art. 990 do CPC). Assumidas a representação e administração
do espólio, cabe ao inventariante praticar atos livres ou dependentes de
manifestação dos herdeiros e prévia autorização judicial, enumerados
taxativamente nos arts. 991 e 992 do CPC. Sem autorização, são nulos os atos
de alienação, transação, pagamento de dívidas do espólio e realização de
despesas necessárias com a conservação e melhoramento dos bens. Dentre
os dispositivos mencionados, enumera o artigo 995 do CPC, as hipóteses de
remoção do inventariante por faltas relacionadas ao processo de inventário,
sendo instaurado o procedimento a pedido dos interessados ou de ofício. Será
processado em apenso, em contraditório pleno, resultando em decisão
interlocutória, da qual caberá recurso de agravo. Observe-se que a ocorrência
de faltas alheias ao processo, mas que interferem na qualidade de
inventariante, ou pela inércia deste ensejará a destituição e não a referida
remoção.

1.5 Primeiras Declarações

Ao começar o procedimento de alistamento surge a necessidade de serem


apresentadas as chamadas primeiras declarações, informações essenciais
para o início e processamento do Inventário.

As primeiras declarações devem ser apresentadas antes das citações dos


interessados em um prazo de 20 (vinte) dias a partir da data do compromisso
de inventário, para depois ser lavrado termo circunstanciado. Caso as
declarações não sejam apresentadas dentro do prazo, elas podem ser
admitidas através do protocolo de petição autônoma que posteriormente
deverá ser ratificadas no termo circunstanciado, em casos em que se torne
indispensável que o termo contenha todos os dados que a norma elenca como
necessários.

Das chamadas primeiras declarações devem estar contidos alguns elementos


essenciais de qualificação e singularização, como, por exemplo, a qualificação
do falecido e a indicação do dia, hora e local do óbito. Deve-se elencar também
a existência ou não de testamentos, e indicar a qualificação dos interessados,
como o cônjuge sobrevivente e o regime de bens que regia a união, sem deixar
de apresentar quem são os herdeiros e o respectivo grau de parentesco com o
de cujus.

Afinal, as primeiras declarações, antes da citação dos interessados, devem


abordar o rol dos bens do espólio, indicando o valor de mercado. Além disto,
caso existam nos bens do espólio algum bem alheio é necessário que seja
indicado os direitos e deveres da massa hereditária. Se o autor da herança era
comerciante deverá ser procedida pelo juízo o balanço do estabelecimento
comercial.

1.6 Citação e Intimação dos Interessados

Após as primeiras declarações os interessados (cônjuge ou companheiro


sobrevivente, herdeiros, legatários e o testamenteiro) devem ser citados tanto
pelo meio direto – citação pessoal ou por hora certa – ou por edital – quando a
habitação dos herdeiros e interessados seja diverso ao foro aonde se processa
o inventário. Se fizer necessário, também, que a Fazenda Pública e o Ministério
Público sejam devidamente intimados e não citados.
1.7 Impugnação às Primeiras Declarações

Após a citação e devidas intimações, é garantido as partes impugnar as


primeiras declarações, pelos mais diversos motivos, como em razões de erros
e omissões, reclamações oriundas da nomeação do inventariante ou
contestando a qualidade de alguns que foram incluídos como herdeiros. O
prazo para a impugnação é de 10 dias a contar da citação e intimação.

Diante das impugnações, cabe ao juiz decidir se acata ou não as alegações


para que, caso ocorra alguma alteração, retifique as primeiras declarações. Se
a matéria alegada é de relativa importância, como em casos em que é alterada
a qualidade de herdeiro de um dos interessados, deve o juiz suspender o feito
e indicar que as partes procurem a via própria para a resolução daquele
conflito. Dessa forma, o juiz responsável pelo inventário deve julgar todas as
questões de fato e de direito relativas ao inventário, e deve remeter as
soluções de demandas auxiliares as vias competentes, organizando melhor o
processamento do inventário.

Em se tratando de exclusão de um interessado da lista das primeiras


declarações existe a previsão de que este preterido pleiteie a sua admissão no
inventário. Isto deve ser feito em qualquer momento, desde que seja antes da
partilha, devendo o juiz apreciar o pedido após ouvir os interessados.

Por outro lado quando não admitidos o pedido de admissão no inventário,


deve-se remeter o requerente da inclusão às vias ordinárias – ação de petição
de herança (prazo de 30 dias) – resguardando o seu respectivo quinhão até a
decisão da demanda da inclusão no inventário. Frise-se a necessidade de
comprovação documental para a inclusão de interessados na condição de
herdeiro no inventário, da mesma forma que a inclusão do legatário deve se
dar pela juntada do testamento escrito.

Caso já tenha ocorrido a partilha o interessado deve utilizar ação direta contra
os herdeiros para requerer o seu quinhão, porém se a partilha for inválida as
soluções são diversas.

Enfim, a Fazenda Pública deve informar ao juízo, antes da partilha, dentro de


20 dias após a sua vista dos autos, o valor dos bens descritos pelas primeiras
descrições.

1.8 Avaliação, Últimas Declarações e Cálculo dos Impostos

Não havendo impugnação as primeiras declarações ou resolvidas todas as


pendencias judiciais, deve ser procedida a avaliação dos bens do espólio, com
a finalidade de apurar um valor exato do monte partível possibilitando uma
justa partilha.

Entretanto, quando as partes forem capazes e a Fazenda Pública concordar


com o valor atribuído aos bens, quando os herdeiros concordarem com o valor
declarado pela Fazenda Pública, quando o cálculo do tributo causa mortis for
elaborado com base nos valores venais e quando houver avaliação atual
realizada em outro processo, não será obrigatória a avaliação, sendo
considerada hipóteses de dispensa da avaliação dos bens. Também são
dispensados de avaliação os bens de pequeno valor que se situem fora da
comarca em que tramita o inventário, afim de evitar custos altos do processo.

As partes tem 10 dias para impugnar o laudo apresentado pelo avaliador oficial,
cabendo ao juiz decidira questão, determinando a repetição da perícia ou a
retificação do laudo quando necessário.

Finalizados esses procedimentos deve ser lavrada a termo as últimas


declarações, que finalizam a fase de inventário dos bens e devem condizer
com a realidade fática da composição do patrimônio do falecido.

Quando aceitas as últimas declarações lavradas em termo o juiz responsável


deve proceder a realização do cálculo do imposto de transmissão causa mortis,
utilizando como base o valor da avaliação dos bens.

As partes podem impugnar o cálculo do imposto, uma vez acolhidas tais


manifestações o juiz ordenará a remessa dos autos ao contador responsável
para que seja procedida as alterações necessárias. Vale lembrar que o
imposto causa mortis não é exigível antes da homologação do juiz e não incide
sobre os honorários advocatícios.

Por fim, nessa fase procedimental, pode o Juízo ordenar a inspeção judicial
sob a coisa ou pessoa, afim de esclarecer fatos primordiais para a resolução do
inventário, devendo o herdeiro responsável pela solicitação arcar com os
custos.

1.9 Colações

A colação é o instituto empregado para reconstituir o monte hereditário,


devendo ser utilizado sempre que algum dos herdeiros tenha sido beneficiado
por ato praticado em vida pelo falecido (doação).

Devem ser chamados a colacionar os herdeiros descendentes que por ventura


tenham recebido doação do ascendente e os cônjuges sobreviventes que
também tenha recebido doação, uma vez que nesses casos se considera como
havendo um adiantamento da legítima. Os sujeitos a colação devem trazer o
bem doado pelo autor da herança para ser “juntado” ao monte hereditário, com
a finalidade de permitir uma justa determinação da legítima de cada co-herdeiro
descendente, deixando de fazer responderá pelas penas de sonegação.

A colação pode ser efetivada de duas maneiras, a primeira in natura e a


segunda por atribuição do valor. O bem apresentado in natura deve ser
restituído ao monte, por outro lado, pela maneira de atribuição do valor ao bem
doado é computado ao quinhão hereditário do donatário o valor estipulado ao
bem objeto daquela doação.

Os herdeiros que devam colacionar tem o prazo de 10 dias para apresentar os


bens que recebeu ou o seu valor.
É importante ressaltar que o valor do bem indicado na colação deve ser,
segundo previsão legal, o valor estipulado à data da doação, contudo, a fim de
evitar maiores prejuízos as partes, parte da doutrina nacional defende a
correção monetária do valor do bem doado à data de abertura da sucessão.[12]

Ocorrendo divergência quanto o recebimento do bem por doação ou quanto a


obrigatoriedade de apresentar o bem ao juízo, necessariamente deverá o
magistrado responsável julgar a questão, podendo ocorrer até o sequestro dos
bens sujeitos à colação quando restar omisso o herdeiro responsável. Caso a
matéria de divergência relacionada a colação seja de alta indagação a questão
deverá ser resolvida em procedimento próprio, afim de não tumultuar o
procedimento de inventário.

1.10 Sonegação

Por fim, como um último aspecto interessante a ser analisado a respeito do


procedimento de inventário está a sonegação. Sonegação seria a ocultação, de
forma dolosa, de bens do espólio. Podendo ocorrer tanto quando o
inventariante deixa de indica-los com a intenção de subtraí-los ou quando não
são trazidos os bens à colação.

A sonegação só pode ser arguida após a descrição dos bens, com declaração
expressa do inventariante informando que não existem outros bens a
inventariar. Obviamente que o Código Civil prevê punições aos sonegadores.
Caso o sonegador seja o herdeiro ele perderá o direito sobre o bem sonegado,
ou deverá pagar o valor correspondente e perdas e danos. Caso o sonegador
seja o inventariante estará sujeito as mesmas penas, além de ser removido do
cargo.

O prazo prescricional para a arguição de sonegação e bens é de 10 anos,


conforme ampla orientação da jurisprudência nacional.

1.11 Pagamento das Dívidas

Em relação as dividas contraídas pelo de cujus não resta dúvida que a


responsabilidade pelo seu pagamento é repassada aos bens que passaram a
compor a herança do falecido. O pagamento da dívida deve se dar antes da
divisão do quinhão dos herdeiros, caso isso não ocorra cada um dos herdeiros
responderá nos limites da parte recebida como herança.

Para requerer o pagamento o credor deve informar o juízo a existência da


dívida e o interesse no recebimento dos valores, juntando comprovação da
divida vencida e exigível – permitindo-se também a habilitação de dividas
vincendas, garantido seu pagamento futuro. Se as partes concordarem o juiz
deve declarar habilitado o credor, resguardando o valor da dívida ou os bens
necessários para quitá-la, sendo permitida a adjudicação dos bens em favor do
credor.

Caso haja discordância sobre o requerimento do credor pelos herdeiros e


legatários, a questão deverá ser resolvida pelas vias próprias, novamente
limitando a atuação do procedimento de inventário, devendo-se deixar
reservado os bens necessários para a quitação da suposta dívida. Não é
vedada a penhora dos bens do espólio, contudo os bens que foram reservados
para a quitação da dívida são os que tem preferência para a quitação em futura
execução.

Vale lembrar que credores com garantia real e a Fazenda Pública estão livres
do procedimento de habilitação do crédito.

2 PARTILHA

Findo o procedimento de inventário, isto é, feita todas as declarações e


impugnações, realizados eventuais pagamentos de dívidas e decididas todas
as questões apresentadas às vias ordinárias, pode-se, então, efetuar a partilha
dos bens restantes do acervo hereditário.

Como exposto, a transmissão hereditária se perfaz quando aberta a sucessão.


Porém nesse momento existe uma co-titulariedade entre os herdeiros e
legatários ao rol hereditário, importando assim que se faça a divisão correta
entre seus titulares e no quinhão ao qual cada um possui direito.

Tem-se, assim, o procedimento de partilha, para que possam ser


individualizados os bens do quinhão a que cada parte tem direito, caso não
apontado por testamento, pelo autor da herança.

Para que se possa determinar como a partilha será procedida, importa saber o
modo de sucessão a que os herdeiros serão submetidos. Sendo eles:
sucessão por direito próprio, por representação, por linhas ou por transmissão.

Na sucessão por direito próprio ou por cabeça (arts. 1.835 e 1.834 do CC) o
grau hierárquico de parentesco entre os herdeiros e o de cujos é o mesmo,
assim a sucessão se procede em quinhões igualitários a todos os herdeiros.

Na sucessão por representação (arts. 1.851 a 1.856 do CC) o grau de


parentesco entre os herdeiros e o de cujos é desigual, deste modo os quinhões
à que tem direito os herdeiros serão diferenciados.

Perfaz-se a sucessão por linhas, toda vez em que os únicos herdeiros sejam
ascendentes do falecido, assim fluindo de forma igualitária uma parte à linha
ascendente materna e outra à paterna. Note-se que nessa modalidade não se
admite a representação, portanto na hipótese de apenas um dos pais estar
vivo, este herdará toda a herança. Caso os dois sejam mortos, e haja avós
vivos, a transmissão se faz da mesma maneira, metade à linha paterna e
metade à materna.

Por fim a sucessão por transmissão, na ocorrência de um dos herdeiros do


autor falecer no decorrer do processo, antes de aceitar a sua herança, ou
depois de aceita-la, mas antes da partilha. Por transmissão os herdeiros deste
último se tornam herdeiros daquele primeiro, na medida do quinhão.

O procedimento de partilha pode ocorrer de dois modos – a partilha CPC e art.


2.015 do CC.
2.1 Partilha Judicial

O instituto da partilha judicial encontra-se previsto nos artigos 1.022 a 1.030 do


Código de Processo Civil.

O procedimento se inicia com o pedido de quinhão formulado pelo herdeiro no


prazo de 10 dias a contar da data da efetivação da última diligência do
procedimento anterior. Ao qual será proferido despacho pelo juiz, também no
prazo de 10 dias, para a deliberação da partilha em favor do herdeiro, bem
como resolvendo o que caberá a cada herdeiro ou legatário, ou seja
individualizando os bens à cada quinhão.

Dessa decisão também são resolvidas a meação do cônjuge, a indicação dos


bens a serem alienados ou adjudicados por não ser possível a sua divisão e
também discorrerá sobre a licitação de bem insúscetivel de divisao cômoda
(art., ou seja, caso dois ou mais herdeiros disputem a adjudicação de um
mesmo bem.

Na partilha judicial existe a figura do partidor, conforme o artigo 1.023 do CPC,


ao qual ficará designado a elaborar o esboço da partilha. Essa figura é um
auxiliar do juízo encarregado de apurar tanto a herança bruta, ou seja, a soma
total de todos os bens do autor da herança, assim como fica encarregado de
apurar a soma líquida do montante a ser partilhado, isto é, o que restou após o
pagamento de todas as dívidas, impostos, despesas, etc; bem como os bens
adicionados ao valor por colação.

Apurado o montante líquido da herança, é necessário fazer a reserva do


equivalente por direito do cônjuge meieiro, assim reserva-se a metade,
observados o estado civil e regime de casamento existente com relação ao de
cujos. Da outra metade que será partilhada, deve se observar o que compõe a
parte disponível, ao qual poderia o titular dispor livremente conforme seu ato de
última vontade, e o que irá compor a parte legítima, que é a reserva legal
garantida aos herdeiros necessários.

Atualmente, com a vigência do novo Código Civil, o cônjuge é herdeiro


concorrente ao patrimônio da herança (art. 1.829 CC), ressalvados os casos de
separação, em que não concorrerá. Assim concorrendo com os descendentes
de primeiro, herdeiros por cabeça, caberá ao cônjuge parte igual na partilha.
Importando em salientar o artigo 1.832 do CC que dispõe não poder ser o
quinhão do cônjuge, inferior a quarta parte da herança caso seja ascendente
dos herdeiros, também. Informe-se que o companheiro também tem direitos
sobre a herança do outro falecido, sobre os bens adquiridos na constância da
união estável, observados os dispostos no artigo 1.790 do CC.

Pois bem, uma vez elaborado o esboço da partilha, são intimadas as partes, o
Ministério Público e a Fazenda Pública, para se manifestarem acerca desse,
aceitando ou impugnando o esboço em prazo de 05 dias.

Resolvidas eventuais questões levantadas, será assim realizado o despacho,


lançando a partilha aos autos. Descabendo desta decisão qualquer recurso.
Compõe o procedimento de partilha o auto de orçamento bem como a folha de
pagamento dos quinhões, legados e dívidas aceitas. Sendo que no auto de
orçamento constará o nome do falecido, do inventariante, do cônjuge ou
companheiro, dos herdeiros e legatários, e também dos credores habilitados no
processo. E na folha de orçamento estará contida as informações sobre os
bens do falecido, indicando o quinhão de cada herdeiro, informando os bens
correspondentes e eventuais ônus que os gravem. Indicará também acerca da
meação disposta ao cônjuge.

Constatadas as regulariedades, ou seja, não havendo qualquer impecílio para


com o Fisco nem com a Fazenda Pública, poderá então o juiz proferir a
sentença do processo de partilha. Que por constitutiva que se
classifica, “extingue a comunhão até então existente entre os herdeiros e define
os quinhões cabentes a cada um deles”. Frise-se da possibilidade de recurso
contra esta decisão.

Transitado em julgado o procedimento de partilha, tem-se que os herdeiros


recebem as partes equivalentes a seus quinhões e também o formal de
partilha, que junto com a certidão de pagamento de quinhão hereditário, que é
documento substitutivo do formal para as hipóteses em que o quinhão não
ultrapasse o valor de cinco salários vigentes ao foro do juízo, constituem títulos
executivos judiciais art. 584, V do CPC. Pode ainda, no lugar do formal, ser
expedida carta de adjudicação, nas hipóteses em que há somente um herdeiro.

Salienta-se que da ocorrência de erros materiais, omissões, etc, por parte do


juiz, é aberta a possibilidade de emenda de ofício ou a requerimento das partes
para que sejam sanados os vícios. Assim como aberta a possibilidade futura da
ação rescisória conforme artigo 1.030 do CPC. Importante ressaltar acerca da
petição de herança, procedimento este, para quando sobrevier herdeiro, que
havido fora do casamento, não era á época do inventário e partilha conhecido,
sendo que a relação de paternidade não havia sido declarada judicialmente.
Poderá este, requerer seu direito na sucessão por meio da petição de herança,
que possui um prazo prescricional de 20 anos, vide Sumula 149 STF.

2.2 Partilha Amigável

Como se refere o título, é a modalidade de partilha em que os herdeiros de


comum acordo, sendo eles capazes, formalizam os termos da partliha sobre a
herança líquida em escritura pública ou em instrumento particular homologado
em juízo. Esta modalidade do instituto da partilha está prevista no artigo 1.029
do CPC assim como no artigo 2.015 do CC. Cumpre destacar que para que
possa ser efetivada todos os herdeiros devem ser capazes assim como devem
concordar com o resolvido acerca da individualização dos quinhões
hereditários.

Por se tratar de relação realizada na haste particular dos herdeiros, esta


resolução pode vir dotada de vícios de consentimento e de manifestação de
vontade, assim sendo possível a sua anulação nos termos do artigo 486 do
CPC.
Esta ação poderá ser proposta por qualquer parte elencada no arrolamento
sumário, constituindo o polo passivo por todos aqueles beneficiados pela
partilha, ou seja, forma-se um litisconsórcio passivo necessário e unitário.

Deverá ainda, esta ação, ser proposta em um prazo decadencial de um ano a


contar da data em que se confirmou o vício, isto é, no caso de coação, da data
em que essa cessou, no caso de erro, da data em que o ato foi realizado e
assim por diante.

Ressalte-se por fim, que de quando houver apenas um herdeiro com direitos
sobre os bens do falecido, não haverá partilha, mas sim a adjudicação da
herança, na hipótese de ser agente capaz. Se incapaz, haverá a necessidade
de instauração do inventário ou o procedimento de arrolamento comum.

2.3 Do Arrolamento

O arrolamento, conforme explica Marcato, é o procedimento específico para


inventariar e partilhar herança quando os herdeiros requererem partilha
amigável, quando for o caso de adjudicação da herança líquida a herdeiro
único ou quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 2.000
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN’s).

No caso dos herdeiros requererem partilha amigável ou no caso de


adjudicação de herança a herdeiro único o procedimento a ser observado para
a concretização desta será o arrolamento sumário, já nos casos em que o valor
da herança for igual ou inferior a 2.000 ORTN’s e houver herdeiro incapaz ou,
sendo todos os herdeiros capazes, estes não concordarem com a partilha
amigável, adotar-se-á o procedimento do arrolamento comum.

O arrolamento é o procedimento mais adequado em virtude de sua celeridade


e economia, visto que dispensa termos, cálculos do contador e, exceto nos
casos de expressa previsão, avaliações. Conforme explica Hironaka, o rito
sumário do arrolamento se realiza pela juntada da partilha amigável com as
primeiras declarações e permite o desfecho rápido com a sentença
homologatória, ambos os processos (arrolamento sumário e comum), eliminam
fases procedimentais simplificando o procedimento de partilha.

2.4 Arrolamento Sumário

O arrolamento sumário, previsto nos artigos 1.032 a 1.035 do CPC, se trata de


um procedimento de jurisdição voluntária que se inicia com a apresentação da
petição inicial, que contenha o disposto nos incisos I, II e III do art. 993 do
referido código, ao juízo competente, juntamente com a certidão de óbito e o
comprovante de pagamento das custas devidas. Em seguida os herdeiros
indicam o inventariante e após sua nomeação apresenta-se o plano de partilha
amigável ou requer-se a adjudicação dos bens no caso de herdeiro único. Uma
vez provado o pagamento dos tributos devidos, condição para “a expedição e
entrega, ao herdeiro ou legatário, do formal de partilha ou da carta de
adjudicação dos bens”, a partilha será homologada determinando-se a
expedição de formal, ou no caso da homologação da adjudicação expedir-se-á
carta, para que se possa, assim, ordenar o arquivamento dos autos. Frise-se
que, conforme anota Marcato: “a sentença homologatória da partilha ou
adjudicação amigável realizadas no arrolamento sumário poderá
ser anulada por vício de consentimento ou de incapacidade”.

A espécie de procedimento de inventário judicial a qual se denomina


arrolamento sumário trata-se de “rito simplificado, com declaração dos bens e
apresentação de partilha amigável, quando todos interessados forem maiores e
capazes, ou quando o herdeiro for único”.

Tal procedimento dispensa a avaliação dos bens do espólio, tendo em vista


que quando se tratar de partilha amigável os herdeiros já definiram
consensualmente os valores dos bens, enquanto quando tratar-se de herdeiro
único não haverá necessidade de avaliação dos bens. Todavia, se houver
credor do espólio este poderá impugnar o valor estipulado pelos herdeiros aos
bens que foram reservados para o pagamento da dívida. A despeito da reserva
de bens, a qual serve de garantia para o pagamento das dívidas existentes e
deve ser levada a termo antes da homologação, os bens que não fizerem parte
de tal reserva poderão ter sua partilha homologada ainda que haja credores,
evitando, desta maneira, prejuízo dos interesses dos herdeiros e legatários.

Além da avaliação o arrolamento sumário dispensa também a lavratura de


termos e a remessa dos autos ao contador e ao partidor, já que são os próprios
herdeiros que elaboram o plano de partilha.

Cabe ressaltar que no caso de haver questões pertinentes à correção do valor


estimado dos bens do espólio, tanto referente a tributos quanto a taxas
judiciárias, o procedimento do arrolamento sumário não deve ser adotado,
devendo a Fazenda Pública utilizar-se da via administrativa para a resolução
de tais questões.

Por fim, toca observar que se durante o processo de inventário os herdeiros


entrarem em acordo, compondo-se amigavelmente, ou o herdeiro incapaz
adquirir capacidade plena, é possível a conversão do inventário em
arrolamento sumário,em havendo interesse e com observância aos requisitos
legais.

2.5 Arrolamento Comum

Com previsão no art. 1.036, o procedimento de arrolamento comum é o que


deve ser adotado quando o valor da herança for menor ou igual a 2.000 (dois
mil ORTN’s) e houver incapaz dentre os herdeiros ou quando os herdeiros
capazes não concordarem com a partilha amigável. Conforme elucida Hironaka
tal procedimento ocorre “com declaração de bens e submissão da partilha ao
juiz, abreviando-se outras fases procedimentais, quando os bens do espólio
sejam de pequeno valor (igual ou inferior a duas mil Obrigações Reajustáveis
do Tesouro Nacional – ORTN’s)”.

Precisará ser apresentada petição inicial ao juízo competente, em consonância


com os requisitos previstos no art. 993 do Código de Processo Civil e
juntamente com a certidão de óbito e o comprovante de pagamento das custas
necessárias. Uma vez nomeado o inventariante, este deverá “prestar as suas
declarações no prazo de 20 (vinte) dias a contar da nomeação, atribuindo valor
aos bens do espólio e apresentando, desde logo, o plano de partilha” para que
em seguida sejam intimados os representantes do MP e da Fazenda Pública e
citados os interessados para que se manifestem a respeito das declarações
prestadas podendo, inclusive, impugnar a estimativa do valor dos bens, caso
em que o magistrado deverá nomear um avaliador para que apresente, em 10
(dez) dias, um laudo de avaliação. As partes deverão manifestar-se acerca do
laudo para que em seguida o magistrado designe audiência na qual deverá
decidir a respeito das reclamações e impugnações apresentadas ao plano de
partilha, mandar saldar as dívidas não impugnadas, e determinar os bens a
serem incluídos na reserva para pagamento de dívidas impugnadas, conforme
determina o §2º do art. 1.036 do CPC. Então, destas decisões cabe recurso de
agravo. Aquelas questões que envolvem matéria de alta indagação deverão ser
remetidas às vias ordinárias de resolução.

Uma vez provado o pagamento dos tributos e rendas relativos aos bens do
espólio o juiz deverá julgar a partilha ou determinar a adjudicação por sentença
da qual o transito em julgado resultará a expedição do formal de partilha ou
carta de adjudicação. Desta sentença cabe apelação. A sentença “que julgue a
adjudicação e a partilha realizadas no arrolamento comum poderá ser objeto de
ação rescisória”.

Algumas características próprias do arrolamento comum são: a intervenção do


Ministério Público no feito para tutelar os interesses dos incapazes; a avaliação
dos bens por avaliador determinado pelo juízo sempre que alguma das partes
ou o Ministério Público impugnar a estimativa apresentada pelo inventariante; a
citação dos herdeiros; a realização de audiência para os fins já mencionados e
a nomeação do inventariante pelo juiz com observância a ordem legal prevista
no art. 990 do CPC.

2.6 Das Disposições Comuns ao Inventário e ao Arrolamento

Existem algumas características constantes tanto no procedimento do


inventário quanto no do arrolamento, dentre elas a concessão de medidas
cautelares que decorre do surgimento de situações que necessitam
providências acautelatórias com grande importância as quais compete ao juiz
adotar, enquanto ao beneficiado pela cautelar compete sugerir ação principal
no prazo de trinta dias para evitar a cessação da eficácia da medida cautelar.

Outra característica comum ao inventário e ao arrolamento é a realização da


sobrepartilha, que se trata de uma nova partilha realizada após a partilha
amigável ou judicial cujo procedimento é igual ao do inventário ou do
arrolamento que a antecedeu, opera-se a gente mesmos autos destes e
decorre sobre os bens: sonegados; descobertos após a partilha; litigiosos e de
liquidação difícil ou morosa; e reservados para pagamento daqueles que têm
direito (credores) que foram devolvidos à herança.

Aos dois procedimentos é comum, ainda, a nomeação de curador especial ao


herdeiro ausente ou incapaz, visto que no caso do incapaz não ter quem o
represente ou de concorrer na partilha com seu representante caracterizando
conflito de interesses, o magistrado deverá nomear um curador especial.
Outros pontos comuns entre o inventário e o arrolamento são a possibilidade
de cumulação de inventários, que ocorre quando falecendo o cônjuge meeiro
antes da partilha dos bens do pré-morto art. 1.043 CPC, as duas heranças são
cumulativamente inventariadas e partilhadas se os herdeiros de ambos forem
os mesmos, cumulação está que também é possível no arrolamento, quando
presentes os mesmos pressupostos legais, e a habilitação do herdeiro
representante, caso em que falecendo herdeiro já admitido no arrolamento e
não possuindo este herdeiro outros bens além do seu quinhão hereditário, seu
quinhão poderá ser partilhado junto com os bens do monte art. 1.044 CPC.

Vale ressaltar que nos dois casos não serão modificadas as primeiras
declarações e a avaliação já existentes no inventário original, salvo alteração
no valor dos bens que compõem o acervo hereditário art. 1.045 CPC e no
inventário a que se proceder por morte do cônjuge herdeiro supérstite, é lícito,
independentemente de sobrepartilha, descrever e partilhar bens omitidos no
inventário do cônjuge pré-morto art. 1.045, parágrafo único, ou seja, “se o
cônjuge sobrevivente é herdeiro e não apenas meeiro do pré-morto, vindo a
falecer poderão ser descritos e partilhados no seu inventário,
independentemente de sobrepartilha, os bens omitidos no inventário do
cônjuge pré-morto”.

CONCLUSÃO

O progresso do presente trabalho viabilizou um conhecimento abrangente e


detalhado de todas as fases procedimentais do Inventário e Partilha. Assim, foi
viável compreender melhor a importância de tais institutos no desenrolar da
Sucessão e da confirmação dos direitos de cada parte envolvida.

As peculiaridades dos procedimentos, esmiuçados por cada ponto elaborado


na análise, apontam para a necessidade de um conhecimento detalhado a
respeito de cada ciclo existente para o correto processamento e finalização,
quer seja do Inventário ou da Partilha.

Ademais, tais institutos se revestem de grande influência social, uma vez que
regulam toda e qualquer relação familiar que possam, sabidamente, gerar
resultado natural ao patrimônio do de cujus e causar eventuais danos aos
interesses de seus sucessores. A letra da lei e o processo em si identificam-se
como instrumentos do Estado para a regulação social e a manutenção do bem
estar familiar e dos legitimados.

Por fim, percebe-se a importância de tais institutos dentro do bojo do Direito


Sucessório, instrumento que proporciona a correta transferência de bens e
valores de falecidos aos seus familiares e cônjuges.

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